imagens de memória/esquecimento na contemporaneidade
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tempo presente o tempo da <strong>memória</strong>, o século passado tem sua relação com a temporalida<strong>de</strong><br />
marcada profundamente pelo trauma gerado por duas guerras mundiais. A <strong>memória</strong> passaria a<br />
ser reconhecida fi<strong>na</strong>lmente como mais que elemento exclusivamente pessoal, mas também<br />
coletivo e interpessoal. Um imperativo ético <strong>de</strong> <strong>memória</strong>, reivindicado pelas massas através<br />
das <strong>memória</strong>s coletivas, e até mesmo pelo próprio Estado, viria a funcio<strong>na</strong>r como apelo por<br />
justiça, posta, sobretudo, como elemento libertador. Se às vezes o indivíduo contemporâneo<br />
se comporta como Ŗarquivista malucoŗ (cf. HUYSSEN, 2000, p. 15), é muito mais um reflexo<br />
<strong>de</strong> sua avi<strong>de</strong>z por <strong>memória</strong> ligada a fatores bem mais complexos do que mera ingenuida<strong>de</strong>. O<br />
passado, reconhecido como construção e reinterpretação do presente, é uma luci<strong>de</strong>z <strong>de</strong> que,<br />
assim como a verda<strong>de</strong>, ele está irrecuperavelmente perdido no sentido que ambos não se<br />
fixam integralmente, muito embora olhar para trás e ver um acúmulo <strong>de</strong> catástrofes, <strong>de</strong>va se<br />
fazer útil para avistar a esperança <strong>de</strong> um outro tempo futuro.<br />
1.2 Memória pessoal, <strong>memória</strong>s coletivas<br />
Na discussão contemporânea, a pergunta sobre qual é o sujeito das operações <strong>de</strong><br />
<strong>memória</strong> é inflamada por uma inquietação do historiador por saber qual é o seu contraponto: a<br />
<strong>memória</strong> dos protagonistas da ação tomados um a um, ou das coletivida<strong>de</strong>s tomadas em<br />
conjunto? Em outras palavras, se a <strong>memória</strong> é primordialmente pessoal ou coletiva é um<br />
dilema com o qual a contemporaneida<strong>de</strong> tem esbarrado. Essa questão só foi possível porque<br />
Halbwachs, sob a pressão do entre guerras nos anos 1920-1930, atribuiu a <strong>memória</strong> a uma<br />
entida<strong>de</strong> coletiva Ŕ o grupo ou socieda<strong>de</strong>, <strong>na</strong> publicação póstuma <strong>de</strong> A Memória Coletiva.<br />
Antes, ape<strong>na</strong>s a problemática da subjetivida<strong>de</strong> tomava conta dos discursos sobre a <strong>memória</strong><br />
com as reflexões fundadoras <strong>de</strong> Santo Agostinho, passando mais tar<strong>de</strong> por Husserl e Bergson.<br />
Alguns traços indicados pelo filósofo Paul Ricœur (2007, p. 107-108) <strong>de</strong>vem ser<br />
<strong>de</strong>stacados <strong>na</strong>queles que saem em <strong>de</strong>fesa do discurso do caráter essencialmente privado da<br />
<strong>memória</strong>: ŖPrimeiro, a <strong>memória</strong> parece <strong>de</strong> fato ser radicalmente singular: minhas lembranças<br />
não são as suasŗ; segundo, Ŗo vínculo origi<strong>na</strong>l da consciência com o passado parece residir <strong>na</strong><br />
<strong>memória</strong>ŗ; e terceiro, Ŗé à <strong>memória</strong> que está vinculado o sentido da orientação <strong>na</strong> passagem<br />
do tempoŗ. Neste último, o movimento é em via dupla, do passado para o futuro, mas também<br />
pelo movimento inverso <strong>de</strong> trânsito Ŗda expectativa à lembrança, através do presente vivoŗ<br />
(RICŒUR, 2007, p. 108).<br />
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