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Borralheira, ou o Sapatinho de Vidro (por Charles Perrault)

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estrelas. E os caçadores tiveram <strong>de</strong> apanhar animais <strong>de</strong> todos os tipos que existiam no<br />

reino e arrancar-lhes um pedaço da pele, e <strong>de</strong> tais pedaços se fez um manto <strong>de</strong> mil e<br />

uma peles. Finalmente, quando tudo estava pronto, o rei mand<strong>ou</strong> vir o manto,<br />

esten<strong>de</strong>u-o à sua frente e disse: «O casamento será amanhã».<br />

Quando a princesa viu que não havia qualquer esperança <strong>de</strong> conseguir <strong>de</strong>mover o<br />

pai, <strong>de</strong>cidiu fugir. De noite, enquanto tudo dormia, levant<strong>ou</strong>-se e peg<strong>ou</strong> em três dos<br />

seus tes<strong>ou</strong>ros, um anel d<strong>ou</strong>rado, uma pequena roca d<strong>ou</strong>rada e um pequena dobad<strong>ou</strong>ra<br />

d<strong>ou</strong>rada. Enfi<strong>ou</strong> os três vestidos <strong>de</strong> sol, lua e estrelas numa casca <strong>de</strong> noz, vestiu o<br />

manto das mil e uma peles e com fuligem enegreceu cara e mãos. Depois l<strong>ou</strong>v<strong>ou</strong> a<br />

Deus e caminh<strong>ou</strong> toda a noite até chegar a uma gran<strong>de</strong> floresta. E, <strong>de</strong> cansada que<br />

estava, enfi<strong>ou</strong>-se numa árvore oca e adormeceu.<br />

O sol nasceu e ela dormia, e continuava ainda a dormir quando o sol já ia bem lá<br />

no alto. Aconteceu então que o rei a quem pertencia aquela floresta andava <strong>por</strong> ali à<br />

caça. Quando os seus cães chegaram à árvore, farejaram e farejaram, puseram-se a<br />

andar à volta <strong>de</strong>la e a ladrar. Disse então o rei aos caçadores: «Vejam lá que animal<br />

selvagem é que ali se escon<strong>de</strong>». Os caçadores obe<strong>de</strong>ceram à or<strong>de</strong>m e, ao voltarem,<br />

disseram: «É um estranho animal o que está na árvore oca. Nunca tínhamos visto tal<br />

coisa: tem uma pele feita <strong>de</strong> mil peles diferentes, mas está <strong>de</strong>itado a dormir». Disse o<br />

rei: «Vejam lá se o conseguem apanhar vivo, <strong>de</strong>pois atem-no à carruagem e tragam-<br />

no». Quando os caçadores agarraram a jovem, esta acord<strong>ou</strong> apavorada e suplic<strong>ou</strong>:<br />

«S<strong>ou</strong> uma pobre criança abandonada <strong>por</strong> pai e mãe, ten<strong>de</strong> pieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> mim e levai-me<br />

convosco». Respon<strong>de</strong>ram eles: «Mil-e-Uma-Peles, tu serves na cozinha, vem<br />

connosco e po<strong>de</strong>rás varrer as cinzas». E meteram-na então na carruagem e levaram-na<br />

para o palácio real. Uma vez lá, indicaram-lhe um vão sob as escadas on<strong>de</strong> nunca<br />

entrava a luz do dia e disseram: «Aqui po<strong>de</strong>rás viver e dormir, Bicho Peludo». Depois<br />

foi levada para a cozinha on<strong>de</strong> carreg<strong>ou</strong> água e lenha, atiç<strong>ou</strong> o fogo, <strong>de</strong>pen<strong>ou</strong> as aves,<br />

escolheu os legumes, varreu as cinzas e fez todo o trabalho sujo.<br />

E assim se <strong>de</strong>u que Mil-e-Uma-Peles foi obrigada a viver longo tempo em gran<strong>de</strong><br />

miséria. Ai, bela princesa, o que haveria <strong>de</strong> te suce<strong>de</strong>r! Aconteceu certa vez, <strong>por</strong>ém,<br />

que no palácio se celebrava uma gran<strong>de</strong> festa e ela disse então ao cozinheiro: «Posso<br />

ir um bocadinho lá acima espreitar? Eu fico do lado <strong>de</strong> fora da <strong>por</strong>ta». O cozinheiro<br />

respon<strong>de</strong>u: «Po<strong>de</strong>s, vai lá, mas tens <strong>de</strong> estar <strong>de</strong> volta daqui a meia hora para varrer as<br />

cinzas». Ela peg<strong>ou</strong> então na sua lamparina, foi ao vão, tir<strong>ou</strong> o manto <strong>de</strong> pele, lav<strong>ou</strong> a<br />

fuligem das mãos e da cara, e toda a sua beleza veio ao <strong>de</strong> cima. Depois abriu a casca

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