Colonização - Centro de Documentação e Pesquisa Vergueiro
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POLÍTICA AGRÍCOLA'<br />
Corretas são as resoluções tiradas no Encontro, expressas na "Declaração <strong>de</strong> Cancordia",<br />
no sentido <strong>de</strong> alterar a forma <strong>de</strong> produção agrícola, atualmente subordinada a Interesses dos gran<br />
<strong>de</strong>s.<br />
Entretanto, o problema básico que envolve a alteração dos rumos e da forma da produção<br />
agrícola no Brasil não foi sequer mencionado - a questão da terra. Segundo a ABRA (Associação<br />
Brasileira <strong>de</strong> Reforma Agrária) do Paraná, em nota recentemente lançada,"esqueceram" que enquan<br />
to não se modificar a atual estrutura fundiária do Brasil, pouco se fará para resolver a misé-<br />
ria do campo e a pobreza dos pequenos agricultores".<br />
Ainda segundo a ABRA-PR, não foi colocada a realida<strong>de</strong> do trabalho eas dificulda<strong>de</strong>s que<br />
enfrenta o produtor rural quanto ã falta <strong>de</strong> terra, problemas <strong>de</strong> comercialização, preço <strong>de</strong> produ<br />
tos agrícolas, estradas, escolas, saú<strong>de</strong>, etc.<br />
Também lembra que para este encontro os reais interessados não estiveram presentes: os<br />
sindicatos <strong>de</strong> trabalhadores rurais, li<strong>de</strong>ranças dos Sem-Terra e "bÕias-frias".<br />
Por isso, a ABRA-PR espera que no II Encontro <strong>de</strong> Agricultura Alternativa, realizado em<br />
02-06.04.83, em Petrõpolis-RJ, as coisas tenham se modificado. Um encontro <strong>de</strong> tão gran<strong>de</strong> impor-<br />
tância não po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> se manifestar pela Reforma Agrária, permitindo assim a esperança da<br />
Agricultura Alternativa para 12 milhões <strong>de</strong> agricultores sem-terra e 6 milhões <strong>de</strong> "boias-frias "<br />
existentes no Brasil.<br />
So quem lida, dia após dia, com suas<br />
vacas leiteiras sabe como a coisa dá tra-<br />
balho. E também o exato valor do leite ali<br />
produzido.<br />
Mas, na verda<strong>de</strong>, e bem longe dali (lã<br />
no SEAP-Secretaria Especial <strong>de</strong> Abasteci -<br />
mento e Preços, em Brasília) que os pre-<br />
ços sao calculados. E quase sempre sem a-<br />
ten<strong>de</strong>r as necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> quem produze <strong>de</strong><br />
quem consome,<br />
E para confirmar este fato, coragem.'<br />
Basta olhar a nova tabela <strong>de</strong> preços:<br />
Preço ao Produtor:<br />
Leite consumo Cr$ 236,00<br />
Leite indústria Cr$ 223,00<br />
Preço ao Consumidor:<br />
RS Cr$ 340,00<br />
0 leite tipo consumo tinha, em janei-<br />
ro, um custo calculado <strong>de</strong> Cr$ 308,00, mas<br />
a SEAP tabelou-o em Cr$ 236, <strong>de</strong>ixando um<br />
prejuízo <strong>de</strong> Cr$ 72,00 por litro ao produ-<br />
tor.<br />
E a gente sabe queesta situação já vem<br />
<strong>de</strong> mais tempo. Por exemplo, <strong>de</strong> fevereiro<br />
<strong>de</strong> 83 a março <strong>de</strong> 84 o total <strong>de</strong> aumentos dos<br />
preços pagos ao produtor foi <strong>de</strong> 168%, en-<br />
quanto que o custo <strong>de</strong> produção no mesmo<br />
período teve um aumento acumulado que che<br />
gou a 252%.<br />
E o consumidor? E para quem ainda con<br />
segue comprar leite (o RS consumiu somen-<br />
te 29 milhões <strong>de</strong> litros em 83) o problema<br />
também é bastante grave.<br />
Em 83, o leite tipo C subiu <strong>de</strong> Cr$...<br />
79,00, em janeiro, para Cr$ 250,00, em <strong>de</strong><br />
zembro. Isto representa 216% <strong>de</strong> aumento<br />
acumulado, superior ã própria inflação que<br />
ao final <strong>de</strong> 83 chegou a 213%.<br />
Que situação, hein! 0 produtor ganha<br />
pouco e o consumidor paga muito.<br />
Olha, essa vida é mais sofrida do que<br />
surra com a tala do mango.<br />
E claro que tem gente lucrando, basta<br />
ver o <strong>de</strong>sempenho das gran<strong>de</strong>s indústrias <strong>de</strong><br />
laticínios e rações.<br />
Produtor e consumidor<br />
• f « am • a conta<br />
Os laticínios transformam boa parte<br />
<strong>de</strong>ste leite que lhecusta tao barato em <strong>de</strong><br />
rivados (leite em po, nata, manteiga,quei<br />
jo, iogurte, leite longa vida, etc) que<br />
irá ven<strong>de</strong>r a preços altíssimos. Por exem-<br />
plo, um pote <strong>de</strong> iogurte <strong>de</strong> 210 g custa ho<br />
je, em média Cr$ 385,00.<br />
E para confirmar as informações é só<br />
olhar o <strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong> duas gran<strong>de</strong>s indús-<br />
trias aqui do RS:<br />
em Cr$ milhões<br />
Empresa Receita<br />
Liquida<br />
Lucro<br />
Patrimônio<br />
Liquido<br />
Lacesa<br />
Mayer<br />
7.187,7<br />
5.573,1<br />
1.525,4<br />
481,1<br />
79,8<br />
154,7<br />
Na produção leiteira as indústrias <strong>de</strong><br />
ração também conseguem bons preços, aumen<br />
tando mais ainda o seu lucro final. Veja-<br />
mos o balanço <strong>de</strong> duas indústrias do setor<br />
durante 83:<br />
em Cr$ milhões<br />
Empresa Receita<br />
Lucro<br />
Patrimônio<br />
Liquida Liquido<br />
Socil<br />
Cargill<br />
14.445,6<br />
3.102,9<br />
1.636,7<br />
1.480,8<br />
138,2<br />
333,1<br />
Enquanto isto, os mais <strong>de</strong> 70.000 pe-<br />
quenos produtores <strong>de</strong> leite do estado vão<br />
<strong>de</strong>ixando <strong>de</strong> produzir.<br />
Para a entressagra, <strong>de</strong>veriam ser libe<br />
rados Cr$ 75 bilhões ainda no fim do anõ<br />
passado para que as empresas e cooperati-<br />
vas formassem seus estoques. No entanto,<br />
foi liberado apenas 19,5 bilhões, o que<br />
força a importação <strong>de</strong> leite em pó para ga<br />
rantir os estoques. Este ano serão impor-<br />
tados 40 mil toneladas <strong>de</strong> leiteem pó.alem<br />
<strong>de</strong> 20 mil toneladas <strong>de</strong> doação dos Estados<br />
Unidos, que também contribuem para o <strong>de</strong>-<br />
sestTmulo da produção nacional e para nos<br />
manter na <strong>de</strong>pendência.<br />
Continuar assim ninguém agüenta mais,<br />
e ficar só or<strong>de</strong>nhando as vacas não adian-<br />
ta, pois tem muito gato gordo para lamber<br />
o prato.