Sessões de Comunicações Coordenadas com resumo (PDF)

SESSÕES COORDENADAS
5 • De aluno a professor: o caráter múltiplo e híbrido das identidades sociais
Jornada de estudos da Linguagem - JeL VII
66 Caderno de resumos
Claudia Almada Gavina da Cruz (PUC-Rio)
O presente trabalho visa a investigar a construção identitária de um professor, aqui chamado Léo, que é ex-aluno da escola onde leciona
atualmente, de modo a compreender de que maneira sua experiência no passado como aluno da instituição se articula com seu fazer
profissional atual. Minha investigação será norteada pelas seguintes perguntas de pesquisa: a) como as identidades de professor e aluno
se relacionam? b) quais os parâmetros que orientam as performances identitárias de Léo como aluno e como professor? A sociolinguística
contemporânea tem como uma de suas preocupações o estudo de “como os indivíduos e os grupos sociais se definem na e por meio da
linguagem” (COUPLAND e JAWORSKY, 1997). Percebemos, assim, que o estudo das identidades sociais é relevante para a área. Além disso,
tal tema me interessa particularmente porque sou colega de trabalho do professor ora investigado e tenho a sensação de que existe em nossa
escola uma grande narrativa sobre o que significa ser membro dela. Ao analisar a construção identitária desse professor, provavelmente,
irei me deparar com parâmetros que irão sinalizar a existência dessa grande narrativa. Quanto aos aspectos teórico-metodológicos que
sustentam minha investigação, oriento-me pelo paradigma interpretativista de pesquisa que preconiza a não existência de uma realidade a
ser revelada pelo pesquisador. Opero, aqui, com a noção de que as pessoas se localizam numa socio-história e colaboram para a construção
de uma situação sobre a qual o investigador lançará um olhar que não se pretende único e definitivo. No caso aqui investigado, observarei, ao
mesmo tempo, como o professor Léo se articula em relação ao contexto pesquisado, a mim, aos personagens que aparecem em suas histórias
e a um grande discurso sobre ser membro da instituição em que trabalhamos. Como desdobramento da perspectiva de que a realidade é
socioconstruída via discurso, a noção de identidade social aqui enfocada é resultado de um processo de interação entre pessoas, instituições
e práticas e relaciona-se à noção de performance que emerge via discurso. Assim, existe aqui a percepção de que nos tornamos quem somos
nas histórias que contamos, o que nos conduz ao estudo das narrativas como importante instrumento para a compreensão de como nossas
identidades se organizam. Visto que as performances identitárias se revelam nas narrativas nas quais posicionamos a nós e aos outros, optei
por usar o construto de posicionamento (VAN LANGENHOVE e HARRÉ, 1999; BAMBERG, 1999, 2002 entre outros) como ferramenta teóricometodológica
para a análise da construção identitária de Léo. Segundo Van Langenhove e Harré, (1999, p.15), “dentro das conversas os atos
sociais e os ícones societais são gerados e reproduzidos”. Os dados dessa investigação foram gerados numa entrevista qualitativa com um
professor de matemática – a quem chamarei Léo - de uma escola federal de ensino situada na Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro, onde
trabalhamos juntos há, aproximadamente, oito anos. Na análise, os dados transcritos foram organizados em cinco temas que pontuaram o
discurso de Léo. A análise dos dados sugere o caráter de multiplicidade e hibridismo das identidades sociais, pois não foi possível distinguir
quem era o Léo aluno e quem era o Léo professor. O que observei foi a existência de uma ponte entre o passado e o presente pela qual Léo
transita. Fica assim evidenciado o caráter múltiplo das identidades sociais (MOITA LOPES, 2002) que se desdobram no discurso em função do
encontro social. Assim, Léo é simultaneamente aluno e professor, desempenhando mais evidentemente uma ou outra performance discursiva
em função de sua audiência e dos seus objetivos de se constituir dessa ou daquela maneira junto a sua audiência.