imagens de memória/esquecimento na contemporaneidade
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particular entre a geração velha e a nova, entre avós e netos, muitas vezes pulando a geração<br />
problemática dos pais que se encontra no meioŗ (WINTER, 2006, p. 80). Para Winter esse<br />
vínculo também foi um fator que contribuiu para o Ŗboom <strong>de</strong> <strong>memória</strong>ŗ do fim do século XX.<br />
A <strong>memória</strong> coletiva, explica Halbwachs (2004, p.113), é uma corrente <strong>de</strong><br />
pensamento contínuo, não tem em seu <strong>de</strong>senvolvimento linhas nitidamente marcadas, mas<br />
limites irregulares e incertos: o presente não se opõe ao passado, como dois períodos<br />
históricos vizinhos. Além disso, ela apresenta os grupos vistos <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro e não ultrapassa a<br />
duração <strong>de</strong> uma vida huma<strong>na</strong> em média.<br />
A história, por sua vez, divi<strong>de</strong> a sequência dos acontecimentos cronologicamente,<br />
com períodos <strong>de</strong>termi<strong>na</strong>dos <strong>de</strong> acordo com interesses em jogo, obe<strong>de</strong>cendo a uma necessida<strong>de</strong><br />
didática <strong>de</strong> esquematização. Isso ocorre porque a história exami<strong>na</strong> <strong>de</strong> fora os grupos e se fixa<br />
em períodos longos. Além da crítica às divisões que ignoram completamente os períodos<br />
entre os ditos acontecimentos Ŗhistóricosŗ, Halbwachs faz a crítica à confusão em um tempo<br />
único <strong>de</strong> histórias <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is e locais que representam linhas <strong>de</strong> evolução distintas e à<br />
passagem súbita <strong>de</strong> um estado que subsiste a outro, ressaltando que Ŗa história é<br />
necessariamente um resumo e é por isso que ela resume e concentra em poucos momentos<br />
evoluções que se esten<strong>de</strong>m por períodos inteiros [...]ŗ (HALBWACHS, 2004, p.114). Há<br />
muitas <strong>memória</strong>s coletivas, no plural, outro ponto no qual elas se distinguem da história.<br />
Halbwachs conclui que a <strong>memória</strong> coletiva e história não se confun<strong>de</strong>m, e que a expressão<br />
<strong>memória</strong> histórica não foi bem escolhida, pois associa dois termos que se opõem. Com<br />
Benjamin, <strong>de</strong>sfaz-se a suposta divisão entre história e <strong>memória</strong>, como bem observou<br />
Seligmann-Silva:<br />
O tempo para ele não é vazio mas sim <strong>de</strong>nso, poroso Ŕ matérico. Nas suas mãos a<br />
teoria da história, antes ligada à ciência da história, passa a ser uma teoria da<br />
Memória e assume os contornos <strong>de</strong> um trabalho mais próximo do artesa<strong>na</strong>l, no qual<br />
o Ŗhistoriadorŗ <strong>de</strong>ixa as marcas digitais <strong>na</strong> sua obra. O tempo <strong>de</strong>ve <strong>de</strong>ixar sua marca<br />
no espaço; ele é telúrico, pesado: como <strong>na</strong>s esculturas e quadros <strong>de</strong> um Anselm<br />
Kiefer. (SELIGMANN-SIVA. 2001. p. 366 apud DANZIGER, 2003, p. 70).<br />
Salientamos que a <strong>memória</strong> coletiva se atém a um período menor <strong>de</strong> tempo, ela<br />
tem certo limite, tendo em vista que a história se fixa justamente a esses períodos a que a<br />
<strong>memória</strong> coletiva não alcança mais. Por isso costuma-se dizer que a história se interessa pelo<br />
passado e não pelo presente, Ŗo que é verda<strong>de</strong>iramente o passado para ela, é aquilo que não<br />
está mais compreendido no domínio on<strong>de</strong> se esten<strong>de</strong> ainda o pensamento dos grupos atuaisŗ<br />
(HALBWACHS, 2004, p.114). É nos <strong>de</strong>poimentos antigos, extraídos dos escritos da época,<br />
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