e-journal of children's literature - Biblioteca Digital - Universidade do ...
e-journal of children's literature - Biblioteca Digital - Universidade do ...
e-journal of children's literature - Biblioteca Digital - Universidade do ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
[E‐F@BULATIONS / E‐F@BULAÇÕES ] 6 / NOV 2010<br />
O Mané baixou os olhos e fez uma vez mais beicinho, reprimin<strong>do</strong> um grande<br />
soluço:<br />
– Sou pequenino... e o Peninha a<strong>do</strong>ra... fazemos grandes ralís no pátio! O Tó<br />
até disse que eu era um grande corre<strong>do</strong>r de ralís de triciclo!<br />
– “Sou pequenino...” – repetiu a Nini procuran<strong>do</strong> imitar a voz <strong>do</strong> irmão. – O Tó...<br />
tó-tó! O Tó disse isso só para te pôr contente, entendes? O Tó é grande e até já tem<br />
carro... ele é que corre nos ralís! Fica com o carro cheio de lama e estampa-se to<strong>do</strong>,<br />
às vezes... a mãe diz que é muito perigoso! Mas é muito fixe!<br />
– Pois é! E ele é que sabe que eu sou um grande corre<strong>do</strong>r... de triciclo!<br />
– De triciclo... grande coisa! Olha o disparate!<br />
O Tó era o ‘tio’ Tó, o irmão mais novo da mãe e gémeo da Milucha, que andava<br />
a estudar engenharia na faculdade, e tinha um carro velho to<strong>do</strong> ‘artilha<strong>do</strong>’ para<br />
competir nos “ralis-paper” organiza<strong>do</strong>s pela associação de estudantes. Mas para as<br />
crianças o tio Tó era apenas o Tó, tão criançola quanto eles quan<strong>do</strong> os visitava na<br />
herdade durante os fins-de-semana em que não ficava a estudar “ou a sair com os<br />
amigos”, comentava a mãe a rir. O Tó delirava com to<strong>do</strong> aquele espaço da quinta, com<br />
a vida ao ar livre e com a variedade de animais que lá acorriam to<strong>do</strong>s os dias para<br />
serem trata<strong>do</strong>s. Quan<strong>do</strong> não estava a falar ao telemóvel – “aquelas conversas chatas,<br />
sem fim...”, pensavam os sobrinhos, “com a namorada...”, acrescentava a Nini<br />
maliciosa – pegava numa bicicleta velha e acompanhava a Nini num passeio; até se<br />
dava ao trabalho de se contorcer to<strong>do</strong> para andar no triciclo <strong>do</strong> Manezinho. Tinha si<strong>do</strong><br />
dele a ideia de passear o pato no cestinho <strong>do</strong> triciclo.<br />
– É o teu navega<strong>do</strong>r no ralí, Mané! Para te indicar o caminho! – Explicou o<br />
rapaz, perante o olhar inquiri<strong>do</strong>r <strong>do</strong> pequeno, leva<strong>do</strong> pela curiosidade própria da idade.<br />
O Mané achou a ideia “um espectáculo!” e desde então passou a ‘contratar’ o Peninha<br />
para ser o seu ‘navega<strong>do</strong>r’ <strong>of</strong>icial nos ralís de triciclo.<br />
– O Tó vai-me ensinar a andar de bicicleta!<br />
– Pois, pois...<br />
– E vai! Vai mesmo! E depois já faço ralís de bicicleta e ponho o Peninha a<br />
andar comigo no cesto!<br />
– E... pode saber-se... que bicicleta? Na minha é que não andas! É da ‘Barbie’,<br />
cor-de-rosa... e tem um cestinho para as minhas bonecas – não para o Peninha... Já<br />
fizeste asneira daquela vez, Mané! Não fazes outra, não, que eu não deixo! Nem o<br />
Leão! Come o pato numa dentada!<br />
– Tá calada, Nini! Não come nada, o Leão não gosta de pato! Mas também não<br />
preciso da tua bicicleta para nada! O pai vai-me comprar uma nova – de corrida! Muito<br />
84