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Dona Guidinha do Poço - Unama

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www.nead.unama.br<br />

— Sinhá <strong>Dona</strong>, Vosmecê bem sabe que pra Vosmecê eu não me recuso pra<br />

serviço nenhum. Eu cá estou acostuma<strong>do</strong> a servir aos meus protetores.<br />

Guida havia toca<strong>do</strong>, anteriormente, para o mesmo mister que queria confiar<br />

ao Venâncio, a <strong>do</strong>is sujeitos aveza<strong>do</strong>s ao uso da faca e <strong>do</strong> clavinote, o João Grosso<br />

e o Caetano; mas o primeiro se acurvou com uma <strong>do</strong>r de uma banda, que sofria há<br />

tempos e lhe tirara a destreza, e o segun<strong>do</strong> foi logo dizen<strong>do</strong> francamente que o<br />

homem não saía da vila, tinha o mun<strong>do</strong> inteiro a favor, que ela mandatária estava<br />

debaixo, que por tu<strong>do</strong> isto o negócio não era nada seguro, e não era o filho de seu<br />

pai que pisasse em ramo verde.<br />

Guida esperava, pois, tu<strong>do</strong> <strong>do</strong> Lulu, e empregaria a maior habilidade. Não foi<br />

preciso muito. Quan<strong>do</strong> ela trouxe lá de dentro, na bainha escastoada de prata, um<br />

rico punhal antigo, que pertencera ao funda<strong>do</strong>r <strong>do</strong> <strong>Poço</strong> da Moita, e o depôs nas<br />

mãos <strong>do</strong> criminoso, disse estas palavras:<br />

— Dê cabo de mim ou dele: um de nós deve desaparecer!<br />

O cangaceiro, sorrin<strong>do</strong>, recebeu a arma, que desembainhou, mirou como<br />

quem lê, admirou, e deu palavra:<br />

— Suas ordens serão cumpridas, Sinhá <strong>Dona</strong> <strong>Guidinha</strong>!<br />

Lulu Venâncio era ainda novo, meio branco, bem feito de corpo.<br />

Tinha um olho perdi<strong>do</strong> e era quase imberbe. Botava à banda o chapéu de<br />

couro e então parecia bem um galo de briga.<br />

Nessa mesma noite seguiu para a vila montan<strong>do</strong> em bom cavalo, tinin<strong>do</strong>-lhe<br />

no bolso alguns patacões. Arranchou-se secretamente em casa da Aninha Balaio.<br />

A Aninha:<br />

— Que é isso, menino? Andarás agora persegui<strong>do</strong> da Justiça? Enquanto o<br />

compadre João Pereira for delega<strong>do</strong>, tu não vai preso. Mas o Juiz de Direito disse,<br />

em falan<strong>do</strong> em ti, que era mio tu te apresenta pro júri, que tu era absolvi<strong>do</strong> por<br />

força...<br />

— Eu não an<strong>do</strong> persegui<strong>do</strong>, mas... na verdade venho conversa com Seu João<br />

Pereira pra ver que conselho ele me dá — inventou o Lulu.<br />

— É melhor tu te apresentar...<br />

Passou o dia. À noite saiu ele, dizen<strong>do</strong> ir ter com João Pereira, mas de fato ia<br />

certeiro à morada <strong>do</strong> Quim.<br />

Tocaiou, cocou, e às 10 horas, bem escuro, se achou a sós com a designada<br />

vítima, que atravessava a praça da Matriz, vin<strong>do</strong> <strong>do</strong> jogo em casa <strong>do</strong> Dr.<br />

Montezuma.<br />

Lulu desembainhou o punhal, e sem que o Quim o pressentisse, três vezes<br />

levantou o braço para avançar e cravar a arma no outro, pelas costas. Um sobrosso<br />

possuía-o toda vez que fazia menção de apunhalar, e gelava-se-lhe como que o<br />

sangue no pulso... Representava-se-lhe imediatamente a boca da ferida que ia<br />

fazer, o romper <strong>do</strong> ferro pelas carnes dentro, o coração rasga<strong>do</strong> de um talho... O<br />

pobre homem, que não lhe fizera nada, estrebuchan<strong>do</strong> no chão, murmuran<strong>do</strong> em<br />

voz sumida que o tinham mata<strong>do</strong>, e ele escorregan<strong>do</strong> pela noite, a fugir como um<br />

cabra...<br />

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