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imagens de memória/esquecimento na contemporaneidade

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Também o tempo é <strong>de</strong>finido não mais como percepção ape<strong>na</strong>s interior, mas<br />

também coletiva, consi<strong>de</strong>rando os enca<strong>de</strong>amentos da <strong>na</strong>tureza e dos organismos, as durações<br />

e as divisões do tempo resultantes <strong>de</strong> convenções e costumes, pois exprimem a or<strong>de</strong>m das<br />

etapas da vida social. Do ponto <strong>de</strong> vista bergsoniano, a noção <strong>de</strong> um tempo universal, que<br />

envolve todas as existências, todas as séries sucessivas <strong>de</strong> fenômenos, traduzir-se-ia por uma<br />

série <strong>de</strong>scontínua <strong>de</strong> momentos. Cada um <strong>de</strong>les correspon<strong>de</strong>ria a uma relação estabelecida<br />

entre vários pensamentos individuais, que <strong>de</strong>la tomariam consciência simultaneamente<br />

quando se encontrassem.<br />

Para Halbwachs (2004, p.105), além <strong>de</strong> improvável e muito abstrata, essa i<strong>de</strong>ia <strong>na</strong><br />

qual consiste a simultaneida<strong>de</strong> faz-nos enten<strong>de</strong>r o tempo como uma criação artificial obtida<br />

somente das durações individuais, ignorando o espaço e os objetos exteriores. No tempo<br />

coletivo haveria o mesmo número <strong>de</strong> durações e indivíduos, enquanto <strong>na</strong> duração individual,<br />

haveria um tempo abstrato que compreen<strong>de</strong>ria todas as durações. As divisões traçadas <strong>de</strong><br />

várias durações individuais se cruzam e não se confun<strong>de</strong>m com os estados simultâneos.<br />

Halbwachs pontua ainda a relação da <strong>memória</strong> coletiva com o espaço, o po<strong>de</strong>r do<br />

quadro espacial sobre um grupo. O autor retira do tempo seu privilégio <strong>de</strong> dado imediato da<br />

consciência, e passa a a<strong>na</strong>lisar, junto à nova sociologia, fatos humanos, respon<strong>de</strong>r às<br />

perguntas reais do homem vivo em seu meio social, no lugar <strong>de</strong> problemas abstratos que até<br />

então eram investigados. O espaço aqui po<strong>de</strong> ser entendido tanto como os materiais, objetos<br />

da vida cotidia<strong>na</strong>, seu meio próximo, como também <strong>de</strong> extensões maiores <strong>na</strong>s quais os grupos<br />

se fixam, como a cida<strong>de</strong>. Baseado em Auguste Comte, o autor reafirma que o equilíbrio<br />

mental em boa parte se <strong>de</strong>ve ao fato <strong>de</strong> que os objetos materiais com os quais estamos em<br />

contato diário mudam pouco, e nos oferecem uma imagem <strong>de</strong> permanência e estabilida<strong>de</strong>.<br />

Assim, ele a<strong>na</strong>lisa que mesmo fora <strong>de</strong> casos patológicos, antes <strong>de</strong> nos adaptarmos a um novo<br />

entorno material, atravessamos um período <strong>de</strong> incerteza, tomados por uma sensação <strong>de</strong> perda<br />

<strong>de</strong> nossa perso<strong>na</strong>lida<strong>de</strong>.<br />

Em oposição aos pensadores da <strong>memória</strong> primordialmente pessoal, e assumindo<br />

uma posição bastante radical, para Halbwachs, como vimos, a <strong>memória</strong> interior necessita da<br />

exterior, mas o mesmo não ocorre se invertermos o sentido. Em sua análise em relação ao<br />

espaço, o mesmo po<strong>de</strong> ser observado. Já vimos que para Agostinho e Bergson, a imagem dos<br />

objetos fica armaze<strong>na</strong>da à disposição da <strong>memória</strong> para nos fazer lembrar; em Halbwachs, por<br />

sua vez, é o espaço que nos leva à lembrança. Movimento, portanto, do exterior ao interior:<br />

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