UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO - ICHS/UFOP
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Memórias tinham como objetivo promover uma defesa da Monarquia lusitana por<br />
meio de um discurso que pregava a Restauração de Portugal no qual Silva Lisboa<br />
procura aplicar a sua visão monarquista e reformista sempre que possível princí-<br />
pios de autores como Edmund Burke e Adam Smith. Ou seja, aquelas obras foram<br />
concebidas com uma função predeterminada, o reforço político do governo de D.<br />
João e, paralelamente, uma ferrenha oposição à Revolução Francesa e seus desdo-<br />
bramentos.<br />
A análise das obras de José da Silva Lisboa no período de 1808 a 1819<br />
demonstra com clareza a presença de uma linguagem político-historiográfica que<br />
denominamos Linguagem da Restauração, marcada pelo uso de temas relaciona-<br />
dos ao Reformismo Lusitano, destinados à legitimação do governo de D. João<br />
frente aos súditos da nação portuguesa, sejam eles de aquém ou de além mar. Esta<br />
linguagem política é caracterizada pela constante justificação das medidas eco-<br />
nômicas implementadas pela Corte no Brasil, como influenciadas pelos principais<br />
teóricos do Liberalismo Econômico, especialmente os de matriz britânica, utili-<br />
zando para tal a publicação de obras sobre Economia Política que almejavam va-<br />
lidar tais políticas.<br />
A Linguagem da Restauração também é caracterizada por tentar promover<br />
a restauração da glória do Império português que havia sido abalada pela invasão<br />
napoleônica ao Reino de Portugal e a subsequente transmigração da Corte para o<br />
Rio de Janeiro. Portanto, os escritos de Silva Lisboa pretendiam algo mais do que<br />
garantir a legitimidade do governo de D. João e responder as críticas ao mesmo.<br />
Existia também uma constante preocupação em tentar conter a propagação, ou, ao<br />
menos, desmerecer os ideais da Revolução Francesa, considerados por Silva Lis-<br />
boa como os principais responsáveis pela crise que abalara a monarquia lusitana<br />
naquele período.<br />
Nesse sentido, essas obras, patrocinadas pelo monarca, carregavam a fun-<br />
ção política de difundir um discurso que enaltecia a figura de D. João como um<br />
monarca liberalizante, vitorioso na empresa de Restauração da Monarquia por<br />
meio da criação de um Novo Império legitimamente governado pela dinastia de<br />
Bragança com políticas econômicas liberalizantes que incentivassem o crescimen-<br />
to do comércio e fábricas, para que este mesmo Império e, principalmente, o Rei-<br />
no do Brasil, alcançassem os desígnios que a Providência Divina havia estipulado<br />
para esta região.<br />
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