NUMERO 66 — ANNO XVIII — OUTUBRO DE 1940 —PREÇO 5$000
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A. AUSTREGÉSILO<br />
D a A c a d e m Bras eira<br />
O<br />
bem pode ser objetivo, ou natura! e subjetivo, ou moral. O<br />
Bem físico, manifesta-se pela sensibilidade orgânica, e resume-se<br />
ao prazer físico, e às vezes à felicidade vital. Muitos<br />
querem identificar e outros separar o bem do prazer. Estão unificados,<br />
ao menos ligados pela mesma noção objetiva e subjetiva. C prazer<br />
quase sempre acompanha o bem em qualquer das suas modalidades.<br />
Não vale a pena transcrever as opiniões metafísicas de Aristóteles,<br />
Descartes e outros acerca das diferenças e graduações entre Bem e<br />
Prazer, e entre Bem e Felicidade.<br />
O bem encarado na esféra subjetiva, é<br />
atitude piedosa e religiosa, em síntese<br />
tendência à perfeição.<br />
O bem individual confunde-se com o<br />
a virtude, a boa ação, a<br />
o resumo da ética que é a<br />
prazer, isto é, com estados<br />
orgânicos cenestésticos de euforia e que se resume ao estado de tensão<br />
média vital dos orgãos. Em todos os animais superiores as condições<br />
de alegria ou de prazer físicos podem-se perceber ou auferir.<br />
No homem as circumstâncias do prazer, da alegria e da felicidade,<br />
manifestam-se pelas representações mentais que dái surgem.<br />
A tendência humana é para apurar somente o bem moral ou espiritual,<br />
porque o bem físico logo é esquecido, pela pouca influência<br />
que desperta na mentalidade ou no sentimentalismo.<br />
Biologicamente falando a saúde é o mais representativo de todos<br />
os bens e só quando o corpo se acha em boas condições e espírito<br />
também se acha assim. O espírito é o reflexo do corpo, que per<br />
sua vez é governado pelo espírito, em harmónico círculo vicioso.<br />
O bem espiritual pôde ser dado pela arte, pela ciência, ou pe'a<br />
religião. A estética e a religião conduzem frequêntemente o espírito<br />
para os gozos que se imaginam. E' porém, do domínio dos sentimentos<br />
que o homem goza e sofre, quer dizer, encontra a dor e o<br />
prazer, o bem e o mal. As próprias idéas só fazem gozar ou sofrer<br />
quando são amalgamadas aos sentimentos ou afetos, constituindo o<br />
máximo da vihração espiritual, isto é, as idéas-forças de Fouillée.<br />
Bem, Prazer e Felicidade, misturam-se, condensam-se, unificam-se<br />
de acordo com o conceito que cada indivíduo faz da vida.<br />
Os elementos materiais do bem, do prazer ou da felicidade, só<br />
valem quando atravessam o limiar da espiritualidade e aí se demoram,<br />
se transformam e se sublimam.<br />
A polorização das idéas-sentimentos, na dor e no prazer, sintetizam<br />
a noção subjetiva do desfortúnio e da felicidade, e criam as<br />
filosofias, que se resumem às duas grandes classes pessimistas e<br />
otimistas, ou ainda melhor, queixosos e conformados, porque o otimismo<br />
termina na conformação da harmonia da natureza, e no pequeno<br />
saldo de prazer sobre a dór humana.<br />
A noção do prazer como consequência do bem, é para Spencer<br />
ligada à utilidade biológica ou moral. Os fisiologistas creem, como<br />
Feré que as sensações agradaveis se acompanham, do aumento da energia<br />
vital, enquanto que as desagradaveis se acompanham de desintegração.<br />
A sensação do prazer resolve-se pois, na sensação da potência<br />
orgânica, e a de desprazer em incapacidade. Esta é a maneira de<br />
pensar de Darwin, Spencer, Dumont, Bain e outros.<br />
Não podemos abstrair nenhuma condição do prazer do organismo<br />
em si. O próprio prazer sentimental pôde ser artificialmento<br />
produzido por drogas e tóxicos. A um indivíduo profundamente entristecido,<br />
ou sofredor de males físicos, ou morais, podemos modificar<br />
o estado de sofrença, ou de melancolia, pela ingestão, inoculação,<br />
aspiração, ou injeção de produtos anodinos, estupefacientes<br />
ou soporíficos, como o álcool, a morfina, a cocaina, o clorofórmio, o<br />
cloral, o protóxido de hidrogênio, o eter, etc. Quer dizer que a dor<br />
pôde ser modificada por um agente medicamentoso e transformar-ss<br />
ao menos transitoriamente em alegria e prazer. Daí o hábito condensavel<br />
de muitos indivíduos abafarem as máguas nas bebidas alcoólicas,<br />
no uso de tóxicos estupefacientes como a cocaina, a mor-<br />
fina, etc. Neste conceito se baseia Wilian James para provar a<br />
natureza orgânica das emoções.<br />
Jouvin, em trabalho espiritualista notável acerca da crítica do pessimismo,<br />
estabelecendo o balanço entre os bens e os males, proclama<br />
a dificuldade do mesmo. Contudo depois de longa dissertação<br />
a respeito, erúdita, interessante, clara e leal, reconhece de acordo<br />
com as idéas leibnitzianas, que Deus resume o bem e o bélo, e nestas<br />
condições, a dificuldade do balanço se derime, porque só a visão<br />
da infinita perfeição deve preocupar o homem. James Sully, em obra<br />
clássica acerca do pessimismo, em que esplana o resumo histórico<br />
e faz-lhe a crítica, procura também estabelecer o balanço entre o<br />
prazer e a dor, e construir as bases filosóficas do prazer e da<br />
felicidade.<br />
A vida não pôde ser medida diretamente pela sensação insulada do<br />
prazer, ou de sofrimento. O prazer objetivo, ou o subjetivo não podem<br />
constituir a base essencial da vida, noção que deve ser substituída<br />
pela felicidade. A condição permanente do prazer não pôde<br />
ser o lastro da fortuna. O prazer mostra-se o reflexo de um bem<br />
interior. A felicidade é real, contanto que o homem se disponha ó<br />
nela acreditar. Livre, tocado de otimismo razoavel, estabelece a possibilidade<br />
da conquista da fortuna, e crê o progresso um de seus fatores.<br />
O germe de felicidade está na ação do Bem aue se origina<br />
naturalmente da idéa do prazer.<br />
O princípio do bem nasceu do estado físico que é dado pela cenestesia.<br />
A saúde, pois, com a média da atividade do organismo, constituiu<br />
para o homem a primeira noção do Bem; em oposição, apareceu<br />
o mal ou a doença. Os sofrimentos físicos, sobretudo de