imagens de memória/esquecimento na contemporaneidade
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muito mais complexa. De qualquer forma, a problemática da temporalida<strong>de</strong> é um indicativo<br />
que po<strong>de</strong> nos levar às várias respostas que a pergunta <strong>de</strong> Huyssen suscita.<br />
A relação com a temporalida<strong>de</strong> se dá <strong>de</strong> forma muito particular no século XX,<br />
mas veremos que o contraste entre o início e o fim do século, do qual nos falara Huyssen, não<br />
ocorre repenti<strong>na</strong>mente. É importante ressaltar que ao mesmo tempo em que o senso comum<br />
fazia tábula rasa do passado à espera <strong>de</strong> um futuro com progressos, os regimes <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>listas<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> sua emergência já apoiavam a permanência da história clássica, além da aversão à arte e<br />
à arquitetura mo<strong>de</strong>r<strong>na</strong>s. Essa velha história, que exalta heróis do passado, está <strong>de</strong>svinculada<br />
do tempo presente, apoiada unicamente em documentos do passado; logo, uma história sem<br />
testemunhas vivas.<br />
Nesse contexto são escritas críticas pioneiras a respeito da função da história,<br />
como as Teses Sobre o Conceito da História, <strong>de</strong> 1940, <strong>de</strong> Walter Benjamin, aten<strong>de</strong>ndo ao<br />
apelo por uma nova história requerida também por outros intelectuais da época e mesmo <strong>de</strong><br />
séculos prece<strong>de</strong>ntes 1 . Dentre aqueles que reivindicavam um novo olhar sobre a temporalida<strong>de</strong><br />
e a <strong>memória</strong> em relação à história do presente, além <strong>de</strong> Benjamin, po<strong>de</strong>mos citar Bergson,<br />
Halbwachs, Bene<strong>de</strong>tto Croce, Pierre Nora, Eric Hobsbawm, Gilles Deleuze, Derrida, a escola<br />
dos An<strong>na</strong>les 2 , <strong>de</strong>ntre outros. Alguns <strong>de</strong>sses autores viriam a ter seus textos censurados e<br />
seriam perseguidos ou mortos 3 pelos regimes totalitários, o que contribuiu para que muitos <strong>de</strong><br />
seus textos se tor<strong>na</strong>ssem mais acessíveis ape<strong>na</strong>s após a queda <strong>de</strong>sses regimes.<br />
Uma contribuição importante <strong>de</strong> Halbwachs em seu estudo sobre a <strong>memória</strong><br />
coletiva mostra que ela guarda a lembrança do grupo, sobretudo daquelas passagens que a<br />
História oficial negligencia como se <strong>na</strong>da acontecesse nos períodos entre os acontecimentos<br />
ditos históricos. E é justamente centrado nesses períodos entre e no passado recente,<br />
1 ŖVoltaire, <strong>na</strong>s suas Nouvelle considérations sur l' histoire (1744), preten<strong>de</strong>ra uma 'história econômica,<br />
<strong>de</strong>mográfica, das técnicas e dos costumes e não só política, militar e diplomática. Uma história dos homens, <strong>de</strong><br />
todos os homens e não só dos reis e dos gran<strong>de</strong>s. Uma história das estruturas e não só dos acontecimentos.<br />
História em movimento, história das evoluções e das transformações e não história estática, história-quadro.<br />
História explicativa e não ape<strong>na</strong>s história <strong>na</strong>rrativa, <strong>de</strong>scritiva Ŕ ou dogmática. Enfim, história oral [...]ŗ (Le<br />
Goff, 1978, p. 223, apud LE GOFF, 2003, p. 122). Também Karl Marx foi fundamental para as noções sociais e<br />
históricas que se <strong>de</strong>senvolveriam no século XX.<br />
2 ŖConsi<strong>de</strong>ra-se a fundação da revista An<strong>na</strong>les (An<strong>na</strong>les d'Histoire Économique et Sociale em 1929 e An<strong>na</strong>les:<br />
Économies, Societés, Civilisations em 1945), obra <strong>de</strong> Marc Bloch e Lucien Febvre, um ato que fez <strong>na</strong>scer a nova<br />
história (Revel e Chartier, 1978; Allegra e Torre, 1977, Cedronio et al., 1977). As i<strong>de</strong>ias da revista inspiraram a<br />
fundação, em 1947, por Lucien Febvre (morto em 1956), <strong>de</strong> uma instituição <strong>de</strong> investigação e <strong>de</strong> ensino <strong>de</strong><br />
investigação em ciências huma<strong>na</strong>s e sociais, a sexta seção (das ciências econômicas e sociais) [...]ŗ. (LE GOFF,<br />
2003, p.129).<br />
3 Benjamin escreve em 1940 as Teses sobre o conceito da história em Paris às vésperas da invasão das tropas<br />
alemãs e morre <strong>na</strong> tentativa <strong>de</strong> fuga <strong>na</strong> fronteira com a Espanha. Halbwachs foi encarcerado em julho <strong>de</strong> 1944 e<br />
em março <strong>de</strong> 1945 executado no campo <strong>de</strong> concentração <strong>de</strong> Buchenwald. O poeta Paul Celan teve os pais<br />
assassi<strong>na</strong>dos pelos alemães e o próprio chegou a trabalhar em um campo <strong>de</strong> concentração em Tabaresti, <strong>na</strong><br />
Romênia. Marc Bloch, resistente, foi fuzilado pelos alemães em 1944.<br />
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