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imagens de memória/esquecimento na contemporaneidade

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Trata-se para o historiador Ŗmaterialistaŗ - ou seja, <strong>de</strong> acordo com Benjamin, para o<br />

historiador capaz <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar no passado os germes <strong>de</strong> uma outra história, capaz<br />

<strong>de</strong> levar em consi<strong>de</strong>ração os sofrimentos acumulados e <strong>de</strong> dar uma nova face às<br />

esperanças frustradas -, <strong>de</strong> fundar um outro conceito <strong>de</strong> tempo, Ŗtempo <strong>de</strong> agoraŗ<br />

(ŖJetztzeitŗ), caracterizado por sua intensida<strong>de</strong> e sua brevida<strong>de</strong>, cujo mo<strong>de</strong>lo foi<br />

explicitamente calcado <strong>na</strong> tradição messiânica e mística judaica.<br />

Em lugar <strong>de</strong> apontar para uma Ŗimagem eter<strong>na</strong> do passadoŗ, como o historicismo,<br />

ou, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma teoria do progresso, para a <strong>de</strong> futuros que cantam, o historiador<br />

<strong>de</strong>ve constituir uma Ŗexperiênciaŗ (ŘErfahrungř) com o passado (tese 16). Estranha<br />

<strong>de</strong>finição <strong>de</strong> um método materialista! (GAGNEBIN in BENJAMIN, 1994, p.8)<br />

A <strong>memória</strong> trata-se, assim, <strong>de</strong> uma espécie <strong>de</strong> contra história, o que Benjamin<br />

chamava <strong>de</strong> Ŗescovar a história a contrapeloŗ (BENJAMIN, 1994, p. 225), como um<br />

historiador materialista. Pela busca <strong>de</strong> uma história que não privilegiasse ape<strong>na</strong>s o que era até<br />

então consi<strong>de</strong>rada Ŗgran<strong>de</strong> históriaŗ, não ape<strong>na</strong>s aquelas dos vencedores, mas também aquelas<br />

dos vencidos, dos trabalhadores e das massas, é que autores <strong>de</strong> diversos campos procuravam<br />

recorrer à <strong>memória</strong> coletiva, <strong>de</strong>tentora <strong>de</strong> lembranças mais recentes dos grupos aos quais<br />

pertencem.<br />

Somente após a década <strong>de</strong> 1960, os novos discursos <strong>de</strong> <strong>memória</strong> se firmaram, com<br />

a Ŗrevolução documentalŗ (GLÉNISSON, 1977 apud LE GOFF, 2003, p.531), no rastro da<br />

<strong>de</strong>scolonização e dos movimentos sociais em busca por histórias alter<strong>na</strong>tivas e revisionistas<br />

iniciados no entre guerras, acompanhadas por inúmeras <strong>de</strong>clarações <strong>de</strong> fim (fim da história,<br />

morte do sujeito, fim da obra <strong>de</strong> arte e das meta<strong>na</strong>rrativas) que já apontavam para a atual<br />

recodificação do passado.<br />

Embora não fossem poucos os esforços, como vimos, o <strong>de</strong>slocamento dos<br />

Ŗfuturos presentesŗ para os Ŗpassados presentesŗ, <strong>de</strong>ntre uma série <strong>de</strong> questões, ocorre<br />

principalmente durante a Segunda Guerra Mundial, quando Ŗo problema do futuro longínquo<br />

foi se apagando, per<strong>de</strong>u toda a intensida<strong>de</strong> perante os problemas do futuro imediato, bem mais<br />

urgentes e concretosŗ (LEVI apud SELIGMANN-SILVA, 2000, p. 92).<br />

Logo após a Shoah 10 parecem ter faltado códigos a<strong>de</strong>quados para se expressar. A<br />

arte, a poesia e toda a cultura europeia do pós-guerra parecem então passar pela célebre,<br />

ba<strong>na</strong>lizada e mal compreendida frase <strong>de</strong> Theodor Adorno <strong>de</strong> 1949: Ŗescrever um poema após<br />

Auschwitz é um ato bárbaro, e isso corrói até mesmo o conhecimento <strong>de</strong> porque hoje se<br />

tornou impossível escrever poemasŗ (ADORNO, 1977, vol. 10, p.30 apud SELIGMANN-<br />

SILVA, 2003, p. 73). Para o teórico, a poesia, e por extensão as outras artes, <strong>de</strong>sempenham<br />

um papel <strong>na</strong> crítica à <strong>de</strong>sumanização promovida pelo capitalismo industrial e pelas<br />

10 No hebraico, Shoah é o mesmo que catástrofe ou <strong>de</strong>vastação. O termo é preferido por vários autores que se<br />

recusam a usar a palavra ŖHolocaustoŗ por suas conotações <strong>de</strong> sacrifício, pois significa Ŗoferenda pelo fogoŗ.<br />

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