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Poemas Malditos - Unama

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www.nead.unama.br<br />

A noite ia límpida e bela — as virações corriam medo no deslizar das ondas.<br />

Fazia-se tarde — só se ouvia às vezes o estalar das águas no cair dos remos<br />

reluzentes de umidez, dalguma gôndola solitária, passando muda e negra nas<br />

águas.<br />

A noite ia-se límpida e bela. — O ar respirava a bafagem dos laranjais em flor.<br />

Entre o ramalhar das folhas, ao sussurrar das ondas, exalava-se às vezes a<br />

cantilena monótona do barqueiro — ou o descante ao longe de alguma barca<br />

iluminada.<br />

VI<br />

O céu se escurecia sob o crepe das nuvens que avultavam no horizonte, em<br />

ondas negras. A lua sumira seu fantasma ebúrneo sob as cortinas da escuridão.<br />

Gotas mornas de chuva começavam a cair…<br />

Davam nesse instante 10 horas em S. Marcos.<br />

Os dois vultos — o da janela e o da escadaria permaneciam ansiosos.<br />

Uma gôndola escura dobrou o canal — e aproximava-se lenta como uma ave<br />

negra aquática, com a cabeça sob a asa, resvalando em seu dormir pelo vidro das<br />

águas.<br />

A gôndola vinha sempre — o mancebo permanecia imóvel na escada.<br />

A gôndola parou no cais defronte do palácio<br />

— Aí — aí — disse uma voz argentina de mulher. .<br />

O conde ficou imóvel como bebendo a doçura daquela voz — o Árabe como<br />

despertado por ela foi até o cais…<br />

Nesse momento uma forma peregrina de mulher saltava em terra com seus<br />

pés mimosos nuns mágicos e curtos sapatos de cetim, envolta numa manta de seda,<br />

cujas franjas lhe cobriam o rosto como uma máscara, mas não tanto que algumas<br />

doiradas mechas de cabelo lhe não sobressaíssem entre elas…<br />

— É ela — disse o moço pálido, desaparecendo da janela.<br />

— Não é ela — murmurou em sua língua bárbara o selvagem filho do deserto,<br />

voltando a embuçar-se no albornoz e a recostar a fronte escura no frio das pilastras<br />

de pedra.<br />

— Ide — disse ela ao gondoleiro, atirando-lhe uma moeda de oiro. . .<br />

A gôndola partia quando ela passava o peristilo do palácio.<br />

— Adeus, Ali — disse ela, batendo-lhe com o leque. — Não falas, estátua?<br />

A face queimada do estrangeiro não se moveu.<br />

Sonhava? Esperava?<br />

Talvez ambas as coisas.<br />

FIM<br />

75

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