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UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO<br />

DO RIO GRANDE DO SUL<br />

DEPARTAMENTO DE ESTUDOS AGRÁRIOS<br />

CURSO DE AGRONOMIA<br />

CARACTERIZAÇÃO E USO DE RECURSOS VEGETAIS<br />

PARA O ARTESANATO KAINGANG NA TERRA<br />

INDÍGENA DE GUARITA, MUNICÍPIO DE TENENTE<br />

PORTELA - RS<br />

ZICO RIBEIRO<br />

Ijuí (RS), Agosto de 2010


ZICO RIBEIRO<br />

CARACTERIZAÇÃO E USO DE RECURSOS VEGETAIS<br />

PARA O ARTESANATO KAINGANG NA TERRA<br />

INDÍGENA DE GUARITA, MUNICÍPIO DE TENENTE<br />

PORTELA – RS<br />

Trabalho de Conclusão de Curso apresenta<strong>do</strong> como<br />

requisito para obtenção <strong>do</strong> título de Engenheiro<br />

Agrônomo, Curso de Agronomia <strong>do</strong> Departamento de<br />

Estu<strong>do</strong>s Agrá<strong>rio</strong>s da Universidade Regional <strong>do</strong><br />

Noroeste <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Sul.<br />

Orienta<strong>do</strong>r: Roberto Carbonera<br />

Coorienta<strong>do</strong>r - José M.P. Ballivián<br />

Ijuí (RS), agosto de 2010


TERMO DE APROVAÇÃO<br />

ZICO RIBEIRO<br />

CARACTERIZAÇÃO E USO DE RECURSOS VEGETAIS<br />

PARA O ARTESANATO KAINGANG NA TERRA INDÍGENA<br />

DE GUARITA, MUNICÍPIO DE TENENTE PORTELA – RS<br />

Trabalho de Conclusão <strong>do</strong> Curso de Agronomia da Universidade Regional <strong>do</strong><br />

Noroeste <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Sul – Departamento de<br />

Estu<strong>do</strong>s Agrá<strong>rio</strong>s, aprova<strong>do</strong> pela banca abaixo subscrita.<br />

Ijuí (RS), agosto de 2010<br />

____________________________<br />

Prof. Roberto Carbonera<br />

DEAg/UNIJUI – Orienta<strong>do</strong>r<br />

_____________________________<br />

Profª. Sandra Beatriz Fernandes<br />

DEAg/UNIJUI<br />

3


Dedicatória<br />

Dedico esta conquista ao meu irmão Renato<br />

que abdicou de sua presença física entre nós<br />

para nos guardar e cuidar junto de Deus.<br />

4


Agradecimentos<br />

Agradeço inicialmente a Deus por ter me abençoa<strong>do</strong> pelo <strong>do</strong>m<br />

da vida, ter ti<strong>do</strong> forças para superar as dificuldades e alcançar mais<br />

esse objetivo.<br />

Aos meus pais pela educação e pelos ensinamentos da vida<br />

sempre me incentivan<strong>do</strong>, às vezes, abrin<strong>do</strong> mão de seu bem estar para<br />

que a <strong>do</strong>s filhos fosse proporcionada.<br />

Aos meus queri<strong>do</strong>s irmãos sempre companheiros e solidá<strong>rio</strong>s,<br />

presentes nas conquistas e superações em to<strong>do</strong>s os momentos.<br />

À minha filha Kalindi em sua inocência e pequeno universo<br />

ensina novas lições a cada dia.<br />

À minha namorada e companheira Andréia sempre me<br />

apoian<strong>do</strong> e acreditan<strong>do</strong> em mim, em to<strong>do</strong>s os momentos.<br />

Ao grupo de professores durante to<strong>do</strong> meu percurso escolar,<br />

principalmente <strong>do</strong> curso de Agronomia pelos ensinamentos e<br />

conhecimento desenvolvi<strong>do</strong>s.<br />

Ao orienta<strong>do</strong>r e professor Roberto Carbonera pelos<br />

ensinamentos e indicações ao melhor caminho a seguir.<br />

Ao meu co-orienta<strong>do</strong>r “Manolo” COMIN, pela dedicação e<br />

incentivo em me apoiar durante to<strong>do</strong> esse processo.<br />

Á Diaconia das Igrejas Evangélicas da Alemanha que<br />

proporcionou minha bolsa de estu<strong>do</strong>, fundamental auxílio para a<br />

conclusão <strong>do</strong> curso.<br />

A to<strong>do</strong>s meus amigos e colegas, em especial, Bol<strong>do</strong>, Claiton,<br />

Lucas, Luciano, Urubatan, Marcos, Laisa e Leda pela amizade e<br />

companheirismo.<br />

A todas as pessoas que de uma forma ou outra fizeram parte<br />

dessa conquista a to<strong>do</strong>s meu muito obriga<strong>do</strong>.


CARACTERIZAÇÃO E USO DE RECURSOS VEGETAIS PARA<br />

O ARTESANATO KAINGANG NA TERRA INDÍGENA DE<br />

GUARITA, MUNICÍPIO DE TENENTE PORTELA – RS.<br />

RESUMO<br />

O artesanato é uma importante atividade cultural e econômica de comunidades<br />

indígenas da Região Noroeste <strong>do</strong> RS. Diante disto, este trabalho teve como objetivos<br />

avaliar os diferentes processos que desenvolvem a atividade artesanal pelo povo<br />

indígena Kaingang na reserva Guarita. Inicialmente, foram realizadas entrevistas,<br />

parcialmente estruturadas, objetivan<strong>do</strong> a identificação <strong>do</strong>s principais artesãos e<br />

artesanatos, matérias primas, locais e formas de extração. Os da<strong>do</strong>s foram analisa<strong>do</strong>s<br />

qualitativamente para uma caracterização geral <strong>do</strong> processo produtivo envolvi<strong>do</strong>.<br />

Concomitante à meto<strong>do</strong>logia supracitada, foi identificada uma sensibilização sobre o<br />

uso sustentável e conservação <strong>do</strong> meio ambiente pelos artesãos, de maneira natural e<br />

informal, sen<strong>do</strong> este momento substancia<strong>do</strong> pelos da<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s nas entrevistas.<br />

Segun<strong>do</strong> a pesquisa, foram caracteriza<strong>do</strong>s <strong>do</strong>is principais tipos de artesãos, ou seja, um<br />

<strong>grande</strong> grupo de famílias que atua esporadicamente na atividade e, outro, que atua o ano<br />

to<strong>do</strong>, sen<strong>do</strong> em menor número de famílias, com intensidade e pressão de trabalhos<br />

distintos. Suas extrações são aparentemente sustentáveis, ten<strong>do</strong> em vista que a forma de<br />

extração realizada é parcial, permitin<strong>do</strong> a permanência <strong>do</strong> vegetal. A caracterização das<br />

plantas de interesse artesanal revela diferentes tipos e ocorrência em ambientes<br />

específicos para cada espécie na mesma área da reserva, tanto na mata como em<br />

capoeira e áreas de várzea, sen<strong>do</strong> a maioria nativa e algumas introduzidas. Acredita-se<br />

que a sensibilização sobre o uso sustentável destes recursos é básica para caminharmos<br />

em direção a uma disponibilidade mais estável da matéria prima ao longo <strong>do</strong> tempo.<br />

Deve-se enfocar a importância fundamental <strong>do</strong>s atores sociais locais e o<br />

etnoconhecimento na conservação e utilização sustentável <strong>do</strong>s recursos naturais, de<br />

maneira participativa e horizontal.<br />

Palavras-chave: Kaingang, meio ambiente, matéria prima, etnoconhecimento,<br />

sustentabilidade.


LISTA DE ABREVIATURAS<br />

IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística<br />

FUNAI- Fundação Nacional <strong>do</strong> Índio<br />

SPI – Sistema de Proteção ao Índio


LISTA DE FIGURAS<br />

Quadro 1: Caracterização da matéria prima utilizada em Guarita...................... 29


S U M Á R I O<br />

INTRODUÇÃO............................................................................................................. 10<br />

1. OBJETIVOS................................................................................................................12<br />

1.1 Objetivo Geral...........................................................................................................12<br />

1.2 Objetivos Específicos................................................................................................12<br />

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA....................................................................................13<br />

2.1 O Povo Indígena Kaingang........................................................................................13<br />

2.2 A Reserva Indígena de Guarita..................................................................................14<br />

2.3 As relações <strong>do</strong>s povos indígenas com a natureza e artesanato..................................16<br />

2.4 Artesanato Kaingang expressões e valores................................................................17<br />

2.5 A atividade artesanal na comunidade indígena de Guarita........................................18<br />

2.6 Caracterização da floresta..........................................................................................19<br />

3. REFERENCIAL METODOLÓGICO........................................................................ 21<br />

3.1 Etnobotânica..............................................................................................................21<br />

3.2 Meto<strong>do</strong>logia de estu<strong>do</strong>...............................................................................................22<br />

3.3 Procedimento Meto<strong>do</strong>lógico......................................................................................24<br />

3.4 Coleta de da<strong>do</strong>s..........................................................................................................24<br />

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES...............................................................................25<br />

4.1 Identificação e caracterização das plantas utilizadas.................................................25<br />

4.2 Re<strong>sul</strong>ta<strong>do</strong>s e interpretações das entrevistas...............................................................30<br />

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................................38<br />

BIBLIOGRAFIA.............................................................................................................41<br />

ANEXOS.........................................................................................................................42<br />

9


INTRODUÇÃO<br />

O povo indígena Kaingang, que vive nos esta<strong>do</strong>s de São Paulo, Paraná, Santa<br />

Catarina e Rio Grande <strong>do</strong> Sul, é atualmente um <strong>do</strong>s povos mais crescentes em<br />

população entre os demais grupos indígenas <strong>do</strong> Brasil. Ao longo de sua historia, vem<br />

ocorren<strong>do</strong> inúmeras formas de desequilíb<strong>rio</strong> em sua cultura e mo<strong>do</strong> de vida,<br />

ocasionadas principalmente pela relação com outras sociedades não indígenas<br />

localizadas em seu entorno.<br />

As relações de contato interétnico e intercultural defronta-se também com a<br />

restrição de seu espaço de sobrevivência e o aumento considera<strong>do</strong> de suas populações.<br />

Essas condições influem na dinâmica de vida <strong>do</strong> povo Kaingang, que se confronta com<br />

uma realidade expressivamente diferenciada da tradicional característica de vida desse<br />

grupo étnico. O re<strong>sul</strong>ta<strong>do</strong> desse contato é que estabelecem novas concepções, novas<br />

práticas, que modificam também a forma de utilização desse espaço, bem como da<br />

disponibilidade de recursos que se encontram nas terras indígenas, principalmente, seus<br />

recursos naturais renováveis.<br />

A utilização de plantas da floresta para diferentes usos, seja na alimentação, no<br />

tratamento e prevenção de <strong>do</strong>enças, na produção de utensílios, e diferentes peças de<br />

artesanato, fazem parte da cultura indígena e têm importância, sobretu<strong>do</strong>, por ser uma<br />

alternativa de exploração beneficente às famílias. No entanto, o uso irracional ou<br />

inconsciente de recursos naturais pode modificar e afetar toda uma sociedade em seu<br />

sistema local, se a utilização ocorrer de forma exploratória, sem o cuida<strong>do</strong> em manter a<br />

preservação ecológica local da floresta.<br />

Diante <strong>do</strong> cená<strong>rio</strong> atual de degradação ambiental das reservas indígenas,<br />

associa<strong>do</strong> à inclusão de muitas novas famílias na atividade, a matéria-prima para<br />

confecção <strong>do</strong> artesanato tem se torna<strong>do</strong> um fator limitante para a produção. Surgiu,<br />

assim, como problema desta pesquisa, conciliar o crescente processo de exploração da<br />

matéria prima com a preservação ambiental e a manutenção futura da atividade nas<br />

comunidades indígenas.<br />

O presente estu<strong>do</strong> buscou analisar os processos que ocorrem na atividade<br />

artesanal de grupos familiares de artesãos Kaingang da reserva indígena de Guarita,<br />

10


localizada entre os municípios de Tenente Portela e Redentora no <strong>noroeste</strong> <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

Rio Grande <strong>do</strong> Sul, especificamente em comunidades adscritas ao município de Tenente<br />

Portela.<br />

O estu<strong>do</strong> identificou e caracterizou a atividade artesanal <strong>do</strong>s artesãos<br />

Kaingang, através <strong>do</strong> registro das práticas de manejo e das interações ecológicas entre<br />

esse grupo específico e seu ambiente de exploração, bem como as práticas de coleta da<br />

matéria prima encontrada na natureza para a confecção de produtos artesanais.<br />

Contu<strong>do</strong>, a identificação e caracterização da matéria prima para confecção <strong>do</strong><br />

artesanato Kaingang se torna fundamental para uma análise de sustentabilidade da<br />

atividade na comunidade. Este estu<strong>do</strong> envolve também a sua nominação científica e<br />

Kaingang, caracterização botânica e <strong>do</strong>s ambientes onde os vegetais se desenvolvem<br />

que são aspectos importantes para estu<strong>do</strong>s etnobotânicos.<br />

Dentro desses processos, analisaram-se as alternativas e os possíveis subsídios,<br />

além <strong>do</strong>s atuais, procuran<strong>do</strong> identificar a necessidade de alternativas ao manejo atual<br />

para um extrativismo sustentável da matéria prima, análise sobre sua viabilidade e<br />

limites como estratégia de conservação e uso pela população que vive na reserva<br />

indígena.<br />

11


1. OBJETIVOS<br />

1.1 Objetivo geral.<br />

O presente trabalho teve como objetivo geral avaliar os diferentes sistemas de<br />

produção da atividade artesanal realizadas nesta Reserva Indígena. Com isso, a<br />

finalidade <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> é servir de subsídio para formular linhas estratégicas para a<br />

extração sustentável da matéria prima.<br />

1.2 Objetivos específicos.<br />

O trabalho se propôs a analisar os processos que ocorrem na atividade artesanal<br />

e as condições em que ocorrem, bem como as perspectivas de reprodução e manutenção<br />

da atividade;<br />

Identificar os recursos vegetais utiliza<strong>do</strong>s para a elaboração de artesanato,<br />

realizan<strong>do</strong> a sua classificação taxonômica, etnobotânica (na língua Kaingang), de uso,<br />

destinação e a descrição <strong>do</strong>s locais de ocorrência (ambientes);<br />

Comparar o saber tradicional das formas de extração ou coleta com a fenologia<br />

e hábitos de crescimento de cada recurso vegetal, para uma análise da sustentabilidade<br />

(ou não) <strong>do</strong> manejo aplica<strong>do</strong>;<br />

Identificar noções, condutas ou normas básicas de manejo sustentável para a<br />

extração ou coleta <strong>do</strong>s materiais, dentro da capacidade de suporte e de restabelecimento<br />

<strong>do</strong>s recursos vegetais;<br />

12


2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA<br />

2.1 O Povo Indígena Kaingang<br />

O povo indígena Kaingang pre<strong>do</strong>mina no Sul <strong>do</strong> Brasil, inte<strong>rio</strong>r <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s de<br />

São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande <strong>do</strong> Sul. Corresponde, em números de<br />

população, ao primeiro Povo <strong>do</strong> tronco linguístico Macro-Jê e ao terceiro povo indígena<br />

<strong>do</strong> territó<strong>rio</strong> brasileiro. Destaca-se pela resistência frente ao longo tempo de contato<br />

com a sociedade envolvente.<br />

Os Kaingang, junto com os Xokleng, são povos Jê Meridionais e habitam as<br />

regiões Sudeste e Sul <strong>do</strong> territó<strong>rio</strong> brasileiro. Seu centro de dispersão ocorreu no Brasil<br />

Central, mais exatamente junto aos <strong>rio</strong>s São Francisco e Tocantins, de onde migraram<br />

há 3 mil anos. (SILVA, 2001 p.8 e 139 1 , apud MATTE, 2005 p.7).<br />

No século XVII foi registrada a presença <strong>do</strong>s Kaingang no curso supe<strong>rio</strong>r <strong>do</strong><br />

<strong>rio</strong> Uruguai e no século XVIII ocupavam as extensas florestas <strong>do</strong> alto Uruguai, numa<br />

área que vai desde as nascentes <strong>do</strong> <strong>rio</strong> Uruguai a leste, ao <strong>rio</strong> Piratini a oeste, até a bacia<br />

<strong>do</strong> <strong>rio</strong> Caí, ao <strong>sul</strong> (BECKER, 1975).<br />

Sua cultura desenvolveu-se à sombra das matas de araucária, pinheiro típico<br />

da região <strong>sul</strong> <strong>do</strong> Brasil, que fornece alimento nutritivo e que foi importante na sua<br />

alimentação, além de ser o símbolo da cultura Kaingang (BECKER, 1975).<br />

Para<strong>do</strong>xalmente, o processo de colonização da região <strong>sul</strong> restringiu os espaços<br />

de ocupação das comunidades Kaingang, confinan<strong>do</strong>-as em pequenos aldeamentos,<br />

usurpan<strong>do</strong> suas terras e exproprian<strong>do</strong> sua cultura, em “prol da colonização e da<br />

integração à sociedade nacional” 2 . A partir de 1911 o governo <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> RS passou<br />

a demarcar terras para as comunidades indígenas, entre as quais a reserva de Guarita,<br />

demarcada em 1918. O Governo estadual identificava e delimitava terras para as<br />

comunidades indígenas e ao mesmo tempo liberava as terras para colonização. Ainda<br />

que as terras demarcadas já fossem reduzidas, se comparadas aos territó<strong>rio</strong>s<br />

tradicionalmente ocupa<strong>do</strong>s, houve mais retrocesso neste senti<strong>do</strong>. Em 1949 e, em 1962,<br />

este último no governo Leonel Brizola, concretizou-se uma pseu<strong>do</strong>-reforma agrária em<br />

1 SILVA, Sergio Baptista da. Etnoarqueologia <strong>do</strong>s grafismos kaingang: um modelo para a compreensão<br />

das sociedades Proto-Jê meridionais. São Paulo: USP/FFLCH/PPGAS, tese de <strong>do</strong>utora<strong>do</strong>, 2001<br />

2 DETALHES : Portal Kaingáng. Disponível em http://www.portalkaingang.org/index_povo_1.htm.<br />

Acesso realiza<strong>do</strong> em 07 de outubro de 2009.<br />

13


cima de territó<strong>rio</strong>s indígenas, alienan<strong>do</strong>-os, ocasionan<strong>do</strong> a extinção e restrição de<br />

diversas áreas indígenas com a conseqüente expulsão <strong>do</strong>s seus legítimos <strong>do</strong>nos, que<br />

foram joga<strong>do</strong>s em outras áreas indígenas <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, ou nas estradas 3 .<br />

O Povo Kaingang está estima<strong>do</strong> em 45.000 indígenas (IBGE 2009), <strong>do</strong>s quais a<br />

maior parte habita o Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> RS e se encontram distribuí<strong>do</strong>s nas terras demarcadas e<br />

acampamentos indígenas, em porções de terras que constituem uma pequena parcela de<br />

seus antigos territó<strong>rio</strong>s. Muitos também vivem em cidades, para onde foram na intenção<br />

de vender o seu artesanato, ou na busca de trabalho, uma vez que nas reservas não têm<br />

alternativas. Este é o fenômeno <strong>do</strong>s chama<strong>do</strong>s índios urbanos, que aumentam em<br />

número, porque muitas famílias de origem indígena se encontram nas cidades e estão se<br />

identifican<strong>do</strong> em sua identidade étnica.<br />

Assim, devi<strong>do</strong> ao intenso processo de contato intercultural as comunidades<br />

Kaingang, refletem uma série de mudanças em sua cultura, que, no entanto se mantém,<br />

pois, “a cultura sen<strong>do</strong> dinâmica, não perde, simplesmente elementos, e sim, inclui novos<br />

elementos, fazen<strong>do</strong> arranjos, misturas, se recrian<strong>do</strong> permanentemente”(MATTE, 2005).<br />

Após muitos anos, a resistência é símbolo da luta Kaingang pela valorização de sua<br />

cultura e busca de sustentabilidade de seu povo.<br />

2.2 A Reserva Indígena de Guarita<br />

A Reserva Indígena de Guarita está localizada na região <strong>noroeste</strong> <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

Rio Grande <strong>do</strong> Sul e compreende 23.406,87 hectares de área, com cobertura de mata<br />

primária de 51,18%, mata secundária 20,52%, capoeira 18,17%, uso agrícola 8,59% e<br />

solo exposto 1,54%, com diferentes mo<strong>do</strong>s de utilização pela comunidade indígena<br />

(SOMPRÉ, 2007).<br />

É dividida em 13 setores, que abrange os municípios de Redentora e Tenente<br />

Portela, onde residem 7.500 índios. É a maior área Kaingang em extensão <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> e a<br />

mais populosa <strong>do</strong> país e também abriga 50 famílias de índios Guaranis. A demarcação<br />

<strong>do</strong> territó<strong>rio</strong> de Guarita ocorreu em 1918, e diferentemente de diversas reservas<br />

indígenas <strong>do</strong> RS, Guarita não teve a sua área reduzida após esta demarcação. Em<br />

3 SIMONIAN, Lígia T.L. Visualização: Esta<strong>do</strong> expropria e <strong>do</strong>mina povo Guarani e Kaingang. Ijuí:<br />

FIDENE/MADP, 1980.<br />

14


cumprimento ao disposto da Constituição Federal de 1988, a área de Guarita foi<br />

homologada pelo Presidente da República em 1991 (FUNAI 4 . apud MATTE, 2005).<br />

A <strong>grande</strong> maioria das famílias sobrevive através de agricultura de subsistência,<br />

sen<strong>do</strong> algumas poucas que praticam agricultura comercial de grãos em pequena escala<br />

de produção. As principais fontes que compõem a renda das famílias são a agricultura,<br />

programas de assistência social (bolsa família), aposenta<strong>do</strong>rias e o artesanato. Algumas<br />

pessoas da comunidade conseguem emprego na comunidade como professores, agentes<br />

de saúde, funcioná<strong>rio</strong>s de escolas e outros trabalham como diaristas fora da aldeia em<br />

diversas atividades, ou até mesmo conseguem emprego nas cidades.<br />

Em determinadas épocas <strong>do</strong> ano, boa parte da população da comunidade busca<br />

trabalho temporá<strong>rio</strong> na colheita da maçã nos municípios produtores na região <strong>do</strong>s<br />

campos de cima da serra <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> (Vacaria, Lagoa vermelha, Caxias, Bom Jesus, Lajes<br />

SC, Fraiburgo SC, etc.). Trabalham, temporariamente, nessa atividade durante 4 a 6<br />

meses durante o ano, principalmente, nos 3 primeiros meses <strong>do</strong> ano emprega a <strong>grande</strong><br />

parte <strong>do</strong>s indígenas <strong>do</strong> Guarita, de ambos os sexos.<br />

A produção agrícola de grãos também é uma das atividades presentes na aldeia<br />

entre algumas famílias que se dedicam a tal finalidade. Também caracterizada pela<br />

forma de produção e o grau de intensidade onde a maior parte das famílias a pratica<br />

mais pela subsistência e venda <strong>do</strong> excedente. As principais culturas produzidas para o<br />

comércio são milho, trigo e soja, em maior escala. Para a subsistência produzem feijão,<br />

mandioca, batata <strong>do</strong>ce, abóbora, entre outras.<br />

A diferença das formas de produção estaria na distribuição das áreas de cultivo.<br />

Uma pequena parte das famílias da terra indígena usufrui das terras maiores e melhores<br />

para o cultivo. O processo de distribuição é familiar. O direito de uso da terra é da<strong>do</strong><br />

para a família que desbravou a mata ou se apossou de áreas abertas. Esse direito foi<br />

cedi<strong>do</strong> pelo Serviço de Proteção ao Índio – SPI, que administrava as reservas indígenas<br />

sobre forma de arrendamento e exploração de madeira em 1941 (SIMONIAM, 1980), e<br />

depois, em 1967, pela Fundação Nacional <strong>do</strong> Índio – FUNAI. Gradativamente as<br />

famílias se aproprian<strong>do</strong> de áreas de terra seguin<strong>do</strong> uma ordem hierárquica de afinidade<br />

ou de parentesco com as lideranças indígenas, porém na ausência da disponibilidade de<br />

4 FUNAI, Administração Regional de Passo Fun<strong>do</strong>. Quadro resumo da situação fundiária das terras<br />

indígenas no RS. Passo Fun<strong>do</strong>: 1999.<br />

15


ecursos o arrendamento clandestino foi uma das alternativas encontradas para o cultivo<br />

das terras.<br />

Isso se reflete na organização atual da comunidade de forma geral, em que uma<br />

pequena parte das famílias detém as maiores extensões de terras, conseguin<strong>do</strong> praticar<br />

agricultura de grãos em maior escala. O restante das famílias, que representa a maioria<br />

populacional tem fica<strong>do</strong> com uma pequena extensão de terra para tirar seu sustento,<br />

acaban<strong>do</strong> por se dedicar a outras atividades que não seja a agricultura.<br />

Em relação à área de mata não são de posse de nenhum tipo familiar. Podem<br />

ser usufruídas por to<strong>do</strong>s os membros da comunidade indígena, não possuin<strong>do</strong> nenhum<br />

tipo de restrição para trânsito, caça, pesca ou coleta de lenha e artesanato. Também é de<br />

conhecimento, a importância de manutenção e preservação da floresta, porém ainda<br />

ocorrem infrações como a exploração ilegal de madeira através <strong>do</strong>s próp<strong>rio</strong>s indígenas<br />

que vendem lenha ou madeira para fora da aldeia. Por ser de livre acesso a matéria<br />

prima para o artesanato encontrada na floresta carece de informação que diagnostiquem<br />

sua situação atual como também normas que regularizem ou normalizem seu uso.<br />

2.3 As relações <strong>do</strong>s povos indígenas com a natureza e artesanato<br />

A historicidade nos mostra que desde os primórdios tempos de nossas<br />

civilizações, os recursos naturais vem sen<strong>do</strong> utiliza<strong>do</strong>s para suprir as mais diversas<br />

necessidades e prazeres humanos (RIGUEIRA, 2005).<br />

A natureza, de certa forma, sempre proporcionou benefícios diretos às<br />

comunidades tradicionais que a rodeiam e a povoam. Mantém os povos que a habitam<br />

em relações de protocooperação. Da mesma forma que os espaços florestais têm servi<strong>do</strong><br />

como fonte de recursos naturais, não é uma lógica que funciona para todas as áreas<br />

indígenas. Principalmente, quan<strong>do</strong> a localização ou espaço das aldeias não possui uma<br />

área de mata, bem como as fontes de matéria prima não são as mesmas para to<strong>do</strong>s os<br />

diferentes tipos de artesãos. Sen<strong>do</strong> que em algumas aldeias precisam se deslocar para<br />

outras áreas para coletar a matéria prima.<br />

O artesanato indígena faz parte <strong>do</strong> folclore e revela usos, costumes, tradições e<br />

características da cada povo que o transforma e produz, e tem seu valor aprecia<strong>do</strong><br />

através <strong>do</strong> trabalho manual de quem o transforma sem auxilio de ferramentas e<br />

mecanismos industriais.<br />

16


O artesanato indígena é uma das mais belas e significativas formas de<br />

expressão cultural de quem o confecciona, consideran<strong>do</strong> o emprego de técnicas<br />

tradicionais próprias, o uso exclusivo de matéria prima bruta, a ausência de qualquer<br />

instrumento industrial para confecção <strong>do</strong>s produtos define características únicas. Sen<strong>do</strong><br />

este de extrema beleza e de <strong>grande</strong> valor artístico, pois representa a expressão<br />

cultural <strong>do</strong> povo indígena brasileiro.<br />

2.4 Artesanato kaingáng expressões e valores<br />

O artesanato Kaingang é expressão cultural, sinal de pertencimento, que<br />

identifica o artesão como membro de uma comunidade Kaingang, através de seus<br />

grafismos e modelos com características próprias, fotos em anexo.<br />

Do mesmo mo<strong>do</strong> que a cultura e a identidade de qualquer povo, o artesanato<br />

também se recria. Assim, atualiza os seus produtos, poden<strong>do</strong> utilizar novos recursos,<br />

novos materiais, novas formas e usos atuais (chapéus, leques, abajures, bijuterias,<br />

recobrir canetas, etc.). Num processo que caracteriza as mudanças re<strong>sul</strong>tantes <strong>do</strong>s<br />

contatos interculturais. E, exatamente por esta renovação, que ele é expressão da cultura<br />

atual de uma comunidade, que na sua relação de contato, ela muda e se recria. Por outro<br />

la<strong>do</strong>, sempre será importante garantir as especificidades <strong>do</strong> povo que o produz. Através<br />

da expressão da sua cultura diferenciada, que trás significa<strong>do</strong>s próp<strong>rio</strong>s, usos<br />

tradicionais e adaptações contemporâneas, dentro de concepções estéticas, matéria<br />

prima tradicionalmente utilizada, ainda que acrescente elementos que atualizem o<br />

produto de acor<strong>do</strong> com o gosto <strong>do</strong> artesão e a expectativa <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r.<br />

Segun<strong>do</strong> Berkes et al. 2000, Huntington 2000 5 apud Hanazaki,(<br />

2001, p.4), <strong>do</strong>is aspectos principais justificam a relevância destas<br />

abordagens: (1) o estu<strong>do</strong> descritivo e <strong>do</strong>cumental <strong>do</strong> conhecimento etnoecológico<br />

de populações locais, que se encontra ameaça<strong>do</strong> em decorrência<br />

da caracterização atual destas populações ou de sua mudança nos meios de<br />

subsistência; e (2) o potencial que o conhecimento local possui para o<br />

desenvolvimento de alternativas econômicas que integram o uso e a<br />

conservação <strong>do</strong>s recursos naturais.<br />

5 BERKES, F., Colding, J. e Folke, C. 2000. Rediscovery of traditional ecological knowledge as adaptive<br />

management. Ecological Applications 10 (5): 1251-1262. HUNTINGTON, H.P. 2000. Using traditional<br />

ecological knowledge in science: methods and applications. Ecological Applications 10 (5): 1270-1274<br />

17


O artesanato tradicional, ainda que recria<strong>do</strong> (produto de um diálogo<br />

intercultural) a partir <strong>do</strong> contato com a sociedade externa, não deixa de representar a<br />

expressão da cultura Kaingang afirman<strong>do</strong> a sua identidade etnicocultural.<br />

2.5 A atividade artesanal na comunidade indígena de Guarita<br />

Culturalmente o artesanato sempre foi confecciona<strong>do</strong> para uso pessoal<br />

<strong>do</strong>méstico, rituais místicos ou usa<strong>do</strong> como produto de troca por outras merca<strong>do</strong>rias e<br />

alimentos fora das aldeias. Com o passar <strong>do</strong>s anos o artesanato surge como alternativa<br />

econômica complementar de renda às famílias, ocasiona<strong>do</strong> pela demanda <strong>do</strong> merca<strong>do</strong><br />

consumi<strong>do</strong>r fácil e rápi<strong>do</strong>.<br />

A atividade artesanal, atualmente, garante o sustento de muitas famílias na<br />

comunidade de Guarita, especificamente em grupos de famílias que dedicam a maior<br />

parte de suas atividades de trabalho ao artesanato, destina<strong>do</strong> ao comércio local e<br />

<strong>regional</strong>, como atividade econômica na situação de contato. Tem seu valor aprecia<strong>do</strong><br />

por utilizar matéria prima local e porque é expressão da diversidade cultural <strong>do</strong> povo<br />

Kaingang.<br />

Atualmente, as famílias indígenas da comunidade de Guarita escolhem<br />

perío<strong>do</strong>s de maior intensidade na atividade artesanal, em datas específicas <strong>do</strong> calendá<strong>rio</strong><br />

anual como feria<strong>do</strong>s culturais tipo páscoa, dia das mães, <strong>do</strong>s pais, dia das crianças,<br />

natal, etc.<br />

Ocorre uma maior freqüência de produção e coleta de material principalmente<br />

em perío<strong>do</strong>s em que antecedem datas como páscoa e natal. Também o número de<br />

famílias que passam a dedicar-se a produzir artesanato também aumenta<br />

consideravelmente nesta época, diferente de outras que permanecem o ano to<strong>do</strong> na<br />

atividade, são perío<strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s como pico maior de produção e comercialização <strong>do</strong><br />

artesanato. Conseqüentemente, também é mais intensiva a coleta de matéria prima pra<br />

confecção <strong>do</strong>s produtos.<br />

As espécies de plantas de interesse se localizam em diferentes habitats na<br />

mesma área da reserva indígena, se desenvolvem em ambientes específicos para cada<br />

espécie que favorece o desenvolvimento das mesmas. As principais e mais utilizadas<br />

são taquaras, árvores, cipós, capins, sementes entre outras.<br />

18


A localização das moradias das famílias de artesãos se encontra distantes das<br />

matas, o que leva uma freqüência de coleta de materiais nos locais próximos, nem tão<br />

adentro das matas, pois o acesso às áreas de floresta mais densa é dificulta<strong>do</strong> tanto pela<br />

distância como justamente pela falta de estradas e topografia sen<strong>do</strong> inibi<strong>do</strong> ou limita<strong>do</strong>.<br />

O que nos confirma e demonstra uma utilização parcial <strong>do</strong> total de mata disponível.<br />

Assim, também, a freqüência de exploração da matéria prima, sen<strong>do</strong> bem<br />

maior com que o tempo de desenvolvimento das espécies na natureza, e com o aumento<br />

de famílias que em determina<strong>do</strong>s perío<strong>do</strong>s também ingressam na atividade, levará a<br />

necessidade de um manejo racional sustentável 6 de coleta de matéria prima, para que ao<br />

longo <strong>do</strong> tempo, possa haver material disponível e a atividade possa ser mantida.<br />

Esta forma de exploração pode direcionar para tipos comportamentais distintas:<br />

os que re<strong>sul</strong>tam de dete<strong>rio</strong>ração e os que são maneja<strong>do</strong>s de acor<strong>do</strong> com a capacidade de<br />

manutenção <strong>do</strong> meio ambiente natural (PAULA et al., 1997).<br />

As plantas são a única e principal fonte de matéria prima e os artesãos são<br />

totalmente dependentes <strong>do</strong> restabelecimento e disponibilidade desse tipo de recurso<br />

natural renovável.<br />

2.6 Caracterização da floresta<br />

A aérea de mata da reserva indígena caracteriza-se pelo bioma mata Atlântica,<br />

bioma de vegetação de floresta Estacional Decidual (BACKES e NARDINO, 2003)<br />

(30%), Floresta Ombrófila Mista (70%) 7 , com fauna e flora bastante diversificadas,<br />

consideran<strong>do</strong> a <strong>grande</strong> diversidade biológica <strong>do</strong> ecossistema local são também de<br />

diferentes fontes de matéria prima as quais são usadas para confecção <strong>do</strong> artesanato.<br />

A Floresta Estacional Decidual, também chamada Floresta Estacional<br />

Caducidófila ocorre em <strong>grande</strong>s altitudes e baixa temperatura. Esse ecossistema é<br />

caracteriza<strong>do</strong> por duas estações climaticas bem demarcadas, uma seca e outra curta<br />

época muito fria e chuvosa, a primeira mais prolongada, ao contrá<strong>rio</strong> da Floresta<br />

Tropical que não mantém estação seca (BACKES e NARDINO, 2003). Essa formação<br />

6 Capacidade de sustentação de suporte ou de carga, intensidade de uso ou ação em níveis adequa<strong>do</strong>s.<br />

7 http://pib.socioambiental.org/caracterizacao.php?id_arp=3680 acessa<strong>do</strong> em 20 julho de 2010.<br />

19


ocorre na forma de disjunções florestais apresentan<strong>do</strong> o extrato 8 <strong>do</strong>minante<br />

pre<strong>do</strong>minante caducifólio, com a maior parte <strong>do</strong>s indivíduos despi<strong>do</strong>s de folhas no<br />

perío<strong>do</strong> de f<strong>rio</strong>.<br />

A Floresta Ombrófila Mista é um ecossistema com chuva durante o ano to<strong>do</strong>.<br />

Ocorre, normalmente, em altitudes elevadas e que contém espécies de angiospermas,<br />

mas também de coníferas caracterizada por apresentar um extrato supe<strong>rio</strong>r forma<strong>do</strong> por<br />

espécies <strong>do</strong>minantes como o tanheiro (Alchornea triplinervia), o angico<br />

(Parapiptadenia rigida), a canela-preta (Ocotea catharinensis), entre outras. No extrato<br />

arbustivo são encontradas inúmeras espécies, como a samambaia preta (Hemitelia<br />

setosa), e o xaxim (Dicksonia sellowiana), (BACKES e NARDINO, 2003).<br />

A Floresta com Araucária ou Floresta Ombrófila Mista apresenta em sua<br />

composição florísticas espécies de lauráceas como a imbuia (Ocotea porosa), o<br />

sassafrás (Ocotea o<strong>do</strong>rifera), a canela-lageana (Ocotea pulchella), além de diversas<br />

espécies conhecidas por canelas. Merecem destaque também a erva-mate (Ilex<br />

paraguariensis) e a caúna (Ilex theezans), entre outras aquifoliáceas. Diversas espécies<br />

de leguminosas (jacarandá, caviúna e monjoleiro) e mirtáceas (sete-capotes, guabiroba,<br />

pitanga) também são abundantes na floresta com araucária, associadas também à<br />

coníferas como o pinheiro-bravo (Po<strong>do</strong>carpus lambertii), (BACKES e NARDINO,<br />

2003).<br />

Dos tipos caracteriza<strong>do</strong>s acima, o primeiro é mais abrangente que o segun<strong>do</strong>. A<br />

influência humana foi responsável pela derrubada de praticamente quase toda a<br />

ocorrência de araucária na área de mata da terra indígena. No perío<strong>do</strong> em que o SPI<br />

administrava a reserva, o corte e venda da madeira foi muito pratica<strong>do</strong> o que representa<br />

hoje pouca característica <strong>do</strong> tipo florestal inicial para Ombrófila Mista, ainda assim<br />

encontram-se resquícios desse tipo de floresta ainda que isola<strong>do</strong>s.<br />

8 A floresta pode ser dividida em extratos: extrato supe<strong>rio</strong>r arvores altas mais adultas; extrato<br />

intermediá<strong>rio</strong> ou arbustivo são plantas <strong>do</strong> inte<strong>rio</strong>r da mata quase sempre sombreadas; extrato herbáceo são<br />

plantas de pequeno porte que vivem mais próximas <strong>do</strong> solo.<br />

20


3. REFERENCIAL METODOLÓGICO<br />

3.1 Etnobotânica<br />

A etnobotânica estuda a interação de comunidades humanas com o mun<strong>do</strong><br />

vegetal, em suas dimensões antropológica, ecológica e botânica. Esses estu<strong>do</strong>s são de<br />

<strong>grande</strong> importância na manutenção da cultura, além de combinar conhecimentos<br />

tradicionais e modernos, permitin<strong>do</strong> uma melhor investigação dessa flora ainda tão<br />

desconhecida e sua conservação e manejo sustentável.<br />

Atualmente a etnobotânica é uma área de pesquisa interdisciplinar,<br />

que reúne disciplinas como a antropologia, botânica, ecologia, geografia,<br />

medicina, linguística, economia, farmacologia, dentre outras, cada qual com<br />

uma perspectiva diferente e complementar sobre a relação entre pessoas e<br />

recursos vegetais. PRANCE 1995, MINNIS 2000 9 apud HANAZAKI (2001,<br />

p.3).<br />

A sua meto<strong>do</strong>logia específica e as técnicas empregadas possibilitam o registro<br />

e o inventá<strong>rio</strong> <strong>do</strong> conhecimento tradicional, destacan<strong>do</strong> tanto os aspectos inerentes às<br />

plantas, tecnologias agrárias e manejos florestais, como os relativos aos indivíduos, às<br />

comunidades ou ao meio ambiente. Além disso, permitem compreender e explicar as<br />

estratégias pelas quais as populações favorecem certas espécies vegetais em detrimento<br />

de outras.<br />

O uso de plantas para fins artesanais está inseri<strong>do</strong> em um contexto social e<br />

ecológico que vai moldá-lo, de mo<strong>do</strong> que muitas das peculiaridades deste emprego não<br />

podem ser entendidas se não se levar em consideração fatores culturais envolvi<strong>do</strong>s,<br />

além <strong>do</strong> ambiente físico onde ele ocorre.<br />

Nas comunidades indígenas, a transmissão oral é o principal mo<strong>do</strong> pelo qual o<br />

conhecimento é perpetua<strong>do</strong>. A transmissão entre gerações, <strong>do</strong>s membros mais velhos<br />

com os mais novos. No inte<strong>rio</strong>r <strong>do</strong> próp<strong>rio</strong> grupo <strong>do</strong>méstico e de parentesco, crianças e<br />

jovens acompanham seus pais na execução de tarefas cotidianas em ambientes físicos<br />

diversifica<strong>do</strong>s (excursões de coleta, trabalhos na lavoura, na mata, etc.), onde podem<br />

existir plantas com interesse, observam os mais velhos ao executarem essas tarefas.<br />

9 Prance, G. T. 1995. Ethnobotany today and in the future. In: Schultes, R. E. e von Reis, S. (eds.).<br />

Ethnobotany. Dioscorides Press, Portland. pp. 60-68. Minnis, P. (ed.) 2000. Ethnobotany: a reader.<br />

University of Oklahoma Press, Norman.<br />

21


Esta prática contribui para o conhecimento da biodiversidade das florestas,<br />

devi<strong>do</strong> ao registro e resgate <strong>do</strong>s hábitos e usos <strong>do</strong>s povos que possuem estreito vínculo<br />

com os recursos de fauna e flora.<br />

A pesquisa etnobotânica pode ter usos de duas maneiras, que de acor<strong>do</strong> com<br />

HANAZAKI (2003, p. 6); “A primeira é a exploração de plantas economicamente úteis,<br />

seguin<strong>do</strong> a tradição da botânica econômica, e a segunda é a importância de resgatar o<br />

conhecimento ecológico local”.<br />

Sua meto<strong>do</strong>logia, leva em conta a valorização <strong>do</strong>s conhecimentos tradicionais<br />

das comunidades, ampliação e uso desses conhecimentos no intuito de preservação ou<br />

utilização <strong>do</strong>s recursos naturais pela população envolvente. Bem como serve de<br />

subsídios para estu<strong>do</strong>s étnicos, antropológicos, botânicos e ecológicos sobre os povos<br />

envolvi<strong>do</strong>s na pesquisa ou para desenvolvimento de projetos socioeconômicos, bem<br />

como ambientais, políticas públicas.<br />

A etnobotânica tem como características principais a multidisciplinaridade das<br />

ações e retorno <strong>do</strong> conhecimento produzi<strong>do</strong> àqueles que o geram. Neste retorno<br />

confrontam-se e contemplam-se o conhecimento acadêmico e o conhecimento popular<br />

(HANAZAKI, 2003).<br />

A pesquisa cientifica tem um papel fundamental, no senti<strong>do</strong> de difundir o<br />

conhecimento etnobotânico servin<strong>do</strong> como uma via de validação destes conhecimentos.<br />

Muitas são as espécies vegetais e formas de uso e consumo a serem mantidas e<br />

resgatadas. No entanto, é preciso que os atores destes processos e a qualidade destes<br />

recursos recebam esse reconhecimento.<br />

A sistematização das informações e conhecimentos tradicionais, bem como a<br />

investigação de um maior número de variedades tradicionais de uso alimentício<br />

condimentara ou medicinal auxiliarão no desenvolvimento de novos trabalhos, que por<br />

sua vez orientarão a aplicação de políticas públicas no senti<strong>do</strong> de manter vivo o<br />

conhecimento tradicional de manejo vegetal.<br />

3.2 Meto<strong>do</strong>logia de estu<strong>do</strong><br />

Estudar o funcionamento de um sistema de produção consistiu em mostrar a<br />

lógica <strong>do</strong> encadeamento das decisões que os produtores tomam para realizar o processo<br />

de produção a partir <strong>do</strong>s meios de produção disponíveis, frente aos objetivos e desta<br />

22


maneira interpretar o comportamento <strong>do</strong> sistema. Através de méto<strong>do</strong>s que caracterizam<br />

o tipo de pesquisa como sen<strong>do</strong> quantitativa usada como méto<strong>do</strong> para descrever e<br />

explicar fenômenos de forma estatística numérica. No entanto, podemos identificar<br />

outro tipo de investigação da<strong>do</strong> como qualitativa que vem sen<strong>do</strong> promissora de<br />

possibilidade de investigação (NEVES, 1996) 10 . A pesquisa qualitativa não se<br />

preocupa com representatividade numérica, mas sim com o aprofundamento da<br />

compreensão de um grupo social, de uma organização, etc.<br />

Segun<strong>do</strong> PORTELA (2004), os méto<strong>do</strong>s qualitativos buscam explicar o porquê<br />

das coisas, mas não quantificam os valores e as trocas simbólicas nem se submetem à<br />

prova de fatos, pois os da<strong>do</strong>s analisa<strong>do</strong>s não são numéricos e se valem de diferentes<br />

abordagens. A interpretação <strong>do</strong>s fenômenos e a atribuição de significa<strong>do</strong>s são requisitos<br />

básicos no processo de pesquisa qualitativa, o ambiente natural é a fonte direta para<br />

coleta de da<strong>do</strong>s e o pesquisa<strong>do</strong>r é o instrumento-chave.<br />

A pesquisa descritiva visa a identificar, expor e descrever os fatos ou<br />

fenômenos de determinada realidade em estu<strong>do</strong>, características de um grupo,<br />

comunidade, população ou contexto social. Permite à obtenção de uma melhor<br />

compreensão <strong>do</strong> comportamento de diversos fatores e elementos que influenciam<br />

determina<strong>do</strong> fenômeno [...]. A pesquisa exploratória por sua natureza de sondagem é<br />

especialmente útil em áreas nas quais ainda há poucos conhecimentos acumula<strong>do</strong>s e<br />

sistematiza<strong>do</strong>s, permitin<strong>do</strong> o aprimoramento de idéias que levem o pesquisa<strong>do</strong>r a<br />

explicitar de forma mais precisa o problema (TEIXEIRA, 2009).<br />

Para a pesquisa<strong>do</strong>ra, nas pesquisas dificilmente se utiliza apenas um<br />

procedimento meto<strong>do</strong>lógico ou apenas aqueles que conhecemos, mas to<strong>do</strong>s os que<br />

forem necessá<strong>rio</strong>s ou apropria<strong>do</strong>s para determina<strong>do</strong> caso. Geralmente, há necessidade<br />

de combinação de <strong>do</strong>is ou mais tipos, usa<strong>do</strong>s de maneira conjunta, ocasionan<strong>do</strong> em<br />

alguns casos uma possível triangulação na coleta de da<strong>do</strong>s (TEIXEIRA, 2009).<br />

Devi<strong>do</strong> à especificidade <strong>do</strong> objeto de estu<strong>do</strong> pesquisa<strong>do</strong>, esse estu<strong>do</strong><br />

caracteriza-se como sen<strong>do</strong> <strong>do</strong> tipo qualitativo descritivo, explorató<strong>rio</strong>. Através das<br />

10 Mestran<strong>do</strong> <strong>do</strong> curso de Pos Graduação em Administração de Empresas<br />

CADERNO DE PESQUISAS EM ADMINISTRAÇÃO, SÃO PAULO, V.1, N 3, 2* SEM./ 1996<br />

23


características da pesquisa qualitativa de objetivação <strong>do</strong> fenômeno, chegaremos ao<br />

pressuposto de hierarquização das ações entre descrever, compreender e explicar.<br />

3.3 Procedimentos meto<strong>do</strong>lógicos<br />

A pesquisa se desenvolveu na comunidade Indígena Kaingang de Guarita<br />

delimitan<strong>do</strong> as comunidades pertencentes ao município de Tenente Portela nos setores<br />

de Pedra Lisa, Três Soitas e Km 10. E se deu, principalmente, pela observação presente,<br />

através da participação na vida cotidiana <strong>do</strong>s grupos de famílias artesãs, seja ela como<br />

na confecção <strong>do</strong>s produtos ou acompanhamento de coleta de matéria prima na mata<br />

como forma de registro.<br />

Os objetos de estu<strong>do</strong>, ou seja, as famílias foram selecionadas aleatoriamente<br />

nas três comunidades envolvidas com artesanato sob diferentes maneiras, esporádico,<br />

parcialmente e total.<br />

3.4 Coleta de da<strong>do</strong>s<br />

A coleta <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s deu-se através da investigação descritiva através de<br />

entrevistas com questioná<strong>rio</strong> semi-estrutura<strong>do</strong> (anexo 1) com questões elaboradas de<br />

acor<strong>do</strong> com a representatividade <strong>do</strong> objetivo a ser atingi<strong>do</strong>, seguin<strong>do</strong> os pontos chaves<br />

<strong>do</strong> questioná<strong>rio</strong> de apoio.<br />

Os da<strong>do</strong>s recolhi<strong>do</strong>s através da observação participante poderão ser<br />

complementa<strong>do</strong>s pela informação que se obtém através <strong>do</strong> contato direto: transcrições<br />

de entrevistas, notas de campo, fotografias, vídeos, familiaridade com o ambiente,<br />

pessoas e outras fontes de da<strong>do</strong>s, adquiri<strong>do</strong>s principalmente através da observação<br />

direta, <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> de caso da entrevista, além da história de vida, entre outros.<br />

As entrevistas foram obtidas diretamente com as famílias informalmente em<br />

suas residências ou quan<strong>do</strong> essas estavam confeccionan<strong>do</strong> o artesanato. De acor<strong>do</strong> com<br />

a seleção <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s, foram ouvi<strong>do</strong>s 10 artesãos nas três comunidades, Pedra<br />

Lisa, Três Soitas e Km 10.<br />

Poste<strong>rio</strong>rmente, realizou-se a interpretação <strong>do</strong>s re<strong>sul</strong>ta<strong>do</strong>s das entrevistas<br />

buscan<strong>do</strong> compreender e descrevê-las utilizan<strong>do</strong> pontos chaves <strong>do</strong> relató<strong>rio</strong> das<br />

respostas obtidas.<br />

24


4. RESULTADOS E DISCUSSÕES<br />

4.1 identificação e caracterização das plantas utilizadas<br />

Como identifica<strong>do</strong> ante<strong>rio</strong>rmente, a floresta da reserva indígena é identificada<br />

como floresta Estacional Decidual e Floresta Ombrófila Mista. As plantas de interesse<br />

artesanal se desenvolvem em ambientes específicos para cada espécie. Para<br />

identificação das espécies foram recolhidas amostras através <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s e<br />

analisadas de acor<strong>do</strong> com características visuais e subsequentemente compara<strong>do</strong>s e<br />

identificadas pelas suas características botânicas 11 con<strong>sul</strong>tan<strong>do</strong> trabalhos bibliográficos<br />

que descrevem espécies de ocorrência na região. Dentre as identificadas, serão descritas<br />

as seguintes:<br />

1) Guadua trinii (Nees) Rupr. Nomes populares: taquara, taquara-de-espinho,<br />

taquaruçu (Judziewicz et al. 1999 12 ; apud SCHIMIDT, R e , WAGNER, 2009 ,p.89)<br />

(ver anexo III A). Da família das Poaceae, plantas 5-15 m altura, colmos 3-7 cm<br />

diâmetro. Entrenós ocos, os <strong>do</strong>s colmos principais e ramos geralmente rugosos a<br />

escabros, pubescentes, de cor verde-acinzentada homogênea; ramos espinescentes.<br />

Folhas caulinares com bainhas e lâminas persistentes nas bases <strong>do</strong>s colmos, decíduas<br />

em conjunto na parte supe<strong>rio</strong>r <strong>do</strong>s colmos; bainhas sem fímbrias apicais, lígula interna<br />

terminan<strong>do</strong> nas margens; aurículas ausentes.<br />

Distribuição geográfica: Argentina, Uruguai e <strong>sul</strong> <strong>do</strong> Brasil (Judziewicz et al.<br />

1999). É a espécie de Guadua mais comum no Rio Grande <strong>do</strong> Sul. Espécie de<br />

distribuição ampla no Rio Grande <strong>do</strong> Sul. Ocorre em matas ciliares, forma populações<br />

<strong>grande</strong>s e densas ao longo de cursos d’água, várzeas, banha<strong>do</strong>s e vales.<br />

Foi registrada fértil, no Rio Grande <strong>do</strong> Sul, no ano de 1902, em<br />

setembro de 1933, outubro de 1934, outubro de 1957, fevereiro de 1969,<br />

março de 1991, agosto e julho de 1998. Em Santa Catarina, foi registrada fértil<br />

em dezembro de 1956 (Smith et al. 1981 13 . Parodi 1955 apud SCHIMIDT, e<br />

WAGNER 2009, p.89), registrou um ciclo de florescimento de 30 anos para<br />

uma população observada na Argentina. (SCHIMIDT, e WAGNER 2009).<br />

11 A Botánica é um ramo da biologia e é a ciência que se ocupa <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> das plantas, incluin<strong>do</strong> sua<br />

descrição, classificação, distribuição, e relações com os outros seres vivos.<br />

12 JUDZIEWICZ, E.J., CLARK, L.G., LONDOÑO, X. & STERN, M.J.1999. American Bamboos.<br />

Washington: Smithsonian Institution Press. 392 p.<br />

13 SMITH, L.B., DIETER, C.W. & KLEIN, R.M. 1981. Gramíneas. In: REITZ, R. (ed.) Flora Ilustrada<br />

Catarinense. Itajaí: Herbá<strong>rio</strong> Barbosa Rodrigues.<br />

25


2) Merostachys skvortzovii Send. Nomes populares: taquara, taquara-lixa<br />

(anexo III B). Planta da família Poaceae, 4-12 m alt., colmos 2-3,5 cm diâm. Entrenós<br />

com menos de 70 cm comprimento, escabros na porção ereta <strong>do</strong>s colmos, escabros no<br />

restante, com manchas verde-claras fortemente marcadas. Uma taquara lenhosa que<br />

apresenta crescimento vegetativo por meio de rizomas <strong>do</strong> tipo paquimorfo. Apresenta<br />

colmos ocos (4-6 Cm) que formam densas touceiras. O gênero Merostachys, inclui<br />

espécies semelparas e monocárpicas, ou seja, que apresentam apenas um evento de<br />

reprodução sexuada em sua vida, morren<strong>do</strong> sincronicamente após o mesmo. Esta<br />

espécie é lenhosa de hábito perene, forman<strong>do</strong> densas touceiras, as quais apresentam<br />

colmos eretos e curva<strong>do</strong>s no ápice (SCHIMIDT, e WAGNER, 2009).<br />

Segun<strong>do</strong> SENDULSKY, 1995 apud SCHIMIDT, e WAGNER (2009, p.94)<br />

quanto à fenologia de M. skvortzovii, coleções conhecidas são de 1941 e 1972-1974,<br />

sugerin<strong>do</strong> um ciclo de florescimento de 31-33 anos.<br />

Distribuição geográfica: <strong>sul</strong> <strong>do</strong> Brasil (Sendulsky 1995) e São Paulo. Espécie<br />

de distribuição relativamente ampla no Rio Grande <strong>do</strong> Sul, ocorren<strong>do</strong> tanto em áreas<br />

naturais quanto alteradas.<br />

3) Guadua chacoensis (Rojas) Lon<strong>do</strong>ño & P.M. Peterson. Nomes populares<br />

taquaruçu; taquara bambu (Lon<strong>do</strong>ño & Peterson 1992 14 apud SCHIMIDT, e WAGNER<br />

2009, p.88), (anexo III C). Da família Poaceae plantas 10-20 m altura, colmos 10-13 cm<br />

diâmetro, eretos. Rizomas paquimorfos curtos. Apresenta os entrenós ocos, verdes e<br />

lisos, com pubescência branca junto aos nós, ramos lisos, glabros, de cor verde<br />

homogênea; ramos espinescentes.<br />

Diferencia-se das demais espécies de Guadua <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Sul pelo<br />

maior porte e maior diâmetro <strong>do</strong>s colmos, aliás, o maior diâmetro encontra<strong>do</strong> em todas<br />

as espécies de Bambuseae confirmadas para o Rio Grande <strong>do</strong> Sul. Esta se distingue pela<br />

pluricarpia, pela lígula interna das folhas caulinares terminan<strong>do</strong> antes das margens, pela<br />

cor e pelo indumento <strong>do</strong>s entrenós. Não foram encontra<strong>do</strong>s registros férteis desta<br />

espécie, no Rio Grande <strong>do</strong> Sul onde é rara e de distribuição restrita. Habitat em floresta<br />

aluvial na região da Estepe Estacional.<br />

4) Chusquea ramosissima Lindm. Nomes populares: criciúma, taquari, corda-<br />

de-viola; carajá, taquarembó (anexo III D). Plantas 3-6 m altura., colmos 0,5-1,5 cm<br />

14 LONDOÑO, X. & PETERSON, P.M. 1992. Guadua chacoensis (Poaceae: Bambuseae), its taxonomic<br />

identity, morphology, and affinities. Novon, 2: 41-47.<br />

26


diâmetro, apoiantes. Rizomas paquimorfos, curtos. Entrenós sóli<strong>do</strong>s, glabros abaixo da<br />

linha nodal.<br />

Pode ser identificada pelo hábito apoiante, nós ramosos, folhas caulinares<br />

pseu<strong>do</strong>pecioladas e folhagem densa, geralmente de cor verde-clara; bainhas sem<br />

extensões apicais, lisas, não aderentes.<br />

Segun<strong>do</strong> Clark (2001 15 apud SCHIMIDT, e WAGNER 2009, p.82),<br />

possivelmente o ciclo de florescimento desta espécie seja de 20-25 anos. Foi<br />

registrada fértil no Rio Grande <strong>do</strong> Sul em julho de 1949, março, maio e<br />

dezembro de 1980, setembro de 1981, novembro de 1983, julho de 1992 e<br />

dezembro de 2003.<br />

Distribuição geográfica: Argentina, Paraguai, Uruguai, Brasil. (Judziewicz et<br />

al. 1999). No Rio Grande <strong>do</strong> Sul, ocorre com distribuição ampla nas regiões, é a espécie<br />

de Chusquea mais comum no Rio Grande <strong>do</strong> Sul, ocorren<strong>do</strong> tanto em áreas naturais<br />

quanto alteradas, matas de galeria, bordas de matas e junto a afloramento rochosos em<br />

encostas íngremes.<br />

5) Aristolochia triangularis cham. Nome comum cipó-mil-homens, cipó-de-<br />

cobra, jarrinha (anexo III E). Da família das Aristolochiaceae, liana lenhosa.<br />

O cipó-mil-homens pertence à família Aristolochiaceae, sen<strong>do</strong> uma planta<br />

volúvel, trepadeira, glabra, com ramos cilíndricos com casca grossa e suberosa. As<br />

folhas são simples, inteiras, pecioladas, hasta<strong>do</strong>-triangulares, agudas ou obtusas. As<br />

flores são axilares, solitárias, amarelo-avermelhadas e hermafroditas. O fruto é uma<br />

cáp<strong>sul</strong>a rugosa, com sementes escuras achatadas. A raiz é escabrosa externamente, dura<br />

e amarela internamente. Exala um aroma forte e de sabor amargo (ALICE et al., 1995;<br />

CORRÊA JÚNIOR et al., 1994 SILVA JÚNIOR, 1998).<br />

6) Philodendron selloum, Koch. Nome comum banana-de-macaco, guaimbê<br />

(anexo III F). Da família Araceae, planta arbustiva, geralmente trepadeira raízes aéreas<br />

longas pouco resistentes, raramente arbórea, das florestas <strong>do</strong> <strong>sul</strong> <strong>do</strong> Brasil. Possui folhas<br />

<strong>grande</strong>s labeladas e suas flores são minusculas, agrupadas em forma de espiga sob uma<br />

capa que se abre quan<strong>do</strong> estão prontas para fecundaçao. A planta possui relativa<br />

toxicidade. Ambiente de ocorrência principalmente em locais de elevada umidade,<br />

pleno sol, meia sombra. Frutifica nos meses de dezembro a fevereiro.<br />

15 CLARK, L. 2001a. Chusquea. Pp. 24-36. In: LONGHI-WAGNER, H.M., BITTRICH, V.,<br />

WANDERLEY, M. das G.L. & SHEPHERD, G.J. (eds.). Poaceae- Flora Fanerogâmica <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> de São<br />

Paulo v. 1 (WANDERLEY, M. das G.L., SHEPHERD, G.J. & GIULIETTI, A.M., orgs.). Editora<br />

Hucitec: São Paulo. 292 p.<br />

27


7) Pyrostegia venusta (Ker-Gawl.) Miers. Cipó-de-são-joão (anexo III G).<br />

Família Bignoniaceae liana lenhosa nativa em quase to<strong>do</strong> Brasil, planta perene é uma<br />

trepadeira lenhosa; gavinha trífida. Folhas compostas; lâmina oval a oblongolanceolada,<br />

glabra a pubérula. Inflorescências em panículas corimbosas; cálice campanula<strong>do</strong>, corola<br />

alaranjada a amarela, prefloração valvar, glabra externamente, lobos pubérulos a<br />

lanosos, 5,6-6,5 cm compr.; estames excertos. Cáp<strong>sul</strong>as linear-alongadas, achatadas, 25-<br />

30 cm comprimento (VILLAGRA, 2008). encontrada em beira de estradas, barrancos e<br />

cercas. Começa a florescer em abril e vai até o mês dezembro, varian<strong>do</strong> em cada esta<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong> Brasil.<br />

8) Cyperus ferax L.C.Rich. Nome comum tiriricão, junquinho, três-quinas<br />

(anexo III H). Planta herbácea, cespitosa, que na forma típica alcança até 80 cm de<br />

altura. Caule trígono, com 2,5 mm de espessura, com ângulos não cortantes, pouco<br />

dilata<strong>do</strong>s na base na forma típica, liso de coloração verde. Folhas em numero de 3 ou 4,<br />

de comprimento equivalente ou maior que o <strong>do</strong> caule, bainhas alongadas, laminas<br />

lineares com 8-15 mm de largura, planas (KISSMANN, K.G., 1997).<br />

Inflorescência antelas com compostas com até 12 raios primá<strong>rio</strong>s de<br />

comprimento varia<strong>do</strong>. Espigas cilíndricas com 1-3 cm de comprimento por até 2 cm de<br />

espessura, apresentan<strong>do</strong> muitas espiguetas estendidas a partir <strong>do</strong> eixo central, espiguetas<br />

lineares muito densas com 6-18 flores.<br />

Ocorrência- no Brasil é de freqüente em áreas de terra baixas, na região <strong>sul</strong><br />

onde ocorre como invasora em lavouras de arroz irriga<strong>do</strong>, na maior parte de ocorrência<br />

aparece espontaneamente em áreas de várzea uma planta anual preferência não gosta de<br />

sombreamento. 530- 735.<br />

9) Echinochloa colonum (L.) Link Capim-arroz, capim-jau, capim-da-colonia<br />

(anexo III I). Planta originaria da índia distribuída amplamente por regiões tropicais e<br />

subtropicais, é muito freqüente, especialmente em áreas de baixadas úmidas. Planta<br />

anual com reprodução por sementes e apresentam alto grau germinativo em qualquer<br />

época <strong>do</strong> ano, geralmente eretas 25 a 60 cm de altura formam touceiras. Panículas<br />

geralmente eretas com 5 a 15cm de comprimento (KISSMANN, K.G., 1997).<br />

10) Setaria geniculata (Lam.) Beauv. Capim-rabo-de-raposa, capim-rabo-de-<br />

gato (anexo III J). É uma espécie altamente polimorfa, segun<strong>do</strong> o ambiente onde ocorre.<br />

No Brasil ocorre em to<strong>do</strong> territó<strong>rio</strong>, em campos nativos e ambientes diversos, sen<strong>do</strong><br />

freqüentes em margens de cursos de água. Reproduzida por semente, descrita como de<br />

ciclo anual, pois a parte aérea seca nas épocas de f<strong>rio</strong> aqui no <strong>sul</strong>, hábito perene. Planta<br />

28


cespitosa, ereta ou semi-prostrada, com 30-120 cm de altura. Plantas desse gênero<br />

apresentam inflorescências muito típicas distinguin<strong>do</strong>-se particularmente pela presença<br />

de cerdas a partir <strong>do</strong>s pedicelos (KISSMANN, K.G., 1997).<br />

Para tanto, também foram identificadas as principais plantas utilizadas pelos<br />

artesãos com seu nome comum e na língua Kaingang, como apresenta<strong>do</strong> na tabela 01, a<br />

seguir.<br />

Nome Comum<br />

Cipó-São-João<br />

Criciúma<br />

Taquara<br />

Tabela 01. Caracterização da matéria prima utilizada em Guarita.<br />

Nome<br />

Científico<br />

Pyrostegia venusta,<br />

Miers<br />

Chusquea<br />

ramosissima<br />

Merostachys<br />

skvortzovii<br />

Alguns materiais como cipós e as árvores de que são feitos os artesanatos de<br />

madeira, não foram identifica<strong>do</strong>s pela dificuldade de caracterização ou falta de<br />

evidência se conflitos na descrição <strong>do</strong>s informantes.<br />

Nome em<br />

Kaingang<br />

Mrûr<br />

Krê<br />

Usos<br />

Da pra fazer cestinhas,<br />

ninhos de passarinho,<br />

animais trança<strong>do</strong>s e<br />

enrola<strong>do</strong>s, anjos,<br />

carrocinhas.<br />

Cestinhas, transa<strong>do</strong>s,<br />

chapéus, animais, abajus<br />

Ván pé Cestinhas, balaios médios e<br />

<strong>grande</strong>s, peneira<br />

Taquaruçu Guadua trinii Vánvá sá Balaios, peneiras, cestinhas<br />

Cipó Guaimbê<br />

Capim<br />

Cipó-mil-homens<br />

Philodendron<br />

selloum, Koch<br />

Aristolochia<br />

triangularis, Cham<br />

Kó mrûr<br />

Róró<br />

Mrûr ger<br />

Ninhos de passarinho,<br />

abajus, cestinhas, anel,<br />

cordas para amarre<br />

Os capins são utiliza<strong>do</strong>s<br />

para fazer os arranjos<br />

florais, buquês<br />

Ninhos de passarinho,<br />

abajus, cestinhas, base de<br />

apoio para cestos.<br />

29


4.2 Re<strong>sul</strong>ta<strong>do</strong>s e interpretações das entrevistas.<br />

Após a coleta, procedeu-se à interpretação <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s das entrevistas que serão<br />

descritos a seguir.<br />

A análise da pesquisa buscou, inicialmente, a identificação das famílias<br />

envolvidas no artesanato quanto aos tipos familiares.<br />

importância:<br />

fazemos”.<br />

A. IDENTIFICAÇÃO TIPOLOGIA DOS ARTESÃOS.<br />

Em relação ao trabalho das famílias, quanto à dedicação à atividade, o grau de<br />

“Tu<strong>do</strong> que faz é pra comercio, mais é na páscoa e natal, outras épocas não<br />

Esse tipo familiar pode ser identifica<strong>do</strong> com um grupo que trabalha somente<br />

em determinadas épocas <strong>do</strong> ano, preferencialmente, nos perío<strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s como de pico<br />

maior de produção e comercialização. No restante <strong>do</strong> ano, essas famílias se dedicam a<br />

outras atividades de trabalho. Porém é o grupo que exerce maior pressão de retirada de<br />

matéria prima, pois aproveita os melhores perío<strong>do</strong>s e produz um <strong>grande</strong> montante de<br />

artesanato para ser comercializa<strong>do</strong> (será identifica<strong>do</strong> como grupo A).<br />

Neste mesmo senti<strong>do</strong> de questão, identificou-se outro tipo familiar:<br />

“Trabalho o ano to<strong>do</strong> com artesanato, pois da lavoura não consigo sustenta a<br />

família, e o artesanato trabalhan<strong>do</strong> bem da pra ganha um pouco”.<br />

Aqui um grupo familiar que dedica às atividades de trabalho ao artesanato em<br />

maior parte, demonstran<strong>do</strong> que é uma atividade rentável, porém exigin<strong>do</strong> um maior<br />

aperfeiçoamento e acabamento <strong>do</strong>s produtos. Esse grupo ainda que exclusivamente<br />

dedica<strong>do</strong> ao artesanato ainda pratica agricultura de subsistência. São também os grupos<br />

de famílias que se organizam em associações de artesãos (grupo B).<br />

B. DESCRIÇÃO DA ATIVIDADE (ASPECTO DE COLETIVIDADE).<br />

Quan<strong>do</strong> pergunta<strong>do</strong>s sobre as formas e freqüência de trabalho:<br />

30


“Trabalho individual em casa, se junta em grupo somente pra faze as pintura,<br />

também ven<strong>do</strong> sozinho”.<br />

Nesse caso, a maior parte das famílias prefere trabalhar e comercializar<br />

individualmente somente participam de grupos de trabalho ou associação quan<strong>do</strong><br />

recebem ajuda externa para subsidiar a produção. Organização em associações é mais<br />

comum pelo grupo B. Este vem na forma de material de apoio tintas, equipamentos<br />

como panelão, tachos, máquina de entalhe, passagens para comercializar em outras<br />

cidades.<br />

C. DESTINAÇÃO DO ARTESANATO.<br />

Quanto à destinação <strong>do</strong>s produtos confecciona<strong>do</strong>s:<br />

“fazemos tu<strong>do</strong> pra comercializa, às vezes alguma coisa a gente enfeita a casa,<br />

ou faz cesto pras galinha e pra guarda roupa”<br />

Toda a produção, <strong>do</strong>s diferentes tipos de artesãos, é comercializada. Em<br />

algumas ocasiões, utilizam algum objeto de uso em casa ou de trabalho <strong>do</strong>méstico ou<br />

para animais e na lavoura (balaio para junta milho, ninho para galinha).<br />

envolvimento:<br />

D. PERÍODOS DE COLETA E CONFECÇÃO.<br />

Sobre os perío<strong>do</strong>s de trabalho, épocas de coleta e confecção, tempo de<br />

“Pra o Natal em outubro começa a coleta de material, em novembro sai pra<br />

comercializa os primeiros produtos e faze encomendas pelas amostras feitas,<br />

retornan<strong>do</strong> e pelo final <strong>do</strong> mês de novembro confecciona as encomendas e de mais<br />

produtos e entrega e comercializa em novembro até a semana <strong>do</strong> natal. Já pra Páscoa<br />

começa em fevereiro coletan<strong>do</strong> material e produzin<strong>do</strong> da mesma forma que<br />

ante<strong>rio</strong>rmente”.<br />

Aqui, de acor<strong>do</strong> com a resposta <strong>do</strong> entrevista<strong>do</strong>, nota-se certa organização na<br />

produção principalmente na venda <strong>do</strong>s produtos, quan<strong>do</strong> este procura trabalhar parte de<br />

seus produtos sob encomendas, o que garante a venda <strong>do</strong> artesanato diretamente aos<br />

encomenda<strong>do</strong>res (também mais pratica<strong>do</strong> pelo grupo B). No entanto, ainda são poucos<br />

31


os que saem para fazer essas encomendas e até os consumi<strong>do</strong>res ainda são em poucos<br />

casos que preferem comprar sobre encomenda.<br />

Ainda sobre o tempo de envolvimento nesse perío<strong>do</strong> de produção, os artesãos<br />

começam a trabalhar <strong>do</strong>is meses antes <strong>do</strong> mês que irão somente vender (outubro a<br />

dezembro para o natal, e janeiro a março para a páscoa). A coleta <strong>do</strong>s materiais é a<br />

primeira faze desse processo e exige certo cuida<strong>do</strong> tanto para a coleta quanto <strong>do</strong><br />

processamento será mais bem vista poste<strong>rio</strong>rmente.<br />

E. COMPOSIÇÃO E MODELOS DE ARTESANATO.<br />

Os modelos de artesanato também são de diferentes tipos de acor<strong>do</strong> com a<br />

época em que serão produzi<strong>do</strong>s e vendi<strong>do</strong>s.<br />

“Para o Natal se faz Arranjos florais, balaios <strong>grande</strong>s, cestas, bonecos de<br />

anjos de cipó, pinheiros de cipó e taquara, animais renas de cipó”.<br />

“Para a Páscoa se faz cestarias, arranjos florais, coelhos de cipó e taquaras,<br />

ninhos de pássaros de cipó”.<br />

Composição <strong>do</strong>s arranjos- capim coqueirinho, capim-folha-larga, capim<br />

tiriricão, palha de milho, capim-rabo-de-raposa, barro usa<strong>do</strong> no fun<strong>do</strong> da cesta pra<br />

suporte <strong>do</strong>s capins.<br />

cipó-guaimbê.<br />

Coelhos cestas e anjos- cipó-mil-homens, cipó-são-joão, criciume, taquaruçú,<br />

Cortinas- vagens de carova, taquara bambu, feijão graú<strong>do</strong>.<br />

Ninho de pássaro- cipó-<strong>do</strong>-chão (marronzinho).<br />

Balaios - taquaruçú, taquara bambu, cipó-guaimbê.<br />

Animais de madeira 16 e arco e flecha - arvores tigra branca, dente de cutia.<br />

Pinheiros e animais (renas)- cipó-mil-homens, cipó-marronzinho, cipó-são-<br />

joão, barba de bode.<br />

A <strong>grande</strong> maioria <strong>do</strong>s produtos tem em sua montagem a composição de mais<br />

de um material, dan<strong>do</strong> um aspecto e forma diversificada.<br />

16 Não é tradicionalmente um artesanato Kaingang, é mais comum produzi<strong>do</strong> pelo povo Guarani.<br />

32


F. RECURSOS VEGETAIS (MATÉRIA-PRIMA NATIVA E<br />

INTRODUZIDA)<br />

espécie:<br />

Essa matéria prima é encontrada na mata em diferentes ambientes para cada<br />

“To<strong>do</strong>s são nativos da mata mesmo e também nas capoeira, os cipós na mata,<br />

os capins nos campos e capoeiras, taquaras no mato próximos de <strong>rio</strong>s”.<br />

“Somente o feijão graú<strong>do</strong> é cultiva<strong>do</strong>, e a taquara bambu que foi plantada”.<br />

A diversificação <strong>do</strong> artesanato, também a dificuldade de encontrar a matéria<br />

prima está levan<strong>do</strong> os artesãos a introduzir outros tipos de materiais em seus produtos<br />

(grupo A e B). Embora ainda se encontrem os tradicionais vegetais usa<strong>do</strong>s, na floresta e<br />

capoeira, só que já estão fican<strong>do</strong> escassos e difíceis de encontrar.<br />

flecha:<br />

Os locais de ocorrência das árvores para os bichinhos de madeira e arco e<br />

“As arvores dente de cutia no capoeirão onde não tem pedras. Tigra branca<br />

na mata fechada”.<br />

A produção de miniaturas de animais de madeira apesar de não ser<br />

tradicionalmente <strong>do</strong> povo Kaingang vem sen<strong>do</strong> feito cada vez mais por esse povo, assim<br />

como os colares de sementes, e as plantas ou sementes utilizadas. No entanto, são de<br />

difícil ocorrência e levam bem mais tempo para se desenvolverem ao ponto de corte e<br />

também são mais difícil de ser confecciona<strong>do</strong>, por isso, poucos fazem esse tipo de<br />

artesanato (grupo A e B).<br />

G. FORMAS DE COLETA OU EXTRAÇÃO, ASPECTOS TRADICIONAIS.<br />

Quan<strong>do</strong> pergunta<strong>do</strong>s sobre as formas de uso, ou as partes das plantas usadas<br />

temos as respostas:<br />

“Cipós ex: são-joão liso <strong>do</strong> mato usa de acor<strong>do</strong> com o tipo de artesanato a ser<br />

feito se quere da pra destala 17 ou rapa, cipó-mil-homens usa inteiro da forma natural<br />

sem raspa da pra trança verde. Cipó-guaimbê tira a casca raspa e daí destala o miolo<br />

17 Rachar ao meio, dividir.<br />

33


tem que usa logo se não seca e quebra na montagem <strong>do</strong> artesanato, só deixa murcha<br />

um pouco, também da pra usa a casca”.<br />

“As taquaras são destaladas e deixadas ao sol pra murcha um pouco, ai são<br />

raspadas e pode trança já”.<br />

“Para os animais de madeira usa os galhos das arvores, melhor de faze<br />

quan<strong>do</strong> o galho ta seco”.<br />

Em relação às partes das plantas utilizadas principalmente os cipós tu<strong>do</strong> é<br />

usa<strong>do</strong> seja a casca ou o “miolo”, ou quan<strong>do</strong> é usa<strong>do</strong> inteiro sem rachar ou raspar usa<strong>do</strong><br />

de forma natural. As taquaras são destaladas e depois raspadas procuran<strong>do</strong> dar<br />

contornos à parte que será usada tornan<strong>do</strong> mais fácil de manejar e trançar. As partes das<br />

árvores geralmente usadas são os galhos mais desenvolvi<strong>do</strong>s mais grossos, esses talvez<br />

sejam os que representem junto com a taquara ao serem processa<strong>do</strong>s, os que mais são<br />

desperdiça<strong>do</strong>s em relação aos demais materiais, pois são to<strong>do</strong>s modela<strong>do</strong>s dan<strong>do</strong> forma<br />

aos bichinhos e entalhe.<br />

Já quanto à seleção <strong>do</strong> material para coleta são observa<strong>do</strong>s alguns aspectos:<br />

“Seleciona pelo tamanho, idade <strong>do</strong> ramo ou galho e característica <strong>do</strong> material<br />

se bem uniforme sem caroço, comprimento, etc. para os capins que são mais fáceis de<br />

encontra e tem bastante tira pareio”.<br />

“Taquaruçú seleciona as mais novas porque fica melhor de destala e raspa e<br />

não quebram como as mais velhas”.<br />

estar maduro”.<br />

“Criciume também escolhe os mais velhos e mais compri<strong>do</strong>s, mas tem que<br />

A coleta <strong>do</strong> material é uma etapa de <strong>grande</strong> importância, pois de acor<strong>do</strong> com a<br />

mesma pode determinar o desenvolvimento da espécie de planta, se cortar a planta<br />

inteira essa pode acabar morren<strong>do</strong> e a atividade fica comprometida. Porém os artesãos<br />

demonstram certa preocupação nesse senti<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> passam a a<strong>do</strong>tar méto<strong>do</strong>s de coleta<br />

seletivos e de forma que o material não acabe selecionan<strong>do</strong> as partes melhores e<br />

também procuran<strong>do</strong> deixar os ramos ou galhos mais novos para que a planta continue se<br />

desenvolven<strong>do</strong>.<br />

34


“Os cipó-mil-homens e são-joão sempre cortam o mais fino os broto porque<br />

ele vai brota de novo, e parte mais grossa o tronco <strong>do</strong> cipó não corta porque vai dar<br />

rebrote”.<br />

“Pro cipó-guaimbê corta os mais velhos e mais compri<strong>do</strong>s que são as raízes<br />

melhores de trabalha os mais finos não são corta<strong>do</strong>s porque não são tão flexíveis<br />

quanto os outros alem de causarem certa alergia nas mãos ao ser coleta<strong>do</strong> ou<br />

trabalha<strong>do</strong>. As raízes de quaimbê também ao serem armazenadas os mais velhos não<br />

caruncha tão fácil quanto os mais novos e verdes”.<br />

Sobre as formas de coleta:<br />

Para os cipós são-joão e mil-homens que são plantas rasteiras são somente<br />

arranca<strong>do</strong>s <strong>do</strong> chão ou desenrola<strong>do</strong>s das árvores onde se espalham ou se grudam e<br />

corta<strong>do</strong>s com faca ou facão a retirada é parcial como menciona<strong>do</strong> acima. Já para o cipó-<br />

guaimbê esse se desenvolve tanto no chão como aéreos, depois de seleciona<strong>do</strong>s as raízes<br />

maduras, eles são extraí<strong>do</strong>s de duas maneiras: uma é puxan<strong>do</strong> a raiz madura, o que<br />

requer uma força relativamente <strong>grande</strong> e que ocasionalmente pode vir a danificar a<br />

planta (grupo A); e a outra maneira é cortar o cipó, com auxílio de uma faca amarrada<br />

na ponta de uma vara comprida retirada na própria mata (grupo B). Ainda se o coletor<br />

tiver habilidade ou crianças junto geralmente sobem nas arvores para fazer o corte <strong>do</strong>s<br />

cipós ou raízes.<br />

Quanto à freqüência de coleta na mesma planta:<br />

“A freqüência de coleta é de ano em ano pros cipós,... Já as arvores pra faze<br />

os bichinhos são de <strong>do</strong>is a três anos”.<br />

Essa freqüência de coleta também é de acor<strong>do</strong> com a característica de<br />

desenvolvimento das plantas e serve principalmente pra os cipós e árvores, para as<br />

taquaras é definitiva já que é cortada toda a planta (parte aérea) e nesse caso os brotos<br />

mais novos como menciona<strong>do</strong> acima em uma das respostas.<br />

Em relação aos aspectos tradicionais características culturais as crenças:<br />

“Preferência de coleta de cipós na lua minguante ou na lua crescente também<br />

para taquaras, não coleta na lua nova devi<strong>do</strong> ao material coleta<strong>do</strong> nesse perío<strong>do</strong> pode<br />

“caruncha” e estraga mais fácil no armazenamento e até mesmo no material<br />

confecciona<strong>do</strong> ele inteiro sem “destala” e sem raspa<strong>do</strong>”.<br />

35


“Não tira na lua nova se não vai caruncha tu<strong>do</strong>”.<br />

Nesse caso to<strong>do</strong>s os entrevista<strong>do</strong>s têm as mesmas observações em relação à<br />

lua, pois acreditam que o material coleta<strong>do</strong> nessa época estraga tanto ao ser<br />

armazena<strong>do</strong>, quanto no artesanato monta<strong>do</strong> pronto, principalmente nos que são<br />

monta<strong>do</strong>s sem processamento (os cipós sem raspa). Até mesmo por isso começam a<br />

coleta certo tempo antes e ai tem tempo pra trabalhar na confecção com o material<br />

armazena<strong>do</strong>.<br />

Aquisição de matéria prima, aspectos de coletivismo:<br />

“Quan<strong>do</strong> é busca cipó e taquara é mais o homem que vai tira, as mulheres<br />

vão mais pra tira os capins pros arranjo”.<br />

“As vezes que não da pra ir tira pede ou compra material <strong>do</strong>s visinho que<br />

tiram bastante ai eles vende”.<br />

Esse é um importante fato que ocorre principalmente com artesãos mais velhos<br />

que devi<strong>do</strong> certas limitações não podem coletar material na mata, e ai compram de<br />

outros que fazem essa coleta (grupo A). É influencia<strong>do</strong> esse fato também é influencia<strong>do</strong><br />

pela dificuldade de encontrar as plantas na mata; às vezes tem que percorrer longa<br />

distância para coletar e pessoas que conhecem bem a mata e os locais de ocorrência<br />

acabam fazen<strong>do</strong> esse intermédio (grupo B).<br />

MATERIAL.<br />

H. FORMAS DE ACONDICIONAMENTO E CONSERVAÇÃO DO<br />

Quanto ao tempo de armazenamento da matéria-prima:<br />

“cipó- seca na sombra pra fica murchan<strong>do</strong>, não deixar ao sol porque estraga e<br />

fica difícil de trabalha, também dura cerca de 1 a 2meses”.<br />

“A taquara- deixa murcha 3 dias na sombra porque se usa logo que coletada<br />

fica ruim de trabalha solta fios e farpas, depois de destala<strong>do</strong> dura mais 1 a 2 meses”.<br />

“Guaimbê - dura 3 meses de armazenamento com a casca poden<strong>do</strong> ser usa<strong>do</strong><br />

nesse perío<strong>do</strong> depois desse tempo começam estraga”.<br />

Esse perío<strong>do</strong> de armazenamento é de principalmente os materiais já destala<strong>do</strong>s<br />

ou raspa<strong>do</strong>s; segun<strong>do</strong> os re<strong>sul</strong>ta<strong>do</strong>s das entrevistas esse material não que se estrague,<br />

36


mas que fica difícil de serem trabalha<strong>do</strong>s. Também podem durar pouco pelas condições<br />

de armazenamento que tem disponível, geralmente galpão com baixo<br />

acondicionamento, fican<strong>do</strong> propício à ocorrência de mofos, porém, ao serem monta<strong>do</strong>s<br />

e pinta<strong>do</strong>s são guarda<strong>do</strong>s dentro das casas ou logo comercializa<strong>do</strong>s ten<strong>do</strong> uma vida útil<br />

bem maior.<br />

I. PERCEPÇÃO DE PROBLEMAS QUE AFETAM A QUALIDADE E<br />

CONSERVAÇÃO DO MATERIAL VEGETAL, FATORES EXTERNOS.<br />

“Taquara tem furos de brocas talvez vespas, cipó tem presença de lagartas,<br />

guaimbê costuma aparecer besouros”.<br />

“A taquara se percebe furos causa<strong>do</strong>s por corós ou vespas”.<br />

Na maioria das respostas eram somente citadas a taquara e o cipó-guaimbê<br />

como os que geralmente apresentam algumas características de ataque de insetos. Na<br />

taquara essa ocorrência se dá principalmente por vespas mamangavas que fazem furo<br />

nos gomos (entrenós), ou besouro serra<strong>do</strong>r, já no cipó-guaimbê presença de besouros. Já<br />

não se tem observação de <strong>do</strong>enças nas plantas ou não tem conhecimento sobre esses<br />

problemas. Talvez o único problema que ocorra é no armazenamento da matéria prima o<br />

que é resolvi<strong>do</strong> de acor<strong>do</strong> com o perío<strong>do</strong> da lua na coleta.<br />

Outro e importante fator foi aponta<strong>do</strong> pelos artesãos em relação às queimadas<br />

que ocorrem principalmente nas capoeiras ambiente este onde desenvolvem-se os<br />

capins:<br />

“Em época de queimada fica difícil de acha os capim pra faze os arranjo, pois<br />

quan<strong>do</strong> queima vai tu<strong>do</strong>”.<br />

“Os capim quan<strong>do</strong> queima tem que espera só no outro ano pra tira de novo, às<br />

vezes acha um pouco mais faz com o que tem se não na faz arranjo”.<br />

Como menciona<strong>do</strong> ante<strong>rio</strong>rmente os capins são a composição <strong>do</strong>s arranjos ou<br />

buques, esses se desenvolvem principalmente nas capoeiras e banha<strong>do</strong>s. São os<br />

principais ambientes onde ocorrem as queimadas, e a produção de arranjos fica<br />

comprometida principalmente na época para a páscoa onde são mais produzi<strong>do</strong>s e<br />

consideran<strong>do</strong> as plantas anuais em determinadas épocas tem e outras não.<br />

37


5. CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

A atividade artesanal na reserva indígena de Guarita é caracterizada como uma<br />

atividade de <strong>grande</strong> importância, pois representa boa parte da renda financeira de muitas<br />

famílias, sen<strong>do</strong> em algumas como a principal, garantin<strong>do</strong> a sobrevivência e manutenção<br />

das famílias que se dedicam a essa atividade. No entanto, o uso intensivo <strong>do</strong>s recursos<br />

naturais da matéria prima compromete a manutenção da atividade ao longo <strong>do</strong> tempo.<br />

A necessidade de sobrevivência e subsistência das inúmeras famílias indígenas<br />

que trabalham com artesanato leva a uma exigência de explorar cada vez mais os<br />

recursos disponíveis e a atividade apresentan<strong>do</strong>-se momentaneamente de <strong>grande</strong><br />

interesse comercial acaba por influenciar ainda mais a extração. Essa dinâmica de<br />

produção estabelecida pode influir em uma importante relação, a necessidade maior de<br />

geração de renda com consciência de sustentabilidade da matéria prima. Através das<br />

entrevistas, nota-se que os artesãos têm conhecimento <strong>do</strong>s impactos gera<strong>do</strong>s pelo uso<br />

intensivo e uma exigência cada vez maior de matéria prima, mas que tem a atividade<br />

como uma das alternativas se não à única fonte de renda para sobreviver.<br />

O estu<strong>do</strong> demonstra uma necessidade de mais pesquisas sobre os recursos<br />

naturais para o artesanato. Uma vez que conhecen<strong>do</strong> melhor as plantas pode-se propor<br />

um manejo de extração de acor<strong>do</strong> com o desenvolvimento dessas ou até mesmo se pode<br />

fazer um estu<strong>do</strong> analisan<strong>do</strong> as taxas de crescimento anuais das principais utilizadas;<br />

Pois até mesmo para identificação das que foram relacionadas algumas tinham o mesmo<br />

nome comum para espécies diferentes morfologicamente, algumas não foram<br />

identificadas como alguns cipós, capins e árvores, reforçan<strong>do</strong> a necessidade de mais<br />

pesquisas para identificação morfológica destes através de um herbá<strong>rio</strong> botânico.<br />

Uma questão importante de ser estudada refere-se ao tema que, inicialmente,<br />

tinha-se a idéia de se estabelecer planos de manejo a partir <strong>do</strong>s re<strong>sul</strong>ta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> estu<strong>do</strong>,<br />

caracterizan<strong>do</strong> os materiais e suas taxas de desenvolvimento e ocorrência ou<br />

apresentan<strong>do</strong> novos materiais alternativos. Porém, com o desenrolar <strong>do</strong> trabalho e<br />

principalmente com a convivência junto aos artesãos, foi observa<strong>do</strong> que qualquer<br />

méto<strong>do</strong> ou modelo de manejo convencional tem que ser analisa<strong>do</strong> com cuida<strong>do</strong>. Por<br />

exemplo, como ocorre com o cipó guaimbê em que existem <strong>do</strong>is méto<strong>do</strong>s de coleta, ou<br />

seja, um é realiza<strong>do</strong> puxan<strong>do</strong> as raízes que são áreas e outro méto<strong>do</strong> em que é usan<strong>do</strong><br />

38


uma vara comprida com uma faca amarrada na ponta para cortar as raízes. São méto<strong>do</strong>s<br />

bastante diferentes, em que um as raízes são puxadas, poden<strong>do</strong> danificar a planta e em<br />

outro se corta somente os que foram seleciona<strong>do</strong>s.<br />

São alguns méto<strong>do</strong>s já pratica<strong>do</strong>s pelos artesãos só que nem to<strong>do</strong>s manifestam<br />

suas vontades em estabelecer como padrão o que for menos prejudicial à planta se ao<br />

menos para essa espécie de cipó fosse a<strong>do</strong>tada uma coleta com corte somente das raízes<br />

que irão ser utilizadas já pode determinar uma <strong>grande</strong> diferença na ocorrência e<br />

desenvolvimento dessas plantas, pois é uma das mais usadas. Neste caso, os artesãos<br />

realizam uma coleta seletiva e menos danosa à planta, sen<strong>do</strong> um fator de <strong>grande</strong><br />

importância para um manejo racional.<br />

Muito além de estabelecer planos concretos de manejo, objetivou-se o<br />

desenvolvimento da consciência sustentável discutin<strong>do</strong> a importância de se conservar os<br />

recursos por eles explora<strong>do</strong>s não apenas para mantermos o ambiente ecologicamente<br />

equilibra<strong>do</strong>, mas também para se manter esta cultura local da confecção <strong>do</strong>s artesanatos<br />

em questão, pois, mais <strong>do</strong> que o conhecimento científico, é necessá<strong>rio</strong> vontade social<br />

para caminharmos em direção à sustentabilidade.<br />

A atividade artesanal pode até então ser considerada sustentável, no entanto<br />

exige muito cuida<strong>do</strong>. As formas parciais de extração da matéria prima possibilitam que<br />

a planta continue seu desenvolvimento e perpetuan<strong>do</strong>-se, porém qualquer influência no<br />

meio ambiente pode influenciar to<strong>do</strong> um sistema ecológico. Outro fator chave para isso<br />

é em relação aos <strong>do</strong>is tipos de artesãos que foram identifica<strong>do</strong>s (A e B). O<br />

comportamento e a dinâmica de trabalho de um influenciam no outro, principalmente, o<br />

grupo A que atua somente em determinadas épocas <strong>do</strong> ano que são o maior grupo e<br />

também têm característica de produzir maior volume de artesanato que o grupo B nas<br />

melhores épocas <strong>do</strong> ano. Também os impactos e a pressão exercida pelo grupo A são<br />

maiores; Já o grupo B de artesãos que trabalha o ano to<strong>do</strong> na atividade é bem menor que<br />

o grupo A, também se percebe mais preocupa<strong>do</strong> com o futuro da atividade pois depende<br />

muito dela para sobreviver.<br />

De acor<strong>do</strong> com os <strong>do</strong>is tipos de artesãos, há uma percepção diferente também<br />

sobre a consciência de sustentabilidade da matéria prima. Um grupo está mais<br />

dependente da atividade e outro somente em parte. Para tanto a área de mata é a mesma<br />

e se o grupo B mais sensível ao futuro da atividade passe a a<strong>do</strong>tar medidas de trabalho<br />

consciente, o grupo A também teoricamente deve seguir o mesmo ritmo que até então se<br />

39


demonstra menos preocupa<strong>do</strong> com a forma como está atuan<strong>do</strong>. O que mostra que não é<br />

somente um estu<strong>do</strong> botânico, mas sim compreender o comportamento social <strong>do</strong>s grupos<br />

existentes.<br />

A área de mata para exploração também foi abordada que não é totalmente<br />

utilizada as freqüentes coletas ocorrem nos locais próximos das casas <strong>do</strong>s artesãos<br />

influencian<strong>do</strong> a um intensivo uso das áreas próximas não utilizan<strong>do</strong> em total toda área<br />

de mata devi<strong>do</strong> ao deslocamento distante para coleta ou não existin<strong>do</strong> caminhos e<br />

estradas transitáveis para adentro da mata. Fato que poderia aumentar a área de<br />

exploração da matéria prima e se verificar a hipótese de um rodízio de área para cada<br />

época ou ano. Sempre pensan<strong>do</strong> também no tipo de comportamento que os tipos de<br />

artesãos tomariam nesse senti<strong>do</strong> onde a principal dificuldade até então é em relação ao<br />

grupo A que por atuar esporadicamente é o menos preocupa<strong>do</strong> com a preservação da<br />

matéria prima.<br />

Outro aspecto aborda<strong>do</strong> pelos artesãos quanto ao uso da matéria prima, refere-<br />

se ao uso de alternativas com taquara bambu, feijão graú<strong>do</strong>, fibra de bananeira, palha de<br />

milho. Estas matérias primas caracterizam-se como um processo de adaptação <strong>do</strong>s<br />

artesãos às novas fontes de matérias primas, apesar de algumas não serem nativas,<br />

adaptam-se bem e podem ser introduzidas. Não substituem em total as tradicionais<br />

usadas, mas despertam já um interesse <strong>do</strong>s artesãos que estão a<strong>do</strong>tan<strong>do</strong> e trabalhan<strong>do</strong><br />

com perfeição.<br />

Para caminharmos em direção à sustentabilidade da atividade deve ser<br />

abordada a importância <strong>do</strong> envolvimento da comunidade e suas contribuições em<br />

concordância com a capacidade de regeneração e ocorrência das matérias primas. Assim<br />

como a adaptação de outras espécies introduzidas utilizadas, deve ocorrer de fato uma<br />

consciência de sustentabilidade, pois são eles mesmos principais atores envolvi<strong>do</strong>s e<br />

devem estar comprometi<strong>do</strong>s na gestão e conservação desses recursos naturais.<br />

40


BIBLIOGRAFIA<br />

BACKES, A.; Nardino, M. Arvores, Arbustos e Algumas Lianas Nativas no Rio<br />

Grande <strong>do</strong> Sul. 2.ed. São Leopol<strong>do</strong>: UNISINOS, 2003.10 p.<br />

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KISSMANN, K.G. Plantas Infestantes e Nocivas – tomo I. BASF, 2@ edição, 1997.<br />

MATTE, Dulce. Um estu<strong>do</strong> sobre as dinâmicas simbólicas, sociais, econômicas<br />

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Dissertação. Pós-Graduação Stricto Sensu (Mestra<strong>do</strong>) em Desenvolvimento.<br />

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Brasil / Dissertação (Mestra<strong>do</strong>) - Instituto de Botânica da Secretaria de Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Meio<br />

Ambiente, São Paulo, 2008.<br />

41


Anexo 1.<br />

ANEXOS<br />

Caracterização e Uso de Recursos Vegetais para o Artesanato Kaingang na Terra<br />

A. IDENTIFICAÇÃO<br />

Indígena Guarita, Município de Tenente Portela - RS<br />

Questioná<strong>rio</strong><br />

1. Nome(s), idade e sexo <strong>do</strong>(s) entrevista<strong>do</strong>(s)<br />

2. Local de moradia<br />

3. Local de origem<br />

4. Composição familiar<br />

B. DESCRIÇÃO DA ATIVIDADE<br />

5. Há quanto tempo faz(em) o artesanato?<br />

6. Com quem aprendeu a fazer o artesanato?<br />

7. Com quem faz o artesanato? (Individual, familiar, interfamiliar, grupal/associação)<br />

8. Onde (em que lugar) se faz o artesanato?<br />

9. Com que freqüência se faz o artesanato? (semanal, mensal, trimestral, semestral,<br />

anual)<br />

10. Em que (ou para que) época(s) faz(em) o artesanato?<br />

C. DESTINAÇÃO E COMPOSIÇÃO DO ARTESANATO<br />

11. Qual o destino <strong>do</strong> artesanato? (Para uso próp<strong>rio</strong>, para comercialização, ambos)<br />

12. Grau de importância <strong>do</strong> artesanato na geração de renda familiar<br />

13. Modelos de artesanato destina<strong>do</strong>s para uso <strong>do</strong>méstico (uso próp<strong>rio</strong>)? Quantidade?<br />

Dimensões e função? Composição (se o modelo tem mais de um material usa<strong>do</strong> e<br />

em que proporção)? Nome comum e em kaingang?<br />

14. Modelos de artesanato para a comercialização? Quantidade? Dimensões e função?<br />

Composição (se o modelo tem mais de um material usa<strong>do</strong> e em que proporção)?<br />

Nome comum e em kaingang?<br />

D. RECURSOS VEGETAIS (MATÉRIA-PRIMA NATIVA E INTRODUZIDA)<br />

15. Nome <strong>do</strong> material vegetal (Nome comum e nome na língua kaingang)<br />

16. Qual a origem <strong>do</strong> material (Nativa ou introduzida)<br />

17. Qual o local de ocorrência, de coleta ou de cultivo ( Mata, capoeira, campo aberto<br />

ou campo cultiva<strong>do</strong>)<br />

42


18. Quais as partes <strong>do</strong> vegetal utilizadas e para que modelos de artesanato?<br />

19. Quais as formas de aquisição <strong>do</strong> material (Coleta, troca ou brique, favor, compra,<br />

cultiva<strong>do</strong>,...)<br />

20. Qual a distância e a forma de acesso ao lugar de ocorrência?<br />

E. FORMAS DE COLETA OU EXTRAÇÃO<br />

21. Quem participa da coleta ou extração <strong>do</strong> material (aspectos de coletivismo, gênero e<br />

geração / idade e sexo)?<br />

22. Quais as lógicas ou parâmetros para a escolha ou seleção <strong>do</strong> material?<br />

- Características <strong>do</strong> vegetal (idade, tamanho, condição, cor, etc.);<br />

- Características ambientais (época <strong>do</strong> ano, influência da lua, etc.);<br />

- Características culturais (crenças, tradições, etc.).<br />

23. Quais as técnicas ou méto<strong>do</strong>s aplica<strong>do</strong>s para a coleta ou extração?<br />

- Descrição da forma de coleta ou extração (inclusive de ritual ou condição prévia);<br />

- Ferramentas utilizadas.<br />

24. Existem noções de cuida<strong>do</strong> para a recomposição ou regeneração sustentáveis <strong>do</strong><br />

material após extração ou coleta <strong>do</strong> mesmo?<br />

- Qual a freqüência e intensidade de coleta ou de extração na mesma planta ou no<br />

mesmo lugar?<br />

- Que procedimento ou cuida<strong>do</strong>s são toma<strong>do</strong>s (ou assumi<strong>do</strong>s) para o material não se<br />

acabar?<br />

F. FORMAS DE ACONDICIONAMENTO E CONSERVAÇÃO DO MATERIAL<br />

25. Como é acondiciona<strong>do</strong> o material para o seu poste<strong>rio</strong>r uso (agrupamento em feixos,<br />

corte, proteção da luz, “destalar”, retirada da casca ou córtex, humedecimento, etc.)?<br />

26. Qual o tempo ou duração de conservação (perecibilidade em bruto e/ou<br />

processa<strong>do</strong>)?<br />

27. Quem participa <strong>do</strong> acondicionamento <strong>do</strong> material (aspectos de coletivismo, gênero e<br />

geração / idade e sexo)?<br />

G. PERCEPÇÃO DE PROBLEMAS QUE AFETAM A QUALIDADE E<br />

CONSERVAÇÃO DO MATERIAL VEGETAL<br />

28. Verificação de <strong>do</strong>enças, pragas, fungos, etc.<br />

43


ANEXO - 2<br />

MAPAS DE USO DO SOLO<br />

44


ANEXO - 3<br />

Fotos <strong>do</strong>s materiais vegetais<br />

A) Taquaruçú B) taquara lixa<br />

C) Taquara bambu D) Criciume<br />

45


E) Cipó-mil-homens G) Cipó-são-joão<br />

F) Cipó-guaimbe<br />

46


H) Tiriricão I) Capim-arroz<br />

J) Capim-rabo-de-raposa<br />

47


ARTESANATOS KAINGANG<br />

48

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