Sessões de Comunicações Coordenadas com resumo (PDF)
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Jornada <strong>de</strong> estudos da Linguagem - JeL VII<br />
SESSÕES COORDENADAS<br />
“Monografias” elaboradas pelo governador a socieda<strong>de</strong> maranhense a<strong>com</strong>panhou as disputas em torno da organização da festa dos trezentos<br />
anos da cida<strong>de</strong>. Nesta configuração, o jornal Pacotilha manteve a sua posição sujeito historicamente conquistada <strong>de</strong> ser uma voz crítica da<br />
política e dos costumes locais (JORGE, 2008) e <strong>de</strong>stacou-se pela sua posição crítica em relação ao governo do Estado e aos gastos por este<br />
realizado. Dentre as críticas estavam o uso do pagamento <strong>de</strong> dívidas <strong>de</strong> fazen<strong>de</strong>iros, <strong>de</strong> investidores na falida indústria têxtil e a construção<br />
<strong>de</strong> obras consi<strong>de</strong>rada sem interesse da população. Deste modo, a análise evi<strong>de</strong>nciou as estratégias discursivas e memorialísticas dos sujeitos<br />
discursivos, <strong>de</strong> modo que foi possível dizer que quanto à memória discursiva o jornal Pacotilha está em posição <strong>de</strong> dissenso no que diz respeito<br />
aos gastos do governo realizados ao longo <strong>de</strong> 1911 e 1912. No entanto, em relação ao sentido oficial da <strong>com</strong>emoração, o mesmo está em<br />
posição <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são ao discurso da FD dominante, a saber, a <strong>de</strong> legitimação da festa do tricentenário, filiando-se assim ao sujeito discursivo<br />
“Maranhense”. Neste sentido, a posição sujeito do jornal em relação à posição sujeito do governo é <strong>de</strong> dissenso. Na querela do empréstimo<br />
apenas dois pontos <strong>de</strong> consenso, o primeiro é que o empréstimo era a única solução possível e o segundo consenso era a realização do<br />
centenário. Estabelecendo relação <strong>de</strong> <strong>com</strong>paração entre as matérias e as condições <strong>de</strong> produção <strong>de</strong>stes discursos, foi possível concluir que<br />
a crítica produzida por este jornal assenta-se no modo <strong>com</strong>o o recurso do empréstimo foi utilizado e, não, no seu sentido. Temos então que<br />
a tomada <strong>de</strong> posição do jornal é primeiramente em consenso quanto ao pedido <strong>de</strong> empréstimo e em seguida <strong>de</strong> dissenso quanto ao seu uso.<br />
No entanto, no que diz respeito à <strong>com</strong>emoração o jornal alinha-se à posição sujeito do governo <strong>de</strong> legitimação da <strong>com</strong>emoração em função da<br />
memória histórica da cida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> sua responsabilida<strong>de</strong> <strong>com</strong> as gerações futuras. Não po<strong>de</strong>ria o jornal tomar outra posição nestas condições<br />
<strong>de</strong> produção. Não <strong>com</strong>emorar seria negar a si mesmo.<br />
4 • Os parênteses em A hora da estrela: onipotência, impotência ou vacilação do narrador?<br />
Fátima Almeida da Silva<br />
Com este trabalho, analisaremos o funcionamento discursivo dos parênteses na novela A hora da estrela, <strong>de</strong> Clarice Lispector. Para tanto,<br />
apoiamo-nos na Análise <strong>de</strong> Discurso francesa (PÊCHEUX/ORLANDI) e na teoria da heterogeneida<strong>de</strong>, proposta por Authier-Revuz. Authier-<br />
Revuz se inscreve no terceiro momento da Análise <strong>de</strong> Discurso francesa. Essa linguista estuda o funcionamento da heterogeneida<strong>de</strong> na<br />
língua. Para a autora, há duas formas <strong>de</strong> heterogeneida<strong>de</strong>: a heterogeneida<strong>de</strong> constitutiva e a heterogeneida<strong>de</strong> mostrada. A heterogeneida<strong>de</strong><br />
constitutiva é vista, pela autora francesa, <strong>com</strong>o algo fundante do dizer, sendo aquele Outro que é condição para o funcionamento <strong>de</strong>sse<br />
dizer. Tal heterogeneida<strong>de</strong> é da or<strong>de</strong>m do inconsciente (LACAN) e do interdiscurso (PÊCHEUX), isto é, trata-se <strong>de</strong> algo que pré-existe, já<br />
posto, fugindo, assim, ao controle do enunciador. A heterogeneida<strong>de</strong> mostrada vai funcionar <strong>com</strong>o representação, no dizer “<strong>de</strong> diferentes<br />
modos <strong>de</strong> negociação do sujeito falante <strong>com</strong> a heterogeneida<strong>de</strong> constitutiva do seu discurso.” (AUTHIER-REVUZ,1990, p.26). Essa forma<br />
<strong>de</strong> heterogeneida<strong>de</strong> funcionará <strong>com</strong>o uma ruptura que se dá na ca<strong>de</strong>ia dos significantes. Tal heterogeneida<strong>de</strong> se bifurca em duas: em<br />
heterogeneida<strong>de</strong> mostrada marcada e em heterogeneida<strong>de</strong> mostrada não-marcada. A heterogeneida<strong>de</strong> mostrada marcada consiste no outro<br />
que po<strong>de</strong> ser explicitado no fio do dizer, por meio <strong>de</strong> marcas formais <strong>com</strong>o as aspas, o discurso direto, o discurso indireto. Já a heterogeneida<strong>de</strong><br />
mostrada não-marcada é aquela em que o outro aparece diluído no um, sem marcas formais. É o caso do discurso indireto livre, da ironia,<br />
da alusão <strong>de</strong>ntre outros. Authier-Revuz (1990), no artigo “Heterogeneida<strong>de</strong> enunciativas”, afirma que tal forma <strong>de</strong> heterogeneida<strong>de</strong> que não<br />
se mostra no dizer é arriscada, pois, nela, o outro tanto po<strong>de</strong> emergir <strong>com</strong>o po<strong>de</strong> ser perdido. Conforme Authier (2004), uma das maneiras<br />
<strong>com</strong>o a heterogeneida<strong>de</strong> mostrada aparece discursivamente é através das formas metaenunciativas, segundo ela, estritamente reflexivas e<br />
opacificantes. Tais formas são metaenunciativas, pelo fato <strong>de</strong> apresentarem um dizer <strong>de</strong>sdobrado em um <strong>com</strong>entário sobre este dizer. De<br />
acordo <strong>com</strong> Authier-Revuz, o sujeito, à medida que faz um <strong>com</strong>entário do que enunciara, distancia-se <strong>de</strong>sse dizer, ocupando uma posição<br />
<strong>de</strong> observador, retornando ao que enunciara. Daí a noção <strong>de</strong> reflexivida<strong>de</strong>. Os parênteses em A hora da estrela promovem uma verda<strong>de</strong>ira<br />
ruptura, um corte no dizer do narrador. Utilizamos dois critérios para dividir as sequências sinalizadas por parênteses: a existência, ou não,<br />
da reflexivida<strong>de</strong> na língua e o posicionamento discursivo do narrador. Com base em tais critérios, chegamos a dois grupos <strong>de</strong> sentidos. No<br />
grupo I, encontraremos sequências em cujas incisas observamos um retorno sobre o dizer, e o narrador, por sua vez, se posiciona <strong>com</strong>o um<br />
ser onipotente. No grupo II, os parênteses sinalizam enunciações vacilantes, e o narrador se posiciona <strong>com</strong>o um ser vacilante, que oscila entre<br />
po<strong>de</strong>r e não-po<strong>de</strong>r; entre as posições <strong>de</strong> onipotência e <strong>de</strong> impotência. No caso do grupo I, há glosas metaenunciativas, isto é, um dizer que<br />
46 Ca<strong>de</strong>rno <strong>de</strong> <strong>resumo</strong>s