16.04.2013 Views

Dona Guidinha do Poço - Unama

Dona Guidinha do Poço - Unama

Dona Guidinha do Poço - Unama

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

www.nead.unama.br<br />

— Isso não sei, menino. Isso é carta <strong>do</strong> Governa<strong>do</strong>r da Capitania...<br />

— Lá <strong>do</strong> meu Pernambuco. Era... D. Tomás José de Melo... 20 de fevereiro<br />

de 1789, carta ao Ouvi<strong>do</strong>r da Comarca <strong>do</strong> Seará, Dr. Manuel de Magalhães Pinto e<br />

Avelar de Barbe<strong>do</strong>... Homem! a coisa no outro tempo era mesmo um terror. Por isso<br />

é que se davam aquelas lutas de Feitosas e Moirões, e o diabo a quatro! Ora, veja o<br />

que diz o Rei D. José I, na tal de Ordem Régia ao Conde de Vila Flor, Governa<strong>do</strong>r e<br />

Capitão-General da Capitania de Pernambuco e Paraíba. É bem frisante na verdade.<br />

— Ainda hoje há tantos que vivem debaixo <strong>do</strong> cangaço! Dos Cariris, <strong>do</strong>s<br />

Inhamus, de Pajeú de Flores, e até por aqui mesmo.<br />

O Secundino leu:<br />

"Sen<strong>do</strong> presentes em muito repetidas queixas os cruéis e atrozes insultos,<br />

que nos sertões dessa Capitania têm cometi<strong>do</strong> os vadios e os facínoras, que neles<br />

vivem como feras, separadas da sociedade civil, e comércio humano; sou servi<strong>do</strong><br />

ordenar que to<strong>do</strong>s os homens, que nos ditos sertões se acharem vagabun<strong>do</strong>s, ou<br />

em sítios volantes, sejam logo obriga<strong>do</strong>s a escolherem lugares acomoda<strong>do</strong>s para<br />

viverem juntos em Povoações civis, que pelo menos tenham cinqüenta fogos para<br />

cima, com Juiz ordinário, Verea<strong>do</strong>res e Procura<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Conselho; repartin<strong>do</strong>-se entre<br />

eles em justa proporção as terras adjacentes: E isto debaixo da pena de que<br />

aqueles que no termo competente, que se lhes assinar nos Editais, que se afixarem<br />

para este efeito, não aparecerem para se congregarem e reduzirem a sociedade civil<br />

nas Povoações declaradas serão trata<strong>do</strong>s como saltea<strong>do</strong>res de caminhos, e<br />

inimigos comuns, e como tais puni<strong>do</strong>s com a severidade das Leis: Excetuan<strong>do</strong>-se<br />

contu<strong>do</strong>: Primeiramente..."<br />

Aqui chegava a Guida:<br />

— Muito bem. Não lhe gabo o gosto, meu sobrinho. Len<strong>do</strong> livros velhos e<br />

agüentan<strong>do</strong> as maçadas de Mãe Ângela! Continue. Também quero ouvir esses<br />

sermões <strong>do</strong> tio padre.<br />

—Não são sermões. É o nosso passa<strong>do</strong>, quero dizer, o <strong>do</strong> povo destes<br />

lugares, que bem sei que havia de haver homens abasta<strong>do</strong>s, de sangue limpo, boa<br />

moral e benquistos. É um traço de história da ralé, de que tenho a honra de vir em<br />

linha mais ou menos reta...<br />

— Menino, lê lá, e deixa-te de lábias de labaral.<br />

—Você não tem me<strong>do</strong> <strong>do</strong> Tinhoso com isso? Quem lhe disse que seu sangue<br />

não é limpo? Não será o mesmo <strong>do</strong> meu mari<strong>do</strong>?<br />

— Limpo sou porque me lavo. Eu sei lá! Isso de sangue é dinheiro.<br />

— Dinheiro é sangue! disse o Quim.<br />

— No fim dá certo. Tanto faz dar na cabeça como na cabeça dar...<br />

"Primeiramente, os Roceiros, que com seus cria<strong>do</strong>s, escravos e fábrica de<br />

lavoura vivem nas suas fazendas sujeitos a serem infesta<strong>do</strong>s daqueles infames e<br />

perniciosos vadios..."<br />

— Cujos dignos descendentes constituem hoje em dia o grosso <strong>do</strong>s votantes.<br />

— Não interrompa, vá de fio a pavio.<br />

"Em segun<strong>do</strong> lugar os Rancheiros, que nas Estradas públicas se acham<br />

estabeleci<strong>do</strong>s com os seus ranchos para a hospitalidade, e comodidade <strong>do</strong>s<br />

viajantes, em benefício <strong>do</strong> comércio e da comunicação das gentes..."<br />

32

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!