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e-journal of children's literature - Biblioteca Digital - Universidade do ...

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[E‐F@BULATIONS / E‐F@BULAÇÕES ] 6 / NOV 2010<br />

habituais ralís com o pato no cesto <strong>do</strong> triciclo e, nem assim, as coisas mudavam. Até<br />

que um dia a situação se alterou radicalmente e o pato começou a encarar a cadela<br />

com outros olhos e, sobretu<strong>do</strong>, com outro bico. Mas isto ainda levou o seu tempo e foi<br />

preciso que acontecesse algo verdadeiramente grave para que o Peninha<br />

compreendesse que a Foxy não viera para lhe tirar o lugar junto <strong>do</strong> Mané nem, por<br />

sua vez, o pequeno ia pô-lo de la<strong>do</strong> para brincar só com a cadela! Eram to<strong>do</strong>s amigos<br />

e assim é que devia ser! Além disso, a Foxy, que um dia tinha si<strong>do</strong> salva de morrer<br />

com um tiro, fora também quem lhe salvara a vida! E isso, o Peninha não havia de<br />

esquecer nunca: se não fosse pela Foxy, àquela hora estaria já no papo de alguém ou<br />

de alguma raposa esperta! Pensan<strong>do</strong> melhor, depois daquele dia de fraca memória,<br />

em vez de arreliar a cadela dan<strong>do</strong>-lhe fortes bicadas naquele insuportável pêlo grosso,<br />

o Peninha passou a ser simpático – muito simpático, até – com a Foxy, dan<strong>do</strong>-lhe<br />

bicadinhas afectuosas no focinho, como se fossem muitos beijinhos.<br />

Mas deixem-me contar-vos o que aconteceu. De há uns tempos a esta parte, o<br />

Peninha andava muito saí<strong>do</strong> e já não se contentava com as brincadeiras <strong>do</strong>s outros<br />

patinhos no lago <strong>do</strong>s caniços, com nenúfares cor-de-rosa e lilás. Tinha a sua piada<br />

uma vez ou duas, mas to<strong>do</strong>s os dias a mesma coisa era uma grande maçada,<br />

especialmente para um pato esperto como ele que até entrava em corridas de triciclo.<br />

O Peninha queria conhecer mun<strong>do</strong>, alargar os seus horizontes, ser um pato com vistas<br />

largas, porque era assim que as patinhas haviam todas de correr atrás dele! Isto<br />

pensava o Peninha enquanto passava para o exterior da herdade, ten<strong>do</strong> descoberto,<br />

por mero acaso, uma grande buraca com um pequeno túnel, por baixo <strong>do</strong> velho muro<br />

de pedras que circundava os fun<strong>do</strong>s da propriedade. “Ah, liberdade!”, pensava o<br />

Peninha extasia<strong>do</strong>, não sem uma pontinha de receio, ao olhar a extensa mata de<br />

carvalhos, pinheiros, tojo e fetos altos que o rodeava. Ali mal entrava o sol e o Peninha<br />

teve a estranha sensação de ter passa<strong>do</strong> de repente de um lin<strong>do</strong> dia claro para uma<br />

noite enluarada, de luz verde-prata. Por momentos estacou, num misto de surpresa e<br />

angústia indizível, que nem a sua mente de pato esclareci<strong>do</strong> sabia descortinar. E<br />

nesse dia, o me<strong>do</strong> foi mais forte e o patinho correu sem parar, de volta para a<br />

herdade. Suspirou de alívio ao ver os outros patos a brincar na água, a mãe pata a<br />

ralhar como de costume, e o Leão a espreguiçar-se na erva fresca, sempre de olho na<br />

Glória, que estendia roupa, e nos pássaros que iam roubar-lhe os restos da ração.<br />

Num ápice, o Peninha mergulhava nas águas <strong>do</strong> lago e entrava na algazarra<br />

generalizada <strong>do</strong>s outros patos. Tu<strong>do</strong> voltara ao normal – melhor assim! Mas...<br />

esperem lá... não era bem assim: qualquer coisa se passava lá atrás no pátio da<br />

cozinha. O Peninha ouvia a voz <strong>do</strong> Mané que o procurava, dan<strong>do</strong> pela sua falta. E<br />

então apressou-se a aparecer, morto de curiosidade para saber a razão daquele<br />

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