17.04.2013 Views

imagens de memória/esquecimento na contemporaneidade

imagens de memória/esquecimento na contemporaneidade

imagens de memória/esquecimento na contemporaneidade

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

aqueles que o repelem, Huyssen (2000, p.19) acredita que as Ŗ[...] velhas abordagens<br />

sociológicas da <strong>memória</strong> coletiva [...] não são a<strong>de</strong>quadas para dar conta da dinâmica atual da<br />

mídia e da temporalida<strong>de</strong>, da <strong>memória</strong>, do tempo vivido e do <strong>esquecimento</strong>ŗ. Porém, Ŗmesmo<br />

consi<strong>de</strong>rando ultrapassada a abordagem sociológica <strong>de</strong> Halbwachs, é central nos textos <strong>de</strong><br />

Huyssen o conceito <strong>de</strong> <strong>memória</strong> coletiva nem que seja para constatar sua fragilida<strong>de</strong><br />

intrínseca e sua dissoluçãoŗ (DANZIGER, 2007, p.73).<br />

Mas, <strong>de</strong> qualquer forma, ao chamar a atenção para a questão do espaço, dos<br />

grupos sociais, bem como <strong>de</strong> expor exemplos da vida cotidia<strong>na</strong>, Halbwachs fez algo inédito<br />

<strong>na</strong> sociologia e contribuiu muito para o pensamento sobre a <strong>memória</strong>. Certamente, ao ver a<br />

experiência traumática da Primeira Guerra e a ascensão dos regimes fascistas, Halbwachs foi<br />

conduzido a estabelecer uma dicotomia rígida entre <strong>memória</strong> coletiva e individual. Além<br />

disso, morto <strong>na</strong> Segunda Guerra, vítima do controle estatal pela <strong>memória</strong> coletiva do qual ele<br />

mesmo chamara a atenção (também por isso perseguido) não vivenciou as mudanças<br />

ocorridas no pós-guerra, <strong>de</strong>ntre elas a dissolução dos grupos sociais, que tor<strong>na</strong>riam seus<br />

conceitos <strong>de</strong> quadros sociais da <strong>memória</strong> e <strong>memória</strong> coletiva em parte, obsoletos.<br />

Diante da fragilida<strong>de</strong> das propostas fenomenológica <strong>de</strong> Husserl e da proposta<br />

sociológica <strong>de</strong> Halbwachs, a dualida<strong>de</strong> entre <strong>memória</strong> pessoal e <strong>memória</strong> coletiva foi posta<br />

em prova, pois, como vimos, não é ape<strong>na</strong>s com hipótese da polarida<strong>de</strong> da <strong>memória</strong> coletiva e<br />

da individual que se po<strong>de</strong> entrar <strong>na</strong> questão da História, Ŗmas com a <strong>de</strong> uma tríplice atribuição<br />

da <strong>memória</strong>: a si, aos próximos, aos outrosŗ (RICŒUR, 2007, p.142). Assim, àquela<br />

pergunta, com a qual iniciamos esta seção, po<strong>de</strong>ríamos dar uma resposta que escapa à<br />

dualida<strong>de</strong> que a fenomenologia e a sociologia impuseram, <strong>de</strong> forma a unir as duas<br />

alter<strong>na</strong>tivas. Esse traço contemporâneo da troca do ou pelo e, a que Ricœur a<strong>de</strong>re ao <strong>de</strong>slocar<br />

o problema para a atribuição da <strong>memória</strong>, agora aberta à totalida<strong>de</strong> das pessoas gramaticais,<br />

já apresenta um quadro <strong>de</strong> confrontação com aquelas duas teses opostas.<br />

Há um preconceito i<strong>de</strong>alista <strong>na</strong> fenomenologia, e um preconceito positivista <strong>na</strong><br />

sociologia, contudo, Ricœur (2007, p.136) i<strong>de</strong>ntifica aspectos em que <strong>na</strong> linguagem, as duas<br />

teses opostas se entrecruzam 18 . Embora a tradição antiga da reflexivida<strong>de</strong> se oponha a uma<br />

tradição mais recente <strong>de</strong> objetivida<strong>de</strong>, a qual opõe, consequentemente, <strong>memória</strong> individual e<br />

coletiva, Ŗcontudo, elas não se opõem no mesmo plano, mas em universos <strong>de</strong> discursos que se<br />

tor<strong>na</strong>ram alheios um ao outroŗ (RICŒUR, 2007, p. 106).<br />

18 O emprego <strong>de</strong> possessivos como Ŗmeuŗ, Ŗo meuŗ e suas formas no plural, são uma possessão privativa da<br />

lembrança que constitui um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> minhada<strong>de</strong> para todos os fenômenos psíquicos, herdado da retórica das<br />

Confissões <strong>de</strong> Agostinho (RICŒUR, 2007, p.136).<br />

40

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!