19.04.2013 Views

e-journal of children's literature - Biblioteca Digital - Universidade do ...

e-journal of children's literature - Biblioteca Digital - Universidade do ...

e-journal of children's literature - Biblioteca Digital - Universidade do ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

[E‐F@BULATIONS / E‐F@BULAÇÕES ] 6 / NOV 2010<br />

santos pareciam bandear-se para o la<strong>do</strong> <strong>do</strong> ‘inimigo’, deixan<strong>do</strong> escapar os bandi<strong>do</strong>s<br />

como que por milagre! E, nestes casos, embora algo contrafeita, Glória não tinha<br />

como não aceitar os desígnios divinos!<br />

Mas prossigamos. Como já vos disse, o pai das crianças era veterinário e tinha<br />

adapta<strong>do</strong> um velho estábulo para fazer uma espécie de clínica onde tratava os<br />

animais <strong>do</strong>entes das re<strong>do</strong>ndezas: bois e vacas, cavalos, burros, cães e gatos, coelhos,<br />

galinhas, patos, perus, periquitos, canários e até hamsters de estimação. Jorge<br />

contava igualmente com a ajuda, embora temporária, de um estudante de veterinária,<br />

Pedro, que ali estava num tipo estágio de prática clínica. Por seu turno, Leonor<br />

ajudava na contabilidade da clínica, pois era contabilista de formação, um tanto<br />

contrafeita, diga-se, pois o seu maior gosto era tratar de plantas, em especial <strong>do</strong> lin<strong>do</strong><br />

roseiral junto à entrada principal da casa. Para além da azáfama diária da clínica, a<br />

rotina da casa era bastante calma e normalmente era Glória que, a despeito da idade,<br />

dava conta <strong>do</strong> reca<strong>do</strong> na cozinha e nas roupas, fican<strong>do</strong> o grosso das limpezas para<br />

uma empregada a dias que vinha à herdade regularmente. Havia também o jornaleiro,<br />

o Sr. Joaquim, para tratar da horta e <strong>do</strong> pomar mas que também dava um jeito no<br />

jardim. Falta apenas dizer que, to<strong>do</strong>s os dias durante o perío<strong>do</strong> de aulas, Leonor<br />

conduzia a velha carrinha vermelha até Caminha para levar a Nini à escola e o Mané<br />

ao infantário.<br />

– Para o ano vais para a escola, Mané! Vais para a primária! Ai não, que não<br />

vais! – Ameaçava a irmã quan<strong>do</strong> chegava da escola, cheia de trabalhos de casa – E<br />

depois vês o que é trabalhar, seu preguiçoso!<br />

– Não sou nada! Preguiçosa és tu, Nini – só queres <strong>do</strong>rmir! Eu acor<strong>do</strong> sempre<br />

ce<strong>do</strong> e levanto-me logo... muito mais ce<strong>do</strong> que tu!<br />

– Ha, ha, que gracinha! O que tu queres é brincar! Diz lá, o que é que tu fazes<br />

na tua escolinha? Brincas ...! Não sabes o que é estar no terceiro ano! A escola não é<br />

brincadeira!<br />

– Tá bem, mas eu ainda sou pequenino...<br />

– Bebé... pois és... desculpa, já me esquecia... na minha idade... sim, porque é<br />

bom que saibas que eu já an<strong>do</strong> no terceiro ano e vou passar para o quarto! Não é<br />

qualquer coisa, Mané! E depois já vou ser <strong>do</strong> quarto ano! Quan<strong>do</strong> fores para o<br />

primeiro eu estou no quarto ano, imagina só!<br />

E por segun<strong>do</strong>s, a pequena deu consigo a reflectir sobre a importância das<br />

palavras que acabara de dizer ao irmão. Era um momento solene! Quarto ano...<br />

depois quinto... aquilo sim, não era brincadeira nenhuma! O Mané olhou com<br />

reverência para a mana grande, de oito anos e tranças cor de cobre, no seu lin<strong>do</strong><br />

vesti<strong>do</strong> branco com cerejas bordadas. Pois é, o que ela dizia era mesmo verdade! Ele<br />

81

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!