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Borralheira, ou o Sapatinho de Vidro (por Charles Perrault)

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Não <strong>ou</strong>s<strong>ou</strong> a princesa repelir a proposta do pai, mas respon<strong>de</strong>u que casaria se lhe<br />

comprasse três prendas: um vestido <strong>de</strong> seda da cor do mar e <strong>de</strong> todos os peixes para o<br />

vestir no dia do seu casamento <strong>de</strong> manhã, <strong>ou</strong>tro da cor da terra e <strong>de</strong> todas as flores<br />

para o vestir no dia do seu casamento ao meio-dia, e <strong>ou</strong>tro da cor do céu, do sol, da<br />

lua e das estrelas para ir à igreja casar.<br />

O rei prometeu comprar os três vestidos e resolveu viajar pelo estrangeiro, on<strong>de</strong><br />

encontrasse a seda, que no seu reino não havia. Passado tempo, volt<strong>ou</strong> o rei com os<br />

três vestidos, cada um dos quais era um verda<strong>de</strong>iro primor. Gost<strong>ou</strong> a princesa dos<br />

vestidos e o rei começ<strong>ou</strong> a tratar os preparativos do casamento.<br />

Sem o rei saber, mand<strong>ou</strong> a princesa chamar um exímio artista <strong>de</strong> carpintaria e<br />

pergunt<strong>ou</strong>-lhe se podia em curto prazo fazer <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira uma boneca, on<strong>de</strong> ela<br />

c<strong>ou</strong>besse com os seus vestidos e mais r<strong>ou</strong>pa, boneca esta que <strong>de</strong>via adaptar-se<br />

perfeitamente ao seu corpo <strong>por</strong> forma que fingisse um fato completo. O carpinteiro<br />

comprometeu-se a fazer a obra, obrigando-se a guardar segredo, sob pena <strong>de</strong> morte.<br />

Apresent<strong>ou</strong> o artista a boneca feita e pronta. A ma<strong>de</strong>ira era tão bem preparada, que<br />

a boneca acomodava-se perfeitamente ao corpo da princesa, acompanhando-a em<br />

todos os movimentos, como se a matéria-prima gozasse <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> elasticida<strong>de</strong>.<br />

Gratific<strong>ou</strong> ela o trabalho do artista, meteu-se <strong>de</strong>ntro da boneca e fugiu do palácio,<br />

dirigindo-se para o palácio do rei seu vizinho, on<strong>de</strong> se ofereceu como criada. É<br />

evi<strong>de</strong>nte que a cara da princesa estava coberta pela cara <strong>de</strong> pau.<br />

Quando as criadas viram a cara horrenda da mulher que se oferecia <strong>por</strong> criada,<br />

puseram-se a rir e chamaram a rainha.<br />

«Queres servir?» pergunt<strong>ou</strong> a rainha.<br />

A criada respon<strong>de</strong>u parvamente.<br />

«Coitadinha! É idiota. Man<strong>de</strong>m-na para o quintal, on<strong>de</strong> há uma casinha <strong>de</strong> on<strong>de</strong><br />

po<strong>de</strong> vigiar as galinhas.<br />

E assim suce<strong>de</strong>u. Foi a Cara <strong>de</strong> Pau, nome que as criadas lhe aplicaram, recolhida<br />

na casinha que existia no quintal do palácio.<br />

Algum tempo <strong>de</strong>pois começ<strong>ou</strong>-se a falar numa gran<strong>de</strong> festa em próxima ermida,<br />

festa <strong>de</strong> que o príncipe era juiz. Toda a fidalguia se preparava para a festa e os criados<br />

do rei não cessavam <strong>de</strong> falar nela. A Cara <strong>de</strong> Pau cheg<strong>ou</strong> ao pé da rainha e pediu-lhe<br />

licença para ir ver a festa.<br />

«Vai, sim», respon<strong>de</strong>u a rir, «e po<strong>de</strong>s ir todos os dias, se quiseres».

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