GOMEÇA A BRIGA PELA SAÚ<strong>DE</strong> Em Cangaíba, uma Associação Popular luta por melhores condições <strong>de</strong> vida "Eles fazem o que querem e ninguém abre a boca, porque pobre já está acostumado a sofrer". É seu Pedro, um animado e bem falante chofer <strong>de</strong> praça quem fala, guiando o fusca da frota em que trabalha e explicando o porquê do abandono <strong>de</strong> <strong>São</strong> <strong>Miguel</strong> <strong>Paulista</strong>. Para ele, o povo nem sabe os direitos que tem. "E, isso vai conti- nuar assim, se o pessoal não se unir para brigar...", lem- bra enquanto se <strong>de</strong>spe<strong>de</strong> do passageiro em frente à Igre- ja <strong>de</strong> Bom Jesus <strong>de</strong> Cangaíba. Ali, nos fundos da igreja, uma realida<strong>de</strong> parece <strong>de</strong>smentir as palavras do chofer: médicos, donas <strong>de</strong> casa e estudantes unem-se para discutir os problemas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> do bairro, apontar suas soluções, reivihdicare, sem per- <strong>de</strong>r tempo, já vão ajudando a população com'um ambu- latório on<strong>de</strong> aten<strong>de</strong>m, esclarecem e encaminham os que procuram os seus serviços. A Associação formou-se <strong>de</strong>- pois <strong>de</strong> muitas reuniões nas casa dos moradores, quando estes enten<strong>de</strong>ram que era preciso se organizar para <strong>de</strong>fen- <strong>de</strong>r a saú<strong>de</strong> da comunida<strong>de</strong>. Antes <strong>de</strong> sua criação, um grupo <strong>de</strong> médicos, resi<strong>de</strong>ntes e estudantes se reuniram para ver a melhor forma <strong>de</strong> ajudar, é a psicóloga Maria Aparecida <strong>de</strong> Laia quem conta: "Tudo começou há quatro anos,quando o Bispo da Região. Leste, dom Angélico, convidou o pessoal para formar a Pastoral <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>. No início, o trabalho era in- formar a população das causas que levam às doenças e à falta <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> um modo geral-: como evitar as doenças transmissíveis e o porque da falta <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> na região. Com tanta gente doente e tanta <strong>de</strong>satenção do governo, o povo cansou <strong>de</strong> esperar e partiu na <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> seus interesses, reivindicando um posto do INAMPS, centros <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> do Estado, casas melhores para morar, salário que dê para comprar os alimentos necessários e todas as outras coisas que ajudam a manter uma vida sadia. Para isso, foi criada a Associação Popular <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, que reúne moradores da Zona Leste, estudantes, médicos e todos os que querem a melhoria das condições <strong>de</strong> vida da população. A Associação promove cursos e palestras, com filmes, que mostram porque saú<strong>de</strong> é coisa rara na região. E, aos sábados à tar<strong>de</strong> mantém um plantão <strong>de</strong> ambulatório nos fundos da Igreja <strong>de</strong> Bom Jesus <strong>de</strong> Cangaíba. Mas logo se viu que não dava para ficar nisso. A saú<strong>de</strong> não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> apenas <strong>de</strong> médico e remédio. Ela está liga- da a outros problemas que a comunida<strong>de</strong> enfrenta no seu dia-a-dia, como salário, alimentação, habitação, falta <strong>de</strong> água e esgoto e, principalmente, educação.' Sentiu-se que esse era um problema que interessava a todos e não podia ser resolvido apenas pelos jovens que se uniram para ajudar a população. Mais ainda: que só a união <strong>de</strong>ssa população po<strong>de</strong>ria levar a alguma coisa, prin- cipalmente para conseguir melhorias para a região. Outro fato contribuir para a criação da Associação, segundo a psicóloga: "muita gentequeria ajudar, participar dos tra- balhos, mas ficava constrangida por não ser católica - e as reuniões se realizavam na igreja. Foi então que as reu- niões passaram para as casas, com palestras,.discussões, etc. Criaram-se boletins <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, projetaram-se filmes, audio-visuais, enfim, tudo para atingir também, os que não sabem ler". Agora todos participam: crentes, católi- cos, espíritas. Testemunhas <strong>de</strong> Jeová e outros. "O pro- blema não é-<strong>de</strong> religião, pois o que faz a união é a carên- cia que é sentida por todos", explica Messias, um mora- dor do Jardim Robru, on<strong>de</strong> li<strong>de</strong>ra ump Associação <strong>de</strong> Amigos <strong>de</strong> Bairro. "É o próprio pessoal dos bairros que convida a entida<strong>de</strong> para fazer as reuniões em suas casas", completa Laia. A ASSOCIAÇÃO É DO POVO A Associação Popular <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> funciona, assim, para os moradores, mas com o trabalho <strong>de</strong>les mesmos. Ela não tem lucro e sobrevive às castas <strong>de</strong> mensalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Cr$ 10,00, para quem po<strong>de</strong> pagar. Organiza cursos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>,,faz atendimento lá no salão da igreja e, agora, também está trabalhando junto com as Socieda<strong>de</strong>s Ami- gos <strong>de</strong> Bairro da região. "Mas enquanto a gente vai fa- zendo as coisas, sem esperar cair do céu, a gente não es- quece <strong>de</strong> lutar para que o governo cumpra a sua parte e traga para a região o que precisámos", diz um membro da Associação. Em Cangaíba, como em toda a região <strong>de</strong> <strong>São</strong> Mi- guel, não existe um único posto do INAMPS e a popula- ção tem que se <strong>de</strong>slocar até o Tatuapé. "Também luta- mos por mais centros <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> - conta Laia -, pois o que temos aqui é péssimo e nos outros lugares nem mesmo o péssimo existe". Para lutar por essas coisas a própria população já está se reunindo, discutindo e reivindicando seus direitos. Vários bairros estão se Unindo para conseguir centros <strong>de</strong> saúoe, muito necessários à população, principalmente por causa da vacinação e do leite distribuído. Alguns já conseguiram, outros irão conquistá-los e, <strong>de</strong>sse modo, darão força para aqueles que ainda não tentaram lutar pelo que têm direito. Essa é uma briga que todo mundo está começando a comprar. Talvez seja a briga da qual seu Pedro, do taxi, falava. Quem sabe ele e muitas outras pessoas irão se jun- tar ao pessoal da Associação' Popular <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> quando <strong>de</strong>la tomarem conhecimento. o 33 Z > ■o 5' 01
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