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gustavo barroso história secreta do brasil - temposdofim.com

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A falta <strong>do</strong> chefe não matou o movimento. Mal o missionário deu<br />

as costas, João Ferreira, cunha<strong>do</strong> de João Antônio <strong>do</strong>s Santos, proclamou-se<br />

rei <strong>do</strong> Reino Encanta<strong>do</strong>, em seu lugar. Usava o título de<br />

Rei-Santidade. Manuel Vieira passou a acolitá-lo <strong>com</strong> o nome de frei<br />

Simão. As práticas e arengas prosseguiram e mais numeroso se<br />

tornou o agrupamento de desocupa<strong>do</strong>s na Pedra Bonita. O rei usava<br />

uma coroa de cipó na cabeça e, depois de falar à massa, <strong>do</strong> alto <strong>do</strong><br />

terraço, se punha a cantar e a pular <strong>com</strong>o um energúmeno. Logo<br />

após, iam to<strong>do</strong>s, entoan<strong>do</strong> cânticos, para a Casa Santa beber o Vinho<br />

Encanta<strong>do</strong>, <strong>com</strong>posição de jurema e manacá <strong>com</strong> que se embriagavam<br />

até cair. Ali se realizavam os casamentos, que "eram por demais<br />

ligeiros e simples. Presentes os noivos, testemunhas e especta<strong>do</strong>res,<br />

o intitula<strong>do</strong> frei Simão, proferin<strong>do</strong> certas palavras cabalísticas (10),<br />

mandava a noiva apertar <strong>com</strong> os seus os beiços <strong>do</strong> noivo, entregan<strong>do</strong>-a<br />

em seguida ao rei para dispensá-la. Consistia esta dispensa<br />

em passar a noiva ao poder <strong>do</strong> rei, que a restituía no outro dia ao<br />

mari<strong>do</strong>, <strong>com</strong>pletamente dispensada (11)." A poligamia era permitida.<br />

O Rei Santidade tinha sete rainhas, esposas oficiais.<br />

Era a restauração da prática <strong>do</strong> antigo e ominoso jus cunni, o<br />

cazzagio <strong>do</strong> Piemonte, a cullage, culliage e cuissage de França, a<br />

pernada de Espanha, a prelibação ou o direito de gambia de<br />

Portugal (12), <strong>com</strong> a diferença de que o simbolismo <strong>do</strong> empernamento<br />

desaparecia para dar lugar ao ato prelibatório.<br />

Terminada a bebida <strong>do</strong> vinho de jurema e manacá, que lembrava<br />

os velhos adjuntos de jurema ou reuniões para a embriaguês em<br />

<strong>com</strong>um, já considera<strong>do</strong>s "supersticiosos" no século XVIII, pelas autoridades,<br />

que prendiam os vicia<strong>do</strong>s, <strong>com</strong>o <strong>do</strong>cumenta Luiz da Câmara<br />

Cascu<strong>do</strong>; terminada a bebida, os fanáticos passavam a fumar cachimbo<br />

para verem as riquezas, declarou a testemunha José Gomes,<br />

citada na obra <strong>do</strong> dr. Ático Leite, o que nos leva a supor <strong>com</strong> fundamento<br />

um entorpecente que lhes dava a visão de coisas esplêndidas<br />

ou vários delírios, <strong>com</strong>o o ópio, o haxixe ou a maconha. "Macumba é<br />

a maconha, moconha, diamba, liamba, pango, cânhamo (Cannabis<br />

sativa Indica) — escreve Câmara Cascu<strong>do</strong> — da qual a Ilustríssima<br />

Câmara Municipal <strong>do</strong> Rio de Janeiro em 4 de outubro de 1830 proibia<br />

o uso." É a cangonha <strong>do</strong> explora<strong>do</strong>r Serpa Pinto e a makiah de<br />

Bentley. Anfião e bangue chama-se na Índia. Garcia da Orta diz que<br />

seus toma<strong>do</strong>res ficavam "enleva<strong>do</strong>s, sem nenhum cuida<strong>do</strong> e prazimenteiros"<br />

ou <strong>com</strong> um "piso parvo". Também produz o delírio furioso,<br />

<strong>com</strong>o em diversos casos registra<strong>do</strong>s na obra de Rodrigues Dória (13).<br />

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