e-journal of children's literature - Biblioteca Digital - Universidade do ...
e-journal of children's literature - Biblioteca Digital - Universidade do ...
e-journal of children's literature - Biblioteca Digital - Universidade do ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
[E‐F@BULATIONS / E‐F@BULAÇÕES ] 6 / NOV 2010<br />
e unicamente uma menina de oito anos que, no segre<strong>do</strong> das suas fantasias, longe <strong>do</strong>s<br />
olhares curiosos <strong>do</strong> irmão ‘menor’ e da malícia das amigas da escola, ainda delirava<br />
com histórias de príncipes e princesas onde viviam fadas boas e bruxas más! A Gata<br />
Borralheira, a Cinderella ... ou a Bela A<strong>do</strong>rmecida...! E a Branca de Neve? Quantas e<br />
quantas vezes a Nini se fechava no quarto, em frente ao espelho, para brincar aos<br />
teatrinhos e fingir que era a menina pobre, sempre à volta <strong>do</strong> borralho, maltratada pela<br />
madrasta e pelas duas meias-irmãs, mais feias que sei lá o quê! Depois vinha o<br />
convite para o baile <strong>do</strong> palácio, para o príncipe escolher a noiva – ah! Um rapaz lin<strong>do</strong><br />
de morrer... <strong>do</strong>s que só andam nas outras escolas... estranho, não? Ou os <strong>do</strong> canal<br />
Disney… E como a menina pobre, que era também a mais bela <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> inteiro<br />
(muito mais que a Miss Universo...) precisava de um vesti<strong>do</strong> para ir ao baile <strong>do</strong><br />
príncipe, aparecia a boa fada madrinha – que era também a Nini, desta vez a fazer de<br />
fada – com a dita varinha de condão (da Barbie) para transformar os farrapos num<br />
esplen<strong>do</strong>roso vesti<strong>do</strong> de princesa: <strong>do</strong>ura<strong>do</strong>, pratea<strong>do</strong>, cintilante de pedras preciosas...<br />
sem esquecer os sapatinhos de cetim ou de cristal – a Nini tinha sempre alguma<br />
dificuldade em escolher entre o cetim e o cristal para tão delica<strong>do</strong>s pés de princezinha.<br />
Obviamente, a imaginação tem os seus dias e a da Nini tinha sobretu<strong>do</strong> segun<strong>do</strong>s,<br />
pois variava num abrir e fechar de olhos! Ah, a seguir vinha o coche, também <strong>do</strong>ura<strong>do</strong>,<br />
e os cria<strong>do</strong>s de libré – que eram ratos transforma<strong>do</strong>s... nesta parte, na falta de ratos<br />
verdadeiros ou imaginários, porque a imaginação da Nini não era perita em ratos, era<br />
até um tanto avessa a eles, sim, na falta <strong>do</strong>s ditos bichinhos, a Nini servia-se <strong>do</strong>s<br />
peluches espalha<strong>do</strong>s por to<strong>do</strong>s os cantos <strong>do</strong> quarto, fossem eles cães, gatos, ursos ou<br />
até elefantes e golfinhos! Lá cria<strong>do</strong>s de libré é que não iam faltar! E a abóbora para o<br />
coche? Era fácil: uma alm<strong>of</strong>ada grande! Mas a Nini deleitava-se com o gozo<br />
indescritível de se arranjar para entrar em cena no teatrinho inventa<strong>do</strong>! Pintar-se toda<br />
como uma princesa que vai ao baile <strong>do</strong> seu príncipe encanta<strong>do</strong>... ia ser a mais linda de<br />
todas as outras raparigas, todas princesas, e importantíssimas! Era ela a mais<br />
deslumbrante, para quem to<strong>do</strong>s os olhares se voltavam, num misto de admiração e<br />
inveja: a princesa inesquecível por quem o príncipe iria apaixonar-se perdidamente<br />
para toda a vida! E depois, já se sabe o final da história: casavam e eram felizes para<br />
sempre!<br />
Por tu<strong>do</strong> isto, a Nini escondia-se no quarto de banho <strong>do</strong>s pais, onde a mãe<br />
guardava mil caixas de cores para os olhos e para as faces, outros tantos batons,<br />
lápis, bases, pós... tinha de ficar lindíssima e, seguramente, uns anos mais velha, pois<br />
quem iria prestar atenção a uma miúda de oito anos? Soltava as tranças em frente ao<br />
espelho e os longos caracóis acobrea<strong>do</strong>s acompanhavam leves passos de dança... e<br />
era na fantasia pueril de um desejo por nascer que na criança se esculpiam to<strong>do</strong>s os<br />
72