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De Jônatas a glória não sabida<br />
Mas não quero contar a minha vida.<br />
Basta! Foi longo o prólogo confesso!<br />
Mas é preciso à casa uma fachada,<br />
A fronte da mulher um adereço,<br />
No muro um lampião à torta escada!<br />
E agora desse canto me despeço<br />
Com a face de lágrimas banhada,<br />
Qual o moço Don Juan no enjôo rola<br />
Chorando sobre a carta da Espanhola.1<br />
Mas eu sei: que senti o amor ardente<br />
Convulsivo bater num peito exausto!<br />
Sei: que senti a lágrima tremente<br />
Como na insana palidez o Fausto!<br />
Quando o sono fugia às noites minhas<br />
Como às nuvens do inverno as andorinhas.<br />
Bebi-a essa tristeza, essa doença<br />
Que nos escalda lágrimas sombrias,<br />
Que nos revolve sós na vaga imensa<br />
Do Oceano das internas agonias!<br />
Que empalidece a face e morte lenta<br />
Nos estampa na fronte macilenta.<br />
Ah! Virgem das canções, entre vapores<br />
És pura e bela sim, porém teus lábios<br />
Me fazem delirar como licores<br />
Que afervoram-nos tépidos ressábios!<br />
Quando em teu colo vou deitar-me agora<br />
Teu palpitar as faces me descora!<br />
E cedo morrerei: sinto-o, nas veias<br />
O meu sangue se escoa vagaroso<br />
Como um rio que seca nas areias,<br />
Como donzela, que desmaia em gozo!<br />
Teus lábios, fada minha, me queimaram,<br />
E as lânguidas artérias me esgotaram!<br />
Mas que importa nas sombras da existência<br />
Se mentiu-me o sonhar quando eu sentia<br />
Um dos pálidos anjos de inocência<br />
Pousar-me a face ao peito que gemia,<br />
Se num sonho de amor, em noite bela<br />
Nos suspiros do mar amei com ela!<br />
Era uma lua pálida e sombria<br />
Que seu leito nas ondas embalava<br />
Na mão de neve a face lhe pendia;<br />
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