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legionários do rock andré luis campanha demarchi - UFRJ

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Irrita<strong>do</strong> com declarações <strong>do</strong> porta-voz <strong>do</strong> general-presidente João Figueire<strong>do</strong>, Carlos Átila, de que<br />

o comício pelas diretas em Curitiba só serviria para desestabilizar o processo sucessório, Ulysses<br />

prometeu mandar-lhe o compacto com ‘Inútil’ de presente. ‘Ele que repita isso, que toque o disco<br />

e fique ouvin<strong>do</strong>’, declarou o político em 13 de janeiro de 1984. A canção tornou-se o hit single da<br />

Campanha das Diretas (Dapieve, 1995, 107).<br />

O contexto político da década de surgimento <strong>do</strong> “<strong>rock</strong> brasileiro” foi marca<strong>do</strong> pelo lento<br />

processo de redemocratização da sociedade, expresso no afrouxamento <strong>do</strong> controle social e<br />

político exerci<strong>do</strong> pelo governo ditatorial, inicia<strong>do</strong> em 1978 quan<strong>do</strong> foi revoga<strong>do</strong> o Ato<br />

institucional de número cinco (AI-5) e, por conseguinte, na <strong>campanha</strong> pelas eleições diretas para<br />

presidente. Este momento de certo relaxamento <strong>do</strong>s aparelhos de repressão e censura 38 foi<br />

certamente importante para o desenvolvimento e difusão <strong>do</strong>s diversos temas retrata<strong>do</strong>s nas<br />

canções das bandas de <strong>rock</strong>. Contu<strong>do</strong>, algumas bandas tiveram canções censuradas no início da<br />

década, num exemplo da ainda temida atuação da censura no Brasil que só terminou<br />

definitivamente com a aprovação da Constituição de 1988, que encaminhava o país para sua<br />

primeira eleição para presidente, após quase trinta anos de ditadura militar.<br />

A década de oitenta apresentou, ainda no âmbito político, outras formas de atuação que<br />

não se restringiram às tradicionais. Como vimos acima, as manifestações culturais da juventude<br />

estavam voltadas, nesse perío<strong>do</strong>, para uma forma de atuação espetacular no espaço urbano<br />

(Abramo, 1994) em que o estilo e os elementos que o compõem (dentre os quais a música é um<br />

<strong>do</strong>s principais) tornam-se expressões de visões críticas da sociedade, configuran<strong>do</strong>-se como um<br />

mo<strong>do</strong> de atuação não institucionalizada na esfera pública. Acrescentan<strong>do</strong> a tal contexto uma outra<br />

forma de atuação política, Marcelo Coelho, no prefácio de uma das publicações recentes sobre a<br />

“cultura jovem” dessa década, afirma:<br />

[Na década de oitenta] ocorria entre os jovens, no Brasil e no mun<strong>do</strong> inteiro, um arrefecimento<br />

nas formas tradicionais de organização e protesto político. Pela primeira vez no país, uma geração<br />

nascia e crescia sob a égide absoluta da cultura de massas americana, da TV, da sociedade de<br />

38 Outra distinção clara entre as gerações da MPB e <strong>do</strong> <strong>rock</strong> <strong>do</strong>s anos oitenta, diz respeito às conseqüências da<br />

ditadura e da atuação de seus aparelhos repressores na constituição das letras de música. Os artistas da MPB, ten<strong>do</strong><br />

que lidar com os vetos da censura, desenvolveram, através de uma rebuscada linguagem poética, formas de burlar os<br />

nem sempre eficientes olhos <strong>do</strong> censor. Por outro la<strong>do</strong>, despreocupa<strong>do</strong>s com este aparelho repressor que já<br />

apresentava sinais de relaxamento na década de oitenta, os compositores de <strong>rock</strong> retomaram o uso de uma linguagem<br />

direta e simples para falar de temas proibi<strong>do</strong>s e tecer duras críticas à sociedade brasileira. Alguns temas retrata<strong>do</strong>s de<br />

mo<strong>do</strong> direto são: violência urbana, tortura, consumo de drogas, dentre outros. Esta declaração de Renato Russo,<br />

exemplifica de mo<strong>do</strong> claro as divergências existentes entre as duas gerações: “Realmente não precisamos entrar<br />

nessa de masturbação intelectual, vocabulário hermético e citações de autores desconheci<strong>do</strong>s para provar qualquer<br />

coisa sobre nosso país. Isto é insegurança de uma geração mais velha, frustrada, porque não teve permissão para abrir<br />

a boca. Não precisamos disto. Por que não falar o que você sente, sem gramática correta, sem preocupações<br />

políticas?” (apud Bryan, 2004, p.138).<br />

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