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Estudo sobre a sustentabilidade do abastecimento de ... - Cebem

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Relatório<br />

<strong>Estu<strong>do</strong></strong> <strong>sobre</strong> a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong><br />

<strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural na<br />

Província <strong>do</strong> Niassa, Moçambique


Um Relatório da WaterAid<br />

Março, 2011<br />

Elabora<strong>do</strong> por: Shamila Jansz<br />

Foto da capa: WaterAid/Richard Carter<br />

Este <strong>do</strong>cumento <strong>de</strong>ve ser cita<strong>do</strong> como Jansz S (2011) <strong>Estu<strong>do</strong></strong> <strong>sobre</strong> a<br />

<strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural na Província <strong>do</strong> Niassa,<br />

Moçambique, WaterAid.<br />

Este <strong>do</strong>cumento encontra-se na secção das publicações no website da WaterAid –<br />

www.wateraid.org/publications.


Conteú<strong>do</strong><br />

Sumário executivo ........................................................4<br />

Secção 1 Introdução ....................................................................6<br />

1.1 Antece<strong>de</strong>ntes e finalida<strong>de</strong> <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> ....................6<br />

1.2 Análise bibliográfica ............................................7<br />

1.3 O sector da água <strong>de</strong> Moçambique<br />

no seu contexto ..................................................11<br />

1.4 WaterAid em Moçambique ..................................16<br />

Secção 2 Meto<strong>do</strong>logia ................................................................17<br />

2.1 Meto<strong>do</strong>logia <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> ......................................17<br />

2.2 A recolha <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s ............................................18<br />

2.3 Problemas com as constatações <strong>do</strong> relatório ......19<br />

Secção 3 Constatações ..............................................................20<br />

3.1 Os <strong>de</strong>safios da gestão comunitária ....................20<br />

3.2 Finanças ............................................................23<br />

3.3 Apoio externo ....................................................25<br />

3.4 Implementação da política ................................27<br />

3.5 Conclusão das constatações ..............................28<br />

Secção 4 Discussão....................................................................29<br />

4.1 A Política............................................................30<br />

4.1.1 A Divulgação da Política da Água ............31<br />

4.1.2 Implementar os princípios <strong>de</strong> uma<br />

Abordagem <strong>de</strong> Resposta à Procura ........31<br />

4.1.3 Coor<strong>de</strong>nação <strong>do</strong> Sector..........................32<br />

4.1.4 Uma planificação efectiva ......................32<br />

4.1.5 Definição <strong>do</strong>s custos <strong>de</strong> capital ..............33<br />

4.1.6 A disponibilida<strong>de</strong> das<br />

peças <strong>sobre</strong>ssalentes ............................34<br />

Running head<br />

<strong>Estu<strong>do</strong></strong> <strong>sobre</strong> a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural na Província <strong>do</strong> Niassa, Moçambique<br />

1


Contents<br />

4.2 Capacida<strong>de</strong> ........................................................35<br />

4.2.1 Melhor capacida<strong>de</strong> <strong>do</strong> governo<br />

nos níveis a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>s ............................35<br />

4.2.2 Melhor capacida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s parceiros<br />

(ONGs locais) ........................................36<br />

4.2.3 Melhor capacida<strong>de</strong> <strong>do</strong> sector ................37<br />

4.2.4 Melhor trabalho <strong>do</strong> PEC ........................38<br />

4.3 Mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> gestão comunitária incluin<strong>do</strong><br />

comités da água ................................................40<br />

4.3.1 A capacida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s comités da água ........40<br />

4.3.2 A formação e perfile <strong>do</strong>s comités<br />

da água ................................................40<br />

4.4 O apoio externo ..................................................41<br />

4.4.1 Constante apoio externo ao software......41<br />

4.4.2 Constante apoio técnico externo ............41<br />

4.4.3 A importância <strong>do</strong> apoio externo ao<br />

software tanto como ao hardware ..........42<br />

Secção 5 Conclusão ..................................................................44<br />

5.1 Recomendações ................................................45<br />

5.2.1 A Política ..............................................45<br />

5.2.2 A disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> peças<br />

<strong>sobre</strong>ssalentes ......................................46<br />

5.2.3 Apoio externo ao hardware (técnico) ......47<br />

5.2.4 As Parcerias ..........................................47<br />

5.2.5 A Capacida<strong>de</strong> ........................................48<br />

5.2.6 O PEC ....................................................48<br />

5.2.7 Reflectir e avaliar o trabalho da<br />

WaterAid Moçambique em relação à<br />

<strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong><br />

<strong>de</strong> água rural ........................................49<br />

Anexo 1 Temas e subtemas usa<strong>do</strong>s como motivação<br />

durante as entrevistas semi-estruturadas ....................50<br />

Anexo 2 Calendário <strong>do</strong> trabalho <strong>de</strong> campo e lista<br />

<strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s ........................................................52<br />

Anexo 3 Referências bibliográficas..............................................54<br />

2 <strong>Estu<strong>do</strong></strong> <strong>sobre</strong> a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural na Província <strong>do</strong> Niassa, Moçambique


Abreviações<br />

OCB Organização Comunitária <strong>de</strong> Base<br />

DSDPI Director <strong>do</strong>s Serviços Distritais <strong>de</strong> Planeamento e Infraestruturas<br />

DNA Direcção Nacional <strong>de</strong> Águas<br />

DPOPH Direcção Provincial <strong>de</strong> Obras Públicas e Habitação<br />

GAS Grupo <strong>de</strong> Água e Saneamento<br />

ONGIs Organizações Não Governamentais Internacionais<br />

ODMs Objectivos <strong>de</strong> Desenvolvimento <strong>do</strong> Milénio<br />

MIPAR Manual <strong>de</strong> Implementação <strong>de</strong> Projectos <strong>de</strong> Abastecimento <strong>de</strong> Água Rural<br />

(Moçambique)<br />

MoU Memoran<strong>do</strong> <strong>de</strong> Entendimento<br />

MOPH Ministério <strong>de</strong> Obras Públicas e Habitação<br />

ONG Organização Não Governamental<br />

PA Política da Água (2007, Moçambique)<br />

PEC Programa <strong>de</strong> Educação Comunitária<br />

PMA Planificação, Monitoramento e Avaliação<br />

PNA Política Nacional da Água (1995, Moçambique)<br />

PRONASAR Programa Nacional <strong>de</strong> Saneamento e Água Rural (Moçambique)<br />

RWSN Re<strong>de</strong> <strong>de</strong> Abastecimento <strong>de</strong> Água Rural<br />

SDPI Serviços Distritais <strong>de</strong> Planeamento e Infraestruturas<br />

PNUD Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento<br />

VLOM Operação e Manutenção a nível da Al<strong>de</strong>ia<br />

Contents<br />

<strong>Estu<strong>do</strong></strong> <strong>sobre</strong> a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural na Província <strong>do</strong> Niassa, Moçambique<br />

3


Contents<br />

Sumário executivo<br />

A visão da WaterAid é um mun<strong>do</strong> em que todas as pessoas tenham acesso a água segura e saneamento.<br />

A visão ecoa o Objectivo <strong>de</strong> Desenvolvimento <strong>do</strong> Milénio 7 (MDG 7) cujo alvo é ‘reduzir pela meta<strong>de</strong> a<br />

proporção <strong>de</strong> pessoas sem acesso sustentável a água segura e saneamento básico até 2015’. O<br />

progresso regista<strong>do</strong> em relação a este alvo está na direcção certa, porém as áreas rurais nos países em<br />

<strong>de</strong>senvolvimento no mun<strong>do</strong> inteiro continuam extremamente <strong>de</strong>sfavorecidas, com oito pessoas em cada<br />

<strong>de</strong>z sem acesso a um <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água melhora<strong>do</strong>.<br />

O <strong>de</strong>safio coloca<strong>do</strong> pela <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural é vastamente reconheci<strong>do</strong>,<br />

contu<strong>do</strong> ele está a prejudicar a realização <strong>de</strong>ste alvo <strong>do</strong>s ODM e da missão da WaterAid. Por exemplo,<br />

apenas duas <strong>de</strong> três bombas manuais instaladas nos países em <strong>de</strong>senvolvimento estão a funcionar a<br />

qualquer da<strong>do</strong> momento (RWSN, 2010). Reconhecen<strong>do</strong> tais <strong>de</strong>safios e <strong>de</strong>sejan<strong>do</strong> assegurar que as<br />

instalações se mantenham a funcionar com o passar <strong>do</strong> tempo, a WaterAid Moçambique levou a cabo um<br />

estu<strong>do</strong> <strong>sobre</strong> a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural na Província <strong>do</strong> Niassa, Moçambique,<br />

em Agosto <strong>de</strong> 2010.<br />

A Província <strong>do</strong> Niassa foi escolhida como foco <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> aos 15 anos <strong>de</strong> experiência da WaterAid na provisão<br />

<strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural na área. A <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural<br />

relaciona-se com o facto <strong>de</strong> estes serviços se manterem ou não com o passar <strong>do</strong> tempo (Carter, 2010) e é<br />

afectada por numerosos factores que vão <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> peças <strong>sobre</strong>ssalentes aos mo<strong>de</strong>los<br />

<strong>de</strong> gestão comunitária efectiva, às finanças para a operação e manutenção e ao apoio externo. Estes<br />

factores foram compara<strong>do</strong>s com a Política Nacional da Água <strong>de</strong> Moçambique (2007) para se compreen<strong>de</strong>r<br />

como a questão da <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> se enquadra na política <strong>de</strong> água rural <strong>do</strong> país. A análise da literatura<br />

indica forte <strong>sobre</strong>posição e correspondência entre a política e os factores chave da <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong>, o<br />

que por um la<strong>do</strong> realça a eficácia teórica da política, mas por outro questiona até que ponto ela foi posta<br />

em práctica.<br />

Para este estu<strong>do</strong> foi escolhida uma meto<strong>do</strong>logia qualitativa <strong>de</strong> entrevistas semi-estruturadas com os<br />

interessa<strong>do</strong>s principais. Foram recolhi<strong>do</strong>s <strong>do</strong>is tipos <strong>de</strong> informação com vista a obter uma imagem<br />

completa <strong>do</strong> suster <strong>do</strong>s serviços com o passar <strong>do</strong> tempo: as entrevistas realizadas com as comunida<strong>de</strong>s e<br />

seus comités da água tiveram como objectivo compreen<strong>de</strong>r a realida<strong>de</strong> da manutenção das instalações<br />

na práctica; as entrevistas realizadas com os representantes <strong>do</strong> governo nos Departamentos Distritais<br />

<strong>do</strong>s Serviços <strong>de</strong> Planeamento e Infraestrutura, com os coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>res das ONGs locais e pessoal da<br />

WaterAid a trabalhar na Província, tiveram em vista explorar os factores por eles consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s<br />

importantes para se atingir a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong>, basea<strong>do</strong> nas suas experiências <strong>de</strong> campo. Ao analisaremse<br />

estas duas correntes <strong>de</strong> informação em conjunto, ficaram evi<strong>de</strong>ntes os factores chave que influenciam<br />

a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural na área.<br />

Os factores chave das constatações po<strong>de</strong>m ser dividi<strong>do</strong>s em quatro áreas principais: política,<br />

capacida<strong>de</strong>, mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> gestão comunitária e apoio externo. O caso <strong>do</strong> melhoramento da<br />

implementação da Política Nacional da Água é uma questão importante pois, apesar da sua natureza<br />

forte e efectiva, ficou claro que não tem si<strong>do</strong> aplicada <strong>de</strong> forma consistente. Outros factores importantes<br />

incluem a disseminação da política, a implementação <strong>de</strong> uma Abordagem <strong>de</strong> Resposta à Procura, a<br />

planificação eficaz, a coor<strong>de</strong>nação <strong>do</strong> sector, a disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> peças <strong>sobre</strong>ssalentes e a clarida<strong>de</strong><br />

4 <strong>Estu<strong>do</strong></strong> <strong>sobre</strong> a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural na Província <strong>do</strong> Niassa, Moçambique


<strong>sobre</strong> a <strong>de</strong>finição <strong>do</strong>s custos <strong>de</strong> capital. Contu<strong>do</strong>, para que to<strong>do</strong>s estes factores sejam<br />

implementa<strong>do</strong>s <strong>de</strong> forma eficaz, argumentaram, eles <strong>de</strong>vem ser combina<strong>do</strong>s com a forte e<br />

efectiva capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os interessa<strong>do</strong>s envolvi<strong>do</strong>s na provisão <strong>do</strong>s serviços <strong>de</strong><br />

<strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural. A capacida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s parceiros (ONGs locais e governo local),<br />

<strong>de</strong>finida como conhecimentos, competências, prácticas, recursos físicos e um melhor<br />

trabalho <strong>de</strong> educação comunitária (PEC), tem que ser melhorada. A implementação efectiva<br />

da política e a forte capacida<strong>de</strong> terão impacto nos mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> gestão comunitários,<br />

incluin<strong>do</strong> a melhoria da capacida<strong>de</strong> e perfile <strong>do</strong>s comités <strong>de</strong> água. Estas constatações<br />

sublinham também que estes <strong>de</strong>senvolvimentos <strong>de</strong>vem ser acompanha<strong>do</strong>s por constante<br />

apoio externo <strong>de</strong> ‘harware’ e ‘software’, se se preten<strong>de</strong>r que os serviços durem com o passar<br />

<strong>do</strong> tempo.<br />

Este estu<strong>do</strong> <strong>de</strong> investigação <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> que to<strong>do</strong>s estes factores aqui apresenta<strong>do</strong>s <strong>de</strong>vem ser<br />

consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s em conjunto, como a soma das partes <strong>de</strong> uma solução para a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong><br />

<strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural. A necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se melhorar um factor em relação a outro<br />

irá variar segun<strong>do</strong> o contexto, porém, para se vencerem as dificulda<strong>de</strong>s, nenhum <strong>do</strong>s<br />

factores <strong>de</strong>verá ser trata<strong>do</strong> isoladamente –to<strong>do</strong>s eles <strong>de</strong>verão ser aborda<strong>do</strong>s colectivamente<br />

para se garantir que os serviços durem com o passar <strong>do</strong> tempo. Estas constatações são<br />

apresentadas num quadro conceptual que po<strong>de</strong>rá ser utiliza<strong>do</strong> por outros no sector WASH,<br />

como ponto <strong>de</strong> entrada para investigarem como superar os <strong>de</strong>safios da <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong><br />

<strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural nos seus respectivos programas e projectos. Para que os<br />

serviços continuem a servir os mais pobres <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> com o passar <strong>do</strong> tempo, é<br />

fundamental que as abordagens seguidas e as medidas a<strong>do</strong>ptadas para a provisão <strong>do</strong>s<br />

serviços <strong>de</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural sejam sustentáveis.<br />

Agra<strong>de</strong>cimentos<br />

Esta pesquisa não teria si<strong>do</strong> possível sem a priorida<strong>de</strong> e a exigência da WaterAid<br />

Moçambique <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r a razão porque os pontos <strong>de</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água falham<br />

no seu país. A subsequente <strong>de</strong>cisão tomada por Rosária Mabica, Representante no País, e<br />

Artur Macavele <strong>de</strong> <strong>de</strong>stacar Shamila Jansz da Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Eficácia <strong>de</strong> Programas da WaterAid<br />

Londres, e o apoio e encorajamento <strong>de</strong> Jerry Adams (Chefe da Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Eficácia <strong>de</strong><br />

Programas) e John Kandulu (Chefe <strong>de</strong> Região da África Austral), são motivo <strong>de</strong> sincero<br />

agra<strong>de</strong>cimento e particular reconhecimento por parte da investiga<strong>do</strong>ra. Esta pesquisa não<br />

teria si<strong>do</strong> possível sem o gran<strong>de</strong> trabalho e apoio <strong>de</strong> Sandia Abuxahama, Oficial <strong>de</strong> Projectos<br />

da WaterAid Moçambique, PMA, cujos pontos <strong>de</strong> vista e percepção muito contribuíram para<br />

a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong>ste projecto <strong>de</strong> pesquisa. Foi muito aprecia<strong>do</strong> também o apoio e contribuição<br />

<strong>do</strong> pessoal da WaterAid no Niassa (Xavier Sitoe, Lázaro Cumbe, Samuel Sengou e Benício<br />

Baulo) e espero que esta pesquisa sirva <strong>de</strong> apoio para o melhoramento da <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong><br />

<strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural nos seus projectos. Sinceros agra<strong>de</strong>cimentos às<br />

organizações parceiras da WaterAid, bem como aos representantes <strong>do</strong> governo a nível<br />

distrital e provincial, e obviamente às comunida<strong>de</strong>s, por partilharem as suas experiências e<br />

valiosas i<strong>de</strong>ias. Agra<strong>de</strong>cimentos ainda a to<strong>do</strong> o pessoal da WaterAid em Moçambique pelas<br />

suas incomparáveis contribuições e apoio no <strong>de</strong>correr <strong>de</strong>ste projecto. Finalmente um gran<strong>de</strong><br />

obriga<strong>do</strong> a to<strong>do</strong> o pessoal <strong>de</strong> Londres, particularmente Richard Carter (Chefe da Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Apoio Técnico), que ofereceu valiosos comentários e apoio <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o primeiro dia e até ao fim<br />

<strong>de</strong>ste projecto <strong>de</strong> pesquisa.<br />

Sumário executivo<br />

<strong>Estu<strong>do</strong></strong> <strong>sobre</strong> a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural na Província <strong>do</strong> Niassa, Moçambique<br />

5


Executive summary<br />

Secção 1<br />

Introdução<br />

1.1 Antece<strong>de</strong>ntes e finalida<strong>de</strong> <strong>do</strong> estu<strong>do</strong><br />

Segun<strong>do</strong> o Relatório da Cimeira <strong>de</strong> 2010 <strong>sobre</strong> os Objectivos <strong>de</strong> Desenvolvimento <strong>do</strong> Milénio<br />

(ODM), o progresso regista<strong>do</strong> em relação ao alvo ODM 7, ‘reduzir pela meta<strong>de</strong> a proporção<br />

<strong>de</strong> pessoas sem acesso sustentável a água segura e saneamento básico até 2015’, está<br />

presentemente na direcção certa. Apesar disso, as áreas rurais em to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong> continuam<br />

a ser <strong>de</strong>sfavorecidas, com oito pessoas em cada <strong>de</strong>z sem acesso a um <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong><br />

água melhora<strong>do</strong>. Na África a sul <strong>do</strong> Saara, apenas 47% da população rural tem acesso a uma<br />

fonte <strong>de</strong> água melhorada. A missão da WaterAid é ultrapassar este fosso, para realizar a sua<br />

visão <strong>de</strong> um mun<strong>do</strong> em que to<strong>do</strong>s tenham acesso a água segura e a saneamento.<br />

O <strong>de</strong>safio coloca<strong>do</strong> pela <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> porém está a prejudicar o progresso <strong>do</strong><br />

<strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural. Calcula-se que apenas duas em três bombas manuais<br />

instaladas nos países em <strong>de</strong>senvolvimento estejam a funcionar a qualquer da<strong>do</strong> momento<br />

(Rural Water Supply Network, RWSN, 2010). Sem serviços que provi<strong>de</strong>nciem um<br />

<strong>abastecimento</strong> sustentável <strong>de</strong> água, o número <strong>de</strong> pessoas com acesso a um <strong>abastecimento</strong><br />

<strong>de</strong> água melhora<strong>do</strong> diminuirá, e o sucesso <strong>do</strong> ODM 7 estará comprometi<strong>do</strong>.<br />

A <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural diz respeito ao facto <strong>de</strong> estes serviços<br />

se manterem ou não com o passar <strong>do</strong> tempo (Carter, 2010), e <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> vários factores<br />

que vão <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> peças <strong>sobre</strong>ssalentes a mo<strong>de</strong>los eficazes <strong>de</strong> gestão<br />

comunitária, a finanças para operação e manutenção e a apoio externo. A <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong><br />

está comprometida quan<strong>do</strong> um ou mais <strong>de</strong>stes factores <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> funcionar eficazmente, ou<br />

quan<strong>do</strong> eles <strong>de</strong>ixam até <strong>de</strong> existir. O reconhecer <strong>de</strong>stes <strong>de</strong>safios, e a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> os<br />

resolver para se realizar a missão da WaterAid, levaram a WaterAid Moçambique a <strong>de</strong>cidir<br />

levar a cabo este estu<strong>do</strong>.<br />

De acor<strong>do</strong> com os da<strong>do</strong>s oficiais <strong>de</strong> 2008 1 , mais <strong>de</strong> meta<strong>de</strong> da população rural <strong>de</strong> Moçambique<br />

ainda não tem acesso a água segura. A WaterAid tem mais <strong>de</strong> 15 anos <strong>de</strong> experiência<br />

na provisão <strong>de</strong> água rural em Moçambique e, dada esta riqueza <strong>de</strong> conhecimento, <strong>de</strong>u<br />

priorida<strong>de</strong> à questão da <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> na sua Estratégia para o País para garantir que os<br />

serviços presta<strong>do</strong>s continuem a funcionar com o passar <strong>do</strong> tempo, o que continua a ser um<br />

<strong>de</strong>safio, da<strong>do</strong> que o número <strong>de</strong> pontos <strong>de</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água sem funcionar no país<br />

ronda os 20%. Tal compromete os esforços <strong>do</strong> governo e das agências <strong>de</strong> apoio para<br />

aumentar a cobertura através <strong>do</strong> aumento <strong>do</strong>s investimentos no sector, como o ilustra<br />

o gráfico que se segue.<br />

6 <strong>Estu<strong>do</strong></strong> <strong>sobre</strong> a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural na Província <strong>do</strong> Niassa, Moçambique


Gráfico 1: Funcionalida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s pontos <strong>de</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural, 2003-2008<br />

Nº total <strong>de</strong> pontos <strong>de</strong> <strong>abastecimento</strong><br />

<strong>de</strong> água 2003-08<br />

20,000<br />

18,000<br />

16,000<br />

14,000<br />

12,000<br />

10,000<br />

8,000<br />

6,000<br />

4,000<br />

2,000,<br />

0<br />

A finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ste estu<strong>do</strong> é portanto consi<strong>de</strong>rar os <strong>de</strong>safios acima menciona<strong>do</strong>s e investigar<br />

os factores chave que afectam a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural em<br />

Moçambique. Usan<strong>do</strong> uma meto<strong>do</strong>logia qualitativa para explorar a situação no campo<br />

em termos da experiência da comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> manter serviços, e ainda falan<strong>do</strong> com os<br />

interessa<strong>do</strong>s envolvi<strong>do</strong>s na provisão <strong>do</strong>s serviços (incluin<strong>do</strong> o governo, parceiros e pessoal<br />

da WaterAid), este estu<strong>do</strong> irá investigar os componentes necessários para resolver os<br />

<strong>de</strong>safios da <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural. Embora o estu<strong>do</strong> se concentre<br />

apenas nos projectos <strong>de</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural da WaterAid na província <strong>do</strong> Niassa,<br />

Moçambique, esperamos que as constatações contribuam para <strong>de</strong>bates e discussões tanto<br />

<strong>de</strong>ntro da WaterAid Moçambique, como da WaterAid em geral e, <strong>de</strong> forma mais vasta, no<br />

sector <strong>de</strong> água mundial.<br />

1.2 Análise bibliográfica<br />

2003 2004 2005 2006 2007 2008<br />

A <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> é um conceito ‘complexo e contesta<strong>do</strong>’ (Pretty, 1995) e <strong>de</strong>la não se<br />

encontra uma só <strong>de</strong>finição aceite na área <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento. Contu<strong>do</strong>, a nível da WaterAid,<br />

foi a<strong>do</strong>ptada a seguinte <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> Richard Carter (2011, p6) que parte da <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> Len<br />

Abrams (2000):<br />

‘Sustentabilida<strong>de</strong> é se as instalações <strong>de</strong> água e saneamento e as boas práticas<br />

<strong>de</strong> higiene continuam a funcionar com o passar <strong>do</strong> tempo ou não. Não há prazos<br />

limite marca<strong>do</strong>s para esses serviços contínuos nem para as mudanças <strong>de</strong><br />

comportamento que os <strong>de</strong>ve acompanhar. Por outras palavras, a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong><br />

é a mudança benéfica permanente nos serviços <strong>de</strong> água e saneamento e nas<br />

práticas <strong>de</strong> higiene.’<br />

Esta é a <strong>de</strong>finição usada neste estu<strong>do</strong>, isto é, o sucesso da <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> envolve a<br />

mudança benéfica e dura<strong>do</strong>ura nos serviços <strong>de</strong> água rural. A questão da <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong><br />

é assim alargada para além <strong>do</strong>s limites <strong>de</strong> um <strong>de</strong>bate <strong>sobre</strong> funcionamento técnico, o termo<br />

‘benéfico’ dá ênfase ao impacto na vida das pessoas e refere-se aos serviços, e não<br />

à tecnologia. Esta <strong>de</strong>finição chama a atenção para a importância <strong>do</strong>s papéis e<br />

responsabilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os interessa<strong>do</strong>s envolvi<strong>do</strong>s na provisão <strong>do</strong>s serviços.<br />

Ano<br />

Secção 1 – Introdução<br />

Total <strong>de</strong> pontos <strong>de</strong><br />

abast. <strong>de</strong> água<br />

Pontos <strong>de</strong> abast. <strong>de</strong><br />

água sem funcionar<br />

<strong>Estu<strong>do</strong></strong> <strong>sobre</strong> a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural na Província <strong>do</strong> Niassa, Moçambique<br />

7


Secção 1 – Introdução<br />

Com o intuito <strong>de</strong> se compreen<strong>de</strong>r <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong>, têm si<strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>s numerosos<br />

quadros conceptuais. Uma importante conceptualização dividiu-a em cinco dimensões<br />

chave (Parry Jones et al, 2001 citan<strong>do</strong> Well, 1998; Abrams, 1998; Mukherjee, 1998):<br />

institucional (organizacional), social, ambiental, técnica, financeira/económica. Estas<br />

dimensões são inter<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes e específicas ao contexto. Por isso é difícil conceptualizála,<br />

e talvez por isso haja tão poucos bons exemplos <strong>de</strong> <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> na prática (Carter et<br />

al, 2006).<br />

É cada vez mais reconheci<strong>do</strong> que o sucesso <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> água dura<strong>do</strong>uros e sustentáveis<br />

está <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da interligação <strong>de</strong> um número <strong>de</strong> factores, foca<strong>do</strong>s num sistema <strong>de</strong><br />

operação e manutenção basea<strong>do</strong> na comunida<strong>de</strong> e apoia<strong>do</strong> externamente. Este sistema<br />

está representa<strong>do</strong> no diagrama abaixo.<br />

Figura 1 Um quadro conceptual para os serviços <strong>de</strong> água sustentáveis (Carter, 2010)<br />

1 Estabelecer a<br />

necessida<strong>de</strong>, a<br />

procura e o nível<br />

<strong>de</strong> serviços<br />

relevantes<br />

DESIGN & IMPLEMENTAÇÃO<br />

2 Completa<br />

participação <strong>do</strong>s<br />

utentes<br />

3 Tecnologia serve<br />

a finalida<strong>de</strong> e foi<br />

escolhida por<br />

utentes<br />

4 Utentes fazem<br />

contribuição para<br />

capital.<br />

5 Implementação<br />

<strong>de</strong> alta qualida<strong>de</strong><br />

6 Estrutura<br />

tarifária<br />

apropriada<br />

7 Aspectos<br />

ambientais<br />

<strong>de</strong>vidamente<br />

trata<strong>do</strong>s<br />

8 Sistema <strong>de</strong><br />

monitoramento a<br />

funcionar<br />

9 Sistema O&M basea<strong>do</strong><br />

na comunida<strong>de</strong>,<br />

apoia<strong>do</strong> externamente a<br />

funcionar.<br />

• CA a funcionar<br />

• Receitas recolhidas e<br />

registadas<br />

• Tarefas <strong>de</strong><br />

conservação e<br />

manutenção são<br />

realizadas<br />

• Existem fortes<br />

ligações entre<br />

comunida<strong>de</strong> utente e<br />

organização <strong>de</strong> apoio<br />

• Monitoramento<br />

ambiental<br />

10 Sistemas <strong>de</strong><br />

gestão e<br />

monitoramento<br />

11 Assistência<br />

técnica ao CA e<br />

utentes<br />

12 Constante<br />

partilha <strong>de</strong><br />

custos<br />

13 Apoio a ca<strong>de</strong>ias<br />

<strong>de</strong> fornecimento<br />

e prove<strong>do</strong>res <strong>de</strong><br />

serviços<br />

14 Em relação a<br />

questões<br />

externas<br />

Os 14 factores menciona<strong>do</strong>s na lista acima são vitais para se conseguir uma gestão <strong>de</strong><br />

serviços <strong>de</strong> água sustentável baseada na comunida<strong>de</strong> e apoiada externamente (Carter,<br />

2011). Sem uma verda<strong>de</strong>ira manifestação <strong>de</strong> procura, a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong>s serviços po<strong>de</strong>rá<br />

estar comprometida (Carter, 2011). Segun<strong>do</strong> Parry-Jones et al (2001), se uma comunida<strong>de</strong><br />

estiver satisfeita com a sua actual fonte <strong>de</strong> água, ela po<strong>de</strong>rá não compreen<strong>de</strong>r a necessida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> ter outro ponto <strong>de</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água e, consequentemente, não contribuir o<br />

suficiente para a manutenção <strong>do</strong> serviço. Os utentes não darão priorida<strong>de</strong> e valor a um<br />

sistema que não satisfaça as suas necessida<strong>de</strong>s. Esta pré-construção da mobilização e<br />

formação da comunida<strong>de</strong> (RWSN, 2009) nem sempre se realiza ou é muitas vezes <strong>de</strong> fraca<br />

qualida<strong>de</strong>. Envolver ou não os utentes nos projectos e programas irá afectar a<br />

<strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong>s serviços <strong>de</strong> água.<br />

8 <strong>Estu<strong>do</strong></strong> <strong>sobre</strong> a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural na Província <strong>do</strong> Niassa, Moçambique<br />

APOIO EXTERNO


As finanças são o factor chave seguinte que afecta os serviços <strong>de</strong> água sustentáveis, custos<br />

<strong>de</strong> capital e os níveis tarifários a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>s. Os custos <strong>de</strong> capital são essenciais para a<br />

participação comunitária, pois constituem um indica<strong>do</strong>r <strong>do</strong> compromisso da comunida<strong>de</strong><br />

com o projecto (Breslin, 2003). A par com este, <strong>de</strong>vem ser estabelecidas as tarifas da água<br />

a nível a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>, baseadas na capacida<strong>de</strong> da comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> financiar a operação<br />

e manutenção. É muito frequente recolherem-se quantias insuficientes, o que reduz a<br />

esperança <strong>de</strong> vida das bombas manuais (Bauman, 2006). To<strong>do</strong>s estes aspectos usam a<br />

participação como meio <strong>de</strong> criar um sentimento <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> na comunida<strong>de</strong> (Parry-Jones<br />

et al, 2001) e manter um serviço <strong>de</strong> água com o passar <strong>do</strong> tempo.<br />

Estes aspectos <strong>de</strong> ‘software’, transmiti<strong>do</strong>s através <strong>do</strong> trabalho <strong>de</strong> educação da comunida<strong>de</strong><br />

(PEC) são imperativos para se assegurar que as comunida<strong>de</strong>s compreendam os seus papéis<br />

e responsabilida<strong>de</strong>s. No entanto, eles <strong>de</strong>vem ser leva<strong>do</strong>s a cabo em conjunto e tão <strong>de</strong> perto<br />

quanto possível com os aspectos <strong>de</strong> ‘hardware’ (Parry-Jones et al, 2001), e ambos <strong>de</strong>vem ser<br />

<strong>de</strong> alta qualida<strong>de</strong>. Para além disso, <strong>de</strong>vem ter-se em conta questões <strong>de</strong> concepção (<strong>de</strong>sign)<br />

e implementação, tais como a qualida<strong>de</strong> da água, para garantir que as instalações tenham<br />

<strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> ambiental. Subjacente a to<strong>do</strong>s estes factores, <strong>de</strong>ve fazer-se o monitoramento<br />

e a avaliação <strong>do</strong> próprio serviço, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> a fornecer aos utentes e aos interessa<strong>do</strong>s que o<br />

apoiam a informação necessária para garantir a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong>s serviços (Parry-Jones<br />

et al, 2001).<br />

O sector da água tem usa<strong>do</strong>, e continua a usar, mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> gestão comunitária como<br />

abordagem nos projectos <strong>de</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural. O mo<strong>de</strong>lo original – Operação<br />

e Manutenção ao Nível da Al<strong>de</strong>ia (VLOM) – foi o centro das intervenções <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

nos anos 80 (Parry-Jones et al, 2001). De acor<strong>do</strong> com esta abordagem, as comunida<strong>de</strong>s<br />

po<strong>de</strong>m contribuir para a instalação da tecnologia, recolher tarifas para financiar a operação e<br />

manutenção, e gerir trabalhos <strong>de</strong> reparação (Harvey, 2004). A WaterAid ainda usa a VLOM em<br />

muitos <strong>do</strong>s seus programas <strong>de</strong> água rural, e aparece também no Manual <strong>de</strong> Implementação<br />

<strong>de</strong> Projectos <strong>de</strong> Água Rural (MIPAR, 2001). O manual afirma que os comités da água <strong>de</strong>vem<br />

ser eleitos pelas comunida<strong>de</strong>s e, por ex., recolher contribuições para a criação <strong>de</strong> um fun<strong>do</strong><br />

para operação, manutenção, reparação e substituição, bem como organizar a sua gestão.<br />

Este mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> gestão comunitária torna a comunida<strong>de</strong> responsável única da operação e<br />

manutenção. Ele não conseguiu, no entanto, atingir as taxas <strong>de</strong> <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> que se<br />

esperava (Harvey, 2005).<br />

Actualmente está a tornar-se cada vez mais aceite a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> apoio externo às<br />

comunida<strong>de</strong>s para operarem, manterem e susterem serviços dura<strong>do</strong>uros permanentemente.<br />

A Re<strong>de</strong> <strong>de</strong> Abastecimento da Água Rural (RWSN, 2010) afirma que a crença que ‘as<br />

comunida<strong>de</strong>s são sempre capazes <strong>de</strong> gerir as suas instalações por si próprias’ é um mito.<br />

A <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong>ve levar as pessoas da ‘in<strong>de</strong>pendência’ <strong>do</strong> uso <strong>de</strong> fontes <strong>de</strong> água<br />

contaminada para a ‘inter<strong>de</strong>pendência’ em que têm fontes melhoradas, mas necessitam<br />

colaborar com alguma forma <strong>de</strong> apoio externo (Carter, 2006).<br />

Uma condição crucial para a operação e manutenção efectiva das instalações <strong>de</strong> água é uma<br />

organização <strong>de</strong> apoio pró-activa e receptiva, capaz <strong>de</strong> oferecer apoio técnico e ‘software’<br />

(Carter, 2009). Da mesma maneira, a RWSN (2009) afirma que a evidência mostra que os<br />

comités da água necessitam <strong>de</strong> apoio externo uma vez estabeleci<strong>do</strong>s, <strong>de</strong> forma a mantê-los<br />

motiva<strong>do</strong>s, a reciclá-los e oferecer-lhes apoio técnico para as reparações, etc. Este apoio<br />

po<strong>de</strong> ser presta<strong>do</strong> <strong>de</strong> forma sensível e equilibrada por agências implementa<strong>do</strong>ras, como<br />

ONGs locais, ao governo local. A Política da Água <strong>de</strong> Moçambique (2007) reconhece a<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ste apoio externo, por ex., ao <strong>de</strong>clarar que os sistemas <strong>de</strong> operação,<br />

manutenção e gestão <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural po<strong>de</strong>m ser provi<strong>de</strong>ncia<strong>do</strong>s por<br />

agências separadas ou entida<strong>de</strong>s privadas sob contracto.<br />

Secção 1 – Introdução<br />

<strong>Estu<strong>do</strong></strong> <strong>sobre</strong> a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural na Província <strong>do</strong> Niassa, Moçambique<br />

9


Secção 1 – Introdução<br />

Este apoio ao ‘hardware’ <strong>de</strong>ve ser acompanha<strong>do</strong> por uma ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> peças <strong>sobre</strong>ssalentes<br />

que funcione bem, para que as comunida<strong>de</strong>s possam executar as suas reparações (RWSN,<br />

2009). As questões relacionadas com a disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> peças <strong>sobre</strong>ssalentes e<br />

respectivas ca<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> fornecimento são <strong>de</strong>masiadamente bem conhecidas através da<br />

literatura <strong>sobre</strong> <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> e são um <strong>do</strong>s principais <strong>de</strong>safios enfrenta<strong>do</strong>s (Harvey and<br />

Reed, 2004).<br />

To<strong>do</strong>s estes factores são vitais para se atingir a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> nas instalações <strong>de</strong><br />

<strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural, mas é a interligação entre eles que po<strong>de</strong>rá garantir que as<br />

instalações continuem a operar com o passar <strong>do</strong> tempo. Há três áreas principais <strong>de</strong> ligação<br />

que são fundamentais (Parry-Jones et al, 2001):<br />

Formação e capacitação <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os interessa<strong>do</strong>s para <strong>de</strong>sempenharem as suas tarefas<br />

tão efectivamente quanto possível.<br />

PEC: fluxo <strong>de</strong> informação através <strong>de</strong>, e entre os interessa<strong>do</strong>s, <strong>de</strong> forma a tomarem<br />

<strong>de</strong>cisões informadas e agirem a<strong>de</strong>quadamente para garantir a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong>.<br />

Ca<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> <strong>abastecimento</strong>: o fluxo <strong>do</strong>s recursos físicos tem que ser livre e flexível para<br />

satisfazer as necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os interessa<strong>do</strong>s em qualquer momento.<br />

Este equilíbrio <strong>de</strong>lica<strong>do</strong> <strong>de</strong> factores interliga<strong>do</strong>s requer o envolvimento <strong>de</strong> um número<br />

<strong>de</strong> interessa<strong>do</strong>s que trabalhem em conjunto. Das comunida<strong>de</strong>s às organizações não<br />

governamentais internacionais (INGOs), organizações não governamentais locais (NGOs),<br />

governo a níveis diferentes e o sector priva<strong>do</strong>, a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> só será conseguida se<br />

to<strong>do</strong>s os interessa<strong>do</strong>s tiverem capacida<strong>de</strong> e incentivo suficiente para <strong>de</strong>sempenharem o seu<br />

papel (Harvey and Reed, 2004). Harvey and Reed (2004) sugerem também que, para que as<br />

instalações se tornem sustentáveis, as instituições <strong>do</strong> governo local e nacional são os mais<br />

importantes <strong>do</strong>s interessa<strong>do</strong>s, com um papel central na coor<strong>de</strong>nação, e necessitam ter<br />

capacida<strong>de</strong> suficiente a to<strong>do</strong>s os níveis para prestarem serviços.<br />

A literatura <strong>sobre</strong> <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural em Moçambique é<br />

limitada, porém, um <strong>do</strong>cumento importante, escrito por um anterior Representante <strong>de</strong> País<br />

da WaterAid em 2003, <strong>de</strong>bateu a Abordagem da Resposta à Procura da Política Nacional <strong>de</strong><br />

Água (1995) <strong>de</strong> Moçambique. Ele conclui que a WaterAid necessita investir no Esta<strong>do</strong> para<br />

aplicar a política na prática, por a política oferecer vantagens consi<strong>de</strong>ráveis em relação às<br />

anteriores abordagens guiadas pela oferta. Embora ela afirme que po<strong>de</strong> resultar em serviços<br />

mais sustentáveis, é longe <strong>de</strong> perfeita, tanto a nível teórico como prático (Breslin, 2003).<br />

O apoio externo foi também aponta<strong>do</strong> como essencial, dizen<strong>do</strong> que o governo <strong>de</strong>veria<br />

reconhecer que as comunida<strong>de</strong>s não po<strong>de</strong>m gerir sozinhas (Breslin, 2003). Isto era também<br />

evi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> uma parte <strong>de</strong> um programa na Província <strong>de</strong> Sofala, Moçambique (Fodge, 2001),<br />

on<strong>de</strong> foi <strong>do</strong>cumenta<strong>do</strong> um mo<strong>de</strong>lo bem sucedi<strong>do</strong> <strong>de</strong> apoio técnico externo. A gestão das<br />

bombas manuais foi <strong>de</strong>legada para mecânicos <strong>do</strong> distrito que eram formalmente<br />

regulamenta<strong>do</strong>s pelo governo local, chaman<strong>do</strong> a atenção para a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> o governo<br />

gerir tal apoio.<br />

Continuou a ser reforçada a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> apoio e manutenção pós-construção, ten<strong>do</strong> a<br />

Unicef <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> um mo<strong>de</strong>lo bem sucedi<strong>do</strong> no Distrito <strong>do</strong> Guro, na Província <strong>de</strong> Manica,<br />

Moçambique (Godfrey, 2010). A questão das peças <strong>sobre</strong>ssalentes, no entanto, foi também<br />

mencionada pela Unicef, numa tentativa separada <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver uma ferramenta para o<br />

monitoramento da <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> das instalações (Godfrey et al, 2009).<br />

A questão para o presente estu<strong>do</strong> é, qual <strong>do</strong>s factores e ligações acima menciona<strong>do</strong>s são<br />

cruciais para resolver os <strong>de</strong>safios da <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural no<br />

campo em Moçambique.<br />

10 <strong>Estu<strong>do</strong></strong> <strong>sobre</strong> a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural na Província <strong>do</strong> Niassa, Moçambique


1.3 O sector da água <strong>de</strong> Moçambique no seu contexto<br />

Moçambique está actualmente classifica<strong>do</strong> em posição 172 entre 182 países, no Índice <strong>de</strong><br />

Desenvolvimento Humano <strong>do</strong> Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).<br />

De acor<strong>do</strong> com o Censo da População e Habitação (2007), a população é presentemente<br />

cerca <strong>de</strong> 22 milhões, e quase meta<strong>de</strong> vive abaixo da linha da pobreza. O país está dividi<strong>do</strong><br />

em <strong>de</strong>z províncias, que estão por sua vez sub-divididas em distritos. O trabalho <strong>de</strong> campo<br />

para este estu<strong>do</strong> foi realiza<strong>do</strong> na Província <strong>do</strong> Niassa, que fica localizada no noroeste <strong>do</strong> país<br />

e tem a <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> populacional mais baixa. De acor<strong>do</strong> com o Instituto Nacional <strong>de</strong> Estatística,<br />

a sua população em 2007 era 1,213,398 <strong>de</strong> pessoas, e é caracterizada por falta <strong>de</strong> infraestrutura,<br />

uma fraca economia agrícola baseada no dinheiro e por ser isolada, política e socialmente<br />

(Breslin, 2003).<br />

Em Moçambique, o Ministério das Obras Públicas e Habitação (MOPH) é o órgão <strong>do</strong> governo<br />

responsável pela gestão <strong>do</strong>s recursos hídricos. O <strong>de</strong>senvolvimento da política compete à<br />

Direcção Nacional <strong>de</strong> Águas (DNA) <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> MOPH. A nível provincial, as Direcções<br />

Provinciais <strong>de</strong> Obras Públicas e Habitação (DPOPH) têm a responsabilida<strong>de</strong> das tarefas <strong>do</strong><br />

sector <strong>de</strong> água, saneamento e higiene. Abaixo <strong>de</strong>stas, a nível <strong>de</strong> distrito, ele é representa<strong>do</strong><br />

na Administração <strong>do</strong> Distrito pelos Serviços Distritais <strong>de</strong> Planeamento e Infraestruturas<br />

(SDPI) e pelo seu Director (DSDPI).<br />

A Política da Água moçambicana foi revista em 2007, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cumprir com<br />

os ODMs e por se reconhecerem as insuficiências da anterior Política Nacional <strong>de</strong> Água (NB:<br />

é chamada a ‘Política da Água’ para a diferenciar da original ‘Política Nacional da Água’,<br />

elaborada em 1995, porém <strong>de</strong>tém o mesmo estatuto político <strong>de</strong> uma política nacional).<br />

Nela está conti<strong>do</strong> o Programa Nacional <strong>de</strong> Abastecimento <strong>de</strong> Água e Saneamento Rural<br />

(PRONASAR, 2009) que reflecte a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> melhorar a provisão <strong>do</strong>s serviços <strong>de</strong><br />

água rurais:<br />

‘Moçambique regista um atraso na realização <strong>do</strong>s ODMs em termos <strong>de</strong><br />

<strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água e saneamento rural e necessita <strong>de</strong> um esforço rápi<strong>do</strong> e<br />

coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong> por parte <strong>do</strong> Governo, parceiros <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, ONGs e sector<br />

priva<strong>do</strong> para ultrapassar esse atraso.’<br />

A Política da água também incorpora o Manual <strong>de</strong> implementação <strong>de</strong> projectos <strong>de</strong><br />

<strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural (MIPAR, 2001). Este manual fornece orientações <strong>sobre</strong> os<br />

papéis e responsabilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os interessa<strong>do</strong>s envolvi<strong>do</strong>s na implementação <strong>do</strong>s<br />

projectos <strong>de</strong> água rural, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as comunida<strong>de</strong>s aos órgãos centrais. A política e os seus<br />

respectivos regulamentos visam aumentar o acesso ao <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água sustentável<br />

para pelo menos 70% da população rural até ao ano 2015, em linha com as metas <strong>do</strong>s ODM.<br />

A <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> é claramente uma alta priorida<strong>de</strong> em to<strong>do</strong>s estes <strong>do</strong>cumentos, tal como<br />

se po<strong>de</strong> ver na sua visão (Water Policy, 2007):<br />

‘O futuro ambiciona<strong>do</strong> em relação à água, é aquele em que a água esteja<br />

disponível em quantida<strong>de</strong> e qualida<strong>de</strong> a<strong>de</strong>quada para as gerações presente e<br />

futura, servin<strong>do</strong> um <strong>de</strong>senvolvimento sustentável.’<br />

Mais ainda, a intenção <strong>do</strong> PRONASAR é aumentar a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> da cobertura <strong>do</strong><br />

<strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água e saneamento, e aumentar a qualida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s serviços. Em to<strong>do</strong>s estes<br />

<strong>do</strong>cumentos, é claro que a política nacional dá priorida<strong>de</strong> e reconhece os <strong>de</strong>safios <strong>de</strong> se<br />

manter os serviços <strong>de</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural, salientan<strong>do</strong> factores que vão <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a<br />

falta <strong>de</strong> apoio pós-construção aos encarrega<strong>do</strong>s, à ausência <strong>de</strong> uma ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> fornecimento<br />

<strong>de</strong> peças <strong>sobre</strong>ssalentes eficaz (PRONASAR, 2009).<br />

Secção 1 – Introdução<br />

<strong>Estu<strong>do</strong></strong> <strong>sobre</strong> a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural na Província <strong>do</strong> Niassa, Moçambique<br />

11


Secção 1 – Introdução<br />

Os principais<br />

componentes<br />

i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong>s no<br />

Quadro conceptual<br />

(Carter, 2011)<br />

Demanda<br />

Completa<br />

participação <strong>do</strong>s<br />

utentes<br />

Tecnologia a<strong>de</strong>quada<br />

à finalida<strong>de</strong> e<br />

escolhida pelos<br />

utentes<br />

Contribuição <strong>do</strong>s<br />

utentes<br />

O actual nível mínimo <strong>de</strong> serviço no <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural (NPRWSSP, 2009) é um<br />

poço ou furo equipa<strong>do</strong> com uma bomba manual ‘Afri<strong>de</strong>v’. Outros tipos <strong>de</strong> serviço incluem<br />

sistemas <strong>de</strong> recolha <strong>de</strong> água da chuva, protecção <strong>de</strong> nascentes <strong>de</strong> água, bombas <strong>de</strong> corda e<br />

pequenos sistemas reticula<strong>do</strong>s <strong>de</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água.<br />

Em princípio, a Política da Água e seus respectivos regulamentos parecem ser altamente<br />

eficazes para se alcançar a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural. Isto porque os<br />

principais componentes <strong>de</strong>scritos como fundamentais no quadro conceptual acima (Figura 1,<br />

Carter 2011) estão obviamente nela conti<strong>do</strong>s. Na Tabela abaixo, cada componente <strong>do</strong> quadro<br />

<strong>de</strong> Carter (2011) é apresenta<strong>do</strong> a par com a sua correspon<strong>de</strong>nte referência na Política da<br />

Água e seus respectivos regulamentos.<br />

Tabela 1 Evidência <strong>de</strong> factores-chave i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong>s a partir <strong>do</strong> quadro conceptual <strong>de</strong> Carter<br />

(2011) no conteú<strong>do</strong> da Política <strong>de</strong> Água <strong>de</strong> Moçambique e seus respectivos regulamentos<br />

Evidência <strong>de</strong> componentes na política nacional<br />

• Governo continua a <strong>de</strong>senvolver sistemas para o<br />

<strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural segun<strong>do</strong> o princípio da procura.<br />

• Implementação <strong>de</strong> uma Abordagem <strong>de</strong> Resposta à<br />

Procura através da participação <strong>do</strong>s utentes finais no<br />

processo <strong>de</strong> tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões.<br />

• Os beneficiários <strong>de</strong>vem participar em todas as fases <strong>do</strong><br />

projecto <strong>de</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água como forma <strong>de</strong><br />

garantir a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> das infraestruturas.<br />

• Governo reconhece o papel importante das mulheres na<br />

provisão <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água, encorajan<strong>do</strong> a sua<br />

participação activa em todas as fases <strong>do</strong> ciclo <strong>do</strong> projecto.<br />

• O tipo e o nível <strong>de</strong> serviço serão selecciona<strong>do</strong>s <strong>de</strong> acor<strong>do</strong><br />

com as condições naturais da área e <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com a<br />

capacida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s beneficiários <strong>de</strong> pagar, gerir e manter<br />

o serviço.<br />

• Os utentes <strong>de</strong>vidamente organiza<strong>do</strong>s, contribuem para a<br />

construção e reabilitação das fontes <strong>de</strong> água e garantem<br />

a cobrança <strong>de</strong> taxas que sejam suficientes, pelo menos,<br />

para cobrir os custos operacionais e manutenção.<br />

• As comunida<strong>de</strong>s têm a competência para <strong>de</strong>cidir <strong>sobre</strong><br />

as modalida<strong>de</strong>s das contribuições e formas <strong>de</strong> recolher<br />

essas contribuições.<br />

12 <strong>Estu<strong>do</strong></strong> <strong>sobre</strong> a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural na Província <strong>do</strong> Niassa, Moçambique<br />

Referência<br />

Política da<br />

Água, 2007<br />

MIPAR, 2001<br />

Política da<br />

Água, 2007<br />

MIPAR, 2001<br />

Política da<br />

Água, 2007<br />

MIPAR, 2001


Os principais<br />

componentes<br />

i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong>s no<br />

Quadro conceptual<br />

(Carter, 2011)<br />

Implementação <strong>de</strong><br />

alta qualida<strong>de</strong><br />

Estrutura tarifária<br />

a<strong>de</strong>quada<br />

Aspectos ambientais<br />

<strong>de</strong>vidamente<br />

resolvi<strong>do</strong>s<br />

Sistema <strong>de</strong><br />

monitoramento<br />

em vigor<br />

Evidência <strong>de</strong> componentes na política nacional<br />

• Uma vez concluídas as obras <strong>de</strong> construção e testada<br />

a fonte <strong>de</strong> água pelo fiscal, a obra será entregue à<br />

comunida<strong>de</strong> na presença <strong>de</strong> representantes <strong>do</strong> distrito<br />

e da DPOPH.<br />

• A comunida<strong>de</strong> tem o direito <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminar os mecanismos<br />

<strong>de</strong> cobrança da tarifa e <strong>de</strong>cidir quem <strong>de</strong>ve ser isento <strong>de</strong><br />

pagamento, por ser incapaz <strong>de</strong> contribuir (órfãos, i<strong>do</strong>sos<br />

e <strong>de</strong>ficientes, etc)<br />

• A política tarifária da água será guiada pelos princípios<br />

<strong>de</strong> utiliza<strong>do</strong>r é que paga, polui<strong>do</strong>r paga, <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong>,<br />

equida<strong>de</strong>, eficiência <strong>do</strong> uso da água, conservação<br />

ambiental, <strong>de</strong>scentralização e gestão participativa.<br />

As taxas em áreas rurais e a sua recuperação, serão<br />

<strong>de</strong>cididas <strong>de</strong> forma apropriada e adaptada às<br />

condições locais.<br />

• O objectivo principal é assegurar que o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

e gestão <strong>do</strong>s recursos hídricos tenham completamente<br />

em conta a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> preservação <strong>do</strong> meio ambiente<br />

com um <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>, tanto em<br />

quantida<strong>de</strong> como qualida<strong>de</strong>, à <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> ambiental<br />

• O registo <strong>do</strong>s sistemas <strong>de</strong> infraestrutura para<br />

<strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural é uma ferramenta essencial<br />

para a planificação e gestão e <strong>de</strong>ve ser <strong>de</strong>vidamente<br />

organiza<strong>do</strong> e actualiza<strong>do</strong> regularmente<br />

• As ferramentas <strong>de</strong> gestão <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural<br />

incluirão os planos <strong>de</strong> activida<strong>de</strong>, relatórios <strong>do</strong> progresso,<br />

avaliações e sistemas <strong>de</strong> gestão <strong>de</strong> informação.<br />

Secção 1 – Introdução<br />

Referência<br />

MIPAR, 2001<br />

MIPAR, 2001<br />

Política da<br />

Água, 2007<br />

Política da<br />

Água, 2007<br />

Política da<br />

Água, 2007<br />

MIPAR, 2001<br />

<strong>Estu<strong>do</strong></strong> <strong>sobre</strong> a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural na Província <strong>do</strong> Niassa, Moçambique<br />

13


Secção 1 – Introdução<br />

Os principais<br />

componentes<br />

i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong>s no<br />

Quadro conceptual<br />

(Carter, 2011)<br />

Sistema comunitário<br />

<strong>de</strong> operação e<br />

manutenção com<br />

apoio externo em<br />

vigor: comité <strong>de</strong> água<br />

a funcionar, as<br />

receitas recolhidas e<br />

registadas, tarefas <strong>de</strong><br />

manutenção e<br />

reparos realizadas,<br />

fortes laços entre a<br />

comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

utentes e<br />

organizações <strong>de</strong><br />

apoio no local,<br />

monitoramento<br />

ambiental<br />

Apoio externo: gestão<br />

e sistemas <strong>de</strong><br />

monitoramento<br />

Apoio externo:<br />

assistência técnica<br />

aos comités <strong>de</strong> água<br />

Evidência <strong>de</strong> componentes na política nacional<br />

• O órgão <strong>de</strong> gestão ao nível da comunida<strong>de</strong> é o comité<br />

da água, com as seguintes atribuições:<br />

Organizar a comunida<strong>de</strong>. Recolher e gerir os fun<strong>do</strong>s<br />

a serem utiliza<strong>do</strong>s na operação e manutenção, reparo<br />

e substituição.<br />

Promover a limpeza da fonte <strong>de</strong> água.<br />

Executar manutenção <strong>de</strong> rotina da fonte <strong>de</strong> água.<br />

Reparar a bomba manual.<br />

Assegurar o uso correcto da fonte <strong>de</strong> água.<br />

Manter as autorida<strong>de</strong>s distritais regularmente informadas<br />

da situação <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água.<br />

• A participação da comunida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> ser incentivada<br />

através <strong>de</strong> conselhos técnicos presta<strong>do</strong>s por empresas que<br />

trabalhem na área social e que, utilizan<strong>do</strong> meto<strong>do</strong>logias<br />

participativas, aju<strong>de</strong>m a comunida<strong>de</strong> na i<strong>de</strong>ntificação <strong>do</strong>s<br />

problemas relaciona<strong>do</strong>s com o seu <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong><br />

água, com o objetivo <strong>de</strong> solicitar fun<strong>do</strong>s para os melhorar.<br />

• A operação, manutenção e sistemas <strong>de</strong> gestão <strong>do</strong><br />

<strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural po<strong>de</strong>m ser presta<strong>do</strong>s por<br />

agências distintas, ou entida<strong>de</strong>s privadas sob contrato,<br />

<strong>de</strong>ixan<strong>do</strong> às comunida<strong>de</strong>s garantir o seu monitoramento.<br />

• Se os grupos <strong>de</strong> manutenção, por qualquer razão, não<br />

forem capazes <strong>de</strong> fazer reparações, a comunida<strong>de</strong> po<strong>de</strong><br />

recorrer a mecânicos <strong>de</strong> bombas manuais para fazer o<br />

trabalho, contra o pagamento <strong>do</strong>s serviços. Quan<strong>do</strong> as<br />

avarias forem complexas e não fôr possível encontrar<br />

soluções <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong>s recursos da comunida<strong>de</strong>, o comité<br />

da água <strong>de</strong>verá informar a administração <strong>do</strong> distrito<br />

<strong>sobre</strong> a situação.<br />

14 <strong>Estu<strong>do</strong></strong> <strong>sobre</strong> a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural na Província <strong>do</strong> Niassa, Moçambique<br />

Referência<br />

MIPAR, 2001<br />

MIPAR, 2001<br />

Política da<br />

Água, 2007<br />

MIPAR, 2001


Os principais<br />

componentes<br />

i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong>s no<br />

Quadro conceptual<br />

(Carter, 2011)<br />

Apoio externo:<br />

partilha <strong>de</strong> custos<br />

Apoio às ca<strong>de</strong>ias <strong>de</strong><br />

fornecimento e<br />

presta<strong>do</strong>res <strong>de</strong><br />

serviços<br />

Em relação a factores<br />

externos<br />

Evidência <strong>de</strong> componentes na política nacional<br />

• Os custos <strong>de</strong> operação, manutenção, reparação<br />

e substituição das infraestruturas serão totalmente<br />

pagos pela comunida<strong>de</strong> através das tarifas.<br />

• A DPOPH tem as seguintes atribuições: promover<br />

e garantir a disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> bombas manuais,<br />

peças <strong>sobre</strong>ssalentes, etc.<br />

Encorajar o envolvimento <strong>do</strong> sector priva<strong>do</strong> na preparação<br />

e apoio às comunida<strong>de</strong>s, concepção, construção,<br />

inspecção, apoio à manutenção, fornecimento <strong>de</strong> peças<br />

<strong>sobre</strong>ssalentes, pesquisa e equipamento para a produção.<br />

On<strong>de</strong> o sector priva<strong>do</strong> não estiver interessa<strong>do</strong> em<br />

envolver-se, <strong>de</strong>verão encontrar-se outras soluções<br />

adaptadas a cada região.<br />

• O fornecimento <strong>de</strong> bombas manuais e peças<br />

<strong>sobre</strong>ssalentes nas áreas rurais <strong>de</strong>ve ser feito com o<br />

envolvimento <strong>de</strong> iniciativas locais, incluin<strong>do</strong> os<br />

comerciantes <strong>do</strong> sector priva<strong>do</strong> e as organizações<br />

comunitárias.<br />

• O Governo encoraja a re<strong>de</strong> comercial <strong>de</strong> bombas e suas<br />

peças <strong>sobre</strong>ssalentes a nível provincial, distrital e local.<br />

• Apesar da incerteza em volta da questão das mudanças<br />

climáticas, o quadro que emerge a partir da análise<br />

científica é que a mudança climática irá resultar no<br />

aumento da frequência e gravida<strong>de</strong> das inundações<br />

e secas, exigin<strong>do</strong> que Moçambique faça um plano<br />

compreensivo, para estar <strong>de</strong>vidamente prepara<strong>do</strong> para<br />

lidar com esses eventos extremos.<br />

As referências da Política da Água e respectiva regulamentação acima apresentadas não<br />

são exaustivas das semelhanças com o mo<strong>de</strong>lo conceptual apresenta<strong>do</strong> na Figura um. No<br />

entanto, elas foram seleccionadas para <strong>de</strong>monstrar os fortes paralelos entre ambos. A partir<br />

daí, é evi<strong>de</strong>nte que a política é, teoricamente, eficaz para se alcançar a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong><br />

<strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural, porém <strong>de</strong>ve ser examina<strong>do</strong> até que ponto ela está sen<strong>do</strong> posta<br />

em prática.<br />

Secção 1 – Introdução<br />

Referência<br />

MIPAR, 2001<br />

MIPAR, 2001<br />

Política da<br />

Água, 2007<br />

Política da<br />

Água, 2007<br />

<strong>Estu<strong>do</strong></strong> <strong>sobre</strong> a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural na Província <strong>do</strong> Niassa, Moçambique<br />

15


Secção 1 – Introdução<br />

1.4 WaterAid em Moçambique<br />

WaterAid começou a trabalhar em Moçambique em 1995/6, na Província <strong>do</strong> Niassa, em<br />

resposta a um pedi<strong>do</strong> <strong>do</strong> Departamento Nacional <strong>de</strong> Água Rural <strong>de</strong> apoiar os esforços <strong>do</strong><br />

governo na província. Inicialmente, trabalhou em poços com o Departamento Provincial <strong>de</strong><br />

Água e Saneamento (DAS) e empreiteiros <strong>do</strong> sector priva<strong>do</strong>, e mais tar<strong>de</strong> com a socieda<strong>de</strong><br />

civil, à medida que esta se <strong>de</strong>senvolveu. Actualmente, a WaterAid tem um escritório em<br />

Lichinga, a capital da Província <strong>do</strong> Niassa, com uma pequena equipa que inclui <strong>do</strong>is oficiais<br />

<strong>do</strong> projecto basea<strong>do</strong>s no campo, e <strong>de</strong> on<strong>de</strong> gere projectos <strong>de</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural<br />

em sete distritos.<br />

A WaterAid opera através <strong>de</strong> uma relação tripartida com os governos locais a nível distrital,<br />

isto é, administrações distritais, que trabalham através <strong>do</strong>s seus respectivos SDPI para<br />

implementar aspectos <strong>de</strong> hardware através da contratação <strong>de</strong> serviços <strong>do</strong> sector priva<strong>do</strong> e<br />

<strong>de</strong> ONG locais parceiras, que são responsáveis por aspectos <strong>de</strong> software, tais como o PEC,<br />

na maioria <strong>do</strong>s distritos da Província <strong>do</strong> Niassa. Apenas no Distrito <strong>de</strong> Sanga, on<strong>de</strong> não<br />

existem ONGs locais para trabalhar em software, o governo local assume esse papel, através<br />

<strong>de</strong> “activistas” ou voluntários <strong>de</strong> educação comunitária, recruta<strong>do</strong>s localmente. Usam-se<br />

diferentes méto<strong>do</strong>s para o PEC, incluin<strong>do</strong>, por exemplo, palestras, reuniões comunitárias,<br />

<strong>de</strong>bates, ferramentas e técnicas participativas, mas não existe um manual <strong>de</strong> orientação<br />

geral para to<strong>do</strong>s. A WaterAid Moçambique tem Memoran<strong>do</strong>s <strong>de</strong> Entendimento (MoU)<br />

separa<strong>do</strong>s para o governo local e parceiros, mas não há MoUs entre eles. Isso po<strong>de</strong><br />

complicar as funções e responsabilida<strong>de</strong>s, pois o governo tem como mandato acompanhar<br />

o trabalho das ONGs locais basea<strong>do</strong> na Política da Água. Estes MoUs têm como finalida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>finir os diferentes papéis e responsabilida<strong>de</strong>s <strong>do</strong>s parceiros da WaterAid nos seus<br />

programas <strong>de</strong> trabalho, incluin<strong>do</strong> o governo local e os parceiros locais.<br />

Durante os 15 anos <strong>de</strong> experiência <strong>de</strong> serviço <strong>de</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural, o sucesso<br />

da WaterAid em Moçambique po<strong>de</strong> ser atribuí<strong>do</strong> a uma série <strong>de</strong> factores. Por exemplo,<br />

as estreitas e eficazes relações <strong>de</strong> trabalho com o governo local a nível provincial, distrital<br />

e nacional têm conduzi<strong>do</strong>, ao longo <strong>do</strong> tempo, a apoio às ONGs parceiras, para se<br />

<strong>de</strong>senvolverem como organizações parceiras fortes e capazes. A WaterAid Moçambique<br />

percebeu não só a importância <strong>de</strong> assegurar que estes factores chave continuem a existir,<br />

como está agora a pôr maior ênfase em garantir que esses serviços sejam sustentáveis com<br />

o passar <strong>do</strong> tempo.<br />

16 <strong>Estu<strong>do</strong></strong> <strong>sobre</strong> a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural na Província <strong>do</strong> Niassa, Moçambique


Secção 2<br />

Meto<strong>do</strong>logia<br />

2.1 Meto<strong>do</strong>logia <strong>do</strong> estu<strong>do</strong><br />

Para este estu<strong>do</strong>, foi escolhida uma abordagem investigativa e qualitativa, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à natureza<br />

complexa da <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> e ao <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> explorar a experiência e as opiniões <strong>do</strong>s<br />

principais interessa<strong>do</strong>s envolvi<strong>do</strong>s na provisão <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> água rural. Decidiu-se que<br />

seriam necessários <strong>do</strong>is tipos <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s. O primeiro seria <strong>sobre</strong> a realida<strong>de</strong> no terreno: a<br />

experiência da comunida<strong>de</strong> em suster as instalações <strong>de</strong> água rural com o passar <strong>do</strong> tempo.<br />

O segun<strong>do</strong> envolveria i<strong>de</strong>ias das partes interessadas <strong>sobre</strong> os factores chave para a<br />

resolução <strong>do</strong>s <strong>de</strong>safios. As partes interessadas foram escolhidas incluin<strong>do</strong> o governo local,<br />

ONGs parceiras (local), e pessoal da WaterAid por causa <strong>de</strong> seu importante papel na<br />

provisão <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural no país.<br />

O valor <strong>do</strong> presente estu<strong>do</strong> para a WaterAid Moçambique, da<strong>do</strong>s os seus anos <strong>de</strong> experiência<br />

na provisão <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural, juntamente com o princípio da<br />

WaterAid <strong>de</strong> ‘apren<strong>de</strong>r sempre’, impeliu a um trabalho preparatório significativo. Isto incluiu<br />

uma visita <strong>de</strong> campo preliminar a projectos no Niassa, análise da planificação, monitoramento<br />

e relatórios <strong>de</strong> avaliação e workshops com o pessoal para garantir que o estu<strong>do</strong> se baseava<br />

em conhecimentos e experiências existentes, sem duplicar esforços. A partir daí, escolheuse<br />

uma meto<strong>do</strong>logia <strong>de</strong> entrevistas semi-estruturadas para dar espaço suficiente a<br />

investigar a complexida<strong>de</strong> da <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> da água rural, in<strong>do</strong> bem a fun<strong>do</strong> <strong>sobre</strong> os<br />

principais factores que a afectam. Devi<strong>do</strong> à natureza ampla da matéria, e com base na<br />

meto<strong>do</strong>logia da WaterAid Madagáscar (2010), foram <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>s seis temas e subtemas<br />

para servirem <strong>de</strong> motivação durante as entrevistas. Foram cria<strong>do</strong>s diferentes subtemas para<br />

cada parte interessada, com base nas suas diferentes funções e responsabilida<strong>de</strong>s (ver<br />

Anexo um).<br />

Foi escolhida uma estratégia <strong>de</strong> amostragem orientada para acompanhar a meto<strong>do</strong>logia<br />

qualitativa. Foram escolhidas amostras <strong>do</strong>s distritos on<strong>de</strong> a WaterAid trabalha, na Província<br />

<strong>do</strong> Niassa, por elas conterem as mais antigas intervenções da WaterAid. Supôs-se que estes<br />

projectos <strong>de</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural mais antigos teriam maior probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ter<br />

experiências <strong>de</strong> avarias, e seriam mais úteis ao projecto <strong>de</strong> pesquisa, pois reflectiriam a<br />

realida<strong>de</strong> da gestão <strong>de</strong> um ponto <strong>de</strong> água ao longo <strong>do</strong> tempo. Foi <strong>de</strong>cidi<strong>do</strong> visitar duas<br />

comunida<strong>de</strong>s por distrito – uma com um ponto <strong>de</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água em funcionamento<br />

e outra sem – para obter uma compreensão clara da realida<strong>de</strong> no terreno e como<br />

oportunida<strong>de</strong> para apren<strong>de</strong>r com experiências diferentes.<br />

Section 2 – Metho<strong>do</strong>logy<br />

<strong>Estu<strong>do</strong></strong> <strong>sobre</strong> a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural na Província <strong>do</strong> Niassa, Moçambique<br />

17


Secção 2 – Meto<strong>do</strong>logia<br />

2.2 A recolha <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s<br />

A recolha <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s foi feita entre 20 <strong>de</strong> Outubro e 2 <strong>de</strong> Novembro <strong>de</strong> 2010, na Província <strong>do</strong><br />

Niassa. Em cada um <strong>do</strong>s distritos fizeram-se entrevistas semi-estruturadas com:<br />

Duas comunida<strong>de</strong>s (incluin<strong>do</strong> membros da comunida<strong>de</strong>; homens e mulheres<br />

e representantes <strong>do</strong>s comités da água).<br />

O Director <strong>do</strong>s Serviços <strong>de</strong> Planeamento e Infraestruturas a nível <strong>do</strong> distrito (DSDPI).<br />

O Coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>r da organização parceira local (ONG local).<br />

Pessoal da WaterAid a trabalhar na Província.<br />

O itinerário completo e os nomes <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s encontram-se no Anexo <strong>do</strong>is. As<br />

tecnologias principais encontradas nas comunida<strong>de</strong>s foram a bomba manual Afri<strong>de</strong>v com um<br />

furo ou poço (basea<strong>do</strong> no padrão nacional da Política da Água) e várias bombas <strong>de</strong> corda.<br />

As comunida<strong>de</strong>s visitadas, bem como os pormenores das suas respectivas tecnologias,<br />

encontram-se na seguinte Tabela:<br />

Tabela 2 Comunida<strong>de</strong>s visitadas e informação <strong>sobre</strong> os seus pontos <strong>de</strong><br />

<strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água<br />

Distrito Comunida<strong>de</strong> Ano <strong>de</strong> Tipo <strong>de</strong> A funcionar ou<br />

construção tecnologia sem funcionar<br />

Maua Mora Paulo 2001 Bomba <strong>de</strong> corda A funcionar<br />

Maua Bairro 2 2001 Afri<strong>de</strong>v A funcionar<br />

Nipepe Tamica 2007 Afri<strong>de</strong>v A funcionar<br />

Nipepe Muichi 2007 Afri<strong>de</strong>v Sem funcionar<br />

Metarica Mahassa 2008 Afri<strong>de</strong>v A funcionar<br />

Metarica Cuvir 2008 Afri<strong>de</strong>v Sem funcionar<br />

Mecanhelas Nampamtamanja 2008 Afri<strong>de</strong>v A funcionar<br />

Mecanhelas Maunda 2009 Afri<strong>de</strong>v A funcionar<br />

Mandimba Mepapa 2006 Afri<strong>de</strong>v A funcionar<br />

Mandimba Mpuina 2004 Bomba <strong>de</strong> corda Sem funcionar<br />

Sanga Nangenhege 2007 Afri<strong>de</strong>v e Sem funcionar<br />

bomba <strong>de</strong> corda (ambas)<br />

Sanga Impresa Agricola 2007 Afri<strong>de</strong>v A funcionar<br />

Lichinga Mapaco 2009 Afri<strong>de</strong>v A funcionar<br />

Lichinga Kulongo 2005 Afri<strong>de</strong>v Sem funcionar<br />

18 <strong>Estu<strong>do</strong></strong> <strong>sobre</strong> a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural na Província <strong>do</strong> Niassa, Moçambique


2.3 Problemas com as constatações <strong>do</strong> relatório<br />

Apesar <strong>de</strong> terem si<strong>do</strong> feitos to<strong>do</strong>s os esforços para garantir que a pesquisa fosse realizada<br />

da forma mais eficaz possível, enfrentaram-se as seguintes dificulda<strong>de</strong>s:<br />

As intervenções não eram tão antigas quanto se esperava <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a reabilitações feitas<br />

pelo governo. No entanto, como isso reflecte a realida<strong>de</strong> no terreno, os resulta<strong>do</strong>s ainda<br />

são váli<strong>do</strong>s na medida em que reflectem a verda<strong>de</strong> da manutenção das instalações<br />

rurais.<br />

A limitação <strong>do</strong> tempo disponível para a pesquisa fez com que as entrevistas com as<br />

comunida<strong>de</strong>s se realizassem com membros da comunida<strong>de</strong> e comités <strong>de</strong> água<br />

simultaneamente. Um claro <strong>de</strong>safio anota<strong>do</strong> no Niassa foi a dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> conseguir que<br />

as mulheres expressassem as suas i<strong>de</strong>ias e opiniões na presença <strong>do</strong>s homens. Isto <strong>de</strong>vese<br />

a questões culturais que <strong>de</strong>terminam que as mulheres não têm permissão para falar<br />

com pessoas <strong>de</strong> fora da comunida<strong>de</strong> na ausência <strong>de</strong> homens. Se tivesse havi<strong>do</strong> mais<br />

tempo disponível, homens e mulheres po<strong>de</strong>riam ter si<strong>do</strong> entrevista<strong>do</strong>s separadamente<br />

para superar esse problema.<br />

Por razões práticas, não foi possível entrevistar o DPOPH no Distrito <strong>de</strong> Mecanhelas nem<br />

o Coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>r da Estamos em Lichinga. No entanto, como todas as outras entrevistas<br />

foram realizadas com êxito, consi<strong>de</strong>rou-se que os resulta<strong>do</strong>s não seriam influencia<strong>do</strong>s<br />

pela omissão <strong>de</strong>stas duas pessoas.<br />

As alianças políticas e o relacionamento entre <strong>do</strong>a<strong>do</strong>res e parceiros da WaterAid,<br />

incluin<strong>do</strong> o governo local, po<strong>de</strong>m ter ti<strong>do</strong> impacto <strong>sobre</strong> o que foi dito durante as<br />

entrevistas. A abordagem qualitativa e a meto<strong>do</strong>logia <strong>de</strong> entrevista semi-estruturada<br />

tiveram em vista superar este <strong>de</strong>safio, oferecen<strong>do</strong> espaço suficiente para os<br />

entrevista<strong>do</strong>s se sentirem à vonta<strong>de</strong> e respon<strong>de</strong>rem livremente.<br />

Secção 2 – Meto<strong>do</strong>logia<br />

<strong>Estu<strong>do</strong></strong> <strong>sobre</strong> a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural na Província <strong>do</strong> Niassa, Moçambique<br />

19


Section 3 – Findings<br />

Secção 3<br />

Constatações<br />

A partir da evidência obtida nas narrativas das comunida<strong>de</strong>s <strong>sobre</strong> a sustentação <strong>do</strong>s seus<br />

<strong>abastecimento</strong>s <strong>de</strong> água, juntamente com as discussões com o governo, parceiros e pessoal<br />

da WaterAid (entrevista<strong>do</strong>s), foram i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong>s os seguintes factores, como a chave para<br />

superar os <strong>de</strong>safios da <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural, nas quatro<br />

principais áreas <strong>de</strong> gestão comunitária, financiamento, apoio externo e implementação<br />

da política.<br />

3.1 Os <strong>de</strong>safios da gestão comunitária<br />

Todas as comunida<strong>de</strong>s visitadas tinham comités <strong>de</strong> água. Contu<strong>do</strong>, e apesar <strong>de</strong> terem<br />

conhecimento das suas responsabilida<strong>de</strong>s, a forma como estas eram postas em prática<br />

era muito variada, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a inconsistências na capacida<strong>de</strong> e habilida<strong>de</strong>.<br />

Vários <strong>do</strong>s comités trabalhavam bem, graças a gran<strong>de</strong> motivação para garantir que o serviço<br />

se mantivesse constantemente a funcionar. Isto <strong>de</strong>via-se ao reconhecimento e à priorida<strong>de</strong><br />

da<strong>do</strong>s aos benefícios para a saú<strong>de</strong> resultantes <strong>de</strong> uma fonte <strong>de</strong> água melhorada. Por<br />

exemplo, um <strong>do</strong>s comités tinha angaria<strong>do</strong> fun<strong>do</strong>s e repara<strong>do</strong> o ponto <strong>de</strong> <strong>abastecimento</strong><br />

<strong>de</strong> água ele próprio, por terem a capacida<strong>de</strong> técnica suficiente.<br />

No entanto, em muitos outros comités, o único membro que havia si<strong>do</strong> treina<strong>do</strong><br />

tecnicamente havia parti<strong>do</strong>, e os outros não tinham poupanças mensais para a operação<br />

e manutenção. Estas inconsistências eram ainda exacerbadas pela falta <strong>de</strong> confiança e <strong>de</strong><br />

comunicação entre os comités da água e as comunida<strong>de</strong>s, especialmente em questões <strong>de</strong><br />

finanças. Quan<strong>do</strong> se perguntava <strong>sobre</strong> a existência <strong>de</strong> poupanças ou <strong>sobre</strong> a frequência com<br />

que contribuíam, a maioria <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s nas comunida<strong>de</strong>s entravam em longos e<br />

agita<strong>do</strong>s <strong>de</strong>bates com os seus respectivos comités da água. Noutros casos, as comunida<strong>de</strong>s<br />

lamentavam-se <strong>de</strong> os seus comités da água recolherem dinheiro para a compra <strong>de</strong> peças<br />

<strong>sobre</strong>ssalentes, porém não os informarem <strong>de</strong> quanto haviam gasto na realida<strong>de</strong>. Para além<br />

disso, vários <strong>do</strong>s pontos <strong>de</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água tinham poças <strong>de</strong> água estagnada nos<br />

seus canais <strong>de</strong> drenagem, o que indicava que os comités <strong>de</strong> água não estavam a cumprir<br />

a sua tarefa <strong>de</strong> os limparem. De tu<strong>do</strong> isto ficou claro que as competências e práticas <strong>do</strong>s<br />

comités <strong>de</strong> água para manterem as instalações com o passar <strong>do</strong> tempo eram inconsistentes<br />

nas comunida<strong>de</strong>s visitadas.<br />

Esta evidência põe em causa até que ponto os comités da água têm as competências certas<br />

para efectivamente levarem a cabo as suas funções e responsabilida<strong>de</strong>s. Os entrevista<strong>do</strong>s<br />

sugeriram que uma maneira <strong>de</strong> ajudar seria melhorar a capacida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s comités <strong>de</strong> água.<br />

Outras i<strong>de</strong>ias incluíram garantir que os conceitos e princípios da <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> fossem<br />

<strong>de</strong>talhadamente explica<strong>do</strong>s aos comités da água, por ex., através <strong>do</strong> PEC, bem como as suas<br />

funções e responsabilida<strong>de</strong>s para manter as instalações com o passar <strong>do</strong> tempo.<br />

20 <strong>Estu<strong>do</strong></strong> <strong>sobre</strong> a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural na Província <strong>do</strong> Niassa, Moçambique


Secção 3 –<br />

Da<strong>do</strong> que a evidência indica que os comités <strong>de</strong> água não estão necessariamente a aplicar as<br />

lições ensinadas pelas organizações parceiras através <strong>do</strong> seu PEC, ela questiona a<br />

capacida<strong>de</strong> e abordagens <strong>do</strong>s parceiros para educarem eficazmente as comunida<strong>de</strong>s.<br />

Os entrevista<strong>do</strong>s sublinharam também a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> melhorar a capacida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s<br />

parceiros – referin<strong>do</strong>-se às ONGs locais. As questões levantadas referiram-se inicialmente<br />

à capacida<strong>de</strong> física das organizações parceiras, isto é, se têm um número suficiente <strong>de</strong><br />

Activistas para apoiarem o corrente PEC em todas as comunida<strong>de</strong>s? Em segun<strong>do</strong> lugar, os<br />

entrevista<strong>do</strong>s questionaram o próprio conhecimento, entendimento e competência das<br />

organizações parceiras – se <strong>de</strong> facto têm capacida<strong>de</strong> suficiente e eficaz para levarem a cabo<br />

as suas funções e responsabilida<strong>de</strong> e assegurarem que as comunida<strong>de</strong>s sejam educadas<br />

para manterem as instalações com o passar <strong>do</strong> tempo? Em terceiro lugar, os parceiros<br />

necessitam <strong>de</strong> usar uma abordagem mais flexível no seu trabalho com as comunida<strong>de</strong>s. Isto<br />

é importante dadas as diferenças nos mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> gestão encontra<strong>do</strong>s nas comunida<strong>de</strong>s, por<br />

ex., on<strong>de</strong> o membro da comunida<strong>de</strong> que é tecnicamente capaz partiu e não foi substituí<strong>do</strong>,<br />

e on<strong>de</strong> outros conseguem com sucesso recolher os fun<strong>do</strong>s para adquirirem as peças<br />

<strong>sobre</strong>ssalentes e repararem os pontos <strong>de</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água. Por fim, os entrevista<strong>do</strong>s<br />

questionaram o futuro das organizações parceiras. Se a WaterAid partir, como sabemos que<br />

eles continuarão a existir?<br />

Ao resolver estes aspectos e melhorar a capacida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s parceiros, resolver-se-ia também<br />

a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> melhorar o seu PEC. Os entrevista<strong>do</strong>s <strong>de</strong>clararam que a própria visão da<br />

educação da comunida<strong>de</strong> precisa ser adaptada e <strong>de</strong>senvolvida para incorporar os princípios<br />

e mensagens da <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong>. Isto para garantir que as comunida<strong>de</strong>s e os seus<br />

respectivos comités da água compreendam e implementem completamente as suas funções<br />

e responsabilida<strong>de</strong>s numa visão <strong>de</strong> longo prazo, que é manter os seus pontos <strong>de</strong><br />

<strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água com o passar <strong>do</strong> tempo. Alia<strong>do</strong> a isto, e para assegurar a<br />

<strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> conhecimento, competências e práticas da comunida<strong>de</strong>, a educação<br />

comunitária <strong>de</strong>veria ter um padrão mínimo <strong>de</strong> supervisão comunitária. Foi sugeri<strong>do</strong> que se<br />

usasse uma abordagem semelhante à da testagem da qualida<strong>de</strong> da água, por exemplo, que<br />

é feita duas vezes por ano, e assim as experiências e capacida<strong>de</strong> das comunida<strong>de</strong>s seriam<br />

monitoradas quase permanentemente através da educação comunitária.<br />

Estes aspectos to<strong>do</strong>s em conjunto iriam melhorar a capacida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s comités da água, isto é,<br />

o mo<strong>de</strong>lo da gestão comunitária. Ao compreen<strong>de</strong>rem profundamente o seu papel em relação<br />

à <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong>, iriam perceber a importância das suas funções para a manutenção das<br />

instalações com o passar <strong>do</strong> tempo. Para além disso, os comités da água po<strong>de</strong>riam ser<br />

educa<strong>do</strong>s <strong>sobre</strong> as vantagens e <strong>de</strong>svantagens <strong>de</strong> trabalharem <strong>de</strong> uma certa maneira para<br />

atingirem a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong>. Os entrevista<strong>do</strong>s também sentiam que, a par com a compreensão<br />

das razões porque necessitam recolher fun<strong>do</strong>s para operação e manutenção, as suas<br />

capacida<strong>de</strong>s técnicas necessitavam ser reforçadas.<br />

Sobre a motivação para manter o ponto <strong>de</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água<br />

“Se houver um problema com o ponto <strong>de</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água, nós resolvemo-lo. Se houver<br />

um problema, nós sabemos que precisamos <strong>de</strong> dinheiro para o reparar, porque não queremos<br />

estar na posição <strong>de</strong> não o po<strong>de</strong>r reparar.” (Membro da comunida<strong>de</strong>, Bairro 2, Distrito <strong>de</strong> Maúa)<br />

“Estou muito preocupa<strong>do</strong> com o nível <strong>de</strong> compreensão da comunida<strong>de</strong> <strong>do</strong> que <strong>de</strong>vem fazer<br />

para manterem o seu ponto <strong>de</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água. As comunida<strong>de</strong>s não compreen<strong>de</strong>m<br />

o conceito <strong>de</strong> <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong>.” (representante <strong>do</strong> Governo)<br />

<strong>Estu<strong>do</strong></strong> <strong>sobre</strong> a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural na Província <strong>do</strong> Niassa, Moçambique<br />

21


Secção 3 –<br />

Sobre as questões <strong>de</strong> confiança e comunicação entre as comunida<strong>de</strong>s e os<br />

comités da água<br />

“Nós escolhemos o comité da água com a A<strong>de</strong>cco (organização parceira) no início, então<br />

escolhemos seis pessoas. Mas agora não confiamos que o comité da água tem o coração das<br />

pessoas.” (Membro da comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Mahassa, Metarica)<br />

“Nós não aceitamos a mensagem <strong>do</strong> comité da água para contribuir porque pensamos que o<br />

dinheiro que contribuímos para os custos capitais foi usa<strong>do</strong> por uma mulher <strong>do</strong> comité da água<br />

para comprar capulanas.” (Membro da comunida<strong>de</strong>, Mahassa, Metarica)<br />

“É difícil contribuir quan<strong>do</strong> o ponto <strong>de</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água está avaria<strong>do</strong>, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à<br />

<strong>de</strong>sconfiança entre as comunida<strong>de</strong>s e será mais fácil contribuir quan<strong>do</strong> estiver avaria<strong>do</strong>.”<br />

(Membro da comunida<strong>de</strong>, Mepapa, Mandimba)<br />

“Nós havíamos <strong>de</strong> contribuir se o comité da água pedisse, mas o comité da água nunca veio<br />

a nossa casa pedir dinheiro, mas se viesse, nós havíamos <strong>de</strong> contribuir.” (Membro da<br />

comunida<strong>de</strong>, Mpuina, Mandimba)<br />

Sobre as abordagens para trabalhar com os comités da água<br />

“Precisamos <strong>de</strong> repensar as mensagens <strong>do</strong>s comités da água, não só para a limpeza, como<br />

muitas comunida<strong>de</strong>s disseram. Eles estão lá para mobilizar as pessoas, eles não são os cria<strong>do</strong>s<br />

da comunida<strong>de</strong>.” (Pessoal da WaterAid)<br />

“Os comités da água têm que existir, mas o problema é como é que eles são forma<strong>do</strong>s , isto é,<br />

como é que são cria<strong>do</strong>s? Eles precisam compreen<strong>de</strong>r muito bem o seu papel. A maneira como<br />

o comité da água é escolhi<strong>do</strong> antes <strong>de</strong> ser treina<strong>do</strong> é muito importante, <strong>de</strong>vemos explicar o<br />

papel <strong>do</strong> comité à comunida<strong>de</strong>, isto é sem salário, para que os membros da comunida<strong>de</strong> se<br />

possam voluntariar, e não serem escolhi<strong>do</strong>s por outros membros da comunida<strong>de</strong> ou chefes,<br />

por exemplo. Assim o comité trabalhará pelo seu próprio <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> trabalhar. Temos que os<br />

ajudar a compreen<strong>de</strong>r a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> e o papel <strong>de</strong>les nessa <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong>.” (Pessoal <strong>do</strong><br />

parceiro)<br />

“Talvez tenhamos que mudar a nossa abordagem em relação aos comités da água, não <strong>de</strong>ixar<br />

apenas que a comunida<strong>de</strong> escolha – temos que os ajudar a pensar e escolher as pessoas mais<br />

efectivas, mostrar-lhes experiências <strong>de</strong> sucessos e fracassos.” (Pessoal <strong>do</strong> parceiro)<br />

“As mulheres têm um maior papel em termos <strong>de</strong> água, são as mulheres que usam o ponto<br />

<strong>de</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água, mas há uma contradição, os homens controlam o dinheiro e as<br />

mulheres ficam para trás. As mulheres têm maior compreensão <strong>do</strong> ponto <strong>de</strong> <strong>abastecimento</strong><br />

<strong>de</strong> água, mas <strong>de</strong> momento os homens têm mais controle, as mulheres po<strong>de</strong>riam ser mais<br />

transparentes e trabalhar melhor.” (Pessoal <strong>do</strong> parceiro)<br />

Sobre a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> melhorar o trabalho <strong>de</strong> educação comunitária<br />

“É um erro pensar que po<strong>de</strong>mos simplesmente instalar um ponto <strong>de</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água<br />

e que a comunida<strong>de</strong> irá tomar conta <strong>de</strong>le.” (Pessoal <strong>do</strong> parceiro)<br />

“A WaterAid e seus parceiros <strong>de</strong>vem examinar constantemente o contexto em que trabalham.”<br />

(Pessoal da WaterAid)<br />

22 <strong>Estu<strong>do</strong></strong> <strong>sobre</strong> a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural na Província <strong>do</strong> Niassa, Moçambique


3.2 Finanças<br />

Secção 3 –<br />

Sobre as i<strong>de</strong>ias para melhorar o trabalho <strong>de</strong> educação comunitária<br />

“Precisamos ter um nível mínimo <strong>de</strong> fiscalização das comunida<strong>de</strong>s. A WaterAid realiza<br />

testagem da qualida<strong>de</strong> da água duas vezes por ano – monitoran<strong>do</strong> a qualida<strong>de</strong> da água –<br />

portanto os parceiros po<strong>de</strong>riam fazer isso – os parceiros têm que dar assistência aos comités<br />

da água e comunida<strong>de</strong>s durante <strong>do</strong>is anos pelo menos.” (Pessoal da WaterAid)<br />

“A educação da comunida<strong>de</strong> não po<strong>de</strong> ser uma activida<strong>de</strong> ou resposta <strong>de</strong> emergência, mas tem<br />

que mudar o comportamento das pessoas. Temos que investir o nosso dinheiro na educação<br />

da comunida<strong>de</strong> continuamente.” (Pessoal da WaterAid)<br />

“Precisamos envolver as comunida<strong>de</strong>s no processo completo <strong>do</strong> projecto. Por exemplo, eles<br />

<strong>de</strong>veriam escolher as tecnologias. A educação da comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong>veria ser quase permanente.<br />

O problema é quan<strong>do</strong> um projecto termina ou quan<strong>do</strong> uma ONG parte e tu<strong>do</strong> pára. Não<br />

<strong>de</strong>vemos assumir que se instalamos pontos <strong>de</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água e trabalhamos com as<br />

comunida<strong>de</strong>s isso é suficiente.” (Pessoal <strong>do</strong> parceiro)<br />

“Precisamos melhorar a educação da comunida<strong>de</strong> para ter uma visão maior, que inclua a<br />

<strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong>.” (Representante <strong>do</strong> Governo)<br />

Sobre o trabalho das organizações parceiras<br />

“Os activistas têm que estar muito claros <strong>sobre</strong> os seus papéis nas comunida<strong>de</strong>s – dar apoio<br />

e mostrar às comunida<strong>de</strong>s o que elas <strong>de</strong>vem fazer e verificar com o comité da água e as<br />

comunida<strong>de</strong>s que tu<strong>do</strong> esteja bem e a funcionar.” (Pessoal da WaterAid)<br />

“A WaterAid não tem a função <strong>de</strong> implementar, por isso temos que <strong>de</strong>finir uma estratégia clara<br />

<strong>de</strong> criação <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong> nos parceiros para assim assegurar a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> das fontes.”<br />

(Pessoal da WaterAid)<br />

“Temos que encontrar soluções e mecanismos que tornem estas organizações in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes<br />

e sustentáveis quan<strong>do</strong> a WaterAid partir.” (Representante <strong>do</strong> Governo)<br />

Em todas as comunida<strong>de</strong>s visitadas era evi<strong>de</strong>nte que a questão <strong>do</strong>s fun<strong>do</strong>s compromete<br />

a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural. A maioria das comunida<strong>de</strong>s não tinha<br />

quaisquer poupanças, nem recolhia contribuições mensais para operação e manutenção.<br />

Quase todas viviam <strong>de</strong> financiamento reactivo (Harvey and Reed, 2004), em que só<br />

contribuíam quan<strong>do</strong> o ponto <strong>de</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água se avariava. Todas as comunida<strong>de</strong>s<br />

que tinham ti<strong>do</strong> avarias no serviço tinham consegui<strong>do</strong> angariar fun<strong>do</strong>s suficientes para<br />

reparar o ponto <strong>de</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água. Os entrevista<strong>do</strong>s porém questionaram se este<br />

méto<strong>do</strong> <strong>de</strong> financiamento seria capaz <strong>de</strong> manter um ponto <strong>de</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água com o<br />

passar <strong>do</strong> tempo. A falta <strong>de</strong> poupança mensal estava muitas vezes relacionada com a falta <strong>de</strong><br />

confiança entre as comunida<strong>de</strong>s e os comités <strong>de</strong> água e ainda com a falta <strong>de</strong> priorida<strong>de</strong> em<br />

ter uma fonte <strong>de</strong> água melhorada versus outras necessida<strong>de</strong>s da família. Apenas um<br />

pequeno número <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong>s havia recolhi<strong>do</strong> as contribuições regularmente, e isto era<br />

anual e não mensalmente, e porque estavam notavelmente mais motiva<strong>do</strong>s para assegurar<br />

que o serviço funcionasse <strong>de</strong> forma constante.<br />

<strong>Estu<strong>do</strong></strong> <strong>sobre</strong> a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural na Província <strong>do</strong> Niassa, Moçambique<br />

23


Secção 3 –<br />

Esta falta <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>s para operação e manutenção tornou-se ainda mais complicada <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à<br />

confusão <strong>sobre</strong> a <strong>de</strong>finição e finalida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s custos capitais. Algumas comunida<strong>de</strong>s sentiram<br />

que, como tinham pago estes custos, não <strong>de</strong>veriam ter que pagar mais pela operação e<br />

manutenção, pois não perceberam a diferença. Noutros casos, os parceiros tinham leva<strong>do</strong> os<br />

fun<strong>do</strong>s sem qualquer explicação, ou o governo local tinha os usa<strong>do</strong> para pagar o sector<br />

priva<strong>do</strong> pelos serviços <strong>de</strong> construção. Em várias comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>u-se a invulgar situação <strong>de</strong><br />

um indivíduo ter pago to<strong>do</strong>s os custos capitais ocorri<strong>do</strong>s, e as comunida<strong>de</strong>s terem que os<br />

pagar <strong>de</strong> volta sem saberem exactamente quanto estavam a <strong>de</strong>ver. Todas estas experiências<br />

confundiram a vonta<strong>de</strong> da comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> contribuir regularmente, isto é, numa base<br />

mensal, para a operação e manutenção <strong>do</strong>s pontos <strong>de</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água.<br />

Para se ultrapassar esta questão, foi proposto que se <strong>de</strong>finisse com clareza e transparência<br />

o que são os custos capitais e a sua finalida<strong>de</strong>. A questão <strong>do</strong>s fun<strong>do</strong>s em si não foi levantada<br />

pelos entrevista<strong>do</strong>s como factor chave afectan<strong>do</strong> a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong><br />

água rural, mas fica aqui menciona<strong>do</strong> pois era claramente importante, porque embora as<br />

comunida<strong>de</strong>s tenham si<strong>do</strong> capazes <strong>de</strong> pagar pelas reparações quan<strong>do</strong> necessário, vários<br />

<strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s questionaram se isto po<strong>de</strong>ria manter um ponto <strong>de</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água<br />

com o passar <strong>do</strong> tempo. Mais ainda, os entrevista<strong>do</strong>s <strong>de</strong>clararam também que as<br />

comunida<strong>de</strong>s têm <strong>de</strong> facto dinheiro; o <strong>de</strong>safio é que elas nem sempre dão priorida<strong>de</strong> a terem<br />

um <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água melhora<strong>do</strong>. Tal po<strong>de</strong>ria ser resolvi<strong>do</strong> melhoran<strong>do</strong> o PEC e pela<br />

capacida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s parceiros <strong>de</strong> melhorarem a compreensão que a comunida<strong>de</strong> tem <strong>do</strong> seu<br />

papel e responsabilida<strong>de</strong>s na manutenção das instalações com o passar <strong>do</strong> tempo, bem<br />

como da importância <strong>de</strong> um <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água melhora<strong>do</strong>.<br />

Sobre os <strong>de</strong>safios nas comunida<strong>de</strong>s em relação ao financiamento<br />

“Nós não queremos poupar dinheiro mensalmente porque, se o <strong>de</strong>rmos a uma pessoa ele<br />

po<strong>de</strong>rá gastá-lo em bebida” (Membro da comunida<strong>de</strong>, Tamica, Nipepe)<br />

“Nós não compreen<strong>de</strong>mos a contribuição mensal, mas se o ponto <strong>de</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água<br />

se avariar, nós conseguimos contribuir. Temos dinheiro disponível.” (Membro da comunida<strong>de</strong>,<br />

Tamica, Nipepe)<br />

“O comité da água nunca nos disse quan<strong>do</strong> dinheiro nós temos, eles só guardam o dinheiro.”<br />

(Membro da comunida<strong>de</strong>, Bairro 2, Maúa)<br />

“Eu tenho uma lista das pessoas que contribuíram e eu escrevo os nomes das pessoas quan<strong>do</strong><br />

elas contribuem. Não há nenhuma contribuição regular, as pessoas só dão o que po<strong>de</strong>m.”<br />

(Membro <strong>do</strong> comité da água, Mapaco, Lichinga)<br />

Sobre a confusão <strong>do</strong> uso e da finalida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s custos <strong>de</strong> capital<br />

“Nós pagámos 1000 meticais para custos <strong>de</strong> capital, portanto isto <strong>de</strong>veria cobrir os custos <strong>de</strong><br />

reparar o ponto <strong>de</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água.” (Membro da comunida<strong>de</strong>, Cuvir, Metarica)<br />

“Os custos <strong>de</strong> capital têm a ver com o chefe da comunida<strong>de</strong> e este dinheiro é para<br />

manutenção.” (Membro da comunida<strong>de</strong>, Maunda, Mecanhelas)<br />

“Os custos <strong>de</strong> capital são para garantir a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> dum ponto <strong>de</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong><br />

água mas temos que esclarecer a <strong>de</strong>finição e assegurar que to<strong>do</strong>s vão a<strong>de</strong>rir a eles.”<br />

(Representante <strong>do</strong> Governo)<br />

“Parceiros ou governos <strong>de</strong>veriam recolher este dinheiro (custos <strong>de</strong> capital) das comunida<strong>de</strong>s,<br />

pois ele dá-lhes valor e sentimento <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong>, e <strong>de</strong>pois uma associação po<strong>de</strong>ria usar este<br />

dinheiro para comprar peças <strong>sobre</strong>ssalentes e vendê-las <strong>de</strong> volta.” (Pessoal da WaterAid)<br />

24 <strong>Estu<strong>do</strong></strong> <strong>sobre</strong> a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural na Província <strong>do</strong> Niassa, Moçambique


3.3 Apoio externo<br />

Secção 3 –<br />

A necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> apoio técnico externo às comunida<strong>de</strong>s, incluin<strong>do</strong> peças <strong>sobre</strong>ssalentes, foi<br />

sugerida na discussão e é evi<strong>de</strong>nte a partir das experiências das comunida<strong>de</strong>s. A capacida<strong>de</strong><br />

técnica das comunida<strong>de</strong>s variava significativamente. Nalgumas comunida<strong>de</strong>s, eles tinham<br />

si<strong>do</strong> incapazes <strong>de</strong> reparar os seus pontos <strong>de</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água porque, por exemplo,<br />

as pessoas com capacida<strong>de</strong> técnica haviam <strong>de</strong>ixa<strong>do</strong> a comunida<strong>de</strong>, ou estavam à espera<br />

<strong>de</strong> apoio técnico <strong>do</strong> governo ou <strong>de</strong> ONGs parceiras locais para fazer as reparações mais<br />

complicadas. Noutras comunida<strong>de</strong>s, certos comités <strong>de</strong> água tinham repara<strong>do</strong> com êxito os<br />

pontos <strong>de</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água usan<strong>do</strong> a sua própria capacida<strong>de</strong> técnica.<br />

Em vários casos, estas dificulda<strong>de</strong>s foram agravadas pela falta <strong>de</strong> peças <strong>sobre</strong>ssalentes para<br />

executar as reparações. Uma comunida<strong>de</strong> muito perto da se<strong>de</strong> <strong>do</strong> distrito tinha consegui<strong>do</strong><br />

obter peças <strong>do</strong>s SDPI. Outros usaram peças <strong>sobre</strong>ssalentes <strong>do</strong> kit inicial recebi<strong>do</strong> após a<br />

construção <strong>de</strong> um ponto <strong>de</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água. Embora a maioria das comunida<strong>de</strong>s<br />

soubesse on<strong>de</strong> as comprar, por exemplo, nas principais cida<strong>de</strong>s da província <strong>de</strong> Niassa,<br />

como Lichinga e Cuamba, não há peças <strong>sobre</strong>ssalentes imediatamente disponíveis em cada<br />

distrito. Mesmo aqueles que tinham consegui<strong>do</strong> obter peças sublinharam as dificulda<strong>de</strong>s<br />

com as gran<strong>de</strong>s distâncias no Niassa, afectan<strong>do</strong> a procura e compra <strong>de</strong> peças <strong>sobre</strong>ssalentes.<br />

Por exemplo, são 548 km <strong>do</strong> distrito <strong>de</strong> Nipepe a Lichinga, a capital <strong>do</strong> Niassa, o local mais<br />

próximo para obter peças <strong>sobre</strong>ssalentes (Breslin, 2003). Devi<strong>do</strong> a estas distâncias, eles<br />

precisam também <strong>de</strong> dinheiro para alimentação e hospedagem por uma noite. Apenas uma<br />

comunida<strong>de</strong> conhecia o custo das peças <strong>de</strong> <strong>sobre</strong>ssalentes, porque tinham uma lista <strong>de</strong> preços.<br />

Para se resolverem estas questões, chamou-se a atenção para <strong>do</strong>is factores. O primeiro foi<br />

a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> apoio técnico (hardware) externo através <strong>de</strong> um distrito ou mecânico local.<br />

Houve porém questões a respeito <strong>do</strong> nível <strong>de</strong>sse mecânico, isto é, se seria <strong>do</strong> nível distrital<br />

para trabalhar junto com o governo distrital, ou se teria a sua base nas actuais estruturas<br />

políticas locais. Esses mecânicos seriam responsáveis por prestar apoio às comunida<strong>de</strong>s<br />

com reparações que elas não fossem capazes <strong>de</strong> fazer e as comunida<strong>de</strong>s por sua vez, pagarlhes-iam.<br />

Eles iriam trabalhar em estreita colaboração com os comités <strong>de</strong> água para garantir<br />

o sentimento <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> <strong>do</strong> ponto <strong>de</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água por parte da comunida<strong>de</strong><br />

e, através <strong>do</strong>s comités <strong>de</strong> água, as comunida<strong>de</strong>s po<strong>de</strong>riam gerar fun<strong>do</strong>s suficientes para<br />

pagar as reparações necessárias. Depen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> <strong>do</strong> seu nível <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong>, o mecânico<br />

po<strong>de</strong>ria trabalhar em estreita colaboração com o governo local e ser monitora<strong>do</strong> por eles.<br />

O segun<strong>do</strong> factor importante foi a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> acesso a peças <strong>sobre</strong>ssalentes. Tem que<br />

existir uma ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> fornecimento externa para garantir a disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> peças<br />

<strong>sobre</strong>ssalentes em to<strong>do</strong> o país e, finalmente, para se obter um serviço dura<strong>do</strong>uro. Alguns<br />

<strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s propuseram a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> uma Organização Comunitária <strong>de</strong> Base (OCB) ou <strong>de</strong><br />

um indivíduo contrata<strong>do</strong> pelo governo ven<strong>de</strong>rem peças <strong>sobre</strong>ssalentes, e uma organização<br />

parceira afirmou ainda que eles po<strong>de</strong>riam ven<strong>de</strong>r peças <strong>sobre</strong>ssalentes. No entanto, quase<br />

to<strong>do</strong>s se queixaram que já foram tentadas tantas abordagens diferentes e fracassaram, por<br />

ex., o sector priva<strong>do</strong>, e que o governo <strong>de</strong>ve agora tomar iniciativa e assumir a responsabilida<strong>de</strong>.<br />

Relaciona<strong>do</strong> com isto, foram levantadas questões a respeito <strong>de</strong> quem iria distribuir, e quem<br />

tem a responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> distribuir peças <strong>sobre</strong>ssalentes? Quase to<strong>do</strong>s os representantes<br />

<strong>do</strong> governo disseram que não têm financiamento para peças <strong>sobre</strong>ssalentes, mas que<br />

po<strong>de</strong>riam experimentar uma abordagem se a WaterAid disponibilizasse o financiamento.<br />

Foi sugerida a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r com os méto<strong>do</strong>s <strong>de</strong> distribuição <strong>de</strong> outros sectores,<br />

como o sector da saú<strong>de</strong> e a sua distribuição <strong>de</strong> medicamentos.<br />

<strong>Estu<strong>do</strong></strong> <strong>sobre</strong> a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural na Província <strong>do</strong> Niassa, Moçambique<br />

25


Secção 3 –<br />

Sobre i<strong>de</strong>ias para apoio técnico externo<br />

“Não é possível nem realístico esperar que a comunida<strong>de</strong> sozinha seja capaz <strong>de</strong> manter o<br />

ponto <strong>de</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água. Temos que pensar mo<strong>de</strong>los novos.” (Pessoal da WaterAid)<br />

“Po<strong>de</strong>ríamos dar-lhes (representantes nas localida<strong>de</strong>s a nível das comunida<strong>de</strong>s) a<br />

responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> monitorar a situação da água em conjunto com o seu monitoramento<br />

mensal. Eles não teriam que ser pagos, uma vez que já recebem um salário. Talvez pu<strong>de</strong>ssem<br />

receber uma motorizada e a gasolina como apoio, e davam às comunida<strong>de</strong>s o apoio técnico e<br />

orientavam-nas para saberem on<strong>de</strong> encontrar <strong>sobre</strong>ssalentes.” (Local Representante <strong>do</strong> Governo)<br />

Evidência a favor <strong>do</strong> mecânico <strong>de</strong> nível distrital<br />

No Distrito <strong>de</strong> Sanga havia um mecânico distrital que trabalhou em estreita colaboração com o<br />

governo local a nível distrital, isto é, com o Director <strong>do</strong>s Serviços Distritais <strong>de</strong> Planificação e<br />

Infraestruturas (DSDPI). O director <strong>do</strong> SDPI treinou-o tecnicamente e trabalharam juntos durante<br />

mais <strong>de</strong> cinco anos, fornecen<strong>do</strong> apoio técnico às comunida<strong>de</strong>s, executan<strong>do</strong> reparações; ele<br />

também treina e dá apoio a comités da água. Como resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> seu trabalho, eles têm muito<br />

poucos problemas com o <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural em termos <strong>de</strong> <strong>de</strong>safios técnicos. As<br />

comunida<strong>de</strong>s conhecem-no bem e contactam-no directamente para ajuda, ou através <strong>do</strong> SDPI,<br />

e sabem que têm que pagar o seu transporte e o custo das peças <strong>sobre</strong>ssalentes. Ele tem bom<br />

contacto com as comunida<strong>de</strong>s e é bem respeita<strong>do</strong>. Ele tem muito boa relação <strong>de</strong> trabalho com o<br />

governo e por isso o governo monitora o seu trabalho. O problema, que ele mesmo <strong>de</strong>clarou, foi<br />

que o seu trabalho é voluntário e não recebe um salário, e por isso não tinha a certeza quanto<br />

tempo iria continuar a fazê-lo. Para garantir a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> seu próprio trabalho, ele gostaria<br />

<strong>de</strong> se registar como associação, para po<strong>de</strong>r receber um salário e continuar a trabalhar no futuro.<br />

Sobre o <strong>de</strong>safio da disponibilida<strong>de</strong> das peças <strong>sobre</strong>ssalentes e da<br />

responsabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> governo<br />

“Nós temos uma lista <strong>do</strong>s preços das peças <strong>sobre</strong>ssalentes e então quan<strong>do</strong> há avarias, nós,<br />

o comité, olhamos a lista e pedimos o dinheiro à comunida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>pois arranjarmos a peça e<br />

mostramos o recibo à comunida<strong>de</strong>.” (Mepapa, Mandimba)<br />

“Não há peças <strong>sobre</strong>ssalentes e não há nenhum lugar para as comprar. É muito caro para a<br />

comunida<strong>de</strong> ir daqui (Distrito <strong>de</strong> Sanga) a Lichinga para comprar peças, por ser longe e o<br />

transporte ser caro. Não há solução, já pedimos peças <strong>sobre</strong>ssalentes muitas vezes ao governo<br />

(Direcção Nacional <strong>de</strong> Água) e eles não querem dar-nos orçamento nenhum, porque dizem que<br />

não têm dinheiro.” (Representante <strong>do</strong> Governo)<br />

“A responsabilida<strong>de</strong> das peças <strong>sobre</strong>ssalentes é <strong>do</strong> governo. O governo <strong>de</strong>via poupar o<br />

dinheiro <strong>de</strong>sperdiça<strong>do</strong> em reparar pontos <strong>de</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água para melhorar a situação<br />

das peças <strong>sobre</strong>ssalentes. Se o sector priva<strong>do</strong> não ven<strong>de</strong>r peças <strong>sobre</strong>ssalentes, a WaterAid<br />

<strong>de</strong>ve pôr pressão no governo. O papel da WaterAid: advogar pela situação no campo, encontrar<br />

a solução para as peças <strong>sobre</strong>ssalentes e pressionar o governo para encontrar soluções.”<br />

(Representante <strong>do</strong> Governo)<br />

“A WaterAid podia trabalhar com o governo num distrito para financiar um projecto piloto <strong>de</strong><br />

peças <strong>sobre</strong>ssalentes, em vez <strong>de</strong> um furo no próximo ano. O dinheiro reserva<strong>do</strong> podia ser<br />

usa<strong>do</strong> para financiar um indivíduo que trabalhasse junto com o governo distrital, para obter<br />

uma quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> peças para começar, e as ven<strong>de</strong>r às comunida<strong>de</strong>s, e usar o lucro para<br />

comprar mais. A pessoa teria que aceitar que não vai trabalhar para o lucro e teria que ser<br />

monitorada pelo governo.” (Pessoal da WaterAid)<br />

26 <strong>Estu<strong>do</strong></strong> <strong>sobre</strong> a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural na Província <strong>do</strong> Niassa, Moçambique


3.4 Implementação da política<br />

Secção 3 –<br />

“Nós tentámos tantas abordagens diferentes – a questão chave é <strong>de</strong> quem é a<br />

responsabilida<strong>de</strong>? Comprimi<strong>do</strong>s e remédios são tão fáceis <strong>de</strong> obter. O sector precisa <strong>de</strong> avançar<br />

e pensar seriamente <strong>sobre</strong> as peças <strong>sobre</strong>ssalentes, e ser mais pareci<strong>do</strong> com outros sectores,<br />

por ex., a saú<strong>de</strong> e a distribuição <strong>de</strong> medicamentos, etc – o que po<strong>de</strong>mos apren<strong>de</strong>r <strong>de</strong> outros<br />

sectores?” (Representante <strong>do</strong> Governo)<br />

O factor crucial para melhorar a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong>, menciona<strong>do</strong> por to<strong>do</strong>s os entrevista<strong>do</strong>s<br />

(governo, parceiros e pessoal da WaterAid), foi a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> a WaterAid, através da<br />

advocacia e criação da capacida<strong>de</strong>, melhorar a capacida<strong>de</strong> operacional e a implementação<br />

da Política da Água e seus respectivos regulamentos. Os entrevista<strong>do</strong>s afirmaram que, na<br />

teoria, ela é uma política muito boa, que incorpora os princípios chave necessários para se<br />

conseguir uma <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> efectiva <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural.<br />

No entanto, não está a ser respeitada e implementada em todas as áreas <strong>do</strong> governo. Vários<br />

entrevista<strong>do</strong>s <strong>do</strong> governo admitiram não saber os actuais níveis <strong>de</strong> efectivida<strong>de</strong> nos seus<br />

distritos, e muito menos o número total <strong>de</strong> pontos <strong>de</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água. Isto sugere<br />

que o necessário monitoramento <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural não está sen<strong>do</strong> feito <strong>de</strong><br />

forma a garantir a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> através da reparação e reabilitação. Além disso, muitos<br />

questionaram se o governo tem as necessárias competências, conhecimentos e<br />

entendimento a to<strong>do</strong>s os níveis para pôr a política em prática.<br />

Também foram levantadas questões <strong>sobre</strong> a coor<strong>de</strong>nação <strong>do</strong> sector e a falta <strong>de</strong> planificação<br />

conjunta. A WaterAid já tem uma boa e estreita relação <strong>de</strong> trabalho com o governo distrital e<br />

provincial no Niassa, bem como a nível nacional. Foi sugeri<strong>do</strong> que a WaterAid <strong>de</strong>veria<br />

aproveitar isso e reflectir <strong>sobre</strong> a sua própria experiência <strong>de</strong> sucesso no trabalho com o<br />

governo nos últimos 15 anos, para o encorajar a a<strong>de</strong>rir à Política da Água e seus respectivos<br />

regulamentos. Por exemplo, para garantir que o seu plano seja basea<strong>do</strong> na necessida<strong>de</strong>, isto<br />

é, uma planificação guiada pela procura, e também para melhorar a compreensão <strong>do</strong><br />

governo das questões em torno da <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural. Tu<strong>do</strong><br />

isso po<strong>de</strong>ria ser possível, foi sugeri<strong>do</strong>, pela WaterAid se <strong>de</strong>senvolvesse uma estratégia clara<br />

e simples para trabalhar com o governo a diferentes níveis e localida<strong>de</strong>s em Moçambique.<br />

Sobre o conhecimento, a compreensão, a prática e a capacida<strong>de</strong> <strong>do</strong> governo<br />

“Nós temos uma política nacional muito boa, o problema é que não tem si<strong>do</strong> disseminada<br />

como <strong>de</strong>ve ser, por isso as pessoas nos diferentes níveis não conhecem as suas funções e<br />

responsabilida<strong>de</strong>s.” (Representante <strong>do</strong> Governo)<br />

“O <strong>de</strong>safio é que, quan<strong>do</strong> os SDPI iniciam um novo projecto, eles não consi<strong>de</strong>ram a água como<br />

uma infraestrutura diferente das outras, eles tratam a água da mesma maneira que construir<br />

uma estrada. Eles não compreen<strong>de</strong>m a água tão profundamente como compreen<strong>de</strong>m a<br />

construção <strong>de</strong> estradas. O <strong>de</strong>safio <strong>do</strong> trabalho com os projectos <strong>de</strong> água é que eles <strong>de</strong>moram<br />

muito tempo, e o governo não tem tempo, então como se po<strong>de</strong> garantir a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong>s<br />

projectos?” (Pessoal <strong>do</strong> parceiro)<br />

<strong>Estu<strong>do</strong></strong> <strong>sobre</strong> a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural na Província <strong>do</strong> Niassa, Moçambique<br />

27


Secção 3 –<br />

“Os SDPI às vezes não sabem o número exacto <strong>de</strong> pontos <strong>de</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água a<br />

funcionar, sem funcionar, que existem, ou avaria<strong>do</strong>s. Isto é um problema que afecta a<br />

planificação. O Governo tem que se responsabilizar por saber quantos pontos <strong>de</strong><br />

<strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água estão nos seus distritos, quais estão a funcionar, quais precisam<br />

reabilitação e <strong>de</strong>sta maneira eles po<strong>de</strong>riam até poupar dinheiro. Eles têm que fazer isto e<br />

incorporar isto na sua planificação e a WaterAid podia apoiá-lo no início. No entanto, para<br />

assegurar a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong>, eles precisam <strong>de</strong> pegar nisto eles próprios.” (Pessoal da<br />

WaterAid)<br />

“Temos que pensar na capacida<strong>de</strong>, e quem está nos SDPI? A WaterAid <strong>de</strong>via estar preocupada<br />

com os Recursos Humanos e a capacida<strong>de</strong> nos distritos, ver quais são os problemas a nível<br />

distrital e trabalhar com eles.” (Representante <strong>do</strong> Governo)<br />

Sobre a coor<strong>de</strong>nação <strong>do</strong> sector<br />

“Há muitas maneiras diferentes <strong>de</strong> um ponto <strong>de</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água aparecer numa<br />

comunida<strong>de</strong>: governo, WaterAid, outro programa, etc, por isso, nalguns casos ninguém é<br />

responsável por tomar conta <strong>do</strong> ponto <strong>de</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água e <strong>de</strong>safios, uma vez<br />

avaria<strong>do</strong>, falta o sentimento <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> e procura.” (Pessoal <strong>do</strong> parceiro)<br />

“Às vezes, quan<strong>do</strong> há uma campanha política, po<strong>de</strong> haver um <strong>de</strong>safio em que o governo irá pôr<br />

um ponto <strong>de</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água e a comunida<strong>de</strong> pergunta quanto e os políticos dizem que<br />

é <strong>de</strong> graça, ou têm que pagar uma pequena quantia, por isso nalguns casos as comunida<strong>de</strong>s<br />

não contribuem, o que po<strong>de</strong> resultar em falta <strong>de</strong> sentimento <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> e <strong>de</strong> motivação<br />

para tomar conta <strong>do</strong> ponto <strong>de</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água.” (Pessoal <strong>do</strong> parceiro)<br />

“Há um <strong>de</strong>safio com pessoas diferentes a trabalhar nos projectos num distrito, que usam<br />

princípios diferentes, e que não sabem que há outros que já estão lá a trabalhar. O governo tem<br />

a responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nar o sector para evitar estes problemas. Mas o <strong>de</strong>safio é que<br />

eles não estão a cumprir o seu papel e há falta <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nação.” (Pessoal <strong>do</strong> parceiro)<br />

“Temos que <strong>de</strong>finir claramente o papel <strong>de</strong> cada interessa<strong>do</strong> (governo, WaterAid, OCBs,<br />

comunida<strong>de</strong>s) porque muitas vezes o governo só vê os projectos <strong>de</strong> água em termos <strong>de</strong><br />

ONGs.” (Pessoal da WaterAid)<br />

3.5 Conclusão das constatações<br />

To<strong>do</strong>s os entrevista<strong>do</strong>s afirmaram que, para melhorar a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong><br />

<strong>de</strong> água rural, to<strong>do</strong>s os factores acima <strong>de</strong>vem ser tratadas com igual importância e têm que<br />

ser trata<strong>do</strong>s simultaneamente. Trabalhar num factor isola<strong>do</strong> não irá resultar em serviços<br />

sustentáveis. As inconsistências e variações observadas <strong>de</strong>ntro das comunida<strong>de</strong>s, as<br />

questões levantadas nas discussões e as dúvidas <strong>sobre</strong> a capacida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s interessa<strong>do</strong>s<br />

provam a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalhar em to<strong>do</strong>s os componentes. Dada ainda a complexida<strong>de</strong><br />

da <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong>, tão evi<strong>de</strong>nte na análise da literatura, somente através da interligação<br />

<strong>de</strong> to<strong>do</strong>s esses factores, e <strong>de</strong> os pôr em prática em conjunto, será possível ultrapassar os<br />

<strong>de</strong>safios da <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural. A discussão que se segue<br />

<strong>de</strong>fine como e porque esses factores <strong>de</strong>vem ser implementadas num esforço conjunto para<br />

atingir serviços dura<strong>do</strong>uros com o passar <strong>do</strong> tempo.<br />

28 <strong>Estu<strong>do</strong></strong> <strong>sobre</strong> a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural na Província <strong>do</strong> Niassa, Moçambique


Secção 4<br />

Discussão<br />

A partir <strong>de</strong> discussões com as partes interessadas, ficou muito claro que a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong><br />

<strong>do</strong>s serviços <strong>de</strong> água rural só será alcançada através da implementação e interligação <strong>de</strong><br />

to<strong>do</strong>s os factores acima menciona<strong>do</strong>s. Não há um factor único em particular que possa<br />

superar os <strong>de</strong>safios, será necessário trabalhar em todas as áreas i<strong>de</strong>ntificadas nas<br />

constatações. A questão é, como e porque <strong>de</strong>vem esses componentes encaixar-se em<br />

conjunto, para melhorar a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural? Isso está<br />

representa<strong>do</strong> no diagrama abaixo e é explora<strong>do</strong> nesta discussão.<br />

Figura 2 Mo<strong>de</strong>lo conceitual para mostrar como os vários factores chave i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong>s no<br />

estu<strong>do</strong> se encaixam para ultrapassar os <strong>de</strong>safios da <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong><br />

<strong>de</strong> água rural<br />

Política<br />

Capacida<strong>de</strong><br />

Mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><br />

Gestão<br />

da Comunida<strong>de</strong><br />

Apoio Externo<br />

Section 4 – Discussion<br />

<strong>Estu<strong>do</strong></strong> <strong>sobre</strong> a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural na Província <strong>do</strong> Niassa, Moçambique<br />

29


Secção 4 – Discussão<br />

Como foi discuti<strong>do</strong> anteriormente, os factores chave apresenta<strong>do</strong>s nas constatações po<strong>de</strong>m<br />

ser dividi<strong>do</strong>s em quatro áreas principais:<br />

Política<br />

Capacida<strong>de</strong><br />

Mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> gestão comunitária incluin<strong>do</strong> os comités da água<br />

Apoio externo<br />

O mo<strong>de</strong>lo conceptual acima representa a forma como essas quatro áreas se encaixam para<br />

alcançar a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural. A Implementação da Política<br />

e a capacida<strong>de</strong> operacional situam-se no círculo externo <strong>do</strong> mo<strong>de</strong>lo, pois criam o<br />

enquadramento para a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural num país. Isto é<br />

possível através <strong>do</strong>s quadros institucionais, leis, orçamentos e quadros regulamentares.<br />

A sua importância foi sublinhada pelos entrevista<strong>do</strong>s neste estu<strong>do</strong> (governo local, parceiros<br />

– ONGs locais, pessoal da WaterAid). Dentro <strong>de</strong>sta área da política, são aborda<strong>do</strong>s outros<br />

factores chave, incluin<strong>do</strong> a divulgação da política e <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os seus regulamentos,<br />

a implementação <strong>de</strong> uma Abordagem <strong>de</strong> Resposta à Procura, a coor<strong>de</strong>nação <strong>do</strong> sector,<br />

a planificação eficaz, peças <strong>sobre</strong>ssalentes e <strong>de</strong>finição <strong>do</strong>s custos <strong>de</strong> capital.<br />

A Capacida<strong>de</strong> forma o primeiro círculo interior <strong>do</strong> mo<strong>de</strong>lo, pois a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong><br />

<strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural exige uma capacida<strong>de</strong> efectiva <strong>de</strong> todas as partes interessadas<br />

envolvidas na prestação <strong>de</strong> serviços . A Política <strong>de</strong>fine as necessárias funções e<br />

responsabilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> todas as partes interessadas envolvidas. Por sua vez, eficazmente<br />

implementada, a política e a capacida<strong>de</strong> operacional adaptam e informam a necessária<br />

capacida<strong>de</strong> das partes interessadas, incluin<strong>do</strong> o governo, os parceiros e ONGs em to<strong>do</strong> o sector,<br />

para a implementação <strong>de</strong> uma melhor <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural. A<br />

capacida<strong>de</strong> trata questões <strong>de</strong> conhecimento, entendimento e competências <strong>do</strong> governo, a<br />

capacida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s parceiros e a eficácia <strong>do</strong> PEC.<br />

Quan<strong>do</strong> combinadas, estas áreas <strong>de</strong> política e capacida<strong>de</strong> eficazes irão estruturar, formar<br />

e possibilitar fortes mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> gestão comunitária, tais como comités <strong>de</strong> água, que estão<br />

localiza<strong>do</strong>s no centro <strong>do</strong> mo<strong>de</strong>lo, e abrangem a capacida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s comités <strong>de</strong> água. No<br />

entanto, a julgar das constatações e evidência na análise da literatura, esses mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong><br />

gestão comunitária precisam <strong>de</strong> apoio externo constante. Isso é representa<strong>do</strong> no centro <strong>do</strong><br />

mo<strong>de</strong>lo também, porque, com o passar <strong>do</strong> tempo, ele será exigi<strong>do</strong> pela eficácia <strong>do</strong> mo<strong>de</strong>lo<br />

<strong>de</strong> gestão da comunida<strong>de</strong>, e será possibilita<strong>do</strong> pelas obrigações estabelecidas na política e<br />

pela capacida<strong>de</strong> das partes interessadas. Estas inter-ligações explicam como e porque estes<br />

componentes chaves <strong>de</strong>vem trabalhar juntos para se atingir um <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural<br />

sustentável, e são discuti<strong>do</strong>s em maior <strong>de</strong>talhe abaixo.<br />

4.1 A Política<br />

A partir das constatações, é evi<strong>de</strong>nte que a melhor aplicação da Política da Água e <strong>do</strong>s seus<br />

respectivos regulamentos é um aspecto central para a resolução das questões <strong>de</strong><br />

<strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural. Como política fundamental que molda e<br />

possibilita a provisão dura<strong>do</strong>ura <strong>de</strong> água rural em Moçambique, baseada nas suas leis e<br />

obrigações, ela situa-se no círculo exterior no mo<strong>de</strong>lo conceptual (Figura <strong>do</strong>is). Só quan<strong>do</strong><br />

ela estiver clara e eficazmente em operação, e incorporada na prática <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os interessa<strong>do</strong>s,<br />

é que será alcançada a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> das instalações <strong>de</strong> água rural. Os entrevista<strong>do</strong>s<br />

neste estu<strong>do</strong> questionaram até que ponto ela foi posta em prática até ao momento.<br />

Até agora, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a variações nas abordagens e da capacida<strong>de</strong> <strong>do</strong> governo, a Política da Água<br />

não tem si<strong>do</strong> aplicada efectivamente, como é evi<strong>de</strong>nte das entrevistas. Em certos casos, o<br />

governo carece <strong>de</strong> uma profunda compreensão das complexida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> manter um<br />

30 <strong>Estu<strong>do</strong></strong> <strong>sobre</strong> a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural na Província <strong>do</strong> Niassa, Moçambique


fornecimento <strong>de</strong> água rural, conforme se viu na sua comparação entre a água rural e as<br />

estradas, por exemplo (ver secção 3.4). Breslin (2003) sugeriu que a anterior Política Nacional<br />

da Água <strong>de</strong> Moçambique estava longe <strong>de</strong> ser perfeita, tanto a nível prático como teórico. Esta<br />

ina<strong>de</strong>quação foi resolvida pelo governo nacional e resultou na nova Política da Água em 2007.<br />

Contu<strong>do</strong>, a nova política continua a salientar questões tais como a capacida<strong>de</strong> <strong>do</strong> sector que<br />

precisa ser expandida para melhorar os serviços que presta. A nova Estratégia para o País da<br />

WaterAid Moçambique (2010) também <strong>de</strong>termina a necessida<strong>de</strong> da melhoria contínua da<br />

capacida<strong>de</strong> geral da administração <strong>do</strong> distrito em planificação, implementação e<br />

monitoramento das activida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> água e saneamento. Tais críticas em conjunto reforçam a<br />

questão da capacida<strong>de</strong> institucional e das abordagens que afectam a implementação eficaz<br />

da política e, consequentemente, a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural.<br />

4.1.1 A Divulgação da Política da Água<br />

Com base nas discussões, um primeiro passo proposto seria a WaterAid apoiar o governo na<br />

ampla disseminação da Política da Água e respectivos regulamentos para to<strong>do</strong>s os<br />

interessa<strong>do</strong>s envolvi<strong>do</strong>s em projectos <strong>de</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural. Isso envolveria to<strong>do</strong>s<br />

os níveis <strong>do</strong> governo, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os administra<strong>do</strong>res distritais às localida<strong>de</strong>s, às comunida<strong>de</strong> e<br />

to<strong>do</strong>s os outros interessa<strong>do</strong>s envolvi<strong>do</strong>s. Tornar a Política da Água operacional, facilitaria<br />

isto, pois como afirma o MIPAR (2001), a administração <strong>do</strong> distrito tem a responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

disseminar a política no distrito e nas comunida<strong>de</strong>s. Sem o conhecimento das directrizes e<br />

regras nacionais, as partes interessadas que trabalham no <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural não<br />

têm conhecimento das suas obrigações, o que po<strong>de</strong> significar que o seu trabalho não<br />

assegure a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong>s serviços. A WaterAid <strong>de</strong>ve advogar para que o governo<br />

divulgue amplamente a política junto das partes interessadas e, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à actual forma <strong>de</strong><br />

trabalhar em Moçambique, com ênfase no nível distrital.<br />

4.1.2 Implementar os princípios <strong>de</strong> uma Abordagem <strong>de</strong> Resposta à Procura<br />

O princípio da procura é uma abordagem chave na Política da Água. Isto significa que as<br />

comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>vem exigir a sua vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> terem serviços <strong>de</strong> água e que o governo <strong>de</strong>ve<br />

respon<strong>de</strong>r. No entanto, os entrevista<strong>do</strong>s <strong>de</strong>clararam que esta era uma área chave em que a<br />

Política da Água nem sempre foi posta em prática. Por exemplo, os entrevista<strong>do</strong>s disseram<br />

que, durante as campanhas políticas, os políticos po<strong>de</strong>m construir instalações gratuitas,<br />

sem o necessário trabalho comunitário e educativo, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> que as comunida<strong>de</strong>s não estão<br />

equipadas para manter os serviços, e ainda menos sustentá-los. Nas comunida<strong>de</strong>s visitadas<br />

havia variações claras em termos <strong>de</strong> procura real <strong>do</strong>s serviços. Várias pessoas afirmaram<br />

que o ponto <strong>de</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água pertencia ao governo, e por isso eles <strong>de</strong>veriam<br />

repará-lo. Noutras, as pessoas eram muito motiva<strong>do</strong>s para manter o seu ponto <strong>de</strong><br />

<strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água e tinham <strong>de</strong> facto eles próprios exigi<strong>do</strong> o serviço <strong>do</strong> governo.<br />

Um factor chave que afecta a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong>s pontos <strong>de</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> Água é a<br />

maneira como eles aparecem numa comunida<strong>de</strong>. Para que se trate <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>ira procura <strong>de</strong><br />

um melhor <strong>do</strong> serviço, a participação <strong>do</strong>s beneficiários é fundamental na obtenção <strong>do</strong> ponto<br />

<strong>de</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água, para ultrapassarem os <strong>de</strong>safios <strong>de</strong> gestão no futuro (Carter,<br />

2011). Como se po<strong>de</strong> ver na Tabela um, a Política da Água dá gran<strong>de</strong> ênfase a esta questão<br />

e <strong>de</strong>clara, por exemplo, que o envolvimento das comunida<strong>de</strong>s em to<strong>do</strong> o processo <strong>de</strong><br />

fornecimento e <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural <strong>de</strong>termina a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> das infraestruturas<br />

(MIPAR, 2001). Uma outra questão levantada por um entrevista<strong>do</strong> foi que as comunida<strong>de</strong>s<br />

po<strong>de</strong>m não conhecer o seu direito <strong>de</strong> exigir, e nesse caso o governo tem a responsabilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> assegurar, criar e fortalecer a procura. Alia<strong>do</strong> a isso, é importante notar que, em certos<br />

casos, o governo não espera que haja procura para executar serviços, por exemplo, on<strong>de</strong> as<br />

comunida<strong>de</strong>s tenham uma elevada prevalência <strong>de</strong> diarreia e cólera. No entanto, a<br />

importância da procura na <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural reforça a<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> melhorar a aplicação <strong>de</strong> uma abordagem <strong>de</strong> resposta à procura.<br />

Secção 4 – Discussão<br />

<strong>Estu<strong>do</strong></strong> <strong>sobre</strong> a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural na Província <strong>do</strong> Niassa, Moçambique<br />

31


Secção 4 – Discussão<br />

A WaterAid tem que trabalhar em estreita colaboração com o governo para que ele<br />

compreenda a importância da procura para manter projectos, como especifica a Política da<br />

Água. A WaterAid po<strong>de</strong>ria usar exemplos <strong>de</strong> gestão comunitária <strong>de</strong> sucesso com base na<br />

procura por parte da comunida<strong>de</strong>, para <strong>de</strong>monstrar e trabalhar com o governo e garantir que<br />

eles estejam crian<strong>do</strong> e reforçan<strong>do</strong> a procura por parte <strong>do</strong>s utentes, <strong>de</strong> <strong>abastecimento</strong>s <strong>de</strong><br />

água que estejam perto, sejam fiáveis e <strong>de</strong> alta qualida<strong>de</strong>, (Carter, 2009).<br />

4.1.3 Coor<strong>de</strong>nação <strong>do</strong> Sector<br />

A coor<strong>de</strong>nação <strong>do</strong> sector também foi consi<strong>de</strong>rada um componente chave para a<br />

operacionalida<strong>de</strong> da Política da Água. Foram cita<strong>do</strong>s casos em que diferentes ONGs tinham<br />

trabalha<strong>do</strong> com as mesmas comunida<strong>de</strong>s, usan<strong>do</strong> diferentes princípios nos seus projectos.<br />

Num <strong>do</strong>s casos, uma ONG exigia uma contribuição pelo serviço, mas outras não. Como<br />

resulta<strong>do</strong>, a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> projecto original sofreu, porque as comunida<strong>de</strong>s já não<br />

queriam contribuir, apesar <strong>de</strong> o terem feito anteriormente durante anos. Mesmo no governo<br />

a nível distrital, foi da<strong>do</strong> um exemplo em que os administra<strong>do</strong>res tinham concorda<strong>do</strong> com um<br />

projecto para fornecer serviços <strong>de</strong> água, sem informar os SDPI. Como resulta<strong>do</strong>, o projecto<br />

sofreu sem o necessário PEC. O governo tem a responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> facilitar e coor<strong>de</strong>nar as<br />

activida<strong>de</strong>s entre os interessa<strong>do</strong>s nas suas respectivas áreas, bem como comunicar entre si<br />

e os seus próprios <strong>de</strong>partamentos. Parry-Jones et al (2001) sugerem que a limitada<br />

cooperação e confiança entre as diferentes camadas <strong>do</strong> governo afectam não só a prestação<br />

<strong>de</strong> serviços <strong>do</strong>s diferentes interessa<strong>do</strong>s e o apoio à manutenção, como também a<br />

<strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> das instalações a longo prazo.<br />

Através <strong>de</strong> activida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> advocacia, a WaterAid po<strong>de</strong> apoiar o governo para conseguir um<br />

sector coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>. Existem vários fóruns com o objectivo <strong>de</strong> melhorar a coor<strong>de</strong>nação <strong>do</strong><br />

sector <strong>de</strong> água em Moçambique. Por exemplo, o Grupo <strong>de</strong> Trabalho <strong>de</strong> Água e Saneamento<br />

(GAS), cria<strong>do</strong> pelo governo e <strong>do</strong>a<strong>do</strong>res para harmonizar a implementação e melhorar a<br />

coor<strong>de</strong>nação das iniciativas. Um méto<strong>do</strong> útil na prática, em algumas partes <strong>de</strong> Moçambique<br />

e outros programas <strong>de</strong> país da WaterAid, é a Abordagem Sectorial para melhorar a a<br />

coor<strong>de</strong>nação entre os actores nos projectos <strong>de</strong> água. Usan<strong>do</strong> fóruns existentes, tais como<br />

estes e outros nos distritos e a outros níveis relevantes <strong>do</strong> governo em que a WaterAid já<br />

participe, a WaterAid po<strong>de</strong>ria encorajar um maior ênfase no reforço da coor<strong>de</strong>nação <strong>do</strong><br />

sector <strong>sobre</strong> o tema da <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural.<br />

4.1.4 Uma planificação efectiva<br />

Como menciona<strong>do</strong> acima, os entrevista<strong>do</strong>s salientaram que o governo nem sempre planifica<br />

com base na procura por parte da comunida<strong>de</strong>. Pelo contrário, eles são motiva<strong>do</strong>s pela<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> gastar os orçamentos, e assim implementam sem que exista um senti<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

procura real.<br />

Além disso, vários representantes <strong>do</strong> Governo (DSDPI) admitiram que não sabiam quantos<br />

ponto <strong>de</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água existiam em total nas suas localida<strong>de</strong>s e quais estavam em<br />

funcionamento. Isto tem impacto na prestação <strong>de</strong> um serviço dura<strong>do</strong>uro <strong>de</strong> água rural; os<br />

pontos <strong>de</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água não po<strong>de</strong>m ser instala<strong>do</strong>s e repara<strong>do</strong>s se o governo não<br />

souber o número total <strong>de</strong> pontos <strong>de</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água, a sua localização e quantos<br />

<strong>de</strong>les estão avaria<strong>do</strong>s. A Política da Água afirma que o registo <strong>do</strong>s sistemas <strong>de</strong> infraestrutura<br />

para o <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural é uma ferramenta essencial para a planificação e gestão<br />

e <strong>de</strong>ve ser <strong>de</strong>vidamente organiza<strong>do</strong> e actualiza<strong>do</strong> regularmente. O monitoramento e<br />

necessário acompanhamento <strong>do</strong>s pontos <strong>de</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água por meio <strong>de</strong> tais<br />

sistemas é fundamental para garantir a sua <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong>, pois somente através <strong>de</strong><br />

controle é que as pessoas responsáveis pela reparação <strong>do</strong>s pontos <strong>de</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong><br />

água sabem que precisam tomar medidas para reparação das instalações.<br />

32 <strong>Estu<strong>do</strong></strong> <strong>sobre</strong> a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural na Província <strong>do</strong> Niassa, Moçambique


O trabalho <strong>de</strong> mapeamento da WaterAid em Moçambique tem aqui relevância. A WaterAid foi<br />

solicitada pelo Governo Provincial <strong>do</strong> Niassa (DPOPH) para apoiar um exercício piloto <strong>de</strong><br />

mapeamento no Distrito <strong>de</strong> Sanga, em 2004. Este estu<strong>do</strong> teve como objectivo fazer um<br />

levantamento das infraestruturas existentes para melhorar as taxas <strong>de</strong> cobertura e a<br />

planificação através da criação <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> base <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s para planificar, monitorar e<br />

avaliar as instalações a nível <strong>de</strong> distrito e, posteriormente, a nível provincial. Na continuação<br />

<strong>de</strong>ste estu<strong>do</strong> piloto foram mapea<strong>do</strong>s os outros seis distritos on<strong>de</strong> a WaterAid trabalha, e<br />

ainda outros <strong>do</strong>is na Província da Zambézia. O sucesso <strong>de</strong>sta activida<strong>de</strong> contribuiu para a<br />

criação <strong>do</strong> Sistema Nacional <strong>de</strong> Gestão da Informação <strong>do</strong> Sector da Água (SINAS) em 2006,<br />

com o objectivo <strong>de</strong> harmonizar os da<strong>do</strong>s nacionais. Porém, a evidência aqui encontrada, <strong>de</strong><br />

falta <strong>de</strong> conhecimento por parte <strong>do</strong> governo <strong>do</strong> número total <strong>de</strong> pontos <strong>de</strong> <strong>abastecimento</strong><br />

<strong>de</strong> água, põe em causa se esses mapas ou ferramentas <strong>de</strong> monitoramento estão sen<strong>do</strong><br />

utiliza<strong>do</strong>s e são actualiza<strong>do</strong>s regularmente. A falha em o fazer po<strong>de</strong> ser atribuída à falta <strong>de</strong><br />

capacida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s funcionários <strong>do</strong> governo ou à complexida<strong>de</strong> da tecnologia. A WaterAid terá<br />

que trabalhar mais estreitamente com o governo para resolver estas questões, e usar a<br />

experiência que tem, tanto <strong>de</strong> mapeamento como <strong>de</strong> advocacia, para apoiar o uso <strong>de</strong>sses<br />

sistemas e melhorar a planificação e o monitoramento. A planificação conjunta e a<br />

harmonização <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s irão melhorar a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong>.<br />

4.1.5 Definição <strong>do</strong>s custos <strong>de</strong> capital<br />

A falta <strong>de</strong> clareza e transparência <strong>sobre</strong> os custos <strong>de</strong> capital é outra razão pela qual a Política<br />

da Água <strong>de</strong>ve ser efectivamente implementada. A julgar das constatações <strong>de</strong>ste relatório,<br />

as comunida<strong>de</strong>s não sabem claramente a finalida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s custos <strong>de</strong> capital. O Governo e os<br />

parceiros também usavam os custos <strong>de</strong> capital <strong>de</strong> maneiras diferentes. Esta confusão<br />

significa que certas comunida<strong>de</strong>s não estiveram dispostas a contribuir com fun<strong>do</strong>s para<br />

reparar os pontos <strong>de</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água, em certos casos <strong>de</strong>ixan<strong>do</strong>-os num esta<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

aban<strong>do</strong>no, assim afectan<strong>do</strong> a sua <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong>.<br />

Os custos <strong>de</strong> capital estão <strong>de</strong>fini<strong>do</strong>s no MIPAR (2001), bem como na Política da Água, da<br />

seguinte maneira:<br />

‘Os utentes, <strong>de</strong>vidamente organiza<strong>do</strong>s, contribuem para a construção e<br />

reabilitação <strong>de</strong> fontes <strong>de</strong> água e garantem a cobrança <strong>de</strong> taxas que sejam<br />

suficientes pelo menos para cobrir os custos operacionais e <strong>de</strong> manutenção. O<br />

valor da contribuição inicial da comunida<strong>de</strong> para o financiamento da construção<br />

<strong>de</strong> novos poços e furos, será fixa<strong>do</strong> no mínimo <strong>de</strong> 2% e máximo <strong>de</strong> 5% <strong>do</strong> custo<br />

médio <strong>do</strong> ponto <strong>de</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água. No caso da reabilitação, os valores<br />

serão <strong>de</strong> 2% e 10% respectivamente.’<br />

Esta <strong>de</strong>finição <strong>de</strong>ve ser respeitada e claramente explicada às comunida<strong>de</strong>s pelos<br />

interessa<strong>do</strong>s, para que elas compreendam porque estão contribuin<strong>do</strong>. O Governo tem a<br />

responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> assegurar que to<strong>do</strong>s os interessa<strong>do</strong>s estejam a cumprir o padrão<br />

nacional. A finalida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s custos <strong>de</strong> capital, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com Deverill et al (2002, em Harvey<br />

e Reed, 2004), é dar um sentimento <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong>, mostrar a procura e <strong>de</strong>monstrar a<br />

capacida<strong>de</strong> das comunida<strong>de</strong>s para organizar e recolher os pagamentos, sem os quais a<br />

<strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> das instalações rurais será afectada. Por isso a WaterAid <strong>de</strong>ve apoiar a<br />

implementação efectiva da Política da Água, a fim <strong>de</strong> evitar confusão no seio das<br />

comunida<strong>de</strong>s, e as mensagens contraditórias.<br />

Secção 4 – Discussão<br />

A study into rural water supply sustainability in Niassa province, Mozambique (August, 2010)<br />

33


Secção 4 – Discussão<br />

4.1.6 A disponibilida<strong>de</strong> das peças <strong>sobre</strong>ssalentes<br />

O <strong>de</strong>safio da disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> peças <strong>sobre</strong>ssalentes foi menciona<strong>do</strong> por to<strong>do</strong>s os<br />

entrevista<strong>do</strong>s. É outro bom exemplo <strong>de</strong> que a Política da Água não foi posta em prática<br />

<strong>de</strong> forma eficaz. A evidência nas comunida<strong>de</strong>s revelou que as peças <strong>sobre</strong>ssalentes não<br />

estavam facilmente disponíveis a nível distrital, apesar <strong>de</strong> as comunida<strong>de</strong>s saberem on<strong>de</strong> as<br />

comprar. Poucas comunida<strong>de</strong>s as tinham obti<strong>do</strong> com êxito, e queixaram-se <strong>sobre</strong> os <strong>de</strong>safios<br />

<strong>de</strong> viajar longas distâncias (por ex., 500 km) para as obter e <strong>sobre</strong> as <strong>de</strong>spesas incorridas<br />

com o alojamento para a noite e a alimentação, bem como o custo das peças, se as<br />

conseguirem encontrar.<br />

A questão das peças <strong>sobre</strong>ssalentes é bem conhecida em toda a literatura da<br />

<strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong>. Como observa<strong>do</strong> na análise da literatura, a qualida<strong>de</strong>, disponibilida<strong>de</strong><br />

e distribuição <strong>de</strong> peças <strong>sobre</strong>ssalentes não é <strong>de</strong>vidamente tratada no contexto <strong>do</strong>s quadros<br />

<strong>do</strong>s projectos (Parry-Jones et al, 2001). A Política da Água também reconhece este <strong>de</strong>safio<br />

e afirma que o governo incentiva a criação <strong>de</strong> uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> comercialização <strong>de</strong> bombas e<br />

suas peças <strong>sobre</strong>ssalentes a nível distrital, provincial e local. A nível <strong>de</strong> distrito, por ex.,<br />

a administração <strong>do</strong> distrito <strong>de</strong>ve fazer um censo <strong>do</strong> estoque e da utilização <strong>de</strong> peças<br />

<strong>sobre</strong>ssalentes para garantir a operação e a manutenção <strong>do</strong>s pontos <strong>de</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong><br />

água existentes (MIPAR, 2001). O <strong>de</strong>safio da disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> peças <strong>sobre</strong>ssalentes<br />

<strong>de</strong>veria ser resolvi<strong>do</strong> através da efectiva implementação e operação da Política da Água,<br />

porém a evidência, como se mostra acima, põe em causa até que ponto essa está realmente<br />

a acontecer.<br />

A WaterAid <strong>de</strong>veria usar a sua actual forma <strong>de</strong> trabalhar no Niassa, através <strong>de</strong> administrações<br />

municipais, para trabalhar com o governo, incluin<strong>do</strong> o SDPI, <strong>sobre</strong> a questão das peças<br />

<strong>sobre</strong>ssalentes. É preciso dar o exemplo através <strong>de</strong> projectos piloto e, com base na sua<br />

estreita relação <strong>de</strong> trabalho com o governo <strong>do</strong> distrito e a sua experiência piloto, <strong>de</strong>senvolver<br />

mo<strong>de</strong>los inova<strong>do</strong>res e a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>s para que as peças <strong>sobre</strong>ssalentes se tornem disponíveis a<br />

nível distrital. No entanto, to<strong>do</strong>s os Representantes <strong>do</strong> Governo entrevista<strong>do</strong>s <strong>de</strong>clararam<br />

não disporem <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>s suficientes para explorar novas abordagens e resolver o dilema das<br />

peças <strong>sobre</strong>ssalentes. Uma rápida vitória para convencer o governo <strong>de</strong>ssa necessida<strong>de</strong> seria<br />

um mo<strong>de</strong>lo que mostrasse que as peças <strong>sobre</strong>ssalentes lhes po<strong>de</strong>riam poupar o dinheiro<br />

das caras reabilitações. A implementação da Política da Água po<strong>de</strong>ria ser usada como ponto<br />

<strong>de</strong> entrada para trabalhar com o governo e incentivá-lo a encontrar mo<strong>de</strong>los rentáveis, e<br />

portanto reduzir o número <strong>de</strong> pontos <strong>de</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água sem funcionar, por as peças<br />

<strong>sobre</strong>ssalentes se terem torna<strong>do</strong> fácil e prontamente disponíveis nos distritos.<br />

Para abordar esta complexa questão, muitos <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s sublinharam a necessida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r com os sucessos <strong>de</strong> distribuição <strong>de</strong> outros sectores. O sector da saú<strong>de</strong> foi<br />

<strong>de</strong>staca<strong>do</strong>, por os medicamentos estarem tão facilmente disponíveis em to<strong>do</strong> o país. O que<br />

po<strong>de</strong> o sector <strong>de</strong> água rural apren<strong>de</strong>r com os seus méto<strong>do</strong>s <strong>de</strong> distribuição, para os aplicar<br />

às peças <strong>de</strong> reposição? Os comprova<strong>do</strong>s benefícios para a saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> um melhor<br />

<strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água (Carter et al, 2010) tornam ainda mais lógico trabalhar mais<br />

estreitamente com o sector <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. A WaterAid po<strong>de</strong>ria aproveitar as suas boas ligações<br />

com <strong>de</strong>partamentos governamentais como a Direcção Nacional <strong>de</strong> Águas (DNA) para colocar<br />

isso em prática. Desenvolven<strong>do</strong> esta i<strong>de</strong>ia, a WaterAid po<strong>de</strong>ria trabalhar em estreita<br />

colaboração com os <strong>de</strong>partamentos governamentais relevantes e pilotar a ligação entre a<br />

disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> peças <strong>sobre</strong>ssalentes com a distribuição <strong>de</strong> medicamentos, por exemplo,<br />

partilhan<strong>do</strong> ca<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> distribuição.<br />

34 A study into rural water supply sustainability in Niassa province, Mozambique (August, 2010)


4.2 Capacida<strong>de</strong><br />

Para que a Política da Água se torne operacional é imperativo que to<strong>do</strong>s os interessa<strong>do</strong>s<br />

trabalhan<strong>do</strong> em programas <strong>de</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural tenham capacida<strong>de</strong> suficiente<br />

para dar o seu melhor. Basea<strong>do</strong> nas discussões apresentadas neste estu<strong>do</strong> e no quadro <strong>de</strong><br />

<strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> da WaterAid (2011), capacida<strong>de</strong> refere-se a capacida<strong>de</strong> física, recursos<br />

materiais, a par com conhecimento, entendimento e competências. Esta capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong>veria<br />

possibilitar aos interessa<strong>do</strong>s exercer na prática as suas variadas funções e responsabilida<strong>de</strong>s,<br />

tal como especifica a Política da Água (2007), para permitir que os mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> gestão<br />

comunitários funcionem eficazmente. Só então, quan<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s os serviços cumprirem os<br />

mesmos princípios e obrigações, com uma capacida<strong>de</strong> eficaz, será possível atingir a<br />

<strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong>.<br />

Esta é a razão porque, no mo<strong>de</strong>lo conceptual apresenta<strong>do</strong> anteriormente (Figura <strong>do</strong>is), a<br />

capacida<strong>de</strong> aparece <strong>de</strong>ntro da política. A Política <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> o que os interessa<strong>do</strong>s <strong>de</strong>vem fazer,<br />

e <strong>de</strong>ssa forma molda a capacida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s interessa<strong>do</strong>s, tais como o governo e os parceiros.<br />

Depen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> da suas diferentes experiências, os seus respectivos papéis, responsabilida<strong>de</strong>s<br />

e capacida<strong>de</strong> irão variar e requerer diferente tipo <strong>de</strong> apoio da WaterAid.<br />

4.2.1 Melhor capacida<strong>de</strong> <strong>do</strong> governo nos níveis a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>s<br />

Nas constatações <strong>do</strong> relatório, o conhecimento, o entendimento e a prática <strong>do</strong> governo<br />

foram to<strong>do</strong>s eles aponta<strong>do</strong>s como críticos para melhorar a capacida<strong>de</strong> <strong>do</strong> governo para<br />

alcançar a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong>. Também foi evi<strong>de</strong>nte a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>safiar a percepção<br />

e entendimento <strong>do</strong>s governos <strong>sobre</strong> água rural e <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong>. Os entrevista<strong>do</strong>s<br />

explicaram que houvera mal-entendi<strong>do</strong>s comuns em termos da complexida<strong>de</strong> da<br />

manutenção <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural a nível <strong>de</strong> governo. Por exemplo, o<br />

<strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural foi frequentemente equaciona<strong>do</strong> com a construção <strong>de</strong><br />

estradas; instalação sem consulta à comunida<strong>de</strong>, e manutenção conforme necessário. Para<br />

maior complicação, os SDPI tem falta <strong>de</strong> tempo para fazer o seu trabalho em todas as<br />

infraestruturas públicas, incluin<strong>do</strong> a água. No entanto, certos Representantes <strong>do</strong> Governo,<br />

com consi<strong>de</strong>rável experiência <strong>de</strong> trabalho em projectos <strong>de</strong> água rural, <strong>de</strong>monstraram um<br />

conhecimento e compreensão altamente eficaz <strong>sobre</strong> <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong>. A própria Política da<br />

Água reconhece essas inconsistências e afirma que a capacida<strong>de</strong> <strong>do</strong> sector precisa ser<br />

aumentada para melhorar e ampliar o âmbito <strong>do</strong>s serviços que presta. Parry-Jones et al<br />

(2001) afirmam que na maioria <strong>do</strong>s países Africanos, os responsáveis pela prestação <strong>de</strong><br />

serviços e apoio à manutenção têm poucos recursos e <strong>de</strong>monstram falta <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong>.<br />

Para <strong>de</strong>senvolver capacida<strong>de</strong> em qualquer <strong>de</strong>stas áreas, a WaterAid terá que usar uma<br />

abordagem flexível e tomar em conta as diferenças <strong>de</strong> entendimento e prática que existem<br />

entre os representantes <strong>do</strong> Governo. Da<strong>do</strong> que a WaterAid trabalha actualmente como<br />

parceira <strong>do</strong> governo local a nível <strong>de</strong> distrito, o ênfase po<strong>de</strong>rá ser aí coloca<strong>do</strong>. A WaterAid<br />

tem um papel na educação <strong>do</strong>s representantes <strong>do</strong> Governo a to<strong>do</strong>s os níveis, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a<br />

administração local a ministros nacionais, com vista a compreen<strong>de</strong>rem o conceito <strong>de</strong><br />

<strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural. A WaterAid po<strong>de</strong> aproveitar a actual<br />

relação <strong>de</strong> trabalho com o governo para analisar uma varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> áreas, incluin<strong>do</strong>:<br />

Melhorar a compreensão geral <strong>do</strong>s princípios da <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong><br />

<strong>de</strong> água.<br />

Recursos humanos: apoiar o governo para empregar pessoas com conhecimentos<br />

suficientes e experiência <strong>de</strong> trabalho com água rural, por exemplo, nas respectivas<br />

posições. Possivelmente até <strong>de</strong>stacar pessoal experiente da WaterAid?<br />

Esforço <strong>de</strong> criação <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong> para o governo em áreas específicas, tais como,<br />

planificação, incluin<strong>do</strong>, por ex., tecnologia <strong>de</strong> mapeamento e gestão financeira.<br />

Secção 4 – Discussão<br />

A study into rural water supply sustainability in Niassa province, Mozambique (August, 2010)<br />

35


Secção 4 – Discussão<br />

Esforço <strong>de</strong> criação <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong> <strong>sobre</strong> como reforçar a Abordagem <strong>de</strong> Resposta à<br />

Procura e cumprir os seus princípios, isto é, a importância <strong>de</strong> envolver os utentes na<br />

tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões <strong>sobre</strong> escolhas em assuntos como tecnologia.<br />

Implementar a Abordagem Sectorial <strong>de</strong>fendida na Política da Água, para trabalhar em<br />

to<strong>do</strong> um distrito, coor<strong>de</strong>nan<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s os interessa<strong>do</strong>s e asseguran<strong>do</strong> que to<strong>do</strong>s estejam<br />

a cumprir os princípios e obrigações da política, e dan<strong>do</strong> as mesmas mensagens às suas<br />

respectivas comunida<strong>de</strong>s.<br />

Facilitar a troca <strong>de</strong> experiências entre os interessa<strong>do</strong>s no sector WASH, incluin<strong>do</strong> ONGIs,<br />

ONGs locais, socieda<strong>de</strong> civil e comunida<strong>de</strong>s, para apren<strong>de</strong>rem uns com os outros e<br />

partilharem competências para <strong>de</strong>senvolver capacida<strong>de</strong> através <strong>do</strong>s fóruns existentes e,<br />

quan<strong>do</strong> relevante, <strong>de</strong>senvolver novas oportunida<strong>de</strong>s.<br />

4.2.2 Melhor capacida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s parceiros (ONGs locais)<br />

Para além <strong>do</strong> governo, um factor chave sublinha<strong>do</strong> pelos entrevista<strong>do</strong>s foi a necessida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> reforçar a capacida<strong>de</strong> das organizações parceiras, isto é, as ONGs locais. A evidência das<br />

comunida<strong>de</strong>s e seus respectivos comités <strong>de</strong> água mostrou que nem to<strong>do</strong>s têm suficiente<br />

competência, conhecimento e capacida<strong>de</strong> para manter as instalações ao longo <strong>do</strong> tempo.<br />

Nem to<strong>do</strong>s os comités <strong>de</strong> água <strong>de</strong>sempenhavam necessariamente as suas funções e<br />

responsabilida<strong>de</strong>s, e isso põe em causa a eficácia <strong>do</strong> trabalho <strong>do</strong>s parceiros, pois eles são<br />

responsáveis, através <strong>do</strong> trabalho <strong>do</strong> PEC, por <strong>de</strong>senvolver a capacida<strong>de</strong> da comunida<strong>de</strong><br />

para manter os serviços.<br />

Os entrevista<strong>do</strong>s consi<strong>de</strong>raram que a WaterAid precisa <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver as capacida<strong>de</strong>s <strong>do</strong>s<br />

parceiros <strong>de</strong> duas maneiras – a sua capacida<strong>de</strong> física, e os seus conhecimentos,<br />

competências e práticas – para garantir que eles possam funcionar eficazmente. Foi<br />

questionada a capacida<strong>de</strong> física <strong>do</strong>s parceiros, tanto em recursos humanos como<br />

financeiros. Por exemplo, um <strong>do</strong>s parceiros tinha apenas quatro activistas para trabalhar<br />

com 22 comunida<strong>de</strong>s. O facto <strong>de</strong> um trabalho efectivo <strong>do</strong> PEC exigir bastante tempo, faz<br />

questionar até que ponto eles teriam si<strong>do</strong> realisticamente capazes <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver a<br />

capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> todas as comunida<strong>de</strong>s no perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> tempo que tinham. Soma<strong>do</strong> a isso estão<br />

as dificulda<strong>de</strong>s geográficas no Niassa. A dispersão das comunida<strong>de</strong>s significa que, para as<br />

visitar, po<strong>de</strong>m ter que viajar pelo menos 30 quilómetros da se<strong>de</strong> <strong>do</strong> distrito, em más<br />

estradas.<br />

Em termos <strong>de</strong> conhecimentos, competências e práticas <strong>do</strong>s parceiros para realizarem um<br />

PEC eficaz, é fundamental seguir-se as orientações claras <strong>do</strong> MIPAR (2001) <strong>sobre</strong> os papéis e<br />

responsabilida<strong>de</strong>s <strong>do</strong>s parceiros. Este indica que as ONGs locais <strong>de</strong>vem utilizar<br />

meto<strong>do</strong>logias participativas para preparar e organizar as comunida<strong>de</strong>s para garantir a sua<br />

participação em todas as fases <strong>do</strong> ciclo <strong>do</strong> projecto. A WaterAid <strong>de</strong>verá apoiar os parceiros e,<br />

on<strong>de</strong> seja relevante, trabalhar com o governo (SDPI e administrações <strong>do</strong>s distritos) com o fim<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver as suas experiências existentes, conhecimentos e competências na prática e<br />

cumprir a Política da Água. O esforço da WaterAid no apoio à divulgação da Política da Água<br />

a to<strong>do</strong>s os interessa<strong>do</strong>s contribuirá para este processo.<br />

Os entrevista<strong>do</strong>s afirmaram que os parceiros precisam compreen<strong>de</strong>r totalmente o conceito<br />

da <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong>. Para se alcançar a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> é crucial que hajam fluxos <strong>de</strong><br />

informação(Parry-Jones et al, 2001). Só quan<strong>do</strong> os parceiros compreen<strong>de</strong>rem<br />

suficientemente o conceito, e enten<strong>de</strong>rem o papel e as responsabilida<strong>de</strong>s das comunida<strong>de</strong>s<br />

em manter um serviço com o passar <strong>do</strong> tempo, eles po<strong>de</strong>rão transmiti-los para as próprias<br />

comunida<strong>de</strong>s os apren<strong>de</strong>rem. Isto está relaciona<strong>do</strong> com a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> melhorar o<br />

trabalho <strong>do</strong> PEC, tal como discuti<strong>do</strong> na secção 4.2.4.<br />

À semelhança <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento da capacida<strong>de</strong> <strong>do</strong> governo, A WaterAid <strong>de</strong>verá ter uma<br />

abordagem flexível no trabalho com as ONG locais parceiras. Elas terão todas níveis<br />

36 A study into rural water supply sustainability in Niassa province, Mozambique (August, 2010)


diferentes <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong>, com base em experiências diferentes, e é importante reconhecêlas<br />

e aproveitar as lições aprendidas <strong>de</strong>ssas experiências ao <strong>de</strong>finir como melhorar a<br />

capacida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s parceiros. Isto está relaciona<strong>do</strong> com a questão das futuras organizações<br />

parceiras – não sen<strong>do</strong> possível garantir a longevida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssas organizações, serão os<br />

esforços melhor utiliza<strong>do</strong>s noutras? (ver secção 4.2.3)<br />

Com o fim <strong>de</strong> assegurar serviços dura<strong>do</strong>uros, a WaterAid <strong>de</strong>ve apoiar os esforços <strong>do</strong>s<br />

parceiros <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver capacida<strong>de</strong> nas seguintes áreas:<br />

Desenvolver a compreensão <strong>do</strong>s parceiros <strong>sobre</strong> <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> e <strong>sobre</strong> a aplicação<br />

<strong>do</strong>s princípios no seu trabalho <strong>do</strong> PEC, usan<strong>do</strong> o novo Quadro <strong>de</strong> Sustentabilida<strong>de</strong> da<br />

WaterAid.<br />

Assegurar-se que tenham as competências suficientes, tais como <strong>de</strong> gestão financeira,<br />

para trabalharem com orçamentos e planos correctamente.<br />

Analisar a capacida<strong>de</strong> física <strong>do</strong>s parceiros em termos <strong>de</strong> recursos humanos, materiais e<br />

financeiros, e ajudá-los a melhorar como fôr necessário para que possam <strong>de</strong>sempenhar<br />

as suas funções eficazmente.<br />

Monitorar o trabalho <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os parceiros para assegurar que operem constantemente<br />

tão eficazmente quanto possível.<br />

Rever os actuais MoU com os parceiros, com vista a atingir a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong>s<br />

serviços.<br />

Consi<strong>de</strong>rar <strong>de</strong>senvolver ou rever as estratégias das parcerias para permitir que estas<br />

organizações operem in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente no futuro.<br />

Fazer uma análise crítica <strong>de</strong> todas as parcerias da WaterAid em Moçambique para avaliar<br />

que mo<strong>de</strong>los e abordagens <strong>de</strong> parceria são mais ou menos efectivos em relação a atingir<br />

a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong>s serviços <strong>de</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural.<br />

4.2.3 Melhor capacida<strong>de</strong> <strong>do</strong> sector<br />

Como discuti<strong>do</strong> anteriormente, para que os programas <strong>de</strong> água rural sejam sustentáveis, é<br />

imperativo que tanto os aspectos <strong>de</strong> hardware como software sejam implementa<strong>do</strong>s<br />

simultaneamente (Parry-Jones et al, 2001) e sejam <strong>de</strong> alta qualida<strong>de</strong> (Carter, 2011). Os<br />

projectos falharão se um <strong>de</strong>stes ocorrer na ausência <strong>do</strong> outro, ou se, com o passar <strong>do</strong> tempo,<br />

a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um <strong>de</strong>sses factores fraquejar. A WaterAid <strong>de</strong>ve colocar esforços em hardware<br />

tanto como em software, ou seja, <strong>de</strong>senvolver simultaneamente a capacida<strong>de</strong> das ONGs<br />

locais e <strong>do</strong> governo local, com base no mo<strong>de</strong>lo actual da WaterAid <strong>de</strong> parceria tripartida para<br />

o trabalho no Niassa. A coor<strong>de</strong>nação e a planificação efectiva <strong>do</strong> sector são <strong>de</strong> importância<br />

vital. No entanto, a WaterAid terá que pensar cuida<strong>do</strong>samente <strong>sobre</strong> qual seja a utilização<br />

mais eficaz <strong>do</strong>s seus recursos.<br />

Muitos <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s questionaram a longevida<strong>de</strong> das organizações parceiras (ONGs<br />

locais). Sentiam que os esforços <strong>de</strong> capacitação seriam melhor usa<strong>do</strong>s para trabalhar com o<br />

governo, por serem estas as instituições mais permanentes no país. Isso levanta a questão<br />

se as parcerias bilaterais, nomeadamente <strong>do</strong> governo e WaterAid, ou tripartidas, tal como<br />

pratica<strong>do</strong> principalmente na Província <strong>do</strong> Niassa, são as mais eficazes para se alcançar a<br />

<strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural. No Distrito <strong>de</strong> Sanga, on<strong>de</strong> a WaterAid tem<br />

a sua única parceria bilateral em Niassa, houve um exemplo bem sucedi<strong>do</strong> <strong>de</strong> apoio técnico<br />

externo (hardware), o que significou que os pontos <strong>de</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água foram<br />

repara<strong>do</strong>s rapidamente através <strong>do</strong> apoio externo. A WaterAid Moçambique <strong>de</strong>veria usar as<br />

suas boas relações com o governo local a nível <strong>de</strong> distrito no Niassa para fortalecer essas<br />

parcerias e aprofundar que tipos <strong>de</strong> parceria são mais eficazes.<br />

As formas como a WaterAid <strong>de</strong>verá <strong>de</strong>senvolver a capacida<strong>de</strong> irão variar, não só entre o<br />

governo e as organizações parceiras mas também individualmente, <strong>de</strong> um interessa<strong>do</strong> para<br />

Secção 4 – Discussão<br />

<strong>Estu<strong>do</strong></strong> <strong>sobre</strong> a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural na Província <strong>do</strong> Niassa, Moçambique<br />

37


Secção 4 – Discussão<br />

outro. Para enten<strong>de</strong>r on<strong>de</strong> os esforços <strong>de</strong>vem ser coloca<strong>do</strong>s a fim <strong>de</strong> melhorar a situação da<br />

<strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural, a WaterAid po<strong>de</strong>ria trabalhar com todas as<br />

partes interessadas num distrito, com o fim <strong>de</strong> fazer uma análise crítica das parcerias e da<br />

capacida<strong>de</strong>. Isto po<strong>de</strong>ria ser usa<strong>do</strong> para <strong>de</strong>terminar as acções e a capacitação específicas<br />

que cada um <strong>do</strong>s interessa<strong>do</strong>s precisa pôr em prática nos planos para o futuro.<br />

4.2.4 Melhor trabalho <strong>do</strong> PEC<br />

Um melhor PEC <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rá da capacida<strong>de</strong> efectiva <strong>do</strong>s parceiros. A evidência das comunida<strong>de</strong>s<br />

sugere que elas não vêm sempre aplican<strong>do</strong> o que apren<strong>de</strong>ram, e não têm necessariamente<br />

a competência suficiente para manter o seu o ponto <strong>de</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água.<br />

A falta <strong>de</strong> contribuições mensais e poupanças das comunida<strong>de</strong>s foi fundamental em<br />

<strong>de</strong>monstrar a ineficiência <strong>de</strong>ste PEC. Na literatura <strong>sobre</strong> <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong><br />

<strong>de</strong> água rural (ver Carter et al, 2011 e Jones, 2010), a falta <strong>de</strong> financiamento para a<br />

contribuição regular para a operação e manutenção, como é evi<strong>de</strong>nte nas comunida<strong>de</strong>s,<br />

é atribuída ou a incapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pagar, ou a falta <strong>de</strong> vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> pagar. Nestas constatações,<br />

houve mo<strong>de</strong>los alternativos <strong>de</strong> financiamento para reparações que operavam com sucesso:<br />

todas as comunida<strong>de</strong>s que tiveram que pagar para reparar um ponto <strong>de</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong><br />

água tinham-no feito com sucesso. Este é um “financiamento reactivo “ (Harvey e Reed,<br />

2004), mas não po<strong>de</strong> suster um ponto <strong>de</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água a longo prazo, pois, sem<br />

cobrir os custos recorrentes os sistemas irão <strong>de</strong>teriorar-se rapidamente (Carter, 2011).<br />

A evidência sugere portanto uma falta <strong>de</strong> vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> contribuir mensalmente, pois as<br />

comunida<strong>de</strong>s tinham e podiam pagar pelas reparações uma vez que os pontos <strong>de</strong><br />

<strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água estivessem avaria<strong>do</strong>s. Este aspecto é confirma<strong>do</strong> ainda pelo facto<br />

<strong>de</strong> nenhum <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s ter <strong>de</strong>clara<strong>do</strong> as finanças como questão chave. A maioria<br />

<strong>de</strong>clarou que as comunida<strong>de</strong>s têm dinheiro, simplesmente não dão priorida<strong>de</strong> a terem um<br />

<strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água melhora<strong>do</strong>. Um <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s sugeriu que isto se <strong>de</strong>via à<br />

percepção cultural <strong>de</strong> que a água é gratuita, por isso porque haveriam as comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

pagar. O PEC precisa portanto <strong>de</strong> trabalhar muito mais nas áreas rurais para ultrapassar esta<br />

atitu<strong>de</strong>. A falta <strong>de</strong> confiança entre os comités <strong>de</strong> água e as comunida<strong>de</strong>s também tem um<br />

papel importante, particularmente em termos <strong>de</strong> finanças para operação e manutenção. Se o<br />

trabalho <strong>do</strong> PEC fosse melhora<strong>do</strong> e explicasse claramente às comunida<strong>de</strong>s a importância da<br />

contribuição financeira para a manutenção das instalações a longo prazo, estes <strong>de</strong>safios<br />

po<strong>de</strong>riam ser supera<strong>do</strong>s.<br />

Foi proposto que a visão <strong>do</strong> PEC seja adaptada e <strong>de</strong>senvolvida para incorporar princípios<br />

<strong>de</strong> <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong>. Isto tem como finalida<strong>de</strong> que as comunida<strong>de</strong>s compreendam que,<br />

se quiserem que o serviço seja dura<strong>do</strong>uro, o seu papel na operação e manutenção <strong>de</strong>ve<br />

continuar a longo prazo. Isto está relaciona<strong>do</strong> também com o facto que os parceiros<br />

precisam ter eles próprios esta compreensão, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> a po<strong>de</strong>rem transmiti-la às<br />

comunida<strong>de</strong>s. A WaterAid Moçambique já havia reconheci<strong>do</strong> a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> adaptar as<br />

abordagens ao PEC e <strong>de</strong>u-lhe priorida<strong>de</strong> na nova Estratégia para o País (2010). Por isso, foi<br />

realiza<strong>do</strong> um workshop no Niassa, em Fevereiro <strong>de</strong> 2010 com to<strong>do</strong>s os parceiros e governo<br />

local, on<strong>de</strong> foram apontadas áreas <strong>de</strong> fraqueza que incluíram a falta <strong>de</strong> monitoramento e <strong>do</strong><br />

envolvimento das mulheres. Apesar disso, e a partir das constatações <strong>de</strong>ste estu<strong>do</strong>, não há<br />

evidência <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> mudança; o trabalho <strong>do</strong> PEC continua a ser uma área a melhorar.<br />

A WaterAid terá que trabalhar mais arduamente para se assegurar que os compromissos<br />

acorda<strong>do</strong>s são postos em prática e monitora<strong>do</strong>s. Os nossos entrevista<strong>do</strong>s <strong>de</strong>clararam<br />

também que a nossa abordagem se tem que transformar <strong>de</strong> PEC como activida<strong>de</strong>, para algo<br />

que seja quase permanente; com a intenção <strong>de</strong> mudar o comportamento a longo prazo. Para<br />

incluir princípios <strong>de</strong> <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> no PEC, a Unicef fez ‘workshops <strong>sobre</strong><br />

<strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong>’ com os lí<strong>de</strong>res comunitários, para os influenciar <strong>sobre</strong> a importância da<br />

<strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong>. Isto foi, em primeiro lugar, para criar a consciência da sua importância; e<br />

38 <strong>Estu<strong>do</strong></strong> <strong>sobre</strong> a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural na Província <strong>do</strong> Niassa, Moçambique


em segun<strong>do</strong> lugar para discutir i<strong>de</strong>ias <strong>sobre</strong> como implementar <strong>de</strong> forma eficaz uma<br />

estrutura <strong>de</strong> fornecimento, localmente sustentável, para a manutenção e reparação <strong>do</strong>s<br />

pontos <strong>de</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água (Godfrey, 2010). A WaterAid po<strong>de</strong>ria apoiar os parceiros<br />

e outras organizações para apren<strong>de</strong>rem <strong>de</strong>sta abordagem e daí <strong>de</strong>senvolverem uma<br />

abordagem melhorada ao PEC.<br />

Em Moçambique, a responsabilida<strong>de</strong> pela criação e concepção <strong>do</strong>s manuais <strong>do</strong> PEC e <strong>do</strong>s<br />

padrões mínimos, e aquilo que é <strong>de</strong> facto posto em prática, aparenta ser pouco clara e<br />

<strong>de</strong>scoor<strong>de</strong>nada. O Ministério da Saú<strong>de</strong> criou um manual com assistência <strong>de</strong> ONGIs, como<br />

a Unicef, cobrin<strong>do</strong> tópicos tais como a educação <strong>de</strong> higiene, a conservação da água, etc.<br />

Porém, estes são primeiro adapta<strong>do</strong>s e <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>s por diferentes <strong>de</strong>partamentos<br />

governamentais, como o Departamento da Água Rural, basea<strong>do</strong> nas suas necessida<strong>de</strong>s e<br />

exigências, e <strong>de</strong>pois são provavelmente adapta<strong>do</strong>s <strong>de</strong> novo por ONGs locais, também <strong>de</strong><br />

acor<strong>do</strong> com as suas necessida<strong>de</strong>s. A falta <strong>de</strong> um manual padrão para orientação <strong>do</strong> trabalho<br />

<strong>do</strong> PEC é uma questão que po<strong>de</strong> ter ti<strong>do</strong> impacto na eficácia <strong>do</strong> PEC.<br />

A WaterAid <strong>de</strong>veria aproveitar as suas actuais ligações com órgãos como a Direcção Nacional<br />

<strong>de</strong> Águas (DNA) para garantir que os princípios chave para suster um <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água<br />

rural, por ex., os papéis e as responsabilida<strong>de</strong>s <strong>do</strong>s comités da água e a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

finanças para operação e manutenção, estejam claramente incluí<strong>do</strong>s como padrões mínimos<br />

para o trabalho <strong>do</strong> PEC e explica<strong>do</strong>s nos manuais <strong>do</strong> PEC. A WA <strong>de</strong>veria também trabalhar em<br />

estreita colaboração com as organizações parceiras para aproveitar as suas experiências <strong>do</strong><br />

trabalho <strong>do</strong> PEC; para investigar os méto<strong>do</strong>s mais apropria<strong>do</strong>s para incorporar os princípios<br />

da <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong>. Da<strong>do</strong> que o Quadro <strong>de</strong> Sustentabilida<strong>de</strong> da WaterAid (2011) foi<br />

recentemente termina<strong>do</strong>, a WaterAid <strong>de</strong>veria consi<strong>de</strong>rar <strong>de</strong> que forma po<strong>de</strong>rá aproveitá-lo<br />

para influenciar os governos <strong>sobre</strong> aquilo que <strong>de</strong>ve ser incluí<strong>do</strong>.<br />

Contu<strong>do</strong>, tal como na questão <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s parceiros e <strong>do</strong> governo, os parceiros <strong>de</strong>vem<br />

a<strong>do</strong>ptar uma abordagem flexível ao trabalho <strong>do</strong> PEC com as comunida<strong>de</strong>s. Eles <strong>de</strong>vem<br />

reconhecer que não haverá duas comunida<strong>de</strong>s iguais; umas precisarão apoio técnico, outras<br />

po<strong>de</strong>rão precisar <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r melhor a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> contribuírem para a operação e<br />

manutenção. Esta flexibilida<strong>de</strong> ajudá-los-á a respon<strong>de</strong>r às necessida<strong>de</strong>s específicas das<br />

comunida<strong>de</strong>s e a apoiá-las para manterem as instalações com o passar <strong>do</strong> tempo.<br />

Consequentemente, e ten<strong>do</strong> em conta to<strong>do</strong>s os factores acima menciona<strong>do</strong>s, a WaterAid terá<br />

<strong>de</strong> pôr os seus esforços em:<br />

Trabalhar com os relevantes <strong>de</strong>partamentos governamentais tais como a DNA e o<br />

Departamento da Água Rural para assegurar que os princípios chave da <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong><br />

sejam incorpora<strong>do</strong>s nos manuais <strong>de</strong> orientação <strong>do</strong> PEC como padrões essenciais<br />

mínimos.<br />

Desenvolver a abordagem <strong>do</strong> PEC com as organizações parceiras para assegurar que seja<br />

regular ou quase permanente, faça o monitoramento das capacida<strong>de</strong>s da comunida<strong>de</strong> e<br />

resolva quaisquer assuntos.<br />

Usar o Quadro da Sustentabilida<strong>de</strong> (2011) para incorporar os princípios <strong>de</strong><br />

<strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> no trabalho <strong>do</strong> PEC.<br />

Melhorar a visão <strong>do</strong> PEC para incorporar mensagens <strong>de</strong> <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> para permitir às<br />

comunida<strong>de</strong>s compreen<strong>de</strong>r o seu papel na manutenção das instalações a longo prazo.<br />

Apoiar os parceiros para assegurar que usem uma abordagem flexível no trabalho <strong>do</strong> PEC<br />

em cada comunida<strong>de</strong>, isto é, reconheçam que os contextos locais são diferentes e<br />

requerem um tipo <strong>de</strong> apoio diferente.<br />

Secção 4 – Discussão<br />

<strong>Estu<strong>do</strong></strong> <strong>sobre</strong> a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural na Província <strong>do</strong> Niassa, Moçambique<br />

39


Secção 4 – Discussão<br />

4.3 Mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> gestão comunitária incluin<strong>do</strong> comités<br />

da água<br />

A combinação <strong>de</strong> uma política forte e clara que seja efectivamente implementada a par com<br />

uma capacida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s parceiros e <strong>do</strong> governo que seja <strong>de</strong> alta qualida<strong>de</strong>, irá ajudar o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> gestão comunitários bem sucedi<strong>do</strong>s. Esta é a razão porque<br />

os mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> gestão comunitária estão coloca<strong>do</strong>s no centro <strong>do</strong> mo<strong>de</strong>lo conceptual (Figura<br />

<strong>do</strong>is); a sua forma e sucesso são impulsiona<strong>do</strong>s e <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m <strong>do</strong>s factores chave conti<strong>do</strong>s<br />

na política e capacida<strong>de</strong>. Contu<strong>do</strong>, como se fez notar das constatações e da análise da<br />

literatura, eles <strong>de</strong>vem ser acompanha<strong>do</strong>s com apoio externo, se se quiser que as instalações<br />

<strong>de</strong> água rural durem a longo prazo.<br />

4.3.1 A capacida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s comités da água<br />

É necessário melhorar e reforçar a capacida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s comités da água e <strong>de</strong>senvolver os seus<br />

conhecimentos e entendimento. A evidência das comunida<strong>de</strong>s visitadas mostrou claras<br />

inconsistências na capacida<strong>de</strong>, competência e prática <strong>do</strong>s comités da água.<br />

O trabalho <strong>do</strong> PEC <strong>de</strong>ve conter os princípios da <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> nas comunida<strong>de</strong>s, bem<br />

como o conhecimento e entendimento <strong>do</strong>s comités da água. Assim os comités da água<br />

po<strong>de</strong>rão perceber o carácter <strong>de</strong> longo prazo das suas funções e responsabilida<strong>de</strong>s para a<br />

manutenção das instalações com o passar <strong>do</strong> tempo, e não como uma activida<strong>de</strong> finita. O<br />

trabalho <strong>do</strong> PEC <strong>de</strong>ve ser continuo, para assegurar que os comités da água tenham sempre<br />

as competências e os recursos apropria<strong>do</strong>s para po<strong>de</strong>rem funcionar efectiva e<br />

permanentemente.<br />

4.3.2 A formação e perfile <strong>do</strong>s comités da água<br />

A motivação das pessoas para serem parte <strong>de</strong> um comité <strong>de</strong> água variava significantemente<br />

entre as comunida<strong>de</strong>s visitadas, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> aos <strong>de</strong>safios da nominação. O membro <strong>de</strong> um comité<br />

da água pediu para sair enquanto lá estávamos; a confiança entre os comités da água e as<br />

comunida<strong>de</strong>s era claramente um problema.<br />

Os comités da água <strong>de</strong>sempenham as suas funções voluntariamente e sem qualquer<br />

obrigação. Isto significa que po<strong>de</strong>m per<strong>de</strong>r o interesse; tal como as tecnologias falham em<br />

termos <strong>de</strong> ‘hardware’, o mesmo acontece aos aspectos <strong>de</strong> ‘software’ (Carter, 2009). Esta<br />

é a razão porque o corrente trabalho <strong>do</strong> PEC foi i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong> como um factor chave para se<br />

manter as comunida<strong>de</strong>s revitalizadas, motivadas e com capacida<strong>de</strong> suficiente para funcionar<br />

efectivamente. Esta motivação esteve também fortemente relacionada com o perfile <strong>do</strong>s<br />

membros <strong>do</strong>s comités <strong>de</strong> água. Por exemplo, num da<strong>do</strong> comité, um jovem que tinha si<strong>do</strong><br />

treina<strong>do</strong> tecnicamente <strong>de</strong>ixou o comité, e uma senhora i<strong>do</strong>sa faleceu – e nenhum <strong>de</strong>les havia<br />

si<strong>do</strong> substituí<strong>do</strong>. As funções e responsabilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>vem ser cuida<strong>do</strong>samente explicadas<br />

àqueles que mostram interesse em ser parte <strong>do</strong> comité da água; outros membros integrais<br />

da comunida<strong>de</strong>, como os jovens, <strong>de</strong>vem ser encoraja<strong>do</strong>s a participarem.<br />

Os entrevista<strong>do</strong>s levantaram ainda a questão <strong>do</strong> <strong>de</strong>sequilíbrio <strong>do</strong> género nos comités <strong>de</strong><br />

água como sen<strong>do</strong> uma questão chave. A participação das mulheres é parte integral da<br />

eficácia <strong>do</strong>s projectos (Narayan, 1995) e até a Política da Água sublinha a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

aumentar o envolvimento das mulheres na provisão <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural.<br />

Contu<strong>do</strong>, a maioria <strong>do</strong>s comités visita<strong>do</strong>s eram compostos por mais homens que mulheres.<br />

A WaterAid <strong>de</strong>ve endividar esforços para ajudar os parceiros a <strong>de</strong>senvolverem a sua presente<br />

abordagem ao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong>s comités <strong>de</strong> água da seguinte maneira:<br />

Apoiar os parceiros a explicarem claramente as funções e responsabilida<strong>de</strong>s <strong>do</strong>s comités<br />

da água ás comunida<strong>de</strong>s.<br />

40 <strong>Estu<strong>do</strong></strong> <strong>sobre</strong> a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural na Província <strong>do</strong> Niassa, Moçambique


Apoiar os parceiros para trabalharem com as comunida<strong>de</strong>s na escolha das pessoas mais<br />

eficientes e a<strong>de</strong>quadas para os seus comités.<br />

Apoiar os parceiros para resolverem o <strong>de</strong>sequilíbrio <strong>do</strong> género nos seus comités da água.<br />

Apoiar os parceiros para assegurarem o contínuo monitoramento e apoio às<br />

comunida<strong>de</strong>s (ver abaixo).<br />

4.4 O apoio externo<br />

A evidência das discussões, a análise da literatura e a própria política nacional sublinham<br />

a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> constante apoio externo às comunida<strong>de</strong>s, tanto em termos <strong>de</strong> hardware<br />

como software, para manter as instalações <strong>de</strong> água rural com o passar <strong>do</strong> tempo. O apoio<br />

a estes tem que ser simultâneo e constante porque, tal como afirmam os entrevista<strong>do</strong>s<br />

e a literatura, não é realístico esperar que a comunida<strong>de</strong> simplesmente mantenha ponto<br />

<strong>de</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água com o passar <strong>do</strong> tempo. Esta é a razão porque o apoio externo<br />

aparece no centro <strong>do</strong> mo<strong>de</strong>lo conceptual, a seguir aos mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> gestão comunitários. Eles<br />

têm ambos que operar simultaneamente e a natureza e forma <strong>de</strong>ste apoio será <strong>de</strong>finida pela<br />

capacida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s interessa<strong>do</strong>s e pela obrigatorieda<strong>de</strong> da Política.<br />

4.4.1 Constante apoio externo ao software<br />

A inconsistência em termos <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong> e competência <strong>do</strong>s comités <strong>de</strong> água resulta numa<br />

natureza <strong>de</strong>licada e finita, e realça a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> apoio externo constante ao software.<br />

No início <strong>de</strong> um projecto, após a instalação tecnológica e o trabalho PEC inicial, os comités<br />

da água estão provavelmente bastante motiva<strong>do</strong>s. Contu<strong>do</strong>, essa motivação parece<br />

esmorecer com o passar <strong>do</strong> tempo. Para superar o mito <strong>de</strong> que ‘as comunida<strong>de</strong>s são sempre<br />

capazes <strong>de</strong> gerir as suas instalações por si só’ é essencial que as comunida<strong>de</strong>s tenham<br />

significante participação, educação e treino antes e <strong>de</strong>pois da construção, e que esteja <strong>de</strong><br />

acor<strong>do</strong> com as suas específicas necessida<strong>de</strong>s (RWSN, 2009).<br />

Os parceiros <strong>de</strong>vem continuar a monitorar a situação <strong>do</strong>s comités <strong>de</strong> água nas comunida<strong>de</strong>s<br />

após a construção, e engajar-se constantemente no trabalho <strong>do</strong> PEC. A WaterAid <strong>de</strong>ve<br />

trabalhar mais <strong>de</strong> perto com as organizações parceiras para preencher a lacuna entre o<br />

trabalho inicial <strong>do</strong> PEC e o momento em que os comités da água tenham as competências<br />

necessárias para manter as instalações com o passar <strong>do</strong> tempo. Isto po<strong>de</strong> ser feito<br />

<strong>de</strong>senvolven<strong>do</strong> estratégias para a nova abordagem <strong>do</strong> PEC, tal como <strong>de</strong>scrito acima, e<br />

asseguran<strong>do</strong> que os parceiros tenham recursos suficientes e uma capacida<strong>de</strong> efectiva e<br />

constante para provi<strong>de</strong>nciar apoio contínuo às comunida<strong>de</strong>s e aos seus respectivos comités<br />

da água. Po<strong>de</strong>riam ser explora<strong>do</strong>s outros mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> provisão <strong>de</strong> apoio ao software,<br />

trabalhan<strong>do</strong> com outros interessa<strong>do</strong>s, tais como as administrações distritais e os SDPI.<br />

4.4.2 Constante apoio técnico externo<br />

A evidência <strong>de</strong> certas comunida<strong>de</strong>s mostrou que os comités eram capazes <strong>de</strong> executar<br />

reparações e que, nalgumas comunida<strong>de</strong>s, o atraso das reparações se <strong>de</strong>via à espera <strong>de</strong><br />

apoio externo <strong>de</strong> parceiros ou governo. Tais dificulda<strong>de</strong>s po<strong>de</strong>riam ser evitadas se existisse<br />

uma forma <strong>de</strong> apoio externo constante. (Ver caixa na página 26.) A maioria <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s<br />

<strong>de</strong>clararam que o apoio externo <strong>de</strong>veria vir <strong>do</strong>s mecânicos distritais que po<strong>de</strong>riam reparar<br />

os pontos <strong>de</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água caso as comunida<strong>de</strong>s não fossem capazes, e que<br />

po<strong>de</strong>riam ajudar a capacitar os comités <strong>de</strong> água. As comunida<strong>de</strong>s teriam que pagar este<br />

mecânico e isso teria que lhes ser explica<strong>do</strong> durante o trabalho <strong>do</strong> PEC. To<strong>do</strong>s os<br />

entrevista<strong>do</strong>s indicaram que estariam dispostos a trabalhar a par com os comités <strong>de</strong> água<br />

pela sua importância para o sentimento <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> da comunida<strong>de</strong>. Estes mecânicos<br />

distritais iriam melhorar a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong>s pontos <strong>de</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água, pois eles<br />

seriam repara<strong>do</strong>s imediatamente e continuariam a funcionar com o passar <strong>do</strong> tempo. Houve<br />

Secção 4 – Discussão<br />

<strong>Estu<strong>do</strong></strong> <strong>sobre</strong> a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural na Província <strong>do</strong> Niassa, Moçambique<br />

41


Secção 4 – Discussão<br />

no entanto <strong>de</strong>bates <strong>sobre</strong> o nível em que estes mecânicos <strong>de</strong>veriam ser coloca<strong>do</strong>s – se local<br />

ou distrital. O sucesso <strong>do</strong> mecânico distrital em Sanga e a actual maneira da WaterAid<br />

trabalhar através <strong>do</strong> governo distrital indicam que <strong>de</strong>veria ser a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong> ter o mecânico a<br />

nível distrital.<br />

A Política da Água também apoia esta i<strong>de</strong>ia, referin<strong>do</strong>-se ao uso <strong>de</strong> mecânicos <strong>de</strong> bombas<br />

manuais caso os grupos <strong>de</strong> manutenção não sejam capazes <strong>de</strong> executar as reparações<br />

(ver Tabela um). Isto é muito importante dada a forte ênfase colocada na implementação<br />

da política para o melhoramento da <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural.<br />

A <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong>ste apoio externo porém <strong>de</strong>ve ser analisada cuida<strong>do</strong>samente. O<br />

próprio mecânico distrital em Sanga teve dúvidas <strong>sobre</strong> o seu futuro, por o seu trabalho não<br />

correspon<strong>de</strong>r a salário. Ele queria ser regista<strong>do</strong> como associação para po<strong>de</strong>r cobrar pelo<br />

serviço e ter um lucro. A WaterAid tem que trabalhar com o governo para <strong>de</strong>senvolver<br />

mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> apoio técnico externo que sejam eles próprios sustentáveis. Estes mo<strong>de</strong>los têm<br />

que ter níveis <strong>de</strong> custo apropria<strong>do</strong>s e acessíveis, possíveis <strong>de</strong> monitorar e regulamentar por<br />

parte <strong>do</strong> governo, e operar em estreita ligação com os projectos <strong>de</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água<br />

rural. A WaterAid terá que trabalhar com os parceiros e governo local para pilotar tais<br />

mo<strong>de</strong>los nas comunida<strong>de</strong>s e assegurar que os seus pontos <strong>de</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água<br />

continuem a estar operacionais com o passar <strong>do</strong> tempo. O mo<strong>de</strong>lo existente e bem sucedi<strong>do</strong><br />

em Sanga <strong>de</strong>via ser monitora<strong>do</strong> e, on<strong>de</strong> fosse relevante, a WaterAid po<strong>de</strong>ria trabalhar com<br />

outros governos distritais para o replicar.<br />

A WaterAid já reconheceu a necessida<strong>de</strong> <strong>do</strong> apoio técnico em Moçambique e já está<br />

planea<strong>do</strong> um projecto piloto com mecânicos distritais para o próximo ano fiscal em Maúa e<br />

Nipepe. Os pormenores exactos <strong>de</strong>ste projecto ainda não estão finaliza<strong>do</strong>s, mas este é já um<br />

passo importante na investigação <strong>do</strong> mo<strong>de</strong>lo e estrutura mais eficazes para o apoio técnico<br />

externo. É importante que o mo<strong>de</strong>lo tenha como base as lições aprendidas com a<br />

experiência <strong>de</strong> sucesso no Distrito <strong>de</strong> Sanga.<br />

Para além disto, e tal como referi<strong>do</strong> na análise da literatura, a Unicef <strong>de</strong>senvolveu um<br />

mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> estruturas <strong>de</strong> apoio locais e sustentáveis através <strong>de</strong> artesãos e mecânicos locais.<br />

As comunida<strong>de</strong>s po<strong>de</strong>riam apelar a estes indivíduos para apoio à manutenção e reparação<br />

<strong>do</strong>s pontos <strong>de</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água no Distrito <strong>do</strong> Guro, na região central <strong>de</strong> Moçambique<br />

(Godfrey, 2010). A importância <strong>de</strong> se apren<strong>de</strong>r, partilhar experiências e trabalhar com outros<br />

para explorar mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> apoio externo ao hardware é um méto<strong>do</strong> chave que a WaterAid<br />

po<strong>de</strong> pôr em prática para resolver as dificulda<strong>de</strong>s da <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong><br />

água rural.<br />

4.4.3 A importância <strong>do</strong> apoio externo ao software tanto como ao hardware<br />

Da mesma forma que os componentes <strong>de</strong> software e hardware <strong>de</strong> qualquer projecto <strong>de</strong><br />

<strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural têm que estar operacionais simultaneamente e são igualmente<br />

imperativos para assegurar a sua <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong>, também o apoio externo ao software e<br />

hardware <strong>de</strong>ve operar continuamente a par com ambos. O conceito <strong>de</strong> ‘gestão-comunitária<br />

mais’, que sublinha a necessida<strong>de</strong> <strong>do</strong> contínuo apoio por parte das organizações externas<br />

(Carter, 2011), é largamente aceite com o fim <strong>de</strong> garantir que as instalações sejam<br />

dura<strong>do</strong>uras, e ficou comprova<strong>do</strong> pelas constatações feitas neste relatório.<br />

Os serviços <strong>de</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural só po<strong>de</strong>m ser manti<strong>do</strong>s e sustenta<strong>do</strong>s a longo<br />

prazo haven<strong>do</strong> suficiente apoio externo ao software, para assegurar que os comités a água<br />

ou os mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> gestão comunitária operem tão efectivamente quanto possível.<br />

Alia<strong>do</strong> a isto, o apoio técnico externo <strong>de</strong>verá estar sempre disponível, por ex., quan<strong>do</strong> as<br />

comunida<strong>de</strong>s não pu<strong>de</strong>rem reparar os seus pontos <strong>de</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água e precisarem<br />

<strong>de</strong> alguém que as assista imediatamente. Segun<strong>do</strong> o exemplo da Unicef anteriormente<br />

42 <strong>Estu<strong>do</strong></strong> <strong>sobre</strong> a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural na Província <strong>do</strong> Niassa, Moçambique


menciona<strong>do</strong> (Godfrey, 2010), o factor crucial para o sucesso <strong>do</strong> apoio externo contínuo foi a<br />

interacção e o acor<strong>do</strong> entre to<strong>do</strong>s os interessa<strong>do</strong>s envolvi<strong>do</strong>s no projecto, <strong>de</strong> trabalharem<br />

em conjunto. Ao juntarem-se os lí<strong>de</strong>res comunitários, os artesãos locais (mecânicos) e<br />

oficiais <strong>do</strong> governo e administração distrital foi <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> um plano <strong>de</strong> <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong><br />

local para cada infraestrutura <strong>de</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural. A WaterAid po<strong>de</strong>ria usar as<br />

lições <strong>de</strong> experiências como esta para explorar maneiras <strong>de</strong> facilitar a provisão <strong>de</strong> ambas<br />

estas formas <strong>de</strong> apoio externo. Isto terá que ser feito trabalhan<strong>do</strong> <strong>de</strong> perto com as<br />

organizações parceiras e o governo local, reflectin<strong>do</strong> <strong>sobre</strong> as suas experiências,<br />

<strong>de</strong>senvolven<strong>do</strong>, monitoran<strong>do</strong> e regulamentan<strong>do</strong> mo<strong>de</strong>los a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>s e dura<strong>do</strong>uros.<br />

É imperativo que tais mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> apoio externo sejam flexíveis para se adaptarem às<br />

necessida<strong>de</strong>s sempre diferentes das comunida<strong>de</strong>s e <strong>do</strong>s seus comités da água.<br />

Secção 4 – Discussão<br />

<strong>Estu<strong>do</strong></strong> <strong>sobre</strong> a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural na Província <strong>do</strong> Niassa, Moçambique<br />

43


Section 5 – Conclusion<br />

Secção 5<br />

Conclusão<br />

Este estu<strong>do</strong> mostrou que os factores chave para a resolução <strong>do</strong>s <strong>de</strong>safios da<br />

<strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural em Moçambique po<strong>de</strong>m ser dividi<strong>do</strong>s em<br />

quatro áreas principais: política, capacida<strong>de</strong>, mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> gestão comunitária e apoio<br />

externo. As constatações são <strong>de</strong>lineadas a seguir:<br />

Política<br />

Melhor implementação da Política da Água:<br />

Disseminação da Política da Água<br />

Implementação <strong>do</strong>s princípios da Abordagem da Resposta à Procura<br />

Coor<strong>de</strong>nação <strong>do</strong> sector<br />

Planificação eficaz<br />

Definição <strong>do</strong> custo <strong>do</strong> capital<br />

Disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> peças <strong>sobre</strong>ssalentes.<br />

Capacida<strong>de</strong><br />

Melhor capacida<strong>de</strong> <strong>do</strong> governo aos níveis a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>s<br />

Melhor capacida<strong>de</strong> das organizações parceiras (NGOs locais)<br />

Melhor capacida<strong>de</strong> <strong>do</strong> sector<br />

Melhor trabalho PEC.<br />

Mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> gestão comunitária<br />

Melhor capacida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s comités da água.<br />

Melhor formação e perfile <strong>do</strong>s comités da água.<br />

Apoio externo<br />

Constante apoio externo ao software<br />

Constante apoio externo ao hardware<br />

Importância <strong>do</strong> apoio externo tanto ao software como hardware.<br />

O factor chave, sublinha<strong>do</strong> por to<strong>do</strong>s os entrevista<strong>do</strong>s, foi a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> a WaterAid<br />

apoiar a melhor implementação da Política da Água, o que é consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> <strong>de</strong> importância<br />

vital para a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural. Contu<strong>do</strong>, é imperativo que<br />

esta implementação seja acompanhada por uma capacida<strong>de</strong> efectiva <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os<br />

interessa<strong>do</strong>s. A combinação <strong>de</strong>stas áreas resultará em mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> gestão comunitária que<br />

<strong>de</strong>vem ser acompanha<strong>do</strong>s por um forte e contínuo apoio externo para garantir que as<br />

instalações sejam dura<strong>do</strong>uras. Foi interessante notar que os entrevista<strong>do</strong>s não colocaram as<br />

finanças como questão chave. A evidência sugere que as comunida<strong>de</strong>s tinham suficientes<br />

44 <strong>Estu<strong>do</strong></strong> <strong>sobre</strong> a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural na Província <strong>do</strong> Niassa, Moçambique


fun<strong>do</strong>s para pagar pela reparação <strong>do</strong>s pontos <strong>de</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água, mas não estavam<br />

dispostas a contribuir regularmente para a operação e manutenção. Melhoran<strong>do</strong> o trabalho<br />

<strong>do</strong> PEC e a capacida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s parceiros, espera-se que este <strong>de</strong>safio possa ser venci<strong>do</strong>.<br />

Recomenda-se maior pesquisa <strong>sobre</strong> a questão <strong>do</strong> financiamento <strong>do</strong>s projectos <strong>de</strong> água<br />

rural, para se enten<strong>de</strong>rem os custos exactos <strong>de</strong> manter uma instalação a longo prazo em<br />

relação à capacida<strong>de</strong> da comunida<strong>de</strong>.<br />

Como ficou evi<strong>de</strong>nte da pesquisa e análise da literatura, a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong><br />

<strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da interacção <strong>de</strong> um número <strong>de</strong> factores diferentes.<br />

Ela só po<strong>de</strong>rá ser melhorada se estes factores forem toma<strong>do</strong>s em conta <strong>de</strong> forma holística,<br />

como a soma das partes <strong>de</strong> uma solução para resolver a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong><br />

<strong>de</strong> água rural.<br />

A necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> melhorar um factor compara<strong>do</strong> com outro em diferentes projectos <strong>de</strong><br />

<strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural irá variar <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> <strong>do</strong> contexto, no entanto será imperativo<br />

consi<strong>de</strong>rar to<strong>do</strong>s estes factores em conjunto, bem como as ligações entre eles. Embora este<br />

projecto <strong>de</strong> pesquisa focasse a Província <strong>do</strong> Niassa em Moçambique, espera-se que as<br />

conclusões sejam úteis para outros que trabalhem com <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong><br />

<strong>de</strong> água rural. O Quadro conceptual (Figura <strong>do</strong>is) discuti<strong>do</strong> neste relatório, po<strong>de</strong> ser usa<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> forma mais alargada pelo pessoal da WaterAid Moçambique, pela WaterAid globalmente<br />

e pelo sector <strong>de</strong> água rural, como ponto <strong>de</strong> entrada para avaliar e melhorar a situação da<br />

<strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural nos seus respectivos programas e<br />

projectos. Usan<strong>do</strong> as quatro áreas <strong>de</strong>finidas e combinan<strong>do</strong>-as com os factores chave<br />

i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong>s nesta pesquisa, os interessa<strong>do</strong>s po<strong>de</strong>rão avaliar o ponto da situação <strong>de</strong> cada<br />

um <strong>de</strong>les nas suas respectivas situações. A partir daí po<strong>de</strong>m i<strong>de</strong>ntificar que áreas<br />

necessitam ou não <strong>de</strong> mais trabalho, com o fim <strong>de</strong> melhorar a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong><br />

<strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural.<br />

Os esforços da WaterAid em Moçambique <strong>de</strong>vem focar-se na política, no apoio a uma melhor<br />

implementação da Política Nacional da Água, no <strong>de</strong>senvolvimento da capacida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s<br />

interessa<strong>do</strong>s, em melhorar estas duas áreas para permitir o bom funcionamento <strong>do</strong>s<br />

mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> gestão comunitária e, por fim, em garantir que esses mo<strong>de</strong>los tenham apoio<br />

externo contínuo. É imperativo também reconhecer a vasta experiência <strong>do</strong>s interessa<strong>do</strong>s<br />

chave envolvi<strong>do</strong>s nos projectos e programas <strong>de</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural apoia<strong>do</strong>s pela<br />

WaterAid, incluin<strong>do</strong> o governo e os parceiros. Isto <strong>de</strong>veria merecer reflexão e as lições<br />

aprendidas <strong>de</strong>verão ser aplicadas na solução das dificulda<strong>de</strong>s. O trabalho com to<strong>do</strong>s estes<br />

factores e as ligações entre eles e os relevantes interessa<strong>do</strong>s resultarão no melhoramento da<br />

<strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural e num serviço dura<strong>do</strong>uro.<br />

5.1 Recomendações<br />

Apresentam-se a seguir várias recomendações para acção. É importante que a WaterAid<br />

Moçambique reflicta <strong>sobre</strong> as suas experiências <strong>do</strong>s últimos 15 anos, nos seus sucessos e<br />

fracassos, para justificar as <strong>de</strong>cisões tomadas e o caminho em frente. Ela <strong>de</strong>verá ainda<br />

esforçar-se por ver a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> forma holística, analisan<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s os factores em<br />

conjunto, como uma só solução para vencer os <strong>de</strong>safios que enfrenta. Ela po<strong>de</strong>rá então<br />

<strong>de</strong>cidir como as suas práticas e as <strong>do</strong>s interessa<strong>do</strong>s necessitam mudar e adaptar-se para<br />

melhorar a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural.<br />

5.2.1 A Política<br />

A WaterAid <strong>de</strong>ve <strong>de</strong>senvolver a boa relação <strong>de</strong> trabalho que tem com o governo a nível<br />

distrital (Administrações Distritais e SDPI) na Província <strong>do</strong> Niassa, para trabalhar com eles na<br />

implementação da Política Nacional da Água. Reconhecen<strong>do</strong> a experiência <strong>do</strong> governo na<br />

Secção 5 – Conclusão<br />

<strong>Estu<strong>do</strong></strong> <strong>sobre</strong> a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural na Província <strong>do</strong> Niassa, Moçambique<br />

45


Secção 5 – Conclusão<br />

implementação <strong>do</strong>s serviços <strong>de</strong> água rural, po<strong>de</strong>ria usar-se a Tabela um, já apresentada<br />

anteriormente, para i<strong>de</strong>ntificar eventuais lacunas na implementação da política.<br />

Um passo inicial seria a WaterAid incentivar e trabalhar com o governo para divulgar a<br />

Política da Água. Isso po<strong>de</strong>ria ser feito através <strong>de</strong> fóruns <strong>sobre</strong> a água e discussões a nível <strong>de</strong><br />

distrito e, quan<strong>do</strong> possível, também a nível provincial, on<strong>de</strong> não o tenham feito já. Estes<br />

fóruns <strong>de</strong>veriam ser utiliza<strong>do</strong>s para advocacia e lobby <strong>de</strong> outros, para que reconheçam a<br />

importância da <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> na Política da Água. A nível nacional, a WaterAid também<br />

<strong>de</strong>ve aproveitar a sua forte relação com o governo, para <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a importância <strong>de</strong> melhorar<br />

a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural, utilizan<strong>do</strong> a Política Nacional da Água<br />

como base para esse argumento.<br />

Paralelamente, <strong>de</strong>verá ser encorajada a utilização <strong>do</strong> mapeamento com vista a melhorar o<br />

planeamento eficaz e a coor<strong>de</strong>nação <strong>do</strong> sector. A WaterAid <strong>de</strong>ve continuar a basear-se nas<br />

suas experiências <strong>do</strong> anterior trabalho com o governo para os encorajar a incorporar a<br />

técnica <strong>de</strong> mapeamento nos seus processos <strong>de</strong> planificação. Por exemplo, se houver um<br />

distrito que esteja a usar com sucesso o mapeamento para melhorar a coor<strong>de</strong>nação e<br />

planificação <strong>do</strong> sector, tal po<strong>de</strong>ria ser partilha<strong>do</strong> como um exemplo para encorajar outros a<br />

a<strong>do</strong>ptarem uma prática semelhante.<br />

Sobre os custos <strong>de</strong> capital, se os interessa<strong>do</strong>s num distrito não estiverem a<strong>de</strong>rin<strong>do</strong> às<br />

especificações da política nacional, o governo <strong>de</strong>ve assumir a responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> monitorar<br />

suas práticas e impor uma regulamentação mais rigorosa <strong>sobre</strong> o uso e finalida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s custos<br />

<strong>de</strong> capital. A WaterAid <strong>de</strong>ve trabalhar com as ONGs locais parceiras para garantir que eles<br />

próprios estejam seguin<strong>do</strong> essas orientações, e apoiar o governo para <strong>de</strong>senvolver<br />

mecanismos <strong>de</strong> monitoramento <strong>do</strong> uso <strong>do</strong>s custos <strong>de</strong> capital.<br />

5.2.2 A disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> peças <strong>sobre</strong>ssalentes<br />

A WaterAid <strong>de</strong>ve repetir ao governo que as abordagens <strong>do</strong> sector priva<strong>do</strong> e OCBs à provisão<br />

<strong>de</strong> peças <strong>sobre</strong>ssalentes não funcionaram. Se se quiser que os serviços se mantenham, é<br />

necessário trabalhar e pressionar o governo para assumir a responsabilida<strong>de</strong> pelo<br />

fornecimento <strong>de</strong> peças <strong>sobre</strong>ssalentes, principalmente ten<strong>do</strong> em conta o ênfase que a<br />

Política da Água põe na responsabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> governo. A WaterAid <strong>de</strong>ve financiar abordagens<br />

piloto inicialmente a nível distrital, por exemplo, financian<strong>do</strong> um indivíduo para trabalhar em<br />

estreita colaboração com as Administrações Distritais e SDPI, para criar um estoque e ven<strong>de</strong>r<br />

peças <strong>sobre</strong>ssalentes por um perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> um ano, e monitorar <strong>de</strong> perto o impacto <strong>de</strong>ste<br />

acor<strong>do</strong> <strong>sobre</strong> a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong>s pontos <strong>de</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água. Da<strong>do</strong> o actual<br />

sucesso <strong>do</strong> mecânico <strong>do</strong> distrito <strong>de</strong> Sanga e o sucesso das boas relação <strong>de</strong> trabalho entre ele<br />

e o governo local (SDPI), a WaterAid <strong>de</strong>veria consi<strong>de</strong>rar se este indivíduo po<strong>de</strong>ria ser financia<strong>do</strong><br />

para fazer o estoque e ven<strong>de</strong>r as peças <strong>sobre</strong>ssalentes como responsabilida<strong>de</strong> adicional.<br />

Para explorar outros potenciais acor<strong>do</strong>s <strong>sobre</strong> peças <strong>sobre</strong>ssalentes, a WaterAid <strong>de</strong>ve<br />

aproveitar a sua estreita relação com o Ministério da Saú<strong>de</strong> a nível nacional e,<br />

eventualmente, a nível distrital. Eles po<strong>de</strong>riam investigar <strong>de</strong> que forma se po<strong>de</strong>ria apren<strong>de</strong>r e<br />

ligar a distribuição <strong>de</strong> peças <strong>sobre</strong>ssalentes à distribuição <strong>de</strong> medicamentos e produtos <strong>de</strong><br />

saú<strong>de</strong>. A WaterAid <strong>de</strong>verá salientar os benefícios para a saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> um melhor <strong>abastecimento</strong><br />

<strong>de</strong> água, para incentivar ainda mais essa ligação na sua política e advocacia a to<strong>do</strong>s os níveis<br />

em Moçambique, e mesmo no trabalho global <strong>de</strong> política da WaterAid. Através disso, po<strong>de</strong><br />

fazer o lobby <strong>do</strong>s ministérios <strong>do</strong> governo para trabalhar mais estreitamente com o fim <strong>de</strong><br />

encontrar soluções para o problema das peças <strong>sobre</strong>ssalentes, da<strong>do</strong> o interesse comum <strong>de</strong><br />

um <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água melhora<strong>do</strong> e sustentável.<br />

46 <strong>Estu<strong>do</strong></strong> <strong>sobre</strong> a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural na Província <strong>do</strong> Niassa, Moçambique


5.2.3 Apoio externo ao hardware (técnico)<br />

A WaterAid <strong>de</strong>ve <strong>de</strong>senvolver mo<strong>de</strong>los para apoio externo ao hardware, trabalhan<strong>do</strong><br />

inicialmente com o Distrito <strong>de</strong> Sanga (ver caixa na página 26) para apoiar o actual mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><br />

apoio técnico que se mostrou eficaz. A falta <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>s pôs em causa a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong><br />

trabalho <strong>de</strong>ste mecânico <strong>de</strong> distrito. A WaterAid po<strong>de</strong> apoiar o governo (administrações<br />

distritais e os SDPI) com financiamento para ele se registar como associação por um ano,<br />

e elaborar um Memoran<strong>do</strong> <strong>de</strong> Entendimento entre ele e o governo. Se a WaterAid <strong>de</strong>cidir<br />

pilotar a distribuição <strong>de</strong> peças <strong>sobre</strong>ssalentes através <strong>de</strong>ste mecânico, como acima<br />

sugeri<strong>do</strong>, tal <strong>de</strong>ve ser incluí<strong>do</strong> no MoU. O Governo po<strong>de</strong>ria continuar a gerir e monitorar<br />

o seu trabalho. Se o mo<strong>de</strong>lo fôr bem sucedi<strong>do</strong>, a WaterAid, trabalhan<strong>do</strong> em estreita<br />

colaboração com o SDPI noutros distritos, po<strong>de</strong>ria replicar este mo<strong>de</strong>lo em qualquer<br />

outro lugar.<br />

Está planea<strong>do</strong> um projecto piloto <strong>de</strong> mecânicos distritais em Maúa e Nipepe. Embora os<br />

pormenores exactos ainda não tenham si<strong>do</strong> finaliza<strong>do</strong>s, é importante que este piloto se<br />

baseie na experiência no Distrito <strong>de</strong> Sanga. Se possível, este estu<strong>do</strong> piloto po<strong>de</strong>ria analisar<br />

se seria melhor replicar e testar o mo<strong>de</strong>lo existente <strong>do</strong> Distrito <strong>de</strong> Sanga, ou investigar uma<br />

solução alternativa com o governo local e ONGs locais, para oferecer às comunida<strong>de</strong>s opções<br />

<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> apoio externo ao hardware. A WaterAid po<strong>de</strong>ria, então, trabalhar com SDPI e<br />

outros interessa<strong>do</strong>s relevantes, para analisar que mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> apoio externo ao hardware<br />

são mais eficazes na manutenção <strong>do</strong>s serviços. A WaterAid também <strong>de</strong>veria explorar e<br />

incentivar o governo a apren<strong>de</strong>r com as experiências <strong>de</strong> outras ONGs que trabalhem com<br />

a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural em Moçambique, tal como a Unicef e o<br />

seu mo<strong>de</strong>lo acima cita<strong>do</strong> <strong>de</strong> artesãos locais, no Distrito <strong>de</strong> Guro, Província <strong>de</strong> Manica<br />

(Godfrey, 2010).<br />

5.2.4 As Parcerias<br />

A WaterAid <strong>de</strong>ve avaliar criticamente as suas parcerias, incluin<strong>do</strong> as que estabeleceu com<br />

ONGs locais e o governo local, para analisar que mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> parceria são os mais a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>s<br />

para melhorar a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural. Esta avaliação <strong>de</strong>ve incluir<br />

uma profunda reflexão <strong>sobre</strong> o trabalho <strong>do</strong>s últimos 15 anos, dada a riqueza <strong>de</strong><br />

conhecimentos e experiência <strong>do</strong>s parceiros da WaterAid. Por exemplo, será a relação<br />

bilateral entre a a WaterAid e os SDPI no Distrito <strong>de</strong> Sanga mais eficaz <strong>do</strong> que as relações<br />

tripartidas mais comuns noutros distritos on<strong>de</strong>, em certos casos, a falta <strong>de</strong> comunicação<br />

entre as ONGs e o governo tem resulta<strong>do</strong> em atrasos nas reparações? A avaliação <strong>de</strong>ve<br />

envolver aspectos como análise <strong>do</strong>s MoU, consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong>-se se seria apropria<strong>do</strong> ter um<br />

Memoran<strong>do</strong> <strong>de</strong> Entendimento entre as ONGs e os governos locais, regularida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

comunicação entre to<strong>do</strong>s os interessa<strong>do</strong>s, planificação conjunta e transparência.<br />

Uma possibilida<strong>de</strong> seria a WaterAid trabalhar com to<strong>do</strong>s os parceiros (governos locais e o<br />

ONGs locais), num distrito, para avaliar criticamente as suas parcerias e as maneiras <strong>de</strong><br />

trabalhar em conjunto em relação à <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong>. A partir daí, os interessa<strong>do</strong>s po<strong>de</strong>riam<br />

<strong>de</strong>senvolver um plano <strong>de</strong> acção para melhorar a situação <strong>de</strong> <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong><br />

<strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural no distrito. Po<strong>de</strong>ria ser <strong>de</strong>senvolvida uma meto<strong>do</strong>logia<br />

específica na avaliação inicial que fosse mais tar<strong>de</strong> utilizada para realizar o mesmo exercício<br />

noutros distritos. Isso esclareceria que questões <strong>de</strong> parceria estão a afectar a<br />

<strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong>s serviços <strong>de</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural e como elas po<strong>de</strong>riam ser<br />

resolvidas e melhoradas.<br />

Secção 5 – Conclusão<br />

<strong>Estu<strong>do</strong></strong> <strong>sobre</strong> a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural na Província <strong>do</strong> Niassa, Moçambique<br />

47


Secção 5 – Conclusão<br />

5.2.5 A Capacida<strong>de</strong><br />

Capacida<strong>de</strong>, ou seja, o conhecimento e compreensão <strong>do</strong>s princípios <strong>de</strong> <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong>,<br />

<strong>de</strong>vem ser melhora<strong>do</strong>s sempre que possível através <strong>de</strong> ONGs e governos locais a níveis<br />

a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>s. Através da utilização <strong>de</strong> instrumentos existentes, tais como o Quadro da<br />

Sustentabilida<strong>de</strong> da WaterAid (Carter, 2011) relaciona<strong>do</strong> com a representação efectiva da<br />

<strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> da água rural na Política da Água, a WaterAid Moçambique <strong>de</strong>ve consi<strong>de</strong>rar<br />

a elaboração <strong>de</strong> directrizes ou <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> ferramentas para princípios <strong>de</strong><br />

<strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> que pu<strong>de</strong>sse compartilhar com to<strong>do</strong>s os interessa<strong>do</strong>s on<strong>de</strong> fosse<br />

necessário. Este po<strong>de</strong>ria incorporar e <strong>de</strong>senvolver a Tabela um e o quadro conceptual <strong>do</strong><br />

Quadro <strong>de</strong> Sustentabilida<strong>de</strong> (Carter, 2011) para reforçar a importância da <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong><br />

<strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural. Além disso, o quadro conceptual po<strong>de</strong>ria ser incluí<strong>do</strong> como<br />

um ponto <strong>de</strong> entrada para a avaliação da <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> projectos <strong>de</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong><br />

água rural. To<strong>do</strong>s iriam <strong>de</strong>stacar os principais factores que afectam a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong><br />

<strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural e ajudar a melhorar a capacida<strong>de</strong> <strong>do</strong> governo e <strong>do</strong>s parceiros.<br />

Da<strong>do</strong>s os conhecimento e vasta experiência <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os interessa<strong>do</strong>s em questões <strong>de</strong><br />

<strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong>, que <strong>de</strong>ve não só ser aproveitada como <strong>de</strong>senvolvida, recomenda-se uma<br />

abordagem flexível a esse exercício <strong>de</strong> capacitação.<br />

Devem realizar-se avaliações físicas das parcerias da WaterAid, com ênfase nas ONGs locais.<br />

Por exemplo, po<strong>de</strong>ria ser mapea<strong>do</strong> o número <strong>de</strong> activistas em relação ao número <strong>de</strong><br />

comunida<strong>de</strong>s em que cada parceiro trabalha. A partir daí, a WaterAid po<strong>de</strong> trabalhar com os<br />

parceiros para investigar formas mais eficientes e eficazes <strong>de</strong> operar, por exemplo,<br />

verifican<strong>do</strong> se necessitam <strong>de</strong> financiamento adicional para transporte e combustível, para<br />

que os activistas sejam capazes <strong>de</strong> chegar a mais comunida<strong>de</strong>s com maior regularida<strong>de</strong>.<br />

5.2.6 O PEC<br />

Desenvolven<strong>do</strong> este último ponto, a WaterAid po<strong>de</strong> também trabalhar com as suas<br />

organizações parceiras – ONGs locais e os governos relevantes – para <strong>de</strong>finir os padrões ou<br />

princípios mínimos para a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong>s recursos existentes que as comunida<strong>de</strong>s<br />

precisem enten<strong>de</strong>r para garantirem a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong>s serviços. Ao trabalhar com essas<br />

partes interessadas, a WaterAid <strong>de</strong>veria apoiar o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ferramentas que<br />

contenham esses princípios. Essas ferramentas po<strong>de</strong>riam apresentar os princípios num<br />

formato semelhante aos materiais <strong>do</strong> PEC já existentes tais como <strong>de</strong>senhos e banda<br />

<strong>de</strong>senhada.<br />

Após isso, é imperativo que essas ferramentas sejam incorporadas nos manuais PEC <strong>de</strong><br />

orientação e formação já existentes, e não <strong>de</strong>senvolvidas como um manual em separa<strong>do</strong>.<br />

A WaterAid po<strong>de</strong>riam trabalhar em estreita colaboração com a DNA e outros <strong>de</strong>partamentos<br />

governamentais relevantes, tais como o Ministério da Saú<strong>de</strong>, fazen<strong>do</strong> lobby junto <strong>de</strong>les<br />

para que incorporem essas ferramentas nos manuais <strong>de</strong> orientação e formação <strong>do</strong> PEC.<br />

As organizações parceiras teriam por sua vez a responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalhar com<br />

comunida<strong>de</strong>s para assegurar que elas entendam efectivamente os princípios da<br />

<strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong>. A WaterAid <strong>de</strong>ve também incentivar e apoiar a aprendizagem a partir <strong>de</strong><br />

outras experiências <strong>de</strong> ONGs como a Unicef e as suas i<strong>de</strong>ias <strong>sobre</strong> o PEC, como o uso <strong>de</strong><br />

workshops <strong>de</strong> <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> a nível da comunida<strong>de</strong> (Godfrey, 2010).<br />

Liga<strong>do</strong> a isto, parte integrante <strong>do</strong> trabalho da WaterAid será trabalhar com os parceiros para<br />

mudar suas abordagens ao trabalho <strong>do</strong> PEC e adaptar as suas estratégias para encontrar<br />

a maneira mais eficaz <strong>de</strong> prestar apoio contínuo às comunida<strong>de</strong>s e garantir que ele seja<br />

flexível e adapta<strong>do</strong> às necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>las.<br />

Um <strong>do</strong>s aspectos fundamentais que afecta a gestão comunitária <strong>do</strong>s pontos <strong>de</strong><br />

<strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água e que requer uma acção urgente é a questão <strong>do</strong> financiamento para<br />

a operação e manutenção. Em todas as comunida<strong>de</strong>s visitadas, foi pre<strong>do</strong>minante o<br />

48 <strong>Estu<strong>do</strong></strong> <strong>sobre</strong> a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural na Província <strong>do</strong> Niassa, Moçambique


financiamento reactivo. A WaterAid <strong>de</strong>veria trabalhar com as organizações parceiras e o<br />

governo local para estudar os custos reais e o os fun<strong>do</strong>s necessários para manter um serviço<br />

a longo prazo numa comunida<strong>de</strong>, por exemplo, pelo perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> um ano, para saber se este<br />

financiamento reactivo po<strong>de</strong>ria realmente sustentar um ponto <strong>de</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água ao<br />

longo <strong>de</strong>sse tempo ou não. Se não fôr possível, <strong>de</strong>veria ser posto maior ênfase na<br />

importância <strong>do</strong> financiamento para a operação e manutenção no trabalho <strong>do</strong> PEC.<br />

Alternativamente, <strong>de</strong>vem ser explora<strong>do</strong>s outros méto<strong>do</strong>s para resolver este problema, tais<br />

como partilha <strong>de</strong> custos, etc (Carter et al, 2010), já pilota<strong>do</strong> e testa<strong>do</strong> em programas<br />

existentes <strong>de</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural.<br />

5.2.7 Reflectir e avaliar o trabalho da WaterAid Moçambique em relação<br />

à <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural<br />

A WaterAid <strong>de</strong>ve avaliar os seus 15 anos <strong>de</strong> experiência <strong>de</strong> projectos <strong>de</strong> água rural para<br />

i<strong>de</strong>ntificar que formas <strong>de</strong> trabalho levaram ao sucesso da <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong><br />

<strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural. Os principais factores i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong>s e o quadro conceptual<br />

po<strong>de</strong>riam ser utiliza<strong>do</strong> para avaliar a experiência <strong>de</strong> to<strong>do</strong> o programa <strong>de</strong> país em termos<br />

da <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural. A partir daí, as lições po<strong>de</strong>riam ser<br />

extraídas, partilhadas mais amplamente no sector e aplicadas no trabalho da WaterAid.<br />

Alia<strong>do</strong> a isso, é importante que a WaterAid em Moçambique se esforce por apren<strong>de</strong>r e<br />

compartilhar as experiências <strong>de</strong> outros interessa<strong>do</strong>s em to<strong>do</strong> o sector WASH <strong>sobre</strong> a<br />

<strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> da provisão <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural. A WaterAid Moçambique <strong>de</strong>ve<br />

aproveitar oportunida<strong>de</strong>s como o GAS e as ligações com outras ONGs como a Unicef, para<br />

partilhar lições as aprendidas e os mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>s para garantir a duração <strong>do</strong>s<br />

serviços com o passar <strong>do</strong> tempo. Po<strong>de</strong>riam rever estas abordagens e as experiências <strong>do</strong>s<br />

outros para explorar os aspectos que po<strong>de</strong>riam ser adapta<strong>do</strong>s e aplica<strong>do</strong>s nos seus próprios<br />

projectos e programas para melhorar <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural.<br />

Secção 5 – Conclusão<br />

<strong>Estu<strong>do</strong></strong> <strong>sobre</strong> a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural na Província <strong>do</strong> Niassa, Moçambique<br />

49


Annex one – Themes and sub-themes used as prompts during semi-structured interviews<br />

Anexo 1<br />

Temas e subtemas usa<strong>do</strong>s como<br />

motivação durante as entrevistas<br />

semi-estruturadas<br />

Temas para as comunida<strong>de</strong>s<br />

Tecnologia (incluin<strong>do</strong><br />

peças <strong>sobre</strong>ssalentes)<br />

• Tecnologia<br />

apropriada<br />

• Acessível<br />

• Existência das peças<br />

Gestão financeira<br />

• Vonta<strong>de</strong><br />

• Suficiente<br />

• Compreen<strong>de</strong>r<br />

a importância<br />

Temas para os parceiros<br />

Tecnologia (incluin<strong>do</strong><br />

peças <strong>sobre</strong>ssalentes)<br />

• Tecnologia<br />

apropriada<br />

• Formação a<strong>de</strong>quada<br />

• Explicação clara<br />

<strong>sobre</strong> a importância<br />

das peças<br />

<strong>sobre</strong>ssalentes<br />

Gestão financeira<br />

• Mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong><br />

poupança<br />

• Formação a<strong>de</strong>quada<br />

Motivação e<br />

sentimento<br />

<strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong><br />

da comunida<strong>de</strong><br />

• Priorida<strong>de</strong><br />

• Procura<br />

Confiança e comunicação<br />

• Transparência<br />

e abertura<br />

• Conhecimento<br />

e entendimento<br />

• Comunicação regular<br />

Motivação e<br />

sentimento <strong>de</strong><br />

proprieda<strong>de</strong> da<br />

comunida<strong>de</strong><br />

• Processo <strong>de</strong><br />

sensibilizaçã<br />

o (PEC)<br />

• Procura<br />

Confiança e comunicação<br />

• Comunicação clara<br />

• Presença na<br />

comunida<strong>de</strong><br />

• Regularida<strong>de</strong> da<br />

interacção<br />

Apoio externo<br />

• Necessida<strong>de</strong><br />

• Presença<br />

• O quê<br />

Comité da água e gestão<br />

• Representante<br />

• Conhecimento<br />

• Capacida<strong>de</strong><br />

• Estrutura<br />

Apoio externo<br />

• Apoio apropria<strong>do</strong> ao<br />

hardware<br />

• PEC a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong><br />

• Relação <strong>de</strong> trabalho com o<br />

governo local<br />

Comité da água e gestão<br />

• Apoio a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong> à<br />

formação<br />

• Formação a<strong>de</strong>quada<br />

<strong>sobre</strong> papéis e<br />

responsabilida<strong>de</strong>s<br />

50 <strong>Estu<strong>do</strong></strong> <strong>sobre</strong> a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural na Província <strong>do</strong> Niassa, Moçambique


Temas para o governo<br />

Temas para o Pessoal da WaterAid<br />

Anexo 1 – Temas e subtemas usa<strong>do</strong>s como motivação durante as entrevistas semi-estruturadas<br />

Tecnologia (incluin<strong>do</strong><br />

peças <strong>sobre</strong>ssalentes)<br />

• Tecnologia<br />

apropriada<br />

• Re<strong>de</strong> <strong>de</strong> peças<br />

<strong>sobre</strong>ssalentes<br />

• Mo<strong>de</strong>lo para o apoio<br />

Gestão financeira<br />

• Nível apropria<strong>do</strong> da<br />

contribuição para<br />

capital e tarifa<br />

• Financiamento<br />

suficiente para<br />

o sector<br />

Tecnologia (incluin<strong>do</strong><br />

peças <strong>sobre</strong>ssalentes)<br />

• Mo<strong>de</strong>los alternativos<br />

para a distribuição<br />

das peças<br />

<strong>sobre</strong>ssalentes<br />

• Tecnologia<br />

apropriada<br />

Gestão financeira<br />

• Tarifas a<strong>de</strong>quadas<br />

• Mo<strong>de</strong>los para<br />

poupança<br />

Motivação e<br />

sentimento<br />

<strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong><br />

da comunida<strong>de</strong><br />

• Estabelecer<br />

a procura<br />

• Trabalhar<br />

com a<br />

comunida<strong>de</strong><br />

Confiança e comunicação<br />

• Presente<br />

• Transparente<br />

• Regular<br />

• A<strong>de</strong>quada e apropriada<br />

Motivação e<br />

sentimento<br />

<strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong><br />

da comunida<strong>de</strong><br />

• Compreen<strong>de</strong>r<br />

a procura<br />

• Apoiar a<br />

interacção<br />

regular e a<br />

comunicação<br />

• Trabalhar com<br />

a comunida<strong>de</strong><br />

Confiança e comunicação<br />

• Comunicação<br />

Transparência e<br />

abertura<br />

Apoio externo<br />

• Claros MoU, etc, com<br />

parceiros e sector priva<strong>do</strong><br />

• Monitorar os parceiros<br />

• Coor<strong>de</strong>nação entre os<br />

<strong>de</strong>partamentos <strong>do</strong> governo<br />

• Facilitar o apoio ao<br />

hardware e software<br />

Comité da água e gestão<br />

• Apoio<br />

• Formação<br />

Apoio externo<br />

• Criação da capacida<strong>de</strong><br />

• Importância da<br />

<strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong><br />

• Processos <strong>de</strong> planificação<br />

• PEC suficiente<br />

Comité da água e gestão<br />

• Criação da<br />

capacida<strong>de</strong><br />

• Importância<br />

<strong>Estu<strong>do</strong></strong> <strong>sobre</strong> a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural na Província <strong>do</strong> Niassa, Moçambique<br />

51


Annex two – Schedule of fieldwork and list of respon<strong>de</strong>nts<br />

Anexo 2<br />

Calendário <strong>do</strong> trabalho <strong>de</strong> campo<br />

e lista <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s<br />

Data Activida<strong>de</strong><br />

19.10.2010 Entrevista semi-estruturada com o Oficial <strong>de</strong> Programas da WaterAid<br />

20.10.2010 Entrevista semi-estruturada com o Oficial <strong>de</strong> Projectos da WaterAid<br />

(Distritos <strong>de</strong> Maúa e Nipepe)<br />

21.10.2010 Distrito <strong>de</strong> Maua: Entrevista semi-estruturada com duas comunida<strong>de</strong>s<br />

(um a funcionar, um sem funcionar)<br />

22.10.2010 Entrevista semi-estruturada com o governo local (SDPI)<br />

23.10.2010 Distrito <strong>de</strong> Nipepe: Entrevista semi-estruturada com duas comunida<strong>de</strong>s<br />

(um a funcionar, um sem funcionar)<br />

23.10.2010 Entrevista semi-estruturada com o governo local (SDPI)<br />

23.10.2010 Entrevista semi-estruturada com pessoal <strong>do</strong> parceiro para os Distritos <strong>de</strong><br />

Maúa e Nipepe<br />

24.10.2010 Distrito <strong>de</strong> Metarica: Entrevista semi-estruturada com duas comunida<strong>de</strong>s<br />

(um a funcionar, um sem funcionar)<br />

24.10.2010 Entrevista semi-estruturada com o governo local (SDPI)<br />

Entrevista semi-estruturada com Pessoal <strong>do</strong> parceiro<br />

25.10.2010 Escrever os da<strong>do</strong>s recolhi<strong>do</strong>s até ao momento e viajar<br />

26.10.2010 Distrito <strong>de</strong> Mecanhelas: Entrevista semi-estruturada com duas comunida<strong>de</strong>s<br />

(um a funcionar, um sem funcionar)<br />

26.10.2010 Entrevista semi-estruturada com o governo local (SDPI)<br />

Entrevista semi-estruturada com Pessoal <strong>do</strong> parceiro<br />

27.10.2010 Distrito <strong>de</strong> Mandimba: Entrevista semi-estruturada com Oficial <strong>de</strong><br />

Programas da WaterAid (Distritos <strong>de</strong> Metarica, Mecanhelas, Mandima)<br />

28.10.2010 Entrevista semi-estruturada com o governo local (SDPI)<br />

Entrevista semi-estruturada com Pessoal <strong>do</strong> parceiro<br />

Entrevista semi-estruturada com duas comunida<strong>de</strong>s<br />

(um a funcionar, um sem funcionar)<br />

29.10.2010 Distrito <strong>de</strong> Sanga: Entrevista semi-estruturada com o governo local (SDPI)<br />

30.10.2010 Entrevista semi-estruturada com duas comunida<strong>de</strong>s<br />

(um a funcionar, um sem funcionar)<br />

01.11.2010 Distrito <strong>de</strong> Lichinga: Entrevista semi-estruturada com duas comunida<strong>de</strong>s<br />

(um a funcionar, um sem funcionar)<br />

02.11.2010 Entrevista semi-estruturada com PDPWH<br />

52 <strong>Estu<strong>do</strong></strong> <strong>sobre</strong> a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural na Província <strong>do</strong> Niassa, Moçambique


Nome <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s Título da função<br />

Anexo 2 – Calendário <strong>do</strong> trabalho <strong>de</strong> campo e lista <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s<br />

Leovigil<strong>do</strong> Custodio Oficial <strong>de</strong> Projectos da WaterAid<br />

Benicio Baulo Oficial <strong>de</strong> Programas da WaterAid<br />

Lazaro Cumbe Oficial <strong>de</strong> Projectos da WaterAid<br />

Samuel Sengou Oficial <strong>de</strong> Programas da WaterAid<br />

Armin<strong>do</strong> <strong>do</strong>s Santos Almeida Coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>r da A<strong>de</strong>cco<br />

Antonio Cuvir Coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>r da Cahova<br />

Francisco Ali Culabo Coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>r da Amiremo<br />

Alexandre Camillo Calistro Coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>r da Estamos, Mandimba<br />

Joao Mazive Distrito <strong>de</strong> Maúa – DSDPI<br />

Carlos Domingo Zombe Distrito <strong>de</strong> Nipepe – DSDPI<br />

Sergio Rui Meza Distrito <strong>de</strong> Metarica – DSDPI<br />

Mandimba – DSDPI<br />

Alima Mandra Sanga – DSDPI<br />

Graciano Artur PDPWH<br />

<strong>Estu<strong>do</strong></strong> <strong>sobre</strong> a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural na Província <strong>do</strong> Niassa, Moçambique<br />

53


Annex three – References<br />

Anexo 3<br />

Referências bibliográficas<br />

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prepara<strong>do</strong> para o Departamento <strong>de</strong> Assuntos Hídricos e Florestais, África <strong>do</strong> Sul.<br />

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Amaro M, Fernan<strong>de</strong>z P, Freitas M, Godfrey S, Muianga A e Sousa Moises L (2009)<br />

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Unicef.<br />

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eport%20-%20FINAL.pdf<br />

Sug<strong>de</strong>n S (2001) Assessing sustainability – the sustainability snapshot, WEDC<br />

Conference 2001 Conference paper.<br />

United Nations Department of Economic and Social Affairs (2010) The Millennium<br />

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Report%202010%20En%20r15%20-low%20res%2020100615%20-.pdf#page=60<br />

WaterAid (2011) Sustainability framework, WaterAid, Reino Uni<strong>do</strong>.<br />

http://www.wateraid.org/<strong>do</strong>cuments/plugin_<strong>do</strong>cuments/sustainability_framework<br />

_portuguese_final.pdf<br />

WaterAid em Moçambique (2010) 2010 – 2015 Country Strategy, WaterAid.<br />

WaterAid em Tanzânia (2009) Management for sustainability. Practical lessons from<br />

three studies on the management of rural water supply schemes, WaterAid.<br />

http://www.wateraid.org/<strong>do</strong>cuments/plugin_<strong>do</strong>cuments/management_for_sustain<br />

ability.pdf<br />

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WEDC. http://www.lboro.ac.uk/well/resources/Publications/guidancemanual/prelims.pdf<br />

56 <strong>Estu<strong>do</strong></strong> <strong>sobre</strong> a <strong>sustentabilida<strong>de</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>abastecimento</strong> <strong>de</strong> água rural na Província <strong>do</strong> Niassa, Moçambique


A WaterAid transforma vidas melhoran<strong>do</strong> o acesso a água<br />

segura, higiene e saneamento nas comunida<strong>de</strong>s mais pobres<br />

<strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Para maior impacto trabalhamos com parceiros e<br />

influenciamos os que tomam as <strong>de</strong>cisões.<br />

WaterAid, 47-49 Durham Street, Lon<strong>do</strong>n SE11 5JD, Reino Uni<strong>do</strong><br />

Tel. 020 7793 4500 Fax. 020 7793 4545<br />

Email: wateraid@wateraid.org www.wateraid.org<br />

Números <strong>de</strong> registo <strong>de</strong> obra <strong>de</strong> beneficência 288701 (Inglaterra e País <strong>de</strong> Gales) e SC039479 (Escócia)

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