17.04.2013 Views

imagens de memória/esquecimento na contemporaneidade

imagens de memória/esquecimento na contemporaneidade

imagens de memória/esquecimento na contemporaneidade

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

chegar à noção <strong>de</strong> <strong>memória</strong> comum passa-se inicialmente pela i<strong>de</strong>ia do próprio, <strong>de</strong>pois à<br />

experiência <strong>de</strong> outrem, para, fi<strong>na</strong>lmente, proce<strong>de</strong>r à experiência dita <strong>de</strong> comunitarização da<br />

experiência subjetiva; mesmo assim, o salto do eu ao nós ainda não é dado. O conceito<br />

sociológico <strong>de</strong> consciência coletiva <strong>na</strong> quinta Meditação Cartesia<strong>na</strong>, <strong>de</strong> Husserl, po<strong>de</strong> resultar<br />

ape<strong>na</strong>s <strong>de</strong> um processo secundário <strong>de</strong> objetivação das trocas intersubjetivas 14 . Po<strong>de</strong>mos<br />

assim, atribuir a um nós, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> seu titular, todas as prerrogativas da <strong>memória</strong>.<br />

É no reconhecimento do grupo que Halbwachs encontra a <strong>memória</strong> coletiva,<br />

passando da i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> intersubjetivida<strong>de</strong>s que se encontram, formando uma <strong>memória</strong> comum,<br />

para a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que a <strong>memória</strong> do meio interfere mais no sujeito do que o contrário. O seu<br />

livro A Memória Coletiva traz a análise da consciência coletiva que encontrou obstáculos no<br />

vocabulário legado da tradição do olhar interior, por isso, o esforço em constituir um<br />

vocabulário novo, como a literatura e a arte já <strong>de</strong>senvolviam. Em uma época domi<strong>na</strong>da pela<br />

reflexão sobre a <strong>memória</strong> e a lembrança, os conhecimentos científico, literário e artístico<br />

coincidiam em sua preocupação em atingir as mesmas regiões da experiência coletiva e<br />

individual 15 .<br />

A parte central da obra <strong>de</strong> Halbwachs <strong>de</strong>monstra que é impossível conceber os<br />

problemas da evocação e localização das lembranças se não tomarmos para ponto <strong>de</strong><br />

aplicação os quadros sociais reais que servem <strong>de</strong> pontos <strong>de</strong> referência <strong>na</strong> reconstrução da<br />

<strong>memória</strong>. Assim, ao a<strong>na</strong>lisar a <strong>memória</strong> com grupos sociais e situações concretas <strong>na</strong>s quais o<br />

homem se encontra <strong>na</strong> vida cotidia<strong>na</strong>, o autor ultrapassa o pensamento <strong>de</strong> seus mestres da<br />

Escola francesa (recebeu influências <strong>de</strong> Émile Durkheim, e Bergson, embora tenha dirigido<br />

algumas críticas ao último).<br />

Na análise dos quadros sociais da <strong>memória</strong>, Halbwachs (assim como toda a<br />

segunda geração da Escola francesa <strong>de</strong> Sociologia) vai do longínquo ao próximo: é a partir <strong>de</strong><br />

uma análise da experiência <strong>de</strong> pertencer a um grupo e <strong>na</strong> base do ensino recebido, que a<br />

<strong>memória</strong> individual toma posse <strong>de</strong> si mesma. Nessa tese, ape<strong>na</strong>s quando nos colocamos no<br />

ponto <strong>de</strong> vista <strong>de</strong> um ou mais grupos ou quando nos situamos em uma ou mais correntes do<br />

14 Ricœur (2007, p.128) explica que para Husserl, numa empreitada <strong>de</strong> fenomenologia pura, para ter algo que<br />

dura, é preciso uma auto constituição do fluxo temporal, que se opõe à i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> uma constituição simultânea da<br />

<strong>memória</strong> individual e da <strong>memória</strong> coletiva. Somente em outro estágio da fenomenologia, com a quinta<br />

Meditação cartesia<strong>na</strong>, <strong>na</strong> intersecção da teoria da consciência transcen<strong>de</strong>ntal e a da intersubjetivida<strong>de</strong>, é que<br />

Husserl tenta passar do ego solitário a um outrem suscetível <strong>de</strong> se tor<strong>na</strong>r um “nós”, admitindo-se já a<br />

possibilida<strong>de</strong> da experiência temporal tor<strong>na</strong>r-se compartilhada. Essa fenomenologia já mais aberta, on<strong>de</strong> tais<br />

termos são utilizados leva ao limiar do que se po<strong>de</strong>ria chamar <strong>de</strong> uma Ŗsociologia fenomenológicaŗ.<br />

15 Se faz necessário alertamos que os conceitos <strong>de</strong> <strong>memória</strong> coletiva e quadros sociais da <strong>memória</strong> Ŕ<br />

<strong>de</strong>senvolvidos a partir dos anos <strong>de</strong> 1920 Ŕ e <strong>de</strong> história, para Halbwachs, nos remetem ao contexto da primeira<br />

meta<strong>de</strong> do século XX, antes do término da Segunda Guerra. Por isso sua crítica contun<strong>de</strong>nte é direcio<strong>na</strong>da<br />

precisamente à Ŗvelha históriaŗ e não à Ŗnova históriaŗ, da qual foi incentivador.<br />

32

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!