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Uma reconstrução histórico-filosófica do surgimento das geometrias ...

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Para Kant (1958), o conhecimento matemático seria um conhecimento a<br />

priori e sintético – a priori porque pode ser adquiri<strong>do</strong> independente da experiência e<br />

sintético porque fala sobre coisas <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. A esses conceitos de Kant está<br />

relacionada a ideia de intuição 7 , pois a possibilidade de um conhecimento a priori e<br />

sintético deve-se ao fato de nossa mente dispor de formas de espaço e tempo, as<br />

quais Kant chama de formas puras de intuição. De acor<strong>do</strong> com Carnap (1995), para<br />

Kant a intuição é impecável: se vemos uma verdade geométrica claramente em<br />

nossa mente, não apenas com os olhos, vemos com completa certeza.<br />

Com o desenvolvimento <strong>das</strong> <strong>geometrias</strong> não euclidianas, a caracterização da<br />

geometria como uma verdade baseada na intuição perde força. A verdade<br />

geométrica deixa de ser absoluta, haven<strong>do</strong>, então, a possibilidade de <strong>geometrias</strong><br />

alternativas à euclidiana.<br />

A concepção de uma nova geometria, aqui explicitada como geometria não<br />

euclidiana, está de acor<strong>do</strong> com a concepção de novo sistema de entidades,<br />

explicita<strong>do</strong> por Carnap (1988), necessitan<strong>do</strong> para isso novas maneiras de falar,<br />

sujeito a novas regras, ou seja, a construção de um sistema de referência linguístico<br />

para as novas entidades em questão. Portanto, aceitar ou não aceitar um sistema<br />

não significa aceitar um sistema referente à realidade <strong>das</strong> coisas. A escolha pela<br />

geometria proposta por Euclides, a escolha pela geometria não euclidiana ou a<br />

escolha por qualquer outra geometria deve satisfazer a esperança de melhores<br />

resulta<strong>do</strong>s empíricos ou lógicos. Poincaré (1984), neste mesmo senti<strong>do</strong>, afirma que<br />

a experiência não pode decidir entre uma geometria e outra e, ainda mais, que é<br />

impossível dizer que uma geometria é verdadeira e real. Para ele, os princípios da<br />

geometria não são fatos experimentais, pois se assim fosse, ela seria provisória e<br />

fácil de ser derrubada. Os axiomas da geometria – que, para Poincaré “não passam<br />

de definições disfarça<strong>das</strong>” (1984, p.54) – permanecem váli<strong>do</strong>s mesmo que to<strong>do</strong> e<br />

qualquer experimento indique que são meras aproximações, pois são justamente<br />

axiomas.<br />

<strong>Uma</strong> geometria baseada em axiomas não pode ser dita como sen<strong>do</strong> um<br />

sistema basea<strong>do</strong> em verdades, mas simplesmente em axiomas convenientes. Por<br />

esse motivo, Poincaré (1984, p.54) diz que os axiomas não são “nem juízos<br />

7 Do alemão, Anschauung.<br />

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