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V<br />
Caiu a noite, do azulado manto,<br />
Como gotas de orvalho, sacudindo<br />
Estrelas cintilantes. — Veio a lua<br />
Banhando de tristeza o céu noturno:<br />
Derrama aos corações melancolia,<br />
Derrama no ar cheiroso molemente<br />
Cerúlea chama, dia incerto e pálido<br />
Que ao lado da floresta ajunta as sombras<br />
E lança pelas águas da campina<br />
Alvacentos clarões que as flores bebem.<br />
A galope, de volta do noivado,<br />
Passa o Conde Solfier, e a noiva Elfrida.<br />
Seguem fidalgos que o sarau reclama.<br />
ELFRIDA<br />
— Não vês, Solfier, ali da estrada em meio<br />
Um defunto estendido? —<br />
SOLFIER<br />
— Ó minha Elfrida,<br />
Voltemos desse lado: outro caminho<br />
Se dirige ao castelo. É mau agouro<br />
Por um morto passar em noites destas.<br />
Mas Elfrida aproxima o seu cavalo.<br />
ELFRIDA<br />
— Tancredo vede! É o trovador Tancredo!<br />
Coitado! Assim morrer! Um pobre moço!<br />
Sem mãe e sem irmã! E não o enterram?<br />
Neste mundo não teve um só amigo? —<br />
"Ninguém, senhora — respondeu da sombra<br />
Uma dorida voz — Eu vim, há pouco,<br />
Ao saber que do povo no abandono<br />
Jazia como um cão. Eu vim, e eu mesmo<br />
Cavei junto do lago a cova impura."<br />
ELFRIDA<br />
— Tendes um coração. Tomai, mancebo,<br />
Tomai essa pulseira Em oiro e jóias<br />
Tem bastante p'ra erguer-lhe um monumento,<br />
E para longas missas lhe dizerem<br />
Pelo repouso d'alma...<br />
O moço riu-se.<br />
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