legionários do rock andré luis campanha demarchi - UFRJ
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mais diversificadas da juventude no Brasil. Bandas que iniciaram suas carreiras tocan<strong>do</strong> em bares<br />
e danceterias, subiam sucessivamente na escalada <strong>do</strong> sucesso apresentan<strong>do</strong>-se, agora, em casas de<br />
show e ginásios, passan<strong>do</strong>, em seguida, para estádios de futebol com mais de 60 mil pessoas<br />
reunidas. Segun<strong>do</strong> os críticos musicais e os próprios músicos foi a partir da realização <strong>do</strong> Festival<br />
Rock in Rio, em janeiro de 1985, que a profissionalização tomou conta deste setor (Dapieve,<br />
1995; Alexandre, 2000). O festival, que reuniu platéias de mais de cem mil pessoas por dia, em<br />
nove dias de apresentações de atrações internacionais e nacionais, trouxe definitivamente para o<br />
país to<strong>do</strong> o aparato industrial e empresarial que já era característico <strong>do</strong> <strong>rock</strong> nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s e<br />
Europa 41 . Deste mo<strong>do</strong>, logo após o Festival, instaurou-se a filial brasileira da “indústria <strong>do</strong> <strong>rock</strong>”<br />
que transformou, instantaneamente, bandas e cantores – que um pouco antes ainda tocavam em<br />
garagens e porões – em verdadeiros “í<strong>do</strong>los <strong>do</strong> <strong>rock</strong> nacional”, transforman<strong>do</strong> e expandin<strong>do</strong> um<br />
movimento que ficara restrito ao eixo Rio-São Paulo para todas as capitais <strong>do</strong> Brasil.<br />
A profissionalização <strong>do</strong> <strong>rock</strong> foi seguida, em alguns casos específicos, de um retorno às<br />
“mega-apresentações”, à utilização de grandes aparatos tecnológicos e, conseqüentemente, à<br />
construção de uma imagem de “superstars”, assumida, publicamente, pelo vocalista Paulo<br />
Ricar<strong>do</strong>, <strong>do</strong> grupo RPM, que desfilou pelas revistas e passarelas de moda da época como o novo<br />
“símbolo sexual” <strong>do</strong> “<strong>rock</strong> brasileiro”. Contu<strong>do</strong>, mesmo com a “superprodução” e<br />
“superexposição” de bandas como o RPM, e a profissionalização das demais, que sem dúvida<br />
contribuiu para a expansão dessa música para outras camadas sociais, o “<strong>rock</strong> brasileiro <strong>do</strong>s anos<br />
oitenta” ficou reconheci<strong>do</strong> – independentemente <strong>do</strong>s temas retrata<strong>do</strong>s em canções de algumas<br />
bandas que apresentavam temáticas sociais e chegaram até a gravarem video-clips em favelas –<br />
como uma música feita de “jovens para jovens” da mesma classe social. Naquele perío<strong>do</strong>,<br />
concorriam com o <strong>rock</strong>, outros estilos musicais importa<strong>do</strong>s, principalmente a discotheque, a funk<br />
music, e também o hip-hop, que seriam assimila<strong>do</strong>s pelos jovens das camadas populares (Vianna,<br />
1988; Bahiana, 1980).<br />
41 Alguns da<strong>do</strong>s são pertinentes para termos uma dimensão da mega-estrutura montada para o Festival: construção da<br />
Cidade <strong>do</strong> <strong>rock</strong> (local onde seria realiza<strong>do</strong> o evento), num espaço de 250 mil metros quadra<strong>do</strong>s, onde foram<br />
instala<strong>do</strong>s – além de um palco de 5600 metros quadra<strong>do</strong>s cuja construção custou cerca de 4,5 milhões de dólares –<br />
bares, <strong>do</strong>is shopping centers, uma farmácia, um mini hospital e <strong>do</strong>is vídeo centers. “O sistema de som também não<br />
era nada fraco, propagan<strong>do</strong>-se audível a uma distância de 320 metros. Eram 70 mil watts em cem toneladas de<br />
equipamentos. As 250 caixas acústicas eram importadas da Pensilvânia e distribuídas em quatro mesas de 32 canais<br />
cada uma. A iluminação, semicomputa<strong>do</strong>rizada, ficava por conta de 3200 refletores e trinta canhões de luz, soman<strong>do</strong><br />
50 mil watts de potência” (Alexandre, 2002: 190).<br />
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