Ecologia da Floresta - PDBFF - Inpa
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maior parte do tempo) e empoleiradores (que permanecem<br />
a maior parte do tempo sobre vários tipos de subtrato).<br />
Machos de empoleiradores são comumente encontrados<br />
defendendo territórios próximos a corpos d’água nos quais<br />
as fêmeas estão forrageando (de Marco, 1998). Estudos<br />
recentes sugerem que os Odonata classificados como<br />
voadores são endotérmicos e podem aumentar sua<br />
temperatura corporal pela ativi<strong>da</strong>de do músculo <strong>da</strong> asa e<br />
resfriar pela troca de calor entre tórax e abdome e as bati<strong>da</strong>s<br />
de suas asas (de Marco, 1998).<br />
Espécies de pequeno porte são, geralmente, mais<br />
suscetíveis a altas temperaturas. Algumas espécies de<br />
pequeno porte não sobrevivem a temperaturas acima de 38°C<br />
(de Marco, 1998). De acordo com May (1998), os Odonata<br />
podem ser classificados em três grupos em relação a<br />
habili<strong>da</strong>de para sobreviver a variações na temperatura do<br />
ambiente: 1) conformadores; 2) heliotérmicos e 3)<br />
endotérmicos. Estes mecanismos termorregulatórios podem<br />
ser divididos em quatro categorias nos animais<br />
ectodérmicos: i) o controle de exposição ao sol por ajustes<br />
corporais; ii) seleção de microhabitats; iii) mu<strong>da</strong>nças no<br />
tempo de ativi<strong>da</strong>de, e iv) coloração corporal. May (1998)<br />
ain<strong>da</strong> sugere que espécies diurnas podem mostrar um modelo<br />
de ativi<strong>da</strong>de bimo<strong>da</strong>l para altas temperaturas no período<br />
próximo ao meio do dia.<br />
Pode-se observar a distribuição destes organismos no<br />
ambiente em relação ao gradiente de temperatura. Áreas<br />
abertas com pouca vegetação arbórea e arbustiva e áreas<br />
fecha<strong>da</strong>s com dossel denso, são ambientes em que<br />
percebemos o efeito <strong>da</strong> temperatura na ativi<strong>da</strong>de destes<br />
insetos.<br />
Neste trabalho, temos como objetivos, avaliar: (1) a<br />
distribuição dos morfotipos de libélulas em uma área aberta<br />
e outra fecha<strong>da</strong> em diferentes horários e temperaturas do<br />
período matinal; (2) se existe relação do tamanho de libélulas<br />
com a ativi<strong>da</strong>de dos indivíduos em áreas de vegetação aberta<br />
e áreas de vegetação mais densa, em um ambiente de várzea<br />
<strong>da</strong> Amazônia Central.<br />
Metodologia<br />
Realizamos este estudo em uma várzea na Ilha <strong>da</strong><br />
Marchantaria, município de Iranduba (03º15 S, 60º00W),<br />
localiza<strong>da</strong> no Rio Amazonas a 15 km de Manaus, Amazonas.<br />
A região caracteriza-se por um clima tropical úmido e<br />
precipitação média anual em torno de 1771 mm (de Souza<br />
et. al., 1999).<br />
Comparamos a abundância de libélulas entre uma área<br />
aberta, domina<strong>da</strong> pelo capim Echinocloa sp. e uma área<br />
fecha<strong>da</strong> domina<strong>da</strong> por espécies arbóreas. Coletamos<br />
diferentes morfotipos de libélulas que ocorriam nas duas<br />
áreas para separá-los em morfotipos, levando em<br />
consideração características morfológicas mais visíveis para<br />
ca<strong>da</strong> tipo, como coloração do tórax, coloração do abdome,<br />
manchas colori<strong>da</strong>s nas asas e espessura do abdome.<br />
46 Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002<br />
Percorremos, de10 em 10 minutos, um transecto de 30<br />
metros em uma trilha que cruzava as duas áreas em estudo.<br />
A temperatura do ambiente foi medi<strong>da</strong> a ca<strong>da</strong> 30 min. em<br />
ambas as áreas.<br />
Foram coleta<strong>da</strong>s três espécimes de ca<strong>da</strong> morfoespécie e<br />
medi<strong>da</strong>s a espessura do tórax e comprimento <strong>da</strong> asa anterior<br />
e do abdomen. A partir destes <strong>da</strong>dos, foram realiza<strong>da</strong>s<br />
análises de ANCOVA para a relação entre o número de<br />
indivíduos e a área de coleta e o período de observação,<br />
Regressão Linear e o teste não-paramétrico de Kruskal-<br />
Wallis para a diferença de abundância de indivíduos nas<br />
duas áreas estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s. Para analisar os fatores que<br />
influenciaram no número de indivíduos por morfotipo,<br />
devido a ampla variância dentro de ca<strong>da</strong> área, classificamos<br />
os <strong>da</strong>dos.<br />
Resultados<br />
Apenas indivíduos <strong>da</strong> família Libelluli<strong>da</strong>e, pertencentes<br />
a 7 morfotipos diferentes, foram encontrados. Estes<br />
morfotipos compreendiam 4 espécies, sendo elas:<br />
Erythrodiplax lativittata, Erythemis vesiculosa, Miathyria<br />
marcella, Erythrodiplax cf. famula. Um dos morfotipos<br />
coletado não foi identificado, pois todos os indivíduos eram<br />
fêmeas.<br />
Dois morfótipos, ambos pertencentes a espécie Erythemis<br />
vesiculosa, ocorreram somente na área fecha<strong>da</strong>. O morfotipo<br />
maior, pertencente a espécie Erythrodiplax cf. famula, foi<br />
encontrado somente na área aberta. Observamos, também,<br />
que alguns fatores ambientais, tais como a temperatura do<br />
ar e o comportamento, podem estar determinando a<br />
distribuição <strong>da</strong>s espécies.<br />
A variação do tamanho para o corpo dos morfotipos<br />
coletados não foi diferente entre as duas áreas analisa<strong>da</strong>s e<br />
em relação as horas observa<strong>da</strong>s no período <strong>da</strong> manhã (Figura<br />
1). Os indivíduos de tamanhos variados foram distribuídos<br />
regularmente nas duas áreas e no período de observação.<br />
A abundância de indivíduos na área aberta foi maior que<br />
na área fecha<strong>da</strong> (K = 36,0; P = 0,004; g.l. = 1; Figura 2).<br />
Em relação ao período <strong>da</strong> manhã em que havia ativi<strong>da</strong>de de<br />
Odonata, uma relação significativa com a abundância de<br />
indivóduos também foi constata<strong>da</strong>. Na área aberta foram<br />
encontrados mais indivíduos que na área fecha<strong>da</strong><br />
(F [1,9] =44,124; P=0,001; R 2 =0,845). As abundâncias nas duas<br />
áreas diminui em relação ao tempo gra<strong>da</strong>tivamente (F [1,9] =<br />
4,891; P = 0,054; R 2 = 0,0845; Figura 3).<br />
A área aberta apresentou uma variação de temperatura<br />
de 30 a 34 ºC enquanto na área fecha<strong>da</strong> a variação foi de 28<br />
a 29,5ºC. Sendo assim, a temperatura do ambiente exerceu<br />
influência significativa na abundância dos indivíduos nas<br />
áreas estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s (F [8,26] =2,468; P=0,039; R 2 =0,432; Figura<br />
4). Em períodos de temperatura mais baixa a abundância<br />
de indivíduos na área fecha<strong>da</strong> era maior e em períodos de<br />
temperaturas maiores houve um aumento na abundância de<br />
indivíduos na área aberta.