percursos do artista como agente transformador - UFF
percursos do artista como agente transformador - UFF
percursos do artista como agente transformador - UFF
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Meu primeiro contato com as idéias <strong>do</strong> filósofo contemporâneo francês<br />
André Comte-Sponville se deu no esboço <strong>do</strong> texto que a <strong>artista</strong> Cristina Ribas<br />
desenvolvia para minha exposição individual Desejo um mun<strong>do</strong> melhor. Dizia assim:<br />
“Trata-se de habitar esse universo que é nosso, ou antes, que nos contém, em que<br />
nada é para acreditar, já que tu<strong>do</strong> é para conhecer, em que nada é para esperar, já<br />
que tu<strong>do</strong> é para fazer ou amar.” 1 Desde então A felicidade, desesperadamente<br />
tornou-se livro de cabeceira e a frase citada vagueia por meus pensamentos <strong>como</strong><br />
um mantra. Outra sentença emblemática contida em A felicidade,<br />
desesperadamente é fruto de uma pergunta que ronda (ou poderia rondar) a vida de<br />
qualquer ser humano na Terra: “<strong>como</strong> escapar desse ciclo da frustração e <strong>do</strong> tédio,<br />
da esperança e da decepção? Há várias estratégias possíveis.” 2 Uma dessas<br />
estratégias foi defendida pelo filósofo e servirá de norte para algumas de nossas<br />
questões.<br />
Os três principais verbos empunha<strong>do</strong>s por André Comte-Sponville são<br />
conhecer, fazer e amar. Partin<strong>do</strong> das ações que esses três verbos propõem o<br />
filósofo caminha à procura de uma solução que preencha o vazio - e mais <strong>do</strong> que o<br />
vazio - que possa ir na contramão <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> de sofrimento em que o humano<br />
permanentemente se encontra. Para entendermos um pouco melhor as afirmações<br />
de que “nada é para acreditar” e que “nada é para esperar”, precisamos recuperar o<br />
senti<strong>do</strong> da frase que intitula seu livro. Em A felicidade, desesperadamente, o<br />
significa<strong>do</strong> guarda<strong>do</strong> por desespero não é o mesmo usa<strong>do</strong> corriqueiramente, de<br />
aflição extrema, cólera, furor. Ao contrário, o filósofo francês deseja resgatar a noção<br />
de se manter uma postura de não-esperança, ou seja, deseja criar um panorama em<br />
que exista a presença da felicidade conjugada à ausência da esperança. E para que<br />
1 COMTE-SPONVILLE, André. A felicidade, desesperadamente. São Paulo: Martins Fontes, 2005, p.<br />
72.<br />
2 Ibid., p. 38.<br />
12