Versão em PDF - Partido Social Democrata
Versão em PDF - Partido Social Democrata
Versão em PDF - Partido Social Democrata
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Não sou muito atreito à fixação<br />
de frases, mas não posso deixar de<br />
reconhecer e referir que a frase que<br />
titula este texto, proferida por Cavaco<br />
Silva num discurso de Comício <strong>em</strong><br />
1995, me impressionou pela<br />
convicção com que foi proferida e me<br />
ficou gravada no subconsciente, até há<br />
algum t<strong>em</strong>po, quando começa a ficar<br />
a nu a verdadeira incapacidade do PS<br />
e do seu Governo para equacionar as<br />
grandes questões estruturais<br />
cont<strong>em</strong>porâneas, que condicionam e<br />
pod<strong>em</strong> determinar o nosso futuro para<br />
algumas gerações.<br />
De facto, depois de no primeiro<br />
Governo e sob a tutela e o rigor que<br />
Sousa Franco ainda foi capaz de<br />
aplicar ao Governo do PS e deste ter<br />
terminado a execução dos grandes<br />
projectos herdados dos Governos do<br />
PSD e ainda de ter concluído o<br />
programa de adesão à Moeda única,<br />
o PS e os seus Governos estão a<br />
esvair-se e a entrar num estado de<br />
imobilismo “mortis” que se torna<br />
confrangedor e, mais do que isso,<br />
verdadeiramente perigoso para o<br />
futuro da Sociedade Portuguesa.<br />
Poderíamos avaliar tal situação<br />
desde vários pontos de vista e nas<br />
diversas áreas da Governação, o que<br />
aliás o PSD v<strong>em</strong> fazendo na A. R.,<br />
mas por mim e pelo facto de estar<br />
inserido no tecido <strong>em</strong>presarial e na<br />
economia exportadora (?), quero<br />
sublinhar o estado <strong>em</strong> que estamos e<br />
o que nos pode esperar face ao<br />
imobilismo e, mais complicado<br />
ainda, a ineficácia das políticas de<br />
dinamização da economia,<br />
nomeadamente da que pode<br />
contribuir para a recuperação do<br />
nosso cada vez mais acentuado deficit<br />
comercial externo.<br />
Se quer<strong>em</strong>os avaliar o estado de<br />
espírito do Primeiro Ministro, basta<br />
referir, por ex<strong>em</strong>plo, o seu discurso<br />
desta s<strong>em</strong>ana quando foi prometer<br />
para Pisões, no Alentejo, mais uma<br />
“grandiosa” obra, para o futuro, desta<br />
vez uma barrag<strong>em</strong> e nesse contexto<br />
“<strong>em</strong>presarial” (?), proferir uma<br />
“orientação estratégica” no sentido de<br />
que o Comércio Externo Português<br />
deve recuperar do grave deficit de oito<br />
para zero, que t<strong>em</strong> com o Comércio<br />
Espanhol <strong>em</strong> Portugal.<br />
Ou seja, o Primeiro Ministro<br />
chegou, provavelmente depois de<br />
3<br />
Opinião<br />
”ELES NÃO SABEM GOVERNAR!” Vieira da Cunha<br />
profundos estudos realizados por um<br />
conjunto de assessores especializados<br />
(?), à conclusão de que os Empresários<br />
Espanhóis vend<strong>em</strong> oito vezes mais<br />
<strong>em</strong> Portugal que os Empresários<br />
Portugueses vend<strong>em</strong> <strong>em</strong> Espanha.<br />
Tão douta conclusão e tão<br />
estratégico pensamento t<strong>em</strong>-no o<br />
cidadão comum todos os dias,<br />
entrando num Hipermercado ou mais<br />
simplesmente sentando-se na beira da<br />
estrada, por ex<strong>em</strong>plo na A1, e tentar<br />
contar quantos camiões de matrícula<br />
espanhola entram carregados <strong>em</strong><br />
Portugal e quantos portugueses sa<strong>em</strong><br />
com carga para o mercado espanhol.<br />
Nós, os que trabalhamos <strong>em</strong><br />
contacto com a realidade <strong>em</strong>presarial,<br />
há muito que não t<strong>em</strong>os dúvidas e<br />
estamos verdadeiramente mais<br />
preocupados que o Primeiro<br />
Ministro, porque sab<strong>em</strong>os mais do<br />
que ele desta situação e<br />
compreend<strong>em</strong>os e estamos a ver as<br />
consequências colaterais que deste<br />
estado de coisas resultam, e ficamos<br />
verdadeiramente “gelados” quando<br />
constatamos que o Primeiro Ministro<br />
ainda não viu nada, que soube pelo<br />
seu filho, que vê Portugal desde os<br />
EEUU, que “os Portugueses são<br />
pouco profissionais” e que ainda não<br />
entendeu o que diz o seu Ministro das<br />
Finanças quando afirma que “este<br />
modelo económico de<br />
desenvolvimento de Portugal está<br />
esgotado” e a seguir não acontece<br />
nada.<br />
Aliás, a constatação crítica da<br />
grave situação do País <strong>em</strong> várias áreas<br />
de Governação está a determinar que<br />
o Governo agora, <strong>em</strong> vez de tentar<br />
resolver estas grandes questões, se<br />
<strong>em</strong>penhe, isso sim com determinação,<br />
na divulgação e denúncia dos<br />
probl<strong>em</strong>as e questões estruturais que<br />
não consegue resolver, como se fosse<br />
a outros que correspondesse a sua<br />
resolução e reorganização.<br />
Este comportamento não é inédito<br />
nos Governos PS, basta recordar o<br />
Ministro da Agricultura – Gomes da<br />
Silva, quando veio à rua colocar-se à<br />
frente de uma manifestação contra<br />
certas políticas do seu Ministério e<br />
do Governo que integrava.<br />
Só que agora este modelo de fazer<br />
política t<strong>em</strong> vários e importantes<br />
seguidores, pois há o grupo dos ex-<br />
Ministros que assum<strong>em</strong> uma crítica<br />
frontal ao Governo <strong>em</strong> que estiveram<br />
e ao actual, há os Ministros no activo<br />
que, como a da Saúde afirma, alto e<br />
b<strong>em</strong>, “que é vergonhosa a prestação<br />
pública dos Serviços de Saúde do seu<br />
Ministério”, etc.<br />
No princípio de Abril, realizouse<br />
<strong>em</strong> Lisboa uma importante Feira<br />
Ibérica de Alimentos e Bebidas –<br />
Alimentária 2001, e aí apareceu o Sr.<br />
Primeiro Ministro rodeado daquele<br />
séquito servil que s<strong>em</strong>pre segue os<br />
líderes de cada momento e, de cabeça<br />
levantada e olhar <strong>em</strong> frente, percorreu<br />
dois dos quatro pavilhões cheios de<br />
Empresas / Produtos que aí estavam<br />
e tão <strong>em</strong>pertigado ia no seu andar, que<br />
n<strong>em</strong> se deu conta que cerca de 75%<br />
das Empresas aí representadas eram<br />
de Espanha e de que os importantes e<br />
menos importantes Empresários<br />
Portugueses do Sector n<strong>em</strong> se fizeram<br />
representar, ou porque as Empresas<br />
estão “apertadas” e não têm dinheiro<br />
para pagar os preços dos Stands da<br />
FIL, ou porque estão<br />
verdadeiramente a ficar<br />
marginalizados no contexto da nossa<br />
economia.<br />
O Sr. Primeiro Ministro, com a<br />
sua presença e a sua santa ignorância<br />
das circunstâncias reais que vive a<br />
nossa economia PME, foi à FIL<br />
consagrar, s<strong>em</strong> saber, aquilo que esta<br />
s<strong>em</strong>ana diz querer combater, ou seja,<br />
o domínio não dos produtos mas antes<br />
do Marketing de Espanha sobre<br />
Portugal.<br />
Isto depois de no ano passado ter<br />
autorizado o Sr. Carneiro Jacinto<br />
(l<strong>em</strong>bram-se dele) da Administração<br />
do ICEP a gastar numa “exposição”<br />
cultural de Portugal <strong>em</strong> Madrid um<br />
milhão de contos, cerca de cinco<br />
milhões de Dólares Americanos, para<br />
que se entenda melhor.<br />
No entanto, e porque o gasto<br />
público do Estado vai <strong>em</strong> crescendo,<br />
os Departamentos Governamentais<br />
com responsabilidades na promoção<br />
do nosso Comércio Externo estão<br />
asfixiados s<strong>em</strong> dinheiro, não passará<br />
muito t<strong>em</strong>po que sob a capa de “uma<br />
reorganização das nossas<br />
representações externas” se comec<strong>em</strong><br />
a fechar delegações do ICEP no<br />
Mundo, <strong>em</strong> vez de lhe oferecer<br />
recursos e meios organizacionais e<br />
operacionais para introduzir uma<br />
maior dinâmica na actividade<br />
exportadora, principalmente das<br />
nossas PME, muitas delas com<br />
excelente capacidade produtiva, mas<br />
s<strong>em</strong> meios e quadros técnicos<br />
formados para as levar<strong>em</strong> com êxito<br />
aos Mercados Internacionais.<br />
É aqui que bate o ponto e é isto<br />
que o Sr. Primeiro Ministro não sabe.<br />
É que se os Espanhóis vend<strong>em</strong><br />
mais aqui e no Mundo que os<br />
Portugueses vend<strong>em</strong> <strong>em</strong> Espanha e no<br />
Mundo, é porque invest<strong>em</strong> mais na<br />
educação e formação do seu pessoal,<br />
faz<strong>em</strong> formação para o Comércio<br />
Internacional, motivam os<br />
Empresários para a modernização<br />
<strong>em</strong>presarial e faz<strong>em</strong> marketing com<br />
o profissionalismo que o filho do<br />
Primeiro Ministro lhe diz que os<br />
Portugueses não têm, o que <strong>em</strong> certo<br />
sentido é verdade, pelo que deveria<br />
levá-lo a pensar qual a<br />
responsabilidade do seu Governo<br />
neste estado de coisas.<br />
O nosso Primeiro Ministro<br />
d<strong>em</strong>onstra permanent<strong>em</strong>ente no seu<br />
discurso, principalmente na área<br />
económica, a superficialidade dos<br />
seus raciocínios, seja quando se<br />
entusiasma pela Internet até aos<br />
limites, ia a dizer do ridículo, do<br />
irrealismo como se Portugal fosse um<br />
País com elevados níveis de formação<br />
e consequente capacidade de<br />
assimilação, ao nível <strong>em</strong>presarial,<br />
PME’s, de novas tecnologias, quer<br />
quando pensa que, por decreto ou por<br />
sua inspiração, quer que os<br />
Portugueses invadam Espanha com os<br />
n/ produtos.<br />
Infelizmente uma estratégia de<br />
internacionalização, mesmo para<br />
chegar a um País que está aqui ao lado,<br />
exige muita preparação prévia,<br />
capacidade de intervenção e<br />
mobilização transversal, preparação<br />
de quadros profissionais,<br />
reformulação de estratégias<br />
<strong>em</strong>presariais, incentivos com<br />
discriminação positiva para aqueles<br />
que queiram de facto mudar o rumo<br />
das suas Empresas e disso, o nosso<br />
Primeiro Ministro não sabe nada n<strong>em</strong><br />
t<strong>em</strong> no seu Governo qu<strong>em</strong> se<br />
interesse por tal assunto.<br />
Foi ex<strong>em</strong>plo dessa incapacidade<br />
para compreender a verdadeira<br />
realidade da nossa economia<br />
<strong>em</strong>presarial, recheada de PME cheias<br />
(continua na página 6)