NUMERO 66 — ANNO XVIII — OUTUBRO DE 1940 —PREÇO 5$000
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como fez na sua celebre serie da fachada prin-<br />
cipal da cathedral de Ruão. Era uma retina<br />
incomparável, capaz de surprehender as me-<br />
nores variações da vibração luminosa fixando-<br />
Ihes a tremolina tenue e palpitante. Como<br />
que um arrepio subtil percorria a superficie<br />
das coisas na transição das horas do dia: lá<br />
estava Monet, com seu cavallete dentro de<br />
uma carruagem, para não surprehender o ins-<br />
tante luminoso ephemero e extremamente fu-<br />
gidio. Ou então, dentro de um bote, arran-<br />
java seu atelier: e de lá fixava com uma agu-<br />
deza innappellavel o frémito das aguas tran-<br />
quillas, os alisamentos húmidos que se espre-<br />
guiçam na atmosphera das zonas luiguidas,<br />
como se poderá verificar pelo quadro que<br />
delle fez o mestre Eduardo Monet: L'atelier<br />
de Claude Monet.<br />
A paisagem, como genero proprio, conside-<br />
Ed. Monet <strong>—</strong> O atelier de Claudio Monet<br />
rado como se bastasse a si mesma, data do<br />
século XVII, e é de origem flamenga. Os hoi-<br />
landezes, em breve se tornaram primaciaes na<br />
especialidade. Pelo século XIX, alguns in-<br />
glezes e francezes e certos francezes se tor-<br />
naram famosos na paisagem. Turner, por<br />
exemplo, que pintando em casa, com apon-<br />
tamentos de luz tomados do natural, attesta<br />
uma impressionante memoria visual.<br />
Mais a paisagem, como retrato da terra, do<br />
paiz, segundo a própria ethymologia, dafa,<br />
em verdade, da escola impressionista, para<br />
cá: 1860 é a hora de sua irrecusável appa-<br />
riçao.<br />
V<br />
Atravez das influencias que lhe tenham vindo<br />
do hollandez excepcional que foi Jongkind ou<br />
do francez Eugénio Boudin, não se negará que<br />
Claudio Monet <strong>—</strong> Boulevard des Capucines<br />
a paisagem de movimento culmina na technica de Monet. Que<br />
é que se deve pintar, como elemento principal na paisagem? A<br />
physionomia dos logares. Mas estes não se retratam pela sua<br />
geometria. Se "toda paisagem é um estado de alma", esse es-<br />
tado só poderá ser dado pela atmosphera, pelo envolvimento da<br />
luz. Pintar o ar ambiente <strong>—</strong> será então, o verdadeiro motivo. O<br />
problema da paisagem é, assim, um caso particular da atmos-<br />
phera. Precisamente nos encontramos diante de soluções tech-<br />
nicas offerecidas, com tanta felicidade, por Monet.<br />
As mais subtis variantes da luz foram por elle fixadas: e o mais<br />
singelo logar como que se poetisa e toma vulto espiritual á nossa<br />
contemplação. A poesia do artista, pintando a luz, revela os<br />
mais Íntimos segredos da natureza e faz que sintamos como o<br />
mundo é maior e mais bello.<br />
Claudio Monet <strong>—</strong> La débâcle