imagens de memória/esquecimento na contemporaneidade
imagens de memória/esquecimento na contemporaneidade
imagens de memória/esquecimento na contemporaneidade
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
lugares e é <strong>de</strong>sses que se guarda ou se forma <strong>memória</strong>, esses lugares são exemplificados pelo<br />
retorno a uma escola, uma cida<strong>de</strong>, a igreja com seus vários símbolos, etc.<br />
Não é certo então, que para lembrar-se seja necessário se transportar em pensamento<br />
para fora do espaço, pois pelo contrário é somente a imagem do espaço que, em<br />
razão <strong>de</strong> sua estabilida<strong>de</strong>, dá-nos a ilusão <strong>de</strong> não mudar através do tempo e <strong>de</strong><br />
encontrar o passado no presente; mas é assim que po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>finir a <strong>memória</strong>; e o<br />
espaço só é suficientemente estável para po<strong>de</strong>r durar sem envelhecer, nem per<strong>de</strong>r<br />
nenhuma <strong>de</strong> suas partes. (HALBWACHS, 2004, p.167, grifo nosso)<br />
Memórias individuais e coletivas têm nos lugares uma referência importante para<br />
sua construção, no entanto, enten<strong>de</strong>mos que o espaço não é a condição única <strong>de</strong> sua<br />
preservação, pois do contrário, povos nôma<strong>de</strong>s não teriam <strong>memória</strong>, nem os contemporâneos<br />
que têm por costume mudar-se <strong>de</strong> cida<strong>de</strong>s ou até <strong>de</strong> países com bastante frequência. Nem por<br />
isso suas <strong>memória</strong>s são apagadas, ainda que eles nunca mais retornem a tais lugares e nem<br />
carreguem consigo seus objetos. Além disso, esta estabilida<strong>de</strong> do espaço é improvável, os<br />
espaços sempre se modificam. Mesmo se pensarmos em sua época, veremos que a paisagem<br />
geopolítica também se modificou com a Primeira Guerra, sobre a qual ele po<strong>de</strong>ria ter<br />
observado no livro. Mesmo em imagem, mesmo em guerras, mesmo sem guerras. Quantas<br />
cida<strong>de</strong>s não modificam suas paisagens seja pela <strong>de</strong>struição ou pela construção?<br />
A expressão <strong>memória</strong> coletiva é utilizada nos discursos sobre a cida<strong>de</strong>, como em<br />
Archittetura <strong>de</strong>lla Città (1966), <strong>de</strong> Aldo Rossi, que conferia particular <strong>de</strong>staque ao trabalho <strong>de</strong><br />
Halbwachs, que lhe permitiu elaborar a i<strong>de</strong>ia da cida<strong>de</strong> como Ŗlócus da <strong>memória</strong> coletivaŗ.<br />
Mas é difícil compreen<strong>de</strong>r nossas gran<strong>de</strong>s cida<strong>de</strong>s contemporâneas como Ŗlócus da <strong>memória</strong>ŗ:<br />
cabe concordar com Huyssen sobre a impossibilida<strong>de</strong> do conceito <strong>de</strong> Ŗ<strong>memória</strong> coletivaŗ<br />
aplicado às Ŗcida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>sierarquizadas, sem centro nem margens, on<strong>de</strong> estamos sempre a<br />
caminho, sempre <strong>de</strong> passagem, num espaço indiferenciado, em um percurso sem marcos ou<br />
monumentos significativosŗ (DANZIGER, 2003, p.74).<br />
Mais uma vez, o conceito que informa que a <strong>memória</strong> é somente construída pelos<br />
fatores externos se vê <strong>de</strong>struída se aplicada à cida<strong>de</strong> contemporânea. Se o centro da cida<strong>de</strong>,<br />
diria Roland Barthes (2007, p. 45-46), era Ŗsempre pleno: lugar marcadoŗ, on<strong>de</strong> Ŗse reúnem e<br />
se con<strong>de</strong>nsam os valores da civilizaçãoŗ 17 adquiridos com os diversos grupos, o que dizer das<br />
atuais cida<strong>de</strong>s sem centro ou Ŗcentros vaziosŗ? Em Tóquio, explica Barthes, o centro gira<br />
literalmente em torno do Ŗlugar proibido e indiferenteŗ, do ŖŘ<strong>na</strong>dař sagradoŗ que é a habitação<br />
17 Como a maioria das cida<strong>de</strong>s oci<strong>de</strong>ntais são concêntricas, em seu centro se encontra <strong>de</strong> tudo: Ŗa espiritualida<strong>de</strong><br />
(com as igrejas), o po<strong>de</strong>r (com os escritórios), o dinheiro (com os bancos), a mercadoria (com as gran<strong>de</strong>s lojas), a<br />
fala (com as ágoras: cafés e passeios); ir ao centro é encontrar a 'verda<strong>de</strong>' social, é participar da soberba da<br />
Řrealida<strong>de</strong>řŗ. (BARTHES, 2007, p.46)<br />
38