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Poemas Malditos - Unama

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tendas da caravana, — o bigode basto e negro — e a barba longa ondeando sobre o<br />

embuço do albornoz selvagem.<br />

O que aí fazia o Árabe nem o sei talvez — o sonho não o preveniu.<br />

Parecia-me apenas que uma nuvem negra lhe corria pela fronte como uma<br />

sombra na face cor de aço de um lago em noites pardacentas — e seus olhos<br />

inquietos se perdiam nos longes do Canal.<br />

Sonhava? E entrevia nos aléns as paragens do oásis, com seu manto de<br />

relvas e seus quiosques de sombrios palmares onde o Bulbul Z da Arábia gorjeia os<br />

amores das rosas? e entre os verdumes o branquear das tendas da tribo, o reluzir<br />

das lanças dos Spahis Cavaleiros, o relinchar das éguas reluzidas esquias dos Agas<br />

valentes<br />

Sonhava? E entrevia no fresco de algum arvoredo, na margem sombria da<br />

cisterna do deserto, o roupão branco e o turbante caído, e o manto acetinado de<br />

cabelos pelos seios nus, — alguma Gulnare ou Rachyma, Iantha ou Juana a<br />

Espanhola — flor de romã aberta mais viva no transplantar do harém, pérola colhida<br />

nas praias floridas da Espanha, Grécia ou Itália?<br />

Sonhava? E entrevia nos olhos úmidos de mulher lágrimas por eles, nos seios<br />

torneados e altivos onde um suspiro flutua e morre, algum anseio de volúpia, algum<br />

rever lânguido das ebriedades no aperto do seio do amante?<br />

Mas não. — Não era talvez o colo envolto de pérolas da escrava, e os olhares<br />

longos da Espanhola, e o cravo dos lábios da Grega na sesta do palmar — Não era<br />

talvez o amor da filha das barracas nômadas do Islamita, nem saudades bélicas da<br />

terra dos tamareiras<br />

A noite caía — e o céu faiscava de aljôfares — e a lua se erguia atrás dos<br />

desenhos fantásticos, e das cúpulas brancas da catedral de S. Marcos — como a<br />

noiva ao través do seu véu de virgem — fitando seus longos olhares sobre a cidade<br />

dormida num leito de pedra.<br />

II<br />

A lua se erguera, pálida como a Febe antiga, a ninfa desmaiada de Delos,<br />

depois das longas noites em que ao fresco dos arvoredos ela contemplava o<br />

sossegado dormir de Céfalo — e seus raios brancos escorriam pela frente dos<br />

palácios como a melena das algas gotejantes nos penhais<br />

Um vulto apareceu numa das sacadas do palácio. Dava-lhe o luar em cheio<br />

no rosto pálido. — A fronte alta e descarada sombreavam-lha os longos cabelos<br />

negros e reluzentes. — Um manto de veludo o embuçava — Havia aí nessa figura<br />

escura um não sei que de belo; havia ai nessa descor desfeita, no desalinho dos<br />

cabelos, umas sombras misteriosas, que travavam de vencida o olhar. — Disséreis<br />

Childe Harold... a unidade convergente de todos os sonhos do poeta — a sombra de<br />

Byron que lhe corria em todas as idéias — como a imagem pensativa e melancólica<br />

de Karl Moor em todas as criações de Schiller.<br />

AO LUAR<br />

Esperaba, desperado.<br />

III<br />

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