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Com três xícaras d'óleo de rícino<br />
Eu vi, eu vi um tipo de Madona<br />
Que os ares perfumava de beleza:<br />
Que suave mulher! Ah! Não ressona<br />
Uma virgem de Deus com tal pureza!<br />
Era um lago a dormir... Na flor sereno!<br />
Porém sua água azul tinha veneno!<br />
E agora — boa-noite! Eu me despeço<br />
Desta vez para sempre do poema:<br />
Como soberbo sou, perdões não peço.<br />
Mas como sou chorão, deixai que gema,<br />
Que dê largas a est'alma intumescida<br />
Na dor de tão solene despedida!<br />
Que prantos! Que suspiros sufocados!<br />
Se eu gostasse dos versos eloqüentes,<br />
Como eu descreveria bem rimados<br />
Do meu peito os anélitos frementes!<br />
Porém nos seios eu sufoco tudo,<br />
Porque da mágoa o serafim é mudo.<br />
Silêncio, coração que a dor inflama!<br />
Além do escárnio, sons! Quero o meu leito<br />
Das lágrimas banhar que a dor derrama!<br />
Quero chorar! Quero chorar! Meu peito!<br />
Dizer adeus ao sonho que eu sentira,<br />
Sem profanar as ilusões na lira!<br />
Eu não as profanei! Guardo-as sentidas<br />
Nas longas noites do cismar aéreo,<br />
Guardo-as na esperança, nas doridas<br />
Horas que amor perfuma de mistério!<br />
Sem remorso, nem dor, aos sonhos meus<br />
Eu posso ainda murmurar — adeus!!<br />
Ah! Que na lira se arrebente a corda<br />
Quando profana mão os sons lhe acorda!<br />
E o pobre sonhador a fantasia,<br />
O sonho que ama e beija noite e dia<br />
Não saiba traduzir, quando transborda<br />
Seu peito dos alentos da harmonia!<br />
Que não possa gemer a voz saudosa<br />
Como o sopro dos ventos avendiços,<br />
Como a noite que exala-se amorosa!<br />
Como o gemer dos ramos dobradiços!<br />
Para exprimir os pensamentos meus<br />
Nos cantos melancólicos do adeus!<br />
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