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Onde vis ambições se debatiam,<br />
Ruína imunda que lambera a chama,<br />
Cadáver que aves fétidas roíam!<br />
Tudo sentiu venal! E ingrata a fama!<br />
Como torrentes trépidas corriam<br />
As glórias, tradições, coroas soltas<br />
De um mar de infâmias às marés revoltas!<br />
Não quisera mirar a face bela<br />
Nesse espelho de lodo ensangüentado!<br />
A embriaguez preferia: em meio dela<br />
Não viriam cuspir-lhe o seu passado!<br />
Como em nevoento mar perdida vela<br />
Nos vapores do vinho assombreado<br />
Preferia das noites na demência<br />
Boiar (como um cadáver!) na existência!<br />
Uma vez o escutei: todos dormiam —<br />
Junto à mesa deserta e quase escura:<br />
Lembranças do passado lhe volviam;<br />
Não podia dormir! Na festa impura<br />
Fora afogar escárnios que doíam...<br />
Não o pode: dos lábios na amargura<br />
Ouvi-lhe um murmurar... Eram sentidas<br />
Agonias das noites consumidas!<br />
Olvidei a canção: só lembro dela<br />
Que d'alma a languidez a estremecia:<br />
Como um anjo num sonho de donzela<br />
Sobre o peito a guitarra lhe gemia!<br />
E quando à frouxa lua, da janela,<br />
Cheia a face de lágrimas erguia,<br />
Como as brisas do amor lhe palpitavam<br />
Os lábios no palor que bafejavam!<br />
Amar, beber, dormir, eis o que amava:<br />
Perfumava de amor a vida inteira,<br />
Como o cantor de Don Juan pensava<br />
Que é da vida o melhor a bebedeira...<br />
E a sua filosofia executava...<br />
Como Alfred Musset, a tanta asneira<br />
Acrescento porém… Juro o que digo!<br />
Não se parece Jônatas comigo.<br />
Prometi um poema, e nesse dia<br />
Em que a tanto obriguei a minha idéia<br />
Não prometi por certo a biografia<br />
Do sublime cantor desta Epopéia.<br />
Consagro a outro fim minha harmonia<br />
Por favor cantarei nesta Odisséia<br />
www.nead.unama.br<br />
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