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Ecologia da Floresta - PDBFF - Inpa

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<strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong><br />

C u r s o d e C a m p o - 2 0 0 2<br />

S e g u n d a E d i ç ã o<br />

Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos <strong>Floresta</strong>is - <strong>PDBFF</strong><br />

Instituto Nacional de Pesquisas <strong>da</strong> Amazônia - INPA<br />

Jansen Zuanon<br />

Eduardo Venticinque<br />

Novembro - 2002<br />

Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002 1


Alunos<br />

Ana Maria Ana Paula André Carina<br />

Carolina Eduardo “Guma” Eduardo Flaviana<br />

Flávio Genimar George Josué<br />

Luiz Patricia Paula Sylvia<br />

2 Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002


Vanina Yumi<br />

Coordenadores<br />

Daniela<br />

Monitores<br />

Jansen Dadão Ocirio “Juruna” Marcelo “Pinguela”<br />

Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002 3


Avaliação <strong>da</strong> especifici<strong>da</strong>de entre o galhador e a planta hospedeira ..................................................................... 6<br />

Relação alométrica de agregados de Leucage sp. (Tetragnathi<strong>da</strong>e) com atributos ambientais e espaciais.................... 9<br />

Relações Avaliação entre <strong>da</strong> especifici<strong>da</strong>de o solo e a profundi<strong>da</strong>de entre o galhador <strong>da</strong> liteira e a planta em uma hospedeira área de <strong>Floresta</strong> na Reserva Tropical Adolpho Úmi<strong>da</strong>, Ducke, Manaus, Amazônia AM ................... Central 612<br />

Uso Relação de poças alométrica permanentes de agregados e temporárias de Leucage por Rivulus sp. (Tetragnathi<strong>da</strong>e) compressus (Osteichthyes; com atributos Cyprinodontiformes) ambientais e espaciais ..................... 9 14<br />

Estrutura Relações entre <strong>da</strong> vegetação o solo e de a profundi<strong>da</strong>de sub-bosque em <strong>da</strong> uma liteira área em de uma extração área de seletiva <strong>Floresta</strong> de Tropical madeira Úmi<strong>da</strong>, na Amazônia Manaus, Central AM................ 12 17<br />

Efeito Uso de <strong>da</strong> poças extração permanentes seletiva e de temporárias madeira sobre por a Rivulus estrutura compressus <strong>da</strong> vegetação (Osteichthyes; em uma área Cyprinodontiformes) <strong>da</strong> Amazônia Central na ................. Reserva 19<br />

Comparação <strong>Floresta</strong>l <strong>da</strong> A. biomassa Ducke, Amazônia e abundância Central de lianas 14 entre uma área de floresta preserva<strong>da</strong> e uma com ......................... 22<br />

Herbívoros Estrutura <strong>da</strong> selecionam vegetação folhas de sub-bosque compostas? em ...................................................................................................... uma área de extração seletiva de madeira na Amazônia Central 17 24<br />

Influência Efeito <strong>da</strong> extração <strong>da</strong> exploração seletiva madeireira de madeira na sobre diversi<strong>da</strong>de a estrutura e abundância <strong>da</strong> vegetação de aranhas em uma ....................................................... área <strong>da</strong> Amazônia Central 19 26<br />

Comparação Efeito <strong>da</strong> extração <strong>da</strong> biomassa seletiva e de abundância madeira na de comuni<strong>da</strong>de lianas entre de uma formigas área de em floresta diferentes preserva<strong>da</strong> escalas e uma ..................................... com exploração seletiva 28<br />

Estrutura de madeira <strong>da</strong>s Populações na Amazônia de Três Espécies 22 de Palmeiras em duas áreas <strong>Floresta</strong>is na Amazônia Central ..................... 31<br />

Densi<strong>da</strong>de Herbívoros de selecionam plântulas em folhas áreas compostas? preserva<strong>da</strong>s 24 e sob extração seletiva de madeira na Amazônia Central ..................... 33<br />

Fatores Influência ambientais <strong>da</strong> exploração associados madeireira à localização na diversi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s tocas e abundância de bodós Liposarcus de aranhas par<strong>da</strong>lis 26 (Loricarii<strong>da</strong>e) no ..................... 35<br />

Distribuição Efeito <strong>da</strong> extração vertical seletiva de Spongilla de madeira sp. (Spongilli<strong>da</strong>e, na comuni<strong>da</strong>de Porifera) de formigas em área em de diferentes várzea na escalas Ilha <strong>da</strong> Marchantaria, 28 ................ 37<br />

Fauna Estrutura de Invertebrados <strong>da</strong>s Populações nas de raízes Três Espécies de Eichhornia de Palmeiras crassipes em (Pontederiaceae) duas áreas <strong>Floresta</strong>is na várzea na Amazônia no período Central de seca ............... 31 39<br />

Utilização Densi<strong>da</strong>de de espécies plântulas arbóreas em áreas por preserva<strong>da</strong>s esponjas (Porifera, e sob extração Spongilli<strong>da</strong>e) seletiva na de madeira várzea: distribuição na Amazônia horizontal Central e ................ 33 41<br />

Influência Fatores ambientais <strong>da</strong> topografia associados e <strong>da</strong> luminosi<strong>da</strong>de à localização na <strong>da</strong>s regeneração tocas de bodós <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de Liposarcus vegetal par<strong>da</strong>lis na (Loricarii<strong>da</strong>e) várzea, Ilha <strong>da</strong>..................... no lago Camaleão, 43<br />

Distribuição ilha <strong>da</strong> Marchantaria de morfotipos 35 de Libelluli<strong>da</strong>e (Odonata: Anisoptera) em uma área aberta e outra fecha<strong>da</strong> .................... 45<br />

Fauna Distribuição de invertebrados vertical de associa<strong>da</strong> Spongilla a sp. bulbos (Spongilli<strong>da</strong>e, de Eichhornia Porifera) crassipes em área (Mart.) de várzea Solms. na (Pontederiaceae) Ilha <strong>da</strong> Marchantaria, em................... Amazônia 48<br />

Ictiofauna Central associa<strong>da</strong> 37 a capins flutuantes no lago do Camaleão, Ilha <strong>da</strong> Marchantaria, AM ...................................... 51<br />

Distribuição Fauna de Invertebrados de Caiman crocodilus nas raízes (Alligatori<strong>da</strong>e) de Eichhornia crassipes no Lago Camaleão, (Pontederiaceae) Ilha <strong>da</strong> na Marchantaria, várzea no período Amazonas, de seca Brasil. no .......... Lago 54<br />

Distribuição Camaleão, de Ilha freqüência <strong>da</strong> Marchantaria, de habitats AM, por aves Brasil. aquáticas 39 piscívoras do Lago Camaleão, Ilha <strong>da</strong> Marchantaria, AM .... 55<br />

Influência Utilização <strong>da</strong> de luminosi<strong>da</strong>de espécies arbóreas no crescimento por esponjas e investimento (Porifera, Spongilli<strong>da</strong>e) reprodutivo na de várzea: Psychotria distribuição sp. (Rubiaceae) horizontal ..................... e proximi<strong>da</strong>de 58<br />

Orientação ao rio Solimões de fixação na <strong>da</strong>s Ilha esponjas <strong>da</strong> Marchantaria, Spongilla sp. AM. (Spongilli<strong>da</strong>e, 41 Porifera) relaciona<strong>da</strong> à direção do fluxo .................. 59<br />

Efeito Influência de bor<strong>da</strong> <strong>da</strong> topografia sobre a composição e <strong>da</strong> luminosi<strong>da</strong>de e abundância na regeneração de galhas <strong>da</strong> em comuni<strong>da</strong>de Symmeria paniculata vegetal na (Polygonaceae) várzea, Ilha <strong>da</strong> na Marchantaria, ................. 61<br />

Territoriali<strong>da</strong>d AM 43e<br />

interacciones entre hembra-macho en Diastatops cf. emilia (Odonata, Libelluli<strong>da</strong>e) ........................ 63<br />

Distribuição de Spongilla morfotipos sp. de (Spongilli<strong>da</strong>e, Libelluli<strong>da</strong>e (Odonata: Porifera) em Anisoptera) gradiente em de inun<strong>da</strong>ção uma área aberta em uma e outra mata fecha<strong>da</strong> de Igapó <strong>da</strong> ................ Ilha <strong>da</strong> 64<br />

Riqueza Marchantaria, e abundância Amazonas, <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de Brasil de plantas 45 em três ambientes de igapó, no arquipélago de ........................... 66<br />

Efeito Fauna dos de invertebrados pulsos de inun<strong>da</strong>ção associa<strong>da</strong> na a mortali<strong>da</strong>de bulbos de Eichhornia de árvores crassipes em um igapó (Mart.) no Arquipélago Solms. (Pontederiaceae) de ................................... em uma área de 69<br />

Efeito várzea <strong>da</strong> coloração na Amazônia no comportamento Central 48 de Diastatops cf. emilia (Odonata:Libelluli<strong>da</strong>e) no..................................... 71<br />

Distribuição Ictiofauna associa<strong>da</strong> de plântulas a capins em relação flutuantes à planta-mãe no lago do na Camaleão, espécie Astrocaryum Ilha <strong>da</strong> Marchantaria, jauari (Arecaceae) AM 51 ............................... 73<br />

Algunos Distribuição factores de Caiman que influyen crocodilus en el (Alligatori<strong>da</strong>e) crecimiento apical no Lago de plantas Camaleão, jovenes Ilha de <strong>da</strong> Tovomita Marchantaria, sp.(Clusiacea) Amazonas, .................... Brasil. 54 75<br />

Abrigos Distribuição de formigas de freqüência e proteção de habitats contra herbivoria por aves aquáticas em Miconia piscívoras phanerostila do Lago (Melastomataceae) Camaleão, Ilha <strong>da</strong> ............................... Marchantaria, AM 55 76<br />

Influência <strong>da</strong> luminosi<strong>da</strong>de luz no grau de no herbivoria crescimento em Miconia e investimento cf. phanerostila reprodutivo (Melastomataceae) de Psychotria sp. ....................................... (Rubiaceae) no sub-bosque de 78<br />

A i<strong>da</strong>de várzea, foliar rio influencia Solimões a herbivoria 58 em Vismia japurensis (Clusiaceae)? ............................................................ 81<br />

Eficiência Orientação <strong>da</strong> de secreção fixação repugnatória <strong>da</strong>s esponjas de Spongilla Manaosbia sp. (Spongilli<strong>da</strong>e, scopulata (Opiliones) Porifera) contra relaciona<strong>da</strong> pre<strong>da</strong>dores à direção generalistas do fluxo ................... do Rio 83<br />

Aceitação Solimões de indivíduos na Ilha <strong>da</strong> Marchantaria, alados de Pheidole Amazônia minutula Central (Formici<strong>da</strong>e) 59 por outras colônias em função <strong>da</strong> ..................... 86<br />

Efeito de bor<strong>da</strong> sobre a herpetofauna composição e de abundância serapilheira de em galhas uma em floresta Symmeria de terra paniculata firme na (Polygonaceae) Amazônia Central na ................ margem do 88<br />

Diversi<strong>da</strong>de lago do de Prato, galhas arquipélago em ambientes de Anavilhanas, de bor<strong>da</strong> e Amazônia de interior Central <strong>da</strong> mata .................................................................. 61<br />

90<br />

Estratégia Territoriali<strong>da</strong>d foliar e e interacciones herbivoria em entre matas hembra-macho de baixio e platô en Diastatops na Amazônia cf. emilia Central (Odonata, ..................................................... Libelluli<strong>da</strong>e) 63 92<br />

Distribuição Efeito <strong>da</strong>s clareiras de Spongilla na de remoção sp. (Spongilli<strong>da</strong>e, de frutos de Porifera) palmeira em (Astrocaryum gradiente de aculeatum) inun<strong>da</strong>ção em uma floresta mata de de terra Igapó, ................... Arquipélago95<br />

Abrigos de Anavilhanas, de formigas e Amazonas. proteção contra 64herbivoria<br />

em Miconia cf. phanerostila (Melastomataceae) .......................... 98<br />

Riqueza Frecuencia e abundância de vocalizaciones <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de de guariba de Alouatta plantas em seniculus três ambientes en una Selva de igapó, de tierra-firme, no arquipélago Reserva de Anavilhanas, ......................... AM 103 66<br />

Efeito Comportamento dos pulsos territorial de inun<strong>da</strong>ção de Chalcopteryx na mortali<strong>da</strong>de scintilans de árvores (Odonata:Polythori<strong>da</strong>e) em um igapó no Arquipélago .................................................... de Anavilhanas, AM 106 69<br />

Efeito Evidências <strong>da</strong> coloração usa<strong>da</strong>s por no cutias comportamento (Dasyprocta de leporina Diastatops (Husson, cf. emilia 1978), (Odonata:Libelluli<strong>da</strong>e) Rodentia, Mammalia) no na Arquipelago localização ................ de 109<br />

Efeito Anavilhanas, <strong>da</strong> coloração Rio e do Negro, odor Amazonas na pre<strong>da</strong>ção de 71 frutos artificiais em uma área de terra firme na Amazônia Central ..... 111<br />

Distribuição Viver ou morrer: de plântulas apenas uma em questão relação à de planta-mãe estratégia?...................................................................................... na espécie Astrocaryum jauari (Arecaceae) em uma área de igapó 115 do<br />

Relações Rio Negro entre morfologia 73 externa e ectoparasitismo em morcegos (Chiroptera, Mammalia) na Amazônia Central ..... 119<br />

Algunos Caracterização factores hierarquica que influyen <strong>da</strong> bacia en el de crecimiento drenagem apical na Reserva de plantas Km 41, jovenes Manaus de AM Tovomita ............................................... sp.(Clusiacea) en un area 124<br />

Fatores someti<strong>da</strong> de mortali<strong>da</strong>de a inun<strong>da</strong>cion de galhas de aguas em negras, ambientes Arquipelágo de bor<strong>da</strong> Anavihanas, e de interior <strong>da</strong> AMmata ................................................. 75<br />

127<br />

Abrigos Caracterização de formigas de ninhos e proteção e estágios contra de herbivoria desenvolvimento em Miconia de vespas phanerostila (Vespi<strong>da</strong>e: (Melastomataceae) Polybiinae) de uma área 76 ................. 131<br />

Influência Grupos funcionais <strong>da</strong> luz no de grau artrópodes de herbivoria de serapilheira em Miconia diferem cf. phanerostila na campinarana (Melastomataceae) e no platô?......................................... 78<br />

135<br />

A Influência i<strong>da</strong>de foliar de Parâmetros influencia a Físicos herbivoria na Riqueza em Vismia de Peixes japurensis em Igarapés (Clusiaceae)? de Terra Firme 81 na Amazônia Central ................. 138<br />

Eficiência História Natural <strong>da</strong> secreção de Heteroprhynus repugnatória longicornis de Manaosbia (Arachni<strong>da</strong>, scopulata Amblypygi) (Opiliones) ............................................................. contra pre<strong>da</strong>dores generalistas 83 141<br />

Aceitação Efeito <strong>da</strong> distribuição de indivíduos de aves alados na de pre<strong>da</strong>ção Pheidole de minutula lagartas (Formici<strong>da</strong>e) artificiais ..................................................................... por outras colônias em função <strong>da</strong> distancia <strong>da</strong> 143<br />

Defensa colônia biológica de origem. en la planta 86 mirmecófita Maieta guianensis: respuesta inmediata al <strong>da</strong>ño foliar, y .................... 146<br />

Efeito Comportamento de bor<strong>da</strong> sobre de Gonatodes a herpetofauna humeralis de serapilheira (Sauria, Gekkoni<strong>da</strong>e) em uma floresta em área de perturba<strong>da</strong> terra firme ............................................. na Amazônia Central 88 151<br />

Diversi<strong>da</strong>de Riqueza de insetos de galhas galhadores em ambientes e de suas de bor<strong>da</strong> plantas e de hospedeiras interior <strong>da</strong> em mata clareiras 90e<br />

áreas de floresta primária ................... 156<br />

Estratégia Distribución foliar vertical e herbivoria del área em foliar matas de tres de baixio especies e platô de Philodendron na Amazônia (Araceae): Central una 92vision<br />

integra<strong>da</strong> .................... 159<br />

4 Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002<br />

Índice


Efeito <strong>da</strong>s clareiras na de remoção de frutos de palmeira (Astrocaryum aculeatum) em floresta de terra firme na<br />

Amazônia central 95<br />

Abrigos de formigas e proteção contra herbivoria em Miconia cf. phanerostila (Melastomataceae) 98<br />

Frecuencia de vocalizaciones de guariba Alouatta seniculus en una Selva de tierra-firme, Reserva Km 41, Amazonía<br />

Central, A M, Brasil. 103<br />

Comportamento territorial de Chalcopteryx scintilans (Odonata:Polythori<strong>da</strong>e) 106<br />

Evidências usa<strong>da</strong>s por cutias (Dasyprocta leporina (Husson, 1978), Rodentia, Mammalia) na localização de frutos de<br />

tucumã (Astrocaryum aculeatum) em uma floresta de terra firme <strong>da</strong> Amazônia Central, AM, Brasil 109<br />

Efeito <strong>da</strong> coloração e do odor na pre<strong>da</strong>ção de frutos artificiais em uma área de terra firme na Amazônia<br />

Central 111<br />

Viver ou morrer: apenas uma questão de estratégia? 115<br />

Relações entre morfologia externa e ectoparasitismo em morcegos (Chiroptera, Mammalia) na Amazônia<br />

Central 119<br />

Caracterização hierarquica <strong>da</strong> bacia de drenagem na Reserva Km 41, Manaus AM 124<br />

Fatores de mortali<strong>da</strong>de de galhas em ambientes de bor<strong>da</strong> e de interior <strong>da</strong> mata 127<br />

Caracterização de ninhos e estágios de desenvolvimento de vespas (Vespi<strong>da</strong>e: Polybiinae) de uma área de terra firme,<br />

Amazônia Central 131<br />

Grupos funcionais de artrópodes de serapilheira diferem na campinarana e no platô? 135<br />

Influência de Parâmetros Físicos na Riqueza de Peixes em Igarapés de Terra Firme na Amazônia Central 138<br />

História Natural de Heteroprhynus longicornis (Arachni<strong>da</strong>, Amblypygi) 141<br />

Efeito <strong>da</strong> distribuição de aves na pre<strong>da</strong>ção de lagartas artificiais 143<br />

Defensa biológica en la planta mirmecófita Maieta guianensis: respuesta inmediata al <strong>da</strong>ño foliar, y respuesta induci<strong>da</strong><br />

a corto y largo plazo por parte de la hormiga Pheidole minutula 146<br />

Comportamento de Gonatodes humeralis (Sauria, Gekkoni<strong>da</strong>e) em área perturba<strong>da</strong> 151<br />

Riqueza de insetos galhadores e de suas plantas hospedeiras em clareiras e áreas de floresta primária <strong>da</strong> Amazônia<br />

Central 156<br />

Distribución vertical del área foliar de tres especies de Philodendron (Araceae): una vision integra<strong>da</strong> a la comuni<strong>da</strong>d<br />

de araceas en un bosque de tierra firme en la Amazonia Brasilera 159<br />

Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002 5


Avaliação <strong>da</strong> especifici<strong>da</strong>de entre o galhador e a planta<br />

hospedeira na Reserva Adolpho Ducke, Amazônia<br />

Central<br />

Yumi Oki, Carolina Laura Morales, Luiz Henrique Claro Junior, Sylvia Miscow Mendel, André Faria Mendonça<br />

Introdução<br />

As galhas são modificações anatômicas <strong>da</strong> planta<br />

causa<strong>da</strong>s por diversos organismos como fungos e insetos,<br />

entre outros (Ribeiro et al., 1999). Estas estruturas evoluíram<br />

como a<strong>da</strong>ptações às pressões seletivas em ambientes<br />

adversos, permitindo a colonização bem sucedi<strong>da</strong> dos<br />

galhadores em seus hospedeiros (Fernandes, 1987). A<br />

interação galha-hospedeiro geralmente apresenta-se de<br />

forma específica, o que pode possibilitar a identificação <strong>da</strong><br />

planta a partir <strong>da</strong> morfologia <strong>da</strong> galha produzi<strong>da</strong> (Floate et<br />

al., 1996; Ribeiro et al.,1999).<br />

A presença de uma galha de morfologia conheci<strong>da</strong> em<br />

espécies vegetais aparentemente distintas, pode indicar que<br />

estas são a mesma espécie (Ribeiro et al., 1999). No entanto,<br />

a identi<strong>da</strong>de e a especifici<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s galhas em relação às<br />

plantas hospedeiras ain<strong>da</strong> são pouco conheci<strong>da</strong>s em<br />

ambientes neotropicais.<br />

O trabalho foi de caráter exploratório com o intuito de<br />

avaliar se havia especifici<strong>da</strong>de do galhador em relação à<br />

espécie vegetal em uma Reserva <strong>Floresta</strong>l <strong>da</strong> Amazônia<br />

Central.<br />

Métodos<br />

Realizamos este trabalho em várias áreas <strong>da</strong> Reserva<br />

Adolpho Ducke (INPA), Amazônia Central. A Reserva<br />

constitui-se de uma área de 100 km 2 de mata primária,<br />

situa<strong>da</strong> a 26 km <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de de Manaus (02 o 57’S, 59 o 58’W),<br />

composta principalmente por floresta de terra firme. A área<br />

apresenta um relevo ondulado, com variação de 80 m de<br />

altitude, temperatura média anual de 26,7°C e precipitação<br />

média anual de 2.186 mm, com início de chuvas em<br />

novembro (RADAMBRASIL 1978; Ribeiro et al., 1999).<br />

No período de 2 horas e meia, coletamos um ramo de<br />

ca<strong>da</strong> indivíduo de to<strong>da</strong>s as plantas avistado com galhas e<br />

um outro ramo sem galha do mesmo. Uma parte <strong>da</strong> equipe<br />

identificou as espécies vegetais e outra categorizou as galhas,<br />

para que a análise não fosse influencia<strong>da</strong> pelo conhecimento<br />

prévio do observador em relação à morfologia <strong>da</strong> galha.<br />

As plantas foram identifica<strong>da</strong>s segundo Ribeiro et al.<br />

(1999). As galhas foram classifica<strong>da</strong>s em morfo-famílias<br />

de acordo com os seguintes critérios morfológicos:<br />

localização quanto à lâmina foliar (a<strong>da</strong>xial e/ou abaxial),<br />

forma, coloração, pilosi<strong>da</strong>de e tamanho.<br />

A partir destes <strong>da</strong>dos relacionamos as subclasses de planta<br />

com as morfo-espécies de galhas encontra<strong>da</strong>s, estimando a<br />

6 Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002<br />

porcentagem de famílias de galhas específicas para ca<strong>da</strong><br />

subclasse.<br />

Resultados<br />

Coletamos um total de 90 amostras de plantas<br />

pertencentes a 26 famílias. As galhas foram classifica<strong>da</strong>s<br />

em 33 morfo-famílias e 103 morfo-espécies (Apêndice 1).<br />

A proporção de galhas específicas variou entre as subclasses<br />

de plantas. A subclasse Rosi<strong>da</strong>e apresentou a maior<br />

porcentagem de famílias específicas de galhas, enquanto<br />

que Monocotyedonae, Asteri<strong>da</strong>e, e Caryophylli<strong>da</strong>e não<br />

apresentaram especifici<strong>da</strong>de (Tabela 1). No entanto, os<br />

indivíduos amostrados que pertenciam à mesma espécie<br />

vegetal apresentaram a mesma morfo-espécie ou morfogênero<br />

de galha (Apêndice 1).<br />

Tabela 1 - Número e porcentagem de morfo-famílias de<br />

galhas específicas a ca<strong>da</strong> subclasse de planta.<br />

Subclasse Galhas específicas Total de galhas Específicas/Total (%)<br />

Magnolii<strong>da</strong>e 4 17 23,52<br />

Hamameli<strong>da</strong>e 1 4 25,00<br />

Caryophylli<strong>da</strong>e 0 1 0<br />

Dillenii<strong>da</strong>e 2 9 22,22<br />

Rosi<strong>da</strong>e 24 50 48,00<br />

Asteri<strong>da</strong>e 0 7 0<br />

Monocotyedonae 0 1 0<br />

Discussão<br />

Os resultados obtidos indicam que a especifici<strong>da</strong>de entre<br />

morfologia externa <strong>da</strong>s galhas e as plantas hospedeiras<br />

não pode ser aplica<strong>da</strong> em to<strong>da</strong>s as relações desse sistema.<br />

O maior grau de especifici<strong>da</strong>de foi encontrado em<br />

Rosi<strong>da</strong>e, possivelmente por apresentar mais famílias de<br />

plantas com galhas. Algumas espécies como Clidemia<br />

bulbosa (Melastomataceae), Clidema novemnervia<br />

(Melastomataceae), Miconia pyrifolia (Melastomataceae),<br />

Protium strumosum (Burseraceae) e Inga paraensis<br />

(Mimosoideae) apresentam uma especifici<strong>da</strong>de com uma<br />

determina<strong>da</strong> morfo-espécie de galha. Nesses casos, a<br />

morfologia foi bem evidente e diferencia<strong>da</strong> em relação aos<br />

outros grupos de galhas coleta<strong>da</strong>s. Segundo Ribeiro et al.<br />

(1999) na Reserva Adolpho Ducke, algumas morfo-espécies<br />

de galhas podem ser utiliza<strong>da</strong>s para identificar uma espécie<br />

vegetal.<br />

A maioria <strong>da</strong>s morfo-famílias de galhas apresentou pouca<br />

ou nenhuma especifici<strong>da</strong>de com as sub-classes de famílias<br />

de plantas, evidenciando que a utilização <strong>da</strong> morfologia<br />

externa como único parâmetro para determinar a


especifici<strong>da</strong>de <strong>da</strong> galha com a planta demonstrou-se<br />

ineficiente. Outros parâmetros como morfologia interna <strong>da</strong><br />

galha, a identificação do agente indutor, entre outros,<br />

poderiam ser acrescentados para melhor identificação.<br />

A falta de especifici<strong>da</strong>de encontra<strong>da</strong> em alguns grupos<br />

do sistema galha-planta poderia ser conseqüência de uma<br />

resposta morfológica similar em diferentes grupos à<br />

diferentes agentes galhadores.<br />

Os nossos resultados não permitem afirmações mais<br />

seguras, pois o trabalho apresentou algumas limitações: a<br />

sub-amostragem (falta de réplicas) e problemas nas<br />

identificações <strong>da</strong>s espécies vegetais, erro na categorização<br />

dos grupos de galhas e a não identificação do agente<br />

galhador, podem ter influenciado nos nossos resultados.<br />

A partir dos nossos resultados, podemos concluir que a<br />

especifici<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s galhas com as plantas não ocorre de<br />

maneira geral, embora existem algumas sub-classes de<br />

plantas que apresentam especifici<strong>da</strong>de com algumas<br />

famílias.<br />

Para uma melhor investigação dos nossos <strong>da</strong>dos,<br />

recomen<strong>da</strong>mos para os próximos estudos uma maior<br />

amostragem de coletas em determina<strong>da</strong>s famílias e a<br />

utilização de mais parâmetros para as galhas, como por<br />

exemplo, a identificação do agente indutor.<br />

Esperamos que o trabalho possa instigar estudos mais<br />

profundos sobre a correlação <strong>da</strong> galha com as plantas<br />

hospedeiras, contribuindo nas discussões sobre as relações<br />

entre os componentes desse sistema galha-planta.<br />

Agradecimentos<br />

Agradecemos ao Michael J. G. Hopkins (Mike) por sua<br />

orientação durante esse projeto, ao Ociro Pereira (Juruna) e<br />

ao Marcelo Moreira (Pinguela) pela aju<strong>da</strong> no campo e na<br />

identificação <strong>da</strong>s espécies vegetais.<br />

Referências bibliográficas<br />

Fernandes, G. W. 1987. Gall forming insects: their<br />

economic importance and control. Revista Brasileira<br />

de Entomologia 31: 379-398.<br />

Floate, K. D., G. W. Fernandes, J. A. Nilsson. 1996.<br />

Distinguinshing intrapopoulacional categories of plants<br />

by their insect faunas: galls on rabbitbrush. Oecologia<br />

105: 221-229.<br />

RADAMBRASIL.1978. Levantamento de recursos<br />

naturais. Vol 1-18. Ministério de Minas e Energias.<br />

Departamento Nacional de Produção Mineral, Rio de<br />

Janeiro, Brasil.<br />

Ribeiro, J. E. L., M. J. G. Hopkins, A.Vincentini, C.<br />

A.Sothers, M.A. <strong>da</strong> S. Costa, J. M. de Brito, M. A.D.<br />

de Souza, L. H. P. Martins, L. G. Lohmann, P. A. C. L.<br />

Assunção, E. <strong>da</strong> C. Pereira, C. F. <strong>da</strong> Silva, M. R.<br />

Mesquita, L. C. Procópio. 1999. Flora <strong>da</strong> Reserva<br />

Ducke. Guia de identificação <strong>da</strong>s plantas vasculares de<br />

uma floresta de terra-firme na Amazônia Central.<br />

INPA, Manaus, Brasil.<br />

Grupo 1 - Projeto de Equipe 1<br />

Orientador do projeto: Michael J. G. Hopkins<br />

Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002 7


Apêndice 1. Correlação <strong>da</strong>s morfo-famílias de galhas com as subclasses de plantas hospedeiras encontra<strong>da</strong>s na Reserva<br />

Adopho Ducke, Amazônia Central, Brasil. O primeiro número <strong>da</strong> célula indica o gênero e o segundo número indica a<br />

morfo-espécie. As cores amarelas indicam famílias de galhas que se encontram em mais de uma subclasse de planta. As<br />

cores em vermelho indicam a especifici<strong>da</strong>de <strong>da</strong> família de galhas com a subclasse de planta hospedeira.<br />

Subclasse Família Gênero Espécie fam<br />

1<br />

8 Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002<br />

fam<br />

2<br />

Famílias de Galhas<br />

Fam fam fam fam fam fam fam fam fam fam fam fam fam fam fam fam fam fam fam fam fam2 fam fam fam<br />

4 7 12 13 15 19 26 29 32 5 16 23 20 24 25 33 31 18 14 30 7 10 26 21<br />

Fam fam fam fam Fam22<br />

17 9 3 6<br />

Magnolii<strong>da</strong>e Annonaceae 5-1<br />

Magnolii<strong>da</strong>e Lauraceae Aniba sp. 2-1<br />

Magnolii<strong>da</strong>e Lauraceae Endlicheria macrophylla 1-3<br />

Magnolii<strong>da</strong>e Lauraceae Mezilaurus duckei 2-1<br />

Magnolii<strong>da</strong>e Lauraceae Ocotea boisseriana 4-1<br />

Magnolii<strong>da</strong>e Lauraceae Ocotea sp. 1 1-1<br />

Magnolii<strong>da</strong>e Lauraceae Ocotea sp. 2 1-1<br />

Magnolii<strong>da</strong>e Lauraceae Ocotea sp. 3 1-1<br />

Magnolii<strong>da</strong>e Lauraceae Paraia bracteata 4-1<br />

Magnolii<strong>da</strong>e Lauraceae Paraia bracteata 1-1<br />

Magnolii<strong>da</strong>e Simaroubaceae Simaba polyphylla 3-1<br />

Magnolii<strong>da</strong>e Simaroubaceae Siparuna guianensis 1-1<br />

Magnolii<strong>da</strong>e Siparunaceae Siparuna cuspi<strong>da</strong>ta 1-1<br />

Magnolii<strong>da</strong>e Siparunaceae Siparuna cuspi<strong>da</strong>ta 2-1<br />

Magnolii<strong>da</strong>e Siparunaceae Siparuna guianensis 1-1<br />

Magnolii<strong>da</strong>e Siparunaceae 1-1<br />

Magnolii<strong>da</strong>e Siparunaceae 3-1<br />

Hamameli<strong>da</strong>e Cecropiaceae Pourouma minor 1-1<br />

Hamameli<strong>da</strong>e Moraceae 3-1<br />

Hamameli<strong>da</strong>e Moraceae 2-2<br />

Hamameli<strong>da</strong>e Moraceae? 3-2<br />

Caryophylli<strong>da</strong>e Polygonaceae Coccoloba confusa 1-2<br />

Dillenii<strong>da</strong>e Dilleniaceae 2-1<br />

Dillenii<strong>da</strong>e Dilleniaceae 3-1<br />

Dillenii<strong>da</strong>e Dilleniaceae 2-3<br />

Dillenii<strong>da</strong>e Flacourtiaceae 2-2<br />

Dillenii<strong>da</strong>e Flacourtiaceae? 1-1<br />

Dillenii<strong>da</strong>e Myrsinaceae Cibianthus sp. 3-2<br />

Dillenii<strong>da</strong>e Tiliaceae Lueheopsis rosea 2-4<br />

Dillenii<strong>da</strong>e Violaceae 1-1<br />

Dillenii<strong>da</strong>e Violaceae? 1-5<br />

Rosi<strong>da</strong>e Burseraceae Crepidospermum rhoifolium 3-1<br />

Rosi<strong>da</strong>e Burseraceae Crepidospermum rhoifolium 1-6<br />

Rosi<strong>da</strong>e Burseraceae Protium arachouchini 1-1<br />

Rosi<strong>da</strong>e Burseraceae Protium divaricatum 1-1<br />

Rosi<strong>da</strong>e Burseraceae Protium giganteum 2-6<br />

Rosi<strong>da</strong>e Burseraceae Protium Hebetatum 2-2<br />

Rosi<strong>da</strong>e Burseraceae Protium Hebetatum 1-1<br />

Rosi<strong>da</strong>e Burseraceae Protium Hebetatum 1-3<br />

Rosi<strong>da</strong>e Burseraceae Protium Hebetatum 4-1<br />

Rosi<strong>da</strong>e Burseraceae Protium Laxiflorum 1-4<br />

Rosi<strong>da</strong>e Burseraceae Protium Laxiflorum 1-1<br />

Rosi<strong>da</strong>e Burseraceae Protium Pilosum 2-2<br />

Rosi<strong>da</strong>e Burseraceae Protium Pilosum 1-1<br />

Rosi<strong>da</strong>e Burseraceae Protium sp. X 2-1<br />

Rosi<strong>da</strong>e Burseraceae Protium Strumosum 1-1<br />

Rosi<strong>da</strong>e Burseraceae Protium Strumosum 1-1<br />

Rosi<strong>da</strong>e Burseraceae Protium Subserratum? 2-1<br />

Rosi<strong>da</strong>e Burseraceae Protium Tenuifolium 1-1<br />

Rosi<strong>da</strong>e Burseraceae Tetragastris Panamensis 1-1<br />

Rosi<strong>da</strong>e Burseraceae Trattinickia Rhoifolia 2-1<br />

Rosi<strong>da</strong>e Burseraceae 1-1<br />

Rosi<strong>da</strong>e Chrysobalanaceae Couepia Guianensis 1-2<br />

Rosi<strong>da</strong>e Chrysobalanaceae Licania gracilipes 2-1<br />

Rosi<strong>da</strong>e Chrysobalanaceae Licania micrantha 1-3<br />

Rosi<strong>da</strong>e Euphorbiaceae Mabea subsessilis 1-2<br />

Rosi<strong>da</strong>e Euphorbiaceae Mabea subsessilis 2-1<br />

Rosi<strong>da</strong>e Euphorbiaceae 1-1<br />

Rosi<strong>da</strong>e Euphorbiaceae 1-1<br />

Rosi<strong>da</strong>e Leg: Mimosoideae Inga cayenensis 1-4<br />

Rosi<strong>da</strong>e Leg: Mimosoideae Inga cf. Paraensis 2-2<br />

Rosi<strong>da</strong>e Leg: Mimosoideae Inga laterifolia 1-1<br />

Rosi<strong>da</strong>e Leg: Mimosoideae Inga paraensis 1-1<br />

Rosi<strong>da</strong>e Leg: Mimosoideae Inga paraensis 2-2<br />

Rosi<strong>da</strong>e Leg: Mimosoideae Inga thibaudiana 1-1<br />

Rosi<strong>da</strong>e Leg: Mimosoideae Inga umbellifera 1-1<br />

Rosi<strong>da</strong>e Leg:<br />

Papilionoideae<br />

Swartzia ingifolia 1-1<br />

Rosi<strong>da</strong>e Leg:<br />

Papilionoideae<br />

Swartzia ingifolia 1-1<br />

Rosi<strong>da</strong>e Melastomataceae Clidemia bullosa 1-1<br />

Rosi<strong>da</strong>e Melastomataceae Clidemia novemnervia 1-1<br />

Rosi<strong>da</strong>e Melastomataceae Miconia egensis 1-1<br />

Rosi<strong>da</strong>e Melastomataceae Miconia egensis 1-1<br />

Rosi<strong>da</strong>e Melastomataceae Miconia phanerostila 2-1<br />

Rosi<strong>da</strong>e Melastomataceae Miconia pyrifolia 3-2<br />

Rosi<strong>da</strong>e Melastomataceae Miconia tetraspermoides 1-1<br />

Rosi<strong>da</strong>e Meliaceae 1-1<br />

Rosi<strong>da</strong>e Sapin<strong>da</strong>ceae 2-1<br />

Rosi<strong>da</strong>e Sapin<strong>da</strong>ceae 2-1<br />

Rosi<strong>da</strong>e Sapin<strong>da</strong>ceae 2-1<br />

Rosi<strong>da</strong>e Sapin<strong>da</strong>ceae 1-1<br />

Rosi<strong>da</strong>e Sapin<strong>da</strong>ceae 1-1<br />

Asteri<strong>da</strong>e Acanthaceae Mendoncia Pedunculata 2-1<br />

Asteri<strong>da</strong>e Boraginaceae Cordia 1-1<br />

Asteri<strong>da</strong>e Rubiaceae Palicourea Corymbifera 1-2<br />

Asteri<strong>da</strong>e Rubiaceae Psychotria Astrelantha 1-2<br />

Asteri<strong>da</strong>e Solanaceae 1-1<br />

Asteri<strong>da</strong>e Solanaceae? 1-2


Relação alométrica de agregados de Leucage sp.<br />

(Tetragnathi<strong>da</strong>e) com atributos ambientais e espaciais<br />

Introdução<br />

Josué Ribeiro <strong>da</strong> Silva Nunes, Ana Maria Benavides, Ana Paula Carmignotto, Eduardo Vasconcelos<br />

Aranhas compreendem uma porção significativa <strong>da</strong><br />

diversi<strong>da</strong>de de artrópodes e, por serem invertebrados<br />

pre<strong>da</strong>dores de topo, são componentes muito importantes de<br />

qualquer ecossistema (Toti, Coyle & Miller, 2000). Existem<br />

atualmente cerca de 37.000 espécies de aranhas conheci<strong>da</strong>s,<br />

distribuí<strong>da</strong>s em 108 famílias (Platnick, 2000). Aranhas <strong>da</strong>s<br />

famílias Tetragnathi<strong>da</strong>e, Ulobori<strong>da</strong>e e Aranei<strong>da</strong>e utilizam<br />

um padrão orbicular na construção de suas teias. Leucage<br />

sp. é uma aranha tetragnatídea encontra<strong>da</strong> em igarapés no<br />

interior de florestas (Venticinque, com. pess.). Indivíduos<br />

desta espécie são encontrados em agregados que apresentam<br />

uma conformação estrutural típica, forma<strong>da</strong> por teias<br />

individuais dispostas em cama<strong>da</strong>s que podem ser ordena<strong>da</strong>s<br />

obliquamente em relação ao espelho d‘água. Esta<br />

conformação pode estar relaciona<strong>da</strong> a um aumento na<br />

eficiência do efeito denominado “ricochete”, considerado<br />

uma tática de otimização <strong>da</strong> captura de presas (Uetz, 1989).<br />

Comumente, indivíduos de outras espécies podem ser<br />

encontrados nestes agregados, como por exemplo, as aranhas<br />

pertencentes à família Pholci<strong>da</strong>e.<br />

Dado que fatores ambientais como a veloci<strong>da</strong>de <strong>da</strong><br />

corrente de água, a estrutura <strong>da</strong> vegetação marginal e fatores<br />

biológicos, como competidores, a estrutura e o tamanho <strong>da</strong><br />

teia são limitantes para as comuni<strong>da</strong>des de aranhas e<br />

influenciam na sua distribuição no ambiente (Foelix, 1982),<br />

o objetivo deste estudo foi avaliar a relação entre a<br />

veloci<strong>da</strong>de <strong>da</strong> água do igarapé e número de aranhas no<br />

agregado. As variáveis testa<strong>da</strong>s foram: veloci<strong>da</strong>de <strong>da</strong> água<br />

abaixo do agregado; número de cama<strong>da</strong>s de teias;<br />

comprimento e superfície do agregado; e número de aranhas<br />

<strong>da</strong> família Pholci<strong>da</strong>e.<br />

Nosso modelo propõe que se a relação entre o número<br />

de indivíduos de Leucage sp. no agregado for diretamente<br />

proporcional ao número de cama<strong>da</strong>s de teias do agregado,<br />

então nós teríamos um ótimo do crescimento do agregado.<br />

Se o número de indivíduos aumentar e o número de cama<strong>da</strong>s<br />

não, então o agregado apresentará crescimento horizontal;<br />

se o número de cama<strong>da</strong>s aumentar, então o agregado<br />

apresentará crescimento vertical. Verificaremos neste estudo<br />

qual <strong>da</strong>s duas formas de crescimento é mais vantajosa<br />

(Figura 1).<br />

Leucage (N)<br />

7<br />

6<br />

5<br />

4<br />

3<br />

2<br />

1<br />

0<br />

AEH<br />

AEV<br />

0 1 2 3 4 5 6 7<br />

Número de cama<strong>da</strong>s<br />

X=Y<br />

Figura 1. Modelo preditivo para relação entre número de<br />

cama<strong>da</strong>s de teias do agregado e o número de indivíduos<br />

de Leucage sp.<br />

Métodos<br />

A área de estudo localiza-se na Amazônia Central,<br />

Reserva Adolpho Ducke, e situa-se ao norte de Manaus.<br />

Esta região apresenta clima quente e úmido, com temperatura<br />

média de 26,7 o C e precipitação média em torno de 2.186<br />

mm (Lovejoy & Bierregard, 1990).<br />

Amostramos um trecho de aproxima<strong>da</strong>mente 200 metros<br />

ao longo do igarapé Barro Branco, onde detectamos a<br />

presença de 25 agregados <strong>da</strong> espécie Leucage sp. Medimos<br />

variáveis ambientais e biológicas. Dentre as ambientais,<br />

medimos a veloci<strong>da</strong>de <strong>da</strong> corrente de água sob o agregado,<br />

que foi classifica<strong>da</strong> em 5 categorias: 0-água para<strong>da</strong>; 1-água<br />

lenta; 2-água com veloci<strong>da</strong>de média; 3-água rápi<strong>da</strong> e 4corredeira.<br />

As variáveis <strong>da</strong> arquitetura <strong>da</strong> teia foram: maior<br />

e menor largura do agregado em relação ao igarapé;<br />

comprimento do agregado; altura em relação à lâmina d’água<br />

e número de cama<strong>da</strong>s (considerado como o número de teias<br />

sobrepostas). A presença e o número de indivíduos de outras<br />

espécies (Pholci<strong>da</strong>e) foi anota<strong>da</strong>, bem como a sobreposição<br />

entre as teias de Pholci<strong>da</strong>e e Leucage sp. A sobreposição<br />

foi dividi<strong>da</strong> em quatro classes (1= 0 a 25%; 2= 25 a 50%;<br />

3= 50 a 75% e 4= 75% a 100% de sobreposição). A<br />

superfície do agregado foi calcula<strong>da</strong> multiplicando-se a<br />

média <strong>da</strong> largura no igarapé pelo comprimento do agregado<br />

e os resultados foram expressos em m 2 . Para facilitar a<br />

visualização <strong>da</strong>s diferentes teias e cama<strong>da</strong>s, pulverizamos<br />

amido de milho (“Maizena”) sobre as teias dos agregados<br />

amostrados.<br />

Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002 9


Realizamos análises de regressão linear (a = 0,05) para<br />

testar a relação entre o número de indivíduos de Leucage<br />

sp. e as variáveis amostra<strong>da</strong>s. O programa estatístico que<br />

utilizamos foi o SYSTAT 8.0.<br />

Resultados<br />

Foram amostrados 25 agregados, sendo que o número<br />

de indivíduos de Leucage sp. variou de 1 a 18 por agregado,<br />

com média de 5 indivíduos por agregado.<br />

Encontramos relação positiva entre o número de<br />

indivíduos de Leucage sp. e o número de cama<strong>da</strong>s de teia<br />

(r 2 =0,21; N=25; t=0,49; p=0,02) (Fig. 2a), o comprimento<br />

do agregado (r 2 =0,57; N=25;t=2,33; p


Discussão<br />

Os resultados obtidos indicam que os atributos espaciais<br />

do agregado: comprimento e número de cama<strong>da</strong>s de teias<br />

estão relacionados ao número de indivíduos de Leucage<br />

sp. presentes em ca<strong>da</strong> agrupamento. Considerando que a<br />

dieta desta espécie é composta principalmente por insetos<br />

que emergem <strong>da</strong> água (Venticinque, 1994), uma possível<br />

explicação para a forte relação encontra<strong>da</strong> com o<br />

comprimento do agregado, seria um aumento na área de<br />

captura, já que uma área maior aumentaria a quanti<strong>da</strong>de de<br />

recursos disponíveis, suportando um número maior de<br />

aranhas no agregado. Por outro lado, uma configuração mais<br />

complexa do agregado (traduzi<strong>da</strong> pelo número de cama<strong>da</strong>s<br />

de teias encontrado) favoreceria um aumento na eficiência<br />

de captura explicado pelo efeito “ricochete” (Uetz 1989).<br />

Adicionalmente, esta complexi<strong>da</strong>de permitiria que as<br />

aranhas <strong>da</strong> espécie Leucage sp. ficassem menos expostas à<br />

pre<strong>da</strong>ção, já que as vespas, um de seus principais pre<strong>da</strong>dores,<br />

encontrariam dificul<strong>da</strong>des para atravessar o labirinto de teias<br />

(Venticinque, com. pess.). Os resultados, portanto, indicam<br />

que a expansão vertical é vantajosa para agregados <strong>da</strong><br />

espécie Leucage sp., que seriam favorecidos em relação à<br />

eficiência de captura e proteção.<br />

A relação entre o número de indivíduos <strong>da</strong>s duas espécies<br />

estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s foi significativa e positiva, indicando que os<br />

indivíduos de Leucage sp. parecem ser favorecidos ou não<br />

ser afetados pela presença dos folcídeos. Considerando-se<br />

ain<strong>da</strong> a sobreposição entre as teias destes e dos indivíduos<br />

de Leucage sp., propomos que os folcídeos estariam atuando<br />

como “inquilinos”, aproveitando-se do arcabouço estrutural<br />

<strong>da</strong>s teias de Leucage sp.<br />

Estudos anteriores relacionam a presença de agregados<br />

de Leucage sp. com a presença de áreas com maior<br />

veloci<strong>da</strong>de <strong>da</strong> correnteza nos igarapés (Gonçalves, 1997;<br />

Venticinque, com. pess.). Nossos resultados, no entanto, não<br />

corroboram esta hipótese, <strong>da</strong>do que não encontramos relação<br />

entre a veloci<strong>da</strong>de e a presença de agregados.<br />

Área de expansão vertical é maior no sentido ao longo<br />

do igarapé, mas não considerando conjuntamente a largura.<br />

O número de Pholcideos está relacionado com o número de<br />

Leucage sp., mas sua sobreposição não. Essas relações<br />

indicam que os Pholcideos não estão exercendo uma forte<br />

pressão de parasitismo e ain<strong>da</strong> que podem estar “adequando”<br />

sua área de sobreposição de forma que essa permaneça<br />

constante ao longo do crescimento do agregado. Também<br />

que o número de cama<strong>da</strong>s está relacionado com o número<br />

de Leucage sp., indicando que mesmo de forma sutil e muito<br />

variável, a arquitetura dos agregados influencia o número<br />

de aranhas que este comporta.<br />

Agradecimentos<br />

Agradecemos às instituições que nos deram a<br />

oportuni<strong>da</strong>de de participar do Curso de Campo <strong>Ecologia</strong><br />

2002: INPA e SMITHSONIAN INSTITUTION; à<br />

organização do Curso, e à orientação de Eduardo<br />

Venticinque (Dadão).<br />

Referências bibliográficas<br />

Foilix, R. F. 1982. Biology of Spiders. Harvard University<br />

Press, London, England.<br />

Lovejoy, T. E. and R. O. Bierregaard. 1990. Central<br />

Amazonian Forests and the minimal critical size of<br />

ecossystems project. Pp 60-74 in A. H. Gentry, editor.<br />

Four Neotropical Rainforest. Yale University Press,<br />

New Haven, Connecticut, USA.<br />

Platinick, N. I. 2000. Estimated spider numbers. Amer.<br />

Arachnology 61: 8-9.<br />

Uetz, G. W. 1989. The “ricochete effect” and prey capture<br />

in colonial spider. Oecologia 81: 154-159.<br />

Venticinque, E. M.1994. Coloniali<strong>da</strong>de, seleção de microhabitats<br />

e comportamento em aranhas tropicais<br />

construtoras de teias orbiculares. In: <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>Floresta</strong> Amazônica, B. Williamson (ed).<br />

Toti, D. S., F. A. Coyle, e J. A. Miller, 2000. A structure<br />

inventory of Appalachian grass bald and heath bald<br />

spider assemblages and a test of species richness<br />

estimator performance. J. Arachnol. 28:329-345.<br />

GRUPO 2 – Projeto de Equipe 1<br />

Orientador: Eduardo Venticinque<br />

Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002 11


Relações entre o solo e a profundi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> liteira em<br />

uma área de <strong>Floresta</strong> Tropical Úmi<strong>da</strong>, Manaus, AM<br />

George Camargo, Flaviana Maluf de Souza, Carina Lima <strong>da</strong> Silveira, Eduardo Cardoso Teixeira e Vanina Zini Antunes<br />

Introdução<br />

Os solos <strong>da</strong> Amazônia possuem baixas concentrações de<br />

nutrientes. Isto é conseqüência <strong>da</strong> origem geológica do solo<br />

(A. Carneiro-Filho, com. pess.), com predominância de<br />

formações antigas (pleistocênicas) que sofrerem<br />

intemperismo e lixiviação por longos períodos. A<strong>da</strong>ptações<br />

<strong>da</strong>s florestas a estas condições incluem o acúmulo de<br />

nutrientes na biomassa vegetal e a rápi<strong>da</strong> dinâmica de<br />

decomposição e reposição destes nutrientes (Begon et al.,<br />

1990).<br />

Caufield (1984) relatou que em um estudo na Amazônia<br />

Venezuelana, três quartos dos nutrientes estavam na<br />

biomassa (plantas vivas e árvores em si), 17% na cama<strong>da</strong><br />

de húmus e serapilheira e apenas 8% no solo mineral. A<br />

liteira constitui um importante elo de ligação entre o ciclo<br />

de carbono e a ciclagem de nutrientes, transferindo os<br />

elementos presentes nas plantas para o chão <strong>da</strong> floresta<br />

(Sizer, 1992). Assim, essa cama<strong>da</strong> pode ser considera<strong>da</strong> uma<br />

importante fonte de nutrientes para a floresta, devendo ser<br />

aproveita<strong>da</strong> ao máximo pelas raízes. Espera-se que esta<br />

otimização ocorra quando a espessura e a área <strong>da</strong> cama<strong>da</strong><br />

de radículas forem maiores, pois aumentam a superfície de<br />

absorção de nutrientes pelas plantas.<br />

O perfil dos solos amazônicos pode ser dividido<br />

basicamente em áreas altas, denomina<strong>da</strong>s platô, áreas de<br />

topografia intermediária, denomina<strong>da</strong>s de vertente, e áreas<br />

mais baixas, denomina<strong>da</strong>s de baixio, onde correm os cursos<br />

d’água. Nos platôs, os solos são predominantemente<br />

argilosos (Latossolo amarelo-álico), sendo arenosos<br />

(podzóis e areias quartzosas) nas partes mais baixas (Ribeiro<br />

et al., 1999).<br />

Fearnside & Leal-Filho (2001) argumentaram que a<br />

textura é uma <strong>da</strong>s características mais importantes do solo,<br />

sendo o balanço entre as frações de areia e argila fun<strong>da</strong>mental<br />

na determinação do crescimento <strong>da</strong>s plantas. Solos<br />

muito arenosos em geral são pobres, pois a maior porosi<strong>da</strong>de<br />

causa per<strong>da</strong> mais rápi<strong>da</strong> de nutrientes por lixiviação. Além<br />

disso, esses solos têm uma baixa capaci<strong>da</strong>de de retenção<br />

hídrica, levando as plantas a uma fase de estresse durante<br />

os períodos de seca. Já as argilas são mais receptivas à<br />

agregação de cátions, devido principalmente ao conteúdo<br />

de matéria orgânica existente nesses solos. Dessa forma, a<br />

proporção de areia que compõem o solo pode ser toma<strong>da</strong><br />

como uma medi<strong>da</strong> indireta de sua pobreza de nutrientes.<br />

Consequentemente, espera-se existir maior competição<br />

entre as raízes por espaço em solos arenosos. Plantas em<br />

solos arenosos (p.ex. campinaranas) tendem a produzir<br />

compostos secundários para evitar herbívoros e retém mais<br />

12 Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002<br />

as folhas verdes, compara<strong>da</strong>s com as de solos menos<br />

arenosos, para otimizar a captação de luz. Apesar <strong>da</strong>s folhas<br />

que caem no solo, estas permanecem mais tempo sem serem<br />

decompostas em decorrência dos compostos secundários,<br />

que dificultam a ação de fungos e outros decompositores.<br />

Relativamente, as florestas amazônicas de platô, que<br />

apresentam solos argilosos, possuem maior cama<strong>da</strong> de liteira<br />

devido à maior decidui<strong>da</strong>de por não necessitarem reter tantas<br />

folhas, pois o solo tem maior teor de nutrientes, além <strong>da</strong><br />

competição entre as raízes nestes ambientes ser menor. As<br />

raízes superficiais (‘tapete’ de raízes) <strong>da</strong>s florestas de platô<br />

tendem a ser mais horizontais e menos espessas. Em<br />

contraparti<strong>da</strong>, o tapete de raízes em solos arenosos tende a<br />

ser mais profundo ou espesso e também horizontais, de<br />

forma a captar os escassos nutrientes que estão sendo<br />

lixiviados. Nesta tendência geral, espera-se que em solos<br />

arenosos, a cama<strong>da</strong> de liteira (raízes mais folhas) seja maior<br />

do que em solos argilosos; quanto maior a cama<strong>da</strong> de raízes,<br />

mais aproveita<strong>da</strong> é a liteira e portanto menor a sua espessura.<br />

A Reserva Adolpho Duke (Manaus, Amazonas)<br />

contempla uma série de ambientes vegetacionais distintos,<br />

entre eles a floresta de platô, a floresta de vertente, a<br />

campinarana e a floresta de baixio (Ribeiro et al. 1999),<br />

caracteriza<strong>da</strong>s pela topografia, tipos de solo, estrutura e<br />

composição de espécies. Considerando que a reserva<br />

apresenta os tipos de solos argilosos e arenosos, os objetivos<br />

deste trabalho são: (1) verificar se existe correlação entre a<br />

cama<strong>da</strong> de folhas e o tapete de raízes presentes na liteira;<br />

(2) verificar se a cama<strong>da</strong> de folhas, o tapete de raízes e a<br />

liteira como um todo possuem relação com a fração arenosa<br />

do solo.<br />

Métodos<br />

O presente trabalho foi desenvolvido na Reserva <strong>Floresta</strong>l<br />

Adolpho Ducke (2°55’S, 59°58’O), localiza<strong>da</strong> a 25 km <strong>da</strong><br />

ci<strong>da</strong>de de Manaus, AM. A temperatura média anual é de<br />

26,7°C e a precipitação média anual é de 2186 mm<br />

(RADAMBRASIL 1978, citado por Carnaval et al. 1999).<br />

Trinta pontos de coleta foram distribuídos aleatoriamente<br />

ao longo <strong>da</strong> trilha para o Igarapé Acará. Em ca<strong>da</strong> ponto<br />

registramos as medi<strong>da</strong>s <strong>da</strong> cama<strong>da</strong> de folhas e do tapete de<br />

raízes, colocando uma régua verticalmente a um perfil aberto<br />

com terçado. Em ca<strong>da</strong> ponto também recolhemos uma<br />

amostra padrão de solo, correspondente ao volume de um<br />

coletor universal, que foi acondiciona<strong>da</strong> em um saco plástico<br />

para pesagem. As amostras de solo foram pesa<strong>da</strong>s (peso<br />

úmido) com dinamômetros de 0,5 ou 1 g de precisão,<br />

dependendo do tamanho, e posteriormente peneira<strong>da</strong>s em


água para separação <strong>da</strong> fração arenosa. Em segui<strong>da</strong>, as<br />

frações arenosas foram seca<strong>da</strong>s e pesa<strong>da</strong>s.<br />

Testamos a correlação entre a cama<strong>da</strong> de folhas e o tapete<br />

de raízes através do coeficiente de Pearson. Para avaliar o<br />

efeito <strong>da</strong> fração arenosa na cama<strong>da</strong> de folhas, no tapete de<br />

raízes e na liteira como um todo (cama<strong>da</strong> de folhas e tapete<br />

de raízes) fizemos regressões lineares.<br />

Resultados<br />

Não houve correlação significativa entre a espessura <strong>da</strong><br />

cama<strong>da</strong> de folhas e o tapete de raízes (coeficiente de Pearson<br />

r=0,175, Fig. 1), indicando que cama<strong>da</strong>s espessas de folhas<br />

independem <strong>da</strong> espessura do tapete de raízes.<br />

Cama<strong>da</strong> de folhas (cm)<br />

0,9<br />

0,7<br />

0,5<br />

0,4<br />

1,<br />

2,5<br />

2,<br />

1,5<br />

3,<br />

4,5<br />

3,5<br />

5,<br />

5,5<br />

1, 1,4 1,5 1,6 1,8 2, 2,1 2,5 2,6 3, 3,5 4, 5,<br />

Tapete de raízes (cm)<br />

Figura 1 – Dispersão dos valores <strong>da</strong> espessura <strong>da</strong> cama<strong>da</strong><br />

de folhas e do tapete de raízes na área de estudo .<br />

As variações <strong>da</strong> espessura <strong>da</strong> cama<strong>da</strong> de folhas e <strong>da</strong> liteira<br />

apresentaram baixa correlação com a fração de areia do solo<br />

(r 2 =0,33, p=0,001, Fig. 2; r 2 =0,23, p=0,009, Fig. 3,<br />

respectivamente). A espessura do tapete de raízes não<br />

apresentou relação significativa com a fração de areia do<br />

solo (r 2 =0,014, p=0,538, Fig. 4).<br />

Cama<strong>da</strong> de folhas (cm)<br />

6<br />

5<br />

4<br />

3<br />

2<br />

1<br />

0<br />

0 10 20 30 40 50<br />

Fração de areia (%)<br />

Figura 2 - Dispersão dos valores <strong>da</strong> espessura <strong>da</strong> cama<strong>da</strong><br />

de folhas e <strong>da</strong> fração de areia na área de estudo.<br />

Liteira (cm)<br />

10<br />

9<br />

8<br />

7<br />

6<br />

5<br />

4<br />

3<br />

2<br />

1<br />

0 10 20 30 40 50<br />

Fração de areia (%)<br />

Figura 3 - Dispersão dos valores <strong>da</strong> espessura <strong>da</strong> liteira<br />

(cama<strong>da</strong> de folhas e tapete de raízes) e <strong>da</strong> fração de<br />

areia na área de estudo.<br />

Tapete de raízes (cm)<br />

5<br />

4<br />

3<br />

2<br />

1<br />

0<br />

0 10 20 30 40 50<br />

Fração de areia (%)<br />

Figura 4 - Dispersão dos valores <strong>da</strong> espessura do tapete<br />

de raízes e <strong>da</strong> fração de areia na área de estudo.<br />

Discussão<br />

Os resultados indicam que a fração de areia é um fator<br />

que explica pouco a variação encontra<strong>da</strong> na espessura <strong>da</strong><br />

cama<strong>da</strong> de folhas sobre a superfície do solo. Fatores como<br />

que<strong>da</strong> de folhas, pluviosi<strong>da</strong>de e sazonali<strong>da</strong>de contribuem<br />

diretamente para a espessura <strong>da</strong> liteira. Basicamente, o volume<br />

de folhas que caem <strong>da</strong>s plantas <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de vegetal<br />

local e a veloci<strong>da</strong>de <strong>da</strong> decomposição <strong>da</strong> cama<strong>da</strong> de folha<br />

pelos microorganismos são os fatores determinantes na<br />

quanti<strong>da</strong>de de folhas acumula<strong>da</strong>s no solo. Estes fatores não<br />

foram mensurados no presente estudo e seria necessário<br />

medi-los para quantificar, a posteriori a influência indireta<br />

do solo (fração arenosa) sobre a liteira.<br />

Plantas que vivem em ambientes pobres em nutrientes<br />

produzem compostos secundários que protegem as suas<br />

folhas contra o ataque de insetos herbívoros, o que dificulta<br />

a ação de fungos e bactérias sobre as folhas que caem no<br />

solo. Isto levaria a um maior acúmulo de folhas em solos<br />

mais arenosos do que em solos mais ricos em nutrientes,<br />

como aqueles com maior proporção de argila.<br />

A argila consegue reter melhor a água, e este fato, aliado<br />

às altas temperaturas características de ambientes tropicais,<br />

Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002 13


propiciaria um ambiente ideal para a ação de<br />

microorganismos sobre a liteira presente em solos mais<br />

argilosos. Desta forma, a veloci<strong>da</strong>de de decomposição desta<br />

cama<strong>da</strong> neste ambiente parece ser maior, o que levaria a<br />

uma diminuição em sua quanti<strong>da</strong>de.<br />

Em relação às raízes, os solos com maior proporção de<br />

areia a alta permeabili<strong>da</strong>de propiciam lixiviação mais rápi<strong>da</strong><br />

dos nutrientes do que os solos mais argilosos. Devido a este<br />

fator, seria interessante para as plantas produzir uma malha<br />

de raízes que reteria melhor estes nutrientes que são<br />

carregados pelas águas <strong>da</strong>s chuvas ou decompostos na<br />

cama<strong>da</strong> de liteira.<br />

As relações aqui investiga<strong>da</strong>s refletem em grande parte<br />

os processos de ciclagem de nutrientes em florestas tropicais,<br />

conhecimento fun<strong>da</strong>mental para o entendimento <strong>da</strong> dinâmica<br />

<strong>da</strong>s florestas amazônicas.<br />

Agradecimentos<br />

Agradecemos à Profa. Ana Albernaz pela orientação, ao<br />

monitor Marcelo ‘Pinguela’ pela idéia original e aju<strong>da</strong> nos<br />

trabalhos de campo e a Ocírio ‘Juruna’ Pereira pelo auxílio<br />

na secagem <strong>da</strong>s amostras de solo. Agradecemos também<br />

aos organizadores do Curso de Campo – <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>Floresta</strong> Amazônica/<strong>PDBFF</strong>, Eduardo ‘Dadão’ Venticinque<br />

e Jansen Zuanon.<br />

Referências bibliográficas<br />

Begon, M., Harper, J. L. e Townsend, C. R. 1990.<br />

Ecology- Individuals, Populations and Communities.<br />

Blackwell Scientific Publications, Massachussets,<br />

EUA.<br />

14 Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002<br />

Carnaval, A. C. O. Q., Santos, A. J., Pires, A. S.,<br />

Andrade, A. C. S. e Pérez, J. M. 1999. Composição e<br />

riqueza <strong>da</strong> fauna aquática do Igarapé Barro Branco<br />

antes e após uma área perturba<strong>da</strong>. Páginas1-3 in E.<br />

Venticinque, M. Hopkins, organizadores, Curso de<br />

Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica.<br />

Caufield, C. 1984. In the Rainforest – Report from a<br />

strange, beautiful, imperiled world. Cap.4 – Boundless<br />

Fertility. p. 61-81.<br />

Fearnside, P. M. e Leal-Filho, N. 2001. Soils and<br />

Development in Amazonia. Páginas 291-312, capítulo<br />

23, in R. O. Bierregaard Jr., C. Gascon; T. E. Lovejoy,<br />

R. C. G. Mesquita, editores. Lessons from Amazonia –<br />

The Ecology and Conservation of a Fragmented<br />

ForestPart IV Management Guidelines.<br />

Ribeiro, J. E. L. S., Hopkins, M., Vicentini, A., Sothers,<br />

C. A. , Costa, M. A. S., Brito, J.M., Souza, M. A. D.,<br />

Martins, L. H. P., Lohmann, L. G., Assunção, P. A. C.<br />

L., Pereira, E. C., Silva, C. F. , Mesquita, M. R. e<br />

Procópio, L. C. 1999. Flora <strong>da</strong> Reserva Ducke – Guia<br />

de identificação <strong>da</strong>s plantas vasculares de uma floresta<br />

de terra firme na Amazônia Central. INPA, DFID,<br />

Manaus, AM, Brasil.<br />

Sizer, N. C. 1992. The Impact of Edge Formation on<br />

Regeneration and Litterfall in a Tropical Rain Forest<br />

Fragment in Amazonia. Universi<strong>da</strong>de de Cambridge,<br />

Cambridge. Doutorado (Tese).244p.<br />

Grupo 3 – Projeto Orientado 1<br />

Orientadora do projeto: Prof. Ana Albernaz<br />

Uso de poças permanentes e temporárias por Rivulus<br />

compressus (Osteichthyes; Cyprinodontiformes) na<br />

Reserva <strong>Floresta</strong>l A. Ducke, Amazônia Central<br />

Daniela Chaves Resende, Flávio José Soares Júnior, Paula Machado Pedrosa, Genimar Rebouças Julião, Patricia García Tello<br />

Introdução<br />

Nos igarapés de terra firme <strong>da</strong> Amazônia, os pulsos de<br />

inun<strong>da</strong>ção são pouco pronunciados, sendo influenciados<br />

principalmente pelas chuvas locais. O nível do igarapé pode<br />

subir rapi<strong>da</strong>mente após chuvas fortes e pode permanecer<br />

assim desde que continue chovendo por dias ou semanas<br />

(Lowe-McConnel, 1987, 1991 apud Bührnheim e<br />

Fernandes, 2001). Durante estes pequenos pulsos, ocorre a<br />

inun<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> região adjacente a estes igarapés, formando<br />

poças que podem perdurar por períodos variáveis de tempo.<br />

As regiões dos platôs amazônicos apresentam<br />

características de solo e de vegetação bastante distintas dos<br />

baixios dos igarapés (Ribeiro et. al 1994), porém, verificase<br />

que também há formação de poças temporárias nestes<br />

locais. Estas são forma<strong>da</strong>s somente pela água <strong>da</strong> chuva e<br />

não apresentam conexão com os igarapés. No entanto, apesar<br />

do caráter efêmero, apresentam uma riqueza biológica<br />

considerável, com uma fauna de invertebrados aquáticos e<br />

anfíbios bem característica (Ebert e Balko, 1987).<br />

Os igarapés, em geral, apresentam uma fauna de peixes<br />

rica e diversifica<strong>da</strong> forma<strong>da</strong> por diversos grupos<br />

taxonômicos. Entre esses encontram-se duas espécies <strong>da</strong><br />

família Rivuli<strong>da</strong>e, composta principalmente por peixes<br />

anuais, com exceção do gênero Rivulus (Buckup, 1999).


Na Amazônia Central, a espécie Rivulus compressus ocorre<br />

em ambientes marginais de igarapés e poças temporárias,<br />

tanto no baixio quanto no platô. Para que atinjam estas poças<br />

temporárias dos platôs, os indivíduos devem migrar<br />

ativamente utilizando “degraus” formados pelo escoamento<br />

<strong>da</strong>s águas <strong>da</strong> chuva.<br />

A abundância de recursos alimentares presentes nestas<br />

poças, além <strong>da</strong> baixa competição, devem ser fatores<br />

importantes para a manutenção <strong>da</strong> estratégia utiliza<strong>da</strong> por<br />

esta espécie (J. Zuanon, comunicação pessoal). O processo<br />

de migração para as poças de platô pode representar um<br />

alto risco de pre<strong>da</strong>ção e um elevado gasto energético. Neste<br />

sentido, esperamos que este comportamento seja mais<br />

freqüente em indivíduos adultos, que teriam melhores<br />

condições físicas e fisiológicas para realizar a migração.<br />

Neste trabalho, nós testamos a hipótese de que a ocupação<br />

<strong>da</strong>s poças de platô ocorra predominantemente por indivíduos<br />

adultos. Assim, esperamos que a estrutura em comprimento<br />

<strong>da</strong>s populações de R. compressus <strong>da</strong>s poças do igarapé seja<br />

diferente <strong>da</strong> estrutura de poças do platô e que haja uma<br />

freqüência maior de indivíduos de maior tamanho corporal<br />

nas poças do platô do que nas poças do Igarapé.<br />

Métodos<br />

O trabalho foi realizado na Reserva <strong>Floresta</strong>l Adolpho<br />

Ducke, Amazônia Central. A área <strong>da</strong> reserva é de 10.000<br />

ha e compreende quatro tipos principais de vegetação:<br />

Campinarana, Mata de Baixio, <strong>Floresta</strong> de Platô e <strong>Floresta</strong><br />

de Vertente. Segundo Lovejoy & Bierregaard (1990), a<br />

temperatura média anual é de 26,7 o C com variações médias<br />

de 2 o C e a pluviosi<strong>da</strong>de é de 2.186 mm/ano, variando entre<br />

1.900 e 2.400mm.<br />

As poças estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s foram localiza<strong>da</strong>s em três tipos de<br />

ambientes: clareiras no interior <strong>da</strong>s florestas de platô, ao<br />

longo <strong>da</strong> trilha do igarapé Acará e às margens do braço<br />

secundário do igarapé Barro Branco, próximo <strong>da</strong> sede <strong>da</strong><br />

Reserva.<br />

Definimos nove poças como uni<strong>da</strong>des amostrais, sendo<br />

quatro distribuí<strong>da</strong>s na trilha, duas na floresta e três no<br />

igarapé. Em ca<strong>da</strong> uni<strong>da</strong>de amostral, os peixes foram<br />

capturados com auxílio de peneiras pequenas (0,20 cm,<br />

malha de 1 x 1mm) e grandes (0,50 cm, malha de 1,5 x<br />

1,5mm). O esforço de pesca foi padronizado de modo a<br />

obter o maior número possível de indivíduos em ca<strong>da</strong> poça.<br />

Os espécimes foram levados a um ponto de apoio onde,<br />

durante a triagem, foram toma<strong>da</strong>s medi<strong>da</strong>s individuais do<br />

comprimento padrão (mm) com o uso de paquímetro e sacos<br />

plásticos de contenção. Posteriormente, os espécimes<br />

coletados foram devolvidos aos seus habitats de origem.<br />

Para a classificação dos indivíduos entre jovens e adultos,<br />

utilizamos como limite o valor correspondente à metade do<br />

maior comprimento padrão observado para os exemplares.<br />

As distribuições de comprimento <strong>da</strong>s populações<br />

dentro <strong>da</strong>s poças de ca<strong>da</strong> ambiente e entre os ambientes<br />

foram compara<strong>da</strong>s com o uso do teste não paramétrico de<br />

Komolgorov-Smirnov. Os resultados foram apresentados na<br />

forma de histogramas de distribuição de freqüência de<br />

comprimento padrão.<br />

Resultados<br />

Foram coletados 174 indivíduos de Rivulus compressus,<br />

sendo a maioria (60,34%) coletados nas poças <strong>da</strong> trilha.<br />

Para as poças de floresta a abundância foi muito baixa (tabela<br />

1) e, por isso, estes <strong>da</strong>dos não foram utilizados nas análises<br />

estatísticas.<br />

Tabela 1. Número total (N) e comprimento padrão médio<br />

(CPM), mínimo (CPMIN) e máximo (CPMAX) de indivíduos<br />

de indivíduos de Rivulus compressus em ca<strong>da</strong> ambiente de<br />

coleta na Reserva Adolpho Ducke, AM.<br />

Local CPM CPMIN CPMAX<br />

Desvio<br />

Padrão<br />

N<br />

total<br />

Trilha 36.6 19 55 7.1 105<br />

Igarapé 27.9 18 50 6.6 61<br />

<strong>Floresta</strong> 31.2 26 48 7.0 8<br />

As populações de duas poças coleta<strong>da</strong>s na trilha tiveram<br />

freqüências de comprimento distintas (poças I e III;<br />

Komolgorov-Smirnov; p


A distribuição de freqüência de comprimento foi<br />

semelhante entre as poças próximas ao igarapé<br />

(Komolgorov-Smirnov, p


Ribeiro, J.E.L.S., Nelson, B.W., Silva, M.F. <strong>da</strong>, Martins,<br />

L.S.S., and M. Hopkins, M. (1994). Reserva <strong>Floresta</strong>l<br />

Ducke: Diversi<strong>da</strong>de e composição <strong>da</strong> flora vascular.<br />

Acta Amazonica 24: 19-30.<br />

Grupo 4 – Projeto de Equipe 1<br />

Orientador: Prof. Jansen Zuanon<br />

Estrutura <strong>da</strong> vegetação de sub-bosque em uma área de<br />

extração seletiva de madeira na Amazônia Central<br />

André Mendonça, Carolina Morales, Sylvia Mendel, Luiz Henrique Claro Jr., Yumi Oki<br />

Introdução<br />

Ativi<strong>da</strong>des humanas, como a extração madeireira, podem<br />

acarretar mu<strong>da</strong>nça na estrutura de áreas florestais e levar à<br />

um incremento na estrutura do sub-bosque, com uma<br />

diminuição na densi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s espécies de interior de floresta<br />

e mais sensíveis a distúrbio e um aumento na densi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s<br />

espécies pioneiras nas clareiras abertas (Bierregaard et al.<br />

2001).<br />

A extração seletiva de madeira é vista como uma<br />

alternativa à extração tradicional, pois esta possui um menor<br />

impacto, em função <strong>da</strong> seleção de apenas alguns indivíduos<br />

para corte, sendo o maior impacto produzi<strong>da</strong> pela abertura<br />

de trilhas de arrasto de toras.<br />

Em virtude do impacto decorrente <strong>da</strong> extração seletiva<br />

de madeira, o objetivo deste trabalho foi comparar a estrutura<br />

<strong>da</strong> vegetação de sub-bosque e o efeito de bor<strong>da</strong> entre uma<br />

área de extração seletiva de madeira desde 1999, e outra de<br />

preservação permanente.<br />

Métodos<br />

Desenvolvemos este estudo no compartimento N e na<br />

área de preservação permanente <strong>da</strong> Madereira Mil<br />

Itacoatiara Limita<strong>da</strong> (2 o 43’ - 3 o 04’ S; 58 o 31’ - 58 o 57’W),<br />

separa<strong>da</strong>s apenas por uma estra<strong>da</strong> de terra. A região<br />

apresenta uma precipitação média anual de 2.200 mm e<br />

temperatura média anual de 26 o C. O solo é do tipo latossolo<br />

amarelo distrófico argiloso (Rittl , com. pessoal).<br />

Comparamos a estrutura vegetacional entre as duas áreas<br />

a partir de um espaçamento de 10, 30, 50, 70 e 100 m em<br />

relação à bor<strong>da</strong> em cinco transectos perpendiculares à<br />

estra<strong>da</strong>, eqüidistantes 50 m. Somente na área preserva<strong>da</strong><br />

fizemos um espaçamento de 200 m para verificar a estrutura<br />

<strong>da</strong> vegetação, sem a influência do efeito de bor<strong>da</strong>. No final<br />

de ca<strong>da</strong> espaçamento foi feito um transecto perpendicular<br />

ao transecto principal, com comprimento de 30 m,<br />

direcionado aleatoriamente.<br />

A ca<strong>da</strong> 1 m deste transecto, por meio de um método<br />

pontual, amostramos a estratificação do sub-bosque de 0 a<br />

180 cm de altura do solo. As medi<strong>da</strong>s foram toma<strong>da</strong>s<br />

utilizando-se um bastão de dois metros graduado a ca<strong>da</strong> 10<br />

cm e com diâmetro aproximado de 3 cm. Ca<strong>da</strong> vez que um<br />

ramo ou folha encostava no bastão, a altura era registra<strong>da</strong>.<br />

A partir destes <strong>da</strong>dos, calculamos as freqüências (número<br />

de vezes que o bastão era tocado por classe de altura/ número<br />

total de pontos amostrados) para as classes de altura<br />

defini<strong>da</strong>s em 20 cm.<br />

Foram elaborados gráficos de distribuição de frequências<br />

com distância e número de toques para determinar a estrutura<br />

do sub-bosque em ca<strong>da</strong> ponto de amostragem (Sokal &<br />

Rohlf, 1981).<br />

Para avaliar a heterogenei<strong>da</strong>de e a complexi<strong>da</strong>de do subbosque<br />

foi feita uma regressão linear entre a distância <strong>da</strong><br />

bor<strong>da</strong> e o coeficiente de variação do número de toques e<br />

uma relação entre a diferença <strong>da</strong>s médias e desvios padrões<br />

de ca<strong>da</strong> ponto amostral (Sokal & Rohlf, 1981).<br />

Resultados<br />

Tanto na área explora<strong>da</strong> como na mata, as diferenças no<br />

perfil vertical <strong>da</strong> vegetação entre os locais são mais<br />

pronuncia<strong>da</strong>s nos pontos de amostragem mais próximos à<br />

estra<strong>da</strong> que nos pontos de amostragem mais internos (Fig.<br />

1). Foi observado que na área explora<strong>da</strong> não existe um<br />

padrão nas classes de altura ao longo <strong>da</strong>s distâncias,<br />

mostrando que as perturbações decorrentes do processo de<br />

extração seletiva de madeira criam ambientes diferenciados<br />

dentro <strong>da</strong> mata.<br />

Nos pontos de amostragem localizados à distância de<br />

100 m <strong>da</strong> bor<strong>da</strong>, tanto na área explora<strong>da</strong> quanto na de mata<br />

(Fig.1e-j) observamos uma diminuição <strong>da</strong> diferença entre<br />

as classes de tamanho. A área explora<strong>da</strong> apresentou um<br />

aumento na densi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s classes de menor tamanho e uma<br />

maior freqüência média de toques que a área de mata.<br />

Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002 17


Figura 1. Distribuição <strong>da</strong>s freqüências de classes de altura de toques em função <strong>da</strong> distância em ca<strong>da</strong> ponto de<br />

amostragem em uma área de mata e outra explora<strong>da</strong> no município de Itacoatiara, Amazônia central.<br />

No interior <strong>da</strong> mata, as classes de tamanho possuem<br />

densi<strong>da</strong>des mais semelhantes (Fig. 2).<br />

Figura 2. Distribuição <strong>da</strong>s freqüências de classes de<br />

altura de toques em função <strong>da</strong> distância nos pontos de<br />

amostragem à 200m <strong>da</strong> bor<strong>da</strong>, em uma área de mata e<br />

outra explora<strong>da</strong>, no município de Itacoatiara, Amazônia<br />

central.<br />

A relação entre o desvio padrão e a média do número de<br />

toques mostrou a formação de dois grupos (Fig.3). Também<br />

foi verificado que os pontos mais distantes <strong>da</strong> bor<strong>da</strong><br />

possuíam menor desvio padrão (DP) que os mais próximos<br />

à bor<strong>da</strong>, repetindo-se esta tendência para ambas as áreas.<br />

18 Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002<br />

Figura 3. Relação entre o desvio padrão e média do<br />

número de toques dos diferentes sitios de amostragem<br />

em áreas preserva<strong>da</strong>s e de extração seletiva de madeira<br />

no município de Itacoatiara, Amazônia central, sendo AE<br />

= área explora<strong>da</strong> e M = mata.<br />

Não foi possível observar um padrão no gradiente do<br />

perfil vertical <strong>da</strong> vegetação nas duas áreas em relação à<br />

distância <strong>da</strong> bor<strong>da</strong>. Entretanto, nos pontos à 100 m <strong>da</strong> bor<strong>da</strong><br />

localizados na área de exploração e na mata o perfil vertical<br />

se apresentou mais homogêneo (Fig.1). Isso também foi<br />

observado nos pontos localizados à 200 m <strong>da</strong> bor<strong>da</strong> na área<br />

de mata (Fig.2), indicando que a partir de 100 m o efeito <strong>da</strong><br />

bor<strong>da</strong> se apresenta mais sutil .<br />

O efeito de bor<strong>da</strong> tem sido potencializado com a


exploração florestal (Primack & Rodrigues, 2001). Segundo<br />

esses autores, as áreas explora<strong>da</strong>s apresentam uma maior<br />

proporção de bor<strong>da</strong> por área de habitat, em função <strong>da</strong><br />

ocorrência <strong>da</strong>s clareiras forma<strong>da</strong>s pela retira<strong>da</strong> de árvores.<br />

Na área explora<strong>da</strong> o número de toques por classes de altura<br />

foi maior, indicando que o sub-bosque desta área é mais<br />

denso, possivelmente em decorrência <strong>da</strong> maior entra<strong>da</strong> de<br />

luz resultante <strong>da</strong> derruba<strong>da</strong> <strong>da</strong>s árvores e <strong>da</strong> abertura <strong>da</strong>s<br />

trilha de arraste de toras (Fig.1).<br />

A área de extração e a mata formaram dois grupos, pois<br />

os diferentes pontos de amostragem na área explora<strong>da</strong><br />

possuem valores de desvio padrão e médias do número de<br />

toques mais extremos, sugerindo que o sub-bosque nesta<br />

área é mais complexo e heterogêneo que as áreas de mata,<br />

devido às mu<strong>da</strong>nças abioticas resultantes <strong>da</strong> extração seletiva<br />

de madeira, como a mu<strong>da</strong>nça <strong>da</strong> quanti<strong>da</strong>de de luz que chega<br />

ao sub-bosque, possivelmente aumentando a quanti<strong>da</strong>de de<br />

plântulas e espécies emergentes. Em relação à mata, o ponto<br />

de amostragem a 70 m <strong>da</strong> bor<strong>da</strong> apresentou maiores valores<br />

de desvio padrão e média que o aproximam do grupo de<br />

pontos <strong>da</strong> área explora<strong>da</strong>, pois este consistia de uma clareira<br />

que possuía e consequentemente um sub-bosque mais<br />

complexo. Este resultado reforça a hipótese de que as<br />

mu<strong>da</strong>nças abióticas decorrentes <strong>da</strong> abertura de clareiras<br />

aumenta a complexi<strong>da</strong>de do sub-bosque.<br />

Podemos concluir que a complexi<strong>da</strong>de e a heterogeni<strong>da</strong>de<br />

<strong>da</strong> vegetação de sub-bosque entre a área preserva<strong>da</strong> e a área<br />

explora<strong>da</strong> foi diferente em alguns parâmetros, mostrando<br />

que a extração seletiva de madeira acarreta em diferenças<br />

na estrutura do sub-bosque.<br />

O trabalho pode aju<strong>da</strong>r na avaliação <strong>da</strong> dinâmica<br />

funcional de áreas que sofreram a influência <strong>da</strong> extração<br />

<strong>da</strong> madeira e levantar discussões sobre as conseqüências<br />

deste tipo de ativi<strong>da</strong>de sobre a estrutura do sub-bosque .<br />

Agradecimento<br />

Gostaríamos de agradecer ao orientador deste estudo,<br />

Eduardo Venticinque (Dadão), pela aju<strong>da</strong> e paciência. Ao<br />

Marcelo (Pinguela) e ao Ocírio Pereira (Juruna) pela aju<strong>da</strong><br />

no campo e pelo transporte. Ao INPA pelo patrocínio e apoio<br />

ao estudo.<br />

Referências Bibliográficas<br />

Bierregaard Jr., R. O., C. Gascon, T. E. Lovejoy and R.<br />

Mesquita. 2001. Lessons from Amazonia. The ecology<br />

and conservation of a fragmented forest. Yale University<br />

Press. New Haven and London.<br />

Murcia, C. 1995 Edge effects in fragmentated forests:<br />

implications for conservation. Trends in Ecology and<br />

Evolution 10, 58-62<br />

Rodrigues, E. 1998. Edge effects on the regeneration of<br />

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Harvard University.<br />

Primack, R. B. & E. Rodrigues,. 2001. Biologia <strong>da</strong><br />

Conservação. Visualitá Programação visual. Londrina.<br />

Sokal, R.R. & Rohlf, ,F.J. 1981. Biometry. second edition.<br />

W. H. Freemam and Company. New York..<br />

Sterns, S.C. 1982. The emergency of evolutionary and<br />

community ecology as<br />

experimental sciences. Perspect. Biol. Med., 25:621.<br />

Grupo 1 – Projeto de Equipe 2<br />

Orientador do projeto: Eduardo Venticinque<br />

Efeito <strong>da</strong> extração seletiva de madeira sobre a estrutura<br />

<strong>da</strong> vegetação em uma área <strong>da</strong> Amazônia Central<br />

Ana Maria Benavides, Ana Paula Carmignotto, Eduardo Vasconcelos, Josué Ribeiro <strong>da</strong> Silva Nunes<br />

Introdução<br />

A <strong>Floresta</strong> Amazônica engloba 3,65 milhões de km 2 , o<br />

que corresponde a 60% do território brasileiro (Higuchi<br />

2001), dos quais 400.000 km 2 foram destruídos nos últimos<br />

20 anos (Anon. 1999). A extração madeireira é um dos<br />

principais fatores responsáveis pelo cenário atual encontrado<br />

na Amazônia, representando 30% do desmatamento<br />

ocorrido na região. Destes, 80% correspondem a extrações<br />

ilegais (Muggiati e Gondim 1996).<br />

Devido à alarmante taxa de desmatamento que as florestas<br />

tropicais vem sofrendo, o manejo dos recursos naturais vem<br />

se destacando como uma <strong>da</strong>s alternativas para a mitigação<br />

dos efeitos de per<strong>da</strong> e isolamento <strong>da</strong>s áreas florestais<br />

(Laurance 1999). O manejo para extração de madeira de<br />

baixo impacto se encaixa como alternativa frente ao corte<br />

raso e sem planejamento (C. Rittl com. pess.). No entanto,<br />

há diversos estudos que apontam como efeitos <strong>da</strong> extração<br />

seletiva de madeira uma maior abertura do dossel, maior<br />

densi<strong>da</strong>de na vegetação do subbosque (Mason 1996),<br />

maiores densi<strong>da</strong>des de cipós (Pinard & Putz 1992), além<br />

desta ativi<strong>da</strong>de influenciar a distribuição e abundância de<br />

espécies <strong>da</strong> fauna silvestre (Laurance & Laurance 1996; Rittl<br />

1998).<br />

Embora estudos já tenham sido realizados, estes<br />

restringem-se a abor<strong>da</strong>r impactos diretos <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de sobre<br />

a vegetação, e não implicações indiretas destes impactos<br />

Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002 19


como, por exemplo, efeitos a longo prazo. O presente<br />

trabalho visa avaliar os efeitos <strong>da</strong> extração seletiva de<br />

madeira sobre a estrutura <strong>da</strong> vegetação, comparando-se uma<br />

área preserva<strong>da</strong> e uma área que foi explora<strong>da</strong> em 1999.<br />

Metodologia<br />

Realizamos o presente estudo em um local de extração<br />

de madeira de baixo impacto, a Mil madeireira, situa<strong>da</strong> no<br />

km 227 <strong>da</strong> rodovia AM-010 (02 o 43’ a 03 o 04’S e 58 o 31’ a<br />

58 o 57’W). A área apresenta pluviosi<strong>da</strong>de média de 2.200<br />

mm anuais e temperatura média de 26 o C.<br />

Visando comparar áreas de floresta preserva<strong>da</strong> e áreas<br />

que sofreram diferentes impactos em relação ao corte<br />

seletivo de madeiras, três ambientes diferentes foram<br />

investigados: 1- área de floresta primária livre de<br />

perturbação; 2- área de floresta onde o corte seletivo foi<br />

realizado em 1999 e 3- trilhas abertas para o arraste de<br />

madeira ao longo <strong>da</strong> área explora<strong>da</strong>.<br />

Três transectos de 50 metros de comprimento<br />

eqüidistantes 50 metros foram percorridos ao longo de ca<strong>da</strong><br />

ÍNDICE DE LUMINOSIDADE<br />

DISTÂNCIA MÉDIA (CM)<br />

4<br />

3<br />

2<br />

1<br />

250<br />

200<br />

150<br />

100<br />

c m t<br />

AMBIENTES<br />

c m t<br />

AMBIENTES<br />

20 Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002<br />

DAP MÉDIO (CM)<br />

ALTURA DO FOLHIÇO (CM)<br />

13<br />

12<br />

11<br />

10<br />

6<br />

5<br />

4<br />

3<br />

2<br />

1<br />

9<br />

8<br />

um dos ambientes estu<strong>da</strong>dos (Fig. 1). Os transectos ao longo<br />

<strong>da</strong>s trilhas de arraste situaram-se a uma distância de 5 metros<br />

em direção ao interior <strong>da</strong> mata, devido ao fato destes locais<br />

encontrarem-se em um estágio primário de sucessão.<br />

Figura 1. Esquema de transectos utilizados para amostrar<br />

a estrutura <strong>da</strong> vegetação nas áreas estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s, na Mil<br />

Madereira, Itacoatiara, AM.<br />

c m t<br />

AMBIENTES<br />

c m t<br />

AMBIENTES<br />

DENSIDADE DE CIPÓS<br />

DENSIDADE DE PLÂNTULAS<br />

7<br />

6<br />

5<br />

4<br />

3<br />

2<br />

1<br />

0<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

c m t<br />

AMBIENTES<br />

c m t<br />

AMBIENTES


DENSIDADE DE ARBUSTOS<br />

35<br />

30<br />

25<br />

20<br />

15<br />

10<br />

5<br />

Figura 2. Gráficos representando os <strong>da</strong>dos obtidos em ca<strong>da</strong> um dos ambientes estu<strong>da</strong>dos para ca<strong>da</strong> variável mensura<strong>da</strong>.<br />

c- área conserva<strong>da</strong>; m- área no interior <strong>da</strong> área explora<strong>da</strong>; t- área próxima às trilhas de arraste ao longo <strong>da</strong> área<br />

explora<strong>da</strong> na Mil Madeireira, Itacoatiara, AM.<br />

ÍNDICE DE LUMINOSIDADE<br />

4<br />

3<br />

2<br />

c m t<br />

AMBIENTES<br />

1<br />

8 9 10 11 12 13<br />

DAP MÉDIO (CM)<br />

Para as variáveis que apresentaram diferenças<br />

significativas entre os ambientes estu<strong>da</strong>dos realizamos,<br />

posteriormente, análises de regressão linear. O índice de<br />

luminosi<strong>da</strong>de apresentou relação negativa em relação ao<br />

DAP médio <strong>da</strong>s árvores mais próximas (r 2 =0,878; P=0,019).<br />

A densi<strong>da</strong>de de cipós, por outro lado, apresentou relação<br />

positiva com índice de luminosi<strong>da</strong>de (r 2 =0,859 P=0,003)<br />

(Fig. 3).<br />

DENSIDADE DE CIPÓS<br />

7<br />

6<br />

5<br />

4<br />

3<br />

2<br />

1<br />

0<br />

1 2 3 4<br />

ÍNDICE DE LUMINOSIDADE<br />

Figura 3. Análises de regressão linear entre o DAP médio (cm) e o índice de luminosi<strong>da</strong>de e entre o índice de<br />

luminosi<strong>da</strong>de e a densi<strong>da</strong>de de cipós.<br />

Discussão<br />

Encontramos maior luminosi<strong>da</strong>de na área de extração que<br />

na área preserva<strong>da</strong> e essa parece estar influenciando a<br />

abundância de cipós e no número de árvores de porte menor<br />

nos pontos ao longo do transecto. Este padrão foi também<br />

observado por Laurence (2001) na Amazônia brasileira e<br />

Mason (1996) e Mason apud Rittl (1998) em uma floresta<br />

submeti<strong>da</strong> a exploração na Venezuela. Os mesmos padrões<br />

obtidos neste estudo para cipós foram verificados após a<br />

NÚMERO MÉDIO DE EPÍFITAS<br />

0.9<br />

0.8<br />

0.7<br />

0.6<br />

0.5<br />

0.4<br />

0.3<br />

0.2<br />

0.1<br />

0.0<br />

c m t<br />

AMBIENTES<br />

DENSIDADE DE PALMEIRAS<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

c m t<br />

AMBIENTES<br />

extração de madeiras em floresta tropical na Malásia (Pinard<br />

& Putz 1992 apud Rittl 1998).<br />

O padrão de luminosi<strong>da</strong>de na <strong>Floresta</strong> Amazônica vem<br />

se modificando devido, principalmente, ao efeito <strong>da</strong><br />

ativi<strong>da</strong>de madeireira na região (Muggiati & Gondim 1996).<br />

Possivelmente outras mu<strong>da</strong>nças em nível estrutural, como<br />

a quanti<strong>da</strong>de de epífitas, palmeiras, arbustos e plântulas não<br />

tenham ocorrido e talvez tenham não venham a ocorrer em<br />

um curto período de tempo, ou talvez somente não tenham<br />

sido observa<strong>da</strong> neste estudo. Muitas destas alterações<br />

estruturais vegetais só podem ser verifica<strong>da</strong>s em períodos<br />

longos não podendo ser mensura<strong>da</strong>s num período de tempo<br />

curto como por exemplo três anos como observado na área<br />

de estudo. Além disso o efeito <strong>da</strong> distância <strong>da</strong> mata contínua<br />

(matriz) sobre a estra<strong>da</strong>s de exploração, podem atuar como<br />

tampão, mitigando a curto prazo os <strong>da</strong>nos <strong>da</strong>s alterações<br />

causa<strong>da</strong>s pela extração de madeira.<br />

Estudos ligados a composição <strong>da</strong>s espécies são<br />

Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002 21


necessários, pois embora os parâmetros estruturais não<br />

apresentassem mu<strong>da</strong>nças, as composições de espécies<br />

podem ser diferentes.<br />

Agradecimentos<br />

Agradecemos às instituições que nos deram a<br />

oportuni<strong>da</strong>de de participar do Curso de Campo <strong>Ecologia</strong><br />

2002: INPA e SMITHSONIAN INSTITUTION; à<br />

organização do Curso, e à orientação de Ana Luisa Albernaz<br />

Gostaríamos de agradecer ain<strong>da</strong> a indispensável<br />

assessoria do Marcelo (Pinguela) e Ossírio (Juruna).<br />

Referências bibliográficas<br />

Anon. 1999. Cresce devastação na Amazonia. Jornal do<br />

Brasil, Rio de Janeiro, Brazil, 28 March, p.7.<br />

Higuchi, N. 2001. Selective logging in the Brazilian<br />

Amazon – its relationship to deforestation and the<br />

International Tropical Hardwood Market. In Pp: 335-<br />

345, Lessons from Amazonia – the ecology and<br />

conservation of a fragmented forest. R.O. Bierregaard<br />

Jr.,C. Gascon, T. E. Lovejoy and R. Mesquita (eds.).<br />

Laurance, W. F. 1999. Introduction and synthesis.<br />

Biological Conservation, 91: 101-107.<br />

Laurance, W. F. 2001, Fragmentation and plant communi-<br />

Introdução<br />

O acelerado desmatamento <strong>da</strong>s florestas tropicais tem<br />

como uma de suas principais causas a exploração de madeira<br />

na Amazônia brasileira (INPE 1998). Entre 1995 e 1997<br />

foram desmatados na Amazônia cerca de 6 milhões de hectares.<br />

A extração de madeira pode causar uma série de impactos<br />

ao ecossistema (INPE 1998), como a redução <strong>da</strong> biomassa<br />

arbórea e um aumento <strong>da</strong> mortali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s plantas nas<br />

proximi<strong>da</strong>des <strong>da</strong>s áreas de extração (Johns et al. 1996). A<br />

exploração madeireira <strong>da</strong> floresta também pode resultar na<br />

compactação do solo e na redução <strong>da</strong> abundância e<br />

diversi<strong>da</strong>de de alguns grupos de animais (Parrotta 2002).<br />

22 Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002<br />

ties, Synthesis and implication for Landscape Management<br />

In: Lessons from Amazonia , The Ecology and<br />

conservation of a fragmented forest, Bierregaard, Jr,<br />

R.O.B.; Gascon, C; Lovejoy, T.E.; & Mesquita, R.,<br />

Yale University Press, New Haven and London.<br />

Mason, D. 1996. Responses of Venezuelan understory<br />

birds to selective logging, enrichment strips and vine<br />

cutting. Biotropica, 28 (3): 296-309.<br />

Muggiati, A. and A. Gondim. As madeireiras. Folha de<br />

São Paulo, 16 de setembro de 1996.<br />

Pinard, M. A. and F. F. Putz. 1992. Vine infestation of<br />

large remant trees in logged forest in Sabah, Malysisa:<br />

biomechanical facilitation in vine sucession. Journal of<br />

Tropical Forest Science, 6 (3): 302-309.<br />

Rittl, C. E. F. 1998. Efeitos <strong>da</strong> extração seletiva de<br />

madeira sobre a comuni<strong>da</strong>de de pequenos mamíferos<br />

de uma floresta de terras firme na Amazônia Central.<br />

Dissertação de mestrado pelo Programa de Pós-<br />

Graduação em Biologia Tropical e Recursos Naturais<br />

do Convênio entre o Instituto Nacional de Pesquisas<br />

<strong>da</strong> Amazônia e a Universi<strong>da</strong>de do Amazonas.<br />

GRUPO 2 – Projeto Orientado 2<br />

Orientador: Ana Luisa Albernaz<br />

Comparação <strong>da</strong> biomassa e abundância de lianas entre<br />

uma área de floresta preserva<strong>da</strong> e uma com exploração<br />

seletiva de madeira na Amazônia<br />

Eduardo Cardoso Teixeira, George Camargo, Flaviana Maluf de Souza, Carina Lima <strong>da</strong> Silveira, Vanina Zini Antunes<br />

Além <strong>da</strong>s árvores, as lianas também são afeta<strong>da</strong>s pela<br />

extração de madeira. Por questões de segurança e agili<strong>da</strong>de<br />

no campo, os trabalhadores seccionam as lianas <strong>da</strong>s árvores<br />

seleciona<strong>da</strong>s para o corte evitando que se enrosquem em<br />

outras, e que causem desvios na rota de que<strong>da</strong> <strong>da</strong>s árvores<br />

corta<strong>da</strong>s,o que pode provocar graves acidentes de trabalho.<br />

Embora recebam pouca atenção dos pesquisadores,<br />

principalmente pelas dificul<strong>da</strong>des de acesso à copa <strong>da</strong>s<br />

árvores onde ficam situa<strong>da</strong>s (Putz 1984), as lianas têm um<br />

papel importante na composição <strong>da</strong> floresta. Estudos em<br />

florestas tropicais registraram que cerca de 45% <strong>da</strong>s árvores<br />

com diâmetros superiores a 10 cm, têm suas copas ocupa<strong>da</strong>s<br />

por lianas (Putz 1983, 1984). Apesar de representar menos


de 10% <strong>da</strong> biomassa total <strong>da</strong> floresta, quase 40 % <strong>da</strong>s folhas<br />

<strong>da</strong> floresta podem ser de lianas (Ogawa et al. 1965 apud<br />

Putz 1984).<br />

As lianas são também uma rica fonte de recursos para a<br />

fauna, além de contribuir como parte <strong>da</strong> estrutura e <strong>da</strong><br />

composição florística, importante para a alta diversi<strong>da</strong>de<br />

<strong>da</strong>s florestas tropicais. Por outro lado, as lianas podem<br />

representar uma ameaça à sobrevivência <strong>da</strong>s árvores,<br />

exercendo uma forte competição por luz e espaço e causando<br />

sua morte (Putz 1984). Por isso, compreender o efeito dos<br />

distúrbios sobre essas comuni<strong>da</strong>des pode ser uma estratégia<br />

para subsidiar a proposição de práticas de manejo e<br />

exploração <strong>da</strong> floresta.<br />

O objetivo deste trabalho foi testar diferenças na<br />

densi<strong>da</strong>de, biomassa de lianas e árvores com presença de<br />

lianas em uma área de floresta preserva<strong>da</strong> e uma área com<br />

exploração seletiva de madeira na Amazônia Central.<br />

Métodos<br />

Este estudo foi realizado nas áreas <strong>da</strong> Mil madeireira<br />

Itacoatiara LTDA. entre os municípios de Silves e<br />

Itacoatiara, 230 km a leste de Manaus, Estado do Amazonas<br />

(2º43’- 3º04’S e 58º31’- 58º57’O). A temperatura média<br />

anual é de 26ºC, a pluviosi<strong>da</strong>de de 2.200mm/ano e o solo<br />

predominante é o latossolo amarelo distrófico argiloso (Rittl,<br />

2002, com. pessoal). A vegetação predominante é de floresta<br />

de terra firme. Um setor <strong>da</strong> madeireira composto de floresta<br />

preserva<strong>da</strong> e outro setor no qual a empresa realizou a<br />

extração seletiva de madeira em 1999, separados por uma<br />

estra<strong>da</strong>, foram selecionados para a amostragem de biomassa<br />

de lianas.<br />

Foram estabelecidos sete pontos em ca<strong>da</strong> tratamento,<br />

distando 10 m entre si. Em ca<strong>da</strong> tratamento foram<br />

estabeleci<strong>da</strong>s 7 parcelas de 15,0 x 15,0 m dispostas a 50 m<br />

<strong>da</strong> estra<strong>da</strong> a fim de minimizar o efeito de bor<strong>da</strong>.<br />

Em ca<strong>da</strong> parcela, foram medidos os diâmetros de lianas<br />

lenhosas com mais de 1 cm de DAP (1,30 m), com<br />

paquímetro (0,1 mm de precisão). Indivíduos arbóreos com<br />

mais de 10 cm de diâmetro que estavam suportando as lianas<br />

amostra<strong>da</strong>s foram contados. A biomassa <strong>da</strong>s lianas foi<br />

estima<strong>da</strong> com base na relação alométrica apresenta<strong>da</strong> por<br />

Putz (1983):<br />

B = 10<br />

(0,12 + 0,91*log(área seccional))<br />

Onde,<br />

B = Biomassa de lianas (Kg);<br />

Área seccional = (p*DAP 2 )/4 (cm 2 ) para ramos<br />

aproxima<strong>da</strong>mente cilíndricos ou = (D*d* p)/4 (cm 2 ) para<br />

ramos achatados (D=diâmetro maior; d=diâmetro menor).<br />

Para a análise dos <strong>da</strong>dos, utilizamos o teste t não pareado.<br />

Resultados<br />

O número e a biomassa de lianas não foram<br />

diferentes entre os tratamentos (t=0,75, p=0,469, figura 1 e<br />

t= 1,34, p=0,206, respectivamente; vide tabela 1). No<br />

entanto, o número de árvores infesta<strong>da</strong>s pelas lianas entre<br />

os ambientes foi significativamente diferente (t= 2,56, p=<br />

0,029, figura 1; vide tabela 1).<br />

Tabela 1. Média e desvio padrão do número e <strong>da</strong><br />

biomassa de cipós e do número de árvores infesta<strong>da</strong>s por<br />

lianas registrados na área de extração (E) e na área de<br />

preservação (P). Número de amostras: 7 parcelas em ca<strong>da</strong><br />

ambiente.<br />

Número de cipós Biomassa (kg) Número de árvores<br />

E 7,14 ± 8,4 1,25 ± 0,66 1,14 ± 1,06<br />

P 10 ± 5,5 1,76 ± 0,37 3,14 ± 1,78<br />

Número de árvores com lianas<br />

6<br />

5<br />

4<br />

3<br />

2<br />

1<br />

0<br />

E P<br />

Tratamentos<br />

Figura 3. Número de árvores com lianas em ca<strong>da</strong> área<br />

estu<strong>da</strong><strong>da</strong>. E - Área explora<strong>da</strong>; P - Área preserva<strong>da</strong>.<br />

Discussão<br />

A ausência de diferenças significativas na biomassa de<br />

lianas entre a floresta preserva<strong>da</strong> e a floresta explora<strong>da</strong> pode<br />

ser explica<strong>da</strong> pela alta variação observa<strong>da</strong> entre as parcelas,<br />

sendo esta maior que a variação entre os diferentes<br />

ambientes. Isto provavelmente poderia ser corrigido com o<br />

aumento do tamanho e do número de uni<strong>da</strong>des amostrais.<br />

O corte e a abertura de clareiras provocam uma maior<br />

entra<strong>da</strong> de luz no interior <strong>da</strong> floresta (Bierregaard el al.<br />

1992), propiciando um ambiente favorável para o<br />

desenvolvimento de muitas espécies, uma vez que a maioria<br />

<strong>da</strong>s lianas têm preferências por ambientes com muita luz,<br />

se desenvolvendo bem em áreas abertas (Putz 1984).<br />

A que<strong>da</strong> <strong>da</strong>s árvores e o corte de lianas na exploração<br />

madeireira poderiam causar uma redução na densi<strong>da</strong>de e<br />

biomassa de lianas a curto prazo. O menor número de árvores<br />

encontra<strong>da</strong>s com lianas na área explora<strong>da</strong> em comparação<br />

à preserva<strong>da</strong> é uma evidência deste processo. Além disso,<br />

devido ao fato de que a exploração nessa área ocorreu há<br />

apenas 3 anos, esse tempo poderia não ter sido suficiente<br />

para que as lianas se estabelecessem a ponto de recuperar a<br />

sua estrutura origial.<br />

Estudos <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de de lianas (densi<strong>da</strong>de, riqueza,<br />

biomassa etc.) deveriam ser realizados antes e após a<br />

extração seletiva de madeira na mesma área, a fim de permitir<br />

Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002 23


inferências sobre o impacto <strong>da</strong> exploração e propor<br />

estratégias de minimização desses impactos, visando a<br />

sustentabili<strong>da</strong>de não só econômica, mas também ecológica<br />

<strong>da</strong> floresta.<br />

Agradecimentos<br />

Agradecemos ao Carlos Eduardo “Jedi” Rittl pela<br />

orientação e pelo auxílio nos trabalhos de campo à Mil<br />

Madeireira, por permitir a realização do estudo em suas<br />

áreas.<br />

Referências bibliográficas<br />

Bierregaard, R.O., T. E. Lovejoy, V. Kapos, A. A. dos<br />

Santos, R. W. Hutchings. 1992. The biological<br />

dinamics of tropical rainforest fragments. Bioscience<br />

42: 859-866.<br />

INPE. 1998. Desmatamento na Amazônia. Disponível na<br />

internet.<br />

24 Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002<br />

Johns, J. S., Barreto, P. e Uhl, C. 1996. Logging <strong>da</strong>mage<br />

during planned and unplanned logging operations in<br />

the eastern Amazon. Forest Ecology and Management<br />

89: 59-77.<br />

Parrotta, J. A., J. K. Francis, O.H. Knowles. 2002.<br />

Harvesting intensity affects forest structure and<br />

composition in an upland Amazonian Forest. Forest<br />

Ecology and Management 169: 243-255.<br />

Putz, F. E. 1983. Liana biomass and leaf area of a “Tierra<br />

Firme” forest in the Rio Negro Basin, Venezuela.<br />

Biotropica 15(3): 185-189.<br />

Putz, F. E. 1984. The Natural History of Lianas on Barro<br />

Colorado Island, Panama. Ecology 65(6): 1713-1724.<br />

Grupo 3 – Projeto Orientado 2<br />

Orientador do projeto: Carlos Eduardo Rittl<br />

Herbívoros selecionam folhas compostas?<br />

Genimar Rebouças Julião, Paula Machado Pedrosa, Daniela Chaves Resende, Flavio José Soares Jr., Patricia García Tello<br />

Introdução<br />

Herbivoria e infecções por patógenos em comuni<strong>da</strong>des<br />

naturais podem ocorrer com alta freqüência , chegando a<br />

reduzir 11% <strong>da</strong> área foliar produzi<strong>da</strong> anualmente (Coley &<br />

Aide 1991). Isto pode interferir no crescimento e na<br />

reprodução de indivíduos, já que a planta ataca<strong>da</strong> irá desviar<br />

recursos para compensar o <strong>da</strong>no causado (Janzen 1970,<br />

Dirzo 1984, Clark & Clark 1985, Dirzo & Miran<strong>da</strong> 1991).<br />

Desta forma, as plantas desenvolveram mecanismos de<br />

defesa contra os herbívoros, tanto químicas quanto físicas,<br />

sendo a fase jovem <strong>da</strong> planta a mais susceptível à herbivoria.<br />

Como estratégias de defesa, plantas podem apresentar<br />

metabólitos secundários, crescimento rápido <strong>da</strong>s folhas<br />

jovens, produção sincroniza<strong>da</strong> de folhas (efeito de saciação<br />

do pre<strong>da</strong>dor), tricomas, clorofilamento tardio, associação<br />

com formigas (Coley & Aide 1991) e até morte/suicídio de<br />

células e/ou tecidos atacados (Fernandes & Negreiros 2002).<br />

No entanto, Cornelissen & Fernandes (2001) observaram<br />

que a concentração de compostos secundários e a taxa de<br />

herbivoria se relacionam fracamente na planta hospedeira<br />

Bauhinia brevipes (Leguminosae), mostrando que outras<br />

formas de defesa precisam ser estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s.<br />

Gonsales e colaboradores (2002) notaram que a<br />

morfologia foliar de arecáceas poderia atuar,<br />

alternativamente, como uma forma de defesa contra<br />

herbívoros. Determina<strong>da</strong>s formas de folha associa<strong>da</strong>s a uma<br />

defesa induzi<strong>da</strong> (que desencadeia processos de defesa<br />

química) poderiam sinalizar a presença de compostos<br />

químicos repelentes ou tóxicas. Além disso, folhas com a<br />

margem serrea<strong>da</strong> podem aparentar que são folhas<br />

previamente ataca<strong>da</strong>s. Assim, um herbívoro evitaria a<br />

utilização de um recurso aparentemente atacado por outros<br />

herbívoros. Alternativamente, pássaros poderiam ser<br />

atraídos por este morfotipo de folha que sinalizaria a<br />

presença de herbívoros.<br />

A partir do estudo desenvolvido por Gonsales et al.<br />

(2002), baseamos nossa hipótese na idéia de que as plantas<br />

com diferentes tipos morfológicos de folhas (simples,<br />

composta, palma<strong>da</strong>, loba<strong>da</strong> digita<strong>da</strong>) podem sofrer<br />

herbivoria diferencia<strong>da</strong>. Neste estudo, hipotetizamos que<br />

plantas que apresentam folhas compostas seriam menos<br />

ataca<strong>da</strong>s que plantas com folhas simples, uma vez que a<br />

relação margem/limbo é maior, ocorrendo assim uma<br />

“diluição” <strong>da</strong> área foliar. Assim, a presença de folíolos numa<br />

folha (folha composta) minimiza os <strong>da</strong>nos que poderiam<br />

ser encontrados em uma única folha (folha simples). A<br />

descontinui<strong>da</strong>de espacial na folha composta atuaria como<br />

uma barreira à herbivoria.<br />

Metodologia<br />

Este estudo foi realizado no compartimento “N” <strong>da</strong> área<br />

de produção florestal <strong>da</strong> Mil Madereira, área onde houve<br />

extração seletiva de madeira há três anos. A coleta foi feita<br />

na área <strong>da</strong> bor<strong>da</strong>, em função <strong>da</strong> maior heterogenei<strong>da</strong>de e<br />

maior disponibili<strong>da</strong>de de espécies para serem utiliza<strong>da</strong>s<br />

como amostras independentes. Para isso, coletou-se em<br />

vários pontos ao longo <strong>da</strong> bor<strong>da</strong>, utilizando áreas naturais e<br />

maneja<strong>da</strong>s. As espécies foram coleta<strong>da</strong>s com podão ou,


quando acessíveis, com tesoura de po<strong>da</strong>.<br />

A coleta ocorreu no início <strong>da</strong> estação chuvosa (novembro)<br />

e a uni<strong>da</strong>de amostral utiliza<strong>da</strong> foram folhas <strong>da</strong>s espécies<br />

que apresentavam sinais de herbivoria. De ca<strong>da</strong> planta,<br />

retiramos ramos suficientes para que pudéssemos selecionar<br />

10 folhas ataca<strong>da</strong>s. As folhas foram então seleciona<strong>da</strong>s<br />

através de uma tabela de aleatorização e fotografa<strong>da</strong>s com<br />

uma câmara digital. A área foliar total, a área <strong>da</strong>nifica<strong>da</strong><br />

total e a área ataca<strong>da</strong> na margem e no interior <strong>da</strong> folha foram<br />

medi<strong>da</strong>s através do sofware Adobe Photoshop 6.0. O<br />

perímetro de ca<strong>da</strong> folha foi medido manualmente. Após<br />

transformação, através de escala padrão, as áreas foram<br />

quantifica<strong>da</strong>s em milímetros quadrados. Esta técnica foi<br />

realiza<strong>da</strong> para 14 espécies de plantas que foram<br />

identifica<strong>da</strong>s, no mínimo em nível de família.<br />

Para avaliar o efeito proporcional do tamanho <strong>da</strong> margem<br />

<strong>da</strong>s folhas de ca<strong>da</strong> espécie, desconsiderando o efeito <strong>da</strong> área<br />

foliar , estabelecemos uma razão entre os valores de<br />

perímetro e área total <strong>da</strong> folha. Primeiramente, foi testado<br />

se as plantas estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s eram mais ataca<strong>da</strong>s na margem ou<br />

no limbo <strong>da</strong> folha, através de um teste t pareado.<br />

Posteriormente, foi feita uma regressão linear com os <strong>da</strong>dos<br />

<strong>da</strong> razão bor<strong>da</strong>/superfície e a área de herbivoria total.<br />

Finalmente, testou-se o efeito <strong>da</strong> razão margem (bor<strong>da</strong>)/<br />

limbo (superfície) sobre a área de herbivoria na margem<br />

<strong>da</strong>s folhas.<br />

Resultados<br />

As folhas <strong>da</strong>s espécies estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s foram igualmente<br />

ataca<strong>da</strong>s, tanto na margem quanto no limbo (t=1,42;G.L.=12;<br />

p=0,17; Figura 1). Os valores obtidos a partir do teste t<br />

mostraram que não há relação entre a área total de herbivoria<br />

e a razão entre margem e limbo (t=0,074; p=0,94; GL=7;<br />

R 2 =0,007). Da mesma forma, não houve relação entre a<br />

razão margem/limbo e a área ataca<strong>da</strong> na margem (t=0,053;<br />

p=0,95; GL=7; R 2 =0,003).<br />

3000<br />

2000<br />

1000<br />

0<br />

Limbo Bor<strong>da</strong><br />

Figura 1. Média <strong>da</strong> área foliar ataca<strong>da</strong> no limbo e na<br />

bor<strong>da</strong> (margem) nas espécies vegetais estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s na Mil<br />

Madereira, Amazônia Central.<br />

Discussão<br />

Não houve diferenças significativas na área consumi<strong>da</strong><br />

por herbívoros na margem e no limbo <strong>da</strong> folha. Além disso,<br />

verificamos que folhas compostas e simples possuem<br />

quanti<strong>da</strong>des de herbivoria similares, calcula<strong>da</strong> a partir <strong>da</strong><br />

área foliar. Apesar de esperarmos que as folhas com maior<br />

razão entre margem e limbo (folhas compostas)<br />

apresentariam menos <strong>da</strong>nos causados por herbivoria, o<br />

aumento proporcional de bor<strong>da</strong>s, comparado a superfície<br />

foliar, parece não conferir maior grau de proteção contra<br />

herbivoria.<br />

Coley (1983) avaliou uma série de características<br />

defensivas de folhas e, entre elas, a espessura explicou cerca<br />

de 70% <strong>da</strong> variação nas taxas de herbivoria em folhas<br />

maduras . Uma maior ou menor espessura pode limitar a<br />

utilização por herbívoros que não possuam aparelhos bucais<br />

adequados a utilização do recurso vegetal. Um bioensaio<br />

proposto por Ribeiro et al. (1994) demostrou que uma<br />

espécie de Hemiptera e outra de Homoptera selecionam<br />

diferentemente discos de folhas de Tabebuia ochracea<br />

(Bignoniaceae). No caso do hemíptero, o fator de seleção<br />

no alimento foi a distribuição diferencial de folhas pequenas<br />

e grandes, enquanto a densi<strong>da</strong>de de tricomas de T. ochracea<br />

foi o fator de seleção do homóptero. A partir destas<br />

informações, podemos inferir que a mediação <strong>da</strong> relação<br />

herbívoro-planta através de defesas físicas e químicas é<br />

bastante complexa. Características morfológicas <strong>da</strong> planta<br />

podem ter um papel defensivo secundário. No entanto, a<br />

contribuição de ca<strong>da</strong> um dos tipos de defesa química e/ou<br />

mecânica pode não ser tão evidente, sendo necessários<br />

estudos mais refinados.<br />

As plantas estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s apresentavam uma série de<br />

características que muito provavelmente também afetam a<br />

resistência <strong>da</strong>s plantas à herbivoria, mas que não foram<br />

controla<strong>da</strong>s neste experimento, em função do baixo número<br />

de amostras. Estas características devem ser mais<br />

importantes para a proteção <strong>da</strong> folha e, com isso, podem ter<br />

obscurecido algum possível efeito do aumento <strong>da</strong> margem<br />

<strong>da</strong> folha como defesa nas espécies de folhas compostas.<br />

Referências Bibliográficas<br />

Clark, D.B & D.A. Clark. 1985. Seedling dynamics of a<br />

tropical tree: impacts of herbivory and meristem<br />

<strong>da</strong>mage. Ecology 66: 1884-1892.<br />

Coley, P.D. 1983. Herbivory and defensive characteristics<br />

of tree species in a lowland tropical forest. Ecological<br />

Monographs 53: 209-233.<br />

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forests. pp. 25-49 in P.W Price, T.M.<br />

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Plant-Animal Interactions: Evolutionary Ecology in<br />

Tropical Temperate Regions. John Wiley and Sons,<br />

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Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002 25


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Dirzo, R. 1984. Herbivory, a phytocentric overview. Pp.<br />

141-165 in R. Dirzo & J. Sarukhan, editors. Perspectives<br />

in Plant Population Biology. Sinauer, Sunderland,<br />

MA.<br />

Dirzo, R. & A. Miran<strong>da</strong>. 1991. Altered patterns of<br />

herbivory and diversity in the forest understory: A case<br />

study of possible consequences of contemporary<br />

defaunation. Pp. 273-287 in in P.W Price, T.M.<br />

Lewinsohn, G.W. Fernandes & WW Benson, editors.<br />

Plant-Animal Interactions: Evolutionary Ecology in<br />

Tropical Temperate Regions. John Wiley and Sons,<br />

New York.<br />

Fernandes, G.W. & D. Negreiros. 2001.The occurrence<br />

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galling herbivores across host taxa. Ecological<br />

Entomology 26: 46-55.<br />

Gonsales, E.L.; F.M. Coelho, G.Q. Romero, J.C. Santos,<br />

M. Uehara-Prado. 2002. Morfologia foliar e<br />

herbivoria: mecanismo de engano para herbívoros? pp<br />

in Curso “<strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica”, INPA/<br />

Smithsonian, 3 de julho a 3 de agosto de 2002.<br />

Janzen, D.H. 1970. Herbivores and the number of tree<br />

species in tropical forest. American Naturalist 104:<br />

501-528.<br />

Ribeiro, S.P.; H.R. Pimenta & G.W. Fernandes. 1994.<br />

Herbivory by chewing and sucking insects on<br />

Tabebuia ochraceae. Biotropica 26: 302-307.<br />

Grupo 4 - Projeto Orientado 2<br />

Orientador: Mike Hopkins<br />

Influência <strong>da</strong> exploração madeireira na diversi<strong>da</strong>de e<br />

abundância de aranhas<br />

Eduardo Vasconcelos, Daniela Chaves Resende, Genimar Rebouças Julião, Paula Machado Pedrosa, Yumi Oki<br />

Introdução<br />

As espécies de plantas e de animais são freqüentemente<br />

a<strong>da</strong>pta<strong>da</strong>s a condições micro-climáticas específicas, tais<br />

como, níveis de temperatura, de umi<strong>da</strong>de e de luminosi<strong>da</strong>de.<br />

Quando uma área de mata é explora<strong>da</strong>, a abertura de clareiras<br />

modifica drasticamente essas condições, o que pode<br />

acarretar o desaparecimento local de determina<strong>da</strong>s espécies<br />

estenobiontes (Primack,1993).<br />

A extração seletiva de árvores causa um aumento <strong>da</strong><br />

intensi<strong>da</strong>de luminosa, no interior <strong>da</strong> floresta, o que favorece<br />

o aumento populacional de espécies de plantas de<br />

crescimento rápido e diminui a abundância de espécies<br />

tolerantes a sombra (Chambers, et al., 2001). Tal<br />

configuração vegetal é importante para distribuição <strong>da</strong>s<br />

espécies de fauna em todos os níveis.<br />

Os invertebrados apresentam uma grande importância em<br />

ecossistemas tropicais, em função de seu grande número de<br />

espécies, sua maior biomassa e sua maior diversi<strong>da</strong>de em<br />

relação a todos os demais grupos de animais (Wilson, 1987).<br />

As aranhas, por sua vez, são um grupo bastante diversificado<br />

e abun<strong>da</strong>nte, que desempenha um importante papel na teia<br />

trófica, atuando como pre<strong>da</strong>dores e, indiretamente,<br />

controlando muitas populações animais, como por exemplo,<br />

de alguns insetos. Por outro lado, são pre<strong>da</strong><strong>da</strong>s por uma<br />

série de outros grupos de animais, entre eles vespas e<br />

libélulas (Borror & De Long, 1988).<br />

A mu<strong>da</strong>nça <strong>da</strong> complexi<strong>da</strong>de e <strong>da</strong> heterogenei<strong>da</strong>de na<br />

estrutura <strong>da</strong> vegetação em áreas sob exploração madeireira<br />

provavelmente interfere na riqueza e na abundância <strong>da</strong> fauna<br />

de aranhas encontra<strong>da</strong>s na vegetação de sub-bosque. Assim,<br />

neste trabalho nos propusemos a responder algumas<br />

perguntas: 1. O uso de uma área de mata para a extração<br />

seletiva de madeira afeta a riqueza e diversi<strong>da</strong>de de aranhas?<br />

2. A distribuição de abundância entre as espécies é<br />

semelhante em área preserva<strong>da</strong> e área explora<strong>da</strong>? 3. Caso<br />

haja um grupo dominante, ele é o mesmo na área explora<strong>da</strong><br />

e na área de preservação?<br />

Métodos<br />

O estudo foi desenvolvido na área de produção florestal<br />

<strong>da</strong> Mil Madereira (02° 43 20° 41’S; 58° 31' 58° 57’W), no<br />

compartimento de produção anual (CPA) N e na área de<br />

preservação permanente <strong>da</strong> fazen<strong>da</strong>. O CPA N é um<br />

compartimento que foi explorado a cerca de 3 anos estando,<br />

atualmente, em fase de recuperação, fato claramente<br />

percebido pelo adensamento do sub-bosque.<br />

Marcamos 8 transectos de 30 metros, a cerca de 30 metros<br />

<strong>da</strong> bor<strong>da</strong>: 4 transectos na área preserva<strong>da</strong> e 4 na área<br />

explora<strong>da</strong>. Ao longo de ca<strong>da</strong> transecto, 20 indivíduos de<br />

plantas arbustivas, independentemente <strong>da</strong> espécie, foram<br />

tomados aleatoriamente como réplicas. A coleta <strong>da</strong>s aranhas<br />

foi realiza<strong>da</strong> através do método de guar<strong>da</strong>-chuva


entomológico.<br />

Avaliamos a riqueza em espécies nas duas área estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s<br />

por meio do cálculo do índice de Jackknife (Krebs,1998),<br />

que permite a comparação entre as áreas, já que calcula um<br />

intervalo de confiança para a estimativa. Para determinarmos<br />

os graus de dominância e a similari<strong>da</strong>de entre os grupos de<br />

aranhas presentes duas áreas, estimamos os índices de<br />

equitativi<strong>da</strong>de (Evenness) e de Jaccard (Krebs,1998). Para<br />

verificar nossas hipóteses, fizemos um dendrograma através<br />

<strong>da</strong> distância euclidiana para analisar a similari<strong>da</strong>de entre as<br />

amostras <strong>da</strong>s duas áreas estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s. Para observar a<br />

dominância de espécies em ca<strong>da</strong> área, foram feitos<br />

histogramas <strong>da</strong>s áreas, explora<strong>da</strong> e preserva<strong>da</strong> .<br />

Resultados<br />

29 espécies de aranhas na área explora<strong>da</strong> e 16 espécies<br />

na área de preservação, sendo que destas, 11 espécies foram<br />

comuns nos dois ambientes.<br />

O cálculo dos índices de equitativi<strong>da</strong>de para os pontos<br />

estu<strong>da</strong>dos mostrou que, nos dois ambientes, não houve uma<br />

espécie dominante (Tabela 1; Figuras 2 e 3).<br />

Tabela 1. Índices de equitativi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s amostras de<br />

aranhas coleta<strong>da</strong>s em área de extração de madereira (Ei)<br />

e de preservação (Pi) na Madereira Mil.<br />

Amostras Índice de Shannon<br />

(Equitativi<strong>da</strong>de)<br />

E1 0.88<br />

E2 0.98<br />

E3 0.99<br />

E4 0.98<br />

P1 0.94<br />

P2 0.98<br />

P3 0.95<br />

6.5<br />

6.0<br />

5.5<br />

5.0<br />

4.5<br />

4.0<br />

3.5<br />

3.0<br />

2.5<br />

E4 E2 P2 P1 E3 P3 E1<br />

Figura 1. Dendrograma calculado pela Distância<br />

Euclidiana entre os pontos amostrados, nas duas áreas<br />

estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s, baseado nos índices de similari<strong>da</strong>de.<br />

A similari<strong>da</strong>de geral entre as amostras dos dois ambientes<br />

foi de 24,4%. As espécies aparentemente mais abun<strong>da</strong>ntes<br />

nos dois ambientes são as mesmas. No entanto podemos<br />

verificar que a espécie 15, que é relativamente abun<strong>da</strong>nte<br />

na área explora<strong>da</strong> (3 indivíduos) não foi amostra<strong>da</strong> na área<br />

preserva<strong>da</strong>. A presença de algumas espécies na área<br />

preserva<strong>da</strong>, tais como as espécies 29 e 32, também não pode<br />

ser confirma<strong>da</strong> na área explora<strong>da</strong> (Figuras 2 e 3).<br />

Frequência<br />

7<br />

6<br />

5<br />

4<br />

3<br />

2<br />

1<br />

0<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

13 9 111522344 5 7 16171921 1 2 3 6 8 10121418202324252631332932<br />

Morfoespécies<br />

Figura 2. Distribuição <strong>da</strong> abundância <strong>da</strong>s morfoespécies<br />

de aranhas presentes na área explora<strong>da</strong>.<br />

Frequência<br />

7<br />

6<br />

5<br />

4<br />

3<br />

2<br />

1<br />

0<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

11 13 9 23 24 6 28 3 4 19 25 29 30 32 1 2 5 7 8 10 12 14 15 16 17 18 20 26 27 33 34<br />

Morfoespécies<br />

Figura 3. Distribuição <strong>da</strong> abundância <strong>da</strong>s morfoespécies<br />

de aranhas presentes na área preserva<strong>da</strong>.<br />

Discussão<br />

No workshop promovido pelo projeto BIONTE (1998),<br />

em Manaus, a principal conclusão que se tirou foi de que o<br />

problema central do manejo florestal do estado do Amazonas<br />

é que a extração de madeira não é feita de modo sustentável.<br />

Como conseqüência, há o risco de que, com o tempo, o<br />

suprimento dos produtos <strong>da</strong> madeira comece a diminuir no<br />

mercado e, ao mesmo tempo, de que haja uma séria ameaça<br />

à integri<strong>da</strong>de dos ecossistemas amazônicos.<br />

Apesar disto, podemos dizer que de acordo com nossos<br />

resultados, a extração seletiva de madeira não afeta a<br />

comuni<strong>da</strong>de de aranhas de maneira expressiva. Se a curva<br />

de espécies/área fosse feita não teríamos chegado à<br />

estabilização, visto que <strong>da</strong> primeira à última amostra<br />

morfoespécies ain<strong>da</strong> não coligidos cairão cairam na<br />

amostragem. Isto indica que é arriscado fazermos qualquer<br />

Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002 27


afirmação sobre diversi<strong>da</strong>de de espécies nos dois ambientes<br />

estu<strong>da</strong>dos.<br />

Era esperado que os pontos amostrados nas diferentes<br />

áreas (explora<strong>da</strong> e preserva<strong>da</strong>) fossem agrupados<br />

separa<strong>da</strong>mente no dendrograma. Isto não foi observado<br />

devido à pouca similari<strong>da</strong>de entre os pontos amostrados,<br />

inclusive dentro do mesmo ambiente (Figura 1). O que indica<br />

que a diferença observa<strong>da</strong> pode ser devido ao acaso.<br />

Também esperávamos que houvesse dominância de algumas<br />

espécies nos diferentes ambientes, mas os índices de<br />

equitativi<strong>da</strong>de observados não confirmam isso. Isto pode<br />

ter ocorrido pelo fato de termos poucos exemplares de ca<strong>da</strong><br />

espécie, a maioria contando com um único indivíduo<br />

coletado.<br />

Podemos concluir que a riqueza e a freqüência de aranhas<br />

no sub-bosque foram maiores na área explora<strong>da</strong>. Uma<br />

possível explicação é a heterogenei<strong>da</strong>de do sub-bosque <strong>da</strong>s<br />

áreas que foram explora<strong>da</strong>s. Estas possuem uma composição<br />

de arbustos mais diversa, provavelmente, devido à abertura<br />

de clareiras que resultaram <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de de corte seletivo,<br />

propiciando maior número de nichos.<br />

Agradecimentos<br />

Agradecemos ao Eduardo Venticinque, Ocírio Pereira<br />

(Juruna) e ao Marcelo Moreira (Pinguela) pela troca de<br />

28 Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002<br />

idéias, discussões e assessoria.<br />

Referências bibliográficas<br />

BIONTE. 1998. Biomass and Nutrients in the Environment.<br />

Final report of the ODA- INPA Collaborative<br />

Project. Instituto Nacional de Pesquisas <strong>da</strong> Amazônia,<br />

Manaus, Brazil.<br />

Borror, D.J. & DeLong, D.M. 1988. Introdução ao<br />

Estudo dos Insetos. Edgard Blücher, São Paulo, pp.<br />

563.<br />

Chambers, J.Q.; Eldin, T.V.; Southon, J. & Higushi, N.<br />

2001. The Age Structure in Tropical Forests of Central<br />

Amazonia. in pp 68-77, Bierregaard, R.O. Jr.; Gascon,<br />

C.; Lovejoy, T.E. & Mesquita, R.C.G. (ed.) The<br />

Ecology and Conservation of a Fragmented Forest.<br />

Yale University Press.<br />

Krebs, C.J. 1998. Ecological Methodology. Addison<br />

Wesley Longman, Menlo Park, pp. 620.<br />

Primack, R.B. 1993. Essentials of Conservation Biology.<br />

Sinauer Associates Inc., Sunderland, 564 pp.<br />

Wilson, E. O. 1987. The Arboreal ant Fauna of Peruvian<br />

Amazon Forest: a First Assessment. Biotropica 19:<br />

245-251.<br />

Projeto Livre 1<br />

Efeito <strong>da</strong> extração seletiva de madeira na comuni<strong>da</strong>de<br />

de formigas em diferentes escalas<br />

Eduardo Cardoso Teixeira, Ana Paula Carmignotto, George Camargo, Josué Ribeiro <strong>da</strong> Silva Nunes, Patrícia Garcia Tello, Sylvia<br />

Introdução<br />

A extração de madeiras é uma <strong>da</strong>s principais ativi<strong>da</strong>des<br />

antrópicas que têm contribuído para o aumento <strong>da</strong> taxa de<br />

desmatamento na Amazônia (INPE, 1998). Atualmente,<br />

algumas madeireiras têm praticado o corte seletivo de<br />

árvores retirando <strong>da</strong> floresta apenas espécies de valor<br />

econômico. Porém, há poucos estudos sobre o efeito <strong>da</strong><br />

extração seletiva sobre comuni<strong>da</strong>des animais (Rittl, 1998).<br />

Sabemos, no entanto, que o processo de desmatamento é<br />

responsável pela per<strong>da</strong> e isolamento de habitats, resultando<br />

no decréscimo <strong>da</strong> diversi<strong>da</strong>de biológica (Major et al., 1999).<br />

A criação de novos hábitats, devido a alterações do ambiente,<br />

por outro lado, elevam a riqueza de espécies de muitas áreas,<br />

permitindo que espécies generalistas esten<strong>da</strong>m suas áreas<br />

de ocupação (Gibb & Hochuli, 2002).<br />

A diversi<strong>da</strong>de de espécies dentro de uma paisagem<br />

Miscow Mendel e Vanina Zini Antunes<br />

depende <strong>da</strong> escala espacial na qual as comuni<strong>da</strong>des são<br />

amostra<strong>da</strong>s. Em geral, os efeitos dos distúrbios em florestas<br />

tropicais têm sido estu<strong>da</strong>dos em uma grande extensão de<br />

escalas espaciais. A questão de como os distúrbios afetam a<br />

diversi<strong>da</strong>de em diferentes escalas espaciais ain<strong>da</strong> não foi<br />

investiga<strong>da</strong> para artrópodos (Hamer & Hill, 2000;<br />

Guimarães et al., 2001).<br />

As formigas (Hymenoptera: Formici<strong>da</strong>e) podem ser<br />

considera<strong>da</strong>s como indicadoras de perturbação e de status<br />

de conservação de habitats (Holldobler & Wilson, 1990),<br />

pois são organismos sensíveis a alterações na complexi<strong>da</strong>de<br />

estrutural do habitat (Santos et al., 1999). Nesse sentido, os<br />

objetivos deste trabalho foram avaliar o efeito <strong>da</strong> extração<br />

seletiva de madeira sobre a comuni<strong>da</strong>de de formigas e<br />

analisar como este efeito ocorre em diferentes escalas<br />

espaciais.


Métodos<br />

O estudo foi realizado na área do compartimento ‘N’<br />

pertencente à Madereira Itacoatiara Limita<strong>da</strong> (2 o 43’ - 3 o 04’<br />

S; 58 o 31’ - 58 o 57’W), que passou por corte seletivo em 1999,<br />

e em uma área de preservação permanente <strong>da</strong> madeireira<br />

separa<strong>da</strong> do compartimento ‘N’ por uma estra<strong>da</strong> de terra.<br />

A região apresenta precipitação média anual de 2.200 mm<br />

e temperatura média anual de 26 o C. O solo é do tipo latossolo<br />

amarelo distrófico argiloso (Rittl, com. pessoal).<br />

Foram monta<strong>da</strong>s duas parcelas com diferentes tamanhos<br />

de área em ca<strong>da</strong> ambiente de estudo: a mata preserva<strong>da</strong> (P)<br />

e a explora<strong>da</strong> (E). Ca<strong>da</strong> parcela foi monta<strong>da</strong> à 50 m <strong>da</strong> bor<strong>da</strong><br />

e entre as parcelas de ca<strong>da</strong> habitat estabeleceu-se a distância<br />

de 100 m. Estas foram constituí<strong>da</strong>s de três quadrados ca<strong>da</strong>,<br />

onde distribuímos 19 pontos conforme mostra a Figura 1.<br />

As parcelas progrediam aritmeticamente, uma contendo a<br />

outra. A menor era composta por nove pontos equidistantes<br />

a ca<strong>da</strong> metro, abrangendo uma área de 4 m 2 . A parcela<br />

intermediária, com nove pontos equidistantes a ca<strong>da</strong> dois<br />

metros compreendeu uma área de 16 m 2 . A área maior, com<br />

pontos equidistantes a ca<strong>da</strong> quatro metros, tinha área de 64<br />

m 2 (Figura 1). Em ca<strong>da</strong> um dos pontos colocamos um pe<strong>da</strong>ço<br />

de papel (10,5 x 15 cm) com uma pequena quanti<strong>da</strong>de de<br />

sardinha como isca. As parcelas foram isca<strong>da</strong>s par a par<br />

simultaneamente, com um intervalo de 30 min entre os pares.<br />

As amostras foram coleta<strong>da</strong>s após uma hora e meia. Após<br />

coleta<strong>da</strong>s, as amostras foram acondiciona<strong>da</strong>s em sacos<br />

plásticos. Na base de estudo as amostras foram tria<strong>da</strong>s e os<br />

indivíduos foram fixados em álcool e posteriormente<br />

identificados a nível de morfoespécies.<br />

Com o intuito de verificar a similari<strong>da</strong>de entre a<br />

composição faunística nas diferentes parcelas amostra<strong>da</strong>s,<br />

construímos um dendrograma utilizando como medi<strong>da</strong> de<br />

similari<strong>da</strong>de a distância euclidiana e como método de<br />

agrupamento a UPGMA. Para avaliar o efeito <strong>da</strong> escala na<br />

composição morfoespecífica, fizemos um gráfico com a<br />

riqueza e a média do número de espécies de ca<strong>da</strong> parcela,<br />

considerando as diferentes áreas estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s. Os programas<br />

64m 2<br />

16m 2<br />

4m 2<br />

Figura 1. Desenho amostral <strong>da</strong>s parcelas hierárquicas. A<br />

legen<strong>da</strong> mostra a área delimita<strong>da</strong> pelos diferentes<br />

pontos.<br />

SYSTAT versão 8.0 e EXCEL foram utilizados para realizar<br />

a análise de agrupamento e para confecção dos gráficos,<br />

respectivamente.<br />

Foram registra<strong>da</strong>s 31 morfoespécies de formigas para as<br />

quatro parcelas amostra<strong>da</strong>s. As parcelas situa<strong>da</strong>s na área<br />

preserva<strong>da</strong> apresentaram um número maior de<br />

morfoespécies (24) quando comparado às áreas explora<strong>da</strong>s<br />

(16). Observando-se a composição morfoespecífica,<br />

verificamos também que há mais morfoespécies restritas às<br />

áreas preserva<strong>da</strong>s em relação às explora<strong>da</strong>s (Figura 2).<br />

(%)<br />

60<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

9<br />

15<br />

P+E P<br />

Ambientes<br />

E<br />

Figura 2. Porcentagem relativa do número de<br />

morfoespécies comuns (P+E) e exclusivas registra<strong>da</strong>s<br />

para a área preserva<strong>da</strong> (P) e para a área explora<strong>da</strong> (E). O<br />

número acima <strong>da</strong>s barras indica o número absoluto de<br />

morfoespécies registrado no respectivo ambiente.<br />

Comparando-se as duas parcelas amostra<strong>da</strong>s em ca<strong>da</strong><br />

ambiente, observamos maior heterogenei<strong>da</strong>de entre as<br />

parcelas nas áreas preserva<strong>da</strong>s do que entre as áreas<br />

explora<strong>da</strong>s (Figura 3). O dendrograma de similari<strong>da</strong>de<br />

baseado na composição de morfoespécies entre as parcelas<br />

amostra<strong>da</strong>s corrobora este estudo mostrando uma maior<br />

similari<strong>da</strong>de entre as áreas explora<strong>da</strong>s do que entre as áreas<br />

preserva<strong>da</strong>s (Figura 4).<br />

(%)<br />

60<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

(%)<br />

60<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

6<br />

11<br />

P1 + P2 P1<br />

Parcelas<br />

P2<br />

5<br />

E1 + E2 E1<br />

Parcelas<br />

E2<br />

Figura 3. Porcentagem relativa do número de<br />

morfoespécies exclusivas registra<strong>da</strong>s em ca<strong>da</strong> uma <strong>da</strong>s<br />

parcelas na área preserva<strong>da</strong> (P1 e P2) e na área explora<strong>da</strong><br />

(E1 e E2) e do número de morfoespécies comuns às<br />

parcelas de ca<strong>da</strong> ambiente, separa<strong>da</strong>mente (P1+P2 e<br />

E1+E2). O número acima <strong>da</strong>s barras indica o número<br />

absoluto de morfoespécies.<br />

6<br />

Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002 29<br />

5<br />

7<br />

7


A figura 5 ilustra a variação na riqueza encontra<strong>da</strong> em<br />

ca<strong>da</strong> uma <strong>da</strong>s parcelas em relação à área amostra<strong>da</strong>.<br />

Observamos que há menor variabili<strong>da</strong>de nos <strong>da</strong>dos obtidos<br />

para as áreas explora<strong>da</strong>s do que nos obtidos para as áreas<br />

preserva<strong>da</strong>s. Adicionalmente, os <strong>da</strong>dos obtidos nos plotes<br />

com maior área de amostragem revelaram maior diferença<br />

entre os ambientes, e menor variabili<strong>da</strong>de entre os <strong>da</strong>dos.<br />

P1<br />

E1<br />

E2<br />

P2<br />

0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8<br />

Distância Euclidiana<br />

Figura 4. Dendrograma de similari<strong>da</strong>de baseado na<br />

composição de morfoespécies de formigas entre as<br />

parcelas amostra<strong>da</strong>s. Utilizou-se como medi<strong>da</strong> de<br />

similari<strong>da</strong>de a distância Euclidiana com a média de<br />

grupo. P1 e P2= parcelas na área preserva<strong>da</strong>; E1 e E2=<br />

parcelas na área explora<strong>da</strong>.<br />

Figura 5. Número de morfoespécies (S) registrado em<br />

ca<strong>da</strong> uma <strong>da</strong>s parcelas amostra<strong>da</strong> (P1 e P2 – na área<br />

preserva<strong>da</strong> e E1 e E2 – na área explora<strong>da</strong>).As linhas<br />

representam as médias de riqueza na área preserva<strong>da</strong><br />

(pm) e na área explora<strong>da</strong> (em).<br />

Discussão<br />

A maioria dos estudos realizados para avaliar o impacto<br />

<strong>da</strong> ação antrópica sobre a mirmecofauna mostra que a<br />

riqueza de espécies é maior em áreas perturba<strong>da</strong>s do que<br />

em áreas preserva<strong>da</strong>s (Armbrecht & Ulloa-Chacón, 1999).<br />

30 Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002<br />

Algumas espécies de formigas, inclusive, são utiliza<strong>da</strong>s<br />

como bioindicadoras para avaliar o grau de perturbação<br />

ambiental (Hölldobler & Wilson, 1990). No presente<br />

trabalho, porém, encontramos um maior número de espécies<br />

em áreas preserva<strong>da</strong>s quando comparado ao de áreas que<br />

sofreram extração seletiva de madeira. A menor riqueza<br />

encontra<strong>da</strong> nas áreas explora<strong>da</strong>s pode ser explica<strong>da</strong> pelo<br />

pouco tempo de reabilitação do ambiente (3 anos), e, ain<strong>da</strong>,<br />

pela redução no número de espécies vegetais nestas áreas<br />

(Armbrecht & Ulloa-Chacón, 1999; Carvalho &<br />

Vasconcelos, 2002), o que altera o número de microhábitats<br />

a serem ocupados pelas formigas .<br />

O maior número de morfoespécies restritas às áreas<br />

preserva<strong>da</strong>s, provavelmente é decorrência <strong>da</strong>s alterações<br />

causa<strong>da</strong>s pela extração de madeira sobre os microhábitats<br />

<strong>da</strong> mata explora<strong>da</strong>. Tais perturbações devem ter efeito sobre<br />

o desaparecimento de determina<strong>da</strong>s espécies na região.<br />

Segundo Roth & Perfecto (1994) a diminuição no número<br />

de sítios de nidificação, na quanti<strong>da</strong>de de alimento e nas<br />

áreas de forrageamento causam uma redução <strong>da</strong> diversi<strong>da</strong>de<br />

local de formigas.<br />

A similari<strong>da</strong>de faunística encontra<strong>da</strong> entre as duas<br />

parcelas <strong>da</strong>s áreas explora<strong>da</strong>s e a distância entre estas e as<br />

parcelas <strong>da</strong>s áreas preserva<strong>da</strong>s sugerem que as últimas<br />

apresentam um maior número de espécies exclusivas,<br />

ocorrendo pequena sobreposição de espécies entre estas<br />

parcelas. Diferentemente <strong>da</strong>s áreas explora<strong>da</strong>s, onde há um<br />

maior número de morfoespécies em comum. A pequena<br />

similari<strong>da</strong>de faunística pode estar associa<strong>da</strong> a uma maior<br />

heterogenei<strong>da</strong>de ambiental, o que aumenta a disponibili<strong>da</strong>de<br />

de recursos, proporcionando microhabitats para várias<br />

espécies. Este resultado corrobora a hipótese acima, de que<br />

áreas com maior número de microhabitats e,<br />

consequentemente, maior heterogenei<strong>da</strong>de ambiental,<br />

apresentam maior riqueza específica, fato também<br />

comprovado por outros estudos comparativos de<br />

mirmecofauna (Castro & Queiroz, 1987; Soares et al., 1998;<br />

Armbrecht & Ulloa-Chacón, 1999).<br />

Observamos que o efeito <strong>da</strong> escala parece influenciar o<br />

número de morfoespécies e na diferença dos resultados entre<br />

as parcelas, o que já tinha sido constatado no estudo de<br />

Guimarães-Jr et al. (2001). Em áreas pequenas (menores<br />

que 64 m 2 ), a variabili<strong>da</strong>de encontra<strong>da</strong> foi grande, não sendo<br />

possível verificar diferenças entre as parcelas. Pelo<br />

contrário, nas parcelas de 64 m 2 há maior concordância entre<br />

os <strong>da</strong>dos de ca<strong>da</strong> um dos dois ambientes amostrados,<br />

revelando diferenças entre eles.<br />

Hamer e Hill (2000) observaram que distúrbios<br />

antrópicos tiveram efeitos opostos na diversi<strong>da</strong>de de Lepidoptera<br />

em pequenas e grandes escalas: com o decréscimo<br />

<strong>da</strong> escala, a probabili<strong>da</strong>de de que a diversi<strong>da</strong>de aumente<br />

sob o efeito destes distúrbios é maior. Os mesmos autores<br />

examinaram a relação entre a escala espacial e a diversi<strong>da</strong>de<br />

de borboletas em florestas intactas e florestas com retira<strong>da</strong><br />

seletiva de madeira na Indonésia. A riqueza de espécies<br />

aumentou com a escala espacial nas duas áreas, mas com


uma taxa significantemente mais rápi<strong>da</strong> na floresta intacta,<br />

enquanto a equitabili<strong>da</strong>de entre as espécies aumentou com<br />

a escala em florestas intactas mas não em florestas<br />

explora<strong>da</strong>s. Esses <strong>da</strong>dos indicam que os efeitos <strong>da</strong><br />

modificação do hábitat na diversi<strong>da</strong>de de espécies são<br />

fortemente dependentes <strong>da</strong> escala. Estudos futuros são<br />

necessários para comprovar esta análise exploratória<br />

examinando os efeitos de distúrbio em diferentes escalas<br />

espaciais com outros grupos taxonômicos.<br />

Referências Bibliográficas<br />

Armbrecht, I. & P. Ulloa-Chacón. 1999. Rareza y<br />

diversi<strong>da</strong>d de hormigas en fragmentos de bosque seco<br />

colombianos y sus matrices. Biotropica 31(4): 646-<br />

653.<br />

Carvalho, K. S. & H. L. Vasconcelos. 2002. Comuni<strong>da</strong>de<br />

de formigas que nidificam em pequenos galhos <strong>da</strong><br />

serrapilheira em floresta <strong>da</strong> Amazônia Central, Brasil.<br />

Revista Brasileira de Entomologia 46(2): 115-121.<br />

Castro, A. G. & M. V. B. Queiroz. 1987. Estrutura e<br />

organização de uma comuni<strong>da</strong>de de formigas em agroecossistema<br />

neotropical. Anais <strong>da</strong> Socie<strong>da</strong>de<br />

Entomológica do Brasil 16(2): 363-375.<br />

Gibb, H. & D. F. Hochuli. 2002. Habitat fragmentation in<br />

an urban environment: large and small fragments<br />

support different arthropod assemblages. Biological<br />

Conservation 106: 91-100.<br />

Guimarães-Jr, P. R., J. V. R. Ramos, M. R. Russo, G.<br />

Camargo & P. P. Amaral. 2001. Efeito de escala na<br />

abundância de formigas e na profundi<strong>da</strong>de do folhedo,<br />

p. 11-13. In: G. Camargo, S. Y. S. Longo, P. P. Amaral,<br />

M. C. Santos & E. Fischer (orgs.). Curso de Campo<br />

de <strong>Ecologia</strong> do Pantanal.<br />

Hamer, K. C. & J. K. Hill. 2000. Scale-dependent effects<br />

of habitat disturbance on species richness in Tropical<br />

Forests. Conservation Biology 14(5): 1435-1440.<br />

Holldobler, B. & E. D. Wilson. 1990. The Ants. Cambridge:<br />

Harvard University Press. 732 pp.<br />

INPE. 1998. Desmatamento na Amazônia. Disponível na<br />

Internet.<br />

Major, R. E., F. J. Christie, G. Gowing, T. J. Ivison. 1999.<br />

Age structure and density of red-capped robin populations<br />

vary with habitat size and shape. Journal of<br />

Applied Ecology 36(6): 901-908.<br />

Rittl, C. E. 1998. Efeitos <strong>da</strong> extração seletiva de<br />

madeira sobre a comuni<strong>da</strong>de de pequenos<br />

mamíferos de uma floresta de terras firme na<br />

Amazônia Central. Dissertação de mestrado pelo<br />

Programa de Pós-Graduação em Biologia Tropical e<br />

Recursos Naturais do Convênio entre o Instituto<br />

Nacional de Pesquisas <strong>da</strong> Amazônia e a Universi<strong>da</strong>de<br />

do Amazonas.<br />

Roth, D. S. & I. Perfecto. 1994. The effects of management<br />

systems on ground-foraging ant diversity in Costa<br />

Rica. Ecological Applications 4(3): 423-436.<br />

Santos, A. J., K. L. Silva & H. F. Cunha. 1999. Efeito de<br />

bor<strong>da</strong> sobre formigas na Reserva do km 41 (Amazônia<br />

Central), p. 61-63. In: E. Venticinque & M. Hopkins<br />

(orgs.). Curso de Campo de <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong><br />

Amazônica.<br />

Soares, S. M., C. G. S. Marinho, T. M. C. Della Lucia.<br />

1998. Riqueza de espécies de formigas edáficas em<br />

plantação de eucalipto e em mata secundária nativa.<br />

Revista Brasileira de Zoologia 15(4): 889-898.<br />

Projeto Livre- Madeireira MIL.<br />

Estrutura <strong>da</strong>s populações de três espécies de palmeiras<br />

em duas áreas florestais na Amazônia Central<br />

Flávio J. Soares Júnior; Luiz Henrique Claro Júnior; André F. Mendonça e Ocírio “Juruna”<br />

Introdução<br />

A extração seletiva de madeira leva à formação de<br />

clareiras nas florestas. Estas clareiras que são geralmente<br />

causa<strong>da</strong>s pela que<strong>da</strong> <strong>da</strong>s árvores, podem ser ain<strong>da</strong> resultado<br />

<strong>da</strong> abertura de trilhas para o arraste de toras e de pátios para<br />

armazenamento provisório <strong>da</strong>s mesmas. As palmeiras,<br />

principalmente quando estão em suas fases mais jovens, são<br />

passíveis de sofrer injúrias físicas ou mesmo de não se<br />

a<strong>da</strong>ptarem às novas condições ambientais estabeleci<strong>da</strong>s pelo<br />

processo exploratório. Nesse sentido, a extração de madeiras<br />

pode levar indivíduos à morte, e consequentemente, a sua<br />

população ao declínio.<br />

Algumas espécies de palmeiras como Astrocaryum<br />

sciophilum, Oenocarpus bacaba e Attalea attaleoides são<br />

amplamente distribuí<strong>da</strong>s pelos sub-bosques dos platôs e<br />

vertentes <strong>da</strong> Amazônia Central e Guianas. Astrocaryum<br />

sciophilum, espécie acaule, apresenta folhas de até 7 m de<br />

comprimento, com espinhos pretos, grandes e normalmente<br />

planos na face abaxial <strong>da</strong>s pinas pratea<strong>da</strong>s. Attalea<br />

attaleoides apresenta folhas de até 9 m saindo de um caule<br />

subterrâneo, a superfície abaxial do raquis <strong>da</strong>s folhas é<br />

colori<strong>da</strong> em tons pardos, e as pinas são lineares e<br />

Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002 31


egularmente dispostas em um só plano. Esta espécie tem<br />

uma arquitetura em funil que acarreta acúmulo de detrito<br />

orgânico entre as bases <strong>da</strong>s folhas. Oenocarpus bacaba é<br />

uma espécie que difere <strong>da</strong>s outras pois apresenta um caule<br />

aéreo. Suas folhas apresentam uma bainha parcialmente<br />

fecha<strong>da</strong> com pinas lineares, agrupa<strong>da</strong>s e dispostas em ângulo<br />

diferentes (Henderson et al., 1995; Ribeiro et al.,1999).<br />

O objetivo deste trabalho é avaliar os efeitos <strong>da</strong> extração<br />

seletiva de madeira sobre a população de palmeiras de subbosque,<br />

comparando as abundâncias de Astrocaryum<br />

sciophilum, Oenocarpus bacaba e Attalea attaleoides em<br />

uma área preserva<strong>da</strong> e outra maneja<strong>da</strong> de floresta de terra<br />

firme na Amazônia Central.<br />

Métodos<br />

O presente estudo foi realizado na proprie<strong>da</strong>de <strong>da</strong> Mil<br />

(Madeireira Itacoatiara Lt<strong>da</strong>), no município de Itacoatiara<br />

(2 o 43’ - 3 o 04’S, 58 o 31’ - 58 o 57’W), em novembro de 2002.<br />

As médias anuais de temperatura e de precipitação são de<br />

26 o C e 2.200mm, respectivamente.<br />

Para amostrar as populações <strong>da</strong>s três espécies de<br />

palmeiras nas duas áreas florestais sob diferentes condições<br />

de preservação (explora<strong>da</strong> e preserva<strong>da</strong>), foi utilizado o<br />

método de parcelas (Mueller-Dombois & Ellenberg 1974).<br />

Para ca<strong>da</strong> uma <strong>da</strong>s áreas foi estabeleci<strong>da</strong> uma parcela de 3<br />

x 50m, denominados T1 e T2 (área explora<strong>da</strong>) e T3 e T4<br />

(área preserva<strong>da</strong>).<br />

Para ca<strong>da</strong> um dos indivíduos amostrados foi estima<strong>da</strong> a<br />

altura total por meio de uma referência de altura conheci<strong>da</strong><br />

e medido o diâmetro do caule à altura do solo (DAS) com<br />

auxílio de um paquímetro. Para as espécies acaules foram<br />

mensurados os diâmetros dos pecíolos à altura do solo, sendo<br />

os mesmos somados em segui<strong>da</strong>.<br />

A divisão de ca<strong>da</strong> espécie em classes de tamanho foi<br />

inicialmente basea<strong>da</strong> no “plot” de Whittaker” (Krebs 1998),<br />

usualmente aplicado para comuni<strong>da</strong>des. Entretanto, a curva<br />

apresentou uma única deflexão (Figura 1) correspondendo<br />

a aproxima<strong>da</strong>mente 100 cm de altura. Dessa maneira,<br />

manteve-se esta como a primeira classe e criou-se outras<br />

(classe-1= menores que 1m; classe 2= de 1 a 1,99m; classe<br />

3= de 2 a 2,99; classe 4= 3 ou mais.<br />

Foram produzidos histogramas de abundância por<br />

parcela, por ambiente e por classe de tamanho.<br />

Altura (cm)<br />

700<br />

600<br />

500<br />

400<br />

300<br />

200<br />

100<br />

0<br />

1 15 29 43 57 71 85 99 113127141 155 169183 197<br />

Abundância (n)<br />

Figura 1. Ranqueamento dos indivíduos de Oenocarpus<br />

bacaba por altura.<br />

32 Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002<br />

Resultados<br />

Foram amostrados 327 indivíduos de palmeiras, entre<br />

plantas jovens e adultas. Estes, por sua vez, foram<br />

distribuídos entre as espécies Astrocaryum sciophilum,<br />

Oenocarpus bacaba e a Attalea attaleoides que foram<br />

representa<strong>da</strong>s por 81, 209 e 27 indivíduos, respectivamente<br />

(Figura 2).<br />

No. de indivíduos<br />

90<br />

80<br />

70<br />

60<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

t1 t2 t3 t4<br />

explora<strong>da</strong> preserva<strong>da</strong><br />

Local<br />

Oenocarpus bacaba<br />

Astrocarium sciofilum<br />

Attalea attaleoides<br />

Figura 2. Distribuição de frequências de indivíduos de<br />

três espécies de palmeiras por parcelas de amostragem<br />

em áreas presentes e explora<strong>da</strong> na Madeireira Mil.<br />

A distribuição de indivíduos por classe de altura destacou<br />

os indivíduos mais jovens como a categoria dominante,<br />

independente <strong>da</strong> espécie analisa<strong>da</strong>. Oenocarpus bacaba, por<br />

exemplo, apresentou 95% de seus indivíduos com altura<br />

igual ou inferior a um metro para a área preserva<strong>da</strong> e 91%<br />

para a área explora<strong>da</strong> (Figura 3a). Para a espécie<br />

Astrocaryum sciophilum, a mesma classe reteve 45% <strong>da</strong><br />

abundância (Figura 3b), enquanto Attalea attaleoides<br />

apresentou um percentual ain<strong>da</strong> menor (Figura 3c).<br />

120<br />

100<br />

80<br />

60<br />

40<br />

20<br />

0<br />

25<br />

20<br />

15<br />

10<br />

5<br />

0<br />

25<br />

20<br />

15<br />

10<br />

5<br />

0<br />

0-1,00 1,01-<br />

2,00<br />

0-1,00 1,01-<br />

2,00<br />

0-1,00 1,01-<br />

2,00<br />

2,01-<br />

3,00<br />

2,01-<br />

3,00<br />

2,01-<br />

3,00<br />

>3,00<br />

>3,00 (b)<br />

>3,00 (b)<br />

Figura 3. Abundância de a) Oenocarpus bacaba, b)<br />

Astrocaryum sciophilum e c) Attalea attaleoides por classe<br />

de tamanho (Ap- área protegi<strong>da</strong>; Ae- área explora<strong>da</strong>).<br />

(a)


To<strong>da</strong>s as três espécies foram mais abun<strong>da</strong>ntes na parcela<br />

“T3”, enquanto as abundâncias nas parcelas restantes<br />

apresentaram-se bastante similares, salvo a espécie<br />

Oenocarpus bacaba cujo número de indivíduos foi mais<br />

similar entre as parcelas “T1” e “T3” (Figura 4).<br />

No. de indivíduos<br />

10<br />

5<br />

0<br />

20<br />

10<br />

0<br />

100<br />

50<br />

0<br />

T1 T2 T3 T4<br />

explora<strong>da</strong> preserva<strong>da</strong><br />

Locais<br />

(a)<br />

(b)<br />

(c)<br />

0-100<br />

101-200<br />

201-300<br />

301-400<br />

Figura 4. Distribuição de indivíduos por classe de<br />

tamanho em ca<strong>da</strong> parcela para: a) Attalea attaleoides, b)<br />

Astrocaryum sciophilum e Oenocarpus bacaba.<br />

Discussão<br />

Partindo do pressuposto que as palmeiras são<br />

representativas de áreas bem estrutura<strong>da</strong>s, por apresentarem<br />

um crescimento lento e que geralmente perecem ao sofrer<br />

injúrias nas fases iniciais de vi<strong>da</strong>, era espera<strong>da</strong> uma marcante<br />

diferença na estrutura <strong>da</strong>s populações entre as duas áreas<br />

de estudo. Entretanto, os resultados encontrados não<br />

corroboraram nossa hipótese.<br />

Apesar <strong>da</strong> maior abundância em uma <strong>da</strong>s parcela “T3”,<br />

o mesmo não se repetiu na outra. O motivo provável foi o<br />

posicionamento <strong>da</strong> parcela, que incluiu uma clareira em to<strong>da</strong><br />

sua extensão, onde se constatou a presença de indivíduos<br />

esmagados por galhos e troncos. O resultado expôs uma<br />

condição natural e freqüente em áreas florestais: aberturas<br />

de clareiras. Entretanto, <strong>da</strong>do o reduzido número de uni<strong>da</strong>des<br />

amostrais, esse condição superestimou a perturbação natural<br />

na área preserva<strong>da</strong>, mascarando eventuais diferenças<br />

entre os tratamentos.<br />

A superiori<strong>da</strong>de numérica nas menores classes de<br />

tamanho <strong>da</strong>s três espécies de palmeiras não permite fazer<br />

inferências quanto à tendência <strong>da</strong>s populações. A principal<br />

delas está no prognóstico positivo <strong>da</strong> viabili<strong>da</strong>de<br />

populacional. Era esperado que a extração de madeira<br />

produzisse impactos negativos tão fortes e direcionados, a<br />

ponto de inviabilizar populações de certas palmeiras.<br />

Contudo, deve-se ressaltar a forte presença de representantes<br />

nas maiores classes de tamanho na área preserva<strong>da</strong>, que não<br />

foram registra<strong>da</strong>s nas nossas amostras.<br />

Agradecimentos<br />

Agradecemos ao Jansen Zuanon pelas críticas e<br />

contribuições ao trabalho.<br />

Referências bibliográficas<br />

Henderson, A., G. Galeano & Bernal. 1995. Field Guide<br />

to the Palms of the Americas. Princeton Univ. Press:<br />

New Jersey, USA.<br />

Krebs, C.J. 1999. Ecological Methodology. Addison<br />

Wesley Longman, New York, USA.<br />

Mueller-Dombois, D. & H. Ellenberg. 1974. Aims and<br />

Methods of Vegetation Ecology. Willey & Sons, New<br />

York, USA:<br />

Ribeiro, J.E.L. <strong>da</strong> S. M.A.D. Hopkins, A. Vicentini, C.A.<br />

Solters, M.A. <strong>da</strong> Costa, J.M. de Brito, M.A.D. de<br />

Souza, M.R. Mesquita & L.C. Procopio. 1999. Flora<br />

<strong>da</strong> Reserva Ducke: Guia de Identificação <strong>da</strong>s Plantas<br />

Vasculares de uma <strong>Floresta</strong> de Terra Firme na<br />

Amazônia Central: INPA/DFID, Manaus, Brasil.<br />

Densi<strong>da</strong>de de plântulas em áreas preserva<strong>da</strong>s e sob<br />

extração seletiva de madeira na Amazônia Central<br />

Flaviana Maluf de Souza, Ana Maria Benavides, Carolina Morales, Carina Lima <strong>da</strong> Silveira<br />

Introdução<br />

Uma <strong>da</strong>s grandes discussões sobre a exploração<br />

madeireira em florestas tropicais diz respeito aos impactos<br />

sobre o ecossistema a longo-prazo (Parrotta et al., 2002). A<br />

regeneração natural pode ser considera<strong>da</strong> um dos processoschave<br />

na manutenção <strong>da</strong> floresta, e a investigação e o<br />

monitoramento <strong>da</strong> resposta <strong>da</strong> regeneração a diferentes tipos<br />

e intensi<strong>da</strong>des de distúrbio é imprescindível para que se<br />

possa fazer predições sobre a estrutura e composição de<br />

espécies, subsidiando tanto a proposição de estratégias de<br />

conservação <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de quanto a elaboração de<br />

propostas para o manejo comercial <strong>da</strong> floresta.<br />

Efeitos negativos persistentes na estrutura, dinâmica e<br />

composição <strong>da</strong> regeneração podem ser gerados pelo<br />

processo de extração (Parrotta et al., 2002) tanto pela que<strong>da</strong><br />

<strong>da</strong>s árvores quanto pela retira<strong>da</strong> <strong>da</strong>s toras <strong>da</strong> mata. Entre os<br />

fatores bióticos e abióticos que influenciam o sucesso <strong>da</strong><br />

germinação e do estabelecimento <strong>da</strong>s plântulas, podemos<br />

Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002 33


citar a intensi<strong>da</strong>de de luz (Sork,1987), o tipo e a quali<strong>da</strong>de<br />

de serapilheira (Cintra & Horna, 1997) e o grau de<br />

compactação do solo (Hopkins com. pess.). A extração de<br />

árvores de grande porte, assim como a abertura <strong>da</strong>s trilhas<br />

de arraste aumentam a intensi<strong>da</strong>de de luz que chega ao subbosque.<br />

Tendo em vista a eliminação <strong>da</strong> serapilheira e a<br />

compactação do solo decorrentes <strong>da</strong> constante circulação<br />

de tratores e skidders nessas trilhas (Parrotta et al., 2002) é<br />

de se esperar que o efeito sobre a regeneração seja maior<br />

nesse ambiente quando comparado a áreas explora<strong>da</strong>s.<br />

Por outro lado, diferentes espécies de plantas respondem<br />

diferentemente a essas mu<strong>da</strong>nças nos fatores ambientais<br />

(Cintra & Horna, 1997). As espécies pioneiras são<br />

favoreci<strong>da</strong>s por uma maior disponibili<strong>da</strong>de de luz e têm<br />

maiores probabili<strong>da</strong>des de estabelecimento depois de uma<br />

remoção do solo. Assim, a investigação <strong>da</strong> resposta <strong>da</strong><br />

regeneração a essas mu<strong>da</strong>nças é essencial para que se possa<br />

compreender melhor a dinâmica <strong>da</strong> floresta e fazer predições<br />

<strong>da</strong> estrutura e <strong>da</strong> composição florística para fins de manejo.<br />

O objetivo deste trabalho foi verificar o impacto <strong>da</strong><br />

extração seletiva de madeira na densi<strong>da</strong>de de plântulas de<br />

um modo geral e de alguns grupos indicadores, três anos<br />

após o corte.<br />

Métodos<br />

O trabalho foi desenvolvido no compartimento “N” <strong>da</strong><br />

Mil Madeireira, situa<strong>da</strong> no município de Itacoatiara, AM.<br />

No compartimento, a área de floresta preserva<strong>da</strong> encontrase<br />

separa<strong>da</strong> <strong>da</strong> área de extração seletiva de madeira apenas<br />

por uma estra<strong>da</strong> de cerca de 8 m de largura.<br />

Quatro parcelas de 3 x 5 m (15 m 2 ) foram instala<strong>da</strong>s em<br />

três situações: i) nas trilhas de arraste de uma área explora<strong>da</strong>;<br />

ii) na área explora<strong>da</strong>, fora <strong>da</strong>s trilhas de arraste; iii) numa<br />

área de mata preserva<strong>da</strong>. As parcelas instala<strong>da</strong>s na área<br />

explora<strong>da</strong> seguiram um delineamento pareado, sendo<br />

loca<strong>da</strong>s a apenas 10 m de distância uma <strong>da</strong> outra (uma na<br />

trilha de arraste, outra fora <strong>da</strong> trilha) estando assim,<br />

submeti<strong>da</strong>s a mesma variação local. As trilhas de arraste<br />

estavam distantes cerca de 100 m umas <strong>da</strong>s outras e a<br />

distância mínima entre as parcelas na área preserva<strong>da</strong><br />

(distribuí<strong>da</strong>s aleatoriamente) foi de 60 metros. To<strong>da</strong>s as<br />

parcelas foram loca<strong>da</strong>s a 50 metros <strong>da</strong> estra<strong>da</strong> em direção<br />

ao interior <strong>da</strong> mata, para minimizar o efeito <strong>da</strong> bor<strong>da</strong>.<br />

Em ca<strong>da</strong> parcela registramos o número de indivíduos com<br />

até 50 cm de altura (que chamaremos de plântulas),<br />

discriminando aqueles pertencentes à família <strong>da</strong>s<br />

melastomatáceas, monocotiledôneas e palmeiras, por serem<br />

as duas primeiras indicadoras de áreas mais abertas e as<br />

palmeiras, de áreas mais fecha<strong>da</strong>s. As análises foram feitas<br />

para o número de plântulas total e para os grupos<br />

separa<strong>da</strong>mente, utilizando-se o teste de Kruskal-Wallis.<br />

Resultados<br />

Em termos gerais, o número total de plântulas, assim<br />

como o número de plântulas de ca<strong>da</strong> grupo taxonômico<br />

34 Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002<br />

(melastomatáceas, palmeiras e monocotiledôneas) foram<br />

altamente variáveis (Figuras 1, 2, 3).<br />

Não encontramos diferenças significativas para o número<br />

total de plântulas (K-W=0.808; p= 0.688, Figura 1), número<br />

de melastomatáceas (K-W= 4.261, p=0.119), número de<br />

monocotiledôneas (K-W=2.848, P=0.241) e número de<br />

palmeiras (K-W=1.439, P=0.487) entre os três ambientes<br />

estu<strong>da</strong>dos (Figura 2).<br />

Número de plântulas<br />

Número de plântulas<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

600<br />

500<br />

400<br />

300<br />

200<br />

100<br />

0<br />

0<br />

EXPLORADA<br />

EXPLORADA<br />

PRESERVADA<br />

Ambiente<br />

PRESERVADA<br />

Ambiente<br />

TRILHA<br />

TRILHA<br />

Figura 1. Número de plântulas por parcela (n=4) nos três<br />

ambientes estu<strong>da</strong>dos.<br />

Melastomatáceas<br />

Monocotiledôneas<br />

Palmeiras<br />

Figura 2. Número de plântulas de melastomatáceas,<br />

monocotiledôneas e palmeiras por parcela (n=4), nos três<br />

ambientes estu<strong>da</strong>dos.<br />

Discussão<br />

A ausência de diferenças significativas na densi<strong>da</strong>de de<br />

plântulas total e por grupos taxonômicos pode indicar que a<br />

extração de baixo impacto não está influenciando a<br />

densi<strong>da</strong>de de plântulas. É possível pensar, então, que a<br />

extração madeireira de baixo impacto não provoca<br />

mu<strong>da</strong>nças na regeneração <strong>da</strong> floresta ou que os métodos<br />

utilizados neste estudo não foram os mais adequados para<br />

detectá-las. Parece que a composição de espécies de<br />

plântulas seria mais sensível aos efeitos <strong>da</strong> extração<br />

madeireira do que a densi<strong>da</strong>de, já que as espécies respondem<br />

diferentemente aos distúrbios (Cintra e Horna 1997). Assim,<br />

testes com grandes grupos podem mascarar as respostas<br />

específicas e a detecção de efeitos, como no caso deste<br />

trabalho.


A grande variabili<strong>da</strong>de entre as parcelas e o pequeno<br />

número de amostras enfraquecem as conclusões a partir dos<br />

resultados obtidos. Acreditamos que estudos levando em<br />

consideração a composição de espécies de plântulas devem<br />

ser realizados e associados a um número maior de amostras<br />

e por longos períodos, a fim de fazer predições sobre os<br />

efeitos <strong>da</strong> extração a longo-prazo e direcionar as propostas<br />

de manejo para que se atinja a “sustentabili<strong>da</strong>de” <strong>da</strong> floresta.<br />

Agradecimentos<br />

Agradecemos ao Marcelo “Pinguela” pela imprescindível<br />

aju<strong>da</strong> nos trabalhos de campo.<br />

Referências bibliográficas<br />

Cintra, R. ; Horna, V. 1997. Seed and seedling survival of<br />

the palm Astrocaryum murumuru and the legume tree<br />

Dipteryx micrantha in gaps in Amazonian forest.<br />

Journal of Tropical Ecology. 13:257-277.<br />

Sork, V.L. 1987. Effect of pre<strong>da</strong>tion and light on seedling<br />

establishment of Gustavia superba. Ecology, 68: 1341-<br />

1350.<br />

Parrotta, J. A.; J. K. Francis; O. H. Knowles 2002.<br />

Harvesting intensity affects forest structure and<br />

composition in an upland Amazonian Forest. Forest<br />

Ecology and Management 169: 243-255.<br />

Fatores ambientais associados à localização <strong>da</strong>s tocas<br />

de bodós Liposarcus par<strong>da</strong>lis (Loricarii<strong>da</strong>e) no lago<br />

Camaleão, ilha <strong>da</strong> Marchantaria<br />

Sylvia Miscow Mendel, George Camargo, Ana Maria Benavides, Daniela Chaves Resende<br />

Introdução<br />

Os loricariídeos, conhecidos por acaris, cascudos ou<br />

bodós, são peixes de hábito alimentar detritívoro,<br />

caracterizados pelo corpo recoberto de placas ósseas, que<br />

formam uma couraça protetora (Ferreira et al. 1998).<br />

Liposarcus par<strong>da</strong>lis é um bodó de grande porte, chegando<br />

a alcançar cerca de 50 cm de comprimento. O período de<br />

desova desta espécie se inicia no final <strong>da</strong> estação seca e seu<br />

comportamento consiste em cavar tocas em barrancos para<br />

depositar seus ovos (Ferreira et al. 1998). Apesar de L.<br />

par<strong>da</strong>lis ser o loricariídeo de maior importância comercial<br />

na bacia do Amazonas (Ferreira et al. 1998), o conhecimento<br />

sobre a biologia deste animal é ain<strong>da</strong> rudimentar e<br />

fragmentário.<br />

Segundo o modelo conceitual descrito abaixo (Fig. 1), a<br />

seleção de locais para a construção de tocas poderia ser<br />

afeta<strong>da</strong> negativamente pela existência de uma densa trama<br />

de raízes que dificultaria a construção dos abrigos. Por sua<br />

vez, a presença de vegetação arbórea diminuiria os processos<br />

erosivos, mantendo um barranco mais vertical o que<br />

facilitaria a construção <strong>da</strong>s tocas, em função de possíveis<br />

limitações de mobili<strong>da</strong>de dos bodós. No entanto, a cobertura<br />

dos barrancos por capins favoreceria a escolha destes locais<br />

para a construção <strong>da</strong>s tocas, pois serviria de fonte alimentar<br />

para os bodós, que apresentam hábito alimentar detritívoro.<br />

A quanti<strong>da</strong>de de luz incidente e a altura do barranco<br />

poderiam influenciar direta ou indiretamente a localização<br />

<strong>da</strong>s tocas para a desova dos bodós.<br />

Altura do barranco<br />

-<br />

Luz<br />

+<br />

-<br />

+<br />

Densi<strong>da</strong>de de raízes<br />

Cobertura de capim<br />

Declivi<strong>da</strong>de do barranco<br />

+ ou -<br />

-<br />

+<br />

Número de tocas<br />

Figura 1. Modelo conceitual do efeito <strong>da</strong>s variáveis<br />

estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s sobre o número de tocas produzi<strong>da</strong>s por<br />

Liposarcus par<strong>da</strong>lis nas margens do lago Camaleão, ilha<br />

<strong>da</strong> Marchantaria. Os sinais associados às setas do modelo<br />

referem-se aos efeitos positivos (+) ou negativos (-)<br />

que, hipoteticamente, podem estar sendo causados por<br />

variáveis diretas e indiretas no número de tocas<br />

observa<strong>da</strong>s. As setas que ligam os compartimentos do<br />

modelo indicam a direção <strong>da</strong> influência de uma variável<br />

sobre o número de tocas.<br />

Assim, o objetivo deste trabalho foi avaliar se o<br />

comportamento de desova em tocas apresentado por L.<br />

par<strong>da</strong>lis pode ser influenciado por fatores ambientais,<br />

conforme descrito neste modelo conceitual.<br />

Métodos<br />

Este trabalho foi desenvolvido no lago Camaleão, ilha<br />

Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002 35<br />

+


<strong>da</strong> Marchantaria, Amazônia Central. Foram feitas 16<br />

parcelas de 10 x 1m, distantes no mínimo 50m uma <strong>da</strong><br />

outra, de modo a abranger uma maior amplitude <strong>da</strong> variação<br />

de quanti<strong>da</strong>de de tocas, observa<strong>da</strong>s ao longo do barranco.<br />

Em ca<strong>da</strong> parcela, medimos a declivi<strong>da</strong>de do barranco a partir<br />

<strong>da</strong> superfície <strong>da</strong> água com o auxílio de um transferidor, a<br />

altura do barranco a dois metros <strong>da</strong> linha d’água, a<br />

porcentagem de cobertura de capim e a luminosi<strong>da</strong>de com<br />

o uso de esferodensiômetro. Para testar a influência destas<br />

variáveis sobre a localização <strong>da</strong>s tocas, quantificamos o<br />

número de tocas presentes no barranco, expostos no período<br />

de seca, até o limite <strong>da</strong> interface água-terra.<br />

As tocas dos bodós foram localiza<strong>da</strong>s visualmente nos<br />

barrancos, a partir de uma inspeção prévia realiza<strong>da</strong> no lago,<br />

com o auxílio de um barco a motor. Em função do tamanho<br />

<strong>da</strong>s tocas e do conhecimento <strong>da</strong> fauna de bodós<br />

(Loricarii<strong>da</strong>e) presente no lago (J. Zuanon, com. pess.),<br />

assumimos que as mesmas foram construí<strong>da</strong>s por indivíduos<br />

<strong>da</strong> espécie Lipossarcus par<strong>da</strong>lis.<br />

O modelo conceitual descrito anteriormente foi testado<br />

por meio de uma análise de caminhos (path analysis) (Krebs,<br />

1999; Scheiner & Gurevitch, 1993). O valor atribuído a ca<strong>da</strong><br />

seta corresponde ao coeficiente padronizado <strong>da</strong>s regressões<br />

lineares simples e múltiplas entre as variáveis.<br />

Resultados<br />

Os barrancos estu<strong>da</strong>dos apresentaram, em média, uma<br />

altura de 1m, com declivi<strong>da</strong>de de 40° e 27,5% de<br />

luminosi<strong>da</strong>de. Foi observa<strong>da</strong> uma média de 8,5 tocas em<br />

ca<strong>da</strong> parcela de 10 m 2 . A densi<strong>da</strong>de de raízes (N=16; ß=-<br />

0,14; t=0,61; p=0,55), a cobertura de capim (N=16; ß=0,05;<br />

t=0,20; p=0,55) e a luminosi<strong>da</strong>de (N=16; ß=-0,33; t=1,03;<br />

p=0,37) não afetaram o número de tocas presentes nos barrancos.<br />

Já a declivi<strong>da</strong>de apresentou um efeito positivo sobre<br />

o número de tocas construí<strong>da</strong>s pelos bodós (N=16; ß=0,71;<br />

t=0,57; p=0,01; Fig. 2). A proporção <strong>da</strong> variação total dos<br />

<strong>da</strong>dos explica<strong>da</strong> pelo modelo (R 2 ) foi de 74%.<br />

A luminosi<strong>da</strong>de (N=16; ß=-0,55; t=1,55; p=0,15) e a<br />

altura do barranco (N=16; ß=0,24; t=0,69; p=0,50), por sua<br />

vez, não afetaram a densi<strong>da</strong>de de raízes presentes no solo,<br />

apesar do modelo ter explicado 53% <strong>da</strong> variação total (Fig.<br />

3). Há uma relação negativa entre a altura do barranco e a<br />

luminosi<strong>da</strong>de do lago (N=16; R 2 =0,69; ß=-0,86; t=-6,33;<br />

p


Agradecimentos<br />

Agradecemos aos nossos orientadores ‘Dadão<br />

Vintecinco’ e Jansen ‘Bodozinho Zambeta’ pela idéia original,<br />

entusiasmo e aju<strong>da</strong> na coleta e análise de <strong>da</strong>dos. Ao<br />

piloteiro Mike pela aju<strong>da</strong> no deslocamento ao longo do barranco.<br />

Referências Bibliográficas<br />

Ferreira, E.J.G.; Zuanon, J.A.S. & dos Santos, G.M.<br />

1998. Peixes Comerciais do Médio Amazonas: Região<br />

de Santarém, Pará. Edições Ibama. Brasília, DF<br />

Krebs, C.J. 1999. Ecological Methodology. 2 nd Ed.<br />

Addison-Wesley Educational<br />

Publishers, Inc, USA. 620 p.<br />

Scheiner, S.M. & Gurevitch, J. 1993. Design and Analysis<br />

of Ecological Experiments. Chapman & Hall, New<br />

York. 445 p.<br />

Grupo 5 - Projeto Orientado 3/ Orientação: Jansen<br />

Zuanon e Eduardo Venticinque<br />

Distribuição vertical de Spongilla sp. (Spongilli<strong>da</strong>e,<br />

Porifera) em área de várzea na Ilha <strong>da</strong> Marchantaria,<br />

Amazônia Central<br />

George Camargo, Daniela Chaves Resende, Ana Maria Benavides, Sylvia Miscow Mendel<br />

Introdução<br />

Os poríferos são animais predominantemente marinhos,<br />

com algumas espécies viventes em água doce, preferindo,<br />

na maioria dos casos, águas rasas e transparentes (Barnes,<br />

1984). São os animais multicelulares mais primitivos, em<br />

termos de níveis de organização celular. Todos seus<br />

membros são sésseis, exigindo um substrato para fixação.<br />

Assim, o crescimento e a distribuição destes animais<br />

dependem principalmente <strong>da</strong> natureza e inclinação do<br />

substrato, disponibili<strong>da</strong>de de espaço e veloci<strong>da</strong>de <strong>da</strong><br />

corrente de água (Barnes, 1984).<br />

Os rios <strong>da</strong> Amazônia Central apresentam pulsos de<br />

inun<strong>da</strong>ção sazonais e o ciclo <strong>da</strong>s águas modifica a estrutura<br />

<strong>da</strong> paisagem e influencia a estrutura <strong>da</strong>s florestas (Prance,<br />

1979). As esponjas que se desenvolvem sobre as árvores<br />

(habitats em uma paisagem tridimensional descontínua)<br />

sujeitas à inun<strong>da</strong>ção periódica em sistemas de várzea estão<br />

condiciona<strong>da</strong>s a gradientes complexos, que refletem<br />

mu<strong>da</strong>nças simultâneas de fatores ambientais, tais como<br />

oxigênio dissolvido, tempo e intensi<strong>da</strong>de de inun<strong>da</strong>ção,<br />

arquitetura arbórea e textura <strong>da</strong> vegetação. Na coluna d’água,<br />

o oxigênio é mais abun<strong>da</strong>nte na zona fótica, onde há maior<br />

produtivi<strong>da</strong>de primária, enquanto que as regiões mais<br />

profun<strong>da</strong>s apresentam níveis mais baixos deste elemento.<br />

O tempo e a intensi<strong>da</strong>de de inun<strong>da</strong>ção <strong>da</strong>s esponjas deve<br />

determinar sua distribuição horizontal e vertical,<br />

respectivamente. O substrato é determinante no<br />

estabelecimento <strong>da</strong>s esponjas, em se tratando de animais<br />

sésseis. Área total disponível, adequação (contínuo ou<br />

fragmentado) e textura são características do substrato que<br />

possivelmente afetam o estabelecimento e a distribuição <strong>da</strong>s<br />

esponjas. A adequação do substrato é defini<strong>da</strong> aqui como<br />

área superficial que obedece a um gradiente começando pelo<br />

fuste <strong>da</strong>s árvores, até os ramos mais finos, que apesar de<br />

possuírem área descontínua em relação ao fuste, oferecem<br />

uma área total maior. A textura do substrato pode influenciar<br />

o estabelecimento dos Spongilli<strong>da</strong>e, como p.ex., árvores com<br />

cascas rugosas ou lisas ou que se soltam facilmente. Todos<br />

esses fatores podem ter efeito direto na distribuição <strong>da</strong>s<br />

esponjas ao longo os estratos verticais <strong>da</strong> vegetação.<br />

Sendo assim, o objetivo deste trabalho foi verificar a<br />

influência do tempo de inun<strong>da</strong>ção na distribuição vertical e<br />

no tamanho <strong>da</strong>s esponjas. Além disso, verificamos a<br />

disponibili<strong>da</strong>de e a adequação do substrato para a fixação<br />

<strong>da</strong>s esponjas. A predição deste trabalho é de que exista um<br />

maior número de esponjas no estrato vertical intermediário,<br />

em função de um ajuste <strong>da</strong>s condições favoráveis e<br />

desfavoráveis ao estabelecimento destas, de acordo com o<br />

esquema abaixo:<br />

Figura 1. Esquema do habitat (árvore) indicando o<br />

possível efeito (positivo ou negativo) dos fatores (setas<br />

bidirecionais) que podem afetar distribuição vertical e o<br />

tamanho <strong>da</strong>s esponjas (pontos marrons).<br />

(+)<br />

Área disponível p/ fixação<br />

(-)<br />

Adequação do substrato (continui<strong>da</strong>de)<br />

(-)<br />

(+)<br />

Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002 37<br />

Tempo de imersão<br />

(-)<br />

(+)<br />

Oxigênio<br />

(+)<br />

(-)


Métodos<br />

Desenvolvemos este estudo numa mata de várzea <strong>da</strong><br />

ilha <strong>da</strong> Marchantaria. Estabelecemos um transecto ao longo<br />

de 60 m de um trecho de mata, paralelo ao rio Solimões<br />

(sentido Leste-Oeste, sem variação no relevo).<br />

Amostramos to<strong>da</strong>s as árvores até a distância de 2 m do<br />

transecto, medindo o perímetro a cerca de 1 m do solo,<br />

altura do fuste e <strong>da</strong>s duas bifurcações seguintes, com o<br />

auxílio de uma haste gradua<strong>da</strong> a intervalos de 0,5 m. As<br />

bifurcações tiveram suas medi<strong>da</strong>s de altura toma<strong>da</strong>s<br />

seguindo o ramo mais grosso até a terceira bifurcação.<br />

Anotamos o número de esponjas e o tamanho <strong>da</strong>s<br />

aglomerações a ca<strong>da</strong> 0,5 m até a cota máxima <strong>da</strong> última<br />

inun<strong>da</strong>ção (6,6 m), que pôde ser verifica<strong>da</strong> por de marcas<br />

nos troncos <strong>da</strong>s árvores. Dividimos o tamanho dos<br />

aglomerados em quatro categorias: pequeno (1), médio (2),<br />

grande (3) e muito grande (4). A textura do substrato<br />

(tronco) foi classifica<strong>da</strong> como rugosa ou lisa.<br />

A relação entre altura <strong>da</strong> coluna d’água e a freqüência<br />

de ocorrência <strong>da</strong>s esponjas no estrato vertical foi analisa<strong>da</strong><br />

graficamente por meio de um histograma. Calculamos a<br />

abundância pondera<strong>da</strong> multiplicando as freqüências pelas<br />

classes de tamanho dos aglomerados de esponjas, como<br />

medi<strong>da</strong> estima<strong>da</strong> do número de indivíduos. Esta medi<strong>da</strong><br />

representa a melhor estimativa do número real de<br />

indivíduos de Spongilli<strong>da</strong>e, pois para um organismo que<br />

se desenvolve por brotamento a delimitação dos indivíduos<br />

é praticamente impossível.<br />

Através de uma análise de covariância (ANCOVA; Zar,<br />

1984) verificamos o efeito <strong>da</strong> bifurcação dos troncos sobre<br />

o número de esponjas observa<strong>da</strong>s.<br />

Resultados<br />

Encontramos 622 aglomerados de esponjas em 25<br />

árvores, que multiplicados pelas frequências <strong>da</strong>s classes<br />

de tamanho resultaram num número estimado de 1130<br />

indivíduos. A distribuição <strong>da</strong> abundância com relação à<br />

altura apresentou distribuição normal, com maior número<br />

de aglomerados ocorrendo no intervalo de 3,1 a 3,5 m de<br />

altura (Fig. 2), diminuindo à medi<strong>da</strong> que a altura aumenta<br />

ou diminui. A abundância pondera<strong>da</strong> também seguiu o<br />

mesmo padrão normal de distribuição vertical (Fig. 2).<br />

Não houve efeito do número de bifurcações dos ramos<br />

na abundância <strong>da</strong>s esponjas (F= 0,49; g.l.=58; p=0,68; Fig.<br />

3). As três primeiras bifurcações apresentaram abundância<br />

média similares (ca. de 12 aglomerados), enquanto que a<br />

quarta bifurcação continha poucos indivíduos.<br />

Aparentemente, a abundância <strong>da</strong>s esponjas foi maior em<br />

árvores cuja casca apresentava uma textura mais lisa (Fig.<br />

4).<br />

38 Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002<br />

Figura 2. Ocorrência de esponjas (abundância pondera<strong>da</strong><br />

e número de aglomerados) por classe de 0,5 m de altura<br />

<strong>da</strong>s árvores amostra<strong>da</strong>s (n = 25) na mata de várzea, ilha<br />

<strong>da</strong> Marchantaria.<br />

Abundância de esponjas<br />

60<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

-10<br />

-20<br />

-30<br />

1 2<br />

Número de bifurcações<br />

3 4<br />

Figura 3. Média e desvio padrão <strong>da</strong> abundância de<br />

esponjas ao longo <strong>da</strong>s bifurcações dos troncos <strong>da</strong>s<br />

árvores estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s (n=25).<br />

Abundância de esponjas<br />

100<br />

90<br />

80<br />

70<br />

60<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

lisa rugosa<br />

Textura <strong>da</strong> casca<br />

Figura 4. Abundância média e erro padrão <strong>da</strong>s esponjas<br />

encontra<strong>da</strong>s em árvores com casca de textura lisa (n=8) e<br />

rugosa (n=12).


Discussão<br />

A distribuição vertical <strong>da</strong>s esponjas que ocorrem em um<br />

sistema de várzea do rio Solimões parece estar concentra<strong>da</strong><br />

acima do nível médio na coluna de inun<strong>da</strong>ção. Em to<strong>da</strong>s as<br />

áreas de inun<strong>da</strong>ção nos trópicos existe uma permanente ou<br />

periódica falta de oxigênio dissolvido na água (hipóxia). O<br />

nível de hipóxia depende de vários fatores como a<br />

quanti<strong>da</strong>de de matéria orgânica e a profundi<strong>da</strong>de. As áreas<br />

de várzea próximas a Manaus sofrem periodicamente fortes<br />

períodos de hipóxia por causa do grande aumento <strong>da</strong><br />

decomposição de matéria orgânica (Junk, 1997). Muito<br />

provavelmente, os níveis de oxigênio e a conseqüente<br />

produtivi<strong>da</strong>de destes sistemas estão influenciando o<br />

estabelecimento e desenvolvimento <strong>da</strong>s esponjas nos estratos<br />

mais próximos à superfície <strong>da</strong> água, onde a disponibili<strong>da</strong>de<br />

de oxigênio é adequa<strong>da</strong>. Entretanto, estes estratos estão<br />

sumetidos a mu<strong>da</strong>nças estacionais do nível de água, o que<br />

proporciona maior instabili<strong>da</strong>de ambiental. Portanto, níveis<br />

médios <strong>da</strong> coluna d’água em sistemas de várzea devem<br />

apresentar condições mais favoráveis para o estabelecimento<br />

e desenvolvimento <strong>da</strong>s esponjas. A adequação do habitat<br />

(grau de ramificação/bifurcação) não teve relação com a<br />

abundância de esponjas, pois as medi<strong>da</strong>s toma<strong>da</strong>s<br />

corresponderam apenas até a terceira bifurcação e esta podia<br />

estar tanto a um metro do solo, quanto a mais de cinco<br />

metros de altura. Entretanto, não acreditamos que a<br />

adequação do habitat, no caso dessas esponjas, seja um fator<br />

primário de influência direta. Outras características do<br />

substrato, tais como textura, que não foram aqui trata<strong>da</strong>s<br />

em detalhes, deveriam ser investiga<strong>da</strong>s como fatores de<br />

influência indireta.<br />

Agradecimentos<br />

Agradecemos a orientação de Jorge Nessimian, desde as<br />

discussões sobre o desenho experimental até as ‘quase’<br />

conclusões deste projeto. Estamos em débito com Macelo<br />

‘Pinguela’ Moreira, que nos ajudou em to<strong>da</strong>s as fases.. À<br />

Ocírio ‘Juruna’ Pereira e aos piloteiros <strong>da</strong> nau ‘San Pietro’<br />

pela disposição e bom humor nos nossos deslocamentos, e<br />

a todos os colegas e professores do curso de campo –<br />

<strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> Amazônia/<strong>PDBFF</strong> – novembro de 2002, que<br />

de alguma forma contribuíram para a realização deste<br />

trabalho.<br />

Referências Bibliográficas<br />

Barnes, R.D. 1984. Zoologia dos Invertebrados. 4o Edição. Ed. Roca. São Paulo, S.P.<br />

Zar, J.H. 1984. Biostatistical Analysis. 2o Edição. Ed.<br />

Prentice Hall, New Jersey.<br />

Junk, W.J. 1997. General aspects of floodplain ecology<br />

with special reference to Amazonian floodplains. p. 3-<br />

20. In: Junk, W.J. (Ed.) The Central Amazon Floodplain<br />

– Ecology of a Pulsing Systems. Ecological<br />

Studies, vol. 126. Springer-Verlag.<br />

Prance, G.T. 1979. Notes on the vegetation of Amaonia<br />

III. The terminology of Amazonian forest types subject<br />

to inun<strong>da</strong>tion. Brittonia, 34:228 - 251.<br />

Grupo 5 - Projeto Orientado 4<br />

Orientador: Jorge Nessimian<br />

Fauna de invertebrados nas raízes de Eichhornia<br />

crassipes (Pontederiaceae) na várzea no período de seca<br />

no Lago Camaleão, Ilha <strong>da</strong> Marchantaria, AM, Brasil<br />

Luiz Henrique Claro Jr., Genimar Rebouças Julião, Vanina Zini Antunes , Patricia Garcia Tello, Eduardo Vasconcelos<br />

Introdução<br />

A vegetação flutuante encontra<strong>da</strong> nos rios representa um<br />

hábitat produtivo, rico em matéria orgânica e perifiton onde<br />

pode ser encontrado um conjunto de espécies representativas<br />

de um largo espectro de grupos taxonômicos (Junk, 1973).<br />

Eichhornia crassipes é uma espécie comum <strong>da</strong> vegetação<br />

flutuante dos rios amazônicos, tem ampla distribuição<br />

geográfica. E. crassiipes reproduz-se por estolões e é perene<br />

(Pott & Pott, 2000). Possui dois morfotipos bem distintos;<br />

um pequeno com bulbos arredon<strong>da</strong>dos e raízes curtas e outro<br />

grande, com bulbos e raízes alongados. Na época <strong>da</strong> cheia<br />

a profundi<strong>da</strong>de determina o tamanho e morfotipo <strong>da</strong> planta.<br />

Em locais mais profundos há predominância do morfotipo<br />

pequeno, por serem mais flutuantes (Josué Nunes, com.<br />

pessoal).<br />

Bancos de macrófitas são organizados de acordo com a<br />

correnteza do rio. Associa<strong>da</strong> a estes bancos de macrófitas<br />

existe uma fauna típica que apresenta uma diversi<strong>da</strong>de<br />

considerável usando estes locais para desova, forrageamento<br />

e abrigo (Junk, 1973). As raízes e rizomas permitem a<br />

colonização por várias formas sésseis, alternando espaços<br />

intersticiais de água aberta e providenciando habitats para<br />

as formas pelágicas. Desta forma esta zona aquática constitui<br />

um ambiente muito heterogênio, sustentando uma fauna rica<br />

Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002 39


e diversa. Desta maneira raízes de E. crassipes grandes<br />

podem abrigar maior número de invertebrados que as raízes<br />

menores nos diferentes bancos de macrófitas.<br />

Neste trabalho procuramos analisar a fauna de<br />

invertebrados associa<strong>da</strong> a raízes de E. crassipes comparando<br />

abundância, riqueza, densi<strong>da</strong>de e similari<strong>da</strong>de entre raízes<br />

de plantas grande e pequeno porte.<br />

Métodos<br />

O trabalho foi desenvolvido em uma área de várzea no<br />

lago do Camaleão na Ilha <strong>da</strong> Marchantaria (03º14’ S, 59º57’<br />

O) no rio Solimões, a cerca de 15km <strong>da</strong> confluência com o<br />

rio Negro com rio Solimões. A temperatura média anual é<br />

de 26,7ºC e a pluviosi<strong>da</strong>de é de aproxima<strong>da</strong>mente 2186 mm<br />

por ano (RADAMBRASIL, 1978).<br />

Coletamos 20 amostras de Eichhornia crassipes em 10<br />

bancos de macrófitas, sendo um indivíduo de ca<strong>da</strong> morfotipo<br />

em ca<strong>da</strong> banco. A escolha dos bancos foi feita de forma que<br />

no mesmo local houvesse morfotipos grandes e pequenos.<br />

O material coletado foi acondicionado em sacos plásticos<br />

e triados em laboratório. As raízes foram lava<strong>da</strong>s em peneira<br />

com malha de 1mm e os macroinvertebrados presentes foram<br />

separados e identificados. O volume <strong>da</strong>s raízes foi<br />

medido com uma proveta de um litro, por meio do volume<br />

de água deslocado.<br />

Foi usado o teste t-Student pareado para verificar se a<br />

densi<strong>da</strong>de de invertebrados diferia nos dois tipos de raízes,<br />

pequenas e grandes. A similari<strong>da</strong>de entre as comuni<strong>da</strong>des<br />

nos dois tipos de raízes foi testa<strong>da</strong> com uso do índice de<br />

Morisita.<br />

Resultados<br />

Foram coletados 757 invertebrados pertencentes a 24<br />

famílias distintas (Tabela 1). As raízes grandes apresentaram<br />

maior número de invertebrados que as raízes menores com<br />

uma diferença de 489 indivíduos. A família Naucori<strong>da</strong>e<br />

(Hemiptera) foi exclusiva ao sistema radicular <strong>da</strong>s plantas<br />

pequenas, enquanto que as raízes grandes <strong>da</strong>s macrófitas<br />

apresentaram 11 famílias exclusivas (Tabela 2).<br />

Não houve diferença significativa entre a densi<strong>da</strong>de de<br />

invertebrados e os dois tipos de raízes (p=0,88), mostrando<br />

que o número de invertebrados por área de raiz é o mesmo<br />

entre os tipos de raizes. Os valores de similari<strong>da</strong>de<br />

encontrado para as amostras indicam que não há uma fauna<br />

típica de ca<strong>da</strong> um dos morfotipos de E. crassipes (Figura<br />

1).<br />

Tabela 1. Abundância, riqueza de famílias e densi<strong>da</strong>de<br />

média (invertebrados/litro) nas raízes de E. crassipes no<br />

lago Camaleão, Ilha <strong>da</strong> Marchantaria, Amazonas, Brasil.<br />

Abundância Riqueza de Famílias Densi<strong>da</strong>de Média<br />

(invert./l)<br />

Raiz<br />

pequena<br />

134 13 3.3<br />

Raiz grande 623 23 3.5<br />

Total 757 24<br />

40 Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002<br />

Tabela 2. Abundância dos invertebrados encontrados nas<br />

raízes de dois morfotipos de E. crassipes na Ilha <strong>da</strong><br />

Marchantaria, Amazonas, Brasil.<br />

Grupo Taxonômico Raiz pequena Raiz grande<br />

Mollusca<br />

Gastropo<strong>da</strong><br />

Ancili<strong>da</strong>e 11 13<br />

Planorbi<strong>da</strong>e 3 30<br />

Gastropo<strong>da</strong> sp1 7 11<br />

Gastropo<strong>da</strong> sp2 0 5<br />

Bivalvia 1 12<br />

Anelli<strong>da</strong>e<br />

Hirudinea 1 1<br />

Crustacea<br />

Conchostraca 189 428<br />

Ostraco<strong>da</strong> 2 1<br />

Decapo<strong>da</strong><br />

Palaeomoni<strong>da</strong>e 0 13<br />

Insecta<br />

Ephemeroptera<br />

Polymitarci<strong>da</strong>e 6 21<br />

Baeti<strong>da</strong>e 1 1<br />

Odonata<br />

Libelluli<strong>da</strong>e 15 33<br />

Aeshni<strong>da</strong>e 1 1<br />

Perilesti<strong>da</strong>e 1 1<br />

Coenagrioni<strong>da</strong>e 1 1<br />

Hemiptera<br />

Corixi<strong>da</strong>e 2 2<br />

Naucori<strong>da</strong>e 1 0<br />

Belostomati<strong>da</strong>e 1 1<br />

Coleoptera<br />

Dytisci<strong>da</strong>e 1 16<br />

Hydrophili<strong>da</strong>e 10 9<br />

Noteri<strong>da</strong>e 0 15<br />

Scirti<strong>da</strong>e 2 2<br />

Tricoptera<br />

Polycentropodi<strong>da</strong>e 6 2<br />

Diptera<br />

Chironomi<strong>da</strong>e 5 4<br />

Case 3<br />

Case 17<br />

Case 5<br />

Case 8<br />

Case 1<br />

Case 20<br />

Case 4<br />

Case 14<br />

Case 2<br />

Case 10<br />

Case 7<br />

Case 15<br />

Case 6<br />

Case 12<br />

Case 9<br />

Case 18<br />

Case 16<br />

Case 13<br />

Case 11<br />

Case 19<br />

Cluster Tree<br />

0.0 0.10.20.30.40.50.60.70.80.9<br />

Distances<br />

Figura 1. Dendrograma de similari<strong>da</strong>de de Morisita <strong>da</strong><br />

fauna de invertebrados associados às raízes de E.<br />

crassipes, em relação aos locais amostrados (P- pequeno,<br />

G- grande).


Discussão<br />

Como era esperado, a abundância de invertebrados foi<br />

maior nas raízes grandes porém, sua densi<strong>da</strong>de média foi<br />

igual à encontra<strong>da</strong> nas raízes pequenas, embora a riqueza<br />

de famílias tenha sido maior nas raízes grandes. Postulouse<br />

então que o padrão encontrado seja causado pela maior<br />

superfície disponibili<strong>da</strong>de para colonização nas raízes<br />

grandes que poderiam suportar um maior número de<br />

organismos. Desta forma a probabili<strong>da</strong>de de se encontrar<br />

um maior número de taxa aumenta. Uma segun<strong>da</strong> explicação<br />

seria o aumento na disponibili<strong>da</strong>de de recursos, representa<strong>da</strong><br />

pelo maior número de indivíduos, o que estaria estimulando<br />

a presença de uma maior riqueza de espécie de algumas<br />

categorias tróficas nas raízes maiores. Por exemplo uma<br />

espécie de pre<strong>da</strong>dor preferencialmente escolheria uma área<br />

de vi<strong>da</strong> onde a abundância e a oferta de recursos é maior,<br />

fazendo com que outros taxa diferentes tenham a mesma<br />

escolha, resultando em comuni<strong>da</strong>des mais complexas.<br />

O que o dendograma evidencia é que muitas amostras<br />

são bem pareci<strong>da</strong>s entre si, mas sem relação com o tamanho<br />

<strong>da</strong>s raízes (P e G). Ou seja, há similari<strong>da</strong>de, mas não há<br />

uma fauna típica de comuni<strong>da</strong>des em função do tamanho<br />

<strong>da</strong>s raizes. Isso pode ser explicado simplesmente pela<br />

proximi<strong>da</strong>de/ conectivi<strong>da</strong>de entre as plantas e/ou bancos<br />

de macrófitas como um efeito do pequeno número de<br />

amostras.<br />

O elevado número de taxa associados as raízes<br />

evidenciam microhabitats diferentes. A fauna de<br />

invertebrados <strong>da</strong>s raízes pode estar sofrendo efeitos de<br />

tamanho e quanti<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s raízes secundárias e terciárias,<br />

densi<strong>da</strong>de de detrito agregado e distância entre os estolões.<br />

Agradecimentos<br />

Agradecemos a Ocírio “Juruna” e ao grupo 8 (Flávio,<br />

Flaviana, Carolina, Ana Paula, Eduardo) pelo auxílio nas<br />

coletas, Neuza Hama<strong>da</strong> e Jorge Nessimian pela aju<strong>da</strong> nas<br />

identificações dos invertebrados.<br />

Referências Bibliográficas<br />

Junk, W. J. 1973. Investigation on the ecology and<br />

production-biology of the “floating<br />

meadows”(Paspalo-Echinochloetum) on the middle<br />

Amazon. Amazoniana 4: 9-1-2.<br />

Pott, V. J., A. Pott. 2000. Plantas Aquáticas do Pantanal.<br />

Ed. EMBRAPA. Brasília, DF.<br />

RADAM BRASIL. 1978. Levantamento de Recursos<br />

Naturais. Vols. 1- 18. Ministério de Minas e Energia.<br />

Departamento Nacional de produção Mineral, Rio de<br />

Janeiro.<br />

Grupo 6 – Projeto Orientado 3<br />

Utilização de espécies arbóreas por esponjas<br />

(Porifera, Spongilli<strong>da</strong>e) na várzea: distribuição<br />

horizontal e proximi<strong>da</strong>de ao rio Solimões na<br />

Ilha <strong>da</strong> Marchantaria, AM<br />

Vanina Zini Antunes, Luiz Henrique Claro Jr., Genimar Rebouças Julião, Eduardo Vasconcelos e Patricia Garcia Tello<br />

Introdução<br />

As florestas inundáveis cobrem cerca de 20% <strong>da</strong> Bacia<br />

Amazônica Brasileira (Junk & Howard-Willians 1984) e as<br />

várzeas são as mais representativas, tanto em área quanto<br />

em fisionomia e estrutura (Prance 1979).<br />

O pulso de inun<strong>da</strong>ção sazonal <strong>da</strong>s águas na Amazônia<br />

modifica a paisagem, influenciando as características<br />

estruturais, produtivi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> floresta e composição de<br />

espécies, regulando ain<strong>da</strong> os padrões <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong>des<br />

locais (Campos et al. 1996).<br />

Estas florestas ocorrem em áreas geologicamente<br />

recentes, ricas em sedimentos do período Quaternário, e<br />

são inun<strong>da</strong><strong>da</strong>s periodicamente por rios de águas brancas,<br />

caracterizados por apresentarem grande quanti<strong>da</strong>de de<br />

partículas em suspensão (Worbes et al. 1992).<br />

Na época de enchente, parte <strong>da</strong> floresta está parcial ou<br />

totalmente encoberta pelas águas e diferenças no relevo<br />

resultam em variações no nível de água e no tempo de<br />

inun<strong>da</strong>ção. Neste período, os sedimentos vindos do rio<br />

entram, primeiramente nos lagos mais próximos à calha<br />

principal.<br />

As esponjas são animais filtradores que se alimentam de<br />

plâncton e material dissolvido na água. Reproduzem-se<br />

assexua<strong>da</strong>mente ou sexua<strong>da</strong>mente e formam gêmulas como<br />

forma de resistência ao período de escassez de água (Barnes<br />

1984). As esponjas utilizam troncos e galhos <strong>da</strong>s árvores<br />

como um substrato para fixação. O padrão de crescimento<br />

<strong>da</strong>s esponjas é influenciado pela disponibili<strong>da</strong>de de espaço<br />

Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002 41


e pelo tipo e veloci<strong>da</strong>de de correntes de água (Barnes 1984).<br />

Observações pessoais indicam que esponjas são comuns no<br />

rio Solimões.<br />

Nosso objetivo é comparar a abundância de esponjas em<br />

áreas submeti<strong>da</strong>s a diferentes períodos de inun<strong>da</strong>ção e em<br />

relação à distância do rio Solimões. Esperamos encontrar<br />

um número maior de esponjas nas áreas baixas e próximas<br />

ao rio, devido ao acúmulo de sedimentos.<br />

Métodos<br />

O trabalho foi desenvolvido na várzea, durante o período<br />

de seca, na Ilha <strong>da</strong> Marchantaria (03º14’ S, 59º57’ O) no<br />

rio Solimões, município de Iranduba (AM) a 15km <strong>da</strong><br />

confluência deste rio com o rio Negro. A temperatura média<br />

anual é de 26,7ºC e a pluviosi<strong>da</strong>de é de aproxima<strong>da</strong>mente<br />

2186 mm por ano (RADAMBRASIL 1978).<br />

Foram estu<strong>da</strong>dos dois locais, um próximo ao Lago do<br />

Camaleão em duas cotas, variando de 6 metros de inun<strong>da</strong>ção<br />

na área baixa, que denominamos cota baixa 1, e 3 metros na<br />

área alta. E outro local próximo ao rio Solimões, submetido<br />

a 6,5 metros de inun<strong>da</strong>ção, que definimos como cota baixa<br />

2. Em ca<strong>da</strong> local e cota, fizemos dois transectos de 50 metros<br />

em ca<strong>da</strong> área e em intervalos de 10 metros identificamos os<br />

quatro indivíduos arbóreos mais próximos do transecto. Em<br />

ca<strong>da</strong> árvore verificamos a quanti<strong>da</strong>de de esponjas presente.<br />

Para testar se havia diferença no número de colônias entre<br />

as cotas, utilizamos o teste t-Student.<br />

Resultados<br />

Foram encontra<strong>da</strong>s 21 espécies de plantas arbóreas<br />

utiliza<strong>da</strong>s como suporte pelas esponjas. As espécies com<br />

maior freqüência de ocorrência de esponjas foram Crataeva<br />

benthanii (Cappari<strong>da</strong>ceae) e Vitex cymosa (Verbenaceae)<br />

(Tabela 1).<br />

Tabela 1. Espécies arbóreas, número de indivíduos em<br />

ca<strong>da</strong> cota, indicado entre parênteses, e número de<br />

colônias encontra<strong>da</strong>s em ca<strong>da</strong> cota amostra<strong>da</strong>.<br />

Espécies Número de esponjas e de árvores<br />

Alta Baixa 1 Baixa 2<br />

Eschweilera (3) 12 - -<br />

Tiliaceae sp1 (7) 11 - -<br />

Calophyllum brasiliensis(2) 10 - -<br />

Triplaris surinamensis (1) 8 - -<br />

Astrocaryum jauari (1) 6 - -<br />

Garcinia macrophylla (3) 5 - -<br />

Mollia speciosa (3) 3 - -<br />

Gustavia augusta (1) 3 - -<br />

Xylopia surinamensis (1) 2 - -<br />

Proteaceae (3) 1 - -<br />

Buchenaria oxycarpa (1) - 22 -<br />

Moraceae sp1 (1) - 3 -<br />

Annona hypoglaucea (1) - 0 -<br />

Crataeva benthanii (34) 8 43 381<br />

Vitex cymosa (48) - 60 112<br />

Simarouba amara (1) - - 35<br />

Pseudobombax munguba (4) 5 2 25<br />

Laetia corymbulova (4) - - 6<br />

Alchornea castaenifolia (1) - - 6<br />

Psidium acutangulum (6) - 4 5<br />

Cecropia latiloba (6) 0 0 4<br />

Total (132) 74 134 580<br />

42 Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002<br />

Houve diferença significativa entre o número médio de<br />

esponjas por árvore na cota baixa 1 (14,5 colônias) em<br />

relação à cota alta (5,5 colônias), t = 2,324, p=0,045. As<br />

cotas baixas 1 e 2 também diferiram significativamente no<br />

número de colônias (14,5 e 60,7 respectivamente), t= -3,617,<br />

p= 0,006.<br />

Discussão<br />

A diferença observa<strong>da</strong> no número de esponjas entre a<br />

cota alta e a baixa 1 foi provavelmente devido ao tempo de<br />

inun<strong>da</strong>ção. Nas cotas baixas a maioria <strong>da</strong>s árvores tem sua<br />

copa parcialmente inun<strong>da</strong><strong>da</strong>, o que proporciona uma<br />

varie<strong>da</strong>de de substratos, como galhos, folhas e ramos a serem<br />

colonizados. Além disso, as árvores experimentam um maior<br />

período de submersão, oferecendo substrato às esponjas por<br />

um tempo mais longo.<br />

Apesar <strong>da</strong>s cotas baixas 1 e 2 sofrerem níveis similares<br />

de inun<strong>da</strong>ção (cerca de 6 metros) estas possuem uma<br />

quanti<strong>da</strong>de diferente de colônias. A cota baixa 2 apresentou<br />

um maior número de esponjas, o que pode ser explicado<br />

pela maior proximi<strong>da</strong>de ao rio Solimões. Assim, esponjas<br />

que se fixam nas árvores em áreas próximas ao rio podem<br />

estar filtrando maior quanti<strong>da</strong>de de nutrientes, o que permite<br />

sua sobrevivência e crescimento por um período mais longo.<br />

Outra explicação alternativa seria o fato <strong>da</strong>s esponjas serem<br />

animais sésseis, o que condicionaria a colonização destes<br />

organismos na direção <strong>da</strong> corrente de água. Desta forma, a<br />

vegetação <strong>da</strong> cota baixa 2 funcionaria como uma malha que<br />

retêm a maioria destes organismos, explicando a menor<br />

freqüência de esponjas nas outras cotas.<br />

As espécies de árvores Crataeva benthanii e Vitex cymosa<br />

foram utiliza<strong>da</strong>s com maior freqüência como substrato de<br />

fixação <strong>da</strong>s esponjas. Tal fato poderia ser explicado pelas<br />

a<strong>da</strong>ptações ao período de inun<strong>da</strong>ção que estas espécies<br />

possuem, dominando assim áreas submeti<strong>da</strong>s a longos<br />

períodos de inun<strong>da</strong>ção. Contudo, como a composição de<br />

espécies foi diferente entre as cotas, isso inviabiliza uma<br />

comparação mais precisa entre a relação planta- hospedeiro.<br />

Além disso, a escala espacial de amostragem deste estudo<br />

pode não ser adequa<strong>da</strong> na avaliação dos fatores que afetam<br />

a distribuição <strong>da</strong>s esponjas em seus substratos, sendo<br />

necessário estudos mais detalhados.<br />

Agradecimentos<br />

Agradecemos ao Leandro Valle Ferreira pela orientação<br />

no projeto, ao Marcelo Pinguela pela acessoria durante o<br />

trabalho e ao Prof. Jorge Nessimian pelas discussões a<br />

respeito dos resultados.<br />

Referências Bibliográficas<br />

Barnes, R.D. 1984. Zoologia dos Invertebrados. 4 Edição.<br />

Ed. Rocca. São Paulo, SP.<br />

Campos, M. T. V. A., A. D. de Sousa, C. Morsello, K. A.<br />

Caro e T. Lomáscolo. 1996. Influência do tempo de<br />

inun<strong>da</strong>ção em parâmetros morfométricos de duas


espécies de Várzea. IV Curso de Campo – <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>Floresta</strong> Amazônica. INPA/Smithsonian Institution/<br />

Unicamp/OTS. 142-145.<br />

Junk & Howard-Williams, 1984. Ecology of aquatic<br />

macrophytes in Amazonia. In: Sioli (ed) The Amazon<br />

– Liminology and Landscape ecology of a mighty<br />

tropical riverand its basin. Monographiae Biologicae.<br />

Junk, Dordrecht, pp 269-293.<br />

Prance, G. T. 1979. Notes on the vegetation of Amazonia<br />

III. The terminology of Amazonian forest types subject<br />

to inun<strong>da</strong>tion. Brittonia 34: 228-251.<br />

RADAMBRASIL, 1978. Levantamento de Recursos<br />

Naturais. Vols.1-18. Ministério <strong>da</strong>s Minas e Energia.<br />

Departamento Nacional de Produção Mineral, Rio de<br />

Janeiro.<br />

Worbes; M.H.Klinge; J.D. Revilla & C. Martius. 1992.<br />

On the dynamics, floristic subdivision and geographical<br />

distribution of várzea forests in central Amazonia.<br />

Journal of Vegetation Science 3: 553-564.<br />

Grupo 6 PO 4<br />

Influência <strong>da</strong> topografia e <strong>da</strong> luminosi<strong>da</strong>de na<br />

regeneração <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de vegetal na várzea, Ilha <strong>da</strong><br />

Marchantaria, AM<br />

Paula Machado Pedrosa, Carina Lima <strong>da</strong> Silveira, André Faria Mendonça, Yumi Oki, Josué Ribeiro <strong>da</strong> Silva Nunes<br />

Introdução<br />

O nível <strong>da</strong> água nas florestas alagáveis <strong>da</strong> Amazônia<br />

Central, pode flutuar cerca de 14 metros e durar até 270<br />

dias entre as estações de cheia e vazante (Junk et al. 1989).<br />

Essa drástica alteração anual do ambiente terrestre para<br />

aquático causam profundo estresse na comuni<strong>da</strong>de vegetal,<br />

resultando em a<strong>da</strong>ptações para sobreviver durante os<br />

períodos de submersão total ou parcial (Junk et al. 1989;<br />

Ferreira & Stohlgren 1999).<br />

Prance (1997) reconhece sete diferentes tipos de florestas<br />

alagáveis na região amazônica. Desses os mais comuns são<br />

as florestas alagáveis por rios de água branca ou preta. As<br />

características dessas florestas diferem devido aos aspectos<br />

geológicos e hidrológicos (Fittkau 1971, apud Ferreira 2000;<br />

Kubtizki 1989).<br />

A variação <strong>da</strong> topografia nas áreas alagáveis cria<br />

diferentes habitats, que variam quanto a duração <strong>da</strong> cheia,<br />

tipo de solo, elevação e distância <strong>da</strong>s florestas não alagáveis<br />

(Junk et al. 1989; Ferreira, 1997). A duração e<br />

previsibili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> flutuação do nível <strong>da</strong> água do rio pode<br />

influenciar a riqueza e a composição <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de ao longo<br />

de um gradiente de inun<strong>da</strong>ção (Ferreira 1997).<br />

A distribuição de espécies nas florestas de várzea no oeste<br />

<strong>da</strong> Amazônia tem sua variação fortemente relaciona<strong>da</strong> ao<br />

movimento <strong>da</strong> água, erosão e taxas de sedimentação, porque<br />

estes efeitos alteram a estrutura <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de e a<br />

estabili<strong>da</strong>de do habitat (Salo et al., 1986).<br />

A duração e previsibili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> flutuação do nível <strong>da</strong><br />

flutuação do nível <strong>da</strong> água do rio pode influenciar a riqueza<br />

e a composição ao longo de um gradiente de inun<strong>da</strong>ção<br />

(Ferreira, 1997), o objetivo deste trabalho foi avaliar a<br />

influência <strong>da</strong> inun<strong>da</strong>ção e luminosi<strong>da</strong>de na riqueza e<br />

abundância de plântulas em uma floresta de várzea.<br />

Métodos<br />

Realizamos este estudo em uma várzea na Ilha <strong>da</strong><br />

Marchantaria, município de Iranduba (03º15 S, 60º00W),<br />

localiza<strong>da</strong> no Baixo Solimões, a 40 Km <strong>da</strong> Manaus,<br />

Amazonas (Figura 1).<br />

Figura 1. Desenho esquemático <strong>da</strong>s duas cotas<br />

topográficas estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s na várzea <strong>da</strong> Ilha <strong>da</strong><br />

Marchantaria, no período de vazante.<br />

Montamos 20 parcelas de 2 x 2 m, distantes no mínimo<br />

10m entre si, sendo 10 na área mais alta <strong>da</strong> várzea e 10 na<br />

área mais baixa <strong>da</strong> várzea. Em ca<strong>da</strong> área, 5 parcelas foram<br />

amostra<strong>da</strong>s na sombra e outras 5 no sol. Em ca<strong>da</strong> parcela,<br />

foram quantifica<strong>da</strong>s e identifica<strong>da</strong>s to<strong>da</strong>s as plântulas<br />

presentes.<br />

Utilizamos two-way ANOVA para avaliar se havia<br />

diferenças entre a riqueza e abundância de espécies como<br />

variáveis dependentes, em relação a cota e a luminosi<strong>da</strong>de.<br />

Afim de testar a variação na composição entre os fatores<br />

analisados, utilizamos uma análise de ordenação de Bray-<br />

Curtis (coeficiente de distância: coeficiente de Sorensen,<br />

Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002 43


distância euclidiana).<br />

Resultados<br />

Encontramos um total de 41 espécies, 28 na área alta de<br />

várzea e 15 na área baixa. Das 28 espécies encontra<strong>da</strong>s na<br />

área alta, 26 são exclusivas desta área. A área baixa<br />

apresentou 13 espécies exclusivas.<br />

A riqueza de espécies foi significativamente maior nas<br />

áreas com luz (p = 0,023). Os outros fatores testados<br />

(Riqueza x cota altitudinal (p = 0,33), abundância x<br />

luminosi<strong>da</strong>de (p = 0,061) e abundância x cota altitudinal (p<br />

= 0,164) não mostraram uma relação significativa.<br />

Houve uma níti<strong>da</strong> separação <strong>da</strong> composição de espécies<br />

de plântulas em relação cota altitudinal, porém não houve<br />

uma separação níti<strong>da</strong> em relação a luminosi<strong>da</strong>de (Figuras 2<br />

e 3). Isto mostra que a composição de plântulas é<br />

influencia<strong>da</strong> pela cota, ou seja, diretamente relaciona<strong>da</strong> ao<br />

nível e a duração do pulso de inun<strong>da</strong>ção.<br />

Figura 2. Ordenação (ordenação Bray-Curtis, baseado em<br />

distância de sorensen e projeção e resíduos com distância<br />

euclidiana) <strong>da</strong>s plântulas encontra<strong>da</strong>s em uma área alta e<br />

baixa <strong>da</strong> várzea na Ilha <strong>da</strong> Marchantaria.<br />

44 Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002<br />

Axis 2<br />

Legen<strong>da</strong>:<br />

alto sombra<br />

alto sol<br />

baixo sombra<br />

baixo sol<br />

Axis 1<br />

Figura 3. Gráfico de ordenação (ordenação Bray-Curtis,<br />

baseado em distância de sorensen e projeção e resíduos<br />

com distância euclidiana) <strong>da</strong>s plântulas encontra<strong>da</strong>s em<br />

uma área alta e baixa <strong>da</strong> várzea em uma área aberta<br />

(exposta ao sol) e uma área fecha<strong>da</strong> (sombrea<strong>da</strong>) na Ilha<br />

<strong>da</strong> Marchantaria.<br />

Discussão<br />

A relação entre a riqueza de espécies e a luminosi<strong>da</strong>de já<br />

eram espera<strong>da</strong>s pelo fato deste fator seressencial para o<br />

desenvolvimento e estabelecimento <strong>da</strong>s plântulas. Parolin<br />

(2001) considera a luminosi<strong>da</strong>de um fator preponderante<br />

para o densenvolvimento de determina<strong>da</strong>s espécies <strong>da</strong><br />

Várzea.<br />

Entretanto, a riqueza entre as cotas altitudinais foi muito<br />

semelhante, sugerindo que nem sempre a similari<strong>da</strong>de de<br />

riqueza reflete as diferenças na composição vegetal de ca<strong>da</strong><br />

área. A composição de espécies distintas encontra<strong>da</strong>s nos<br />

dois locais de amostragem pode estar relaciona<strong>da</strong> com a<br />

diferença no tempo de inun<strong>da</strong>ção.<br />

Verificamos também, que a luminosi<strong>da</strong>de propicia maior<br />

riqueza em relação as áreas sombrea<strong>da</strong>s, este fator não foi<br />

um fator fun<strong>da</strong>mental para a determinação <strong>da</strong> composição<br />

vegetal <strong>da</strong>s espécies encontra<strong>da</strong>s em ca<strong>da</strong> área estu<strong>da</strong><strong>da</strong>.<br />

Como não medimos a intensi<strong>da</strong>de luminosa, não sabemos<br />

se as mesmas espécies estivessem em áreas com maior<br />

luminosi<strong>da</strong>de, este fator seria considerado significativo.<br />

A riqueza reflete a importância dos diferentes ambientes,<br />

pois mesmo quando o número de espécies é igual entre<br />

ambientes, a composição dos mesmos pode ser totalmente<br />

distinta. Como foi observado entre as duas cotas altitudinais.<br />

A diferença na composição encontra<strong>da</strong> nestas duas áreas<br />

pode estar relaciona<strong>da</strong> com a diferença no tempo de<br />

inun<strong>da</strong>ção e na quanti<strong>da</strong>de de sedimentos carreados no<br />

período hidrológico de cheia nos dois ambientes, Ferreira<br />

(2000) estu<strong>da</strong>ndo florestas de igapó verificou que nas<br />

florestas destes ambientes a riqueza não esta relaciona<strong>da</strong><br />

aos gradientes de inun<strong>da</strong>ção, Campbell et all. (1992)<br />

observou em área de várzea o aumento <strong>da</strong> riqueza com o<br />

decréscimo do gradiente de inun<strong>da</strong>ção no rio Juruá. Na<br />

análise de ordenação foi verifica<strong>da</strong> uma grande dispersão<br />

dos grupos por local amostrado. Isto sugere que a existência<br />

de outras variáveis que podem estar envolvi<strong>da</strong>s neste padrão<br />

como a dispersão de sementes <strong>da</strong>s espécies amostra<strong>da</strong>s,<br />

diferenças no tipo de solo e no grau de intensi<strong>da</strong>de luminosa.<br />

A importância <strong>da</strong> topografia na criação de diferentes<br />

ambientes na várzea está diretamente relaciona<strong>da</strong> com o<br />

estabelecimento de plântulas e de diferentes espécies.<br />

Diversos autores reforçam que a composição vegetal varia<br />

em diferentes gradientes topográficos e consequentemente<br />

com o Pulso de Inun<strong>da</strong>ção, (Ferreira 2000; Ferreira &<br />

Stohlgren 1999; Ferreira & Prance 1998; Wittmann &<br />

Parolin 1999; Parolin & Ferreira 1998; Ferreira 1997;<br />

Ferreira 1998; Parolin 2001; Campbell, Stone & Rosas Jr<br />

1992).<br />

A exploração antrópica nas áreas de várzea interferem<br />

na heterogenei<strong>da</strong>de <strong>da</strong> composição vegetal encontra<strong>da</strong>s em<br />

diferentes topografias. Desta forma, o conhecimento sobre<br />

a composição <strong>da</strong>s espécies que ocorrem em diferentes<br />

topografias é importante em projetos de regeneração de áreas<br />

desmata<strong>da</strong>s e pode contribuir para estratégias efetivas de<br />

conservação para este tipo de ecossistema.


Agradecimentos<br />

Agradecemos a Leandro Valle Ferreira pela orientação,<br />

ao Marcelo Moreira (Pinguela) pela aju<strong>da</strong> no trabalho de<br />

campo e nas sugestões e (segundo o Leandro) ao prof. Dr.<br />

(Deus, o bom!!) Eduardo Venticinque pelos auxílios nas<br />

análises estatísticas.<br />

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gravities between trees in Várzea and Igapó (Central<br />

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species from Central Amazonian Várzea, Ecotrópica,<br />

5: 51-57.<br />

Grupo 7, Projeto Orientado 3<br />

Orientador do projeto: Leandro Valle Ferreira<br />

Distribuição de morfotipos de Libelluli<strong>da</strong>e (Odonata:<br />

Anisoptera) em uma área aberta e outra fecha<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

Ilha <strong>da</strong> Marchantaria, Amazonas, Brasil<br />

Carina Lima <strong>da</strong> Silveira, André Faria Mendonça, Yumi Oki, Paula Machado Pedrosa, Josué Ribeiro <strong>da</strong> Silva Nunes<br />

Introdução<br />

As libélulas são insetos relativamente grandes e de cores<br />

vistosas que passam boa parte de sua vi<strong>da</strong> voando. Em todos<br />

os estádios de desenvolvimento são pre<strong>da</strong>dores,<br />

alimentando-se de diversos insetos e de outros organismos<br />

(Borror & De Long, 1998). Esses insetos são ectotérmicos<br />

e a seleção de microhabitat é importante para a regulação<br />

<strong>da</strong> temperatura corporal. Nos habitats de forrageamento, a<br />

diferença nos mecanismos de termorregulação e<br />

territoriali<strong>da</strong>de, determinam o uso dos diferentes microhabi-<br />

tats. Desse modo, o arranjo espacial <strong>da</strong> distribuição destas<br />

espécies será determinado principalmente por características<br />

comportamentais e fisiológicas (de Marco & Resende,<br />

2002). A competição por recursos é um fator importante<br />

entre os adultos de libélulas em habitats de forrageamento e<br />

esta deve ser maior entre as espécies (de Marco, 1998).<br />

O tamanho corporal <strong>da</strong>s libélulas é relacionado com a<br />

capaci<strong>da</strong>de termorreguladora dos indivíduos. Baseado no<br />

comportamento termorregulatório, Corbet (1962) classificou<br />

as espécies de Odonata em voadores (que ficam voado a<br />

Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002 45


maior parte do tempo) e empoleiradores (que permanecem<br />

a maior parte do tempo sobre vários tipos de subtrato).<br />

Machos de empoleiradores são comumente encontrados<br />

defendendo territórios próximos a corpos d’água nos quais<br />

as fêmeas estão forrageando (de Marco, 1998). Estudos<br />

recentes sugerem que os Odonata classificados como<br />

voadores são endotérmicos e podem aumentar sua<br />

temperatura corporal pela ativi<strong>da</strong>de do músculo <strong>da</strong> asa e<br />

resfriar pela troca de calor entre tórax e abdome e as bati<strong>da</strong>s<br />

de suas asas (de Marco, 1998).<br />

Espécies de pequeno porte são, geralmente, mais<br />

suscetíveis a altas temperaturas. Algumas espécies de<br />

pequeno porte não sobrevivem a temperaturas acima de 38°C<br />

(de Marco, 1998). De acordo com May (1998), os Odonata<br />

podem ser classificados em três grupos em relação a<br />

habili<strong>da</strong>de para sobreviver a variações na temperatura do<br />

ambiente: 1) conformadores; 2) heliotérmicos e 3)<br />

endotérmicos. Estes mecanismos termorregulatórios podem<br />

ser divididos em quatro categorias nos animais<br />

ectodérmicos: i) o controle de exposição ao sol por ajustes<br />

corporais; ii) seleção de microhabitats; iii) mu<strong>da</strong>nças no<br />

tempo de ativi<strong>da</strong>de, e iv) coloração corporal. May (1998)<br />

ain<strong>da</strong> sugere que espécies diurnas podem mostrar um modelo<br />

de ativi<strong>da</strong>de bimo<strong>da</strong>l para altas temperaturas no período<br />

próximo ao meio do dia.<br />

Pode-se observar a distribuição destes organismos no<br />

ambiente em relação ao gradiente de temperatura. Áreas<br />

abertas com pouca vegetação arbórea e arbustiva e áreas<br />

fecha<strong>da</strong>s com dossel denso, são ambientes em que<br />

percebemos o efeito <strong>da</strong> temperatura na ativi<strong>da</strong>de destes<br />

insetos.<br />

Neste trabalho, temos como objetivos, avaliar: (1) a<br />

distribuição dos morfotipos de libélulas em uma área aberta<br />

e outra fecha<strong>da</strong> em diferentes horários e temperaturas do<br />

período matinal; (2) se existe relação do tamanho de libélulas<br />

com a ativi<strong>da</strong>de dos indivíduos em áreas de vegetação aberta<br />

e áreas de vegetação mais densa, em um ambiente de várzea<br />

<strong>da</strong> Amazônia Central.<br />

Metodologia<br />

Realizamos este estudo em uma várzea na Ilha <strong>da</strong><br />

Marchantaria, município de Iranduba (03º15 S, 60º00W),<br />

localiza<strong>da</strong> no Rio Amazonas a 15 km de Manaus, Amazonas.<br />

A região caracteriza-se por um clima tropical úmido e<br />

precipitação média anual em torno de 1771 mm (de Souza<br />

et. al., 1999).<br />

Comparamos a abundância de libélulas entre uma área<br />

aberta, domina<strong>da</strong> pelo capim Echinocloa sp. e uma área<br />

fecha<strong>da</strong> domina<strong>da</strong> por espécies arbóreas. Coletamos<br />

diferentes morfotipos de libélulas que ocorriam nas duas<br />

áreas para separá-los em morfotipos, levando em<br />

consideração características morfológicas mais visíveis para<br />

ca<strong>da</strong> tipo, como coloração do tórax, coloração do abdome,<br />

manchas colori<strong>da</strong>s nas asas e espessura do abdome.<br />

46 Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002<br />

Percorremos, de10 em 10 minutos, um transecto de 30<br />

metros em uma trilha que cruzava as duas áreas em estudo.<br />

A temperatura do ambiente foi medi<strong>da</strong> a ca<strong>da</strong> 30 min. em<br />

ambas as áreas.<br />

Foram coleta<strong>da</strong>s três espécimes de ca<strong>da</strong> morfoespécie e<br />

medi<strong>da</strong>s a espessura do tórax e comprimento <strong>da</strong> asa anterior<br />

e do abdomen. A partir destes <strong>da</strong>dos, foram realiza<strong>da</strong>s<br />

análises de ANCOVA para a relação entre o número de<br />

indivíduos e a área de coleta e o período de observação,<br />

Regressão Linear e o teste não-paramétrico de Kruskal-<br />

Wallis para a diferença de abundância de indivíduos nas<br />

duas áreas estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s. Para analisar os fatores que<br />

influenciaram no número de indivíduos por morfotipo,<br />

devido a ampla variância dentro de ca<strong>da</strong> área, classificamos<br />

os <strong>da</strong>dos.<br />

Resultados<br />

Apenas indivíduos <strong>da</strong> família Libelluli<strong>da</strong>e, pertencentes<br />

a 7 morfotipos diferentes, foram encontrados. Estes<br />

morfotipos compreendiam 4 espécies, sendo elas:<br />

Erythrodiplax lativittata, Erythemis vesiculosa, Miathyria<br />

marcella, Erythrodiplax cf. famula. Um dos morfotipos<br />

coletado não foi identificado, pois todos os indivíduos eram<br />

fêmeas.<br />

Dois morfótipos, ambos pertencentes a espécie Erythemis<br />

vesiculosa, ocorreram somente na área fecha<strong>da</strong>. O morfotipo<br />

maior, pertencente a espécie Erythrodiplax cf. famula, foi<br />

encontrado somente na área aberta. Observamos, também,<br />

que alguns fatores ambientais, tais como a temperatura do<br />

ar e o comportamento, podem estar determinando a<br />

distribuição <strong>da</strong>s espécies.<br />

A variação do tamanho para o corpo dos morfotipos<br />

coletados não foi diferente entre as duas áreas analisa<strong>da</strong>s e<br />

em relação as horas observa<strong>da</strong>s no período <strong>da</strong> manhã (Figura<br />

1). Os indivíduos de tamanhos variados foram distribuídos<br />

regularmente nas duas áreas e no período de observação.<br />

A abundância de indivíduos na área aberta foi maior que<br />

na área fecha<strong>da</strong> (K = 36,0; P = 0,004; g.l. = 1; Figura 2).<br />

Em relação ao período <strong>da</strong> manhã em que havia ativi<strong>da</strong>de de<br />

Odonata, uma relação significativa com a abundância de<br />

indivóduos também foi constata<strong>da</strong>. Na área aberta foram<br />

encontrados mais indivíduos que na área fecha<strong>da</strong><br />

(F [1,9] =44,124; P=0,001; R 2 =0,845). As abundâncias nas duas<br />

áreas diminui em relação ao tempo gra<strong>da</strong>tivamente (F [1,9] =<br />

4,891; P = 0,054; R 2 = 0,0845; Figura 3).<br />

A área aberta apresentou uma variação de temperatura<br />

de 30 a 34 ºC enquanto na área fecha<strong>da</strong> a variação foi de 28<br />

a 29,5ºC. Sendo assim, a temperatura do ambiente exerceu<br />

influência significativa na abundância dos indivíduos nas<br />

áreas estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s (F [8,26] =2,468; P=0,039; R 2 =0,432; Figura<br />

4). Em períodos de temperatura mais baixa a abundância<br />

de indivíduos na área fecha<strong>da</strong> era maior e em períodos de<br />

temperaturas maiores houve um aumento na abundância de<br />

indivíduos na área aberta.


Tamanho dos indivíduos (mm)<br />

31<br />

30<br />

29<br />

28<br />

27<br />

26<br />

25<br />

24<br />

7 8 9 10 11<br />

Hora (período <strong>da</strong> manhã)<br />

Figura 1. Tamanho <strong>da</strong>s asas dos indivíduos nas duas<br />

áreas, aberta e fecha<strong>da</strong>, em relação ao período de<br />

observação (manhã).<br />

Abundância de indivíduos<br />

90<br />

80<br />

70<br />

60<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

aberta fecha<strong>da</strong><br />

Área<br />

aberta<br />

fecha<strong>da</strong><br />

Figura 2. Abundância de indivíduos de Libelluli<strong>da</strong>e nas<br />

áreas amostra<strong>da</strong>s (área aberta e área fecha<strong>da</strong>).<br />

Abundância ordena<strong>da</strong><br />

15<br />

10<br />

5<br />

0<br />

aberta<br />

fecha<strong>da</strong><br />

7 8 9 10 11<br />

Hora (período <strong>da</strong> manhã)<br />

Figura 3. Abundância ordena<strong>da</strong> dos indivíduos de<br />

Libelluli<strong>da</strong>e em ca<strong>da</strong> área, aberta e fecha<strong>da</strong>, em relação<br />

as observações realiza<strong>da</strong>s no período <strong>da</strong> manhã.<br />

Figura 4. Abundância de indivíduos nas duas áreas,<br />

aberta e fecha<strong>da</strong>, na várzea em relação à temperatura do<br />

ambiente em diferentes períodos <strong>da</strong> manhã.<br />

Discussão<br />

O horário não influenciou na distribuição <strong>da</strong>s libélulas<br />

nas duas áreas. Embora esse efeito não tenha sido bem<br />

pronunciado por dois fatores: A) o tempo de observação (2<br />

horas e meia); B) as variações de temperatura oscilaram<br />

para menos ao longo <strong>da</strong> manhã.<br />

A heterogenei<strong>da</strong>de diferencial <strong>da</strong>s áreas, influenciou a<br />

abundância <strong>da</strong>s libélulas. A distribuição <strong>da</strong>s libélulas foi<br />

correlaciona<strong>da</strong> com a temperatura. De Marco (1998) sugere<br />

que os Odonatas possuem comportamento termoregulador<br />

e aquecem seu corpo através <strong>da</strong> movimentação do músculo<br />

<strong>da</strong>s asas e o resfriam através de trocas de calor na região do<br />

tórax-abdomen. A maioria dos morfotipos observados neste<br />

estudo apresentou maior abundância com o aumento <strong>da</strong><br />

temperatura, sendo que apenas um apresentou relação<br />

inversa.<br />

O tamanho dos indivíduos não foi a variável que<br />

determinou a distribuição na área aberta e na fecha<strong>da</strong>,<br />

provavelmente porque a amplitude do tamanho dos<br />

morfotipos foi varia<strong>da</strong>. May (1998) mostrou que o<br />

coeficiente de condução e a habili<strong>da</strong>de termorregulatória<br />

em heliotérmicos diminui com o tamanho do corpo. Este<br />

fato sugere que no mesmo grupo fisiológico são espera<strong>da</strong>s<br />

algumas diferenças comportamentais relaciona<strong>da</strong>s ao<br />

tamanho do corpo.<br />

Em geral, os Odonatas organizam-se espacialmente por<br />

disputa de território e seleção de microhabitat. Disputas por<br />

espaço para forrageamento são raros entre fliers e perchers.<br />

Esta observação sugere que a cominu<strong>da</strong>de deve ser<br />

considera<strong>da</strong> como um sistema não-interativo, sem<br />

manipulação de recusros ou forte interação competitiva (de<br />

Marco, 1998).<br />

Agradecimentos<br />

Agradecemos à Profa. Neusa Hama<strong>da</strong>, pela orientação e<br />

auxílio em campo, à colega de curso, Daniela Chaves<br />

Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002 47


Resende, pela identificação do material coletado e sugestões<br />

na discussão dos resultados e ao Prof. Dr. Eduardo “Dadão”<br />

Venticinque, pelo auxílio nas análises estatísticas.<br />

Referências Bibliográficas<br />

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Estudos dos Insetos. Ed. Edgarg Blücher LTDA. São<br />

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48 Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002<br />

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<strong>da</strong> Marchantaria, Amazônia Central. In: E. Venticinque<br />

& M. Hopkins, 1999. Curso de Campo – <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>Floresta</strong> Amazônica, p. 89-91.<br />

Grupo 7 – Projeto Orientado 4<br />

Orientadora: Prof. Neusa Hama<strong>da</strong><br />

Fauna de invertebrados associa<strong>da</strong> a bulbos de<br />

Eichhornia crassipes (Mart.) Solms. (Pontederiaceae)<br />

em uma área de várzea na Amazônia Central<br />

Ana Paula Carmignotto, Flaviana Maluf de Souza, Carolina Laura Morales, Eduardo Cardoso Teixeira, Flávio José Soares Jr.<br />

Introdução<br />

Conhecido como “rio de águas brancas” o Solimões, tal<br />

qual muitos de seus afluentes, é caracterizado por águas de<br />

ph próximo ao neutro (entre 6 e 7) e uma grande carga de<br />

sedimentos em suspensão. Apresenta aproxima<strong>da</strong>mente 25<br />

cm de transparência vertical (J. Zuanon, com pess.).<br />

Associa<strong>da</strong> a estas condições físico-químicas, a sazonali<strong>da</strong>de<br />

na flutuação do nível <strong>da</strong>s águas garante ao seu entorno uma<br />

dinâmica de paisagens que inclui dentre diversas<br />

fitofisionomias, a várzea.<br />

A várzea apresenta diversas particulari<strong>da</strong>des, atingindo<br />

sua forma plena após a cheia, quando a redução do nível<br />

d’água deixa aflorar as porções de terra e a cobertura vegetal<br />

associa<strong>da</strong>. Dentre os grupos vegetais mais característicos<br />

dessa fisionomia, as macrófitas aquáticas, em ilhas ou<br />

isola<strong>da</strong>s, constituem ambientes propícios para uma rica fauna<br />

de invertebrados (Moscoso & Sotta 1997). Algumas espécies<br />

de macrófitas se destacam pela ampla distribuição<br />

geográfica, como Eichhornia crassipes e E. azurea<br />

(Pontederiaceae) (J. Nunes, <strong>da</strong>dos não publicados).<br />

Eichhornia crassipes (Mart.) Solms é uma espécie <strong>da</strong><br />

família Pontederiaceae, que apresenta ampla distribuição<br />

pantropical com 7 gêneros restritos ao ambiente aquático<br />

(Joly 1977). Essa planta, também conheci<strong>da</strong> como<br />

“camalote” ou “mururé” na Amazônia, possui uma expansão<br />

<strong>da</strong> base do pecíolo, mais evidente nos indivíduos jovens,<br />

resultado dos grandes espaços intersticiais ocupados por ar.<br />

Além de garantir a capaci<strong>da</strong>de de flutuação <strong>da</strong> planta, esses<br />

bulbos são passíveis de abrigar numerosos insetos e outros<br />

micro-organismos em seus diversos estádios de<br />

desenvolvimento (N. Hama<strong>da</strong>, com. pess.).<br />

Dentro deste contexto, decidimos caracterizar a fauna<br />

de invertebrados associa<strong>da</strong> aos bulbos de E. crassipes e<br />

observar se diferenças na sua forma, bem como seu estado<br />

de decomposição, podem influenciar a riqueza e a<br />

abundância desta fauna.<br />

Métodos<br />

O presente trabalho foi desenvolvido em uma área de<br />

várzea nas margens do lago do Camaleão, rio Solimões, a<br />

cerca de 20 km ao sul de Manaus, AM (3 o 15’S e 59 o 58’W).<br />

Ao longo do lago, amostramos moitas aleatoriamente e<br />

coletamos 20 indivíduos de Eichhornia crassipes<br />

pertencentes a dois morfotipos diferentes: indivíduos com<br />

bulbos pequenos e de formato arredon<strong>da</strong>do (n=10), aqui<br />

denominados “pequenos”, e indivíduos com bulbos estreitos<br />

e alongados (n=10), aqui denominados “grandes”.<br />

Após a coleta de campo, fizemos a triagem do material<br />

separando os bulbos de ca<strong>da</strong> indivíduo de acordo com o<br />

estado físico: bulbos predominantemente íntegros, que<br />

chamaremos de “novos”, e bulbos com mais de 50% do<br />

tecido em decomposição, que chamaremos de “velhos”. Em


segui<strong>da</strong>, fizemos a contagem e a identificação dos<br />

invertebrados presentes dentro de ca<strong>da</strong> bulbo.<br />

Para investigar a existência de diferenças na riqueza e<br />

abundância dos invertebrados entre os diferentes morfotipos<br />

e os estados físicos dos bulbos de E. crassipes, fizemos uma<br />

análise de variância (ANOVA de duas vias), testando a<br />

interação entre esses fatores.<br />

Resultados<br />

Considerando todos os indivíduos de E. crassipes<br />

amostrados, registramos a presença de 10 taxa diferentes<br />

de invertebrados, dentre os quais apenas Oligochaeta não<br />

pertence à classe dos insetos (Figura 1). A família<br />

Chironomii<strong>da</strong>e (Diptera) foi o taxon mais abun<strong>da</strong>nte,<br />

representando 56% dos indivíduos amostrados que,<br />

juntamente com Brachycera (Diptera) abrangeram 83% <strong>da</strong><br />

amostragem. O restante dos taxa foram menos<br />

representativos (Figura 1).<br />

Número de indivíduos<br />

140<br />

120<br />

100<br />

80<br />

60<br />

40<br />

20<br />

0<br />

Chironomii<strong>da</strong>e<br />

Brachycera<br />

Dytisci<strong>da</strong>e<br />

Hydrophili<strong>da</strong>e<br />

Lepidoptera<br />

Chrysomeli<strong>da</strong>e<br />

outros Coleoptera<br />

Polymitarcyi<strong>da</strong>e<br />

Stratyomii<strong>da</strong>e<br />

Oligochaeta<br />

Taxa amostrados<br />

Figura 1. Número de indivíduos por taxon amostrado nos<br />

bulbos de E. crassipes.<br />

Os taxons de insetos diferiram entre bulbos pequenos e<br />

grandes. Encontramos um grande número de indivíduos de<br />

Brachycera em bulbos do morfotipo grande, mas este taxon<br />

não apareceu em nenhum bulbo do morfotipo pequeno.<br />

Indivíduos <strong>da</strong> família Dytisci<strong>da</strong>e (Coleoptera) somente foram<br />

registrados em bulbos do morfotipo pequeno. Além<br />

disso, encontramos maior número de taxa (8) ocorrendo em<br />

bulbos do morfotipo pequeno em relação aos bulbos grandes<br />

(5 taxa) (Figura 2).<br />

Número de indivíduos<br />

80<br />

70<br />

60<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

Chironomii<strong>da</strong>e<br />

Brachycera<br />

Dytisci<strong>da</strong>e<br />

Hydrophili<strong>da</strong>e<br />

Lepidoptera<br />

Chrysomeli<strong>da</strong>e<br />

outros Coleoptera<br />

Polymitarcyi<strong>da</strong>e<br />

Stratyomii<strong>da</strong>e<br />

Oligochaeta<br />

Taxa amostrados<br />

Grandes<br />

Pequenos<br />

Figura 2. Número de indivíduos por taxon amostrado nos<br />

bulbos de E. crassipes, de acordo com o morfotipo.<br />

Entre os bulbos novos e velhos, também observamos<br />

diferenças na composição faunística. Os taxa Chrysomeli<strong>da</strong>e<br />

(Coleoptera), Coleoptera não identificados, Polymitarcy<strong>da</strong>e<br />

(Ephemeroptera), Stratyomii<strong>da</strong>e (Diptera) e Oligochaeta<br />

somente foram encontrados nos bulbos velhos, assim como<br />

para a família Chironomii<strong>da</strong>e (Diptera), que apresentou<br />

maior número de indivíduos associado a bulbos velhos<br />

(Figura 3).<br />

Não encontramos diferenças significativas na abundância<br />

entre os diferentes morfotipos e estados (F = , GL= , P>0,05).<br />

Porém, para os valores de riqueza, os resultados foram<br />

significativos para a interação entre essas variáveis (F= 5,02;<br />

GL=1; P=0,031). Em bulbos do morfotipo grande, houve<br />

um maior número de taxa associado a bulbos novos. Por<br />

outro lado, nos bulbos do morfotipo pequeno a maior riqueza<br />

esteve associa<strong>da</strong> a bulbos velhos (Figura 4).<br />

Número de indivíduos<br />

100<br />

90<br />

80<br />

70<br />

60<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

Chironomii<strong>da</strong>e<br />

Brachycera<br />

Dytisci<strong>da</strong>e<br />

Hydrophili<strong>da</strong>e<br />

Lepidoptera<br />

Chrysomeli<strong>da</strong>e<br />

outros Coleoptera<br />

Polymitarcyi<strong>da</strong>e<br />

Stratyomii<strong>da</strong>e<br />

Oligochaeta<br />

Taxa amostrados<br />

Novos<br />

Velhos<br />

Figura 3. Número de indivíduos por taxon amostrado nos<br />

bulbos de E. crassipes de acordo com o estado físico.<br />

Figura 4. Análise de variância (ANOVA) de duas vias do<br />

número de espécies de invertebrados encontrados nos<br />

bulbos e a interação entre os dois morfotipos e estados<br />

físicos.<br />

Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002 49


Tabela 1. Dados <strong>da</strong> ANOVA de duas vias realiza<strong>da</strong> entre<br />

os diferentes morfotipos e estados físicos dos bulbos de<br />

E. crassipes.<br />

Variável Graus de<br />

liber<strong>da</strong>de<br />

Valor de F Valor de P<br />

Morfotipo (pequenos e grandes) 1 0,267 0,608<br />

Estado físico (novos e velhos) 1 1,455 0,236<br />

Interação Morfotipo x Estado físico 1 5,020 0,031<br />

Discussão<br />

A família Chironomii<strong>da</strong>e (Diptera) é uma <strong>da</strong>s mais<br />

abun<strong>da</strong>ntes na região <strong>da</strong> várzea, apresentando grande<br />

dominância na maioria <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong>des de insetos aquáticos<br />

na Amazônia (N. Hama<strong>da</strong> com. pess.). No presente estudo<br />

encontramos indivíduos desta família em grande número,<br />

em ambos os morfotipos e estados físicos dos bulbos de E.<br />

crassipes.<br />

O tamanho e a forma dos bulbos parecem condicionar a<br />

ocorrência de determina<strong>da</strong>s espécies de invertebrados, já<br />

que algumas foram amostra<strong>da</strong>s em apenas um dos<br />

morfotipos. Padrões morfológicos variados podem<br />

incrementar a riqueza de invertebrados, <strong>da</strong>do que<br />

proporcionam recursos diferentes (Begon et al. 1990). A<br />

disponibili<strong>da</strong>de de recursos também está relaciona<strong>da</strong> aos<br />

pulsos de inun<strong>da</strong>ção sazonal <strong>da</strong> região (Koste et al., 1984),<br />

na medi<strong>da</strong> em que os diferentes níveis de água determinam<br />

a freqüência relativa entre os morfotipos pequenos e grandes.<br />

Morfotipos pequenos são mais abun<strong>da</strong>ntes na época <strong>da</strong><br />

cheia, pois apresentam boa flutuabili<strong>da</strong>de, e os morfotipos<br />

grandes na época <strong>da</strong> seca, que são melhores competidores<br />

devido à sua maior superfície foliar (J. Nunes, com. pess.).<br />

Esta variação provavelmente acarreta diferenças na riqueza<br />

de invertebrados presentes nas macrófitas entre as duas<br />

estações do ano. Segundo Junk et al. (1989), a variação no<br />

nível <strong>da</strong> água do rio é o fator físico mais importante de áreas<br />

inundáveis, exercendo influência direta sobre suas<br />

comuni<strong>da</strong>des. Variações sazonais na abundância de<br />

indivíduos de uma espécie de ortóptera já foram observa<strong>da</strong>s<br />

nesta mesma área, sendo relaciona<strong>da</strong>s aos pulsos de<br />

inun<strong>da</strong>ção (Vieira & Adis, 1992). A variação sazonal <strong>da</strong><br />

fauna associa<strong>da</strong> aos bulbos de E. crassipes, relaciona<strong>da</strong> às<br />

frequências dos morfotipos presentes, seria um ponto<br />

interessante a ser investigado.<br />

A maior riqueza de invertebrados encontra<strong>da</strong> nos bulbos<br />

novos de morfotipos grandes pode ser explica<strong>da</strong> pelo fato<br />

dos invertebrados apresentarem preferência por tecidos<br />

novos, já que estes apresentam tecido denso, provavelmente<br />

com maior quanti<strong>da</strong>de de recursos. Nos morfotipos<br />

pequenos, no entanto, a variação <strong>da</strong> riqueza entre os bulbos<br />

novos e velhos não foi muito grande, provavelmente devido<br />

50 Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002<br />

ao fato destes tecidos apresentarem quanti<strong>da</strong>de de recursos<br />

semelhantes nos estados novos e velhos, já que são<br />

constituídos, em grande parte, por ar (N. Hama<strong>da</strong>, com.<br />

pess.). Um outro estudo realizado na mesma área (Ruggiero<br />

et al. 1998) apresentou maior número de taxa associado a<br />

bulbos velhos, contradizendo os resultados aqui obtidos.<br />

No entanto, morfotipos diferentes não foram diferenciados<br />

por Ruggiero et al. (1998), sendo necessário outros trabalhos<br />

para investigar melhor esta questão.<br />

Agradecimentos<br />

Agradecemos a orientação <strong>da</strong> Prof. Neusa Hama<strong>da</strong> e ao<br />

apoio do pessoal encarregado <strong>da</strong> infra-estrutura e<br />

organização do curso, entre eles Dadão, Jansen, Pinguela e<br />

Juruna, sem os quais a realização deste trabalho não seria<br />

possível. Agradecemos também ao Prof. Jorge e ao grupo<br />

06, que nos aju<strong>da</strong>ram na coleta de <strong>da</strong>dos no campo e na<br />

identificação dos invertebrados.<br />

Referências bibliográficas<br />

Begon, M., J. L. Harper, and C. R. Townsend. 1990.<br />

Ecology, Individuals, Populations and Communities.<br />

Second edition. Blackwell Scientific Publications.<br />

Joly, A. B. 1977. Botânica: Iintrodução à Taxonomia<br />

Vegetal. Companhia Editora Nacional.<br />

Junk, W. J., P. B. Bayley and R. E. Sparks. 1989. The<br />

flood pulse concept in river- floodplain systems. Can.<br />

Spec. Publ. Fish. Aquatic. Sci. 106: 110-127.<br />

Koste, W., B. Robertson and E. Hardy. 1984. Further<br />

taxonomical studies of the Rotifera from Lago<br />

Camaleão (Ilha <strong>da</strong> Marchantaria, Rio Solimões,<br />

Amazonas, Brazil). Amazoniana 8 (4): 555-576.<br />

Moscoso, D. and E. D. Sotta. 1997. Fauna asocia<strong>da</strong> a<br />

Pistia stratiotes (Araceae) en una várzea amazônica. in<br />

Páginas 163-165, IV Curso de <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong><br />

Amazônica.<br />

Ruggiero, P. G. C., F. N. de Sá, M. A. <strong>da</strong> Fonseca, R. J.<br />

Sawaya and S. R. Baptista. 1998. Fauna de insetos<br />

aquáticos associa<strong>da</strong> ao aerênquima de Ceratophyllum<br />

pteridoides e Pontederia sp. em uma área de várzea do<br />

rio Solimões, AM in Pp 87-88, <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong><br />

Amazônica, Curso de Campo – 1998.<br />

Vieira, M. de F. and J. Adis. 1992. Abundância e<br />

biomassa de Paulinia acuminata (DE GEER, 1773)<br />

(Orthoptera: Paulinii<strong>da</strong>e) em um lago de várzea <strong>da</strong><br />

Amazônia Central. Amazoniana, XII (2): 337-352.<br />

Grupo 8 – Projeto orientado 3


Ictiofauna associa<strong>da</strong> a capins flutuantes no lago do<br />

Camaleão, Ilha <strong>da</strong> Marchantaria, AM<br />

Carolina Laura Morales, Flaviana Maluf de Souza, Ana Paula Carmignotto, Eduardo Cardoso Teixeira e Flávio José Soares Jr.<br />

Introdução<br />

As várzeas são ecossistemas caracterizados por uma<br />

diversi<strong>da</strong>de de meso e micro ambientes, como as florestas<br />

alaga<strong>da</strong>s, os bancos de macrófitas, as costas em barranco, e<br />

os capins flutuantes, todos eles fortemente influenciados por<br />

uma alta variabili<strong>da</strong>de sazonal marca<strong>da</strong> pelos pulsos de<br />

inun<strong>da</strong>ção (Junk et al., 1989). Entre estes ambientes, os<br />

capins flutuantes constituem um hábitat muito importante<br />

para a fauna aquática (Poi de Neiff, 1981), servindo tanto<br />

como abrigo e local para desova, quanto como rica fonte de<br />

alimento (Junk et al., 1989).<br />

Devido a esta influência do regime hidrográfico, a várzea,<br />

assim como todos os outros ambientes <strong>da</strong> bacia, apresentam<br />

variações sazonais na estrutura e composição <strong>da</strong>s<br />

comuni<strong>da</strong>des a ela associa<strong>da</strong>s. Na seca, a diminuição do<br />

volume do lago e a redução <strong>da</strong> estratificação vertical, poderia<br />

levar a uma sobreposição de nichos, aumentando a<br />

competição entre os organismos. Em função dessa alta<br />

variabili<strong>da</strong>de estacional, a existência de uma comuni<strong>da</strong>de<br />

característica e estável de micro e meso hábitats dentro <strong>da</strong>s<br />

várzeas tem sido questiona<strong>da</strong> (Jepsen, 1997). Assim, o<br />

objetivo de nosso trabalho foi caracterizar a ictiofauna<br />

associa<strong>da</strong> às moitas de capins flutuantes do Lago do<br />

Camaleão na estação seca, levando em consideração a<br />

diversi<strong>da</strong>de taxonômica e funcional.<br />

Métodos<br />

Estu<strong>da</strong>mos a ictiofauna associa<strong>da</strong> a capins no Lago do<br />

Camaleão, situado na Ilha <strong>da</strong> Marchantaria, AM (3 o 14’S,<br />

59 o 57’W) no mês de novembro, ain<strong>da</strong> caracterizado pelo<br />

baixo nível <strong>da</strong> coluna d’água decorrente <strong>da</strong> seca pronuncia<strong>da</strong><br />

nos meses de agosto a outubro.<br />

Para determinar as espécies presentes e as suas<br />

abundâncias, tomamos 3 amostras em moitas de capins<br />

domina<strong>da</strong>s pelo capim-membeca (Paspalum repens,<br />

Poaceae). Utilizamos como controle uma amostragem<br />

realiza<strong>da</strong> em uma praia de lama, de forma de verificar se a<br />

ictiofauna associa<strong>da</strong> aos capins apresentava uma composição<br />

característica, ou se refletia apenas a composição<br />

ictiofaunistica geral <strong>da</strong> várzea. Realizamos as coletas com<br />

rede de lance de 3 x 5 m, com tamanho de malha de 6 mm,<br />

garantindo uma baixa seletivi<strong>da</strong>de do método de<br />

amostragem em relação aos tamanhos dos peixes. Em ca<strong>da</strong><br />

local (exceto na praia) a coleta foi feita circun<strong>da</strong>ndo um<br />

banco de capins flutuantes, retirando os capins <strong>da</strong> rede,<br />

coletando os peixes e identificando as espécies in situ,<br />

sempre que possível; caso contrário, os peixes foram levados<br />

para a base em sacos plásticos com água, onde foram<br />

identificados e contados. A maior parte dos exemplares foram<br />

devolvidos vivos ao meio aquático.<br />

Além <strong>da</strong> identificação taxonômica, as espécies foram<br />

classifica<strong>da</strong>s em relação à sua alimentação em diferentes<br />

categorias tróficas. Comparamos as amostras em termos de<br />

composição com uso do Índice de Similari<strong>da</strong>de de Morisita<br />

(Krebs, 1989).<br />

Resultados<br />

Coletamos um total de 517 indivíduos, pertencentes a 33<br />

espécies, 13 famílias e 5 ordens de peixes (Anexo 1). O<br />

número de espécies nas moitas variou entre 12 e 23,<br />

enquanto na praia encontramos apenas oito. A ictiofauna<br />

<strong>da</strong>s moitas apresentou-se domina<strong>da</strong> por Mesonauta insignis<br />

(Cichli<strong>da</strong>e) e Brachyhypopomus spp. (4 espécies,<br />

Hypopomi<strong>da</strong>e, Gymnotiformes), que juntas perfizeram entre<br />

54 e 80 % de todos os indivíduos amostrados em ca<strong>da</strong><br />

uma <strong>da</strong>s moitas. Cabe ressaltar que estas 5 espécies não<br />

foram registra<strong>da</strong>s na amostra de praia (Fig. 1).<br />

Além de compartilhar as espécies mais abun<strong>da</strong>ntes (8 no<br />

total), ca<strong>da</strong> moita apresentou espécies exclusivas, sendo a<br />

moita 1 a que apresentou maior número de espécies e maior<br />

quanti<strong>da</strong>de de espécies exclusivas (Fig. 1).<br />

A praia apresentou os menores índices de similari<strong>da</strong>de<br />

em relação às moitas, indicando uma composição diferente,<br />

enquanto que as moitas apresentaram similari<strong>da</strong>de muito<br />

maiores, indicando a existência de uma composição típica<br />

de espécies (Tab.1).<br />

Tabela 1. Valores de Similari<strong>da</strong>de (Índice de Morisita)<br />

para pares de amostras <strong>da</strong> ictiofauna coleta<strong>da</strong>s em moitas<br />

de capins-membeca e em praia de lama no lago do<br />

Camaleão, AM.<br />

Amostras Praia Moita 2 Moita 3<br />

As amostras foram forma<strong>da</strong>s principalmente por espécies<br />

de médio e pequeno porte, com uma baixa freqüência de<br />

juvenis de espécies de grande porte. A maioria dos juvenis<br />

registrados nas moitas pertenceram a espécies de Cichli<strong>da</strong>e<br />

e Gymnotiformes, habitantes permanentes destes ambientes.<br />

Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002 51


PRAIA<br />

MOITA 3<br />

MOITA 2<br />

MOITA 1<br />

N<br />

N<br />

N<br />

N<br />

80<br />

70<br />

60<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

1<br />

80<br />

70<br />

60<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

80<br />

70<br />

60<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

80<br />

70<br />

60<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

1<br />

m<br />

52 Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002<br />

a<br />

s<br />

a<br />

Brachyhypopomussp1<br />

Cichlasoma amazonarum<br />

Ctenobrycon hauxwellianus<br />

Hoplias malabaricus<br />

Brachyhypopomus breviros...<br />

Rhytiodus microlepis<br />

Crenicichla lepidota<br />

Hyphessobrycon eques<br />

Pyrrhulina sp.<br />

Crenicichla cincta<br />

Hyphessobrycon sp.<br />

Serrasalmus spiropleura<br />

Anadoras grypus<br />

Brachyhypopomus sp2<br />

Hemigrammus sp.<br />

Odontostilbe sp2<br />

Pterophyllum scalare<br />

Figura 1. Distribuição de abundância <strong>da</strong>s espécies de<br />

peixes em moitas de capim- e em praia de lama no Lago<br />

do Camaleão, AM, durante a estação seca. N= Número de<br />

indivíduos.<br />

A composição <strong>da</strong>s amostras em termos de grupos tróficos<br />

representados não apresentou padrões marcantes que<br />

permitissem uma diferenciação entre capins e praia. O grupo<br />

mais abun<strong>da</strong>nte em to<strong>da</strong>s as amostras foi o dos invertívoros,<br />

que apresentou uma abundância relativa maior nas moitas<br />

de capim do que na praia (Fig. 2).<br />

HE<br />

DE<br />

DE<br />

CA<br />

<br />

<br />

ON MOITA 1<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

IN<br />

<br />

CA<br />

PI<br />

ON<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

IN<br />

PI<br />

MO ITA 3<br />

<br />

PI<br />

2<br />

2<br />

2<br />

e<br />

<br />

<br />

ON<br />

MOITA 2<br />

IN<br />

DE<br />

<br />

<br />

<br />

DE<br />

CA<br />

PI<br />

<br />

<br />

<br />

PRAIA<br />

IN<br />

<br />

<br />

Figura 2. Caracterização trófica dos peixes coletados em<br />

moitas de capins (MOITAS 1, 2 e 3) e em PRAIA do Lago<br />

do Camaleão, AM. HE= herbívoro; DE= detritívoro; CA=<br />

carnívoro 1 ; PI= piscívoro; ON= onívoro; IN= invertívoro.<br />

1 espécies que alimentam-se tanto de peixes como de insetos e outros animais.<br />

ON<br />

Discussão<br />

Os ambientes de várzea apresentam uma alta<br />

variabili<strong>da</strong>de espacial e temporal (Campbell et al., 1992) e<br />

contêm uma alta diversi<strong>da</strong>de e biomassa de peixes<br />

(Crampton, 1996). Nossos resultados demonstraram que,<br />

também deste ponto de vista, a ictifauna do Lago do<br />

Camaleão não é um sistema homogêneo. Dentro de um<br />

mesmo lago, diferentes tipos de ambientes, distantes poucos<br />

metros, podem apresentar distintas comuni<strong>da</strong>des de peixes,<br />

características de ca<strong>da</strong> microhabitat. Tal afirmação é<br />

corrobora<strong>da</strong> pela presença de um conjunto de espécies<br />

comuns (entre um e dois terços) às amostras de capins<br />

flutuantes. Estas moitas foram domina<strong>da</strong>s pelas mesmas<br />

espécies, em particular, alguns Cichlídeos e Gymnotiformes,<br />

importantes componentes nas comuni<strong>da</strong>des de peixes de<br />

várzeas na Bacia Amazônica (Crampton, 1996) e diferentes<br />

<strong>da</strong>s espécies dominantes na praia. Isto acentua a importância<br />

dos diferentes microhabitats na composição <strong>da</strong> diversi<strong>da</strong>de<br />

b, característica do sistema de várzea.<br />

Considerando que o índice de similari<strong>da</strong>de utilizado é<br />

altamente sensível à contribução <strong>da</strong>s espécies mais<br />

abun<strong>da</strong>ntes (Krebs, 1989), a importância <strong>da</strong>s espécies raras<br />

na diferenciação <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong>des fica subestima<strong>da</strong>. Assim,<br />

uma alta similari<strong>da</strong>de entre habitats não implica<br />

neccesariamente em um homogenei<strong>da</strong>de ictiofaunistica do<br />

mesohabitat. Consequentemente, conservar ambientes<br />

dominados por um mesohabitat não seria suficiente para<br />

garantir a preservação <strong>da</strong>s espécies raras e <strong>da</strong> diversi<strong>da</strong>de<br />

total do sistema (Venticinque, com. pess.).<br />

As principais espécies encontra<strong>da</strong>s, Mesonauta insignis,<br />

Brachyhypopomus spp. e Cichlasoma amazonarum, típicos<br />

habitantes permanentes dos capins (Zuanon, com. pess), são<br />

as que mantêm a estrutura <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de de peixes destes<br />

ambientes durante todo o ano. Porém, estudos prévios<br />

mostraram que durante a cheia os bancos de capins são<br />

dominados por peixes de pequeno porte e juvenis de espécies<br />

de maior porte, indicando que nessa época são utilizados<br />

como locais de alimentação e crescimento por espécies<br />

características de outros ambientes (Zuanon, com. pess.).<br />

Nossos resultados demostraram que na seca estes habitats<br />

são utilizados por espécies residentes, que aparentemente<br />

completam seus ciclos de vi<strong>da</strong> nos capins flutuantes. Esta<br />

mu<strong>da</strong>nça na composição indica que estes habitats<br />

desempenham uma função importante durante todo o ano,<br />

variando sazonalmente entre as espécies.<br />

A maior proporção de peixes invertívoros encontra<strong>da</strong>s<br />

nas moitas em relação à praia reflete a importância <strong>da</strong><br />

comuni<strong>da</strong>de vegetal (capins flutuantes e outras plantas<br />

aquáticas) como substrato para a fauna de invertebrados, já<br />

que muitas dessas plantas abrigam insetos tanto em sua<br />

porção aérea (Carmignotto et al., este volume) quanto nas<br />

raízes (Poi de Neiff, 1981, Claro Júnior, este volume),<br />

servindo como uma rica fonte de alimento para esses peixes.


Agradecimentos<br />

Agradecemos aos Professores Jansen Zuanon e Eduardo<br />

Venticinque pelo auxílio na coleta e na identificação <strong>da</strong>s<br />

espécies de peixes.<br />

Referências bibliográficas<br />

Campbell, D. G., J. Stone, and A. Rosas, Jr. 1992. A<br />

comparison of the phytosociology and dynamics of<br />

three floodplain (Varzea) forests of known ages, Rio<br />

Juruá, western Brazilian Amazon. Botanical Journal of<br />

Linnean Society 108: 213-237.<br />

Carmignotto, A. P.; F. M. Souza; C. L. Morales; E. C.<br />

Teixeira e F. J. Soares Jr. 2002. Fauna de invertebrados<br />

aquáticos associa<strong>da</strong> a bulbos de Eichhornea crassipes<br />

(Mart.) Solms. em uma área de várzea na Amazônia<br />

Central. X Curso de Campo de <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong><br />

Amazônica. INPA, <strong>PDBFF</strong>.<br />

Claro Júnior, L. H.; E. Vasconcelos; G. R. Julião; P. G.<br />

Tello e V. Z. Antunes. 2002. Fauna de invertebrados<br />

nas raízes de Eichhornea crassipes (Pontederiaceae)<br />

na várzea no período de seca no lago Camaleão, Ilha<br />

<strong>da</strong> Marchantaria, AM, Brasil. X Curso de Campo de<br />

<strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica. INPA, <strong>PDBFF</strong>.<br />

Crampton, W.G.R. 1996. Gymnotyform fish: an important<br />

component of Amazonian floodplain fish communities.<br />

Journal of Fish Biology 48:298-301.<br />

Jepsen, D.B. 1997. Fish species diversity in sand bank<br />

habitats of a neotropical river. Environmental Biology<br />

of Fishes 49:449-460.<br />

Junk,W. J.; P. B. Bayley e R. E. Sparks. 1989. The Flood<br />

pulse Concept in River-Floodplain Systems. P. 110-<br />

127. In D. P. Dodge (editor). Proceedings of the<br />

International Large River Symposium. Can. Spec.<br />

Publ. Fish. Aquat. Sci. 106.<br />

Krebs, C. J. 1989. Ecological Methodology. University<br />

of British Columbia, Menlo Park, California.<br />

Poi de Neiff, A 1981. Mesofauna relacion<strong>da</strong> a la<br />

vegetación acuatica en una laguna del valle del Alto<br />

Paraná argentino. Ecosur 8: 41-53.<br />

Grupo 8 – Projeto Orientado 4<br />

Anexo 1. Classificação taxonômica, categoria trófica dos peixes e número de indivíduos coletados em ca<strong>da</strong> amostra no<br />

Lago do Camaleão. M=Moita de capim, P= Praia de lama.<br />

Ordem Família Espécie M1 M2 M3 P Categoria trófica<br />

Synbranchiformes Synbranchi<strong>da</strong>e Synbranchus sp. 2 0 0 0 piscívoro<br />

Siluriformes Auchenipteri<strong>da</strong>e Parauchenipterus galeatus 2 0 8 0 carnívoro<br />

Siluriformes Auchenipteri<strong>da</strong>e Parauchenipterus sp. 0 0 5 1 carnívoro<br />

Siluriformes Doradi<strong>da</strong>e Anadoras grypus 0 0 1 0 invertivoro<br />

Siluriformes Doradi<strong>da</strong>e Doras eigenmanni 0 0 1 0 invertivoro<br />

Perciformes Cichli<strong>da</strong>e Acarichthys heckelii 0 0 0 21 onívoro<br />

Perciformes Cichli<strong>da</strong>e Cichlasoma amazonarum 22 4 1 0 invertivoro<br />

Perciformes Cichli<strong>da</strong>e Crenicichla cincta 1 0 0 1 piscívoro<br />

Perciformes Cichli<strong>da</strong>e Crenicichla lepidota 2 0 0 0 piscívoro<br />

Perciformes Cichli<strong>da</strong>e Hypselecara temporalis 3 0 0 0 carnívoro<br />

Perciformes Cichli<strong>da</strong>e Mesonauta insignis 56 73 39 0 onívoro<br />

Perciformes Cichli<strong>da</strong>e Pterophyllum scalare 0 3 2 0 invertivoro<br />

Gymnotiformes Hypopomi<strong>da</strong>e Brachyhypopomus brevirostris 4 4 4 0 invertivoro<br />

Gymnotiformes Hypopomi<strong>da</strong>e Brachyhypopomus pinnicau<strong>da</strong>tus 10 0 0 0 invertivoro<br />

Gymnotiformes Hypopomi<strong>da</strong>e Brachyhypopomus sp1 60 5 32 0 invertivoro<br />

Gymnotiformes Hypopomi<strong>da</strong>e Brachyhypopomus sp2 0 2 0 0 invertivoro<br />

Gymnotiformes Sternopygi<strong>da</strong>e Eigenmannia trilineata 1 0 13 0 invertivoro<br />

Characiformes Anostomi<strong>da</strong>e Rhytiodus microlepis 3 0 0 0 herbívoro<br />

Characiformes Anostomi<strong>da</strong>e Schizodon fasciatus 3 0 0 0 herbívoro<br />

Characiformes Characi<strong>da</strong>e Aphyocharax sp. 0 0 1 0 invertivoro<br />

Characiformes Characi<strong>da</strong>e Ctenobrycon hauxwellianus 11 0 1 0 invertivoro<br />

Characiformes Characi<strong>da</strong>e Gymnocorymbus thayeri 2 0 0 0 invertivoro<br />

Characiformes Characi<strong>da</strong>e Hemigrammus sp. 0 0 0 4 invertivoro<br />

Characiformes Characi<strong>da</strong>e Hyphessobrycon eques 2 2 2 0 Invertivoro<br />

Characiformes Characi<strong>da</strong>e Hyphessobrycon sp. 1 0 0 0 invertivoro<br />

Characiformes Characi<strong>da</strong>e Moenkhausia intermedia 0 1 0 0 invertivoro<br />

Characiformes Characi<strong>da</strong>e Odontostilbe sp1 1 0 0 1 invertivoro<br />

Characiformes Characi<strong>da</strong>e Odontostilbe sp2 0 0 0 33 invertivoro<br />

Characiformes Curimati<strong>da</strong>e Cyphocarax sp. 14 2 1 19 detritivoro<br />

Characiformes Erythrini<strong>da</strong>e Hoplias malabaricus 5 3 3 1 piscívoro<br />

Characiformes Lebiasini<strong>da</strong>e Pyrrhulina sp. 2 0 1 0 invertivoro<br />

Characiformes Prochilodonti<strong>da</strong>e Semaprochilodus insignis 5 0 0 0 detritivoro<br />

Characiformes Serrasalmi<strong>da</strong>e Serrasalmus spiropleura 1 5 4 0 piscívoro<br />

Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002 53


Distribuição de Caiman crocodilus (Alligatori<strong>da</strong>e) no<br />

Lago Camaleão, Ilha <strong>da</strong> Marchantaria, Amazonas, Brasil<br />

Luis Henrique Claro Jr., André Faria Mendonça , Carina Lima <strong>da</strong> Silveria, Flávio José Soares Jr., Eduardo Vasconcelos<br />

Introdução<br />

O jacaretinga (Caiman crocodilus) é o crocodiliano mais<br />

comum na região amazônica, sendo amplamente distribuído.<br />

Entretanto, existem poucas informações sobre sua área de<br />

vi<strong>da</strong> e preferência de habitat. Esta espécie ocupa diversos<br />

ambientes aquáticos, principalmente pequenos rios, igapós<br />

e várzeas (Scott & Limerick, 1983).<br />

A sua dieta varia de forma ontogenética, sendo esta<br />

quando jovens, é composta principalmente por artrópodes,<br />

crustáceos, pequenos anfíbios e peixes (Schmidt et al.,1995).<br />

Quando adultos, alimentam-se principalmente de animais<br />

de maior porte, como capivaras, tatus, macacos, grandes<br />

aves (Staton & Dixon 1978 apud Schmidt et al. 1995),<br />

peixes, pequenos répteis e anfíbios.<br />

Mesmo ocorrendo de forma ampla, está espécie é<br />

territorialista e defende as áreas para termoregulação e<br />

nidificação e caça. O ninho, construído em forma de<br />

pequenos montes com serrapilheira e sedimentos (areia ou<br />

argila) no final <strong>da</strong> estação seca (Schaller & Crawshaw, 1982<br />

apud Rittl et al. 1997), é um possível determinante <strong>da</strong><br />

preferência dessa espécie por tipos específicos de habitat.<br />

O objetivo deste trabalho foi determinar os habitats<br />

preferenciais de Caiman crocodilus em relação à cobertura<br />

vegetal e declivi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s margens.<br />

Métodos<br />

Realizamos um censo para determinar o número de<br />

indivíduos de Caiman crocodilus no Lago Camaleão (<br />

3 c 14’S, 59 c 57’S), localizado na ilha <strong>da</strong> Marchantaria, Baixo<br />

Solimões, a 15 km <strong>da</strong> confluência com o rio Negro. O Lago<br />

Camaleão possui as margens cobertas por um mosaico que<br />

inclui formações de floresta de várzea e áreas domina<strong>da</strong>s<br />

por vegetação graminóide (canaranas e membecas), ambas<br />

inun<strong>da</strong><strong>da</strong>s no período <strong>da</strong>s chuvas.<br />

A coleta dos <strong>da</strong>dos foi realiza<strong>da</strong> por meio de observações<br />

a partir de um barco, navegando no centro do lago, entre<br />

20:40 e 22:30 h. Para a localização dos jacarés utilizou-se<br />

lanternas com o facho de luz direcionado para as margens.<br />

O número de indivíduos foi contabilizado em sete repetições<br />

de 5 minutos ca<strong>da</strong>, com veloci<strong>da</strong>de constante de 10 km/h,<br />

totalizando aproxima<strong>da</strong>mente 5,8 km de trajeto. As margens<br />

foram caracteriza<strong>da</strong>s quanto à cobertura vegetal (áreas<br />

florestais ou vegetação graminóide) e por declivi<strong>da</strong>de<br />

(inclinado ou plano).<br />

Analisamos as diferenças entre a densi<strong>da</strong>de dos<br />

indivíduos nos diferentes tipos de margem e coberura vegetal<br />

por meio de uma ANOVA fatorial.<br />

54 Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002<br />

Resultados<br />

Durante o censo, observamos 235 jacarés. Destes, 29<br />

permaneciam junto à margem predominantemente florestal,<br />

com declive acentuado. Os outros 209 estavam restritos à<br />

margem, a ambientes,tescaracterizados pela predominância<br />

e vegetação graminóide e por uma baixa declivi<strong>da</strong>de.<br />

A abundância de indivíduos de jacaretinga apresentouse<br />

relacionado apenas com o tipo de vegetação <strong>da</strong> margem<br />

do lago. A margem com cobertura graminóide apresentou<br />

uma abundância maior do que a margem coberta por<br />

vegetação florestal (F [1,10] =9.483, P=0.012). Em relação ao<br />

declive <strong>da</strong> margem não foi encontra<strong>da</strong> uma difenrença<br />

significativa no número de jacaretinga(F [1,10] =1.552,<br />

P=0.241) (Figura 1).<br />

N. de indivíduos<br />

60.000<br />

50.000<br />

40.000<br />

30.000<br />

20.000<br />

10.000<br />

0<br />

<strong>Floresta</strong> plana <strong>Floresta</strong><br />

inclina<strong>da</strong><br />

Graminóide<br />

plana<br />

Tipos de Ambientes<br />

Graminóide<br />

inclina<strong>da</strong><br />

Figura 1. Número de indivíduos de jacaretinga em<br />

relação a vegetação e o declive de trechos <strong>da</strong> margem do<br />

Lago Camaleão<br />

Discussão<br />

A maior abundância de indivíduos de Caiman crocodilus<br />

nas margens planas cobertas predominantemente pela<br />

vegetação graminóide faz corroborar com a nossa<br />

expectativa quanto ao habitat preferencial para esta espécie<br />

que seria caracterizado, fun<strong>da</strong>mentalmente pela presença<br />

de uma estrutura mais complexa, propícia para implantação<br />

de sítios de nidificação.<br />

Associado a combinações entre os distintos tipos de<br />

cobertura vegetal e <strong>da</strong> inclinação <strong>da</strong> margem, outros fatores<br />

podem participar influenciando a distribuição desigual dos<br />

indivíduos de jacaretinga: disponibili<strong>da</strong>de de alimento e<br />

abrigo para os grupos mais jovens. Dessa forma, a presença<br />

de ilhas de macrofitas, comumente observa<strong>da</strong>s ao longo <strong>da</strong>s<br />

margens do lago, poderia representar um fator de agregação<br />

para populações desta espécie pela oferta de abrigo e


alimento (peixes e invertebrados associados a bancos de<br />

plantas aquáticas) (Messias et al. 1994).<br />

Os jacarés distribuiram-se principalmente em ambientes<br />

de baixa declivi<strong>da</strong>de e cobertos por capim. A baixa ocupação<br />

dos barrancos com floresta provavelmente deve-se à<br />

dificul<strong>da</strong>de de acesso e pequena incidência de luz solar direta<br />

(sombra <strong>da</strong>s árvores).<br />

Agradecimentos<br />

O grupo “Seu Creysson” agradecem ao Juruna pelo<br />

relógio , animação e paciência ao percorrer o Lago Camaleão<br />

no meio <strong>da</strong> noite, ao prof. Carlos “Tachi” Fonseca, pela<br />

aju<strong>da</strong> nas análises estatísticas e ao Jansen Zuanon pelas<br />

correções do manuscrito.<br />

Referências bibliográficas<br />

Constança, S. P., S. P. Camilo-Alves, E. M. J. Costa, M.<br />

C. Santos, R. de Q. Portela, H. F. Paulino Neto & M.<br />

B. Silva, 2001. Dieta de jacarés (Caiman crocodilus<br />

yacare) juvenis em baías do pantanal do Miran<strong>da</strong>/<br />

Abobral. <strong>Ecologia</strong> do Pantanal – Curso de Campo<br />

2001, Campo Grande, MS, p. 53-56.<br />

Messias, M. R., C. A. Ramos, E. M. Vieira, L. C.<br />

Schaiesre & M. Gordo, 1994. Dispersão de<br />

vertebrados por ilhas de macrófitas flutuantes no baixo<br />

Rio Solimões. <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica – OTS/<br />

UNICAMP. p. 293-295.<br />

Rittl, C. E.; P.Eterovick; J. Aparicio, & D.Tirira, 1997.<br />

Preferência de habitat de jacaretinga (Caiman<br />

crocodilus) em várzea e igapó. Curso de campo<br />

ecologia <strong>da</strong> floresta amazônica. INPA/ Smithsonian<br />

Institutuion/ UNICAMP/OTS p. 171-174<br />

Schmidt, B.; C. Baider; D. Bersch, G. C. Kristosch & S.<br />

Neckel, 1995 Alguns componentes <strong>da</strong> dieta do jacaré<br />

Caiman crocodilus (Alligatori<strong>da</strong>e) no lago de Janauari<br />

na Amazônia Central. Curso de campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>Floresta</strong> Amazônica. INPA/Smithsonian Institutuion /<br />

UNICAMP/OTS. p.291-293<br />

Scott, N. J. & S. Limerick, 1983. Reptiles and Amphibians.<br />

Costa Rican Natural History. Edited by Daniel H.<br />

Janzen. p.351-425.<br />

Projeto Livre 2<br />

Distribuição de freqüência de habitats por aves<br />

aquáticas piscívoras do Lago Camaleão, Ilha <strong>da</strong><br />

Marchantaria, AM<br />

Josué Ribeiro <strong>da</strong> Silva Nunes, Yumi Oki, Ana P. Carmignotto, Patrícia G. Tello, Flaviana Maluf de Souza e Vanina Zini Antunes<br />

Introdução<br />

O Brasil possui cerca de 1590 espécies de aves<br />

distribuí<strong>da</strong>s em 86 famílias e 23 ordens, o que representa<br />

55,3% <strong>da</strong>s espécies <strong>da</strong> América do Sul (Sick 1984). A<br />

Amazônia possui cerca de 930 espécies, <strong>da</strong>s quais 409 (44%)<br />

são endêmicas. Esta diversi<strong>da</strong>de encontra-se distribuí<strong>da</strong> ao<br />

longo de vários tipos de habitats, muitas espécies de aves<br />

encontra<strong>da</strong>s nas florestas úmi<strong>da</strong>s são específicas dos nichos<br />

observados neste ambiente (Stotz et al. 1992). Um grupo<br />

bem característico é o formado pelas aves que ocupam os<br />

ambientes aquáticos.<br />

A maioria <strong>da</strong>s aves aquáticas vive à beira de águas<br />

estagna<strong>da</strong>s, nas margens de lagoas. É comum observar<br />

biguás (Phalacrocorax brasilianus), garças (Casmerodius<br />

albus, Egreta thula), tuiuius (Jabiru mycteria), marrecas<br />

(Dendrocygna spp. Amazonetta), saracuras (Aramides spp)<br />

e maguaris (Ardea cocoi) nestes ambientes (Sick 1984).<br />

Outras, como os martins-pescadores (Ceryle spp. e<br />

Cloroceryle spp.) e trinta-réis (Sterna spp.), ocorrem tanto<br />

em áreas de água estagna<strong>da</strong> como de água corrente (Sick<br />

1984). Isso porque as dietas e estratégias de forrageamento<br />

variam muito entre as espécies.<br />

As aves aquáticas podem ser agrupa<strong>da</strong>s em diferentes<br />

categorias de acordo com a dieta e a estratégia de<br />

forrageamento: insetívoras, malacófagas, herbívoras,<br />

onívoras, piscívoras, entre outras. Neste trabalho trataremos<br />

do grupo de aves piscívoras. Dentre estas, há grande<br />

varie<strong>da</strong>de no comportamento de forrageio, alguns grupos<br />

realizam a pesca ativa através do mergulho (biguás e<br />

biguatingas), outros pescam por espreita, como garças e<br />

maguaris. As garças porém, podem unir-se às cegonhas (Jabiru<br />

mycteria e Mycteria americana) e caçar ativamente<br />

em bandos cercando os cardumes de peixes. Aves que<br />

realizam este tipo de forrageamento são chama<strong>da</strong>s<br />

“vadeadeiras”. Uma outra forma de pescar é a dos<br />

“sentinelas”, onde os indivíduos empoleiram-se em galhos<br />

sobre a água esperando o momento oportuno para capturar<br />

a presa (martim-pescador). Algumas, ain<strong>da</strong>, capturam suas<br />

presas usando as garras, tal como o gavião-belo (Bussarelus<br />

nigricolis). As gaivotas sobrevoam as lagoas e rios e quando<br />

avistam a presa descem para capturá-la, (Sick 1984).<br />

Os padrões de uso de habitat, forrageamento e interações<br />

Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002 55


sociais entre espécies são fun<strong>da</strong>mentais para composição,<br />

estrutura e dinâmica <strong>da</strong> avifauna tropical (Terborgh 1979,<br />

Fitzpatrick 1980). O objetivo deste trabalho foi caracterizar<br />

através <strong>da</strong> localização visual <strong>da</strong>s espécies de aves aquáticas<br />

e <strong>da</strong>s possíveis estratégias de forrageamento <strong>da</strong>s mesmas<br />

no lago Camaleão, o habitat <strong>da</strong>s aves piscívoras em uma<br />

área de várzea na época de estiagem.<br />

Métodos<br />

Foram realiza<strong>da</strong>s observações de aves aquáticas<br />

piscívoras no Lago do Camaleão, na Ilha <strong>da</strong> Marchantaria,<br />

município de Iranduba (3 o 14’S e 59 o 57’W), a 20 km ao sul<br />

de Manaus, AM. Durante as observações foi registrado o<br />

número de indivíduos de to<strong>da</strong>s as espécies piscívoras<br />

avista<strong>da</strong>s, associações com qualquer outra espécie e o<br />

ambiente por elas utilizado, como descrito abaixo.<br />

Mata – aves que encontravam-se na floresta situa<strong>da</strong> ao<br />

longo <strong>da</strong> margem do lago. Nestes casos, registrou-se também<br />

se as aves estavam em poleiros e galha<strong>da</strong>s, e a que altura se<br />

encontravam do solo;<br />

Lago – aves que encontravam-se dentro do lago. Neste<br />

caso, medimos a profundi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> água do lago onde elas se<br />

encontravam;<br />

Margem – aves que se encontravam no solo margeando<br />

o lago, podendo ain<strong>da</strong> estar sobre macrófitas aquáticas;<br />

Vôo – aves que forrageiam em pleno vôo.<br />

Realizamos um total de 3 horas de observação (<strong>da</strong>s 6:30<br />

às 9:30) no período matutino, no dia 15 de novembro de<br />

2002.As observações foram realiza<strong>da</strong>s com auxílio de<br />

binóculos e a olho nú.<br />

Resultados<br />

Foram realizados 72 avistamentos, num total de 158<br />

indivíduos pertencentes a 9 espécies e 7 famílias<br />

(Accipitri<strong>da</strong>e, Alcedini<strong>da</strong>e, Anhingi<strong>da</strong>e, Ardei<strong>da</strong>e, Lari<strong>da</strong>e<br />

e Phalacrocoraci<strong>da</strong>e). A espécie mais abun<strong>da</strong>nte foi o biguá<br />

(P. olivaceus), sendo segui<strong>da</strong> pela gaivota (S. superciliaris).<br />

(Figura 1).<br />

Observamos um número maior de indivíduos em<br />

determinados ambientes para oito espécies registra<strong>da</strong>s, com<br />

exceção de Bussarelus nigricolis que foi avistado apenas<br />

duas vezes (Figura 2). As três espécies <strong>da</strong> família Ardei<strong>da</strong>e<br />

(A. cocoi, E. thula e C. albus) foram encontra<strong>da</strong>s em maior<br />

número na margem, a profundi<strong>da</strong>des de no máximo 30 cm<br />

(Tabela 1). Biguás (Phalacrocorax brasilianus) e<br />

biguatingas (Anhinga anhinga) foram registrados em<br />

forrageio a profundi<strong>da</strong>des em torno de 2,0 m e descansando<br />

sobre a vegetação, a alturas em torno de 12,0 m. Cerile<br />

torquata esteve associado à vegetação na margem, utilizando<br />

alturas em torno de 5,0 m. Butorides striatus foi encontrado<br />

em maior número na margem, muitas vezes em locais com<br />

presença de macrófitas, puleiros e galha<strong>da</strong>s. A gaivota<br />

(Sterna superciliaris) foi avista<strong>da</strong> forrageando em pleno vôo,<br />

sendo encontra<strong>da</strong> nas margens quando em descanso.<br />

56 Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002<br />

Abundância<br />

80<br />

70<br />

60<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

Phalacrocorax<br />

olivaceus<br />

Sterna<br />

superciliaris<br />

Butorides<br />

striatus<br />

Ceryle<br />

torquata<br />

Anhinga<br />

anhinga<br />

Ardea cocoi<br />

Egretta thula<br />

Casmerodius<br />

albus<br />

Bussarelus<br />

nigricolis<br />

Figura 1. Abundância total de aves piscívoras observa<strong>da</strong>s<br />

no Lago do Camaleão, Ilha <strong>da</strong> Marchantaria, AM.<br />

avistamentos<br />

12<br />

10<br />

8<br />

6<br />

4<br />

2<br />

0<br />

Phalacrocorax<br />

olivaceus<br />

Sterna<br />

superciliaris<br />

<br />

<br />

Butorides<br />

striatus<br />

Cerile<br />

torquata<br />

<br />

Mata Lago Margem Vôo<br />

Anhinga<br />

anhinga<br />

Ardea cocoi<br />

Egretta thula<br />

Casmerodius<br />

albus<br />

Bussarelus<br />

nigricolis<br />

<br />

Figura 2. Distribuição <strong>da</strong>s espécies de aves por local de<br />

avistamento, no Lago do Camaleão, Ilha <strong>da</strong> Marchantaria,<br />

AM.<br />

Tabela 1. Riqueza e caracterização dos habitats de aves<br />

aquáticas no Lago do Camaleão, Ilha <strong>da</strong> Marchantaria,<br />

AM. Entre parênteses são apresentados valores médios<br />

em metros e os desvios <strong>da</strong>s medi<strong>da</strong>s de altura para a<br />

mata e de profundi<strong>da</strong>de para o lago.<br />

Espécie Nome Avistamentos Mata Lago Margem Vôo Macrófitas Puleiro Galha<strong>da</strong> Outras<br />

comum<br />

espécies<br />

Phalacrocorax Biguá 17 5 (11,8 12 (2,0 0 0 0 1 0 2<br />

brasilianus<br />

± 5,5) ± 0,6)<br />

Sterna<br />

superciliaris<br />

Gaivota 9 0 0 3 6 0 0 0 1<br />

Butorides striatus Socózinho 10 1 0 9 0 4 1 2 1<br />

Cerile torquata Martim 9 8 (4,2 0 1 0 0 1 0 2<br />

pescador<br />

± 1,6)<br />

Anhinga anhinga Biguatinga 7 5 (14,0<br />

± 4,2)<br />

1 1 0 0 1 0 0<br />

Ardea cocoi Maguari 7 2 (12,0 0 5 (0,30 ± 0 2 0 0 1<br />

e 3,0) 0,11)<br />

Egretta thula Garça<br />

pequena<br />

6 0 0 5 1 0 0 0 2<br />

Casmerodius Garça 3 0 0 3 (0,12 ± 0 0 0 0 2<br />

albus grande<br />

0,35)<br />

Bussarelus Gavião 2 1 (5) 0 0 1 0 0 0 1<br />

nigricolis belo<br />

Discussão<br />

A fauna de piscívoros observa<strong>da</strong> foi composta por<br />

espécies comuns, que apresentam ampla distribuição<br />

geográfica (Sick 1989) registra<strong>da</strong>s para a área de estudopor<br />

Petermann (1992) sendo que sete coincidem com as<br />

observa<strong>da</strong>s neste estudo (Phalacrocorax brasilianus, Sterna<br />

superciliaris, Butorides striatus, Cerile torquata, Ardea<br />

cocoi, Egretta thula e Casmerodius albus). As gaivotas<br />

(Phaetusa simplexa e Rynchops niger) não foram avista<strong>da</strong>s<br />

em nosso estudo e Anhinga anhinga e Bussarelus nigricolis<br />

não foram avista<strong>da</strong>s por Petermann (1992).


A diferença de uso habitats observa<strong>da</strong>, provavelmente<br />

está relaciona<strong>da</strong> à estratégia de forrageamento de ca<strong>da</strong><br />

espécie. Indivíduos de Phalacrocorax brasilianus (biguá)<br />

são exímios mergulhadores, pescam sozinhos, em casais ou,<br />

às vezes, em bandos de até duzentos indivíduos, cercando<br />

as presas para obter maior sucesso na captura (Sick 1989).<br />

A maioria dos avistamentos de P. brasilianus foram obtidos<br />

na água, onde, em bando pequenos (3 a 5 indivíduos)<br />

capturavam peixes. A profundi<strong>da</strong>de média de 2,0 m,<br />

encontra<strong>da</strong> no presente estudo, confirma o comportamento<br />

de caçadora ativa de maiores profundi<strong>da</strong>des. Foi observado<br />

ain<strong>da</strong> que esta espécie sempre estava em grupos (Sick 1989).<br />

P. brasilianus também foi a espécie mais abun<strong>da</strong>nte no<br />

estudo realizado por Petermann (1992) neste mesmo lago.<br />

Indivíduos de Sterna superciliaris (gaivota) são onívoros,<br />

sobrevoam e descem para capturar peixes que na<strong>da</strong>m a pouca<br />

profundi<strong>da</strong>de. Sobrevoam os corpos d’água patrulhando em<br />

busca de presas (Sick 1984). A maioria dos indivíduos<br />

avistados (67%) no presente estudo estavam, provavelmente,<br />

patrulhando o lago em busca de oportuni<strong>da</strong>de para capturar<br />

presas.<br />

Indivíduos de Butorides striatus (socozinho), embora<br />

alimentem-se de peixes, consomem também insetos,<br />

moluscos, caranguejos, anfíbios e répteis, e pescam<br />

predominantemente sozinhos (Sick 1984). Neste estudo, a<br />

maioria dos indivíduos (90%) desta espécie encontrava-se<br />

no local de forrageamento, ou seja, percorrendo a margem<br />

do lago, sempre solitários.<br />

Indivíduos de Ceryle torquata (martim-pescador)<br />

alimentam-se de artrópodes, mas pescam de poleiros em<br />

diferentes alturas, de onde arremetem-se sobre a presa (Sick<br />

1984). Esta espécie também desenvolveu comportamento<br />

típico quanto ao forrageamento na área de estudo,<br />

permanecendo empoleira<strong>da</strong> na vegetação marginal. Segundo<br />

Petermann (1992), esta espécie é comum na área durante<br />

todo ano (seca e cheia).<br />

Indivíduos de Anhinga anhinga (biguatinga) permanecem<br />

por entre a galharia onde esperam insetos, são exímios<br />

mergulhadores, perseguindo ativamente as presas (peixes),<br />

os quais são ingeridos somente fora <strong>da</strong> água (Sick 1984).<br />

Existe ain<strong>da</strong>, relatos de pesca em grupo (Sick 1989). Embora<br />

Petermann (1992) não tenha observado este comportamento<br />

na região, isto foi confirmado neste estudo. Esta espécie<br />

comportou-se de maneira diferencia<strong>da</strong> na área de estudo,<br />

pois na maioria <strong>da</strong>s vezes estava empoleira<strong>da</strong> em árvores<br />

altas de onde provavelmente não avistaria a presa. Vários<br />

motivos poderiam explicar este comportamento, desde a<br />

possibili<strong>da</strong>de de já haverem forrageado, até o fato de estarem<br />

esperando melhor condições ambientais para realizar as<br />

capturas.<br />

Indivíduos de Ardea cocoi (maguari) geralmente<br />

forrageiam sozinhos e são generalistas, incluindo peixes em<br />

sua dieta alimentar (Sick 1984). A maioria dos indivíduos<br />

foram observados na margem do lago, caminhando e<br />

parando, o que corrobora o hábito de caçador por espreita<br />

documentado para a espécie. É a maior ave piscívora <strong>da</strong><br />

área estu<strong>da</strong><strong>da</strong>.<br />

Egretta thula (garça pequena) é freqüentemente<br />

observa<strong>da</strong> forrageando junto à Casmerodius albus (garça<br />

grande) e ambas alimentam-se, entre outros itens, de peixe.<br />

No presente estudo Egretta thula foi encontra<strong>da</strong>, na maioria<br />

<strong>da</strong>s vezes, sozinha (90%). A associação entre estas espécies<br />

não foi observa<strong>da</strong> por nós, onde apenas dois avistamentos<br />

constataram a presença concomitante <strong>da</strong>s duas espécies.<br />

Bussarelus nigricolis (gavião belo) possui unhas<br />

pontiagu<strong>da</strong>s e recurvas, que auxiliam na captura de peixes,<br />

que caçam ativamente voando e mergulhando sobre a água.<br />

No presente estudo, um dos registros foi de um animal<br />

voando, provavelmente forrageando, e o outro sobre a<br />

vegetação, em um período de provável descanso.<br />

Os resultados obtidos apontam uso de habitats e táticas<br />

alimentares diferentes para as espécies de aves piscívoras.<br />

Isto indica que a distribuição espacial pode estar relaciona<strong>da</strong><br />

ao comportamento e estratégias de forrageamento <strong>da</strong>s aves<br />

do Lago do Camaleão. A especifici<strong>da</strong>de de habitat<br />

apresenta<strong>da</strong> por estas espécies torna-as bastante vulneráveis<br />

a perturbações ambientais, aumentando a importância <strong>da</strong><br />

preservação desses ambientes aquáticos.<br />

Agradecimentos<br />

Agradecemos a Ocírio Juruna por ter pilotado a voadeira,<br />

auxiliado a localizar as aves e pela sua disposição em acor<strong>da</strong>r<br />

mais cedo. Ao curso pela oportuni<strong>da</strong>de de estu<strong>da</strong>r e aprender<br />

mais sobre este bioma brasileiro.<br />

Referências Bibliográficas<br />

Fitzpatrick, J. W. 1981. Search strategies of tyrant<br />

flycatchers. Animal Behavior 29: 810-821.<br />

Petermann, P. 1992. The birds. In: The Central Amazon<br />

Floodplain, Ecology of a Pulsing System, Editor<br />

Wolfgang J. Junk, 527p.<br />

Sick, H. 1984a. Ornitologia Brasileira, Vol. 1 3 a ed.<br />

Editora UnB, Brasília, 481p.<br />

Sick, H. 1984b. Ornitologia Brasileira, Vol. 2 3 a ed.<br />

Editora UnB, Brasília, 827p.<br />

Stotz, D. F.; R. O. Bierregard; M. Cohn-Haft; P.<br />

Petermann; J. Smith; A. Whittaker & S. V. Wilson.<br />

1992. The status of North American migrants in<br />

Central Amazonian Brazil. Condor 94: 608-621.<br />

Terbough J. 1980. Causes of tropical species diversity.<br />

Acta 17 Congr. Int. Ornitol. Berlin, pp 955-961.<br />

Projeto Livre 2.<br />

Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002 57


Influência <strong>da</strong> luminosi<strong>da</strong>de no crescimento e<br />

investimento reprodutivo de Psychotria sp. (Rubiaceae)<br />

no sub-bosque de várzea, rio Solimões<br />

Genimar Rebouças Julião, Carolina Laura Morales, Paula Machado Pedrosa, Eduardo Cardoso Teixeira e George Camargo<br />

Introdução<br />

Os grandes rios amazônicos sofrem pulsos de inun<strong>da</strong>ção<br />

bastante pronunciados, cuja duração é variável, podendo<br />

chegar até 270 dias por ano. Porém, estes períodos são bem<br />

previsíveis, o que permite a a<strong>da</strong>ptação de espécies animais<br />

e vegetais a este tipo de variação (Junk 1997). A duração<br />

do período inundável em uma <strong>da</strong><strong>da</strong> área depende <strong>da</strong> distância<br />

do rio e <strong>da</strong> altitude em relação ao mesmo. Quanto mais<br />

próxima do rio e mais baixa for a área, mais tempo<br />

permanecerá alaga<strong>da</strong> (Junk 1997). A integração destas<br />

variáveis ambientais determinam aspectos biológicos <strong>da</strong>s<br />

espécies de planta que habitam regiões alagáveis,<br />

principalmente aquelas que não são carrea<strong>da</strong>s pelas águas e<br />

por isso necessitam criar estratégias para se a<strong>da</strong>ptar a<br />

situações inóspitas.<br />

A época de cheia pode ser considera<strong>da</strong> um período de<br />

estresse para as plantas, principalmente para aquelas que<br />

permanecem totalmente encobertas. Dessa forma, muitas<br />

espécies retar<strong>da</strong>m, ou mesmo cessam seu crescimento durante<br />

o pico <strong>da</strong> cheia, produzindo novas folhas e frutos no<br />

fim <strong>da</strong> vazante ou no início do período de cheia (L.V.<br />

Ferreira, com. pessoal). Além de fatores locais e sazonais,<br />

a luminosi<strong>da</strong>de que atravessa aberturas no dossel pode<br />

influenciar, numa escala mais refina<strong>da</strong>, o desenvolvimento<br />

de plantas.<br />

O nosso objetivo foi testar se o grau de luminosi<strong>da</strong>de<br />

influencia o investimento reprodutivo e a produção de folhas<br />

de Psychotria sp., partindo <strong>da</strong> premissa de que na cheia a<br />

planta cessa o seu crescimento e, consequentemente, o seu<br />

potencial reprodutivo, como o número de flores e frutos<br />

produzidos. Desta forma, esperamos encontrar plantas que<br />

produzam um maior número de flores e folhas em áreas do<br />

sub-bosque que apresentam maiores níveis de iluminação,<br />

uma vez que durante o período de cheia, as plantas retar<strong>da</strong>m<br />

seu crescimento e na vazante, supomos que a luminosi<strong>da</strong>de<br />

seja o principal fator na retoma<strong>da</strong> do crescimento de<br />

Psychotria sp.<br />

Métodos<br />

O estudo foi desenvolvido na área de várzea próxima ao<br />

lago do Camaleão, Ilha <strong>da</strong> Marchantaria, no Rio Solimões.<br />

A área de coleta apresentava uma cota de inun<strong>da</strong>ção<br />

relativamente baixa, sem variações altimétricas no terreno,<br />

que provavelmente era inun<strong>da</strong>do tardiamente e emergia no<br />

início <strong>da</strong> vazante.<br />

Vinte indivíduos de Psychotria sp. (Rubiaceae) foram<br />

58 Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002<br />

amostrados aleatoriamente em uma área de 1 ha, registrandose<br />

a intensi<strong>da</strong>de luminosa incidente com um<br />

esferodensiômetro, a altura total, a altura <strong>da</strong> primeira<br />

bifurcação e o número de inflorescências por indivíduo. O<br />

número total de flores foi estimado por meio do número de<br />

inflorescências por indivíduo multiplicado pela média de<br />

flores por inflorescência, a qual foi obti<strong>da</strong> a partir de três<br />

amostras de ca<strong>da</strong> indivíduo, toma<strong>da</strong>s ao acaso. Além disso,<br />

foi avaliado o número médio de folhas produzi<strong>da</strong>s após a<br />

última enchente. No campo, foi possível distinguir as folhas<br />

que foram submersas <strong>da</strong>quelas produzi<strong>da</strong>s após a cheia, pois<br />

folhas novas apresentam coloração em tons mais claros e<br />

ausência de sedimentos na superfície do limbo e nos ramos.<br />

A influência <strong>da</strong> luz no número de flores e de folhas novas<br />

foi avalia<strong>da</strong> utilizando regressões lineares simples, enquanto<br />

que as relações entre as variáveis medi<strong>da</strong>s na planta foram<br />

avalia<strong>da</strong>s utilizando correlações simples.<br />

Resultados<br />

Todos os indivíduos amostrados de Psychotria sp.<br />

apresentaram botões florais, flores abertas e frutos imaturos.<br />

A altura média dos indivíduos foi de 2,24±0,60 m, enquanto<br />

o número de inflorescências variou de 2 a 150 (Tabela 1). O<br />

número total de flores produzi<strong>da</strong>s por indivíduo não se<br />

relacionou significativamente com a luminosi<strong>da</strong>de (r 2 =<br />

0,032; p > 0,05; n = 20). A luminosi<strong>da</strong>de também não<br />

apresentou relação significativa com o número de folhas<br />

jovens, produzi<strong>da</strong>s após a estação cheia (r 2 = 0.016, p ><br />

0,05, n = 20). Além disso, não foram observa<strong>da</strong>s relações<br />

entre a altura <strong>da</strong> planta e o número de flores, nem no número<br />

de ramos e o número de flores produzi<strong>da</strong>s (Tabela 2).<br />

Tabela 1. Valores mínimos, máximos e médios <strong>da</strong> altura<br />

total e de ramificação, número de inflorescências,<br />

número médio de flores por inflorescência e o número<br />

médio de folhas por ramo de Psychotria sp.<br />

Valores Altura (m) Ramificação (m) Inflorescências Flores Folhas<br />

Mínimos 1,32 0,01 2,00 32,00 5<br />

Máximos 3,44 1,96 150,00 109,00 19<br />

Médios 2,24 ±0,603 0,63 ± 0,53 43,35± 37,35 61,25 ± 22,69 9,65 ± 3,42<br />

Tabela 2. Correlações de Pearson entre as variáveis<br />

medi<strong>da</strong>s na planta Psychotria sp., na ilha <strong>da</strong><br />

Marchantaria.<br />

Coeficiente de Pearson R Coeficiente de Pearson r<br />

Altura x ramificação 0,37 Número de folhas x número de flores 0,10<br />

Altura x número de flores 0,014 Número de ramos x número de flores 0,08


Discussão<br />

O suprimento de luz em uma área é o mais importante<br />

recurso ambiental requerido por plantas em crescimento.<br />

Plantas situa<strong>da</strong>s sob copas de árvores possuem mecanismos<br />

fisiológicos e morfológicos para contornar a restrição de<br />

luz (Harper 1977). Indivíduos de Psychotria sp. foram<br />

encontrados em sub-bosques, crescendo em diferentes níveis<br />

de luminosi<strong>da</strong>de. No entanto, os valores de crescimento<br />

vegetativo e do estágio reprodutivo obtidos neste estudo<br />

não apresentaram relações com os níveis de luminosi<strong>da</strong>de.<br />

É possível que Psychotria sp. seja uma espécie<br />

completamente a<strong>da</strong>pta<strong>da</strong> à vi<strong>da</strong> no sub-bosque pouco<br />

iluminado <strong>da</strong>s matas de várzea, sendo pouco influencia<strong>da</strong><br />

pela iluminação incidindo diretamente sobre os indivíduos.<br />

Devemos também considerar que o método empregado para<br />

estimar o grau de luminosi<strong>da</strong>de, o uso de um<br />

esferodensiômetro, pode não ter sido eficiente para medir a<br />

quanti<strong>da</strong>de de luz que efetivamente incidia sobre as plantas.<br />

O pulso anual de inun<strong>da</strong>ção pode ser um dos fatores<br />

determinantes do crescimento e floração de Psychotria sp.,<br />

pois através de observações em campo verificamos que a<br />

maioria dos indivíduos estavam florescendo<br />

sincronicamente, exceto indivíduos muito jovens. Supomos<br />

que a sincronia seja uma estratégia reprodutiva dos<br />

indivíduos para garantir a dispersão de seus frutos<br />

hidrocóricos durante a enchente.<br />

Além disso, observamos que as plantas em campo tinham<br />

arquiteturas distintas e muitos indivíduos apresentavam<br />

várias ramificações, algumas muito próximas ao solo. Tais<br />

ramificações podem decorrer do impacto físico causado pela<br />

cheia. Dessa forma, indivíduos de baixa estatura, poderiam<br />

produzir muitos ramos laterais e inflorescências, sendo<br />

necessárias outras formas de avaliar a i<strong>da</strong>de <strong>da</strong> planta,<br />

incidência de luz e sua influência no crescimento e floração<br />

de Psychotria sp.<br />

Agradecimentos<br />

Agradecemos ao Professor Leandro Valle Ferreira pela<br />

sugestão do projeto, ao Ocírio Juruna Pereira e Marcelo<br />

Pin Moreira pelo apoio de sempre.<br />

Referências Bibliográficas<br />

Harper, J.L. 1977. Population Biology of Plants. Academic<br />

Press, London, pp. 892.<br />

Junk, W.J. 1997. The Central Amazon Floodplain:<br />

Ecology of a Pulsing System. Springer-Verlag, Berlin,<br />

pp. 525.<br />

Projeto Livre 2 - Ilha <strong>da</strong> Marchantaria<br />

Orientação de fixação <strong>da</strong>s esponjas Spongilla sp.<br />

(Spongilli<strong>da</strong>e, Porifera) relaciona<strong>da</strong> à direção do fluxo<br />

do Rio Solimões na Ilha <strong>da</strong> Marchantaria, Amazônia<br />

Central<br />

Ana Maria Benavides, Daniela Chaves Resende, Sylvia Miscow Mendel<br />

Introdução<br />

Poríferos são animais pluricelulares que têm a<br />

necessi<strong>da</strong>de de um substrato para fixação. To<strong>da</strong> a fisiologia<br />

de uma esponja é extremamente dependente <strong>da</strong> corrente<br />

d’água que flui através do corpo, que traz consigo oxigênio,<br />

recursos e remove detritos (Barnes, 1984).<br />

As esponjas de água doce que ocorrem em sistemas de<br />

várzea na Amazônia Central se desenvolvem em uma<br />

paisagem tridimensional onde são submeti<strong>da</strong>s a gradientes<br />

ambientais tanto verticais (por exemplo, concentração de<br />

oxigênio) (Camargo et al. 2002) como horizontais<br />

(veloci<strong>da</strong>de e direção <strong>da</strong> correnteza do rio).<br />

Assim, seu padrão de crescimento é, em grande parte,<br />

uma resposta a<strong>da</strong>ptativa à disponibili<strong>da</strong>de de espaço, à<br />

inclinação do substrato e à veloci<strong>da</strong>de <strong>da</strong> corrente <strong>da</strong> água<br />

(Barnes, 1984).<br />

O objetivo deste trabalho foi testar duas hipóteses: i)<br />

investigar se o fluxo <strong>da</strong> correnteza do rio Solimões influencia<br />

a orientação <strong>da</strong>s esponjas que se fixam nos troncos <strong>da</strong>s<br />

árvores de uma mata de várzea e ii) se a competição por<br />

espaço afeta a distribuição <strong>da</strong>s esponjas em relação às<br />

diferentes faces <strong>da</strong>s árvores (Norte, Sul, Leste, Oeste).<br />

A predição para a primeira hipótese é de que a fixação<br />

<strong>da</strong>s esponjas ocorra, principalmente, na face oeste dos<br />

troncos, em resposta à orientação do fluxo d’água do rio,<br />

que se dá no sentido oeste-leste. Para a segun<strong>da</strong> hipótese,<br />

acreditamos que as esponjas que alcançam a árvore primeiro<br />

ocupem preferencialmente a face oeste <strong>da</strong>s árvores, seguindo<br />

o fluxo do rio. Desta forma, estas esponjas tornam-se maiores<br />

que as demais em virtude de um maior espaço disponível<br />

Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002 59


para colonização. As esponjas, que chegam posteriormente,<br />

se concentram nas outras faces, em função <strong>da</strong> falta de espaço<br />

na face oeste, resultando em menores taxas de crescimento.<br />

Métodos<br />

Desenvolvemos este estudo numa mata de várzea <strong>da</strong> ilha<br />

<strong>da</strong> Marchantaria, localiza<strong>da</strong> no rio Solimões, Amazônia<br />

Central, no mês de novembro de 2002 (final <strong>da</strong> época seca).<br />

Estabelecemos dois transectos de 15m ao longo de um trecho<br />

de mata, distantes 20 m entre si, ambos no sentido oesteleste.<br />

Em ca<strong>da</strong> transecto, amostramos aleatoriamente oito<br />

árvores, onde contamos to<strong>da</strong>s as esponjas avista<strong>da</strong>s e<br />

medimos o perímetro à altura do peito (PAP).<br />

Anotamos a face do tronco (norte, sul, leste, oeste) na<br />

qual ca<strong>da</strong> esponja estava fixa. Classificamos as<br />

aglomerações de esponjas em três classes de tamanho:<br />

grande (mais de quatro esponjas), média (duas a três<br />

esponjas) e pequena (uma esponja).<br />

Para avaliar a freqüência de distribuição <strong>da</strong>s esponjas<br />

nos quatro pontos cardeais foi realizado um teste quiquadrado<br />

(Zar, 1984). A distribuição espera<strong>da</strong> foi estima<strong>da</strong><br />

como 25% <strong>da</strong>s esponjas ocupando ca<strong>da</strong> uma <strong>da</strong>s faces dos<br />

trocos.<br />

Resultados<br />

O número de agregados de esponjas presentes nas 18<br />

árvores amostra<strong>da</strong>s foi de 188, totalizando cerca de 352<br />

indivíduos. Os agregados se distribuíram em três categorias<br />

de tamanho sendo, 31 de tamanho grande, 57 de tamanho<br />

médio e 100 de tamanho pequeno.<br />

Houve efeito <strong>da</strong> direção cardeal na distribuição de<br />

ocorrência de esponjas (c 2 = 193; g.l.3; p < 0,001) e as<br />

esponjas ocorreram com maior freqüência na face oeste dos<br />

troncos (Fig. 1).<br />

No entanto, a avaliação <strong>da</strong> ocorrência <strong>da</strong>s esponjas de<br />

diferentes tamanhos nos quatro sentidos mostrou que<br />

aglomerados de esponjas de tamanhos médio e grande<br />

ocorreram principalmente na face oeste dos troncos,<br />

enquanto as aglomerações menores ocorreram mais<br />

freqüentemente na face sul (Fig. 2).<br />

Figura 1. Freqüência de ocorrência de esponjas nos<br />

quatro sentidos cardeais, em mata de várzea na Ilha <strong>da</strong><br />

Marchantaria.<br />

60 Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002<br />

Figura 2. Freqüência de ocorrência <strong>da</strong>s aglomerações de<br />

esponjas nas diferentes classes de tamanho, nos quatro<br />

sentidos cardeais, na mata de várzea, Ilha <strong>da</strong><br />

Marchantaria. Colunas pretas mostram a distribuição dos<br />

grupos pequenos; hachura<strong>da</strong>s dos grupos médios e<br />

branco dos grupo grandes.<br />

Discussão<br />

Nosso estudo mostra um claro efeito <strong>da</strong> direção <strong>da</strong><br />

correnteza do rio Solimões sobre a orientação de fixação<br />

<strong>da</strong>s esponjas que se desenvolvem nas árvores do sistema de<br />

várzea local, já que estas se estabelecem com maior<br />

freqüência na face oeste. Esponjas que se estabelecem nesta<br />

face a favor <strong>da</strong> correnteza, talvez tenham acesso mais fácil<br />

a recursos que vêm com a correnteza. Existem duas possíveis<br />

explicações para tal localização de fixação: i) há uma<br />

diferença na chance de estabelecimento de uma esponja entre<br />

as diversas faces <strong>da</strong>s árvores, sendo a face oeste a de maior<br />

acessibili<strong>da</strong>de ou ii) se alguma <strong>da</strong>s faces representa um habitat<br />

onde os recursos são menos disponíveis (por estarem<br />

contrários ao fluxo d’água), é possível também que um<br />

fenômeno de mortali<strong>da</strong>de diferencial esteja modulando o<br />

padrão de distribuição encontrado.<br />

A chance de estabelecimento de uma gêmula em uma<br />

planta deve depender <strong>da</strong>s condições específicas do local e<br />

do número de esponjas já estabeleci<strong>da</strong>s. A abundância de<br />

esponjas no local é relativamente alta e, além disso, há uma<br />

concentração <strong>da</strong> distribuição destas a uma altura de 2,5 a<br />

3,5 metros (Camargo et al., 2002). Assim, a competição<br />

por espaço (substrato para fixação) pode ser um fator<br />

limitante ao desenvolvimento <strong>da</strong>s esponjas. Sendo assim, a<br />

segregação dos tamanhos dos agregados de esponjas nas<br />

diferentes faces <strong>da</strong>s árvores indica que as esponjas têm um<br />

êxito maior na face oeste, apresentando, por isto, esponjas<br />

maiores que as demais faces. Confirmando esta idéia,<br />

observamos que a face sul apresentou uma maior quanti<strong>da</strong>de<br />

de agregados pequenos. Isto mostra que, aparentemente, na<br />

falta de espaço na face oeste, estas esponjas se fixam nas<br />

demais faces, talvez menos propícias ao seu<br />

desenvolvimento. Assim, é razoável supor que a maior


concentração de esponjas pequenas na face sul seja uma<br />

resposta à competição ou uma estratégia para aproveitar o<br />

espaço restante disponível, já que a face oeste já está ocupa<strong>da</strong><br />

por indivíduos maiores.<br />

Referências Bibliográficas<br />

Barnes, R. D. 1984. Zoologia dos Invertebrados. 4 o<br />

Edição. Ed. Roca. São Paulo, S.P.<br />

Camargo, J., D. C. Resende, A. M. Benavides, & S. M.<br />

Mendel. 2002. Distribuição vertical de Spongilla sp.<br />

(Spongilli<strong>da</strong>e, Porifera) em uma área de várzea na ilha<br />

<strong>da</strong> Marchantaria, Amazônia Central. Curso de Campo<br />

<strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica.<br />

Junk, W. J. 1997. General aspects of floodplain ecology<br />

with special reference to Amazonian floodplains.<br />

pages 3-20. in Junk, W.J. (Ed.) The Central Amazon<br />

Floodplain – Ecology of a Pulsing Systems. Ecological<br />

Studies, vol. 126. Springer-Verlag.<br />

Zar, J. H. 1984. Biostatistical Analysis. 2 o Edição. Ed.<br />

Prentice Hall, New Jersey.<br />

Agradecimentos<br />

Agradecemos às várias sugestões do professor Jorge<br />

Nessimian e ao querido Marcelo ‘Pinguela’, que esteve<br />

sempre pronto a nos aju<strong>da</strong>r. Ao Juruna, pelo bom humor e<br />

pela água gela<strong>da</strong>, naqueles momentos mais certos.<br />

Projeto livre 2<br />

Efeito de bor<strong>da</strong> sobre a composição e abundância de<br />

galhas em Symmeria paniculata (Polygonaceae) na<br />

margem do lago do Prato, arquipélago de Anavilhanas,<br />

Amazônia Central<br />

Sylvia Miscow Mendel, Daniela Chaves Resende, Ana Maria Benavides, George Camargo<br />

Introdução<br />

Galhas são tumores vegetais causados por diversos<br />

organismos como fungos, nematódeos, bactérias, vírus e<br />

insetos. Dentre eles, os insetos são os mais abun<strong>da</strong>ntes (G.<br />

Wilson, com. pess.). Os principais fatores que influenciam<br />

a diversi<strong>da</strong>de e distribuição de insetos galhadores são:<br />

inimigos naturais (parasitos, patógenos, pre<strong>da</strong>dores),<br />

diversi<strong>da</strong>de de plantas hospedeiras, resistência de plantas,<br />

características físicas e climáticas do habitat e distúrbios<br />

antrópicos (Fernandes, 1987; Fernandes & Price, 1988).<br />

Muitos estudos têm tentado estabelecer padrões<br />

relacionados à diversi<strong>da</strong>de e à ocorrência de insetos<br />

galhadores a vários fatores físicos, climáticos e biológicos.<br />

Um fator de grande importância para esta interação insetoplanta,<br />

principalmente em manchas naturais de vegetação,<br />

é o efeito de bor<strong>da</strong> (Chen et al., 1992). To<strong>da</strong>via, apenas um<br />

estudo foi realizado com este intuito, utilizando como<br />

modelo insetos galhadores (Julião, 1999), apesar <strong>da</strong> alta<br />

diversi<strong>da</strong>de de insetos galhadores (e.g. Fernandes & Price,<br />

1988)<br />

O habitat de bor<strong>da</strong> de fragmentos florestais geralmente é<br />

caracterizado por uma maior luminosi<strong>da</strong>de, alta mortali<strong>da</strong>de<br />

de árvores, aumento <strong>da</strong> que<strong>da</strong> de folhas e de rebrotamento<br />

(Lovejoy et al., 1986) e melhor quali<strong>da</strong>de nutricional <strong>da</strong>s<br />

plantas para os herbívoros (Hart & Horwitz, 1991). A ação<br />

destes efeitos favorece um aumento nas taxas de<br />

desenvolvimento dos insetos associados à vegetação de<br />

bor<strong>da</strong> (Cappuccino & Martin, 1997).<br />

Symmeria paniculata é uma espécie arbustiva que ocorre<br />

principalmente em habitats de bor<strong>da</strong> <strong>da</strong> vegetação de ilhas<br />

e margens do rio Negro, na zona de contato entre os sistemas<br />

terrestre e aquático. Observações casuais indicam que, além<br />

<strong>da</strong> reprodução sexual há também grande investimento na<br />

propagação clonal. Na época de cheia <strong>da</strong> Amazônia suas<br />

folhas podem ficar submersas a cerca de 5 m de<br />

profundi<strong>da</strong>de, e mesmo assim, estão prontas para fazer a<br />

fotossíntese assim que emergem (Oliveira & Daly, 2001).<br />

Symmeria paniculata ocorre em abundância ao longo <strong>da</strong><br />

margem do lago do Prato, arquipélago de Anavilhanas,<br />

Amazônia Central. A abundância dos indivíduos desta<br />

espécie é fortemente influencia<strong>da</strong> pela disponibili<strong>da</strong>de de<br />

luz, havendo um decréscimo nas situações de sombreamento.<br />

Observamos que cinco tipos distintos de galhas de insetos<br />

ocorrem em S. paniculata no lago do Prato. Desta forma,<br />

este sistema oferece uma excelente oportuni<strong>da</strong>de para testar<br />

o efeito de bor<strong>da</strong>, utilizando-se de insetos galhadores como<br />

modelo de estudo.<br />

Os objetivos deste estudo foram testar a hipótese do efeito<br />

de bor<strong>da</strong> sobre a composição e abundância de galhas em<br />

Symmeria paniculata e verificar se a riqueza e a abundância<br />

de galhas está relaciona<strong>da</strong> à abundância <strong>da</strong> planta.<br />

Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002 61


Métodos<br />

Desenvolvemos este trabalho em uma mata <strong>da</strong> margem<br />

do Lago do Prato, arquipélago de Anavilhanas, rio Negro,<br />

Amazônia Central, Brasil.<br />

Para avaliar o efeito de bor<strong>da</strong> sobre a abundância e<br />

riqueza de insetos galhadores em Symmeria paniculata,<br />

fizemos 7 transectos de 14 m, perpendiculares ao lago,<br />

equidistantes 20 m. A ca<strong>da</strong> 2 m do transecto estabelecemos<br />

parcelas de 2 x 2 m, perfazendo um total de 7 parcelas por<br />

transecto. Em ca<strong>da</strong> parcela, estimamos a abundância de<br />

Symmeria paniculata, considerando ca<strong>da</strong> ramete como um<br />

indivíduo. Amostramos aleatoriamente cinco ramos dentro<br />

de ca<strong>da</strong> parcela para posterior contagem e identificação <strong>da</strong>s<br />

galhas. Parcelas nas quais não havia nenhum indivíduo <strong>da</strong><br />

planta hospedeira foram desconsidera<strong>da</strong>s nas análises.<br />

Os ramos coletados foram etiquetados, armazenados em<br />

sacos plásticos e levados para o laboratório onde, de ca<strong>da</strong><br />

saco, selecionamos ao acaso 20 folhas, para as quais<br />

determinamos a riqueza e abundância de galhas. As galhas<br />

foram dividi<strong>da</strong>s em cinco morfotipos distintos, baseado na<br />

forma e cor (Fernandes & Price, 1988).<br />

A relação entre a abundância de Symmeria paniculata,<br />

distância do lago e abundância e riqueza de galhas foi<br />

verifica<strong>da</strong> com uso de regressão múltipla (Zar, 1984).<br />

Resultados<br />

Do total <strong>da</strong>s 56 parcelas delinea<strong>da</strong>s, 13 delas localiza<strong>da</strong>s<br />

a mais de 10 metros <strong>da</strong> bor<strong>da</strong> <strong>da</strong> mata, não continham<br />

espécimes <strong>da</strong> planta hospedeira. Quantificamos um total de<br />

9934 galhas, sendo 2580 do morfotipo I, 1492 do morfotipo<br />

II, 667 do morfotipo III, 4835 do IV e 360 do V. To<strong>da</strong>s<br />

galhas são induzi<strong>da</strong>s por espécies ain<strong>da</strong> não descritas de<br />

Cecidomyii<strong>da</strong>e (Diptera). Das 820 folhas analisa<strong>da</strong>s, 404<br />

(49,30 %) apresentaram algum tipo de galha associa<strong>da</strong>.<br />

Considerando apenas as folhas coleta<strong>da</strong>s na parcela mais<br />

próxima ao lago, obtivemos um total de 160 folhas, <strong>da</strong>s quais<br />

118 (83,75 %) apresentaram galhas. Na parcela mais interna<br />

à mata, localiza<strong>da</strong> a 14m <strong>da</strong> margem do lago, 51,77% de<br />

um total de 60 folhas coleta<strong>da</strong>s, mostraram-se infecta<strong>da</strong>s<br />

por galhas.<br />

Não houve relação <strong>da</strong> abundância (gl.=40; t=1,29;<br />

R 2 =0,08; P=0,20) e <strong>da</strong> riqueza total (g.l.=40; t=1,95;<br />

R 2 =0,13; P=0,058) de galhas com a distância <strong>da</strong> margem<br />

do lago. A abundância (g.l.=40; t=0,27; R 2 =0,13; P=0,78)<br />

e a riqueza de galhas (g.l.=40; t=0,17; R 2 =0,13; P=0,51)<br />

também não foram influencia<strong>da</strong>s pela abundância de plantas<br />

hospedeiras.<br />

O morfotipo IV de galha apresentou um decréscimo <strong>da</strong><br />

abundância com a distância do lago (Fig. 1). To<strong>da</strong>via, a<br />

variação na abundância desta galha não foi influencia<strong>da</strong> pela<br />

abundância <strong>da</strong> planta hospedeira (Tab. I). Nos demais<br />

morfotipos de galhas não houve relação <strong>da</strong> abundância com<br />

a distância do lago ou mesmo com a abundância <strong>da</strong> planta<br />

hospedeira (Tab. I).<br />

62 Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002<br />

1400<br />

1200<br />

1000<br />

800<br />

600<br />

400<br />

200<br />

0<br />

0 1 2 3 4 5 6 7<br />

Distância do lago (m)<br />

Figura 1. Relação entre a abundância <strong>da</strong> galha de<br />

morfotipo IV e a distância do lago do prato, arquipélago<br />

de Anavilhanas.<br />

Tabela I. Análises de regressão múltipla entre a distância<br />

do lago do Prato e a abundância de S. paniculata com a<br />

abundância dos morfotipos de galha (N=43).<br />

Morfotipo de<br />

galha<br />

I<br />

II<br />

III<br />

IV<br />

V<br />

Relação R 2 B t P<br />

Distância do lago 0,06 5,86 1,04 0,30<br />

Abundância de planta<br />

hospedeira<br />

0,06 8,73 1,69 0.10<br />

Distância do lago 0,07 -1,07 0,35 0,72<br />

Abundância de planta<br />

hospedeira<br />

0,07 5,54 1,23 0,23<br />

Distância do lago 0,00 4,42 0,22 0,82<br />

Abundância de planta<br />

hospedeira<br />

0,00 6,58 0,16 0,87<br />

Distância do lago 0,17 -57,3 2,53 0,01<br />

Abundância de planta<br />

hospedeira<br />

0,17 -3,46 0,10 0,91<br />

Distância do lago 0,06 2,00 1,49 0,14<br />

Abundância de planta<br />

hospedeira<br />

0,06 2,99 1,30 0,19<br />

Discussão<br />

Não detectamos a ocorrência do efeito de bor<strong>da</strong> sobre a<br />

composição e abundância de galhas em Symmeria<br />

paniculata no lago do Prato. Esta ausência de relação pode<br />

ser devi<strong>da</strong> ao fato de que para as galhas o que realmente<br />

importa sejam as diferenças entre os indivíduos <strong>da</strong> população<br />

<strong>da</strong> planta hospedeira e não sua posição em relação à bor<strong>da</strong>.<br />

Entretanto, não podemos excluir a hipótese de que o<br />

tamanho <strong>da</strong> mancha de vegetação na ilha seja muito<br />

reduzido, resultando em uma diluição dos efeitos<br />

característicos de uma bor<strong>da</strong>. Ou seja, mesmo com o<br />

decréscimo <strong>da</strong> abundância <strong>da</strong> planta hospedeira <strong>da</strong> bor<strong>da</strong><br />

para o interior, é possível que para os insetos galhadores<br />

não haja um gradiente efetivo de luminosi<strong>da</strong>de, umi<strong>da</strong>de<br />

ou temperatura em direção ao interior <strong>da</strong> mata.<br />

Em relação ao decréscimo <strong>da</strong> abundância do morfotipo<br />

de galha IV para o interior <strong>da</strong> mata, acreditamos que possa<br />

estar havendo algum processo de mortali<strong>da</strong>de diferencial.


É possível que este galhador possa ser competitivamente<br />

inferior aos demais ou apresente uma baixa tolerância à<br />

sombra, não sendo capaz de sobreviver e se estabelecer na<br />

planta hospedeira quando esta se encontra no interior <strong>da</strong><br />

mata.<br />

Referências Bibliográficas<br />

Cappuccino, N. & M. A. Martin. 1997. The birch tubemarker<br />

Acrobasis betulella in a fragmented habitat: the<br />

importance of patch isolation and edges. Oecologia<br />

110: 69-76.<br />

Chen, J., J. F. Franklin & T. A. Spies. 1992. Vegetation<br />

responses to edge environments in old-growth douglasfir<br />

forests. Ecological Applications 2: 387-396.<br />

Fernandes, G. W. 1987. Gall forming insects: their<br />

economic importance and control. Revista Brasileira<br />

de Entomologia 31: 379-398.<br />

Fernandes, G. W. & P. W. Price. 1988. Biogeographical<br />

gradients in galling species richness: tests of hypotheses.<br />

Oecologia 76: 161-167.<br />

Hart, D. D. & R. J. Horwitz. 1991. Habitat diversity and<br />

the species-area relationship: alternative models and<br />

tests. In: Habitat structure: the physical arrangement of<br />

objects in space. Ed. Bell, S. S., McCoy, E. D.,<br />

Mushinsky, H. R. Chapman and Hall. London. Pp. 47-<br />

65.<br />

Julião, G. R. 1999. Comuni<strong>da</strong>de de insetos galhadores em<br />

ambiente florestal naturalmente fragmentado, no<br />

Pantanal Sul-Mato-Grossense. Dissertação de<br />

Mestrado, Programa de Pós-graduação em <strong>Ecologia</strong> e<br />

Conservação. Universi<strong>da</strong>de Federal de Mato Grosso<br />

do Sul. Campo Grande, MS.<br />

Lovejoy, T. E., R. O. Bierregaard Jr., A. B. Rylands, J. R.<br />

Malcom, C. E. Quintela, L. H. Harper, K. S. Brown Jr.,<br />

A. H. Powell, G. V. N. Powell, H. O. R. Schubart & M.<br />

B. Hays. 1986. Edge and other effects of isolation on<br />

Amazon forest fragments. Pages 257-285 in Soulé, M.<br />

E. editor. Conservation biology: the science of scarcity<br />

and diversity. Sunderland, Massachussetts.<br />

Zar, J. H. 1984. Biostatistical Analysis. Second Edition.<br />

Prentice Hall, New Jersey.<br />

Grupo 5 - Projeto Orientado 5<br />

Territoriali<strong>da</strong>d e interacciones entre hembra-macho en<br />

Diastatops cf. emilia (Odonata, Libelluli<strong>da</strong>e)<br />

Patricia Garcia Tello, Luiz Henrique Claro Jr., Eduardo Vasconcelos, Genimar Rebouças Julião, Vanina Zini Antunes<br />

Introducción<br />

Varias espécies de animales, tanto vertebrados como<br />

invertebrados, defienden su território para monopolizar<br />

recursos, tales como alimento o sítios de reproducción<br />

(Krebs & Davies, 1978). Algunas otras especies defenden<br />

territórios unicamente para utilizarlo como sitios de<br />

exposición ya que no compiten por los recursos (Pinheiro,<br />

1990). El comportamiento territorial se caracteriza cuando<br />

un macho es encontrado regularmente en un área restringi<strong>da</strong><br />

y esta área es patrulla<strong>da</strong> y defendi<strong>da</strong> contra otros indivíduos.<br />

Cuando los territórios son utilizados unicamente para<br />

exibición los ataques son direcionados preferencialmente a<br />

machos co-específicos (Krebs & Davies, 1978).<br />

Los Odonata son insetos cuyas ninfas se desenvolven en<br />

medio acuatico, si embargo los adultos utilizán habitats<br />

próximos al agua (Borror & De Long, 1988). Las libelulas<br />

pueden ser divididos en dos grupos: voladores (que son los<br />

que pasan la mayor parte del tiempo volando) y<br />

empoleiradores (que son los que pasan la mayor parte del<br />

tiempo perchando dentro de su territorio) (Cobert, 1962).<br />

Hay que señalar que los indivíduos de la família Libelluli<strong>da</strong>e<br />

son, en general, empoleiradores, pero no todos son<br />

territorialistas.<br />

Observaciones preliminares realiza<strong>da</strong>s en el archipielago<br />

de Anavilhanas (Amazonia Central) sugieren que Diastatops<br />

cf. emilia (Libelluli<strong>da</strong>e) pueden ser territorialistas. Una<br />

caracteristica de los machos de esta especie es que tienen<br />

pigmentaciones rojas en las alas y son comunmente<br />

encontrados sobre poleiros naturales próximos a aguas. El<br />

objetivo de este trabajo fue investigar si los machos de<br />

Diastatops cf. emilia son territorialistas y si el tamaño de<br />

território así como la proximi<strong>da</strong>de del lago interfieren en la<br />

atractivi<strong>da</strong>d del macho hacia la hembra.<br />

Métodos<br />

El área de estudio fue la margen del lago del Prato, que<br />

se encuentra en el Arquipélago de Anavilhanas, Amazonia<br />

Central. Nuestro estudio fue realizado en el período de secas<br />

(noviembre del 2002) entre las 8:00 y 11:00 h. Las muestras<br />

comportamentales fueron del tipo “animal focal” y ca<strong>da</strong><br />

macho de Diastatops cf. emilia fue observado por un periodo<br />

de 10 min. Durante el periodo de muestreo fueron registrados<br />

Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002 63


el número de combates (inter e intra-especificos) entre machos,<br />

el número de visitas de hembras al territorio y número<br />

de cópulas.<br />

El tamaño del territorio fue medido multiplicando el área<br />

cuadra<strong>da</strong> que estaba siendo utiliza<strong>da</strong> por los machos. La<br />

determinación del perimetro fue obteni<strong>da</strong> por un<br />

mapeamiento de los poleiros de ca<strong>da</strong> macho. Por último se<br />

midio tambien la distancia del territorio al margen del lago.<br />

El número de interacciones entre machos, número de visitas<br />

de hembras y el número de copulas fueron correlacionados<br />

con el area del territorio y la distancia de este hacia el lago<br />

a traves de pruebas de correlación de Spearman.<br />

Resultados<br />

Observamos en el margen del lago del Prato trece<br />

individuos, dentro de estos el 92,3% fueron encontrados<br />

en un área restringi<strong>da</strong> de 9,8 ± 8,0 m 2 . Fueron observa<strong>da</strong>s<br />

oito disputas entre machos, el 87,5% fueron intraespecíficas.<br />

Las hembras fueron observa<strong>da</strong>s 11 veces<br />

visitando el territorio de los machos y en cinco casos<br />

copulando.<br />

El número de visitas de hembras fue positivamente<br />

correlacionado con el área del territorio (r s =0,579; p0,05 para ambos). Ninguno de los<br />

parametros de comportamiento tubieron correlación con la<br />

distancia del territorio hacia el agua.<br />

Discución<br />

Los resultados encontrados sugieren que los machos de<br />

Diastatops cf. emilia presentan comportamiento territorial.<br />

Aparentemente los territórios defendidos son utilizados<br />

como arena de exibición para las hembras, ya que todos los<br />

combates observados fueron entre machos de la misma<br />

espécie.<br />

64 Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002<br />

El tamaño del territorio parece tener influencia con el<br />

número de hembras que visitan el territorio de los machos.<br />

Esto puede ser explicado por la preferencia de las hembras<br />

hacia machos mas vigorosos y con capaci<strong>da</strong>d de defender<br />

un territorio grande. La oportuni<strong>da</strong>d del macho defensor<br />

para copular aumentaria con el número de hembras que<br />

visitan el territorio. To<strong>da</strong>via no encontramos una relación<br />

significativa entre el tamaño de territorio y número de copulas.<br />

Como los machos emplean mucho tiempo el la defensa<br />

de sus territorios, el número de interacciones probablemente<br />

es reduzido.<br />

Se esperaria que los machos defendieran su territorio<br />

con un recurso atractivo para las hembras, como sitios de<br />

oviposición. Sin embargo esto no sucede con los machos de<br />

Diastatops cf. emilia que unicamente defienden su territorio<br />

para hacieren exposiciones. atraer a la hembra.<br />

Probablemente no vale la pena defender un recurso como<br />

el agua del lago que es altamente disponible en su habitat.<br />

Agradecimientos<br />

Agradecemos a Glauco por las sugerencias y orientación<br />

brin<strong>da</strong><strong>da</strong>, las cuales nos ayu<strong>da</strong>ron a realizar este trabajo.<br />

Referencias Bibliográficas<br />

Barror, D.J. & D.M. Delong, 1988. Introdução ao Estudo<br />

dos insectos, Ed. Edgard Blücher LTDA, 68 pp.<br />

Cobert, P. S. 1962. Biology of Dragonflies. Witherby,<br />

London.<br />

Krebs, J. R. & Davies, N. B. 1978. Behavioral Ecology:<br />

an Evolutionary Approach. Blackwell, Oxford.<br />

Pinheiro, C. E. G. 1991. Territorial hilltopping behavior<br />

of three swallowtail<br />

butterflies (Lepidoptera, Papilioni<strong>da</strong>e) in western Brazil.<br />

Journal of Research on the Lepidoptera, 29:134-<br />

142.<br />

Grupo 6 – Projeto Orientado 5<br />

Distribuição de Spongilla sp. (Spongilli<strong>da</strong>e, Porifera)<br />

em gradiente de inun<strong>da</strong>ção em uma mata de Igapó,<br />

Arquipélago de Anavilhanas, Amazonas<br />

Josué Ribeiro <strong>da</strong> Silva Nunes, Yumi Oki, Carina Lima <strong>da</strong> Silveira, André Faria Mendonça e Paula Machado Pedrosa<br />

Introdução<br />

Os igapós são caracterizados por sofrerem alagações<br />

periódicas por rios de água preta e clara e estão localizados<br />

em solos argilosos e arenosos. Na vazante é comum<br />

encontrar praias de areia com árvores, as quais na enchente<br />

são inun<strong>da</strong><strong>da</strong>s (Pires & Prance 1985).<br />

O pulso de inun<strong>da</strong>ção exerce papel fun<strong>da</strong>mental na<br />

biologia dos organismos que habitam ambientes<br />

sazonalmente alagáveis, tais como várzea e igapó. A<br />

concentração de nutrientes nesses ambientes está relaciona<strong>da</strong><br />

à geologia dos terrenos e as modificações antrópicas ao<br />

longo do curso dos rios (Junk et al. 1989).


As esponjas <strong>da</strong>s áreas inundáveis <strong>da</strong> Amazônia estão<br />

distribuí<strong>da</strong>s verticalmente no tronco de árvores que sofrem<br />

inun<strong>da</strong>ções periódicas com as cheias dos rios. Na época de<br />

seca é possível observar o padrão de distribuição destas<br />

esponjas e tentar relacioná-lo com fatores abióticos. Esses<br />

animais sesséis apresentam uma fisiologia dependente de<br />

correntes de água, pois esta fornece oxigênio, alimentos,<br />

remove os detritos e propicia a reprodução (Barnes, 1984).<br />

A maioria <strong>da</strong>s esponjas são marinhas e apenas 150<br />

espécies são de água doce. Embora não existam muitas<br />

espécies de água doce, ain<strong>da</strong> são poucos os estudos a respeito<br />

<strong>da</strong> biologia e distribuição desses organismos, principalmente<br />

em ambiente de igapó. O nosso objetivo foi avaliar o efeito<br />

<strong>da</strong> inun<strong>da</strong>ção na distribuição de Spongilla sp. (cauxi) em<br />

diferentes cotas altitudinais no Igapó.<br />

Métodos<br />

Realizamos este estudo no igapó do Lago Prato, situado<br />

na Estação Ecológica de Anavilhanas (02º47’S, 60º 48’W)<br />

localiza<strong>da</strong> no Rio Negro, Amazonas, Brasil. Nesta<br />

locali<strong>da</strong>de, o nível d’água apresenta uma oscilação média<br />

de 8 m entre os períodos de cheia e vazante (Walker 1995).<br />

Realizamos quatro transectos de 100m ca<strong>da</strong>, partindo <strong>da</strong><br />

margem do lago do Prato (Arquipélago de Anavilhanas) em<br />

direção ao interior <strong>da</strong> mata, com um espaçamento de 50m.<br />

A ca<strong>da</strong> 20m marcamos um ponto (uma árvore) onde<br />

avaliamos com o auxílio de uma estaca gradua<strong>da</strong> de 0,5 em<br />

0,5 m, (total de 3m), o número de esponjas em ca<strong>da</strong> classe<br />

de altura (0 a 0,5m; 0,5 a 1m; 1 a 1,5m; 1,5 a 2m; 2 a 2,5m<br />

e 2,5 a 3m).<br />

Para avaliarmos a altura máxima do nível <strong>da</strong> água em<br />

ca<strong>da</strong> cota de relevo, medimos a altura <strong>da</strong> última inun<strong>da</strong>ção<br />

nas árvores <strong>da</strong> floresta (3m). Do barco, estendemos uma<br />

régua, que foi visualiza<strong>da</strong> por um observador no alto do<br />

barranco, resultando assim na altura do barranco (9,7m),<br />

este valor foi somado à marca <strong>da</strong> água nas árvores, resultando<br />

na altura máxima do nível <strong>da</strong> água para a área no período<br />

de inun<strong>da</strong>ção (12,7m). A extensão média <strong>da</strong> ilha foi de 125m<br />

(transversalmente). Usando estes valores, calculamos a<br />

altura do nível <strong>da</strong> água para ca<strong>da</strong> cota, usando o teorema de<br />

Pitágoras (Figura 1).<br />

12,7m<br />

9,7m<br />

B<br />

a<br />

r<br />

r<br />

a<br />

n<br />

c<br />

o<br />

Nível máximo <strong>da</strong> água<br />

20m<br />

125m<br />

Nível <strong>da</strong> água do lago na estiagem<br />

Figura 1. Desenho esquemático usado para calcular o<br />

nível <strong>da</strong> água em to<strong>da</strong>s as cotas estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s.<br />

Resultados<br />

Encontramos um total de 473 indivíduos de esponjas<br />

distribuídos nas 24 plantas observa<strong>da</strong>s nos quatro transectos.<br />

Verificamos que a maior concentração de esponjas ocorreu<br />

nas classes mais baixas (entre 0-0,5; 0,5-1m) <strong>da</strong>s árvores<br />

medi<strong>da</strong>s. As árvores que se encontravam em cotas mais<br />

baixas, apresentaram uma distribuição de esponjas mais<br />

homogênea ao longo do tronco, enquanto que em cotas mais<br />

altas estas localizavam-se predominantemente na base do<br />

tronco (Figura 2).<br />

15<br />

10<br />

5<br />

10<br />

5<br />

0<br />

0 1 2 3 4 5 6<br />

Figura 2. Distribuição de esponjas sobre o tronco de<br />

árvores de igapó, segundo as cotas de inun<strong>da</strong>ção e a<br />

altura de fixação nas árvores.<br />

Discussão<br />

A permanência <strong>da</strong>s esponjas em classes mais baixas<br />

provavelmente garante maior sobrevivência em ambientes<br />

que apresentem diferentes níveis de inun<strong>da</strong>ção, pois estas<br />

poderão ficar maior tempo submersas. Isto deve ser<br />

especialmente vantajoso em ambientes de água preta, que<br />

são pobres em nutrientes, permitindo que esses animais<br />

filtradores tenham maior tempo para alimentar-se, crescer<br />

e reproduzir.<br />

Comparando com os resultados obtidos na várzea<br />

(Camargo et al., neste volume) observamos uma zonação<br />

diferencial desses animais. No experimento <strong>da</strong> várzea, a<br />

maioria <strong>da</strong>s esponjas estavam dispostas na zona<br />

intermediária <strong>da</strong>s árvores (2,5-3,5m), enquanto nossos<br />

resultados mostram que as esponjas concentram-se na zona<br />

basal (0 -1m). Estas diferenças podem estar relaciona<strong>da</strong>s<br />

com as mu<strong>da</strong>nças nas características fisicas e químicas <strong>da</strong><br />

água, como sedimentação, oxigênio dissolvido, nutrientes,<br />

turbidez e condutivi<strong>da</strong>de, entre os dois ambientes.<br />

Segundo Nessimian (com. pess. 2002), a espécie<br />

encontra<strong>da</strong> no ambiente de várzea por Camargo et al. (neste<br />

Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002 65


volume) parece ser a mesma encontra<strong>da</strong> no igapó. Se<br />

confirma<strong>da</strong> essa informação, após análises taxonômicas,<br />

poderemos afirmar que o tipo de água tem influência no<br />

padrão de distribuição desses organismos. Assim, este<br />

trabalho fornece subsídios para que mais estudos sejam<br />

realizados a respeito dos efeitos dos pulsos de inun<strong>da</strong>ção<br />

com diferentes organismos, como as esponjas, nas áreas de<br />

várzea e igapó.<br />

Agradecimentos<br />

Agradecemos ao Jorge Nessimian pela orientação e pelo<br />

belíssimo projeto de estudo. Ao Dadão, ao Jansen e ao<br />

Pinguela pelas valiosas sugestões e assessoria.<br />

Referências bibliográficas<br />

Barnes, R. D. 1994. Zoologia dos invertebrados, 4 a ed, ed.<br />

Roca, pp. 1179.<br />

Camargo, G, D. C., A. M. Resende, S. M. Benavides.<br />

66 Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002<br />

Mendel. 2002. Distribuição vertical de Spongilla sp.<br />

(Spongilli<strong>da</strong>e, Porifera) em área de várzea na Ilha <strong>da</strong><br />

Marchantaria, Amazônia Central.<br />

Junk, W. J., P. B. Bayley & R. E. Sparks. 1989. The flood<br />

pulse concept in river-floodplain system, p. 110-127.<br />

In D.P. Dodge (editor). Proceedings of the International<br />

Large River Symposium. Can. Spec. Publ. Fish.<br />

Aquat. Sci. 106.<br />

Pires, J. M. & G. T. Prance. 1985. Key environment s<br />

Amazônia. J. e. Treherne Ed. 136-127p.<br />

Walker, I. 1995. Amazonian Stream and small rivers. Pp<br />

167-193. In Tundisi, J. G., C. E. M. Bicudo & T.<br />

Matsumura Tundisi (eds.) Limnology in Brazil.<br />

Brazilian Academy of Science – Brazilian Limnological<br />

Society, Brazil.<br />

Projeto orientado 5 – Grupo 7<br />

Orientador: Jorge Nessimian<br />

Riqueza e abundância <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de de plantas em<br />

três ambientes de igapó, no arquipélago de<br />

Anavilhanas, AM<br />

Ana Paula Carmignotto, Flaviana Maluf de Souza, Carolina Laura Morales, Eduardo Cardoso Teixeira, Flávio José Soares Jr.<br />

Introdução<br />

Em ambientes inundáveis, como as florestas de igapó <strong>da</strong><br />

Amazônia Central, os pulsos de inun<strong>da</strong>ção desempenham<br />

papel fun<strong>da</strong>mental na estruturação <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong>des<br />

vegetais. Para enfrentar os longos períodos de inun<strong>da</strong>ção,<br />

as espécies habitantes deste ecossistema desenvolveram uma<br />

série de a<strong>da</strong>ptações. As espécies de vegetação lenhosa, por<br />

exemplo, apresentam dormência cambial e que<strong>da</strong> de folhas<br />

durante a fase aquática como estratégias para tolerar a<br />

inun<strong>da</strong>ção (Junk & Pie<strong>da</strong>de 1997).<br />

A distribuição <strong>da</strong>s espécies vegetais nesses ambientes<br />

pode ser influencia<strong>da</strong> por diversos fatores, dentre eles, um<br />

dos mais importantes é a duração <strong>da</strong> fase aquática. Locais<br />

mais baixos e sujeitos a longos períodos de inun<strong>da</strong>ção (até<br />

9 meses) apresentam uma composição florística típica,<br />

domina<strong>da</strong> por poucas espécies altamente a<strong>da</strong>pta<strong>da</strong>s a essa<br />

condição. Por outro lado, cheias excepcionalmente<br />

pronuncia<strong>da</strong>s e duradouras podem levar à morte muitas<br />

árvores, produzindo paisagens domina<strong>da</strong>s por troncos<br />

mortos conheci<strong>da</strong>s como “paliteiros”.<br />

Segundo Junk & Pie<strong>da</strong>de (1997), a composição específica<br />

varia de acordo com o regime de inun<strong>da</strong>ção.<br />

Adicionalmente, outras variáveis que também regulam a<br />

estrutura <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de de plantas em áreas de terra firme,<br />

como a luminosi<strong>da</strong>de, também atuam em áreas de igapó.<br />

Em áreas abertas e de clareiras no interior <strong>da</strong> floresta, por<br />

exemplo, espécies heliófitas podem ser favoreci<strong>da</strong>s,<br />

consequentemente modificando a estrutura <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de<br />

local (Sanford et al. 1986). Com o intuito de verificar<br />

mu<strong>da</strong>nças na estrutura <strong>da</strong> vegetação, este estudo teve como<br />

objetivo avaliar a influência <strong>da</strong>s variáveis tempo de<br />

inun<strong>da</strong>ção e luminosi<strong>da</strong>de na composição e abundância de<br />

plantas em uma área de floresta de igapó.<br />

Métodos<br />

O presente estudo foi realizado em uma área de floresta<br />

de igapó nas margens do Lago do Prato, no arquipélago de<br />

Anavilhanas, AM. A fisionomia predominante na área<br />

estu<strong>da</strong><strong>da</strong> é o “paliteiro”, e caracteriza-se por apresentar uma<br />

extensa área coberta por arroz selvagem (Oriza perenis),<br />

sujeita anualmente à inun<strong>da</strong>ção. Há ain<strong>da</strong> alguns arbustos e<br />

poucos indivíduos arbóreos isolados, além de alguns troncos<br />

de árvores mortas ain<strong>da</strong> em pé, decorrentes de uma grande<br />

enchente ocorri<strong>da</strong> em 1953. Avançando no sentido lagointerior,<br />

há uma área de mata onde predominam espécies<br />

arbóreas e em seu interior, algumas clareiras.<br />

Com o intuito de avaliar o efeito do tempo de inun<strong>da</strong>ção


e <strong>da</strong> luminosi<strong>da</strong>de sobre a composição <strong>da</strong> vegetação, três<br />

ambientes foram escolhidos: 1- área aberta de paliteiro<br />

próxima ao lago (A), sujeita a maior intensi<strong>da</strong>de de luz e<br />

tempo de inun<strong>da</strong>ção; 2- área de mata (M), onde a incidência<br />

de luz no sub-bosque é menor, assim como o tempo de<br />

inun<strong>da</strong>ção; e 3- área de clareira no interior <strong>da</strong> mata (C),<br />

onde o tempo de inun<strong>da</strong>ção assemelha-se ao <strong>da</strong> mata, e a<br />

luminosi<strong>da</strong>de à área aberta. A amostragem foi feita em<br />

quatro parcelas de 5 x 5 m (25 m 2 ) em ca<strong>da</strong> ambiente, onde<br />

contamos e identificamos todos os indivíduos arbustivos e<br />

arbóreos com altura igual ou inferior a 2 m.<br />

Usamos o índice de Jaccard (ISj) para avaliar a<br />

similari<strong>da</strong>de <strong>da</strong> composição florística entre os ambientes<br />

estu<strong>da</strong>dos. Diferenças na riqueza e abundância entre os<br />

ambientes foram avalia<strong>da</strong>s por meio de análise de variância<br />

(ANOVA) e comparação múltipla de Tukey.<br />

Resultados<br />

Foram amostrados 430 indivíduos pertencentes a 15<br />

famílias, 25 gêneros e 25 espécies. Na área aberta<br />

encontramos nove espécies (99 indivíduos), enquanto que<br />

na mata e na clareira encontramos 17 espécies (125 e 206<br />

indivíduos, respectivamente); (Figura 1). A similari<strong>da</strong>de<br />

foi de 0,54 entre a mata e a clareira, e de 0,30 entre a área<br />

aberta e a clareira. A área aberta e a mata foram as áreas<br />

menos similares entre si (IS J = 0,13).<br />

N<br />

N<br />

70<br />

60<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

70<br />

60<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

70<br />

60<br />

50<br />

N<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

Myrciaria dubia<br />

Alchornea<br />

Alibertia edulis<br />

Ilex inun<strong>da</strong>ta<br />

Buchenavia<br />

Hevea spruceana<br />

Allaman<strong>da</strong><br />

Tabernaemontana<br />

Swartzia sericea<br />

Machaerium<br />

Terminalia<br />

Rubiaceae 2<br />

Myrciariadubia Alchorneaschomburgkiiana<br />

Alibertia edulis<br />

Ilex inun<strong>da</strong>ta<br />

Buchenavia oxycarpa<br />

Hevea spruceana<br />

Allaman<strong>da</strong> doniana<br />

Tabernaemontana rupicula<br />

Sw artzia sericea<br />

Machaeriuminun<strong>da</strong>tum<br />

Terminalia<br />

Myrciaria dubia<br />

Rubiaceae 2<br />

Alchornea schomburgkiiana<br />

Rubiaceae<br />

Alibertia edulis<br />

Ilex inun<strong>da</strong>ta<br />

Buchenavia oxycarpa<br />

Hevea spruceana<br />

Allaman<strong>da</strong>doniana Tabernaemontana rupicula<br />

Sw artzia sericea<br />

Machaerium inun<strong>da</strong>tum<br />

Terminalia<br />

Rubiaceae 2<br />

Rubiaceae<br />

Figura 1. Distribuição de abundância para ca<strong>da</strong> espécie<br />

amostra<strong>da</strong> em três ambientes de uma ilha do Arquipélago<br />

de Anavilhanas, AM. N= número de indivíduos por<br />

espécie.<br />

Rubiaceae<br />

A análise de variância revelou diferenças significativas<br />

na riqueza entre os três ambientes estu<strong>da</strong>dos (g.l.=2; F=19,5;<br />

p=0,001) (Fig. 2). A riqueza de espécies <strong>da</strong> área aberta foi<br />

maior do que a <strong>da</strong> mata (Tukey, p=0,009) e <strong>da</strong> clareira<br />

(Tukey, p=0,001). Porém, entre a mata e a clareira, a riqueza<br />

não diferiu (p=0,121). Apenas três espécies foram comuns<br />

aos três ambientes (Figura 3).<br />

Riqueza<br />

15<br />

10<br />

5<br />

0<br />

A C M<br />

Ambiente<br />

Figura 2. Número de espécies registra<strong>da</strong>s em ca<strong>da</strong> um<br />

dos ambientes estu<strong>da</strong>dos: (A) Área aberta, (C) Clareira e<br />

(M) Mata.<br />

Mata<br />

5<br />

Clareira<br />

9 3<br />

2<br />

0<br />

3<br />

Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002 67<br />

3<br />

Área<br />

aberta<br />

Figura 3. Número de espécies exclusivas e comuns aos<br />

ambientes estu<strong>da</strong>dos.<br />

As abundâncias de plantas também foram diferentes entre<br />

os ambientes estu<strong>da</strong>dos (F=4,858; g.l=2; p=0,037) (Fig.<br />

4). Porém, a diferença somente foi significativa entre a área<br />

aberta e a clareira (Tukey, p=0,037), não havendo diferença<br />

entre a abundância para os demais (Tukey, p=0,755 entre a<br />

área aberta e a mata; Tukey, p=0,113 entre a clareira e a<br />

mata).


Abundância<br />

70<br />

60<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

A C M<br />

Ambiente<br />

Figura 4. Número de indivíduos registrados em ca<strong>da</strong> um<br />

dos ambientes estu<strong>da</strong>dos.<br />

Discussão<br />

As diferenças encontra<strong>da</strong>s na riqueza e abundância de<br />

plantas arbóreas e arbustivas refletem a heterogenei<strong>da</strong>de<br />

fisionômica <strong>da</strong> área de estudo. Este fato vem reforçar uma<br />

<strong>da</strong>s hipóteses que explica a alta riqueza de espécies<br />

encontra<strong>da</strong> nas florestas tropicais, que seria determina<strong>da</strong>,<br />

em parte, por uma alta diversi<strong>da</strong>de de fatores presentes em<br />

uma pequena escala, compondo uma estrutura de mosaicos<br />

ambientais (Ricklefs 1977; Sanford Jr. et al. 1986; Molofsky<br />

& Augspurger 1992).<br />

A menor similari<strong>da</strong>de na composição florística entre a<br />

área aberta e a mata, assim como o menor número de<br />

espécies registrado na área aberta pode ser decorrente <strong>da</strong>s<br />

condições ambientais extremas <strong>da</strong>quele ambiente. A área<br />

aberta, cuja cobertura predominante é o arroz selvagem<br />

Oriza perenis, parece ser influencia<strong>da</strong> pelo maior tempo de<br />

inun<strong>da</strong>ção, por ser uma área mais baixa. Além disso, as<br />

plantas ficam expostas a altos níveis de luminosi<strong>da</strong>de, o<br />

que levaria a uma alta seletivi<strong>da</strong>de e a um reduzido número<br />

de espécies que estariam a<strong>da</strong>pta<strong>da</strong>s a essas condições.<br />

O baixo número de espécies comuns aos três ambientes<br />

reflete as particulari<strong>da</strong>des de ca<strong>da</strong> habitat. Além do tempo<br />

de inun<strong>da</strong>ção, o solo e a pobreza de nutrientes na área mais<br />

próxima à água devem ser fatores limitantes ao<br />

desenvolvimento <strong>da</strong>s plantas (J. Zuanon, com. pess.). Uma<br />

<strong>da</strong>s explicações para as diferenças observa<strong>da</strong>s entre a mata<br />

e a área aberta, pode ser a dificul<strong>da</strong>de de recolonização <strong>da</strong><br />

área do paliteiro pela vegetação adjacente. A mortali<strong>da</strong>de<br />

generaliza<strong>da</strong> <strong>da</strong>s árvores naquele local deve ter resultado<br />

na intemperização e per<strong>da</strong> de parte do solo e <strong>da</strong> cama<strong>da</strong> de<br />

matéria orgânica associa<strong>da</strong>, restando apenas um solo<br />

extremamente pobre e encharcado. Isso revela a fragili<strong>da</strong>de<br />

<strong>da</strong> floresta de igapó em relação aos impactos ambientais<br />

produzidos pelo desmatamento, sejam de origem antrópica<br />

ou não.<br />

Analogamente, podemos inferir que as diferenças na<br />

abundância entre a área aberta e a clareira também são<br />

decorrentes, ao menos em parte, <strong>da</strong> influência <strong>da</strong> água.<br />

Espacialmente, essas áreas localizam-se em pontos extremos<br />

em relação à distância do lago, sendo a área aberta a inter-<br />

68 Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002<br />

face com o lago, e a clareira a área mais distante. A<br />

inun<strong>da</strong>ção pode exercer uma influência na sobrevivência<br />

<strong>da</strong>s plantas, na medi<strong>da</strong> em que um menor número de<br />

indivíduos consegue se estabelecer e colonizar a área mais<br />

próxima ao lago.<br />

A similari<strong>da</strong>de, tanto na riqueza quanto na abundância<br />

de indivíduos de até 2 m de altura entre a área de mata e a<br />

clareira pode ser explica<strong>da</strong> pelo fato de que estas áreas<br />

encontram-se apenas em estágios de desenvolvimento<br />

diferentes, sendo a mata um mosaico de clareiras em<br />

diferentes estágios de sucessão (Withmore 1978).<br />

A composição florística constitui uma importante fonte<br />

de informações sobre a composição futura <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de<br />

vegetal, e alia<strong>da</strong> a variáveis estruturais e a estudos de<br />

dinâmica, podem fornecer informações valiosas sobre o<br />

estado de equilíbrio dessas comuni<strong>da</strong>des (Debski et al.<br />

2000). A investigação dos fatores que determinam as<br />

diferenças na estrutura e composição de comuni<strong>da</strong>des tão<br />

próximas espacialmente, porém distintas floristicamente,<br />

deve ser investiga<strong>da</strong> para possibilitar uma melhor<br />

compreensão do funcionamento e <strong>da</strong> dinâmica de<br />

comuni<strong>da</strong>des.<br />

Agradecimentos<br />

Agradecemos ao INPA e Smithsonian Institution pela<br />

oportuni<strong>da</strong>de de participar deste curso e aos organizadores<br />

pela iniciativa, infra-estrutura e apoio durante todo o curso.<br />

Agrademos também ao Mike, que pilotou o barco durante<br />

nossa i<strong>da</strong> ao campo, ao Marcelo “Pinguela” que nos ajudou<br />

na coleta de <strong>da</strong>dos e identificação do material coletado,<br />

juntamente com o Leandro que além disso nos orientou<br />

durante este projeto.<br />

Referências Bibliográficas<br />

Debski, I. D., F. R. P. Burslem & D. Lamb 2000. Ecological<br />

processes maintaining differential tree species<br />

distributions in an Australian subtropical rain forest:<br />

implications for models of species coexistence.<br />

Journal of Tropical Ecology, 16:387-415.<br />

Molofsky, J. & C. K. Augspurger 1992. The effect of leaf<br />

litter on early seedling establishment in a tropical<br />

forest. Ecology, 73(1):68-77.<br />

Ricklefs, R. E. 1977. Environmental heterogeneity and<br />

plant species diversity: a hypothesis. American<br />

Naturalist, 111:376-381.<br />

Sanford Jr, R. L., H. E. Braker, & G. S. Hartshorn 1986.<br />

Canopy openings in a primary neotropical lowland<br />

forest. Journal of Tropical Ecology, 2:277-282.<br />

Whitmore, T. C. 1978. Gaps in the forest canopy. In Pp<br />

639-655, P. B. Tomlinson & M. H. Zimmerman<br />

(Editores). Tropical trees as living systems. London:<br />

Cambridge University Press.<br />

Grupo 08 Projeto Orientado 05<br />

Orientador: Leandro


Efeito dos pulsos de inun<strong>da</strong>ção na mortali<strong>da</strong>de de<br />

árvores em um igapó no Arquipélago de<br />

Anavilhanas, AM<br />

Carina Lima <strong>da</strong> Silveira, Flávio José Soares Jr., André Faria Mendonça, Vanina Zini Antunes e Paula Machado Pedrosa<br />

Introdução<br />

<strong>Floresta</strong>s de igapó possuem maior diversi<strong>da</strong>de de espécies<br />

vegetais que as florestas de várzea (Junk, 1997), mesmo<br />

estando ambos os ambientes sob similar pressão de<br />

inun<strong>da</strong>ção. Os limites de uma comuni<strong>da</strong>de de plantas no<br />

igapó podem estar associados com os tipos de solo<br />

predominantes no ambiente, a exemplo <strong>da</strong> composição<br />

florística, distintamente estabeleci<strong>da</strong>s sobre solos arenosos<br />

e ou argilosos. Essa diferenciação pode ser observa<strong>da</strong> entre<br />

o leito do rio, onde o solo é arenoso e pobre em nutrientes,<br />

e o platô, que a uma certa distância <strong>da</strong> margem, apresenta<br />

um teor de argila de até 50% (Worbes, 1986 in Junk, 1997).<br />

Em solos arenosos e argilosos ocorre uma outra<br />

diferenciação na comuni<strong>da</strong>de vegetal de acordo com o tempo<br />

de inun<strong>da</strong>ção: cota baixa, com uma inun<strong>da</strong>ção com mais de<br />

150 dias; cota média, com pulso de inun<strong>da</strong>ção entre 75 e<br />

150 dias; e cota alta, com um período de inun<strong>da</strong>ção menor<br />

que três meses (Junk, 1997).<br />

O padrão de distribuição <strong>da</strong>s espécies nos igapós pode<br />

ser parcialmente explicado por meio <strong>da</strong> biologia reprodutiva<br />

e <strong>da</strong> tolerância <strong>da</strong>s plantas à inun<strong>da</strong>ção (Junk, 1997).<br />

Entretanto, exceto por algumas espécies de ocorrências mais<br />

amplas, os processos de substituição de táxons (sucessão) e<br />

de modificação estrutural e fisionômica <strong>da</strong> cobertura vegetal<br />

demonstram serem específicos para ca<strong>da</strong> cota do<br />

gradiente de inun<strong>da</strong>ção. Gradiente este, que se apresenta<br />

com transições marca<strong>da</strong>s e graduais (Junk, 1997).<br />

Pelo fato <strong>da</strong> luminosi<strong>da</strong>de encontrar menor resistência<br />

à penetração na água negra que na água branca, as folhas de<br />

algumas espécies de igapó continuam a fotossintetizar com<br />

o mínimo de luz disponível. Este fato, associado com a maior<br />

oxigenação que ocorre nestes sítios, permite que algumas<br />

espécies tolerem com mais eficiência a inun<strong>da</strong>ção,<br />

propiciando o estabelecimento de árvores nas cotas mais<br />

baixas.<br />

Mesmo sendo estrategicamente a<strong>da</strong>pta<strong>da</strong>s as condições<br />

extremas de estresse hídrico, qualquer variação no tempo,<br />

período ou intensi<strong>da</strong>de dos pulsos de inun<strong>da</strong>ção, poderia<br />

resultar em respostas sucessionais <strong>da</strong> vegetação a curto e<br />

médio prazo. Assim, o aumento na proporção de indivíduos<br />

mortos com conseqüente seleção a<strong>da</strong>ptativa para os grupos<br />

vegetais, propensos a iniciar a recolonização, podem explicar<br />

a presença de maiores níveis de mortali<strong>da</strong>de e também<br />

justificar a dinâmica vegetacional dos igapós.<br />

Com base nestas informações, procuramos testar a<br />

influência <strong>da</strong>s diferentes cotas de inun<strong>da</strong>ção, caracteriza<strong>da</strong>s<br />

por tempos e intensi<strong>da</strong>des diferentes de submersão, na<br />

mortali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s árvores em três área de igapó.<br />

Métodos<br />

Realizamos o estudo em três ilhas nas imediações do Lago<br />

do Prato, na Estação Ecológica do Arquipélago de<br />

Anavilhanas, no Rio Negro (03º05’S; 59º59W), situado a<br />

aproxima<strong>da</strong>mente 90 km a noroeste de Manaus, Amazonas.<br />

O gradiente promovido pelo pulso de inun<strong>da</strong>ção pode<br />

ser distinguido principalmente por carcterísticas floristicas<br />

e estruturais. A primeira cota era marca<strong>da</strong> pela mono<br />

dominância de uma espécie do gênero Simeria<br />

(Polygonaceae) com arquitetura relativamente homogênea<br />

entre si. A segun<strong>da</strong> e terceira cota não evidenciavam<br />

diferenças representativas na estrutura, entretanto foi,<br />

também, utilizado de relevo (platô e declive) para diferencialas.<br />

No geral, a formação vegetal estabeleci<strong>da</strong> na segun<strong>da</strong> e<br />

terceira cota pode ser caracteriza<strong>da</strong> como uma formação<br />

florestal.<br />

Para ca<strong>da</strong> um <strong>da</strong>s três ilhas fizemos três parcelas de 10 x<br />

20 metros em diferentes cotas de inun<strong>da</strong>ção, objetivando<br />

atingir a uni<strong>da</strong>de estrutural mínima <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de que<br />

caracteriza estes ambientes. Em ca<strong>da</strong> uma <strong>da</strong>s parcelas foi<br />

contado o número de indivíduos arbóreos e arbustivos vivos<br />

e mortos, sem a identificação <strong>da</strong>s espécies, com altura<br />

igual ou superior a 1,30 metros.<br />

Analisamos o número de indivíduos mortos em relação<br />

aos diferentes ambientes (cota baixa, média e alta) com uma<br />

análise de variância (ANOVA).<br />

Resultados<br />

Contamos 831 indivíduos, sendo que 166 deles<br />

apresentavam-se mortos e em pé. A relação de indivíduos<br />

vivos e mortos entre amostragens e, dentro de ca<strong>da</strong><br />

amostragem, por uni<strong>da</strong>de amostral exibe pequenas<br />

diferenças que variam entre 24% de mortas para a cota<br />

média, 20% para a cota baixa e 16% para a cota alta (Tabela<br />

1). Os resultados não evidenciam diferenças representativas<br />

na densi<strong>da</strong>de de indivíduos mortos e vivos entre as cotas de<br />

to<strong>da</strong>s as amostragens (Tabela 2).<br />

Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002 69


Tabela 1. Número de plantas vivas (Pv) e mortas (Pm) e<br />

porcentagem de mortas por ilha e cota.<br />

Ilha Cota Pv Pm Total Mortas (%)<br />

1 Baixa 50 25 75 33,33<br />

Média 32 11 43 25,58<br />

Alta 85 11 96 11,46<br />

2 Baixa 131 22 153 14,38<br />

Média 51 15 66 22,73<br />

Alta 46 13 59 22,03<br />

3 Baixa 44 12 56 21,43<br />

Média 96 31 127 24,41<br />

Alta 130 26 156 16,67<br />

Total 665 166 831<br />

Entre as cotas de inun<strong>da</strong>ção analisa<strong>da</strong>s não foi encontra<strong>da</strong><br />

diferença significativa no número de árvores mortas<br />

presentes (F [2,6] =0,771, P=0,504, R 2 =0,204), ou seja,<br />

independente <strong>da</strong> profundi<strong>da</strong>de ou do tempo de inun<strong>da</strong>ção,<br />

as comuni<strong>da</strong>des vegetais aparentam reagir de forma distinta<br />

para atingirem um objetivo comum.<br />

Em outra análise realiza<strong>da</strong> a fisionomia <strong>da</strong> ilha três, um<br />

“paliteiro” que apresentava uma paisagem diferente <strong>da</strong>s<br />

demais, com dominância de indivíduos arbóreos mortos,<br />

foi leva<strong>da</strong> em consideração. Esta variação na paisagem foi<br />

resultado de uma enchente de longa duração ocorri<strong>da</strong> entre<br />

1953 e 1955, o que submeteu a vegetação a uma condição<br />

anômala e intensa, mas restrita a uma determina<strong>da</strong> cota altitudinal.<br />

Para tornar as amostragens comparáveis, a cota mais<br />

baixa do “paliteiro” não foi amostra<strong>da</strong>, já que essa não se<br />

repetia nas demais áreas. O resultado, similar ao encontrado<br />

na comparação entre as cotas, não apresentou diferenças<br />

significativas entre as ilhas (F [2,6] =0,099, P=0,907, R 2 =0,032)<br />

(Tabela 2).<br />

Tabela 2. Densi<strong>da</strong>de (indivíduos/m 2 ) de plantas vivas e<br />

mortas nas três cotas <strong>da</strong>s três ilhas.<br />

Ambiente<br />

Vivas Mortas Total<br />

Baixa 0,38 0,10 0,47<br />

Média 0,30 0,10 0,39<br />

Alta 0,44 0,08 0,52<br />

Discussão<br />

Mesmo partindo do pressuposto que as espécies de ca<strong>da</strong><br />

cota estão aptas a sobreviver as condições estabeleci<strong>da</strong>s<br />

pelos pulsos de inun<strong>da</strong>ção, esperávamos encontrar<br />

diferenças representativas quanto a proporção de indivíduos<br />

vivos e mortos entre as três cotas de inun<strong>da</strong>ção. Dentre os<br />

argumentos em que nos baseamos para criar tal expectativa,<br />

70 Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002<br />

a maior exposição ao estresse hídrico ao qual as cotas mais<br />

baixas estão submeti<strong>da</strong>s, nos parece ser o mais evidente.<br />

Contudo, o resultado caracterizou as três cotas e as três<br />

ilhas como ambientes relativamente homogêneos quanto ao<br />

número de indivíduos mortos e vivos. A justificativa para<br />

tal resultado pode estar no método amostral, que pode ter<br />

superestimado o número de árvores vivas, ain<strong>da</strong> ilesas de<br />

períodos mais intensos de inun<strong>da</strong>ção (Prieto et al., 2001).<br />

Além disso, a flora de ca<strong>da</strong> cota, extremamente a<strong>da</strong>pta<strong>da</strong> as<br />

condições de alagamento, apresentam chances diferentes de<br />

sobrevivência, sendo esta máxima para seus respectivos<br />

ambientes.<br />

Outros estudos de mesma abor<strong>da</strong>gem foram<br />

desenvolvidos no igapó do Arquipélago de Anavilhanas,<br />

sem no entanto abor<strong>da</strong>rem a proporção de indivíduos vivos<br />

por mortos ou mesmo em relação a área amostra<strong>da</strong>. Além<br />

disso, os métodos utilizados para a amostragem, “vizinho<br />

mais próximo” (Prieto et al., 2001) e “contagem de mortos”<br />

(Del val et al., 1998), e o período do desenvolvimento destes<br />

trabalhos (período <strong>da</strong> cheia), inviabilizam comparações com<br />

o presente estudo.<br />

Agradecimentos<br />

Agradecemos ao Ademir Guerreiro pelo auxílio nos<br />

trabalhos em campo e por nos conduzir até as ilhas.<br />

“Agradecemos também ao pulso de inun<strong>da</strong>cão por nos ter<br />

permitido enxergar a ver<strong>da</strong>deira fitofisionomia sobre os<br />

depósitos sedimentares (areio-argilosos) do arquipélago de<br />

Anavilhanas”.<br />

Referências Bibliográficas<br />

Del Val, E.; M. A. Fonseca; S. Fáveri; R.H. Toppa & A.<br />

Gomes-Filho. 1998. Largos periodos de inun<strong>da</strong>cíon y<br />

su relacíon con la mortali<strong>da</strong>d de árboles en lagos del<br />

Archipélago de Anavilhanas. Livro do Curso de<br />

Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica. INPA/<br />

<strong>PDBFF</strong>, Manaus, AM.<br />

Junk, W. & M. Worbes. 1997. The forest ecosystem of the<br />

floodplains. páginas 223-249. In: Junk, W. J. (ed). The<br />

Central Amazon Floodplain. Spinger Verlag.<br />

Heindeberg, New York<br />

Prieto, E.; C. McCain; F. Oliveira; M. R. Darrigo & N.<br />

Olifiers. 2001. Efeitos <strong>da</strong> inun<strong>da</strong>ção na mortali<strong>da</strong>de<br />

<strong>da</strong>s árvores adultas de uma floresta de igapó no<br />

Arquipélago <strong>da</strong>s Anavilhanas, AM. Curso de Campo<br />

<strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica. INPA/<strong>PDBFF</strong>,<br />

Manaus, AM.


Efeito <strong>da</strong> coloração no comportamento de Diastatops cf.<br />

emilia (Odonata:Libelluli<strong>da</strong>e) no Arquipelago de<br />

Anavilhanas, Rio Negro, Amazonas<br />

Daniela Chaves Resende, Eduardo Vasconcelos, Luiz Henrique Claro Junior, Genimar Rebouças Julião, Sylvia Miscow Mendel<br />

Introdução<br />

Durante a fase reprodutiva, machos de Libelluli<strong>da</strong>e<br />

competem por fêmeas, em geral através <strong>da</strong> defesa de<br />

territórios, cuja quali<strong>da</strong>de vai afetar as chances de<br />

acasalamento (Harvey & Corbet, 1985) e as chances de<br />

sobrevivência <strong>da</strong> prole (Wildermuth, 1994). A defesa de<br />

territórios pode ser, ain<strong>da</strong>, uma estratégia para diminuir a<br />

competição intraespecífica (Clausnitzer, 1996).<br />

Como as fêmeas aparecem muito raramente nos corpos<br />

d’água, o período total de defesa territorial pode ser muito<br />

importante para o sucesso reprodutivo de machos de<br />

Odonata (Clausnitzer, 1996). Uma vez que o custo<br />

energético com disputas territoriais pode reduzir o período<br />

total permanecido no território, a estratégia ideal para o<br />

comportamento de agressivi<strong>da</strong>de exibido por machos de<br />

Odonata pode não ser um padrão de comportamento fixo<br />

(Clausnitzer, 1996).<br />

É esperado, então, que as disputas por territórios entre<br />

machos de Odonata envolvam o reconhecimento de algum<br />

tipo de assimetria entre os adversários, como por exemplo,<br />

diferenças no tamanho de corpo, de reservas de gordura ou,<br />

simplesmente, <strong>da</strong> residência (Waage, 1988). O<br />

reconhecimento do macho mais forte, antes de uma disputa<br />

que envolva um contato físico, diminui as chances de injúria<br />

e os prejuízos do macho perdedor. Assim, disputas mais<br />

intensas entre intrusos e residentes só são espera<strong>da</strong>s se o<br />

intruso for forte o suficiente para sobrepor-se à vantagem<br />

do residente ou se o valor do recurso disputado for muito<br />

alto (Waage, 1988).<br />

Na família Libelluli<strong>da</strong>e, em geral, os machos apresentam<br />

uma coloração conspícua nas asas ou manchas colori<strong>da</strong>s<br />

bastante evidentes (Carvalho & Calil, 2000). Os machos de<br />

Diastatops cf. emilia, por exemplo, possuem asas de<br />

coloração preta que se tornam muito evidentes em função<br />

de manchas vermelhas na base. As fêmeas também<br />

apresentam asas pretas, mas sem qualquer mancha, tornando<br />

sua coloração mais discreta.<br />

Esse tipo de dimorfismo sexual, onde os machos são<br />

muito mais atrativos visualmente do que as fêmeas pode<br />

estar associado a um comportamento de exibição (“display”),<br />

onde ser um macho mais vistoso poderia ser um<br />

indício de apresentar uma maior a<strong>da</strong>ptabili<strong>da</strong>de, ou seja, a<br />

fêmea selecionaria machos de coloração mais atrativa na<br />

tentativa de aumentar seu sucesso reprodutivo (Trivers,<br />

1985).<br />

Os objetivos deste trabalho foram: i) verificar se o<br />

tamanho <strong>da</strong> mancha na base <strong>da</strong>s asas dos machos de D. cf.<br />

emilia afeta a atrativi<strong>da</strong>de para as fêmeas e ii) se o tamanho<br />

<strong>da</strong> mancha seria um tipo de sinalização entre os machos,<br />

afetando a assimetria entre os indivíduos e a capaci<strong>da</strong>de de<br />

um macho manter seu território.<br />

Métodos<br />

O experimento foi realizado no Lago do Prato, no<br />

arquipélago de Anavilhanas (03º05’S, 59º59’W), município<br />

de Novo Airão, Amazonas.<br />

Sete indivíduos machos de Diastatops cf. emilia foram<br />

capturados e tiveram suas asas marca<strong>da</strong>s, usando uma caneta<br />

de retroprojetor preta. As marcas foram feitas nas asas em<br />

dois grupos de machos: i) um grupo controle (C – três<br />

indivíduos), onde não modificamos as manchas vermelhas<br />

<strong>da</strong>s asas, apenas sobrepondo a região preta <strong>da</strong> asa, para que<br />

efeitos do cheiro <strong>da</strong> tinta ou <strong>da</strong> manipulação do animal<br />

pudessem ser equalizados e ii) um grupo tratamento (T -<br />

quatro indivíduos), onde diminuímos o tamanho <strong>da</strong> mancha<br />

vermelha <strong>da</strong>s asas, aumentando a proporção de preto com a<br />

caneta.<br />

Após as marcações, soltamos os animais e marcamos a<br />

localização de territórios onde foram capturados. Depois<br />

de uma hora, observamos o comportamento e as interações,<br />

com outros machos e com fêmeas, dos machos marcados e<br />

de outros machos não marcados (N – três indivíduos) com<br />

o uso do método de animal focal, no qual o comportamento<br />

de um indivíduo é acompanhado durante um período de<br />

tempo. Neste estudo o comportamento foi observado durante<br />

10 minutos.<br />

Resultados<br />

Todos os machos marcados voltaram à mesma área onde<br />

foram capturados e, aparentemente, a marcação não alterou<br />

seu comportamento. Entretanto, logo após a marcação,<br />

iniciou-se uma forte chuva que fez com que as libélulas<br />

voassem para o interior <strong>da</strong> mata. Após o fim <strong>da</strong> chuva, vários<br />

indivíduos retornaram e houve uma ativi<strong>da</strong>de intensa de<br />

fêmeas. Entre os machos que retornaram, três estavam<br />

marcados, sendo dois do grupo tratamento e um do grupo<br />

controle.<br />

Após o retorno, somente dois dos machos marcados (um<br />

do grupo controle e um do grupo tratamento) tiveram<br />

interações com machos e fêmeas, o que parece estar ligado<br />

somente à posição de seus territórios, já que outros<br />

Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002 71


indivíduos não marcados também não interagiram.<br />

O número de disputas entre os machos não foi diferente<br />

entre os machos marcados e não marcados (Tab. 1).<br />

Entretanto, apesar de não termos quantificado as disputas<br />

territoriais entre o macho do grupo tratamento e machos<br />

não marcados de diferentes grupos experimentais, estas<br />

parecem ter sido mais demora<strong>da</strong>s. Em um caso, um macho<br />

do grupo tratamento entrou no território de um macho<br />

controle e perdeu a cópula para o macho não marcado.<br />

Somente o macho do grupo controle e um macho não<br />

marcado conseguiram copular (Tab. 1).<br />

Tabela 1. Descrição dos comportamentos dos machos de<br />

D. cf. emilia observados no lago do Prato, arquipélago de<br />

Anavilhanas, Novo Airão, AM.<br />

Macho Grupo Número de fêmeas Número de cópulas Número de disputas<br />

no territórios<br />

territoriais<br />

1 Tratamento 0 0 0<br />

2 Tratamento 3 1 5<br />

1 Controle 0 0 0<br />

1 Não marcado 0 0 0<br />

2 Não marcado 1 1 3<br />

3 Não marcado 0 0 0<br />

Discussão<br />

Os resultados deste experimento não podem ser<br />

considerados conclusivos, em função do baixo número de<br />

recapturas que obtivemos. Entretanto, a partir deles podemos<br />

obter algumas diretrizes. A marcação utiliza<strong>da</strong> parece não<br />

ter afetado o comportamento dos machos e se mostrou uma<br />

metodologia muito fácil e eficaz para estudos de<br />

comportamento desta espécie.<br />

A mancha vermelha pode ser uma característica atrativa<br />

para as fêmeas, no entanto não conseguimos detectar isto,<br />

já que outros machos não marcados também não obtiveram<br />

sucesso no acasalamento. Entretanto, machos com manchas<br />

reduzi<strong>da</strong>s aparentemente tiveram maior dificul<strong>da</strong>de em defender<br />

seus territórios, o que pode ser um indício de que a<br />

mancha funcionaria como sinalização entre os machos.<br />

Há vários custos diretos e indiretos resultantes <strong>da</strong>s<br />

disputas entre machos pelos territórios: i) per<strong>da</strong> de<br />

oportuni<strong>da</strong>des de acasalamento enquanto os machos estão<br />

envolvidos em disputas prolonga<strong>da</strong>s; ii) per<strong>da</strong> do território<br />

para um terceiro macho, também durante disputas longas e<br />

a conseqüente necessi<strong>da</strong>de de uma nova disputa para<br />

72 Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002<br />

reconquistá-lo e iii) per<strong>da</strong> de parte de suas reservas de<br />

gordura, o que poderia afetar disputas territoriais futuras<br />

(Marden & Waage, 1990).<br />

Assim, é possível que o tamanho <strong>da</strong> mancha seja um<br />

indício do vigor do macho, o que a priori caracterizaria<br />

uma assimetria entre machos com manchas diferentes. Essa<br />

assimetria, por sua vez, pode ser importante para o<br />

estabelecimento de uma hierarquia na organização dos<br />

territórios e, em condições normais, pode aju<strong>da</strong>r a evitar<br />

<strong>da</strong>nos e injúrias para ambos machos, resultantes de disputas<br />

longas.<br />

Referências Bibliográficas<br />

Carvalho, A. L. & Kalil, E. R. 2000. Chave de<br />

Identificação para as Famílias de Odonata (Insecta)<br />

Ocorrentes no Brasil, Adultos e Larvas.<br />

Clausnitzer, V. 1996. Territoriality in Notiothemis<br />

robertsi Fraser (Anisoptera: Libelluli<strong>da</strong>e).<br />

Odonatologica, 25(4):335-345.<br />

Cobert, P. S. 1983. A Biology of Dragonflies. E W.<br />

Classey, Faringdon, xvi+247pp<br />

Harvey, I. F. & Corbet, P. S. 1985. Territorial behaviour<br />

of larvae enhances mating success of male dragonflies.<br />

Animal Behaviour, 33:561-565.<br />

Marden, J. H. & Waage, J. K. 1990. Escalated <strong>da</strong>mselfly<br />

territorial contests are energetic wars of attrition.<br />

Animal Behaviour, 39:954-959.<br />

Trivers, R. 1985. Social Evolucion. The Benjamin/<br />

Cumming. California.<br />

Waage, J. K. 1988. Confusion over residency and the<br />

escalation of <strong>da</strong>mselfly territorial disputes. Animal<br />

Behaviour, 36:586-595.<br />

Wildermuth, H. 1994. Reproductive behaviour of<br />

Diastatops intensa Montgomery (Anisoptera:<br />

Libelluli<strong>da</strong>e). Odonatologica, 23(2):183-191.<br />

Agradecimentos<br />

Ao Glauco Machado pela sugestão do trabalho e pelas<br />

valiosas discussões sobre teorias de seleção e<br />

comportamento animal e a to<strong>da</strong> equipe do San Pietro, pela<br />

simpatia com que executaram suas tarefas.<br />

Projeto Livre 3


Distribuição de plântulas em relação à planta-mãe na<br />

espécie Astrocaryum jauari (Arecaceae) em uma área<br />

de igapó do Rio Negro<br />

Carolina Laura Morales, Flaviana Maluf de Souza e Ana Paula Carmignotto<br />

Introdução<br />

A distribuição de plântulas na floresta tem uma<br />

importância fun<strong>da</strong>mental para a distribuição <strong>da</strong>s populações<br />

e, portanto, para a estrutura <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de de árvores. A<br />

germinação de sementes e posterior estabelecimento de<br />

plântulas dependem de fatores locais como a presença de<br />

luz e água. Este estabelecimento apresenta uma distribuição<br />

espacial em relação à planta mãe, que é influencia<strong>da</strong> por<br />

diversos fatores, como a altura <strong>da</strong> planta mãe, o declive do<br />

relevo (Denslow 1980), assim como o tipo de dispersão (por<br />

exemplo anemocoria, hidrocoria e zoocoria) e a presença<br />

de pre<strong>da</strong>dores de sementes (Bustamante & Simonetti 2000).<br />

A dinâmica <strong>da</strong> chuva de sementes determina que a densi<strong>da</strong>de<br />

de sementes decresce quanto maior a distância <strong>da</strong> planta<br />

mãe. Isto gera uma curva de densi<strong>da</strong>de do tipo leptocúrtica<br />

e assimétrica, com um pico de densi<strong>da</strong>de de plântulas<br />

próximo à planta mãe, e uma diminuição monotônica em<br />

relação à distância <strong>da</strong> mesma (Willson 1992). Porém,<br />

segundo o modelo de Janzen-Connell, existe uma pre<strong>da</strong>ção<br />

diferencial <strong>da</strong>s sementes em relação à distância <strong>da</strong> planta<br />

mãe, que é dependente <strong>da</strong> densi<strong>da</strong>de. Assim, essa é maior<br />

próximo à planta mãe, fazendo com que o pico <strong>da</strong><br />

distribuição situe-se a uma posição mais distante desta<br />

(Janzen 1970). A distribuição final de plântulas seria um<br />

balanço entre estes dois fatores. Este modelo geraria<br />

isolíneas anulares de densi<strong>da</strong>de de plântulas, tendo a planta<br />

mãe como centro. Porém, outras variáveis ambientais<br />

poderiam modificar esta distribuição. Nas florestas alaga<strong>da</strong>s<br />

(igapós), os pulsos anuais de inun<strong>da</strong>ção podem modificar a<br />

distribuição original produzi<strong>da</strong> pela chuva de sementes e a<br />

simetria <strong>da</strong> distribuição <strong>da</strong>s plântulas em relação ao progenitor,<br />

deixando linhas de sementes paralelas à margem<br />

do rio ou lago quando baixa a cota de água. Neste sentido,<br />

o objetivo do nosso trabalho foi caracterizar a distribuição<br />

e densi<strong>da</strong>de de plântulas de Astrocaryum jauari em torno<br />

<strong>da</strong> planta mãe em uma floresta de igapó e avaliar a influência<br />

dos picos de inun<strong>da</strong>ção na distribuição de plântulas.<br />

Métodos<br />

Realizamos este trabalho em uma área de floresta alaga<strong>da</strong><br />

situa<strong>da</strong> na margem do Lago do Prato, no arquipélago de<br />

Anavilhanas, AM. Esta área permanece completamente<br />

alaga<strong>da</strong> cerca de quatro meses ao ano (Junk 1997).<br />

Consequentemente, o sub-bosque é composto quase que<br />

exclusivamente de indivíduos juvenis de espécies de árvores<br />

resistentes à inun<strong>da</strong>ção, com uma baixa abundância de<br />

espécies arbustivas. Em uma superfície de cerca de 3 ha,<br />

identificamos vários indivíduos adultos de Astrocaryum<br />

jauari. Traçamos quatro transectos formando ângulos de<br />

90 o entre eles a partir do tronco de ca<strong>da</strong> indivíduo amostrado.<br />

Foram amostrados cinco indivíduos de A. jauari, totalizando<br />

20 transectos. Ca<strong>da</strong> transecto possuía 15 metros de<br />

comprimento desde o tronco do indivíduo, e dois de largura.<br />

Os transectos foram dispostos de tal forma que dois deles<br />

ficaram perpendiculares à linha de água, enquanto que os<br />

outros dois ficaram paralelos a ela. Em ca<strong>da</strong> transecto<br />

registramos o número de plântulas de até 50 cm de altura, e<br />

a distância destas em relação a planta mãe.<br />

A distribuição de plântulas em ca<strong>da</strong> transecto foi avalia<strong>da</strong><br />

graficamente por meio de histogramas de freqüências.<br />

Obtivemos uma distribuição total de plântulas para os<br />

transectos perpendiculares à água (isto é, somando as<br />

distribuições dos dois transectos perpendiculares dos cinco<br />

indivíduos amostrados), e para os transectos paralelos.<br />

Testamos se estas distribuições eram estatisticamente<br />

diferentes utilizando o teste de Kolmogorov-Smirnov (Zar,<br />

1984).<br />

Resultados<br />

Contamos um total de 1230 plântulas de Astrocaryum<br />

jauari. Não detectamos diferenças evidentes durante a<br />

inspeção gráfica dos padrões de distribuição de plântulas<br />

entre os transectos com orientação distinta, nem entre os<br />

indivíduos. A distribuição total <strong>da</strong>s plântulas tanto nos<br />

transectos perpendiculares à água, quanto nos transectos<br />

paralelos, assemelha-se a uma curva leptocúrtica, com um<br />

máximo de plântulas próximo à planta mãe, diminuindo de<br />

forma exponencial à medi<strong>da</strong> que a distância para a planta<br />

mãe aumenta (Fig.1). A curva dos transectos perpendiculares<br />

à água apresentou uma tendência bimo<strong>da</strong>l, com um leve<br />

pico a 11 metros <strong>da</strong> planta mãe. Entretanto, a distribuição<br />

agrupa<strong>da</strong> <strong>da</strong>s plântulas nos transectos paralelos à água não<br />

diferiu significativamente <strong>da</strong> distribuição dos transectos<br />

perpendiculares à margem (K=0,312; p=0,342; g.l.=15).<br />

Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002 73


N de plântulas<br />

N de plântulas<br />

140<br />

120<br />

100<br />

80<br />

60<br />

40<br />

20<br />

250<br />

200<br />

150<br />

100<br />

50<br />

0<br />

0<br />

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16<br />

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16<br />

Distancia <strong>da</strong> planta mãe (m)<br />

Figura 1. Distribuição de freqüência de plântulas em<br />

relação à distância <strong>da</strong> planta mãe em transectos<br />

perpendiculares (a), e em transectos paralelos à linha <strong>da</strong><br />

água (b) (n=1230 plântulas).<br />

Discussão<br />

As características do microhabitat no qual uma plântula<br />

germina são fun<strong>da</strong>mentais para o processo de manutenção<br />

<strong>da</strong>s populações de plantas, já que elas determinam, em parte,<br />

a probabili<strong>da</strong>de de sobrevivência dos indivíduos. As<br />

plântulas de A. jauari apresentaram uma distribuição do tipo<br />

leptocúrtica com um pico de densi<strong>da</strong>de próximo à planta<br />

mãe. A segun<strong>da</strong> mo<strong>da</strong> na distribuição de freqüência dos<br />

transectos perpendiculares à água provavelmente reflete o<br />

aporte <strong>da</strong> chuva de sementes de um outra palmeira,<br />

localiza<strong>da</strong> a 13 metros de um dos indivíduos amostrados. A<br />

distribuição encontra<strong>da</strong> indica que a pre<strong>da</strong>ção de sementes<br />

não deve constituir um fator importante influenciando as<br />

probabili<strong>da</strong>des de germinação <strong>da</strong>s sementes localiza<strong>da</strong>s a<br />

distintas distâncias <strong>da</strong> planta mãe. Na escala do microhabitat,<br />

a chuva de sementes parece ser o fator que determina a<br />

74 Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002<br />

distribuição <strong>da</strong>s plântulas, já que a taxa de pre<strong>da</strong>ção parece<br />

ser bem baixa nestas áreas. Essa suposta baixa taxa de<br />

pre<strong>da</strong>ção pode ser devido, provavelmente, ao fato do<br />

ambiente permanecer muito tempo alagado, apresentando<br />

um número reduzido de pre<strong>da</strong>dores de sementes em função<br />

<strong>da</strong>s condições adversas deste tipo de ambiente. Outro estudo<br />

desenvolvido em um ambiente não submetido a um regime<br />

de alagamento como o do igapó, corrobora esta baixa<br />

influência dos pre<strong>da</strong>dores de sementes na distribuição <strong>da</strong>s<br />

plantas em relação ao progenitor (Bustamante & Simonetti<br />

2000). No presente estudo, apesar <strong>da</strong> água não ter<br />

apresentado um efeito direto na distribuição <strong>da</strong>s plântulas,<br />

esta parece influenciar na estrutura <strong>da</strong> floresta, na medi<strong>da</strong><br />

em que determina a presença de espécies resistentes aos<br />

diferentes períodos de alagamento sazonal.<br />

Agradecimentos<br />

Agradecemos ao INPA e Smithsonian Institution pela<br />

realização do curso, ao Juruna pela aju<strong>da</strong> no campo, ao<br />

Jansen pela aju<strong>da</strong> com as análises estatísticas e a todos que<br />

colaboraram para o bom an<strong>da</strong>mento do curso.<br />

Referências bibliográficas<br />

Bustamante, R. & J.A. Simonetti. 2000. Seed pre<strong>da</strong>tion<br />

and seedling recruitment in plants: the effect of the<br />

distance between parents. Plant Ecology 147: 173-183.<br />

Denslow, J. S. 1980. Notes on the seedling ecology of a<br />

large-seeded species of Bombacaceae. Biotropica 12:<br />

220-222<br />

Janzen, D. H.1970. Herbivores and the number of tree<br />

species in tropical forest. American Naturalist, 104:<br />

501-529.<br />

Junk, W. J. 1997. General aspects of floodplain ecology<br />

with special references to amazonian floodplains. Pp<br />

3-22. In W. J. Junk (ed.). The Central Amazon<br />

Floodplain – ecology of a pulsing system. Ecological<br />

Studies, 126. Springer. 525 pp.<br />

Willson, M. F. 1992. The ecology of seed dispersal. In:<br />

Fenner, M. (ed). The Ecology of regeneration in plant<br />

communities. C.A.B. International. Wallingford.<br />

Zar, J. H. 1984. Bioestatistical Analysis. 2 nd edition.<br />

Prentice Hall, New Jersey. 718 pp.<br />

Projeto livre 3


Algunos factores que influyen en el crecimiento apical<br />

de plantas jovenes de Tovomita sp.(Clusiacea) en un<br />

area someti<strong>da</strong> a inun<strong>da</strong>cion de aguas negras,<br />

Arquipelágo Anavihanas, AM<br />

Ana Maria Benavides, Patricia García Tello, Josué R. <strong>da</strong> Silva Nunes, Eduardo Cardoso Teixeira, Yumi Oki y George Camargo<br />

Introducción<br />

El crecimiento de las plantas está influenciado por<br />

diferentes tipos de factores: factores endogenos, los cuales<br />

estan determinados genéticamente e independíentemente de<br />

condiciones externas, y factores exogenos, que están<br />

determinados por la influencia del ambiente (Morsello et.<br />

al. 1996).<br />

La fluctuacion cíclica del agua ocasiona una serie de<br />

impactos físicos y biológicos en los sistemas inun<strong>da</strong>bles;<br />

esta fluctuación constituye un factor de regulación<br />

determinante en los padrones de estas poblaciones de estas<br />

areas inun<strong>da</strong>bles, como fenologia, migración, periodo<br />

reproductivo y crecimiento(Morsello et. al. 1996; Junk et.<br />

al. 1989).<br />

La mayoria de las plantas que se desarrollan en sistemas<br />

sometidos a pulsos de inun<strong>da</strong>cion de aguas negras,igapó,<br />

en los períodos de inun<strong>da</strong>ción, tienen un crecimento<br />

reducido, activi<strong>da</strong>d fotosintética disminuí<strong>da</strong> y tasas de<br />

germinacion nula (Parolin, 2001). En el período de seca las<br />

plantas invierten en su desarrollo y reproducción; y cambios<br />

en metabolismo y germinación de algunas especie se ha<br />

asociado a diferencias en las condiciónes hídricas (Junk,<br />

1989; Parolin, 2001).<br />

El objetivo de este trabajo fué analizar si el crecimiento<br />

apical de plantas jovenes en Tovomita sp. se ve influenciado<br />

por relaciones entre individuos y por luminosi<strong>da</strong>d.<br />

Métodos<br />

El estudio se llevo a cabo en una floresta inun<strong>da</strong><strong>da</strong> (igapó)<br />

localiza<strong>da</strong> en la Estación Ecológica de Anavilhanas,<br />

adyacente a Rio Negro, 100 km de Manaus (03 05’S, 59<br />

59’W), durante el mes de noviembre (final de la epoca<br />

seca).<br />

Algunas plantas presentan características morfológicas<br />

que permiten estimar la e<strong>da</strong>d de crecimiento, tal es el caso<br />

de Tovomita sp., (Clusiaceae) en la cual presenta cicatrices<br />

de crecimiento y estas están relaciona<strong>da</strong>s con las épocas de<br />

inun<strong>da</strong>cion. Seleccionamos aleatoriamente 30 indivíduos de<br />

porte pequeños asumidos como plantas jovenes de Tomovita<br />

sp, localizados en un mismo nivel topográfico y con una<br />

distancia minima entre si de 5 m.<br />

Para ca<strong>da</strong> individuo, evaluamos los siguientes<br />

parámetros: crecimento apical, como una longitud de la<br />

cicatriz más reciente, número de hojas jovenes, altura total,<br />

distancia minima del indivíduo joven y adulto coespecificos<br />

e intensi<strong>da</strong>d luminica estima<strong>da</strong> en tres categorias: baja, media<br />

y alta.<br />

Se realizaron analisis de caminos entre las variables<br />

atravez de regresion multiple y regresiones parciales fueron<br />

realizados para las variables que tiene influencia indirecta<br />

sobre el crecimiento apical.<br />

Resultados<br />

El crecimiento apical presento una relación baja y no<br />

significativa con el tamaño de las plantas, plantas pequeñas<br />

presentaron tanto crecimientos altos como bajos (Fig. 1).<br />

El número de hojas fué constante por internodo, dos hojas.<br />

La distancia de plantas jovenes y adultas parece tener<br />

um efecto, mas no a un nivel significativo; cuanto mayor la<br />

distancia de los árboles adultos y jovenes coespecificos el<br />

crecimiento apical tiende a ser mayor (Fig. 2).<br />

Las plantas que crecieron en ambientes mas sombreados<br />

presentaron una tendencia a crecer menos que las plantas<br />

que crecieron en ambientes de luminosi<strong>da</strong>d media, sin embargo<br />

las plantas que crecierón en ambientes con alta<br />

luminosi<strong>da</strong>d presentaron variaciones mayores de<br />

crecimiento apical (r 2 =0.504, p


Figura 2. Relación del crecimiento apical con respecto a<br />

la luminoci<strong>da</strong>d de Tomovita sp. Variación <strong>da</strong> la<br />

luminosi<strong>da</strong>d 1=baja, 2=Media, 3=alta, en un ambiente<br />

inun<strong>da</strong>ble.<br />

Discusión<br />

La intensi<strong>da</strong>d lumínica fue el factor que presentó mayor<br />

relación con el crecimiento apical de las plantas jovenes de<br />

Tovomita sp. independientemente de factores intraespecificos.<br />

La intensi<strong>da</strong>d luminosa es uno de los factores<br />

esenciales para várias activi<strong>da</strong>des fisiológicas como la<br />

fotosíntesis. Esta dependencia hacia la luz puede determinar<br />

diferencias en las tasas de crecimiento de poblaciónes.<br />

(Larcher, 1986).<br />

Además de esto, la distancia de las plantas adultas y<br />

jovenes parece estar influyendo levemente en el tamaño <strong>da</strong><br />

plantas de Tovomita sp. y consecutivamente también un<br />

crecimento apical. Probablemente, dos factores están<br />

76 Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002<br />

envueltos en este resultado: 1) sombreamiento de las plantas<br />

adultas hacia las plantas jovenes diminuyen su crecimento;<br />

2) las plantas adultas comparten recursos com las plantulas<br />

e interfieren en su desarrollo. (Harper, 1977).<br />

A partir de este resultado, podemos concluir que la luz<br />

interfiere en el desarrollo de Tomovita sp, y diferentes<br />

factores abióticos y bióticos interacionan mas en menor<br />

medi<strong>da</strong>.<br />

Agradecimientos<br />

Agradecemos a Leandro Ferreira y a Eduardo Venticinque<br />

por las sugerencias y discusiones.<br />

Referencias bibliográficas<br />

Harper, J. L. 1977. Population Biology of plants. Academic<br />

Press. London. 892 p.<br />

Junk, W., P. B. Bayley and R. E. Sparks. 1989. The flood<br />

pulse concept in river-floodplain systems. In D. P.<br />

Dodge (ed.) Proceedings of the International Larger<br />

River Symposium. Can. Spec. Publ. Fish. Aqua. Sci.<br />

106:110-127.<br />

Larcher, W. 1986. Ecofisiologia vegetal. EPU. São Paulo.<br />

319 p.<br />

Morsello, C.; A. D. de Souza; K. A. Caro; M. T. V. A.<br />

Campos & T. Lomäscolo; 1996, Padrão de<br />

crescimento em Iriartella setigera e Geonoma<br />

maxima, Iv curso de campo, <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong><br />

Amazonica, INPA/Smithsonian Institution/Unicamp/<br />

OTS, 347p.<br />

Parolin, P. 2001. Morphological and physiological<br />

adjustments to waterlogging and drought in seedlings<br />

of Amazonian floodplain trees. Oecologia 128:326-<br />

335.<br />

Grupo 3 - Projeto Livre 3<br />

Abrigos de formigas e proteção contra herbivoria em<br />

Miconia phanerostila (Melastomataceae)<br />

Flaviana Maluf de Souza, Genimar Rebouças Julião, Josué Ribeiro <strong>da</strong> Silva Nunes, Carolina Laura Morales<br />

Introdução<br />

Diversas espécies de plantas <strong>da</strong> família Melastomataceae<br />

são mirmecófitas, apresentando domáceas que são estruturas<br />

utiliza<strong>da</strong>s por algumas espécies de formigas como locais<br />

para formação de colônias (Hölldobler & Wilson, 1990).<br />

Numa relação de mutualismo, as formigas que utilizam as<br />

domáceas conferem às plantas hospedeiras uma certa<br />

proteção contra o ataque de herbívoros (Janzen, 1966;<br />

Fonseca, 1991; Agrawal, 1998).<br />

Algumas espécies de Melastomataceae não<br />

apresentam domáceas, possuindo porém, um abrigo de<br />

cartão construído por formigas que estruturalmente se<br />

assemelham a uma domácea, podendo ser encontrados tanto<br />

nas folhas quanto nos ramos. Uma <strong>da</strong>s espécies que<br />

apresentam esses abrigos é Miconia phanerostila, uma<br />

planta comum em áreas abertas <strong>da</strong> Amazônia Central, cuja<br />

associação se dá com formigas do gênero Crematogaster<br />

sp (Myrmicinae). Analogamente ao que ocorre com as


domáceas ver<strong>da</strong>deiras, seria esperado que a presença <strong>da</strong>s<br />

formigas nesses abrigos poderia conferir às plantas de M.<br />

phanerostila algum nível de proteção contra o ataque de<br />

herbívoros.<br />

Partindo dessa sugestão, o objetivo deste trabalho foi<br />

testar se as plantas de M. phanerostila com abrigos de<br />

Crematogaster sp. seriam protegi<strong>da</strong>s contra os herbívoros.<br />

As hipóteses seriam as seguintes: i) a freqüência de ataque<br />

<strong>da</strong>s formigas contra os herbívoros é maior em plantas com<br />

abrigos, ii) o tempo de detecção dos herbívoros pelas<br />

formigas é menor em plantas com abrigos e iii) a herbivoria<br />

é menor em plantas com abrigos.<br />

Métodos<br />

Realizamos o estudo na reserva do Km 41 pertencente<br />

ao Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos <strong>Floresta</strong>is<br />

(INPA/Smithsonian), a cerca de 80 Km ao norte de Manaus<br />

(2°30’S e 60°00’O). Conduzimos o experimento na estra<strong>da</strong><br />

de acesso à reserva, uma vez que M. phanerostila ocorre<br />

preferencialmente em áreas abertas e expostas à luz, sendo<br />

encontra<strong>da</strong> em baixa densi<strong>da</strong>de no interior <strong>da</strong> floresta. O<br />

experimento foi realizado de maneira parea<strong>da</strong>, de forma que<br />

sempre utilizamos pares de plantas próximas, numa distância<br />

máxima de 10 m entre indivíduos. O par era composto por<br />

uma planta com abrigo (experimental) e outra sem abrigo<br />

(controle), na qual o mesmo procedimento foi repetido. Os<br />

pares de plantas foram selecionados ao longo <strong>da</strong> estra<strong>da</strong>,<br />

sempre procurando considerar as mesmas condições tanto<br />

de estrutura e tamanho <strong>da</strong> planta quanto de incidência de<br />

luz. No total, realizamos o experimento em 13 pares de<br />

plantas.<br />

Utilizamos cupins coletados nas proximi<strong>da</strong>des do<br />

alojamento <strong>da</strong> reserva como presa padrão para<br />

determinarmos a freqüência e o tempo de detecção pelas<br />

formigas. Os cupins foram colados vivos (a cerca de 5 cm<br />

<strong>da</strong> inserção do pecíolo de M. phanerostila, sempre na<br />

margem <strong>da</strong> folha) com cola branca e com o dorso voltado<br />

para a folha.<br />

Após a colagem do cupim, cronometramos o tempo de<br />

detecção do cupim pelas formigas, considerando para tal o<br />

primeiro contato feito entre os dois. O tempo de observação<br />

foi de no máximo 5 minutos e se após esse tempo não<br />

houvesse contato entre a formiga e o cupim, registrávamos<br />

a não-detecção do herbívoro simulado.<br />

Estimamos o índice de herbivoria de acordo com o<br />

método proposto por Dirzo & Dominguez (1995),<br />

observando as 10 folhas apicais de ca<strong>da</strong> planta. Em alguns<br />

casos o número de folhas presentes nos arbustos era inferior<br />

a 10 (7-9) e nesses casos o índice foi calculado usando<br />

apenas o número de folhas disponível.<br />

Ao longo <strong>da</strong> estra<strong>da</strong>, coletamos algumas folhas de<br />

espécies varia<strong>da</strong>s para identificação <strong>da</strong>s espécies de plantas<br />

nas quais também ocorriam abrigos. Além disso, coletamos<br />

abrigos e trouxemos para o laboratório para a inspeção do<br />

seu conteúdo.<br />

Para as análises <strong>da</strong> freqüência de ataque <strong>da</strong>s formigas<br />

em plantas com e sem abrigos realizamos um teste de quiquadrado<br />

e para as análises do tempo de detecção do cupim<br />

utilizamos o teste t pareado. A herbivoria nas plantas com e<br />

sem abrigos foi compara<strong>da</strong> através do teste de Wilcoxon.<br />

Resultados<br />

Quatro espécies de plantas apresentaram abrigos<br />

construídos por formigas: Miconia phanerostila, Miconia<br />

sp. (Melastomataceae), Vismia sp. (Clusiaceae) e uma<br />

espécie não identifica<strong>da</strong> de Rubiaceae. Analisando-se o<br />

conteúdo interno dos abrigos, encontramos, além <strong>da</strong>s<br />

formigas, vários homópteros. A única espécie de formiga<br />

presente nos abrigos foi Crematogaster sp.(Mirmicinae).<br />

Em nove <strong>da</strong>s 13 plantas com abrigos houve ataque dos<br />

cupins, enquanto nas plantas sem abrigo o número de cupins<br />

atacados foi de apenas quatro. Entretanto, a freqüência de<br />

ataque <strong>da</strong>s formigas contra o cupim não diferiu<br />

estatisticamente (c 2 =2,46; g.l.=1; p=0,117). O tempo de<br />

detecção do cupim também não diferiu entre plantas com e<br />

sem abrigos (t=-1,611; g.l.=12; p=0,133). As médias dos<br />

tempos de detecção foram de 122,3 ±104 s (amplitude 5-<br />

290 s) nas plantas com abrigos e 119,3±66 s (amplitude 43-<br />

205 s) nas plantas sem abrigos. As medianas dos índices de<br />

herbivoria em plantas com e sem abrigos foram 1,5 e 1,7,<br />

respectivamente, não havendo diferenças entre ambos<br />

(Z=0,196; g.l.=12; p=0,844).<br />

Discussão<br />

A ausência de diferenças nos padrões de ataque e<br />

detecção de herbívoros pelas formigas associa<strong>da</strong>s aos<br />

abrigos, assim como os índices de herbivoria semelhantes<br />

entre plantas com e sem abrigos indicam que a presença<br />

dessa estrutura não confere aos indivíduos de M.<br />

phanerostila uma proteção efetiva contra herbivoria. Esses<br />

resultados diferem <strong>da</strong> nossa expectativa inicial e sugerem<br />

que o abrigo construído por Crematogaster sp. em<br />

indivíduos de M. phanerostila não são funcionalmente<br />

análogos às domáceas presentes em outras melastomatáceas.<br />

Homópteros foram encontrados em todos os abrigos e a<br />

presença desses organismos tem uma implicação importante<br />

na interação entre as formigas e a planta. Os homópteros<br />

são fitófagos e, em geral, sugam o floema excretando uma<br />

solução rica em carboidratos <strong>da</strong> qual as formigas se<br />

alimentam (Del-Claro & Oliveira 2000). Assim, como uma<br />

forma de assegurar essa rica fonte de alimento, as formigas<br />

construiriam os abrigos, exercendo uma importante função<br />

de proteção <strong>da</strong>s ninfas de homópteros contra seus inimigos<br />

naturais (Del-Claro & Oliveira, 2000).<br />

Como conseqüência <strong>da</strong> agregação de homópteros nas<br />

regiões de maior produtivi<strong>da</strong>de de seiva na planta, como o<br />

meristema apical (Del-Claro & Oliveira, 2000) e a nervura<br />

principal, os abrigos de formigas em M. phanerostila são<br />

encontrados prioritariamente nessas regiões. É provável que<br />

as formigas concentrem suas ativi<strong>da</strong>des nesses mesmos<br />

Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002 77


locais, dispendendo a maior parte do tempo ordenhando os<br />

homópteros e pouco tempo forrageando sobre a superfície<br />

foliar. Diferentemente do que ocorre em plantas com<br />

nectários extraflorais distribuídos por to<strong>da</strong> a folha, como<br />

por exemplo em algumas espécies de Inga (Mimosaceae),<br />

em M. phanerostila as formigas caminhariam menos pela<br />

planta, diminuindo a probabili<strong>da</strong>de de encontro com um<br />

herbívoro e exercendo assim, pouca ativi<strong>da</strong>de de proteção.<br />

A concentração <strong>da</strong>s formigas em função <strong>da</strong> presença de<br />

homópteros e suprimento alimentar pode ser o principal<br />

componente <strong>da</strong> associação entre as formigas e M.<br />

phanerostila, sugerindo que essa relação talvez não seja<br />

mutualística. Os homópteros teriam uma relação de<br />

parasitismo com a planta e as formigas, uma relação de<br />

mutualismo com os homópteros, porém não conferindo<br />

nenhum tipo proteção à planta.<br />

Agradecimentos<br />

Agradecemos ao Glauco pela orientação, atenção e pela<br />

clareza com que nos ensinou a conduzir um bom<br />

experimento.<br />

Referências bibliográficas<br />

Agrawal, A. A. 1998. Leaf <strong>da</strong>mage and associated cues<br />

induce aggresive ant recruitment in a neotropical ant-<br />

78 Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002<br />

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Cambridge University Press.<br />

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University Press, USA.<br />

Janzen, D. H. 1966. Coevolution of mutualism between<br />

ants and acacias in Central America. Evolution,<br />

20:249-275.<br />

Grupo 9 - Projeto Orientado 9<br />

Orientação: Glauco Machado<br />

Influência <strong>da</strong> luz no grau de herbivoria em<br />

Miconia cf. phanerostila (Melastomataceae)<br />

Genimar Rebouças Julião, Carolina Laura Morales, Flaviana Maluf de Souza, Josué Ribeiro <strong>da</strong> Silva Nunes<br />

Introdução<br />

As mu<strong>da</strong>nças causa<strong>da</strong>s nas características físicas de um<br />

ambiente devido à fragmentação <strong>da</strong> paisagem podem afetar<br />

diretamente a estrutura de florestas, principalmente a criação<br />

de bor<strong>da</strong>s (Chen et al. 1992). Os efeitos de bor<strong>da</strong> num<br />

fragmento florestal podem ser (i) abióticos, ocorrendo<br />

alterações nas condições ambientais que resultam <strong>da</strong><br />

proximi<strong>da</strong>de de uma matriz estruturalmente diferente; (ii)<br />

biológicos diretos, que envolvem mu<strong>da</strong>nças na abundância<br />

e distribuição de espécies como conseqüência direta <strong>da</strong>s<br />

condições físicas próximas a bor<strong>da</strong>, como por exemplo,<br />

dessecação dos organismos e crescimento de plantas; (iii)<br />

biológicos indiretos, que geram alterações nas interações<br />

entre espécies, tais como pre<strong>da</strong>ção, competição, parasitismo,<br />

herbivoria, e polinização e dispersão de sementes media<strong>da</strong>s<br />

por animais (Murcia 1995).<br />

As plantas situa<strong>da</strong>s em ambientes de alta luminosi<strong>da</strong>de,<br />

como as espécies pioneiras, apresentam um crescimento<br />

rápido, investindo a maior parte dos recursos para<br />

incorporação de biomassa (Kobe et al. 1995). Coley (1983)<br />

observou que o potencial de crescimento é negativamente<br />

correlacionado com defesas quantitativas, tanto em plantas<br />

que crescem no sub-bosque de florestas, tolerantes ao<br />

sombreamento, quanto em pioneiras. Assim, plantas com<br />

diferentes estratégias de crescimento investiriam<br />

diferencialmente em defesas contra herbívoros, e<br />

consequentemente, sofreriam diferentes níveis de herbivoria.<br />

Observações em campo indicam que indivíduos de<br />

Miconia cf. phanerostila são encontrados tanto em<br />

ambientes ensolarados ao longo <strong>da</strong> rodovia ZF3, quanto no<br />

interior <strong>da</strong> floresta <strong>da</strong> Reserva do km 41. Danos foliares<br />

também foram visíveis em ambos ambientes, oferecendo a<br />

oportuni<strong>da</strong>de de testar se as plantas que crescem em áreas<br />

com maior luminosi<strong>da</strong>de, como bor<strong>da</strong>s de vegetação,<br />

apresentam maior crescimento e melhor quali<strong>da</strong>de<br />

nutricional, em consequentemente possuem maiores níveis<br />

de herbivoria (Courtney & Courtney 1982). Dessa forma,<br />

os objetivos deste estudo foram examinar se i) a altura, ii) o


crescimento dos entrenós e iii) os níveis de herbivoria dos<br />

indivíduos de Miconia cf. phanerostila diferem entre<br />

ambientes sombreados e ensolarados.<br />

Métodos<br />

O presente trabalho foi desenvolvido na reserva do km<br />

41 do <strong>PDBFF</strong> (Projeto dinâmica Biológica de Fragmentos<br />

<strong>Floresta</strong>is – INPA/Smithsonian Institution), a cerca de 90<br />

km ao norte de Manaus (02Ú26’S e 059Ú46’O).<br />

As coletas foram feitas em duas áreas: ao longo <strong>da</strong> estra<strong>da</strong><br />

de acesso à Reserva (ambiente ensolarado) e no sub-bosque<br />

<strong>da</strong> floresta (ambiente sombreado). Em ca<strong>da</strong> ambiente, foram<br />

amostrados 10 indivíduos de Miconia cf. phanerostila<br />

que tiveram medidos a altura, o comprimento dos dois<br />

últimos entrenós (distais) e contados o número de entrenós<br />

de to<strong>da</strong> planta. Os entrenós de uma planta podem ser usados<br />

como uni<strong>da</strong>des padrão de crescimento, fornecendo uma<br />

estimativa do crescimento do indivíduo num <strong>da</strong>do período<br />

de tempo. Além disso, em ca<strong>da</strong> indivíduo, as seis folhas<br />

mais próximas ao ápice tiveram seu comprimento e largura<br />

medidos e o Índice de Herbivoria (Dirzo & Domingues<br />

1995) estimado. Este índice foi baseado na seguinte tabela<br />

de Área Foliar Consumi<strong>da</strong>:<br />

I H AFC (%)<br />

0 0<br />

1 1-6<br />

2 6-12<br />

3 12-25<br />

4 25-50<br />

5 > 50<br />

E calculado através <strong>da</strong> fórmula: IH = (n i x i)/ n t , onde:<br />

IH= Índice de herbivoria por planta;<br />

n i = número de folhas por categoria de Área Foliar<br />

Consumi<strong>da</strong> (AFC)<br />

i = categoria de AFC<br />

n t = número total de folhas por planta<br />

Para analisar as diferenças entre a altura e crescimento<br />

dos entrenós dos indivíduos de M. cf. phanerostila na bor<strong>da</strong><br />

e no interior <strong>da</strong> floresta utilizamos um teste t não-pareado,<br />

enquanto diferenças entre os índices de herbivoria <strong>da</strong>s<br />

plantas localiza<strong>da</strong>s na bor<strong>da</strong> e na clareira foram analisa<strong>da</strong>s<br />

com o uso de um teste não paramétrico (Mann-Withney).<br />

Resultados<br />

A altura dos indivíduos de Miconia cf. phanerostila foi<br />

maior na bor<strong>da</strong> do que no interior <strong>da</strong> floresta (N=20; t =<br />

4,028; p = 0,001; Figura 1). Além disso, foi possível detectar<br />

em campo diferentes ecótipos de M. cf. phanerostila,<br />

ocorrendo no ambiente ensolarado, com folhas mais largas<br />

e coloração mais clara, enquanto as folhas de plantas do<br />

interior <strong>da</strong> floresta eram mais alonga<strong>da</strong>s, tinham tons mais<br />

escuros.<br />

ALTURA<br />

90<br />

80<br />

70<br />

60<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

4<br />

3<br />

2<br />

Bor<strong>da</strong><br />

1 0 1 2 3 4<br />

<strong>Floresta</strong><br />

INDIVÍDUOS<br />

Figura 1. Distribuição <strong>da</strong> alturas dos indivíduos de<br />

Miconia cf. phanerostila nos dois ambientes estu<strong>da</strong>dos.<br />

O número de entrenós foi semelhante entre os indivíduos<br />

do sub-bosque e <strong>da</strong> bor<strong>da</strong> <strong>da</strong> floresta, mas o comprimento<br />

dos entrenós distais foi maior na clareira (N=20; t = 3,894;<br />

p = 0,002; Figura 2). Dessa forma, pudemos verificar que<br />

os indivíduos possuem o mesmo número de uni<strong>da</strong>des de<br />

crescimento em ambos ambientes, e estas diferem em<br />

tamanho, ocorrendo entrenós mais compridos na bor<strong>da</strong>,<br />

enquanto no interior de floresta os indivíduos tem menor<br />

estatura, e por isso, entrenós mais curtos.<br />

Tamanhos dos entrenós distais<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

8<br />

7 6 5 4 3 2 1 0 1 2 3 4 5 6 7 8<br />

Bor<strong>da</strong><br />

<strong>Floresta</strong><br />

Figura 2. Distribuição dos valores de comprimento dos<br />

dois últimos entrenós dos indivíduos de Miconia cf.<br />

phanerostila nos dois ambientes estu<strong>da</strong>dos.<br />

O sub-bosque <strong>da</strong> floresta apresentou maiores índices de<br />

herbivoria (U = 4,5; p = 0,001; N=120) tendo sido verifica<strong>da</strong><br />

uma relação forte e negativa entre a largura e comprimento<br />

<strong>da</strong>s folhas e o índice de herbivoria obtido deste ambiente,<br />

observando-se ain<strong>da</strong>, uma maior amplitude de variação nesta<br />

área. Contrariamente, o comprimento e largura <strong>da</strong>s folhas<br />

<strong>da</strong> bor<strong>da</strong> apresentaram uma relação fraca e positiva com o<br />

índice de herbivoria, sendo que os valores apresentaram-se<br />

menores e mais agrupados (Figura 3).<br />

Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002 79


Índice de Herbivoria<br />

5<br />

4<br />

3<br />

2<br />

1<br />

0<br />

Bor<strong>da</strong> <strong>Floresta</strong><br />

Figura 3. Índice de herbívora dos indivíduos de Miconia<br />

cf. phanerostila nos dois ambientes estu<strong>da</strong>dos.<br />

Discussão<br />

O ambiente de bor<strong>da</strong> é geralmente caracterizado pelo<br />

incremento <strong>da</strong> incidência de luz, que pode promover o<br />

crescimento e a melhoria na quali<strong>da</strong>de nutricional de plantas<br />

e consequentemente levar a um aumento nas taxas de<br />

desenvolvimento de insetos (Hart & Horwitz 1991,<br />

Cappuccino & Martin 1997). Neste estudo, a estra<strong>da</strong> de<br />

acesso à Reserva do km 41 possibilitou avaliar efeitos de<br />

bor<strong>da</strong> e suas conseqüências biológicas numa interação<br />

planta-herbívoros.<br />

Os indivíduos de Miconia cf. phanerostila apresentaram<br />

maior altura e comprimento dos entrenós distais no ambiente<br />

de bor<strong>da</strong>, indicando que este ambiente propicia melhores<br />

condições para o crescimento <strong>da</strong> planta. No entanto, ao<br />

contrário do esperado, os níveis de herbivoria foram mais<br />

altos no sub-bosque, ambiente onde os indivíduos<br />

apresentavam taxas de crescimento visivelmente reduzi<strong>da</strong>s.<br />

Messias & Schiesari (1994) avaliaram a herbivoria em<br />

clareiras e sub-bosque na mesma área de estudo, e<br />

similarmente constataram maiores índices de herbivoria no<br />

sub-bosque.<br />

Algumas características inerentes a planta Miconia cf.<br />

phanerostila, aos herbívoros associados e aos ambientes<br />

sombreados e iluminados podem ser os principais fatores a<br />

determinar os padrões obtidos neste estudo.<br />

A plastici<strong>da</strong>de fenotípica observa<strong>da</strong> em M. cf.<br />

phanerostila, provavelmente causa<strong>da</strong> pela variação na<br />

disponibili<strong>da</strong>de de luz, parece ser um componente<br />

importante nos níveis de herbivoria observados nos dois<br />

ambientes amostrados. Além disso, variações na presença e<br />

quanti<strong>da</strong>de de compostos secundários entre os ecótipos,<br />

podem estar influenciando tais níveis de herbivoria (Agrawal<br />

1998). Num experimento, folhas que se desenvolveram em<br />

ambientes com pouca luz, apresentaram menor produção<br />

de defesas quantitativas, como o tanino (Oki 2000). Feeny<br />

(1970) observou que diferentes concentrações de tanino<br />

estavam relaciona<strong>da</strong>s a diferentes taxas de herbivoria.<br />

Quanto maior a concentração deste composto, menor eram<br />

80 Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002<br />

os níveis de herbivoria. A planta M. cf. phanerostila é<br />

considera<strong>da</strong> uma espécie pioneira e provavelmente investe<br />

menos em defesas que as espécies persistentes (Coley 1983).<br />

As condições abióticas do ambiente bor<strong>da</strong> (luz,<br />

temperatura e umi<strong>da</strong>de) interferem nas condições bióticas<br />

como crescimento de plantas, abundância e distribuição de<br />

espécies e relações entre organismos, como a herbivoria<br />

(Murcia 1995).<br />

Os herbívoros associados a M. cf. phanerostila podem<br />

diferir entre os ambientes, em termos de espécies e<br />

abundância. Silva (1999) observou a tendência de certas<br />

espécies de formiga ocorrerem preferencialmente na bor<strong>da</strong><br />

e outras no interior <strong>da</strong> floresta de terra firme na Reserva<br />

<strong>Floresta</strong>l do km 41. Além disso, ambientes mais<br />

sombreados, como o interior <strong>da</strong> floresta, oferecem menos<br />

riscos de dessecação de herbívoros, principalmente insetos<br />

(Borror & DeLong 1964).<br />

Assim, essas características estão direta ou indiretamente<br />

envolvi<strong>da</strong>s nos padrões de crescimento e herbivoria<br />

encontrados em Miconia cf. phanerostila na bor<strong>da</strong> e no interior<br />

de floresta. Estudos futuros que ampliem as<br />

abor<strong>da</strong>gens na investigação do efeito de bor<strong>da</strong> sobre os<br />

organismos e como ca<strong>da</strong> fator, biótico ou abiótico, afeta as<br />

interações e processos ecológicos são necessários e o<br />

presente sistema mostra-se adequado para tais fins.<br />

Agradecimentos<br />

Agradecemos ao Marcelo Moreira pelo auxílio na<br />

identificação <strong>da</strong> planta objeto de estudo e nas coletas de<br />

campo, a Yumi Oki pelas sugestões e revisões deste<br />

manuscrito e aos colegas e professores do curso pela<br />

contínua alegria.<br />

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Silva, K. L. <strong>da</strong>. 1999. Importância <strong>da</strong> complexi<strong>da</strong>de<br />

ambiental sobre a diversi<strong>da</strong>de de formigas de solo em<br />

um gradiente bor<strong>da</strong>-interior na Amazônia Central. pp.<br />

148-151 in Curso de Campo “<strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong><br />

Amazônica”, INPA/Smithsonian, Manaus, AM.<br />

Grupo 9 – Projeto Orientado 7<br />

Orientador: Geraldo Wilson Fernandes<br />

A i<strong>da</strong>de foliar influencia a herbivoria em<br />

Vismia japurensis (Clusiaceae)?<br />

Yumi Oki, Paula M. Pedrosa, Eduardo Vasconcelos, Ana Paula Carmignotto e George Camargo<br />

Introdução<br />

A herbivoria pode ser defini<strong>da</strong> como o <strong>da</strong>no sofrido por<br />

uma planta, que pode ser causa<strong>da</strong> por um vasto grupo de<br />

organismos, dos quais os insetos são os principais. O grau<br />

de <strong>da</strong>nos encontrados em plantas está associado à sua<br />

distribuição, fenologia, e às suas características físicas, como<br />

pilosi<strong>da</strong>de, dureza e espinhos, e químicas, como as<br />

substâncias secundárias que podem ser tóxicas ou repelentes<br />

(Edwards & Wratten 1981). Algumas dessas defesas foram<br />

adquiri<strong>da</strong>s ao longo <strong>da</strong> evolução como uma forma de<br />

transpor as pressões ambientais, como a pre<strong>da</strong>ção causa<strong>da</strong><br />

por herbívoros, parasitismo por outras plantas, infestação<br />

por fungos, entre outros fatores (Rhoades 1983).<br />

A herbivoria varia entre espécies, entre indivíduos e<br />

também no mesmo indivíduo, como por exemplo entre folhas<br />

de i<strong>da</strong>des diferentes (Coley 1983; Harbone 1993). Em geral,<br />

as folhas novas são mais ricas em nutrientes e apresentam<br />

menor dureza e menor quanti<strong>da</strong>de de substâncias<br />

secundárias quantitativas como os taninos condensados,<br />

desta maneira tornando-se mais atraentes aos herbívoros do<br />

que as folhas maduras (Coley 1983).<br />

Baseado neste postulado, os nossos objetivos foram<br />

avaliar se as taxas de herbivoria em Vismia japurensis variam<br />

de acordo com a i<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s folhas ou do tempo de exposição<br />

<strong>da</strong> folha.<br />

Métodos<br />

As coletas foram realiza<strong>da</strong>s num trecho de 500 m na<br />

floresta de terra firme <strong>da</strong> Reserva Biológica do km 41,<br />

inseri<strong>da</strong> no “Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos<br />

<strong>Floresta</strong>is” (INPA/<strong>PDBFF</strong>), localiza<strong>da</strong> a 70 km ao norte de<br />

Manaus, Amazônia Central. Amostramos indivíduos de<br />

Vismia japurensis ao longo <strong>da</strong> bor<strong>da</strong> <strong>da</strong> mata e na beira <strong>da</strong><br />

estra<strong>da</strong> (ZF-3). Escolhemos esta espécie por ser uma espécie<br />

pioneira e freqüentemente encontra<strong>da</strong> neste tipo de<br />

ambiente.<br />

Coletamos o maior ramo de ca<strong>da</strong> planta. Na base de<br />

pesquisa do projeto verificamos a porcentagem de herbivoria<br />

através <strong>da</strong> categorização <strong>da</strong>s porcentagens de <strong>da</strong>no por folha<br />

(ver Dirzo & Dominguez 1995) (Tabela 1). Em ca<strong>da</strong><br />

indivíduo verificamos apenas um par de folhas <strong>da</strong> mesma<br />

i<strong>da</strong>de, sendo escolhi<strong>da</strong> uma planta ao acaso para a<br />

observação de ca<strong>da</strong> par de folha, considerando-se que ca<strong>da</strong><br />

par pertencia a categorias de i<strong>da</strong>des diferentes. O primeiro<br />

par de folhas encontrado no ápice do ramo foi considerado<br />

jovem, enquanto os pares seguintes foram considerados<br />

adultos, aumentado a i<strong>da</strong>de do par de folhas à medi<strong>da</strong> que<br />

seguíamos o ramo em direção à base do ramo. Usamos um<br />

par de folhas de ca<strong>da</strong> indivíduo para manter as amostras<br />

independentes.<br />

Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002 81


Tabela 1. Categoria de <strong>da</strong>nos para avaliação do índice de<br />

herbivoria (Dirzo & Dominguez 1995).<br />

Categoria de <strong>da</strong>no % de herbivoria<br />

0 0<br />

1 1 a 6<br />

2 6 a 12<br />

3 12 a 25<br />

4 25 a 50<br />

5 50 a 100<br />

O índice de herbivoria foi calculado por i<strong>da</strong>de foliar<br />

usando a seguinte fórmula:<br />

Onde: IH= índice de herbivoria; ni= número de folhas<br />

<strong>da</strong> categoria; i= valor <strong>da</strong> categoria de <strong>da</strong>nos; N= número<br />

total folhas em ca<strong>da</strong> i<strong>da</strong>de<br />

Para observar se existe preferência alimentar entre folhas<br />

novas e maduras, realizamos um teste utilizando gafanhotos<br />

como modelo. Os gafanhotos são herbívoros generalistas<br />

bem conhecidos e utilizados amplamente em bioensaios.<br />

Foram coletados 7 gafanhotos e deixados em jejum por 10<br />

horas. Inserimos um gafanhoto em um pote de 250 cm³ com<br />

dois discos foliares de aproxima<strong>da</strong>mente 4 cm², sendo um<br />

disco extraído de uma folha nova (i<strong>da</strong>de 1) e outro de uma<br />

folha madura (i<strong>da</strong>de 4). Após duas, quatro e seis horas<br />

avaliamos a ocorrência de herbivoria nos mesmos.<br />

Utilizamos o teste Kruskal Wallis para compararmos as<br />

taxas de herbivoria entre as diferentes categorias de i<strong>da</strong>de<br />

<strong>da</strong>s folhas, e a correlação de Spearman para observar a<br />

relação entre o índice de herbivoria e as diferentes categorias<br />

de i<strong>da</strong>de foliar (tempo).<br />

Resultados<br />

Amostramos um total de 36 indivíduos de Vismia<br />

japurensis. Não houve diferença entre as taxas de herbivoria<br />

em relação a i<strong>da</strong>de foliar (U=2,222, g.l.=3, p=0,528, Figura<br />

1).<br />

O índice de herbivoria apresentou uma correlação<br />

negativa baixa com a i<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s folhas (r Spearman = -0,21). As<br />

folhas do terceiro par (tempo 3) foram as que sofreram maior<br />

herbivoria (Figura 2).<br />

Os gafanhotos atacaram folhas em apenas três casos. Um<br />

gafanhoto consumiu apenas parte <strong>da</strong> folha jovem. Os outros<br />

gafanhotos apresentaram herbivoria apenas nas folhas<br />

maduras. Os gafanhotos só começaram a se alimentar após<br />

seis horas do alimento ser oferecido, parando de se alimentar<br />

após uma hora.<br />

82 Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002<br />

Figura 1. Distribuição de categoria por número de<br />

plantas amostra<strong>da</strong>s em ca<strong>da</strong> uma <strong>da</strong>s categorias de i<strong>da</strong>de<br />

foliar (N=9 por i<strong>da</strong>de foliar).<br />

Figura 2. Índice de herbivoria apresentado em ca<strong>da</strong><br />

categoria de i<strong>da</strong>de foliar em Vismia japurensis.<br />

Discussão<br />

As taxas de herbivoria foram similar entre as classes de<br />

i<strong>da</strong>des foliares, demonstrando que a nossa hipótese inicial<br />

não foi corrobora<strong>da</strong>. É provável que por ser uma espécie<br />

pioneira, V. japurensis invista menos em defesas<br />

quantitativas do que as plantas persistentes (Coley 1983),<br />

desta maneira, não apresentando diferenças nos padrões de<br />

herbivoria entre as folhas de diferentes i<strong>da</strong>des.<br />

Como o nosso modelo de bioensaio não apresentou respostas<br />

relevantes (n=3), não houve possibili<strong>da</strong>de de confirmar se<br />

os gafanhotos apresentaram preferência entre folhas novas<br />

e maduras. Esta ausência de resposta (não ingestão <strong>da</strong>s<br />

folhas) pelos gafanhotos pode estar relaciona<strong>da</strong> a problemas<br />

experimentais como estresse, ou ser devido à não<br />

palatabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> planta.


O tempo de exposição <strong>da</strong>s folhas não influenciou as taxas<br />

de herbivoria, uma vez que a folha na i<strong>da</strong>de 4 não foi a mais<br />

pre<strong>da</strong><strong>da</strong> e sim as folhas <strong>da</strong> i<strong>da</strong>de 3. É possível que as folhas<br />

na i<strong>da</strong>de 3, quando jovens, tenham enfrentado um pico de<br />

abundância de seus herbívoros, sofrendo maior herbivoria<br />

e consequentemente, permanecendo como registro temporal<br />

mesmo após a sua expansão. No entanto, não podemos<br />

desconsiderar a possibili<strong>da</strong>de que a maior pre<strong>da</strong>ção nas<br />

folhas <strong>da</strong> i<strong>da</strong>de 3 pode ser ao acaso, uma vez que não foram<br />

realizados acompanhamentos anteriores <strong>da</strong> herbivoria durante<br />

o desenvolvimento foliar nessas folhas, e nem <strong>da</strong><br />

abundância de seus herbívoros.<br />

Em resumo, não encontramos relação entre herbivoria e<br />

i<strong>da</strong>de foliar e observamos que o tempo de exposição <strong>da</strong>s<br />

folhas não influenciou os resultados obtidos.<br />

Agradecimentos<br />

Agradecemos a orientação de Selvino Neckel e a todos<br />

os professores e alunos do curso de campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>Floresta</strong> Amazônica pelas sugestões, discussões e convívio<br />

agradável durante todos esses dias de curso. Aos<br />

coordenadores do curso Jansen e Dadão, por tudo e mais<br />

um pouco que nos proporcionaram. Em especial à Amazônia<br />

por incitar ain<strong>da</strong> mais nossa grande paixão.<br />

Referências bibliográficas<br />

Coley, P. D. 1983. Herbivory and defensive characteristics<br />

of tree species in a lowland tropical forest.<br />

Ecological Monographs 53: 209-233.<br />

Dirzo, R. & C. Dominguez. 1995. Plant-herbivore<br />

interactions in Mesoamerican tropical dry forests. In:<br />

S. H. Bullock, H. A. Mooney & E. Medina (eds).<br />

Seasonally Dry tropical Forests. Cambridge University<br />

Press, pp. 304-325.<br />

Edwards, P. J. & D. Stephen. 1981. <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong>s<br />

interações entre insetos e plantas. Coleção Temas de<br />

biologia 27. EPU, São Paulo, Brasil, 71 p.<br />

Harbone, J. B. 1993. Introduction to ecology biochemistry.<br />

Academic Press, Londres, England, 318 p.<br />

Rhoades, D. F. 1983. Herbivore population dynamics and<br />

plant chemistry. In: Denno, R.F. & Mc Clure, M.S.<br />

(eds). Variable plants and herbivores in natural and<br />

managed systems. Academic Press, New York, United<br />

States, 155-220.<br />

Grupo 10 - Projeto Orientado 6<br />

Orientador: Selvino Neckel<br />

Eficiência <strong>da</strong> secreção repugnatória de Manaosbia<br />

scopulata (Opiliones) contra pre<strong>da</strong>dores generalistas<br />

Eduardo Gomes Vasconcelos, Ana Paula Carmignotto, George Camargo, Paula M. Pedrosa e Yumi Oki<br />

Introdução<br />

Os opiliões (Opiliones) são invertebrados solitários e<br />

vágeis, facilmente reconhecíveis pelo corpo oval compacto<br />

e as pernas extremamente finas e longas (Borror & De Long<br />

1988). A maioria <strong>da</strong>s espécies alimenta-se de insetos vivos<br />

e mortos, e algumas espécies também comem frutos<br />

(Machado & Pizo 2000). Indivíduos pertencentes a esta<br />

ordem apresentam respostas comportamentais<br />

características frente a ataques de pre<strong>da</strong>dores. As estratégias<br />

de defesa freqüentemente observa<strong>da</strong>s são: tentativa de fuga,<br />

tanatose e liberação de substâncias repugnatórias (Machado<br />

et al. 2000).<br />

A secreção repugnatória dos opiliões é libera<strong>da</strong> através<br />

de um par de glândulas situado sobre o segundo par de<br />

pernas e apresenta cheiro forte e desagradável (Machado &<br />

Vasconcelos 1998). O uso <strong>da</strong> secreção repugnatória é,<br />

provavelmente, a tática de defesa mais comum emprega<strong>da</strong><br />

pelos membros <strong>da</strong> subordem Laniatores (Holmberg 1983).<br />

No entanto, nem to<strong>da</strong>s as espécies do grupo liberam estas<br />

substâncias quando perturba<strong>da</strong>s. Algumas espécies, como<br />

por exemplo Discocyrtus montanus e Eugyndes sp., não<br />

liberam secreção mesmo quando manipula<strong>da</strong>s (Machado &<br />

Vasconcelos 1998).<br />

Apesar de vários trabalhos especularem sobre a função<br />

defensiva <strong>da</strong> secreção repugnatória dos opiliões (revisão<br />

em Holmberg 1983), nenhum estudo testou<br />

experimentalmente a eficiência dessa substância como<br />

estratégia defensiva em opiliões. Nesse sentido, o presente<br />

estudo teve como objetivo testar se a substância libera<strong>da</strong><br />

pela glândula repugnatória do opilião Manaosbia scopulata<br />

(Laniatores: Manaosbii<strong>da</strong>e) tem eficiência contra pre<strong>da</strong>dores<br />

generalistas.<br />

Métodos<br />

Realizamos o trabalho numa floresta de terra firme <strong>da</strong><br />

Amazônia Central, na Reserva Biológica do km 41 (02°24’S;<br />

59°52’W), localiza<strong>da</strong> na vicinal ZF-3, <strong>da</strong> rodovia BR-174,<br />

a 80 km ao norte de Manaus. O clima <strong>da</strong> região é classificado<br />

Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002 83


como Am no sistema de Köepen: clima tropical úmido de<br />

monções com precipitação excessiva e ocorrência de 1 a 2<br />

meses de baixa precipitação. A pluviosi<strong>da</strong>de média anual<br />

na região é de 2200 mm, sendo que os meses mais chuvosos<br />

(entre outubro a junho) apresentam cerca de 300 mm ca<strong>da</strong><br />

(RADAMBRASIL 1978).<br />

Escolhemos Manaosbia scopulata para realizar os<br />

experimentos propostos por ser uma espécie de opilião que<br />

apresenta uma alta produção de secreção repugnatória. Esta<br />

substância foi extraí<strong>da</strong> <strong>da</strong>s glândulas de cinco indivíduos<br />

com auxílio de um capilar. A secreção de ca<strong>da</strong> indivíduo<br />

foi diluí<strong>da</strong> em 200 ml de água para possibilitar a realização<br />

de um maior número de réplicas para os experimentos.<br />

Os pre<strong>da</strong>dores escolhidos como modelo para o<br />

experimento foram o anfíbio Atelopus espumarius (Bufoni<strong>da</strong>e;<br />

8 indivíduos) e a formiga Crematogaster sp.<br />

(Myrmicinae, 4 colônias). Os sapos ficaram 24 h em jejum<br />

antes do experimento. Para ca<strong>da</strong> sapo oferecemos um cupim<br />

e imediatamente a ingestão após injetamos na boca dos<br />

indivíduos 50 ml <strong>da</strong> substância previamente diluí<strong>da</strong><br />

(tratamento; n = 4) ou 50 ul de água (controle; n = 4). Em<br />

segui<strong>da</strong>, avaliamos o comportamento dos indivíduos por 3<br />

min, observando se os sapos regurgitaram ou não o cupim,<br />

o tempo <strong>da</strong> regurgitação e se o sapo apresentava reações de<br />

rejeição ao alimento.<br />

Para o bioensaio com formigas, colocamos na entra<strong>da</strong><br />

de ca<strong>da</strong> colônia dois pe<strong>da</strong>ços de papel de filtro de<br />

aproxima<strong>da</strong>mente 6 cm² distanciados 1 cm entre si. Em um<br />

desses pe<strong>da</strong>ços colocamos 100 ul e solução açucara<strong>da</strong><br />

(controle) e no outro, 100 ul <strong>da</strong> solução açucara<strong>da</strong> mistura<strong>da</strong><br />

à secreção. O registro para ca<strong>da</strong> um dos pe<strong>da</strong>ços de papel<br />

filtro se iniciou no primeiro contato <strong>da</strong>s formigas e teve<br />

duração de 10 min. A ca<strong>da</strong> 2 min foi registrado o número<br />

de formigas que estavam em contato com os pe<strong>da</strong>ços de<br />

papel. O resultado deste experimento foi analisado através<br />

de uma ANOVA de medi<strong>da</strong>s repeti<strong>da</strong>s. Calculamos um<br />

índice de visitação somando-se o número total de indivíduos<br />

que visitaram ca<strong>da</strong> pe<strong>da</strong>ço de papel filtro e dividindo-o pelo<br />

tempo total de amostragem (número de indivíduos por<br />

minuto). O resultado do índice de visitação foi analisado<br />

através de um teste t pareado.<br />

Resultados<br />

Todos os indivíduos de Atelopus spumarius apresentaram<br />

comportamento de aversão frente à ingestão dos cupins<br />

juntamente com a secreção repugnatória. Nesses casos, após<br />

a ingestão do cupim os animais abriram e fecharam a boca<br />

e os olhos repeti<strong>da</strong>mente, apresentando contorções corporais<br />

e locomovendo-se constantemente. O comportamento dos<br />

indivíduos no grupo controle foi totalmente diferente, sem<br />

nenhuma reação de rejeição. Em todos os casos o cupim foi<br />

ingerido e os sapos permaneceram imóveis, sem contrações<br />

corporais. Nenhum indivíduo nos dois grupos experimentais<br />

regurgitou o alimento oferecido.<br />

No experimento realizado com as formigas, a interação<br />

84 Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002<br />

entre o número de indivíduos recrutados entre os dois grupos<br />

experimentais e o tempo foi significativa (Tabela 1). Foi<br />

possível perceber uma maior diferença entre os números de<br />

indivíduos recrutados para os dois grupos experimentais a<br />

partir de 6 min (Figura 1). O tempo do primeiro contato no<br />

papel tratado com secreção variou de 2 a 12 min, ao contrário<br />

do controle no qual o contato ocorreu geralmente em menos<br />

de 1 min.<br />

Tabela 1. ANOVA de medi<strong>da</strong>s repeti<strong>da</strong>s realiza<strong>da</strong> entre o<br />

número de indivíduos de Crematogaster sp. recrutados no<br />

controle de solução açucara<strong>da</strong> (C) e no tratamento (T) de<br />

solução açucara<strong>da</strong> + secreção repugnatória do opilião<br />

Manaosbia scapulata ao longo de 10 min.<br />

Número de indivíduos<br />

S.Q. g.l M.Q. F P<br />

Grupos (C e T) 168,100 1 168,100 2,062 0,201<br />

Erro 489,100 6 81,517<br />

Tempo 740,100 4 185,025 16,037 0,000<br />

Tempo x Grupo 179,400 4 44,850 3,887 0,014<br />

30<br />

25<br />

20<br />

15<br />

10<br />

5<br />

0<br />

Erro 276,900 24 11,538<br />

0 2 4 6 8 10<br />

Tempo (minutos)<br />

Figura 1. Número de indivíduos de Crematogaster sp. que<br />

visitaram o controle de solução açucara<strong>da</strong> (C) e o<br />

tratamento (T) de solução açucara<strong>da</strong> + secreção<br />

repugnatória do opilião Manaosbia scopulata ao longo de<br />

10 minutos.<br />

O índice de visitação não apresentou diferenças<br />

significativas entre o número de indivíduos que visitaram o<br />

controle e o tratamento nas quatro colônias testa<strong>da</strong>s (t=<br />

1,244; df= 3; p= 0,302) (Tabela 2) .<br />

Tabela 2. Número de indivíduos de Crematogaster sp. por<br />

minuto que visitaram o controle e o tratamento para<br />

ca<strong>da</strong> uma <strong>da</strong>s colônias testa<strong>da</strong>s.<br />

COLÔNIAS CONTROLE TRATAMENTO<br />

1 7,9 0,6<br />

2 2,9 1,9<br />

3 4,3 4,1<br />

4 2,2 2,1<br />

C<br />

T


Discussão<br />

O presente estudo é a primeira abor<strong>da</strong>gem experimental<br />

sobre a eficiência <strong>da</strong> secreção repugnatória de opilião contra<br />

pre<strong>da</strong>dores. Nossos resultados sugerem que a secreção<br />

de Manaosbia scopulata é capaz de repelir formigas, um<br />

importante grupo de pre<strong>da</strong>dores em florestas tropicais<br />

(Hölldobler & Wilson 1990). Os sapos testados também<br />

apresentaram uma evidente reação de aversão à secreção<br />

mas, ao contrário do que era esperado, não regurgitaram o<br />

alimento oferecido juntamente com a secreção. Uma possível<br />

explicação para tal resultado é que o tamanho corporal e a<br />

resistência física <strong>da</strong> presa ofereci<strong>da</strong> (cupim) diferem em<br />

relação aos opiliões, que são animais mais resistentes e<br />

apresentam o corpo envolvido por espículas, podendo ser<br />

mais facilmente regurgitados (G. Machado, com. pess.).<br />

Outra possibili<strong>da</strong>de foi a alta diluição <strong>da</strong> secreção, que pode<br />

ter minimizado a reação aversiva desenvolvi<strong>da</strong> pelos<br />

anfíbios. Além disso, nesta espécie de anfíbio não se sabe<br />

se a reação de regurgitar é uma reação normal de aversão.<br />

Há registros fragmentários de que a secreção libera<strong>da</strong><br />

pelos opiliões detêm pre<strong>da</strong>dores, entre eles as formigas<br />

(Duffield et al. 1981). É provável que o atraso temporal em<br />

relação ao primeiro contato na solução tratamento quando<br />

comparado à solução controle esteja relacionado à rejeição<br />

<strong>da</strong>s formigas. Além disso, verificamos um maior<br />

recrutamento <strong>da</strong>s formigas que visitaram a solução controle<br />

ao longo do tempo. O menor recrutamento de indivíduos de<br />

Crematogaster sp., como conseqüência <strong>da</strong> secreção<br />

repugnatória, oferece suporte adicional <strong>da</strong> eficiência dessa<br />

substância na repulsão de formigas. É possível que para<br />

subjugar um opilião do porte de M. scopulata seja necessário<br />

um número elevado de formigas. No entanto, a curva de<br />

recrutamento de indivíduos no grupo tratamento se estabiliza<br />

em cerca de 5 indivíduos após 8 minutos. Ao contrário, no<br />

grupo controle o número de formigas recruta<strong>da</strong>s continua<br />

aumentando ao longo de todo o experimento, alcançando<br />

até 20 indivíduos.<br />

Podemos concluir que existe um efeito defensivo <strong>da</strong><br />

secreção repugnatória libera<strong>da</strong> por M. scopulata contra<br />

pre<strong>da</strong>dores generalistas. No futuro, investigações sobre a<br />

eficiência <strong>da</strong> secreção contra outros tipos de pre<strong>da</strong>dores<br />

como aranhas, aves e mamíferos devem ser testa<strong>da</strong><br />

experimentalmente.<br />

Agradecimentos<br />

Gostaríamos de agradecer ao INPA/<strong>PDBFF</strong> pela<br />

oportuni<strong>da</strong>de de realização deste trabalho, ao Dr. Glauco<br />

Machado pela idéia e incentivo, ao Dr. Jansen e ao Ocírio<br />

Pereira pela aju<strong>da</strong> na coleta dos animais para o experimento.<br />

Referências bibliográficas<br />

Borror, D. J. & D. M. DeLong. 1988. Introdução ao<br />

Estudo dos Insetos. Editora Edgard Blücher, LTDA.<br />

Duffiield, R.M., Olubajo, O., Wheeler, J.W. & Shear,<br />

W.A., 1981. Alkyphenols in the defensive secretion of<br />

the Neartic opilionid, Stygnomma spinifera (Arachni<strong>da</strong>:<br />

Opiliones). Journal of Chemical Ecology, 7, 445-<br />

452.<br />

Holmberg, R.G., N.P.D. Angerilli & J.L. Lacasse. 1984.<br />

Overwintering aggregation of Leiobunum paessleri in<br />

caves and mines (Arachni<strong>da</strong>, Opiliones). Journal of<br />

Arachnology, 12:195-204.<br />

Machado, G. & C. H. F. Vasconcelos. 1998. Multi-species<br />

aggregations in Neotropical harvestmen (Opiliones,<br />

Gonylepti<strong>da</strong>e). Journal of Arachnology 26: 389-391.<br />

Machado, G & M A. Pizo. 2000. The use of fruits by the<br />

Neotropical harvestman Neosadocus variabilis<br />

(Opiliones, Laniatores, Gonylepti<strong>da</strong>e).Journal of<br />

Arachnology 28: 357-360.<br />

Machado, G.; R. L. G. Raimundo & P. S. Oliveira. 2000.<br />

Daily activity schedule, gregariousness, and defensive<br />

behavior in the Neotropical harvestman Goniosoma<br />

longipes (Opiliones: Gonylepti<strong>da</strong>e). Journal of Natural<br />

History 34: 587-596.<br />

RADAMBRASIL. 1978. Levantamento de Recursos<br />

Naturais, vol. 1-18. Ministério de Minas e Energia,<br />

Departamento de Produção Mineral, Rio de Janeiro.<br />

Grupo 10 Projeto Orientado 7<br />

Orientador: Glauco Machado<br />

Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002 85


Aceitação de indivíduos alados de Pheidole minutula<br />

(Formici<strong>da</strong>e) por outras colônias em função <strong>da</strong><br />

distancia <strong>da</strong> colônia de origem<br />

Flávio José Soares Jr., André Mendonça, Patrícia Garcia Tello, Sylvia Miscow Mendel, Vanina Zini Antunes<br />

Introdução<br />

Colônias de insetos sociais são composta por operárias,<br />

sol<strong>da</strong>dos e rainha. Em formigas, o número de rainhas por<br />

colônia pode variar de uma (monoginia) a várias (poliginia)<br />

por colônias (Hölldobler & Wilson, 1990). Em se tratanto<br />

de colônias hospedeiras de mirmecófitas, poliginia é a<br />

condição predominante e supostamente, aumenta a chance<br />

de sobrevivência <strong>da</strong> colônia (Wilson, 1971), que na ausência<br />

de uma reprodutora, tem na fertili<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s demais a garantia<br />

de manutenção <strong>da</strong> estrutura genética do grupo (Fonseca,<br />

com. pessoal).<br />

A organização social poligínica pode ocorrer por<br />

recrutamento de novas rainhas, tolerância à presença <strong>da</strong>s<br />

fêmeas reprodutivas, filhas <strong>da</strong> rainha, ou por fusão de<br />

colônias (Hölldobler & Wilson, 1990). Destas alternativas<br />

podem surgir combinações ou mesmo outras formas de<br />

estabelecimento de poliginia, mas, iniciar uma colônia com<br />

mais de uma rainha não significa que a mesma se manterá<br />

poligínica até a maturi<strong>da</strong>de.<br />

Colônias poligínicas, normalmente, são conflitantes mas,<br />

como exceção à regra, existem poliginias harmônicas, a<br />

exemplo do Pheidole, que apesar de pouco conheci<strong>da</strong>, sabese<br />

que forma colônias com diversas rainhas em convivência<br />

harmônica (Wilson, 1971).<br />

Mirmecofitismo, um dos objetos de nossa investigação,<br />

é um termo que define a relação de plantas que vivem em<br />

constante mutualismo com colônias de formigas (Hölldobler<br />

& Wilson, 1990). Entretanto, segundo Fonseca<br />

(comunicação pessoal), o mesmo termo mirmecófita é usado<br />

para definir as plantas que possuem estruturas morfológicas<br />

especializa<strong>da</strong>s conheci<strong>da</strong>s como domáceas, para abrigar<br />

colônias de formigas. Nesta interação, a formiga retribui<br />

com proteção contra herbivoria e limpeza <strong>da</strong> superfície foliar<br />

a otimizando a produção primária <strong>da</strong> mesma.<br />

Mirmecofitismo é conhecido em vários gêneros de<br />

plantas <strong>da</strong> América do Sul, como em Maieta<br />

(Melastomataceae), cujas domáceas assemelham-se a bolsa<br />

localiza<strong>da</strong>s próximas ao pecíolo. Maieta guianensis é um<br />

pequeno arbusto de ocorrência nas <strong>Floresta</strong>s Ombrófilas <strong>da</strong><br />

Amazônia (Benson, 1985) que produz domáceas com dois<br />

compartimentos, um para a colônia e outro para detritos.<br />

Suas folhas possuem tricomas que se estendem até os ramos,<br />

de forma que os indivíduos de Pheidole minutula não<br />

encontram dificul<strong>da</strong>des em se locomover , como também<br />

fazem uso destas estruturas para levar vantagens sobre os<br />

invasores (Hölldobler, 1990).<br />

86 Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002<br />

A distribuição dos indivíduos de M. guianensis ocorre<br />

em manchas, próximas aos igarapés. Segundo Vasconcelos<br />

(1993), a estrutura populacional <strong>da</strong>s colônias de P. minutula,<br />

cujos indivíduos alados têm capaci<strong>da</strong>de limita<strong>da</strong> de<br />

dispersão, favorece as plântulas que se estabelecem<br />

próximas às matrizes, pois as mesmas passam a ter maiores<br />

chances de serem coloniza<strong>da</strong>s por rainhas após o vôo<br />

nupcial. Dessa maneira, a chance de uma determina<strong>da</strong><br />

colônia ser coloniza<strong>da</strong> por rainhas diminui com a distância<br />

<strong>da</strong>s novas plantas em relação aquela <strong>da</strong> população. A<br />

conseqüência desse fato, é o isolamento ao qual grupos de<br />

mirmecófitas são submeti<strong>da</strong>s, resultando em restrição ao<br />

fluxo gênico a pequenas populações e obviamente,<br />

propiciando aumento na heterogenei<strong>da</strong>de gênica entre as<br />

populações (estruturação gênica).<br />

Nosso objetivo foi a) testar a aceitação de indivíduos<br />

alados de Pheidole minutula por outras colônias a diferentes<br />

distâncias; b) investigar a agressivi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s formigas<br />

operárias e/ou sol<strong>da</strong>dos à presença dos alados introduzidos.<br />

Métodos<br />

O trabalho foi realizado em um trecho de <strong>Floresta</strong> de<br />

Terra Firme <strong>da</strong> Reserva do km 41 (59º43’40" O 2º24’26"<br />

S) do Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos <strong>Floresta</strong>is,<br />

localiza<strong>da</strong> a aproxima<strong>da</strong>mente 90 km ao norte de Manaus,<br />

Amazônia, Brasil.<br />

Trabalhamos em dois baixios ao longo <strong>da</strong> trilha J <strong>da</strong><br />

reserva, distantes 500m um do outro. Do interior <strong>da</strong>s<br />

domáceas dos indivíduos de Maieta guianensis encontrados,<br />

retiramos, com o auxílio de uma pinça entomológica, um<br />

mínimo de três formigas ala<strong>da</strong>s Pheidole minutula,<br />

independente do sexo.<br />

Realizamos três transplantes com as formigas retira<strong>da</strong>s.<br />

No primeiro transplante, considerado como controle,<br />

colocamos a formiga em uma folha <strong>da</strong> planta de origem. O<br />

primeiro e o segundo tratamento consistiram em transplantes<br />

<strong>da</strong>s formigas para uma planta localiza<strong>da</strong> a, no máximo, 10m<br />

e a aproxima<strong>da</strong>mente 500m , respectivamente, <strong>da</strong> planta de<br />

origem.<br />

As variáveis observa<strong>da</strong>s foram a aceitação ou rejeição<br />

<strong>da</strong> formiga transplanta<strong>da</strong> pela colônia <strong>da</strong> planta hospedeira<br />

em relação à formiga transplanta<strong>da</strong> e a forma com que as<br />

operárias e ou sol<strong>da</strong>dos receberam o alado (com<br />

agressivi<strong>da</strong>de ou não). Os critérios estabelecidos para se<br />

considerar um alado como aceito ou rejeitado foram o tempo<br />

de observação (30 minutos e o experimento era refeito) e se


o alado entrava ou não na domácea.<br />

Para avaliar a agressivi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> colônia em relação ao<br />

intruso e o efeito <strong>da</strong> distância sobre o aceite ou rejeição do<br />

mesmo, fizemos testes G (Zar, 1984) para o total de formigas<br />

transplanta<strong>da</strong>s e separa<strong>da</strong>mente, para machos e fêmeas.<br />

Resultados<br />

Realizamos um total de 39 transplantes, sendo três machos<br />

e nove fêmeas no controle, cinco machos e oito fêmeas<br />

no transplante a 10m e quatro machos e dez fêmeas nos<br />

transplantes a 500m.<br />

A variável “agressivi<strong>da</strong>de” <strong>da</strong>s operárias e sol<strong>da</strong>dos ao<br />

alado introduzido, foi acrescenta<strong>da</strong> na expectativa de<br />

delinear melhor as afini<strong>da</strong>des existentes entre as colônias.<br />

Nossas observações em campo, evidenciaram que o alado<br />

ocasionalmente encontrava alternativas para sobrepujar o<br />

ataque <strong>da</strong>s operárias e sol<strong>da</strong>dos. Assim, a reação insistente<br />

e agressiva <strong>da</strong>s operárias em repelir o alado invasor foi<br />

contabiliza<strong>da</strong> como alternativa à opção entra<strong>da</strong> ou não nas<br />

domáceas<br />

O teste “G” para a relação de agressivi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s operárias,<br />

destacando a maior agressivi<strong>da</strong>de nos transplantes à 500 m<br />

e a menor no controle (Figura 1), comparando observado e<br />

esperado (G=20,995, gl=2, p


intermediária (10m), as demais foram diferentes.<br />

As observações de campo evidenciaram diferenças entre<br />

os tratamentos controle, 10 metros e 500 metros.<br />

Entretanto, as diferenças encontra<strong>da</strong>s entre os tratamentos<br />

10 e 500m não foram significativas, tendo por base a entra<strong>da</strong><br />

ou não do alado nas domáceas. Este resultado contraria nossa<br />

expectativa incial que supunha diferenças quanto à<br />

proporção de aceites entre 10 e 500m, sendo o menor nesta<br />

última classe. O fun<strong>da</strong>mento para esta expectativa está na<br />

distribuição em manchas <strong>da</strong>s populações de Maieta<br />

guianensis, onde ocorrem grupos de colônias geneticamente<br />

afins. Estas manchas, cujos limites se restringem ao tamanho<br />

<strong>da</strong>s populações de M. guianensis, estabeleceriam com o<br />

passar dos ciclos reprodutivos a melhor estruturação<br />

genética do grupo.<br />

A análise entre aceitação e distância sugere que os grupos<br />

de indivíduos de M. guianensis de uma mesma população,<br />

já que ocorreu aceitação dos alados por parte <strong>da</strong> colônia em<br />

uma proporção similar nos transplantes a 10 e 500m. Quando<br />

conflitamos a recepção agressiva <strong>da</strong>s operárias com a<br />

distância dos alados em relação às colônias, observamos<br />

que a rejeição é tão grande a 10 quanto a 500m, independente<br />

do sucesso posterior em ocupar a domácea. Essa situação<br />

poderia ser um indicativo de que a área limite para a<br />

88 Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002<br />

ocupação de um grupo de colônias geneticamente afins se<br />

restringiria a um raio inferior a 10m.<br />

Agradecimentos<br />

Agradecemos às populações de Maeta guianensis por<br />

nos permitir trabalhar em suas domáceas e às colônias de<br />

formigas por nos deixar entrar em seus lares sem questionar<br />

as nossas intenções (como se elas tivessem opção).<br />

Agradecemos também ao prof. Carlos Fonseca (Tachi) pela<br />

orientação e paciência (muita paciência), ao INPA pelo<br />

financiamento e oportuni<strong>da</strong>de de trabalho.<br />

Referências Bibliográficas<br />

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and London, England.<br />

Efeito de bor<strong>da</strong> sobre a herpetofauna de serapilheira<br />

em uma floresta de terra firme na Amazônia Central<br />

André Faria Mendonça, Flávio José Soares Júnior, Patricia García Tello , Sylvia Miscow Mendel, Vanina Zini Antunes<br />

Introdução<br />

A fragmentação de uma floresta contínua resulta no<br />

aumento considerável <strong>da</strong> sua quanti<strong>da</strong>de de bor<strong>da</strong>, fazendo<br />

com que o interior <strong>da</strong> mata seja exposto a mu<strong>da</strong>nças<br />

microclimáticas drásticas como aumento <strong>da</strong> luminosi<strong>da</strong>de,<br />

temperatura, exposição ao vento, decréscimo <strong>da</strong> umi<strong>da</strong>de,<br />

dentre outros (Soulé, 1986). Embora numerosos<br />

estudos tenham examinado os efeitos <strong>da</strong> fragmentação de<br />

habitats sobre pássaros e mamíferos (Andren, 1994), sabese<br />

muito pouco sobre outros taxa de vertebrados sob este<br />

aspecto. Apesar disso, alguns autores têm sugerido que<br />

anfíbios e répteis são particularmente sensíveis aos efeitos<br />

<strong>da</strong> fragmentação (Bradford et al.1993).<br />

Os anfíbios, por apresentarem uma forte fideli<strong>da</strong>de local<br />

e uma limita<strong>da</strong> capaci<strong>da</strong>de de dispersão (Sinsch, 1990),<br />

dependem de regimes de umi<strong>da</strong>de que podem ser alterados<br />

pela fragmentação. Além disso, têm um ciclo de vi<strong>da</strong><br />

bifásico, vivendo a larva e o adulto em habitats separados.<br />

Desta forma, podem ser especialmente úteis como<br />

indicadores <strong>da</strong> integri<strong>da</strong>de geral de um ecossistema.<br />

A riqueza de espécies e abundância de anfíbios e répteis<br />

podem ser correlaciona<strong>da</strong>s a caracterísicas do habitat como<br />

umi<strong>da</strong>de e espessura <strong>da</strong> serapilheira (e. g. Fauth et al. 1989).<br />

Se mu<strong>da</strong>nças no tamanho <strong>da</strong> área e vegetação alteram estas<br />

características, sendo que haveria um aumento na<br />

serapilheira na bor<strong>da</strong> do fragmento devido ao aumento <strong>da</strong><br />

abundância de espécies pioneiras, lianas e galhos caídos no<br />

solo, esperaríamos mu<strong>da</strong>nças correspondentes na riqueza e<br />

abundância <strong>da</strong>s espécies de herpetofauna.<br />

Sendo assim, os objetivos deste trabalho foram avaliar<br />

as mu<strong>da</strong>nças nas condições abióticas (temperatura, umi<strong>da</strong>de<br />

do ar e espessura <strong>da</strong> serapilheira) em ambientes de bor<strong>da</strong> e<br />

interior de floresta, e relacioná-las a possíveis alterações na<br />

abundância e composição <strong>da</strong> herpetofauna local.Métodos<br />

Este trabalho foi realizado em uma área de terra firme ao<br />

longo <strong>da</strong> estra<strong>da</strong> de acesso à Reserva do km 41 (59º43’40"


O e 2º24’26" S) do Projeto Dinâmica Biológica de<br />

Fragmento <strong>Floresta</strong>is, localiza<strong>da</strong> a 80 km ao norte de<br />

Manaus, AM, Brasil.<br />

Com o auxílio de uma tela de nylon, usa<strong>da</strong> para evitar à<br />

fuga dos anfíbios e repteis, fizemos um total de 12 parcelas<br />

de 3 x 3m, distribuí<strong>da</strong>s alterna<strong>da</strong>mente em seis pares em<br />

ca<strong>da</strong> lado <strong>da</strong> estra<strong>da</strong>. Ca<strong>da</strong> par amostral consistia de uma<br />

parcela na bor<strong>da</strong> <strong>da</strong> mata e outra a 50m desta.<br />

Em ca<strong>da</strong> parcela, fizemos uma varredura manual pelo<br />

folhiço <strong>da</strong> área total <strong>da</strong> parcela à procura de répteis e<br />

anfíbios, sendo que não utilizamos um tempo determinado<br />

para essa amostragem.<br />

Em ca<strong>da</strong> ponto de amostragem foram mensura<strong>da</strong>s as<br />

variáveis microclimáticas como temperatura e umi<strong>da</strong>de<br />

relativa do ar, a espessura <strong>da</strong> serapilheira e anotado o horário<br />

de coleta.<br />

Analisamos as variáveis microclimáticas nos pares<br />

amostrais com um teste t pareado para determinar se havia<br />

uma diferença significativa na riqueza e abundância entre a<br />

bor<strong>da</strong> e o interior <strong>da</strong> mata.<br />

Resultados<br />

Foram encontrados dois Bufo tiphonius, em diferentes<br />

parcelas no interior e cinco Coleo<strong>da</strong>ctylus amazonicus em<br />

diferentes parcelas (três na bor<strong>da</strong> e dois no interior <strong>da</strong> mata).<br />

Sendo que em apenas uma parcela foram registrados dois<br />

indivíduos (um B. tiphonius e um C. amazonicus).<br />

Observamos que a temperatura no interior <strong>da</strong> floresta e<br />

na bor<strong>da</strong> aumentou ao longo <strong>da</strong> manhã, entretanto a variação<br />

entre os dois locais não foi significativa (t = 1,581; df = 5; p<br />

= 0,175) (Fig.1).<br />

temperatura do ar (0C)<br />

28,5<br />

28,0<br />

27,5<br />

27,0<br />

26,5<br />

26,0<br />

25,5<br />

Figura 1. Variação <strong>da</strong> temperatura em diferentes horários<br />

do dia nos diferentes pares. amostrais ( Bor<strong>da</strong> Interior).<br />

Na maioria dos pares amostrais a a umi<strong>da</strong>de relativa do<br />

ar apresentou-se mais alta no interior <strong>da</strong> floresta, entretanto<br />

essa diferença não foi significativa (t = 1,048 ; df = 5 ; p =<br />

0,343) (Fig.2).<br />

Em relação a espessura <strong>da</strong> serapilheira não foi observado<br />

um diferença significativa entre a bor<strong>da</strong> e o interior <strong>da</strong><br />

floresta (t = 0,210 ; df = 5 ; p = 0,842), sendo que houve<br />

uma maior diferença entre os pares amostrais (Fig 3).<br />

umi<strong>da</strong>de relativa (%)<br />

82<br />

80<br />

78<br />

76<br />

74<br />

72<br />

70<br />

68<br />

7:50-8:10 8:45-9:10 9:45-10:00 10:20-10:40 11:07-11:20 11:38-12:00<br />

horário de observações<br />

Figura 2. Variação <strong>da</strong> umi<strong>da</strong>de relativa do ar em<br />

diferentes horários do dia nos diferentes pares amostrais<br />

( ).<br />

Bor<strong>da</strong> Interior<br />

espessura <strong>da</strong> serrapilheira (cm)<br />

14<br />

12<br />

10<br />

8<br />

6<br />

Figura 3. Variação <strong>da</strong> espessura <strong>da</strong> serapilheira nos<br />

diferentes pares amostrais (barra negra = bor<strong>da</strong> e barra<br />

cinza = interior).<br />

Discussão<br />

Devido ao pequeno número de indivíduos não foi possível<br />

fazer uma análise estatística, entretanto relacionamos os<br />

resultados com as características ambientais mensura<strong>da</strong>s.<br />

A semelhança <strong>da</strong> temperatura nos dois ambientes indica<br />

que a distância de 50m não é suficiente para ter diferença<br />

entre a bor<strong>da</strong> e o interior <strong>da</strong> floresta e pode ter contribuído<br />

para uma maior dispersão de répteis de folhiço, que<br />

necessitam de calor para termorregular. Isso também pode<br />

ter contribuído para a ocorrência de C. amazonicus tanto na<br />

bor<strong>da</strong> como no interior.<br />

A ocorrência dos anfíbios só no interior pode ter sido<br />

determina<strong>da</strong> pela umi<strong>da</strong>de, pois esse grupo é dependente<br />

de locais mais úmidos, mesmo no caso dos bufonideos que<br />

são o grupo de anfíbios mais tolerantes a valores mais baixos<br />

de umi<strong>da</strong>de relativa do ar. Sendo assim, esse grupo pode<br />

ser usado como um indicador de quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> floresta ou<br />

de fragmentos de floresta, pois em locais onde os ambientes<br />

florestais estão mais degra<strong>da</strong>dos, existe uma maior<br />

permeabili<strong>da</strong>de aos fatores ambientais externos.<br />

Mesmo não tendo havido diferenças na espessura <strong>da</strong><br />

serapilheira, a quali<strong>da</strong>de e composição desta podem ser<br />

fatores determinantes na distribuição <strong>da</strong>s espécies que vivem<br />

neste tipo de habitat, o que resta ser estu<strong>da</strong>do com mais<br />

detalhe.<br />

Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002 89


Agradecimentos<br />

Agradecemos ao Selvino pela orientação e ao INPA pela<br />

oportuni<strong>da</strong>de e pelo financiamento.<br />

Referências Bibliográficas<br />

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birds and mammals in landscapes with different<br />

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Soulé, M. E. 1986. Conservation Biology. The science of<br />

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Publishers. Sunderland, Massachusetts.<br />

Diversi<strong>da</strong>de de galhas em ambientes de<br />

bor<strong>da</strong> e de interior <strong>da</strong> mata<br />

Daniela Chaves Resende, Eduardo Cardoso Teixeira, Ana Maria Benavides, Luiz Henrique Claro Júnior, Carina Lima <strong>da</strong> Silveira,<br />

Introdução<br />

O efeito <strong>da</strong> fragmentação de habitats sobre a composição<br />

de espécies tem sido amplamente estu<strong>da</strong>do (Bierregaard-Jr<br />

& Stouffer, 1997, Brown-Jr & Hutchings, 1997, Goosem,<br />

1997). Em ambientes de bor<strong>da</strong> e de mata os fatores que<br />

atuam sobre as espécies são, principalmente, os gradientes<br />

de umi<strong>da</strong>de e de temperatura (Laurance, 1997). No interior<br />

<strong>da</strong> mata, geralmente, a temperatura é mais amena e a<br />

umi<strong>da</strong>de mais eleva<strong>da</strong>. Por sua vez, nas bor<strong>da</strong>s de mata, a<br />

entra<strong>da</strong> de luz é muito acentua<strong>da</strong>, o que afeta diretamente a<br />

temperatura ambiente e a umi<strong>da</strong>de local, modificando de<br />

forma considerável os microhabitats (Laurance, 1997).<br />

Galhas são tumores vegetais causados por diversos<br />

organismos como fungos, nematódeos, bactérias, vírus e,<br />

principalmente, insetos. Os principais fatores que<br />

determinam a diversi<strong>da</strong>de e a distribuição dos agentes<br />

galhadores são: os inimigos naturais, a diversi<strong>da</strong>de e a<br />

história <strong>da</strong> planta hospedeira, a resistência <strong>da</strong> planta, as<br />

características físicas e climáticas do habitat, os distúrbios<br />

antrópicos e, sob o ponto de vista de gradientes<br />

biogeográficos, a altitude, a latitude, a temperatura e a<br />

umi<strong>da</strong>de (Fernandes & Price, 1988).<br />

Os galhadores são ecológica e taxonomicamente<br />

diversificados (Fernandes & Price, 1988) e, além disso,<br />

apresentam interações específicas com suas plantas<br />

hospedeiras. Vários estudos indicam uma maior riqueza de<br />

galhas em ambientes xéricos comparados com os ambientes<br />

mésicos (Fernandes et al., 1995, Fernandes et al., 2002,<br />

Gonçalves-Alvim & Fernandes, 2001b, Price et al., 1998).<br />

Este padrão de diversi<strong>da</strong>de tem sido explicado,<br />

principalmente, pela mortali<strong>da</strong>de diferencial dos organismos<br />

galhadores entre estes dois ambientes. Aparentemente, os<br />

agentes galhadores utilizam a seu favor o aumento <strong>da</strong>s<br />

defesas <strong>da</strong>s plantas contra a herbivoria e dessecação, nos<br />

ambientes xéricos, já que controlam todo o aparato<br />

fisiológico <strong>da</strong> planta (Fernandes et al, 1995, Gonçalves-<br />

Alvim & Fernandes, 2001a).<br />

Estudos pontuais realizados na Amazônia Central<br />

indicam a existência de uma alta diversi<strong>da</strong>de de galhas neste<br />

ambiente (Mendes et al., este volume). Assim, o objetivo<br />

deste estudo foi comparar a riqueza de galhas entre um<br />

ambiente de mata e um de bor<strong>da</strong> na Amazônia Central.<br />

Métodos<br />

O trabalho foi desenvolvido na Reserva do Km 41 (2 o<br />

24’S 59 o 44’W), localiza<strong>da</strong> a 80 km ao norte de Manaus,<br />

AM, durante o mês de novembro de 2002. A reserva é<br />

constituí<strong>da</strong> por uma área de 10.000 ha de floresta de terra<br />

firme, pertencente ao Projeto Dinâmica Biológica de<br />

Fragmentos <strong>Floresta</strong>is (<strong>PDBFF</strong>, INPA/Smithsonian). A<br />

temperatura média anual é de 26,7 o C e a precipitação anual<br />

é de aproxima<strong>da</strong>mente 2300 mm (Lovejoy & Bierregaard<br />

1990).<br />

Para o levantamento <strong>da</strong> riqueza de galhas, quatro<br />

coletores percorreram um transecto de 1 Km, ca<strong>da</strong> um, nos<br />

ambientes-alvo (mata e bor<strong>da</strong>), distantes 100 metros entre<br />

si. Como bor<strong>da</strong>, foi utiliza<strong>da</strong> a vegetação imediatamente na<br />

interface entre a mata e a estra<strong>da</strong> de acesso à reserva. O<br />

esforço amostral foi padronizado em 1hora/transecto/<br />

ambiente.<br />

To<strong>da</strong>s as galhas avista<strong>da</strong>s nas plantas, até uma altura de<br />

2 metros, ao longo de ca<strong>da</strong> transecto foram coleta<strong>da</strong>s e<br />

acondiciona<strong>da</strong>s em saco plástico para posterior<br />

identificação. Em laboratório, foram determinados alguns<br />

caracteres importantes para a identificação <strong>da</strong>s<br />

morfoespécies de galhas: presença/ausência de pêlos, cor,


forma e morfoespécie <strong>da</strong> planta hospedeira.<br />

Para análise dos <strong>da</strong>dos foi utiliza<strong>da</strong> a riqueza de espécies<br />

de galhas de ca<strong>da</strong> ambiente e foi calculado o teste de<br />

Wilcoxon. As coletas realiza<strong>da</strong>s por ca<strong>da</strong> coletor em ca<strong>da</strong><br />

ambiente (mata e bor<strong>da</strong>) foram considera<strong>da</strong>s amostras<br />

parea<strong>da</strong>s, para evitar diferenças na habili<strong>da</strong>de de<br />

reconhecimento e coleta de galhas de ca<strong>da</strong> um.<br />

Para a análise <strong>da</strong> similari<strong>da</strong>de <strong>da</strong> composição de espécies<br />

entre os ambientes e entre ca<strong>da</strong> parcela amostral, foi<br />

produzido um dendrograma baseado na Distância Euclidiana<br />

e feito o UPGMA como método de agrupamento (Krebs,<br />

1998).<br />

Resultados<br />

Foram registra<strong>da</strong>s um total de 71 morfoespécies de<br />

galhas, sendo que destas, 45 (63,4%) foram amostra<strong>da</strong>s na<br />

bor<strong>da</strong> e 26 (35,2%) na mata. A bor<strong>da</strong> foi mais rica em<br />

espécies do que o interior <strong>da</strong> mata (N= 4; z= 1,82; p= 0,03;<br />

Fig. 1).<br />

Riqueza de galhas<br />

24<br />

20<br />

16<br />

12<br />

8<br />

4<br />

0<br />

Bor<strong>da</strong> Mata<br />

Habitat<br />

Figura 1. Riqueza de espécies de galhas registra<strong>da</strong> por<br />

transecto nos ambientes de clareira e de mata, na reserva<br />

do Km 41, Amazônia Central. As barras mostram os<br />

valores máximo e mínimo para ca<strong>da</strong> ambiente e as caixas<br />

representam os percentis.<br />

O dendrograma de similari<strong>da</strong>de, baseado na composição<br />

de morfoespécies de galhas dos ambientes amostrados (Fig.<br />

2), indica uma maior similari<strong>da</strong>de entre as parcelas de ca<strong>da</strong><br />

ambiente do que entre os ambientes de mata e bor<strong>da</strong>,<br />

demonstrando que a comuni<strong>da</strong>de de galhadores que<br />

compõem tais ambientes são muito distintas.<br />

Discussão<br />

Nosso estudo registrou uma maior riqueza de galhas na<br />

bor<strong>da</strong> <strong>da</strong> mata, caracterizado como um ambiente mais<br />

exposto à ação <strong>da</strong> radiação solar e à dessecação, do que no<br />

interior <strong>da</strong> mata, ambiente mais úmido. Este padrão de<br />

riqueza de espécies galhadores é semelhantes ao registrado<br />

em outros locais (Fernandes et al., 1995, Fernandes et al.,<br />

2002, Price et al., 1998). Habitats mais estressados<br />

nutricional e higrotermicamente, tanto em ambientes<br />

tropicais quanto em temperados, são mais ricos em espécies<br />

Distância Euclidiana<br />

70<br />

60<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

M1 M2 M3 M4 B1 B2 B3 B4<br />

Figura 2. Dendrograma de similari<strong>da</strong>de baseado na<br />

composição de espécies registra<strong>da</strong> em ca<strong>da</strong> uma <strong>da</strong>s<br />

parcelas amostra<strong>da</strong>s, na reserva do Km 41, Amazônia<br />

Central. M1, M2 e M3 indicam parcelas no interior <strong>da</strong><br />

mata e B1, B2, B3 e B4, área de bor<strong>da</strong>.<br />

de galhas (Fernandes & Price, 1992, Fernandes et al., 1995).<br />

Esta maior riqueza de galhas em habitats secos pode estar<br />

relacionado a diversos mecanismos ecológicos e processos<br />

evolutivos que mol<strong>da</strong>m as relações entre o ambiente, o<br />

galhador e a planta (Gonçalves-Alvim & Fernandes, 2001b).<br />

Estudos recentes indicam que insetos galhadores sofrem<br />

maiores pressões seletivas exerci<strong>da</strong>s por inimigos naturais<br />

e por resistência de plantas em ambientes úmidos, quando<br />

comparados a ambientes secos (Fernandes et al, 1995,<br />

Gonçalves-Alvim & Fernandes, 2001a).<br />

Além disso, a composição e a riqueza específica de galhas<br />

estão diretamente relaciona<strong>da</strong>s com a composição e a riqueza<br />

florística do ambiente (Fernandes, 1992). A maior densi<strong>da</strong>de<br />

de espécies vegetais encontra<strong>da</strong> em ambientes de bor<strong>da</strong> de<br />

mata, talvez, seja outro importante fator que estaria elevando<br />

a riqueza de espécies de galhadores nesses ambientes. Tal<br />

hipótese não pôde ser testa<strong>da</strong> pelo nosso estudo, pois o<br />

método de coleta estabelecido não nos permitiu estimar a<br />

densi<strong>da</strong>de de plantas em ca<strong>da</strong> ambiente. No entanto, o<br />

método de transectos padronizado por tempo nos<br />

possibilitou fazer uma melhor caracterização <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de<br />

de galhadores presentes em ca<strong>da</strong> local.<br />

A distinção <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong>des de galhas de ambientes<br />

secos e úmidos assinala o potencial de utilização <strong>da</strong>s galhas<br />

como organismos indicadores de diversi<strong>da</strong>de e quali<strong>da</strong>de<br />

do habitat (Fernandes et al., 1995). Assim, é de crucial<br />

importância que futuros estudos de avaliação <strong>da</strong> riqueza de<br />

galhadores de ambientes de mata contemplem o dossel, já<br />

que é possível que a maior concentração de galhas na mata<br />

esteja na copa <strong>da</strong>s árvores.<br />

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Projeto orientado 6 /Grupo 12<br />

Orientador: Geraldo W. Fernandes.<br />

Estratégia foliar e herbivoria em matas de baixio e<br />

platô na Amazônia Central<br />

Luiz Henrique Claro Junior, Carina Lima <strong>da</strong> Silveira, Daniela Chaves Resende, Eduardo Cardoso Teixeira, Ana Maria Benavides<br />

Introdução<br />

A grande diversi<strong>da</strong>de de formas foliares existentes nas<br />

comuni<strong>da</strong>des vegetais refletem a varie<strong>da</strong>de de estratégias<br />

a<strong>da</strong>ptativas resultante de diversas pressões seletivas. As<br />

plantas, de modo geral, enfrentam pelo menos três grandes<br />

pressões: i) a competição com outras plantas pela luz<br />

disponível para a realização <strong>da</strong> fotossíntese, ii) a adequação<br />

ao meio abiótico e iii) a pressão de herbívoros (Fonseca et<br />

al. 2000).<br />

A altura em que as folhas estão expostas está fortemente<br />

relaciona<strong>da</strong>s à competição por luz, sendo dependente <strong>da</strong><br />

disponibili<strong>da</strong>de de recursos, tais como, água e nutrientes<br />

(Richards 1979). Além disto, o tamanho e a forma <strong>da</strong>s folhas<br />

estão relacionados à eficiência de troca gasosa de água e de


dióxido carbônico que em última instância determinam<br />

eficiência fotossintética. Como exemplo, plantas de floresta<br />

apresentam, em geral, folhas maiores e mais finas do que<br />

plantas características de ambientes xéricos, que apresentam<br />

folhas menores e mais coriáceas (Fonseca et al. 2000). Da<br />

mesma forma, plantas que evoluem em ambientes ricos em<br />

nutrientes também apresentam maior área foliar do que<br />

plantas que evoluem em ambientes mais pobres (Fonseca et<br />

al. 2000).<br />

Segundo Coley (1983), herbivoria em comuni<strong>da</strong>des<br />

naturais pode ser alta, reduzindo o crescimento e a<br />

reprodução <strong>da</strong>s plantas, e influenciando no resultado<br />

competitivo dos indivíduos e na composição <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de.<br />

A distribuição de defesas entre espécies e tecidos vegetais<br />

reflete, ecologicamente e evolutivamente, na dinâmica dos<br />

herbívoros. Várias características físicas, químicas e<br />

nutricionais <strong>da</strong> folha podem ser medidos e correlacionados<br />

aos níveis de herbivoria e história de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> planta (Coley<br />

1983), porém, pouco se sabe como as folhas, através de<br />

estratégias a<strong>da</strong>ptativas, tem refletido defesa contra<br />

herbívoros.<br />

Nosso objetivo neste trabalho foi: (a) comparar as<br />

estratégias foliares entre o sub-bosque de matas de platô e<br />

de matas de baixo, numa região <strong>da</strong> Amazônia Central e (b)<br />

testar se a adoção de diferentes estratégias tem<br />

conseqüências para a herbivoria foliar. Nós testamos duas<br />

hipóteses: i) a de que folhas na mata de igarapé são menores,<br />

mais finas e menos espessas, uma vez que a comuni<strong>da</strong>de<br />

deste ambiente seria constituí<strong>da</strong> principalmente de espécies<br />

de crescimento rápido e ii) a hipótese de que a estratégia de<br />

crescimento rápido torna as plantas mais suscetíveis à<br />

herbivoria.<br />

Métodos<br />

Este trabalho foi realizado na Reserva do km 41<br />

localiza<strong>da</strong> a cerca de 80 km a NE de Manaus (AM), nas<br />

coordena<strong>da</strong>s 02 0 24’S e 59 0 44’W, Amazônia Central, em<br />

uma mata de terra firme. As altitudes variam entre 50-150m<br />

acima do nível do mar e a temperatura média é de 26,7 0 C<br />

com médias anual é de 2,186 mm, sendo março e abril os<br />

meses mais chuvosos com cerca de 300 mm ca<strong>da</strong> e o período<br />

mais seco entre julho e setembro. O solo predominante é o<br />

latossolo amarelo (Lovejoy & Bierregaard 1990).<br />

Nossas amostragens foram dividi<strong>da</strong>s em quatro blocos.<br />

Dentro de ca<strong>da</strong> bloco foram estu<strong>da</strong>dos dois tipos de<br />

ambientes: um caracterizado por uma mata de platô e e outro<br />

por mata de bor<strong>da</strong> de igarapé. Em ca<strong>da</strong> ambiente foi traçado<br />

um transecto de 20 metros onde, a ca<strong>da</strong> 50 cm, uma folha à<br />

altura de um metro foi coleta<strong>da</strong>.<br />

Para avaliarmos a estratégia foliar medimos o<br />

comprimento, a largura e a espessura <strong>da</strong>s folhas. Para<br />

determinarmos o nível de herbivoria realizamos uma<br />

estimativa visual <strong>da</strong> área foliar consumi<strong>da</strong> e utilizamos as<br />

classes de porcentagem de herbivoria de acordo com Dirzo<br />

e Dominguez (1995; Tab. I).<br />

Tabela I. Classes utiliza<strong>da</strong>s para avaliar o nível de<br />

herbivoria <strong>da</strong>s folhas, baseado em Dirzo e Dominguez<br />

(1995).<br />

Classe de<br />

herbivoria<br />

Área foliar consumi<strong>da</strong> (%)<br />

0 0<br />

1 1 – 6<br />

2 6 – 12<br />

3 12 – 25<br />

4 25 – 50<br />

5 50 - 100<br />

Para avaliarmos se havia diferença, em relação às<br />

estratégias como comprimento, largura, espessura e no nível<br />

de herbivoria, entre os dois ambientes usamos análises de<br />

variância (ANOVA). Usamos uma análise de covariância<br />

(ANCOVA) para testar se a adoção de diferentes estratégias<br />

foliares afetaram o nível de herbivoria nas plantas. Em to<strong>da</strong>s<br />

as análises, ca<strong>da</strong> folha coleta<strong>da</strong> foi considera<strong>da</strong> uma amostra<br />

independente.<br />

Resultados<br />

A largura <strong>da</strong>s folhas foi a estratégia que apresentou-se<br />

diferentemente nos dois ambiente estu<strong>da</strong>dos (F [1,317] =12,84,<br />

p


O nível de herbivoria sobre as folhas coleta<strong>da</strong>s não foi<br />

diferente nos dois ambientes estu<strong>da</strong>dos (F [1,317] =0.20;<br />

F=0,07; p=0,78; R 2 =0,07). No entanto, houve uma interação<br />

significativa entre o efeito <strong>da</strong> largura <strong>da</strong> folha e os ambientes<br />

estu<strong>da</strong>dos sobre o nível de herbivoria apresentado pelas<br />

folhas (Tab. II). A relação entre a largura <strong>da</strong> folha e o nível<br />

de herbivoria é mais acentua<strong>da</strong> para a mata de platô do que<br />

para a mata de igarapé (Fig. 2).<br />

Classe de herbivoria<br />

5<br />

4<br />

3<br />

2<br />

1<br />

0<br />

0 2 4 6 8 10 12 14 16<br />

Largura <strong>da</strong> folha (cm)<br />

94 Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002<br />

Platô<br />

Igarapé<br />

Figura 2. Largura <strong>da</strong> folha em relação ao nível de<br />

herbivoria nos dois ambientes estu<strong>da</strong>dos, na reserva do<br />

Km 41, Amazônia Central.<br />

Tabela II. Resultado <strong>da</strong> análise de covariância avaliando<br />

o efeito <strong>da</strong> largura <strong>da</strong>s folhas sobre a herbivoria nos dois<br />

ambientes estu<strong>da</strong>dos na reserva do Km 41, Amazônia<br />

Central.<br />

Variáveis G.L. F P R 2<br />

Ambiente 315 1,87 0,17 0,05<br />

Largura <strong>da</strong> folha 315 27,53


Efeito <strong>da</strong>s clareiras na de remoção de frutos de<br />

palmeira (Astrocaryum aculeatum) em floresta de terra<br />

firme na Amazônia central<br />

Introdução<br />

A formação de clareiras naturais em florestas tropicais<br />

devido à que<strong>da</strong> de árvores é um dos fatores responsáveis<br />

pela alta diversi<strong>da</strong>de biológica encontra<strong>da</strong> nessa região<br />

(Cintra & Horma 1997), pois aumentam o espectro de nichos<br />

de regeneração (Fleming 1978 apud Schupp 1988).<br />

Uma <strong>da</strong>s consequências imediatas <strong>da</strong> formação de<br />

clareiras é a maior entra<strong>da</strong> de luz, essa mu<strong>da</strong>nça favorece o<br />

estabelecimento <strong>da</strong>s espécies pioneiras e lianas (Uhl 1988),<br />

pois em áreas de floresta intacta possivelmente a luz é um<br />

dos fatores limitantes para o estabelecimento de plântulas.<br />

As clareiras podem estar em diferentes estágios sucessionais,<br />

sendo que ca<strong>da</strong> estágio anterior cria condições bióticas e<br />

abióticas que possibilitam o estabelecimento de novas<br />

espécies e que são características de um estágio sucessional<br />

seguinte (Rose 2000).<br />

Estudos realizados nas regiões tropicais indicaram que<br />

uma grande porcentagem <strong>da</strong>s sementes e frutos produzidos<br />

são pre<strong>da</strong>dos (Sork 1987; Uhl 1987; Holl & Lulow 1997).<br />

Sendo que os principais agentes dispersores ou pre<strong>da</strong>dores<br />

de frutos e sementes não as aves, artrópodes e os mamíferos,<br />

neste grupo, os morcegos são um dos principais dispersores<br />

e os roedores são os principais pre<strong>da</strong>dores e dispersores de<br />

sementes e frutos em florestas tropicais (Schupp 1988; Forget<br />

1993; Terborgh et al. 1993; Whittaker & Turner 1994;<br />

Asquith et al. 1997; Cintra & Horna 1997; Holl &Lulow<br />

1997), entretanto a dispersão por grandes e médios<br />

mamíferos, como porcos-do-mato, ungulados<br />

(Bodmer,1991) tem sido subestima<strong>da</strong> (Terborgh et al. 1993).<br />

Com a formação de uma clareira, vários habitats e<br />

refúgios são destruídos, acarretando em uma diminuição na<br />

comuni<strong>da</strong>de de mamíferos que utilizam esse local, entre estes<br />

estão os dispersores ou pre<strong>da</strong>dores de sementes, acarretando<br />

mu<strong>da</strong>nças nas taxas de retira<strong>da</strong>s de sementes na clareira<br />

(Asquith et al. 1997).<br />

Hartshorn (1978) sugeriu que a taxa de pre<strong>da</strong>ção de<br />

sementes em clareiras é menor devido ao isolamento destas<br />

em relação aos indivíduos adultos, tornando estas mais<br />

difíceis de ser detecta<strong>da</strong>s pelos mamíferos. Entretanto, a<br />

formação de clareiras pode aumentar a abundância de<br />

algumas espécies de mamíferos devido a presença de<br />

serapilheira e troncos caídos (refúgio), onde estas podem<br />

evitar a pre<strong>da</strong>ção (Rodd & Test 1968 apud Schupp 1988;<br />

Schupp 1988; Samper 1992 apud Notman et al. 1996;<br />

Notman et al. 1996). Por outro lado, pode aumentar a<br />

André Faria Mendonça<br />

pre<strong>da</strong>ção de outras espécies de mamíferos (roedores e<br />

marsupiais) por torna-los mais visíveis aos pre<strong>da</strong>dores. Essa<br />

diferença pode ser determina<strong>da</strong> pela i<strong>da</strong>de <strong>da</strong> clareira e<br />

consequentemente pelo estado sucessional que se encontra.<br />

Devido as mu<strong>da</strong>nças ambientais decorrentes <strong>da</strong> formação<br />

de clareiras e consequentes mu<strong>da</strong>nças na taxa de remoção<br />

e/ou pre<strong>da</strong>ção de frutos e sementes por mamíferos, o objetivo<br />

desse estudo se fun<strong>da</strong>menta na premissa que há diferença<br />

na taxa de remoção de frutos nas clareiras em relação à áreas<br />

de floresta intacta.<br />

Métodos<br />

O estudo foi realizado na reserva 1501 (km 41) <strong>da</strong> ZF-3<br />

na Fazen<strong>da</strong> Esteio, situa<strong>da</strong> a cerca de 70km ao norte de<br />

Manaus (2 o 24’26" - 2 o 25’31"S e 59 o 43’40" - 59 o 45’50"W)<br />

no Distrito Agropecuário <strong>da</strong> Suframa, na área do Projeto<br />

Dinâmica Biológica de Fragmentos <strong>Floresta</strong>is (<strong>PDBFF</strong>)<br />

(Oliveira, 1997 apud Gomes, 1997). Possui uma<br />

pluviosi<strong>da</strong>de média anual de 2200 mm e temperatura média<br />

de 26,7 0 C, a vegetação é composta principalmente por<br />

floretas de terra firme (Rankin-de-Merona et al., 1992 apud<br />

Gomes, 1997).<br />

O desenho amostral consistiu de 20 pares amostrais, que<br />

consistiam de uma pequena clareira com cerca de um ano<br />

de formação, onde o sub-bosque ain<strong>da</strong> não está estruturado<br />

e não existem muitos detritos (troncos e galhos) cobrindo o<br />

solo e uma área de floresta intacta distantes 50 m entre si,<br />

totalizando 40 parcelas.<br />

Em ca<strong>da</strong> uma <strong>da</strong>s áreas foi feito uma parcela de 50x50<br />

cm, onde a serapilheira foi retira<strong>da</strong> e o solo foi revolvido e<br />

nivelado com auxílio de um rastelo para registro de pega<strong>da</strong>s.<br />

Nestas parcelas foram colocados cinco frutos de tucumã<br />

(Astrocaryum aculeatum) como isca. Os pares amostrais<br />

foram vistoriados diariamente e foram registrados o número<br />

de frutos retirados e os vestígios (pega<strong>da</strong>s e restos de cascas<br />

e frutos) <strong>da</strong>s espécies de mamíferos que retiraram os frutos.<br />

Um fruto foi considerado removido quando este foi<br />

levado <strong>da</strong> parcela ou quando este era parcialmente ou<br />

totalmente consumido no local pelos mamíferos. Os frutos<br />

<strong>da</strong>nificados por artrópodos, geralmente formigas, foram<br />

desconsiderados <strong>da</strong> análise e substituído por outro<br />

Para analisar a diferença entre as clareiras e as área de<br />

floresta intacta em relação ao número de frutos retirados foi<br />

usado um teste de Wilcoxon, pois os <strong>da</strong>dos não possuíam<br />

uma distribuição normal e as parcelas foram dispostas em<br />

pares .<br />

Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002 95


Resultados<br />

Os resultados não mostraram uma diferença significativa<br />

na remoção de frutos entre as áreas de clareiras e de floresta<br />

intacta (Z = 1,24, df = 19, p = 0,21). A porcentagem de<br />

remoção de frutos e de parcelas com remoção nos dois<br />

ambientes, é mostra<strong>da</strong> abaixo. (Tabela 1).<br />

Tabela 1. Porcentagem do número de frutos retirados e<br />

de parcelas que tiveram frutos removidos por ambiente.<br />

Remoção de frutos (%)<br />

Parcelas com remoção (%)<br />

Ambientes<br />

Clareira <strong>Floresta</strong><br />

30 39<br />

40 55<br />

As parcelas foram dividi<strong>da</strong>s em classes de números de<br />

frutos retirados para mostrar um padrão de remoção pelas<br />

espécies de mamíferos (Tabela 2), sendo que a taxa de<br />

reposição de frutos por <strong>da</strong>nos causados por formigas foi de<br />

2%.<br />

Tabela 2. Número de parcelas em relação ao número de<br />

frutos retirados por ambiente.<br />

Número de frutos<br />

Ambientes<br />

retirados Clareira <strong>Floresta</strong><br />

0 12 9<br />

1 2 3<br />

2 0 1<br />

3 1 0<br />

4 1 1<br />

5 4 6<br />

Total 20 20<br />

Utilizando as pega<strong>da</strong>s e os restos de frutos deixados nas<br />

parcelas foi possível identificar algumas espécies de<br />

mamíferos que retiraram os frutos, como cutia (Dasyprocta<br />

leporina), paca (Agouti paca) e roedores de pequeno porte,<br />

possivelmente Proechimys spp segundo Spironello (1999).<br />

Discussão<br />

As taxas de dispersão e pre<strong>da</strong>ção de sementes são fatores<br />

importante atuando nos processos de regeneração e<br />

mecanismos de perpetuação <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de (Janzen<br />

1970). A formação de clareiras também é um importante<br />

mecanismo de aumento <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de em florestas (Rose<br />

2000). Portanto, é importante determinar como o evento de<br />

formação de uma clareira pode influenciar na taxa de<br />

remoção de frutos.<br />

Mesmo não havendo diferenças significativas, foi<br />

observado que houve uma menor taxa de retira<strong>da</strong> nas<br />

clareiras do que em áreas de dossel contínuo (Fig. 1), isso<br />

96 Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002<br />

também observado por Hartshorn (1978), possivelmente<br />

devido ao tipo de clareira estu<strong>da</strong><strong>da</strong> no presente estudo, que<br />

eram caracteriza<strong>da</strong>s por não possuir um sub-bosque<br />

desenvolvido e por não haver uma grande quanti<strong>da</strong>de de<br />

detritos sobre o solo (refúgio) A ausência de refúgios pode<br />

afetar de forma negativa a abundância de mamíferos<br />

pre<strong>da</strong>dores ou dispersores de frutos nesses ambientes,<br />

tornando-os mais vulneráveis ao ataque de pre<strong>da</strong>dores.<br />

As parcelas foram classifica<strong>da</strong>s pelo número de frutos<br />

retirados e observou-se que as parcelas com 100% de<br />

remoção foram mais abun<strong>da</strong>ntes (Fig. 2), possivelmente<br />

porque as visitantes eram mamíferos de porte médio como<br />

paca (A. paca) e/ou cutia (D. leporina), Esses animais<br />

possuem o hábito de levar vários frutos de uma vez ou voltar<br />

várias vezes durante a noite para retirar mais frutos. No caso<br />

de pequenos mamíferos, a retira<strong>da</strong> é feita ao longo de várias<br />

noite. Isso mostra um padrão na forma de retira<strong>da</strong> dos frutos,<br />

sendo que no primeiro caso os frutos são levados inteiros e<br />

no segundo caso, normalmente eles são roídos na parcela<br />

deixando a semente. Nas parcelas onde havia remoção de<br />

poucos frutos por noite eram observados restos de frutos<br />

roídos com pequenas marcas de incisivos, enquanto nas<br />

parcelas com 100% de remoção foram as parcelas onde foram<br />

registra<strong>da</strong>s as pega<strong>da</strong>s de paca e cutia, confirmando<br />

esse padrão de remoção.<br />

A utilização do substrato natural para registrar as pega<strong>da</strong>s<br />

<strong>da</strong>s espécies que removiam os frutos não mostrou bons<br />

resultados, pois na maioria <strong>da</strong>s parcelas o solo era argiloso<br />

e possuía uma alta granulação, atrapalhando o registro <strong>da</strong>s<br />

pega<strong>da</strong>s, consequentemente esse método só se mostrou<br />

adequado para espécies maiores como pacas e cutias.<br />

Recomen<strong>da</strong>-se que em estudos posteriores utilizem areia<br />

como substrato.<br />

A remoção de sementes em áreas de clareiras tem uma<br />

importância fun<strong>da</strong>mental, pois isso vai determinar como será<br />

a recolonização desta área. O conhecimento desses fatores<br />

pode ser fun<strong>da</strong>mental para entender os processos de<br />

regeneração de clareiras antrópicas.<br />

Agradecimentos<br />

Gostaria de agradecer aos coordenadores desse curso<br />

(Jansen e Dadão) e ao Juruna, que apesar de não entenderem<br />

muito de futebol, sempre foram presentes tanto nas horas<br />

sérias como nas horas de forrós, bregas e festas em geral e<br />

de extrema relevância para o bom an<strong>da</strong>mento do processo,<br />

além mostrar de forma completa o que é um pe<strong>da</strong>ço <strong>da</strong><br />

Amazônia. Também gostaria de agradecer aos professores<br />

convi<strong>da</strong>dos que foram ótimos.<br />

Em relação à esse estudo gostaria de agradecer ao George<br />

Camargo ( Palmeiras SEGUNDA DIVISÃO!!!!) que ajudou<br />

no trabalho de campo, além de tecer comentários sempre<br />

pertinentes durante as caminha<strong>da</strong>s.<br />

Ao Luiz e ao Flávio (Véio) que são ótimos amigos,<br />

mesmo sendo meio estranhos,<br />

À Janilce pelos “por quês???” e a Sylvia “mala” pela


eterna animação, com exceção <strong>da</strong>s palestras onde sempre<br />

estava ZZZZZZZ.....<br />

À Flaviana, Daniela e Carol pelos forrós maravilhos e<br />

bem acoxadinhos e pelo “esqueletos com esqueletos”<br />

À Carina pela conversa e por tentar proteger as plantinhas<br />

na minha frente<br />

Ao Josué “Rabo de porco” pela paciência com as<br />

brincadeiras<br />

Ao Marcelo “Pinguela” por ser um ótimo monitor e amigo<br />

para to<strong>da</strong>s as horas.<br />

À Paula por ser tão pragmática como legal e ter um ótimo<br />

gosto musical<br />

Ao Paulo que sempre foi muito engraçado e muito sábio.<br />

Ao Eduardo, Genimar, Ana Maria, Ana Paula, Guma,<br />

Patrícia eYumi pelos ótimos momentos durante esse um mês.<br />

E ao INPA pela possibili<strong>da</strong>de de realizar um curso de<br />

campo desse nível.<br />

Por último, agradeço as estrelas, as palmeiras e ao igarapé<br />

do km 41.<br />

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167-181.<br />

Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002 97


Abrigos de formigas e proteção contra herbivoria em<br />

Miconia cf. phanerostila (Melastomataceae)<br />

Introdução<br />

Uma grande quanti<strong>da</strong>de de evidências dá suporte à idéia<br />

de que, nas regiões tropicais, muitas formigas podem prover<br />

benefícios às plantas às quais estão associa<strong>da</strong>s (Benson<br />

1985). Uma <strong>da</strong>s mais estreitas associações entre plantas e<br />

formigas é o mirmecofitismo, no qual a planta apresenta<br />

domáceas, que são estruturas altamente especializa<strong>da</strong>s e<br />

utiliza<strong>da</strong>s por algumas espécies de formigas como locais<br />

para o estabelecimento de colônias (Hölldobler & Wilson<br />

1990). Numa relação de mutualismo, as formigas que<br />

utilizam as domáceas conferem às plantas hospedeiras<br />

proteção contra o ataque de herbívoros (Janzen 1966; Risch<br />

& Rickson 1981; Fonseca 1991; Agrawal 1998).<br />

Na Amazônia, a família Melastomataceae é a que possui<br />

o maior número de gêneros (5) de plantas mirmecófitas<br />

(Benson 1985). Nessa região, mesmo em espécies nãomirmecófitas<br />

podem ser encontra<strong>da</strong>s centenas de espécies<br />

de formigas generalistas nidificando ou forrageando sobre<br />

a planta (Benson 1985). Algumas dessas formigas podem<br />

ser prejudiciais às plantas (como as formigas cortadeiras),<br />

enquanto outras podem cui<strong>da</strong>r de lagartas e homópteros<br />

sugadores, construindo abrigos protetores para a ordenha<br />

de uma secreção açucara<strong>da</strong> produzi<strong>da</strong> por esses organismos,<br />

em especial coccídeos e membracídeos (Benson 1985).<br />

Esses abrigos, estruturalmente semelhantes às domáceas,<br />

podem ser encontrados em algumas espécies de<br />

Melastomataceae, tanto nas folhas quanto no caule. Uma<br />

<strong>da</strong>s espécies que apresentam esses abrigos é Miconia cf.<br />

phanerostila, uma planta comum em áreas abertas <strong>da</strong><br />

Amazônia Central (Ribeiro et al. 1999), cuja associação se<br />

dá principalmente com formigas do gênero Crematogaster<br />

sp. (Myrmicinae).<br />

Analogamente ao que ocorre com as domáceas<br />

ver<strong>da</strong>deiras, seria esperado que a presença <strong>da</strong>s formigas nos<br />

abrigos poderia conferir às plantas de M. cf. phanerostila<br />

algum nível de proteção contra o ataque de herbívoros,<br />

conforme hipotetizado por alguns autores (Benson 1985).<br />

Assim, os abrigos de formigas observados nas folhas dessa<br />

planta poderiam representar estruturas precursoras <strong>da</strong>s<br />

domáceas ver<strong>da</strong>deiras, indicando um possível caminho<br />

evolutivo para o surgimento <strong>da</strong>s mirmecófitas amazônicas<br />

(Benson 1985).<br />

Neste sentido, o objetivo deste trabalho foi testar se<br />

indivíduos de M. cf. phanerostila portadores de abrigos de<br />

formigas seriam protegidos contra os herbívoros. As<br />

hipóteses seriam as seguintes: i) a freqüência de ataque de<br />

formigas contra herbívoros deve ser maior em plantas com<br />

abrigos, ii) a freqüência de ataque de formigas contra os<br />

98 Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002<br />

Flaviana Maluf de Souza<br />

herbívoros deve ser a mesma em folhas com e sem abrigos<br />

na mesma planta e iii) a herbivoria deve ser menor em plantas<br />

com abrigos.<br />

Métodos<br />

Realizei este estudo na reserva do Km 41, pertencente<br />

ao Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos <strong>Floresta</strong>is<br />

(INPA/Smithsonian), a cerca de 70 Km ao norte de Manaus<br />

(2°30’S; 60°00’O). Conduzi o experimento ao longo <strong>da</strong> ZF-<br />

3, estra<strong>da</strong> de acesso à reserva, onde percorri 5,5 km<br />

selecionando pares de plantas de Miconia cf. phanerostila<br />

(Fig. 1A) com características semelhantes em relação ao<br />

tamanho e condições de luminosi<strong>da</strong>de, sempre com a menor<br />

distância possível entre indivíduos, de maneira que o<br />

experimento tivesse um delineamento pareado.<br />

Examinei as plantas cui<strong>da</strong>dosamente, registrando a<br />

existência ou não de abrigos para obter a freqüência de<br />

ocorrência dos mesmos nas plantas. De maneira geral, como<br />

a inspeção causava uma certa perturbação e alterava a<br />

ativi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s formigas, as plantas foram marca<strong>da</strong>s e o<br />

experimento realizado no dia seguinte ou após nova<br />

inspeção, dessa vez sem perturbar a ativi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s formigas.<br />

O experimento foi realizado considerando três grupos<br />

experimentais: em uma planta com abrigos, realizei o<br />

experimento em folhas com abrigos (tratamento) e folhas<br />

sem abrigos (controle 1). Procurei sempre selecionar a folha<br />

com o abrigo maior e melhor estruturado (às vezes os abrigos<br />

estavam abertos, ou ain<strong>da</strong> em formação, ou eram muito<br />

pequenos), selecionando na mesma planta uma folha com<br />

características semelhantes à <strong>da</strong> folha com o abrigo (i<strong>da</strong>de,<br />

tamanho e posição). Além de plantas com abrigos, realizei<br />

também o experimento em plantas sem abrigos (controle<br />

2), selecionando para isso uma folha semelhante ao par<br />

correspondente com abrigo. Ao todo, utilizei 30 pares de<br />

plantas.<br />

A primeira etapa do experimento consistiu em observar,<br />

durante um minuto, o número de formigas (e identificar<br />

morfoespécies ou espécies, sempre que possível)<br />

forrageando sobre as folhas seleciona<strong>da</strong>s. Dividi a folha<br />

virtualmente em três partes no sentido base-ápice (reportados<br />

de agora em diante como “terço proximal”, “terço mediano”<br />

e “terço distal”), partindo <strong>da</strong> hipótese de que as formigas<br />

construtoras de abrigos forrageariam principalmente a região<br />

próxima <strong>da</strong> base <strong>da</strong> folha, onde se localizam os abrigos.<br />

Além <strong>da</strong>s espécies de formigas forrageando sobre as folhas<br />

utiliza<strong>da</strong>s no experimento, também registrei as espécies que<br />

se encontravam em outras folhas ou no caule para uma<br />

descrição qualitativa, coletando as formigas para


identificação em laboratório.<br />

Para determinar a freqüência e o tempo de detecção de<br />

possíveis herbívoros pelas formigas utilizei cupins (Isoptera)<br />

como presas experimentais. A utilização de iscas de cupins<br />

em experimentos de campo para avaliar padrões de pre<strong>da</strong>ção<br />

de formigas tem sido descrita como um método bastante<br />

eficiente e funcional (Oliveira et al. 1987). Os cupins foram<br />

colados dorsalmente (vivos) com cola branca na região<br />

central <strong>da</strong> folha, simultaneamente no caso <strong>da</strong>s folhas com e<br />

sem abrigos. Após a colagem do cupim, cronometrei o tempo<br />

de detecção do cupim pelas formigas, considerando para<br />

tal o primeiro contato feito entre os dois. O tempo de<br />

observação foi de no máximo 5 minutos; após esse tempo,<br />

caso não houvesse contato entre a formiga e o cupim,<br />

considerei o herbívoro simulado como não-detectado e<br />

encerrei o experimento. Realizei os experimentos sempre<br />

<strong>da</strong>s 9:00h. às 16:00h., horário de maior ativi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s<br />

formigas.<br />

Após ca<strong>da</strong> teste, estimei o índice de herbivoria de uma<br />

média de 10 folhas, a partir de uma a<strong>da</strong>ptação do método<br />

proposto por Dirzo & Dominguez (1995), segundo as<br />

seguintes classes e respectivas porcentagens de herbivoria:<br />

classe 0=0-1%;classe 1=2-5%; classe 2=5-10%; classe<br />

3=10-15%; classe 4=15-20%;classe 5=20-30%; classe<br />

6=30-50%; classe 7=50-100%. O índice de herbivoria foi<br />

estimado a partir <strong>da</strong> seguinte equação:<br />

n<br />

IH =<br />

N<br />

∑<br />

i ∗<br />

i<br />

onde, IH = Índice de herbivoria; n i = número de folhas<br />

na classe i; i = classe; N = número total de folhas.<br />

Para as análises <strong>da</strong> freqüência de ataque <strong>da</strong>s<br />

formigas em folhas e plantas com e sem abrigos realizei um<br />

teste de Qui-quadrado. Para comparar o forrageamento de<br />

formigas tanto entre folhas/plantas quanto na mesma planta<br />

(entre as diferentes regiões <strong>da</strong> folha) utilizei um teste de<br />

Friedman. O grau de herbivoria entre as folhas e plantas<br />

com e sem abrigo foi comparado através do teste t. Para a<br />

comparação do número total de formigas forrageando sobre<br />

as folhas utilizei o teste de Wilcoxon.<br />

Resultados<br />

Ocorrência de abrigos de formigas em Miconia cf.<br />

phanerostila<br />

No trecho que percorri ao longo <strong>da</strong> estra<strong>da</strong> observei que<br />

tanto as plantas quanto a presença de abrigos ocorriam em<br />

manchas. Assim, ao longo de certos trechos <strong>da</strong> estra<strong>da</strong> era<br />

comum não encontrar nenhuma planta de M. cf.<br />

phanerostila, assim como encontrar um aglomerado de<br />

plantas com ou sem abrigos.<br />

A maioria <strong>da</strong>s plantas examina<strong>da</strong>s para a realização do<br />

experimento (69,4%) não apresentou abrigos, o que<br />

dificultou um pouco as buscas de plantas com características<br />

semelhantes para o pareamento, porém, sem comprometê-<br />

lo. Do total de 111 plantas observa<strong>da</strong>s, 21 (18,9%) possuíam<br />

abrigos grandes e outras 13 (11,7%) apresentaram abrigos<br />

pequenos ou ain<strong>da</strong> mal-formados, provavelmente em<br />

construção (Fig. 1B).<br />

A<br />

B<br />

C<br />

Figura 1. (A) Arvoreta de Miconia cf. phanerostila; (B)<br />

Detalhe de um abrigo em construção na face inferior <strong>da</strong><br />

folha; (C) Formigas (Azteca sp.) atacando o cupim usado<br />

como isca no experimento.<br />

Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002 99


Comuni<strong>da</strong>de de formigas associa<strong>da</strong> a Miconia cf.<br />

phanerostila<br />

Durante a realização dos experimentos observei apenas<br />

duas espécies de formigas diretamente associa<strong>da</strong>s a M. cf.<br />

phanerostila, isto é, responsáveis pela construção e<br />

utilização dos abrigos: Crematogaster sp. (Myrmicinae) e<br />

Azteca sp. (Dolichoderinae). Entre essas espécies,<br />

Crematogaster sp. foi a mais freqüente, tendo sido<br />

encontra<strong>da</strong> em 27 (90%) <strong>da</strong>s 30 plantas usa<strong>da</strong>s nos<br />

experimentos. A espécie Azteca sp. foi encontra<strong>da</strong> em quatro<br />

plantas (13,3%). Apenas uma vez registrei as duas espécies<br />

de formigas na mesma planta. É interessante notar que essas<br />

duas espécies apresentam comportamentos bastante<br />

distintos, sendo Azteca sp. muito mais agressiva do que<br />

Crematogaster sp. No caso de Azteca sp., em três <strong>da</strong>s quatro<br />

plantas em que foi encontra<strong>da</strong> o cupim foi detectado (Fig.<br />

1C). Já no caso de Crematogaster sp., a freqüência de<br />

ataques foi bastante inferior (cinco de 27 plantas analisa<strong>da</strong>s).<br />

Independentemente <strong>da</strong> existência dos abrigos, também<br />

observei Crematogaster sp. forrageando em plantas sem<br />

abrigos, embora o mesmo não tenha ocorrido com Azteca<br />

sp.<br />

Além <strong>da</strong>s espécies construtoras de abrigos, observei 19<br />

espécies forrageando sobre plantas com e sem abrigos, e<br />

que, por sua vez, também detectaram os cupins (Tab. 1). As<br />

análises que seguem foram realiza<strong>da</strong>s separa<strong>da</strong>mente para<br />

esses dois grupos: espécies construtoras e não construtoras<br />

de abrigos.<br />

Espécies construtoras de abrigos<br />

A freqüência de ataques de formigas construtoras de<br />

abrigos contra os cupins colocados nas folhas de M. cf.<br />

phanerostila não diferiu entre os grupos experimentais<br />

(c 2 =4,038; g.l.=2; p=0,133; n=30, Tab. 2). Entretanto, o<br />

forrageamento <strong>da</strong>s formigas foi diferente ao longo <strong>da</strong> folha<br />

(Friedman, c 2 =23,431; g.l.=8; p=0,003; n=30). A diferença<br />

foi observa<strong>da</strong> apenas em folhas com abrigos, sendo o<br />

forrageamento maior no terço proximal (Fig. 2, Tab. 3).<br />

No entanto, considerando o número total de formigas<br />

em ca<strong>da</strong> folha, não houve diferença significativa entre os<br />

grupos experimentais (Friedman, c 2 =4,667; g.l.=2; p=0,097;<br />

n=30).<br />

Espécies não-construtoras de abrigos<br />

A freqüência de ataque <strong>da</strong>s formigas não-construtoras<br />

de abrigos não diferiu entre os grupos experimentais<br />

(c2=2,756; g.l.=2; p=0,252; n=30, Tab. 2). O padrão de<br />

forrageamento foi semelhante ao observado para as espécies<br />

construtoras de abrigos, diferindo entre o terço proximal e<br />

as demais regiões <strong>da</strong> folha nas folhas com abrigos (c2=2,756;<br />

g.l.=2; p=0,252; n=30, Fig. 3, Tab. 3). Nas folhas sem<br />

abrigos, houve diferença apenas entre os terços proximal e<br />

mediano <strong>da</strong>s folhas (Tab. 3). Assim como observado para<br />

as formigas construtoras, o número total de formigas<br />

forrageando não diferiu entre os grupos experimentais<br />

(Friedman, c2=0,844; g.l.=2; p=0,656; n=30).<br />

100 Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002<br />

Tabela 1. Espécies de formigas observa<strong>da</strong>s forrageando e<br />

atacando os cupins em plantas de Miconia cf.<br />

phanerostila com e sem abrigos.<br />

Espécie Com<br />

abrigos<br />

Forragearam Atacaram<br />

Sem<br />

abrigos<br />

Com<br />

abrigos<br />

Sem<br />

abrigos<br />

Camponotus sp. 1 1 x x x x<br />

Camponotus sp. 2 1 x x<br />

Formicinae sp. 1 x x<br />

Gigantiops sp. 1 x<br />

Pseudomyrmex sp. 1 2 x x x<br />

Pseudomyrmex sp. 2 2 x<br />

Pseudomyrmex sp. 3 2 x<br />

Pheidole sp. 3 x x<br />

Myrmicinae sp. 2 3 x<br />

Cephalotes sp. 3 x x x<br />

Ectatomma sp. 4 x<br />

Dolichoderus sp. 5 x<br />

Morfoespécie 1 x<br />

Morfoespécie 2 x x<br />

Morfoespécie 3 x x<br />

Morfoespécie 4 x x<br />

Morfoespécie 5 x x<br />

Morfoespécie 6 x x<br />

Morfoespécie 7 x<br />

1 – Formicinae; 2 – Pseudomyrmicinae; 3 – Myrmicinae; 4 – Ponerinae.; 5 - Dolichoderinae<br />

Tabela 2. Porcentagem de folhas de Miconia cf.<br />

phanerostila onde houve ataque de formigas contra os<br />

cupins.<br />

Grupo experimental Construtoras (%) Não-construtoras (%) To<strong>da</strong>s (%)<br />

Folhas com abrigo 23,3 26,7 43,3<br />

Folhas sem abrigo 6,7 10,0 13,3<br />

Plantas sem abrigo 10,0 20,0 26,7<br />

8<br />

6<br />

4<br />

2<br />

0<br />

FS1 FS2 FS3 FC1 FC2 FC3 PS1 PS2 PS3<br />

Figura 2. Valores mínimos, máximos e mediana do<br />

número de formigas construtoras de abrigos forrageando<br />

sobre folhas de Miconia cf. phanerostila. FS = Folhas sem<br />

abrigo; FC = Folhas com abrigo; PS = Plantas sem abrigo.<br />

Os números seguintes às letras representam os locais de<br />

forrageamento nas folhas (1 = terço proximal; 2 = terço<br />

mediano; 3 = terço distal).


Tabela 3. Comparação do forrageamento de formigas<br />

construtoras e não-construtoras de abrigos em folhas de<br />

Miconia cf. phanerostila entre os grupos experimentais.<br />

FC = Folhas com abrigo; FS = Folhas sem abrigo; PS =<br />

Plantas sem abrigo. Os números seguintes às letras<br />

representam os locais de forrageamento nas folhas (1 =<br />

terço proximal; 2 = terço mediano; 3 = terço distal).<br />

Grupo<br />

Construtoras Não-construtoras<br />

experimental χ 2 p χ 2 p<br />

FC1 x FC2 8,000 0,005* 7,000 0,008*<br />

FC1 x FC3 5,444 0,020 8,000 0,005*<br />

FS1 x FS2 0,333 0,564 4,000 0,045*<br />

FS1 x FS3 0,333 0,564 2,667 0,102<br />

PS1 x PS2 0,333 0,564 3,000 0,083<br />

PS1 x PS3 0,333 0,564 2,667 0,102<br />

* Valores significativos a 95% de confiança.<br />

Análise geral<br />

Considerando o conjunto de espécies de formigas<br />

presentes nas folhas e plantas observa<strong>da</strong>s, sem distinção<br />

entre construtoras e não-construtoras de abrigos, a freqüência<br />

de ataques contra os cupins diferiu significativamente entre<br />

os grupos experimentais (c 2 =6,757; g.l.=2; p=0,034; n=30).<br />

As diferenças foram constata<strong>da</strong>s somente entre as folhas<br />

com e sem abrigos na mesma planta (c 2 =6,648; g.l.=1;<br />

p=0,010; n=30, Tab. 2). Considerando a planta como um<br />

todo (somando-se os ataques registrados nas folhas com e<br />

sem abrigos), a porcentagem de cupins atacados foi de 28,3%<br />

nas plantas com abrigos e 26,7% nas plantas sem abrigos<br />

(c 2 =0,028; g.l.=1; p=0,868; n=30, Tab. 2), não havendo<br />

diferenças significativas. O número total de formigas<br />

forrageando sobre as plantas também não diferiu entre as<br />

plantas com e sem abrigos (Z=1,851; g.l.=2; p=0,178; n=30).<br />

Número de formigas<br />

4,5<br />

3,5<br />

2,5<br />

1,5<br />

0,5<br />

-0,5<br />

FS1 FS2 FS3 FC1 FC2 FC3 PS1 PS2 PS3<br />

Grupos experimentais<br />

Figura 3. Valores mínimos, máximos e mediana do<br />

número de formigas não construtoras de abrigos<br />

forrageando sobre folhas de Miconia cf. phanerostila. FS =<br />

Folhas sem abrigo; FC = Folhas com abrigo; PS = Planta<br />

sem abrigo. Os números seguintes às letras representam<br />

os locais de forrageamento nas folhas (1 = terço proximal;<br />

2 = terço mediano; 3 = terço distal).<br />

Herbivoria<br />

Dentro de uma mesma planta (folhas com e sem abrigos),<br />

o índice de herbivoria não diferiu (t=-1,852; g.l.=29;<br />

p=0,074; n=30). Porém, o índice de herbivoria foi cerca de<br />

30% maior em plantas sem abrigos quando comparado a<br />

plantas com abrigos (t=-2,481; g.l.=29; p=0,019; n=30,<br />

Figura 4).<br />

Índice de herbivoria<br />

2,6<br />

2,2<br />

1,8<br />

1,4<br />

1,0<br />

0,6<br />

0,2<br />

Com Sem<br />

Presença de abrigos<br />

Figura 4. Índice de herbivoria em plantas de Miconia cf.<br />

phanerostila com e sem abrigos de formigas. A caixa<br />

maior contém 50% <strong>da</strong>s observações, a caixa menor<br />

representa a mediana e as barras representam a amplitude<br />

dos <strong>da</strong>dos.<br />

Discussão<br />

De maneira geral, os resultados sugerem que as formigas<br />

associa<strong>da</strong>s aos abrigos em plantas de Miconia cf.<br />

phanerostila não são as responsáveis pelo menor grau de<br />

herbivoria registrado nas plantas com abrigos. Isto difere<br />

<strong>da</strong>s hipóteses iniciais de que, analogamente ao que ocorre<br />

em plantas mirmecófitas, haveria uma relação mutualística<br />

entre as formigas e a planta hospedeira, na qual as formigas<br />

construtoras de abrigos protegeriam-na de possíveis<br />

herbívoros em troca de local para abrigo.<br />

Segundo as minhas expectativas, a freqüência de ataque<br />

<strong>da</strong>s formigas construtoras de ninhos seria maior em plantas<br />

com abrigos, não diferindo entre folhas com e sem abrigos<br />

na mesma planta, supondo que haveria uma função de<br />

proteção generaliza<strong>da</strong> para to<strong>da</strong> a planta. Porém, nem a<br />

freqüência de ataque nem o número total de formigas<br />

forrageando sobre a planta diferiram entre folhas ou plantas<br />

com e sem abrigos, fazendo supor que outros fatores devem<br />

ser os responsáveis pela maior herbivoria constata<strong>da</strong> em<br />

plantas sem abrigos. A baixa freqüência de plantas<br />

encontra<strong>da</strong>s com abrigos também permite inferir que a<br />

relação entre a planta e a formiga pode ser facultativa ou<br />

oportunista (Beattie 1985, apud Vasconcelos & Davidson<br />

2000).<br />

É fato porém, que as escalas de tempo <strong>da</strong> ocorrência<br />

desses dois processos (ataque e proteção contra herbívoros)<br />

são diferentes, o que poderia mascarar a detecção de uma<br />

relação de causa e efeito. Essas diferenças nas escalas de<br />

Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002 101


avaliação dos processos em pesquisas científicas são, apesar<br />

de equivoca<strong>da</strong>s, bastante comuns, principalmente por<br />

limitações nas possibili<strong>da</strong>des de condução de estudos de<br />

longo prazo (Kobe 1999). Assim, muitas vezes tenta-se<br />

correlacionar eventos presentes (no caso, ataque de<br />

formigas) com respostas que ocorrem numa outra escala<br />

temporal (herbivoria acumula<strong>da</strong>). De qualquer modo, é<br />

preciso discutir esses aspectos de maneira a tentar<br />

compreender quais os fatores associados aos processos e as<br />

escalas em que estariam ocorrendo possíveis interações.<br />

O padrão de forrageamento observado nas folhas com<br />

abrigos também dá suporte à idéia de que a relação de<br />

proteção <strong>da</strong> planta pela formiga não é forte. As formigas<br />

adotam homópteros para garantir uma fonte segura de<br />

alimento (Wilson 1971), construindo abrigos e exercendo<br />

uma importante função de proteção <strong>da</strong>s ninfas contra seus<br />

inimigos naturais (Del-Claro & Oliveira 2000). Esses<br />

organismos são fitófagos (Borror & De Long 1969) e, em<br />

geral, sugam o floema e excretam uma solução rica em<br />

carboidratos <strong>da</strong> qual as formigas se alimentam (Del-Claro<br />

& Oliveira 2000). Como conseqüência <strong>da</strong> agregação de<br />

homópteros nas regiões de maior produtivi<strong>da</strong>de de seiva na<br />

planta, como o meristema apical e a nervura principal<br />

(Benson 1985; Del-Claro & Oliveira 2000), os abrigos de<br />

formigas em M. cf. phanerostila são encontrados<br />

predominantemente nessas regiões. O maior forrageamento<br />

registrado nessa região <strong>da</strong> folha (terço proximal) indica que<br />

as formigas concentram suas ativi<strong>da</strong>des nesses locais,<br />

dispendendo a maior parte do tempo ordenhando os<br />

homópteros e pouco tempo forrageando sobre a superfície<br />

foliar. Diferentemente do que ocorre em plantas com<br />

nectários extraflorais distribuídos por to<strong>da</strong> a folha, como<br />

em algumas espécies de Inga (Mimosaceae), em M. cf.<br />

phanerostila as formigas caminham menos pela planta<br />

(nota<strong>da</strong>mente Crematogaster sp.), diminuindo a<br />

probabili<strong>da</strong>de de encontro com um herbívoro e exercendo<br />

assim, pouca ativi<strong>da</strong>de de proteção.<br />

A concentração <strong>da</strong>s formigas em função <strong>da</strong> presença de<br />

homópteros e suprimento alimentar pode ser o principal<br />

componente <strong>da</strong> associação entre as formigas e M. cf.<br />

phanerostila, sugerindo que essa relação não é mutualística.<br />

Assim, parece que os homópteros têm uma relação de<br />

parasitismo com a planta, e as formigas, uma relação de<br />

mutualismo com os homópteros, não conferindo proteção<br />

efetiva à planta.<br />

A espécie de formiga mais freqüentemente associa<strong>da</strong> aos<br />

ninhos em M. cf. phanerostila (Crematogaster sp.) não<br />

apresenta um comportamento muito agressivo (Benson<br />

1985), em oposição ao comportamento <strong>da</strong> espécie menos<br />

comum (Azteca sp.). Desse modo, também pareceria pouco<br />

vantajoso para a planta desenvolver um sistema<br />

especializado para abrigar as Crematogaster sp., já que sua<br />

eficiência de ataque contra herbívoros é baixa.<br />

Outras espécies oportunistas encontra<strong>da</strong>s nas plantas de<br />

M. cf. phanerostila atuaram de maneira semelhante às<br />

102 Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002<br />

espécies construtoras de ninhos, mostrando que não há<br />

realmente uma especifici<strong>da</strong>de na ação de proteção à planta.<br />

As formigas oportunistas forrageiam sobre as folhas em<br />

grande número procurando presas (Hölldobler & Wilson<br />

1990) e, eventualmente, agem contra possíveis herbívoros,<br />

com a mesma freqüência e às vezes mais efetivamente do<br />

que as espécies construtoras de abrigos. Em todos os<br />

experimentos realizados, poucas vezes indivíduos de<br />

Crematogaster sp. recrutaram outras formigas e retiraram o<br />

cupim <strong>da</strong> folha, sendo esse procedimento muito mais comum<br />

entre as Azteca sp. e as Pseudomyrmex sp. (observações<br />

pessoais). A riqueza de espécies de formigas observa<strong>da</strong>s<br />

forrageando sobre M. cf. phanerostila deve estar associa<strong>da</strong><br />

ao tamanho <strong>da</strong>s plantas (Vasconcelos & Davidson 2000) ou<br />

à maior disponibili<strong>da</strong>de de recursos alimentares (secreção<br />

dos homópteros) nas folhas com abrigos.<br />

A ocorrência esporádica de Crematogaster sp. em plantas<br />

mirmecófitas ver<strong>da</strong>deiras sugere que essa espécie de formiga<br />

é, na maioria dos casos, uma colonizadora tardia e<br />

desempenha um papel menor na evolução <strong>da</strong>s mirmecófitas<br />

amazônicas (Benson 1985). Assim, os abrigos de formigas<br />

em M.cf. phanerostila, diferentemente do que se imaginava,<br />

não são estruturas funcionalmente análogas e não podem<br />

ser considera<strong>da</strong>s precursoras na evolução <strong>da</strong>s domáceas.<br />

Agradecimentos<br />

À dupla dinâmica, Dadão e Jansen, pela brilhante idéia e<br />

coragem de realizar esta segun<strong>da</strong> edição do curso, nos<br />

proporcionando um mês inesquecível nesta terra de gigantes.<br />

Obriga<strong>da</strong> também pela overdose de conhecimento e de boas<br />

idéias, e pelo bom exemplo de como estu<strong>da</strong>r e bem viver na<br />

“tropical rain forest”. Ao Glauco, por me contagiar com<br />

seu entusiasmo, despertando em mim o interesse pelos<br />

pequenos seres móveis. Também pela aju<strong>da</strong> “play” que deu<br />

no projeto (muitos dez reais + o dinheiro do busão) e por<br />

compartilhar comigo as horas sob o sol na observação <strong>da</strong>s<br />

formigas. Ao Jansen, pela sua fun<strong>da</strong>mental aju<strong>da</strong> e agradável<br />

companhia nos últimos dias de coleta, fazendo com que<br />

conseguíssemos atingir a meta do cabalístico “n=30”. Ao<br />

Paulo De Marco, pela sua doçura e pela clareza com que<br />

me ensinou estatística, e obviamente, pelo computador, que<br />

usei como se fosse meu. Ao Marcelo “Pinguela”, amigo<br />

pica-pau, por sua alegria e disposição de sempre aju<strong>da</strong>r. Ao<br />

Juruna, por to<strong>da</strong> a força durante os projetos, e pela paciência<br />

com que sempre respondeu à incansável pergunta: “que<br />

espécie é essa?”. A todo o pessoal <strong>da</strong> organização do curso,<br />

por fazer tudo funcionar bem, e a São Pedro, que deu uma<br />

forcinha para fazer com que tudo (e todos) mofassem menos.<br />

A todos os professores do curso, por tanta informação e<br />

boas discussões, além é claro pelas risa<strong>da</strong>s, pia<strong>da</strong>s, sambas,<br />

bregas e etc. Por fim, a to<strong>da</strong> a galera do curso, pelo convívio<br />

infinitamente agradável e pela alegria, em especial à Sylvia,<br />

“Vanilla”, Ana Paula e Paula pelo alto-astral, e aos meninos<br />

George, André e Luís, pelos deliciosos bregas e forrós.<br />

Depois do banho no Negro e do jaraqui, só me restará voltar.


Referências bibliográficas<br />

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Cambridge, Inglaterra.<br />

Frecuencia de vocalizaciones de guariba Alouatta<br />

seniculus en una Selva de tierra-firme, Reserva Km 41,<br />

Amazonía Central, AM, Brasil<br />

Introducción<br />

Las vocalizaciones de los primates tienen diversas<br />

funciones que permiten una comunicación efectiva a<br />

distancia. Estos llamados tienen comúnmente patrones<br />

estereotipados y repetidos (Cherry 1957; Marler 1973).<br />

Estas vocalizaciones son parte de una conducta natural de<br />

estos animales, se ha interpretado a las vocalizaciones como<br />

una delimitación del territorio y probablemente para evitar<br />

enfrentamientos agresivos entre grupos. Los animales usan<br />

esta vocalización generalmente temprano en la mañana<br />

cuando los gradientes de temperatura dentro y encima de la<br />

selva crean condiciones óptimas para <strong>da</strong>r un alcance largo<br />

de la prolongación del sonido en el dosel bajo (Waser &<br />

Waser 1977, Marler et.al; 19977; Wiley 1978; Whitehead<br />

1987).<br />

Entre primates Neotropicales el genero con<br />

vocalizaciones mas prominentes es Alouatta spp, to<strong>da</strong>s estas<br />

Patricia García Tello<br />

especies comparten la característica de emitir potentes<br />

vocalizaciones que se pueden escuchar a centenares de<br />

metros. El género Alouatta pertenece a la subfamilia<br />

Allouatinae, familia Cebi<strong>da</strong>e, está representado por seis<br />

especies y su rango de distribución va desde el estado de<br />

Veracruz México, hasta el norte de Argentina. Son<br />

encontrados en selvas hume<strong>da</strong>s de la Amazonia y América<br />

central.(Eisenberg; 1989). Los guariba, Alouatta seniculus,<br />

tienen como habitat la floresta tropical del Norte del rio<br />

Amazonas y oeste del rio Madera (Neves 1985).<br />

Estas vocalizaciones tan peculiares son produci<strong>da</strong>s<br />

gracias a que poseen el hueso hioide muy desarrollado en<br />

relación a otras especies de primates (Schön Ybarra 1986).<br />

Este hueso actúa como una camara de resonancia cuando<br />

estos primates producen sus caracteristicos llamados y es<br />

mas grande en los machos que en las hembras (Crockett &<br />

Einsenberg 1987). Las vocalizaciones las podemos<br />

Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002 103


diferenciar por rugidos y ladridos. Los rugidos son<br />

vocalizaciones prolonga<strong>da</strong>s y los ladridos son<br />

vocalizaciones cortas y repeti<strong>da</strong>s, ambas se escuchan a<br />

grandes distancias ( Di Pierro 2001).<br />

Sekulic & Chivers (1985) analizaron el promedio de<br />

duración de las vocalizaciones individuales de Alouatta<br />

seniculus y A. palliata. Encontraron que el promedio de<br />

duración de A. palliata fue de 3.5 segundos y el intervalo<br />

entre llamados fue de 20 segundos, mientras que en A.<br />

seniculus el promedio fue de 19 segundos y el intervalo de<br />

3 segundos. Tambien encontraron que durante los coros de<br />

la mañana el total de duración de las vocalizaciones en A.<br />

seniculus fue 10 veces mayor que en A. palliata.<br />

El objetivo de este trabajo es tratar de conocer la<br />

frecuencia de vocalizaciones a lo largo del día, en guariba<br />

A. seniculus . En A. pigra se sabe que cuando un grupo<br />

emite vocalizaciónes, este recibe respuesta por otros grupos.<br />

esto se ha interpretado como una delimitación de territorio<br />

y probablemente también para evitar enfrentamientos<br />

agresivos con otros grupos. En A. seniculus no se ha<br />

estudiado este patrón, por lo que es importante llevarlo a<br />

cabo.<br />

Métodos<br />

Realicé este estudio en la Reserva Km 41, del Proyecto<br />

Dinamica Biológica de Fragmentos Forestales (<strong>PDBFF</strong>)<br />

localiza<strong>da</strong> a 70 km al. Noroeste de la ciu<strong>da</strong>d de Manaus<br />

(2°24’S; 55° 44’W). La temperatura media anual es de 27°C<br />

y una precipitación aproxima<strong>da</strong> de 2300 mm anual<br />

(Ra<strong>da</strong>mbrasil, 1978). El clíma en la estación científica es<br />

clasificado según el sistema de Köppen (1936) como: clíma<br />

húmedo de monzón, (Nee 1995).<br />

La vegetación al rededor de la estación es selva de tierra<br />

firme original con una heterogenei<strong>da</strong>d de paisajes como<br />

consecuencia de variaciones topográficas. La floresta de<br />

“platô”, úbica<strong>da</strong> en áreas altas presenta dosel alto (35-40m),<br />

se caracteriza por una alta biomasa y subbosque dominado<br />

por palmeras acaules. La floresta de “vertiente”: localizado<br />

en áreas colinosas y disecta<strong>da</strong>s, presenta un dosel medio<br />

(25-35m) y vegetación de transición. La floresta de “baixio”,<br />

localiza<strong>da</strong> en las planicies aluviales a lo largo de igarapés<br />

(quebra<strong>da</strong>s de aguas negras), presenta un dosel medio (20-<br />

35m) y se caracteriza por la abun<strong>da</strong>ncia de palmeras como<br />

Oenocarpus bataua y Mauritia flexuosa (Ribeiro et<br />

al.1999).<br />

Los bosques de la reserva, son considerados uno de las<br />

áreas con mayor riqueza arborea con cerca de 1300 especies<br />

en al menos 64 familias (Bruna 2001).<br />

Registré las vocalizaciones de los guaribas por medio<br />

del método de observación contina escucha<strong>da</strong>s a lo largo<br />

del día, durante seis dias consecutivos, las observaciones se<br />

hicierón en intervalos fijos de dos horas por la mañana (4 a<br />

6) y dos horas por la tarde (17 a 19) horas, sin dejar de<br />

registrar las vocalizaciones igualmente ditribui<strong>da</strong>s a lo largo<br />

del día y de la noche fuera de este horario. Evalué el área<br />

104 Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002<br />

para tener sitios que permitieran tener una referencia de la<br />

dirección en la cual estaban gritando los guaribas y mayor<br />

percepción del sonido. Para tomar estas direcciones use una<br />

brujula y tomé los grados en dirección a las vocalizaciones<br />

esto para saber si se trataba del mismo grupo o era grupo<br />

diferente. Los <strong>da</strong>tos que se tomaron en el momento que se<br />

escuchaban estas vocalizaciones son: fecha, hora inicial,<br />

hora final de la vocalización y dirección.<br />

Resultados<br />

Los resultados obtenidos muestran que podemos observar<br />

que hay dos picos de eventos de vocalización uno en la<br />

mañana, (4 a 6 a.m.) y otro por la tarde (15 a 17). horas.<br />

Ahunque hay que señalar que la frecuencia con la que gritan<br />

los guaribas es mayor en la mañana (fig.1). Por otro lado<br />

con los <strong>da</strong>tos obtenidos tambien podemos diferenciar los<br />

grupos existentes en el área o por lo menos los que se<br />

pudieron registrer en este estudio, com respecto a los eventos<br />

de vocalización entre grupos observamos que no varia<br />

mucho (ver tabla 1). La tabla unicamente muestra las horas<br />

en las que se escucho gritar a los grupos, los grupos fueron<br />

determinados tomando en cuenta las direcciones a las que<br />

se encontraban, se tomó como grupo uno el que se<br />

encontraba de 160º a 180º y el grupo dos el que se encontraba<br />

en dirección de 275º a 290º.<br />

TIEMPO DE DURACIÓN (minutos)<br />

12<br />

10<br />

8<br />

6<br />

4<br />

2<br />

0<br />

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24<br />

HORA<br />

Figura 1. Duración de vocalización de guariba, hora en la<br />

que vocalizaron contra tiempo de duración(minutos).<br />

Tabla 1. Muestra la hora a la que se registro la<br />

vocalización, los eventos por vocalización y los grupos.<br />

Hora eventos de voc. Eventos por grupo 1 Eventos por gurpo 2<br />

0/2 3 3 0<br />

2/4 3 2 1<br />

4/6 10 10 12<br />

6/8 13 2 0<br />

8/10 1 0 0<br />

10/12 3 2 0<br />

12/14 0 0 0<br />

14/16 4 0 4<br />

16/18 4 0 4<br />

18/20 0 0 0<br />

20/22 0 0 0<br />

22/24 0 0 0<br />

Total 41 19 21<br />

Media 1,58 1,75


Discución<br />

Crockett & Eiserberg (1987) mencionan que una posible<br />

funcion de las vocalizaciones de Alouatta es proveer<br />

información acerca de la composición del grupo que<br />

generalmente se integra por macho, hembra y crias ahunque<br />

en ocasiones podemos observar mas de un macho en el<br />

mismo grupo. Es por esto que la presencia de un número<br />

relativamente grande de machos revelado por las<br />

vocalizaciones puede disuadir a los machos de otros grupos<br />

de intentar invadir su territorio. Estos autores sugieren<br />

también que la frecuencia con la que ocurren estos llamados<br />

generalmente es mayor al amanecer. Sin embargo la<br />

detección de otros grupos de monos puede estimular las<br />

vocalizaciones a cualquier hora del día. Mencionan también<br />

que los llamados durante el día son <strong>da</strong>dos en el contexto de<br />

interacciones entre tropas vecinas, con áreas de acción que<br />

se sobrelapan parcialmente.<br />

Se supone que los guaribas tambien gritan para delimitar<br />

territorio, este supuesto puede ser la causa por la cual<br />

observamos mayor vocalizacion por la mañana. Otro<br />

supuesto puede ser para avisar a los demas miembros del<br />

grupo la presencia de algun depre<strong>da</strong>dor tanto diurno como<br />

nocturno.<br />

Nuestros resultados muestra un pico de vocalización por<br />

la tarde, el cual se puede asociar a que la activi<strong>da</strong>d que estan<br />

realizando en ese momento es que estan defendiendo un<br />

recurso o para indicar los sitios que van a útilizar como<br />

dormitorios (Neves,1985).<br />

Este estudio fue unicamente para tratar de conocer la<br />

frecuencia de vocalizaciones de los guaribas (Alouatta<br />

seniculus), se encontro el mismo patrón obsevado por Di<br />

Pierro (2001) en el género A. pigra, sin embargo no fué<br />

posible hacer la comparación entre grupos debido a que en<br />

este estudio se obtuvieron muy pocos resultados en cuanto<br />

a los grupos.<br />

Se recomien<strong>da</strong> ampliar este estudio tratando de localizar<br />

los grupos para registrar los patrones de activi<strong>da</strong>d<br />

(vocalizaciones) y conocer mejor cuales son las causas de<br />

esta conducta.<br />

Agradecimientos<br />

Antes que na<strong>da</strong> quiero agradecer a Proyecto Dinamica<br />

Biológica de Fragmentos <strong>Floresta</strong>s (INPA) por <strong>da</strong>rme la<br />

oportuni<strong>da</strong>d de compartir esta experiencia, a Juruna por su<br />

compañia en la busque<strong>da</strong> de los grupos, a Wilson y Paulo<br />

por sus comentarios y sujerencias y por último a mis<br />

compañeritos del curso que me avisaban cuando escuchaban<br />

algún grupo gritar, especialmente a Vanina que se tomaba<br />

el tiempo de ir a despertarme cuando yo no los escuchaba,<br />

gracias a todos.<br />

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Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002 105


Comportamento territorial de Chalcopteryx scintilans<br />

(Odonata:Polythori<strong>da</strong>e)<br />

Introdução<br />

O comportamento reprodutivo <strong>da</strong> ordem Odonata pode<br />

ser classificado em dois sistemas básicos: i) um sistema com<br />

defesa de um recurso, geralmente, necessário para a fêmea<br />

colocar seus ovos ou ii) um sistema sem defesa de um recurso<br />

(Battin 1993). Os sistemas baseados na defesa de recursos<br />

podem ain<strong>da</strong> ser subdivididos em: i) limitação do recurso,<br />

onde os recursos tornam os encontros entre machos e fêmeas<br />

previsíveis, mas os machos não conseguem monopolizá-lo<br />

e ii) controle do recurso, no qual alguns machos conseguem<br />

monopolizar os recursos, em geral através <strong>da</strong> defesa de um<br />

território, aumentando as chances de cópula (Battin 1993).<br />

O grau de residência ou o comportamento do macho de<br />

defender o mesmo território dia após dia pode ser bastante<br />

diversificado, variando entre espécies ou dentro de uma<br />

mesma espécie, em função de variáveis como i<strong>da</strong>de ou<br />

tamanho corporal (Stoks 2000).<br />

A família Polythori<strong>da</strong>e é considera<strong>da</strong> grupo irmão <strong>da</strong><br />

família Calopterygi<strong>da</strong>e (Resh & Solom 1984). A despeito<br />

do fato de Polythori<strong>da</strong>e ser uma família pouco conheci<strong>da</strong>,<br />

muitas espécies de Calopterygi<strong>da</strong>e já tiveram seu<br />

comportamento bastante estu<strong>da</strong>do. O comportamento territorial<br />

destas espécies envolve, em geral, vôos elaborados e<br />

exibições que sinalizam algum tipo de assimetria entre os<br />

machos (Waage 1988). Esse tipo de sinalização pode<br />

envolver algum tipo de coloração diferencia<strong>da</strong> entre machos<br />

ou apenas comportamentos de exibição dentro dos<br />

territórios. Machos de Calopteryx maculata, por exemplo,<br />

quando mais magros apresentam uma coloração diferente<br />

de machos mais bem nutridos e esta coloração está<br />

diretamente relaciona<strong>da</strong> à capaci<strong>da</strong>de do macho de manter<br />

um território (Fitztephens & Getty 2000).<br />

Principalmente nos sistemas baseados no controle dos<br />

recursos, onde as interações agonísticas entre machos<br />

tendem a ser muito freqüentes, a sinalização pode assumir<br />

um papel importante na resolução de conflitos entre machos<br />

competidores (Hurd & Ydenberg 1996). Ela deve ser<br />

uma estratégia evolutivamente estável em função <strong>da</strong><br />

vantagem mútua dos dois contestantes em minimizar o<br />

desgaste e as injúrias resultantes de disputas territoriais<br />

(Johnstone & Norris 1993).<br />

Chalcopteryx scintilans (Polythori<strong>da</strong>e) é uma espécie<br />

associa<strong>da</strong> a regiões de mata contínua, comum na região <strong>da</strong><br />

Amazônia Central (De Marco com. pess.). É uma espécie<br />

de tamanho corporal pequeno, com coloração críptica,<br />

exceto pelas asas. Machos e fêmeas apresentam coloração<br />

preta no tórax e abdômen. A face inferior <strong>da</strong>s asa posteriores<br />

também é preta, enquanto a face superior apresenta uma<br />

coloração acobrea<strong>da</strong> bastante conspícua, principalmente na<br />

106 Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002<br />

Daniela Chaves Resende<br />

presença de luz.<br />

O objetivo deste trabalho foi realizar uma descrição do<br />

comportamento de defesa territorial de C. scintilans e<br />

determinar: i) se os machos são residentes, ou seja, se<br />

defendem o mesmo território dia após dia, ii) quais<br />

características ambientais estão associa<strong>da</strong>s aos territórios<br />

defendidos, iii) se há disputas territoriais ou algum tipo de<br />

interação agonística entre os machos e iv) se os machos<br />

utilizam algum tipo de sinalização entre eles durante a<br />

permanência no território.<br />

Métodos<br />

Realizei este estudo em um igarapé na Reserva do Km<br />

41, região <strong>da</strong> Amazônia Central (02 0 24’S; 59 0 44’O). A<br />

reserva se localiza a cerca de 70 km a nordeste de Manaus<br />

(AM) em uma mata de terra firme. As altitudes variam entre<br />

50 e 150m acima do nível do mar e o solo predominante<br />

é o latossolo amarelo (Lovejoy & Bierregaard 1990). A<br />

temperatura média é de 26,7 0 C e a pluviosi<strong>da</strong>de é de no<br />

mínimo 300 mm nos meses mais secos.<br />

Durante quatro dias eu acompanhei 15 sítios onde foram<br />

encontrados machos de C. scintilans e estudei o<br />

comportamento de defesa de territórios, no horário entre<br />

10:00 e 14:00 h. Capturei e individualizei 34 machos, através<br />

de um número de identificação na asa feito com caneta de<br />

retroprojetor, anotando em planilha o local onde ca<strong>da</strong> macho<br />

foi capturado. Nos dias seguintes, monitorei os 15 locais<br />

de estudo, registrando os machos recapturados e o local <strong>da</strong><br />

recaptura, com exceção do último dia quando concentrei<br />

minhas observações em um único ponto na tentativa de<br />

observar algum evento de cópula.<br />

Observei o comportamento <strong>da</strong> espécie durante a defesa<br />

de territórios foi observado através do método “animal focal”<br />

(Altmann 1974), no qual a uni<strong>da</strong>de amostral é a<br />

seqüência de comportamentos realiza<strong>da</strong> por um indivíduo<br />

durante um período de tempo de observação, neste caso, 20<br />

minutos. Posteriormente, computei o tempo total gasto em<br />

ca<strong>da</strong> comportamento.<br />

Classifique os comportamentos em:<br />

- exibições: quando o macho, pousado, abaixava as<br />

asas exibindo a coloração interna metálica <strong>da</strong>s asas<br />

posteriores;<br />

- patrulha: vôo em torno <strong>da</strong> área ao redor do poleiro<br />

utilizado pelo macho;<br />

- interação: interação entre os machos coespecíficos;<br />

Caracterizei o território defendido por ca<strong>da</strong> um dos machos<br />

observados registrando: i) o número de machos e<br />

fêmeas presentes e iii) a presença de luz, folhiço, areia,<br />

troncos de árvores caídos na água e de vegetação dentro do


sítio de defesa (Bromeliaceae e Rapateaceae). Discriminei<br />

a presença de troncos e de vegetação em função <strong>da</strong><br />

possibili<strong>da</strong>de de serem usados como um substrato para<br />

postura dos ovos. Essas características descritas foram<br />

associa<strong>da</strong>s à persistência do macho no território, ou seja, se<br />

o macho permaneceu no território durante os 20 minutos de<br />

observação de comportamento.<br />

Para avaliar as características associa<strong>da</strong>s aos territórios<br />

defendidos pelos machos realizei testes exatos de Fisher,<br />

analisando a relação entre a persistência do macho e ca<strong>da</strong><br />

uma <strong>da</strong>s variáveis estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s. Para testar se os machos<br />

defendem territórios e se as exibições são um tipo de<br />

sinalização entre machos realizei análises de regressão entre<br />

o tempo gasto com disputas e patrulha dos territórios e o<br />

número de machos no sítio e entre o número de exibições<br />

realiza<strong>da</strong>s pelos machos e o número de machos no sítio.<br />

Resultados<br />

Os machos de Chalcopteryx scintilans são residentes.<br />

Do total de 34 machos marcados, recapturei 17. Dentre estes,<br />

apenas dois mu<strong>da</strong>ram de sítio de defesa de território (Tab.<br />

I). Os sítios de defesa de territórios distavam em média 10,4<br />

m, apresentando uma amplitude de 3,5 a 22 m. A abundância<br />

de fêmeas nesta espécie parece ser muito baixa e observei<br />

uma única fêmea em um sítio de defesa de territórios. A<br />

distribuição dos machos ao longo dos sítios de defesa de<br />

territórios não foi uniforme, variando de um a cinco<br />

indivíduos.<br />

Tabela I. Resumo dos <strong>da</strong>dos de captura e recaptura de<br />

machos de Chalcopterys scintilans na Reserva do Km 41<br />

durante cinco dias de estudo. Considerei que um<br />

indivíduo permaneceu no território quando ele foi<br />

recapturado no mesmo sítio <strong>da</strong> observação anterior. *Os<br />

<strong>da</strong>dos do dia 28/11/02 se referem a apenas um sítio de<br />

defesa territorial.<br />

Data Número de Número de recapturas Indivíduos que permaneceram<br />

capturas (intervalo de dias desde a captura)<br />

no mesmo sítio<br />

24/11/02 13 - -<br />

25/11/02 7 4 (1) 4<br />

26/11/02 12 2 (1); 3(2) 3<br />

27/11/02 3 2 (1); 6 (2); 5(3) 13<br />

28/11/02* 0 1(2); 2 (3) 3<br />

A presença de troncos de árvores caídos foi importante<br />

para a persistência dos machos em seus territórios (Teste<br />

exato de Fisher ; c 2 =10,03; N=22; p=0,01; Tab. II). As<br />

demais características analisa<strong>da</strong>s, como presença de folhiço<br />

(Teste exato de Fisher; c 2 =0,46; N=22; p=0,48), presença<br />

de areia (Teste exato de Fisher; c 2 =0,36; N=22; p=1,00),<br />

presença de luz (Teste exato de Fisher; c 2 =0,82; N=22;<br />

p=1,00), presença de bromélias (Teste exato de Fisher;<br />

c 2 =0,11; N=22; p=0,98) e presença de Rapateaceae (Teste<br />

exato de Fisher; c 2 =2,85; N=22; p=0,25) não influenciaram<br />

a persistência do macho no território (Tab. II).<br />

Tabela II. Características ambientais observa<strong>da</strong>s nos<br />

sítios de defesa de territórios de machos de C. scintilans<br />

e probabili<strong>da</strong>de de persistência do macho no território<br />

(N=22). O valores entre parênteses se referem à<br />

porcentagem de persistência.<br />

Características dos territórios<br />

Número de machos que permaneceram no território<br />

Ausência Presença<br />

Tronco 1 (25) 16 (94,1)<br />

Folhiço 2 (66.7) 15 (83,3)<br />

Areia 10 (76,9) 7 (87.5)<br />

Luz 3 (100) 14 (77.8)<br />

Bromeliaceae 14 (82) 3 (75)<br />

Rapateaceae 5 (62.5) 12 (92.3)<br />

O comportamento de defesa de territórios dos machos<br />

desta espécie consiste de uma série de manobras de vôos,<br />

onde um macho se posiciona na frente dos outros e flexiona<br />

as asas posteriores amplamente para baixo exibindo a<br />

coloração interna acobrea<strong>da</strong>. Durante as interações um<br />

macho permanece tentando deslocar o outro para trás e este<br />

comportamento gera um movimento de vai-e-vem contínuo.<br />

Estes vôos podiam ocorrer a poucos centímetros <strong>da</strong> lâmina<br />

d’água ou a cerca de 3 m de altura. Observei um total de 52<br />

interações e elas foram bastante diversifica<strong>da</strong>s envolvendo<br />

de 2 a 4 machos e com duração média de 21 s (DP= 126,9 s;<br />

amplitude = 2 a 780 s).<br />

O tempo gasto pelos machos nas interações agressivas<br />

foi maior a medi<strong>da</strong> que o número de machos presentes nos<br />

sítios aumentou (F 1,20 =7,59; p=0,01, R 2 =0,28; Fig. 1). Já a<br />

proporção de tempo gasto em patrulha dos territórios não<br />

foi afeta<strong>da</strong> pelo aumento do número de machos nos sítios<br />

de defesa de territórios (F 1,20 =0,10; p=0,75, R 2 =0,005). O<br />

número de exibições realiza<strong>da</strong>s pelos machos não foi<br />

influenciado pelo número de machos presentes nos sítios<br />

de defesa de territórios (F 1,20 =0,04; p=0,84, R 2 =0,002).<br />

Proporção de tempo gasto nas interações<br />

0.6<br />

0.4<br />

0.2<br />

0.0<br />

0 1 2 3 4 5<br />

Número de machos<br />

Figura 1. Relação entre a proporção de tempo gasto nas<br />

interações entre os machos de Chalcopeteryx scintilans e<br />

o número de machos coespecíficos presentes nos sítios.<br />

Discussão<br />

Disputas territoriais são freqüentemente venci<strong>da</strong>s pelos<br />

machos que apresentam um “potencial de retenção do<br />

recurso” (PRR) mais elevado (Mesterton-Gibbons et al.<br />

Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002 107


1996). O PRR pode estar diretamente relacionado ao<br />

tamanho corporal, à quanti<strong>da</strong>de de gordura estoca<strong>da</strong>, à<br />

habili<strong>da</strong>de de luta ou de manutenção do território ou ain<strong>da</strong>,<br />

à existência de residência prévia entre os machos<br />

contestantes. Assimetrias nestas características assumem um<br />

papel determinante na resposta <strong>da</strong>s disputas territoriais<br />

(Mesterton-Gibbons et al. 1996).<br />

A alta taxa de recaptura dos machos de Chalcopteryx<br />

scintilans durante os cinco dias de estudo e a permanência<br />

nos mesmos sítios <strong>da</strong> maioria dos machos recapturados indica<br />

que esta espécie deve apresentar um alto grau de<br />

residência. Uma vez que territórios podem ser definidos<br />

como uma área qualquer defendi<strong>da</strong> (Corbet 1962), o<br />

aumento <strong>da</strong> agressivi<strong>da</strong>de com o aumento de número de<br />

machos presentes nos sítios de defesa sugere também que<br />

esta espécie apresenta um comportamento tipicamente territorial.<br />

Uma vez que em um mesmo sítio de defesa,<br />

freqüentemente, ocorreram dois ou mais machos defendendo<br />

territórios, a residência prévia pode não representar<br />

uma assimetria nas disputas territoriais desta espécie já que<br />

todos estes machos devem se comportar como residentes e<br />

isto pode ser uma <strong>da</strong>s justificativas para a ocorrência de<br />

interações tão longas. Além disso, é possível que as<br />

exibições nos territórios e, talvez, a coloração nas asas não<br />

estejam fornecendo informações prévias sobre o PRR dos<br />

machos, o que também aumentaria o tempo gasto nas<br />

interações agonísticas.<br />

A coloração conspícua <strong>da</strong>s asas e as exibições talvez<br />

estejam mais relacionados à atração de fêmeas aos sítios<br />

defendidos. Mesmo para espécies como Calopteryx<br />

maculata, cujos machos controlam todos os sítios de<br />

oviposição disponíveis, 89% <strong>da</strong>s fêmeas conseguem colocar<br />

seus ovos sem copular com o macho residente, através <strong>da</strong><br />

sincronização no período de desova (Fincke 1997). Assim,<br />

mesmo fêmeas de espécies territoriais são livres para<br />

escolher parceiros, independente do sítio de oviposição, o<br />

que aumentaria a seleção sexual sobre o macho (Fincke<br />

1997) e tornaria bastante provável a evolução de<br />

características e comportamentos que pudessem informar a<br />

quali<strong>da</strong>de dos machos.<br />

A forte relação observa<strong>da</strong> entre os sítios de defesa de<br />

territórios e a presença de troncos caídos no igarapé pode<br />

justificar, pelo menos em parte, a relação desta espécie com<br />

a mata. Apesar de nenhuma postura de ovos ter sido<br />

observa<strong>da</strong>, observações anteriores sugerem que a presença<br />

de troncos nos territórios seja uma característica importante<br />

pois poderiam estar sendo usados como sítios de oviposição<br />

pelas fêmeas (De Marco com. pess.).<br />

A entra<strong>da</strong> de luz nos sítios de defesa pode ter ocorrido<br />

em momentos em que eu não estava presente no local, já<br />

que pela metodologia utiliza<strong>da</strong> eu permanecia apenas alguns<br />

minutos por dia em ca<strong>da</strong> sítio. Assim, é possível que esta<br />

metodologia possa apresentar uma falha na avaliação <strong>da</strong><br />

entra<strong>da</strong> de luz nos territórios. De qualquer forma, caso a<br />

incidência de luz direta seja uma característica importante,<br />

108 Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002<br />

uma observação interessante é o fato dos machos defenderem<br />

os territórios mesmo antes <strong>da</strong> luz incidir sobre os sítios de<br />

defesa.<br />

O custo energético com disputas territoriais pode reduzir<br />

o período total de permanência no território (Clausnitzer<br />

1996) e, consequentemente, o sucesso reprodutivo do macho<br />

(Stoks 2000). Assim, parece bastante provável a<br />

evolução de um comportamento de disputa territorial mais<br />

ritualiza<strong>da</strong>, com pouco ou nenhum contato físico entre os<br />

contestantes, como a observa<strong>da</strong> para C. scintilans,<br />

principalmente, quando consideramos um cenário onde as<br />

fêmeas aparecem tão raramente nos corpos d’água.<br />

Agradecimentos<br />

É impossível deixar de agradecer a todos que trabalharam<br />

na organização e execução do curso <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong><br />

Amazônica, em especial, ao Jansen e ao Dadão, pela<br />

oportuni<strong>da</strong>de de estar aqui participando. Obriga<strong>da</strong> a todos<br />

os professores pelas inúmeras discussões e aos meus colegas<br />

de curso, por tornarem estes dias tão agradáveis. Devo<br />

também ao meu orientador, Paulo e ao Jansen a escolha de<br />

uma espécie tão interessante para realizar meu projeto.<br />

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Evidências usa<strong>da</strong>s por cutias (Dasyprocta leporina<br />

(Husson, 1978), Rodentia, Mammalia) na localização<br />

de frutos de tucumã (Astrocaryum aculeatum) em uma<br />

floresta de terra firme <strong>da</strong> Amazônia Central, AM, Brasil<br />

Introdução<br />

A distribuição geográfica de Dasyprocta abrange<br />

América Central e América do Sul, possui 7 espécies<br />

(Emmons & Feer 1997) que, em geral, não são simpátricas<br />

(Eisenberg 1989). Dasyprocta leporina é endêmica <strong>da</strong><br />

Amazônia, está distribuí<strong>da</strong> no norte <strong>da</strong> Venezuela, Guianas<br />

e Brasil, norte do rio Amazonas e leste do rio Negro<br />

(Emmons & Feer 1997).<br />

As cutias podem ser vistas em to<strong>da</strong> a floresta,<br />

principalmente em áreas com sub-bosque denso, em volta<br />

de troncos grandes, perto de igarapés e áreas alaga<strong>da</strong>s<br />

(Emmons & Feer 1997). Elas são terrestres e diurnas, têm<br />

seu período ativo entre 6 e 18 horas. Passam a maior parte<br />

do dia forrageando e, uma pequena parte descansando, no<br />

próprio local de alimentação ou no ninho, caso a fêmea esteja<br />

com filhotes (Smythe 1978). São territoriais e o macho tende<br />

a acompanhar a fêmea, descansando perto dela ou<br />

patrulhando o território, que tem uma área de 1 a 2 hectares.<br />

A cutia encontra comi<strong>da</strong> pelo olfato, mas é atraí<strong>da</strong><br />

também pelo barulho dos frutos que caem <strong>da</strong>s árvores ou<br />

de outras cotias se alimentando (Smythe 1978). Costuma<br />

seguir grupos de macacos (Ateles, Allouata), pegando os<br />

frutos que eles derrubam no chão (Smythe 1978).<br />

Frutos e sementes são os itens principais de sua dieta,<br />

mas elas comem também folhas, fungos, flores e insetos em<br />

períodos de escassez de frutos (Hallwachs 1986). Nestes<br />

períodos podem forragear em outros territórios e tendem a<br />

aumentar o período de ativi<strong>da</strong>de (Smythe 1978).<br />

Durante períodos de abundância de recursos, em épocas<br />

de chuva, as cutias enterram (Morris 1962) e transportam<br />

muitas sementes e frutos, que, posteriormente, servem como<br />

principal fonte de alimento em períodos de escassez (Smythe<br />

1978). Na Amazônia, a estação chuvosa é o período de<br />

frutificação de espécies vegetais com sementes grandes e a<br />

Vanina Zini Antunes<br />

taxa de ativi<strong>da</strong>de dos roedores é alta (Sabatier 1985).<br />

Dasyprocta fuliginosa pode realizar pequenas migrações<br />

estacionais que coincidem com as épocas de frutificação de<br />

algumas espécies vegetais (Tapia 1998 apud Tirira 1999).<br />

As sementes raramente são enterra<strong>da</strong>s embaixo <strong>da</strong> planta<br />

de origem, pois as cutias costumam carregá-las para várias<br />

direções e distâncias, que variam de 22,4m a 50 m (Smythe<br />

1978, Forget 1990, Spironello 1999), normalmente dentro<br />

<strong>da</strong> sua área de vi<strong>da</strong> (Murie 1977). Hallwachs (1986)<br />

observou sementes a 150m <strong>da</strong> planta-mãe. Ao enterrar as<br />

sementes, uma a uma, as cutias fazem buracos de 2 a 8<br />

centímetros de profundi<strong>da</strong>de, fechados com terra aplaina<strong>da</strong><br />

pelas patas dianteiras e cobertos com folhas ou gravetos<br />

(Smythe 1978). As sementes podem ser desenterra<strong>da</strong>s em<br />

alguns dias ou após oito meses, durante a época de escassez<br />

de frutos. É comum que outra cutia desenterre a semente,<br />

carregue e enterre de novo, dispersão secundária. Assim,<br />

uma única semente pode ser transporta<strong>da</strong> diversas vezes, se<br />

distanciando ain<strong>da</strong> mais <strong>da</strong> planta-mãe, o que pode ser um<br />

benefício para a planta.<br />

As sementes enterra<strong>da</strong>s podem ser encontra<strong>da</strong>s pelo<br />

cheiro delas ou do animal que as enterrou ou por meio de<br />

pistas visuais: solo remexido (Smythe 1978) árvores, troncos<br />

caídos, raízes expostas e lianas (Forget 1990), as sementes<br />

normalmente são enterra<strong>da</strong>s junto a esses locais.<br />

Meu objetivo neste trabalho foi verificar se o odor do<br />

fruto tem maior influência que pistas visuais na localização<br />

de frutos enterrados por cutias num período de escassez de<br />

frutos.<br />

Métodos<br />

Desenvolvi este trabalho entre os dias 24 e 29 de<br />

novembro de 2002, em uma floresta de terra firme na<br />

Reserva do Km 41 (2°24’ S, 59°44’ O), uma área de mata<br />

contínua do Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos<br />

Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002 109


<strong>Floresta</strong>is (<strong>PDBFF</strong>/ INPA), localiza<strong>da</strong> a 80 km ao norte de<br />

Manaus. A temperatura média anual <strong>da</strong> região é de 26,7°C<br />

e a precipitação é de 2200mm anuais (RADAMBRASIL<br />

1978), mas em época de seca, de junho a dezembro, a<br />

precipitação é de 100 a 150 mm mensais (Gascon &<br />

Bierregaard 2001).<br />

Fiz dois tratamentos e um controle que foram distribuídos<br />

em três transectos paralelos de 600m, distantes 200m entre<br />

si, abrangendo uma área de 24 hectares. Em ca<strong>da</strong> transecto<br />

marquei 30 pontos distantes 20m, alternando os lados ao<br />

longo <strong>da</strong> trilha e distribuí os tratamentos e controle<br />

sistematicamente. Os pontos foram feitos a 5 metros de um<br />

Astrocaryum sciopholium na base de árvores ou perto de<br />

troncos caídos e raízes expostas. Utilizei frutos de tucumã<br />

(Astrocaryum aculeatum) e plantas de Astrocaryum<br />

sciopholium, simulando ser a planta-mãe, pois o trabalho<br />

foi feito em época de escassez de frutos.<br />

Como controle, fiz um buraco de 8 cm de profundi<strong>da</strong>de<br />

onde enterrei um tucumã, o buraco foi fechado e coberto<br />

com folhiço. No ponto seguinte foi colocado o primeiro<br />

tratamento, para pista visual: um buraco igual ao do controle<br />

porém, vazio. E por último, o segundo tratamento, para odor:<br />

furei o solo com um termômetro de solo, 10 cm de<br />

profundi<strong>da</strong>de, e injetei 5 ml de uma solução concentra<strong>da</strong> de<br />

tucumã. O experimento ficou montado por 120 h.<br />

Como a ocorrência dos eventos foi baixa, utilizei o teste<br />

G para ver se havia diferença na freqüência de pontos<br />

remexidos entre o controle e os tratamentos odor e pista<br />

visual. Fiz um teste de contraste, a posteriori, para ver em<br />

qual grupo a diferença nas freqüências estava concentra<strong>da</strong>,<br />

o controle ou os tratamentos juntos.<br />

Resultados<br />

O controle teve 20% de remoção e os tratamentos, 3,33%<br />

ca<strong>da</strong> (Tabela 1). Dos 6 pontos remexidos do controle, quatro<br />

estavam sem fruto nem vestígio, um sem fruto mas com<br />

raspas no local e um com a semente limpa que foi enterra<strong>da</strong><br />

pela cutia no mesmo buraco. No ponto com tratamento 1<br />

(pista visual) o animal escavou 5 cm e, no ponto com<br />

tratamento 2 (odor), escavou 3 cm.<br />

Tabela 1. Pontos remexidos e não remexidos. Controle,<br />

buraco com tucumã; Tratamento 1, buraco vazio e<br />

Tratamento 2, solução de tucumã injeta<strong>da</strong>.<br />

Não remexido Remexido Total<br />

Controle 24 6 30<br />

80% 20%<br />

Tratamento 1<br />

(pista visual)<br />

29 1 30<br />

Tratamento 2<br />

(odor)<br />

96,67% 3,33%<br />

29 1 30<br />

96,67% 3,33%<br />

Total 82 8 90<br />

110 Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002<br />

A freqüência de pontos remexidos foi diferente entre os<br />

grupos experimentais (G = 6,43; g.l.= 2; p= 0,04). A partir<br />

deste resultado fiz um teste de contraste e encontrei diferença<br />

significativa entre controle x (tratamento 1 + tratamento 2)<br />

(G = 6,43; g.l.= 1; p= 0,01). Entre os tratamentos, a<br />

freqüência de perturbação do solo, remexido ou não, foi<br />

igual.<br />

Discussão<br />

Como o experimento foi realizado em época de escassez<br />

de frutos eu esperava um número maior de amostras dos<br />

grupos experimentais remexidos. Jorge (2002) observou,<br />

logo após o período de frutificação de Astrocaryum<br />

sciopholium, uma remoção, por cutias, de 35% de tucumãs<br />

enterrados próximos à base dessas plantas. No presente<br />

trabalho, a taxa de remoção foi menor (20%) provavelmente<br />

devido à distância do período de frutificação de<br />

Astrocaryum, o que pode ter interferido na memória <strong>da</strong> cutia<br />

associa<strong>da</strong> aos locais de forrageamento.<br />

A baixa freqüência de perturbação dos tratamentos 1 e 2<br />

indicam que evidências visuais e olfativas separa<strong>da</strong>mente<br />

podem não ser eficientes para a localização de estoques de<br />

comi<strong>da</strong> por cutias.<br />

Teoricamente, os dois tratamentos têm efeito em escalas<br />

diferentes. Numa escala espacial, a pista visual é,<br />

primeiramente, mais forte. A cutia pode escolher um local<br />

para cavar onde o solo já tenha sido remexido, pois a chance<br />

de encontrar semente enterra<strong>da</strong> é alta.<br />

Numa escala temporal, estímulos odoríferos devem ser<br />

mais eficientes. Murie (1977) observou que pista olfativa<br />

serve como estímulo maior que pista visual na localização<br />

de ceva enterra<strong>da</strong>. Pistas visuais são mais eficientes quando<br />

a semente foi recentemente enterra<strong>da</strong> porém, a longo prazo,<br />

o cheiro do fruto é a pista mais marcante, pois as evidências<br />

visuais são altera<strong>da</strong>s com o tempo, assim como o cheiro <strong>da</strong><br />

cutia que enterrou o fruto ou semente (Murie 1977). Mesmo<br />

meus grupos experimentais sendo recentes, o tratamento para<br />

pistas visuais não se destacou em relação ao tratamento para<br />

pistas olfativas.<br />

Meus resultados confirmam o hábito que as cutias têm<br />

de comer um pouco em um local e carregar a comi<strong>da</strong> para<br />

outro (Smythe 1978). E, assim como também descrito por<br />

Smythe (1978), observei que ao encontrar um fruto com<br />

polpa carnosa, como tucumã, as cutias comem a polpa e<br />

enterram a semente para posterior consumo. Este<br />

procedimento evita a competição com outros mamíferos,<br />

como paca e coati, que não têm esse hábito de estocagem<br />

espalha<strong>da</strong> (“scatterhoarding”) de sementes.<br />

As sementes que não são desenterra<strong>da</strong>s estão protegi<strong>da</strong>s<br />

de pre<strong>da</strong>dores e o processo de germinação é acelerado,<br />

devido às ótimas condições (Forget, 1990). As cutias são,<br />

portanto, eficientes dispersores <strong>da</strong>s plantas as quais elas se<br />

alimentam (Smythe, 1978), fato também observado na área<br />

de estudo (Spironello 1999).


Agradecimentos<br />

Agradeço ao Glauco Machado por ter me aju<strong>da</strong>do a<br />

definir meu desenho amostral, ao Carlos Fonseca pela<br />

sugestão de como fazer o tratamento para odor e ao Juruna<br />

pela aju<strong>da</strong> fun<strong>da</strong>mental para montar o experimento.<br />

Agradeço o Paulo de Marco e Daniela Chaves Resende pela<br />

paciência e apoio estatístico. Valeu turma do curso, pela<br />

amizade e momentos maravilhosos que passamos juntos.<br />

Um agradecimento especial para Dadão e Jansen por<br />

continuarem firme e fortes na coordenação do curso e para<br />

o Marcelo “Pinguela” por ter estado sempre de bom humor.<br />

Agradecimento imprescindível à minha amiga Sylvia ela é<br />

a responsável por eu estar aqui.<br />

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Equador.<br />

Efeito <strong>da</strong> coloração e do odor na pre<strong>da</strong>ção de frutos<br />

artificiais em uma área de terra firme na Amazônia<br />

Central<br />

Introdução<br />

A estrutura <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong>des vegetais é regula<strong>da</strong> por<br />

diversos fatores. Variáveis físicas como temperatura,<br />

umi<strong>da</strong>de, proprie<strong>da</strong>des do solo, relevo, e bióticas, que<br />

envolvem relações de pre<strong>da</strong>ção e competição entre as<br />

espécies, atuam em conjunto e desempenham papel fun<strong>da</strong>mental<br />

na sobrevivência e distribuição espacial <strong>da</strong>s espécies<br />

na comuni<strong>da</strong>de (Begon et al. 1990).<br />

Ana Paula Carmignotto<br />

A capaci<strong>da</strong>de de sobrevivência <strong>da</strong>s espécies de plantas<br />

está relaciona<strong>da</strong> ao poder de dispersão de sementes e<br />

encontro de local favorável para germinação <strong>da</strong> mesma. Em<br />

locais próximos <strong>da</strong> planta mãe ocorre alta taxa de<br />

mortali<strong>da</strong>de de sementes e plântulas devido, num primeiro<br />

momento, à maior suscetibili<strong>da</strong>de ao ataque de herbívoros<br />

e patógenos e, posteriormente, à maior competição por<br />

espaço e nutrientes (Janzen 1970). As plantas, então, são<br />

Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002 111


dependentes de seus agentes dispersores na medi<strong>da</strong> em que<br />

estes definem o local de estabelecimento <strong>da</strong> semente (Cintra<br />

& Horna 1997). Por outro lado, locais muito distantes <strong>da</strong><br />

planta mãe podem não apresentar características físicas<br />

favoráveis. A sobrevivência de sementes e plântulas, no<br />

entanto, nem sempre aumenta em relação à distância <strong>da</strong><br />

planta mãe, como proposto por Janzen e Connell<br />

(Bustamante & Simonetti 2000).<br />

Em florestas tropicais, a síndrome de dispersão<br />

freqüentemente encontra<strong>da</strong> é a zoocórica, onde os frutos<br />

são consumidos e posteriormente dispersados por animais<br />

(Gentry 1991). Há três tipos de dispersão por zoocoria: a<br />

endozoocoria, onde os animais consomem os frutos e<br />

defecam ou regurgitam as sementes; a sinzoocoria, onde os<br />

animais enterram as sementes; e a ectozoocoria, onde os<br />

animais carregam os frutos e sementes.<br />

Geralmente as espécies de plantas enfrentam eleva<strong>da</strong>s<br />

taxas de pre<strong>da</strong>ção, sendo este mais um fator que afeta os<br />

padrões de estabelecimento <strong>da</strong>s plântulas e,<br />

consequentemente, <strong>da</strong> população adulta, apresentando<br />

importantes conseqüências demográficas na distribuição e<br />

abundância <strong>da</strong>s espécies (Freitas 1998). Apesar <strong>da</strong> alta taxa<br />

de pre<strong>da</strong>ção sobre os frutos, a pequena porcentagem que<br />

sofre dispersão é responsável pelo recrutamento e<br />

manutenção <strong>da</strong> população de várias espécies (Glanz et al.<br />

1985), sendo a intensi<strong>da</strong>de de pre<strong>da</strong>ção regula<strong>da</strong> pela<br />

abundância de frutos e densi<strong>da</strong>de de pre<strong>da</strong>dores (Sork 1987).<br />

Daí o grande número de estratégias apresenta<strong>da</strong>s pelas<br />

plantas, onde os frutos necessitam ser atrativos para espécies<br />

consumidoras-dispersoras, e também apresentar defesas<br />

contra pre<strong>da</strong>dores.<br />

Morcegos, aves, roedores e macacos são os dispersores<br />

mais importantes encontrados na Amazônia (Kubitzki 1985).<br />

O tamanho, coloração, odor, consistência, quanti<strong>da</strong>de e<br />

quali<strong>da</strong>de nutricional dos frutos estão entre as principais<br />

características que irão regular a taxa de pre<strong>da</strong>ção destes<br />

grupos animais (Kubitzki 1985). Uma relação<br />

freqüentemente encontra<strong>da</strong> em estudos de frugivoria é a do<br />

tamanho do fruto com o tipo de consumidor. Frutos grandes<br />

são geralmente pre<strong>da</strong>dos ou dispersados por animais de<br />

maior porte (Howe 1989). Outros trabalhos relacionam a<br />

presença de tecido resistente envolvendo a semente, ou de<br />

compostos químicos como defesa contra pre<strong>da</strong>ção (Howe<br />

1985). Há ain<strong>da</strong> <strong>da</strong>dos a respeito <strong>da</strong> interação entre estes<br />

fatores, resultando em casos específicos de pre<strong>da</strong>ção e<br />

dispersão (Holl & Lulow 1997). Por exemplo, frutos grandes<br />

e com odor atraem animais generalistas, como os mamíferos<br />

de grande porte (Howe 1985).<br />

Poucos estudos, no entanto, verificaram o efeito direto<br />

<strong>da</strong> coloração e do odor dos frutos, ou <strong>da</strong> interação entre<br />

estes fatores sobre a taxa de remoção e/ou pre<strong>da</strong>ção pelos<br />

diferentes grupos de consumidores. Acredita-se que estas<br />

variáveis estejam relaciona<strong>da</strong>s, principalmente, à atração<br />

de animais de características sensoriais diferentes. As aves,<br />

por exemplo, apresentam olfato pouco desenvolvido mas<br />

uma ótima visão, e os mamíferos têm o olfato como o sentido<br />

112 Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002<br />

mais aguçado, porém não possuem boa definição para cores,<br />

principalmente entre as espécies de hábito noturno (Kubitzki<br />

1985). O presente estudo tem como objetivo testar o efeito<br />

destas duas variáveis na taxa de pre<strong>da</strong>ção de frutos e<br />

relacioná-las a diferentes grupos de pre<strong>da</strong>dores.<br />

Métodos<br />

O trabalho foi realizado numa área de floresta de terra<br />

firme na Amazônia Central, na Reserva do Km 41 (02°24’S;<br />

59°52’W), que faz parte do Projeto Dinâmica Biológica de<br />

Fragmentos <strong>Floresta</strong>is (<strong>PDBFF</strong>), pertencente ao INPA<br />

(Instituto Nacional de Pesquisa <strong>da</strong> Amazônia) em convênio<br />

com Smithsonian Institution. A reserva localiza-se a 70 km<br />

ao norte de Manaus, no km 41 <strong>da</strong> estra<strong>da</strong> vicinal ZF-3, <strong>da</strong><br />

rodovia BR-174, que liga Manaus a Boa Vista. O clima <strong>da</strong><br />

região é o tropical úmido de monções com precipitação<br />

excessiva e ocorrência de 1 a 2 meses de baixa precipitação<br />

(classificado como Am no sistema de Köppen)<br />

(RADAMBRASIL 1978). A temperatura média na região é<br />

de 26 o C e a pluviosi<strong>da</strong>de anual média de 2200 mm, sendo<br />

que os meses chuvosos (entre dezembro a maio) apresentam<br />

cerca de 300 mm mensais e os secos (entre junho a<br />

novembro), em torno de 100 a 150 mm (Gascon &<br />

Bierregaard 2001). A área encontra-se inseri<strong>da</strong> no domínio<br />

de floresta tropical úmi<strong>da</strong>, sendo a vegetação caracteriza<strong>da</strong><br />

por apresentar um dossel alto, em torno de 35 m de altura e<br />

emergentes de até 55 m, e predominância <strong>da</strong>s famílias<br />

Sapotaceae, Chrysobalanaceae, Lecythi<strong>da</strong>ceae,<br />

Myristicaceae e Burseraceae (Laurance 2001). A região<br />

apresenta terrenos em declive recortados pelo sistema<br />

aluvial, com altitude variando entre 80 a 100 m acima do<br />

nível do mar. Os solos aí presentes são pobres em nutrientes<br />

e classificados como latossolos amarelos (Freitas 1998).<br />

Frutos artificiais de formato circular e 2 cm de diâmetro<br />

foram confeccionados à base de argila, com o intuito de<br />

padronizar o efeito <strong>da</strong> cor e do odor, além de minimizar<br />

uma possível habituação ou saciação dos pre<strong>da</strong>dores devido<br />

à oferta de recursos nos pontos de amostragem. A coloração<br />

dos frutos foi feita à base de tinta guache vermelha, visto<br />

que esta é uma cor comum na floresta (Smythe et al. 1985);<br />

o odor foi simulado a partir de extrato de baunilha. Para<br />

evitar que o odor <strong>da</strong> tinta guache influenciasse no<br />

experimento, os frutos “sem coloração” foram pintados com<br />

tinta marrom.<br />

Dois frutos foram colocados em ca<strong>da</strong> ponto de<br />

amostragem, sorteando-se um dos quatro tratamentos em<br />

ca<strong>da</strong> ponto. Os tratamentos foram: - frutos vermelhos com<br />

extrato de baunilha (com cor/com odor); - frutos vermelhos<br />

sem extrato de baunilha (com cor/sem odor); - frutos marrons<br />

com extrato de baunilha (sem cor/com odor) e – frutos<br />

marrons sem extrato de baunilha (sem cor/sem odor). No<br />

total foram colocados 80 conjuntos de iscas (160 frutos)<br />

separados 25 metros entre si, de forma a minimizar a<br />

dependência entre as amostras de ca<strong>da</strong> tratamento. Os pontos<br />

foram espalhados ao longo de transectos de mais ou menos<br />

1 km de distância, paralelos entre si, em uma área de platô.


Os frutos foram vistoriados pela manhã durante três dias<br />

consecutivos, registrando-se casos de remoção e marcas<br />

deixa<strong>da</strong>s pelos animais, considerados aqui como indícios<br />

de pre<strong>da</strong>ção. To<strong>da</strong>s as marcas foram registra<strong>da</strong>s e os frutos<br />

remodelados e repostos no mesmo ponto de amostragem.<br />

Um índice de pre<strong>da</strong>ção foi estimado dividindo-se o<br />

número de registros de pre<strong>da</strong>ção obtidos pelo esforço<br />

empregado, que no presente estudo foi de 240 pontos (80<br />

pontos durante 3 dias) e foi expresso em porcentagem. O<br />

efeito <strong>da</strong> cor, do odor e <strong>da</strong> interação entre estas variáveis<br />

sobre a taxa total de pre<strong>da</strong>ção foram avaliados com modelos<br />

log-lineares, utilizando o c 2 <strong>da</strong> máxima verossimilhança. Nas<br />

análises considerou-se apenas um registro (ausência ou<br />

presença de pre<strong>da</strong>ção) em ca<strong>da</strong> ponto de amostragem.<br />

Posteriormente esta mesma análise estatística foi realiza<strong>da</strong><br />

para investigar a preferência <strong>da</strong>s aves, único grupo com<br />

número de registros suficiente (n>10) para ser testado (Zar<br />

1984).<br />

Resultados<br />

No total foram obtidos 50 registros de pre<strong>da</strong>ção durante<br />

os três dias de amostragem, tendo havido um único caso de<br />

remoção. O índice de pre<strong>da</strong>ção foi de 20,8%. As diferentes<br />

marcas foram identifica<strong>da</strong>s como pertencentes a três grupos<br />

de pre<strong>da</strong>dores: répteis, aves e mamíferos. Frutos que<br />

apresentaram sulcos em forma de “V”, em forma de letra<br />

“U” inverti<strong>da</strong> ou riscos pronunciados em várias direções<br />

foram considerados pre<strong>da</strong>dos por aves; os que apresentaram<br />

marcas de incisivos e sulcos profundos na direção <strong>da</strong><br />

mordi<strong>da</strong>, chegando a arrancar pe<strong>da</strong>ços, foram considerados<br />

pre<strong>da</strong>dos por roedores; e o único que apresentou sulcos triangulares<br />

profundos foi considerado pre<strong>da</strong>do por jabuti<br />

(Geochelone sp., Testudini<strong>da</strong>e) que predou um fruto<br />

vermelho e sem odor. As aves foram o grupo de pre<strong>da</strong>dores<br />

mais abun<strong>da</strong>ntes (Tabela 1). Marcas deixa<strong>da</strong>s nos frutos<br />

pelos insetos não foram considera<strong>da</strong>s, porém, observou-se<br />

alta taxa de consumo por este grupo, principalmente por<br />

formigas.<br />

Tabela 1. Número de registros total e separado por grupo<br />

de pre<strong>da</strong>dores obtido durante o período de estudo. Cc/co<br />

= com cor/com odor, Cc/so = com cor/sem odor, Sc/co =<br />

sem cor/com odor e Sc/so = sem cor/sem odor. Entre<br />

parênteses encontra-se a porcentagem dos registros.<br />

Tratamento Aves Roedores Répteis Remoção Total<br />

Cc/co 16 (36%) 02 (50%) 18 (36%)<br />

Cc/so 17 (39%) 01 (100%) 18 (36%)<br />

Sc/co 07 (16%) 01 (25%) 08 (16%)<br />

Sc/so 04 (9%) 01 (25%) 01 (100%) 06 (12%)<br />

Total 44 (88%) 04 (8%) 01 (2%) 01 (2%) 50 (100%)<br />

Não encontrei diferença no efeito <strong>da</strong> interação <strong>da</strong><br />

coloração e do odor (c 2 =0,18; g.l.=1; p=0,674), nem em<br />

relação ao efeito <strong>da</strong> variável odor (c 2 =2,12; g.l.=2; p=0,346)<br />

sobre a taxa de pre<strong>da</strong>ção dos frutos artificiais. Porém, houve<br />

uma maior taxa de pre<strong>da</strong>ção sobre os frutos vermelhos<br />

(c 2 =11,66; g.l.=3; p=0,008). Utilizando-se somente as aves<br />

como grupo de pre<strong>da</strong>dores, o resultado obtido foi semelhante<br />

(interação: c 2 =0,01, g.l.=1, p=0,924; efeito do odor: c 2 =2,65,<br />

g.l.=2, p=0,266; efeito <strong>da</strong> presença de cor: c 2 =10,96, g.l.=3,<br />

p=0,012).<br />

Discussão<br />

A maior taxa de pre<strong>da</strong>ção dos frutos artificiais pelas aves<br />

encontra<strong>da</strong> neste estudo pode ser explica<strong>da</strong>, a princípio, pelo<br />

tamanho do fruto, que limitou o grupo de consumidores.<br />

Segundo Holl & Lulow (1997), pre<strong>da</strong>dores de menor porte<br />

preferem frutos menores, sendo comum frutos pequenos a<br />

médios (entre 2 a 5 cm) na dieta <strong>da</strong>s aves (Pineschi 1990).<br />

Baseado nas síndromes de dispersão zoocóricas descritas,<br />

esperava-se que as aves fossem atraí<strong>da</strong>s pelos frutos<br />

coloridos, e os mamíferos pelos frutos com odor. Os<br />

resultados obtidos, no entanto, não apoiam esta hipótese,<br />

<strong>da</strong>do que houve apenas efeito <strong>da</strong> coloração sobre a taxa de<br />

pre<strong>da</strong>ção, e não do odor. A baixa densi<strong>da</strong>de de pequenos<br />

mamíferos não voadores registra<strong>da</strong> para a área de estudo<br />

(Malcolm 1991) pode ter sido um dos fatores determinantes<br />

<strong>da</strong> pequena taxa de pre<strong>da</strong>ção apresenta<strong>da</strong> por este grupo.<br />

No entanto, os roedores foram os principais consumidores<br />

de frutos e sementes de Sapotaceae em um estudo de<br />

pre<strong>da</strong>ção realizado na área de estudo (W. Spironello 1999).<br />

Acredito que o odor de baunilha utilizado pode ter<br />

interferido no resultado, <strong>da</strong>do que este odor não é comum<br />

na natureza, podendo não atuar como um atrativo para os<br />

pequenos mamíferos, que são, geralmente, atraídos por<br />

estímulos olfativos. Ao contrário, a cor vermelha é<br />

freqüentemente encontra<strong>da</strong> na natureza. É provável que<br />

resultados diferentes pudessem ter sido obtidos utilizandose<br />

frutos disponíveis na natureza.<br />

O resultado aqui obtido pode ter sido influenciado ain<strong>da</strong><br />

pelo pouco tempo de exposição dos frutos, além <strong>da</strong><br />

sazonali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> região. Padrões diferentes de pre<strong>da</strong>ção<br />

podem aparecer ao longo <strong>da</strong>s diferentes estações do ano,<br />

principalmente devido às variações na quanti<strong>da</strong>de e<br />

quali<strong>da</strong>de dos recursos disponíveis na floresta (Cintra &<br />

Horna 1997).<br />

Ao contrário do esperado, o tratamento com cor e odor<br />

não apresentou taxa de pre<strong>da</strong>ção superior aos outros<br />

tratamentos. Novamente este resultado pode ser explicado<br />

pela baixa taxa de pre<strong>da</strong>ção por roedores. O forte efeito <strong>da</strong><br />

coloração do fruto como atrativo para aves, porém, já havia<br />

sido documentado (Kubitzki 1985, Motta Jr & Lombardi<br />

1990). Estes <strong>da</strong>dos corroboram a síndrome de dispersão<br />

descrita na literatura, onde frutos dispersados por aves<br />

(ornitocoria) apresentam tamanho pequeno e coloração<br />

conspícua (Van der Pijl 1982).<br />

No presente estudo, apesar do pequeno número de frutos<br />

pre<strong>da</strong>dos por mamíferos, parece haver uma tendência de<br />

maior pre<strong>da</strong>ção em relação aos frutos com odor, fato já<br />

citado em outros trabalhos (Smythe et al. 1985, Whittaker<br />

& Turner 1994). Há trabalhos, no entanto, que relatam a<br />

Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002 113


ocorrência de frutos pequenos, de coloração conspícua e<br />

com odor, sendo dispersados tanto por aves como por<br />

morcegos, indicando uma sobreposição de síndromes de<br />

dispersão. Isto demonstra que mais estudos experimentais<br />

são necessários para testar a preferência de animais<br />

frugívoros, com o intuito de compreender-se as complexas<br />

relações entre dispersão e pre<strong>da</strong>ção.<br />

Agradecimentos<br />

Agradeço ao INPA e Smthsonian Institution pela<br />

oportuni<strong>da</strong>de de participar deste curso de campo, sendo uma<br />

experiência muito enriquecedora. Agradeço especialmente<br />

aos organizadores do curso, Jansen e Dadão pelo cui<strong>da</strong>do e<br />

atenção durante todo o curso, sempre dispostos a aju<strong>da</strong>r e<br />

despertar o interesse nos alunos. Aos professores<br />

colaboradores, Mike, Ana, Arnaldo, Carlos Jedi, Leandro,<br />

Jorge, Neusa, Glauco, Selvino, Carlos Tachi, Geraldinho,<br />

Wilson e Paulo pelas orientações e discussões dos trabalhos<br />

de campo e análises estatísticas. Ao monitor Marcelo<br />

Ursinho Pinguela, que não poupou esforços para aju<strong>da</strong>r a<br />

todos. Ao Juruna, também sempre pronto para o serviço. A<br />

todos os alunos do curso 2002 que dividiram os momentos<br />

de angústia, cansaço e felici<strong>da</strong>de. Às pérolas que nos<br />

aju<strong>da</strong>ram a sempre seguir em frente sorrindo. Enfim, a todos<br />

que tornaram este curso possível e maravilhosamente<br />

interessante e divertido!<br />

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Viver ou morrer: apenas uma questão de estratégia?<br />

Introdução<br />

Em comuni<strong>da</strong>des vegetais, a grande diversi<strong>da</strong>de de<br />

formas foliares existentes refletem, principalmente, uma<br />

varie<strong>da</strong>de de estratégias a<strong>da</strong>ptativas, ocasiona<strong>da</strong>s por<br />

diversas pressões seletivas do ambiente. A competição por<br />

luz para os processos fotossintéticos, a adequação às<br />

mu<strong>da</strong>nça abióticas e a ação de herbívoros são os principais<br />

tipos de pressão exerci<strong>da</strong> sobre as plantas e que influenciam<br />

diretamente na sua sobrevivência (Fonseca et al. 2000).<br />

Considerando a disponibili<strong>da</strong>de de água como um fator<br />

limitante no ambiente, pode-se notar em comuni<strong>da</strong>des<br />

vegetais, estratégias relaciona<strong>da</strong>s à altura <strong>da</strong> planta e<br />

dimensões como espessura e largura foliar (Richards, 1979).<br />

A altura <strong>da</strong> planta e o comprimento <strong>da</strong> lâmina foliar estão<br />

fortemente relacionados à competição por luz e trocas<br />

gasosas, respectivamente, e ambas são dependentes <strong>da</strong><br />

disponibili<strong>da</strong>de de recursos como água e nutrientes (Fonseca<br />

et al. 2000).<br />

A espessura foliar pode responder tanto a fatores abióticos<br />

como bióticos, a exemplo <strong>da</strong> pressão exerci<strong>da</strong> por<br />

herbívoros. Neste caso, a planta tende a alocar mais carbono<br />

no espaçamento <strong>da</strong> folha em locais mais pobres em recursos,<br />

já que nestes locais o custo do <strong>da</strong>no ou per<strong>da</strong> de uma folha<br />

é superior àquele de locais mais ricos (Richards 1979;<br />

Fonseca et al. 2000). A largura <strong>da</strong> folha está relaciona<strong>da</strong><br />

com as trocas gasosas realiza<strong>da</strong>s na superfície foliar. Quanto<br />

maior for esta medi<strong>da</strong>, mais espessa será a cama<strong>da</strong> adjacente<br />

de ar na superfície foliar, dificultando o transporte do vapor<br />

d’água, como a resistência à troca de dióxido de carbono<br />

(Larcher, 1986; Fonseca et al. 2000) .<br />

Segundo Fonseca et al. (2000), plantas características<br />

de áreas mais secas apresentam folhas menores, mais<br />

espessas e coriáceas do que folhas de espécies de áreas mais<br />

úmi<strong>da</strong>s. Da mesma forma, plantas típicas de ambientes ricos<br />

em nutrientes também apresentam maior área foliar do que<br />

plantas de ambientes mais pobres.<br />

As modificações <strong>da</strong> lâmina foliar, nos mais diversos taxa<br />

Carina Lima <strong>da</strong> Silveira<br />

botânicos, em simples ou compostas, são justifica<strong>da</strong>s pelas<br />

pressões exerci<strong>da</strong>s pelo ambiente e pelos organismos<br />

diretamente relacionados à vegetação. Sendo assim, uma<br />

estratégia possível consiste no re-direcionamento de recursos<br />

anteriormente dispensados a determina<strong>da</strong>s funções, para um<br />

melhor aproveitados em outras. Um exemplo dessa resposta<br />

às pressões, seria o recorte <strong>da</strong> lâmina foliar a partir <strong>da</strong><br />

margem, onde os compostos translocados chegam de forma<br />

precária. Da necessi<strong>da</strong>de de tornar a superfície foliar mais<br />

efetiva nos processos fotossintéticos, estes recortes <strong>da</strong> bor<strong>da</strong><br />

atingiram seu pico nas folhas bicompostas, onde a per<strong>da</strong> de<br />

um folíolo não causa tantos <strong>da</strong>nos à planta como o faria<br />

uma folha inteira (Givinish, 1988 apud Fonseca et al. 2000).<br />

Na maioria <strong>da</strong>s espécies de plantas tropicais, folhas<br />

jovens sofrem mais <strong>da</strong>nos por herbívoros e patógenos do<br />

que folhas maduras. Isto é particularmente marcado em<br />

espécies de ambientes sombreados, onde as taxas de <strong>da</strong>nos<br />

em folhas jovens aumentam vinte vezes mais em relação às<br />

folhas maduras (Coley, 1996). Segundo Coley (1983),<br />

herbivoria em comuni<strong>da</strong>des naturais pode ser alta, reduzindo<br />

o crescimento e a reprodução <strong>da</strong>s plantas, e influenciando<br />

no resultado competitivo dos indivíduos e na composição<br />

<strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de. A distribuição de defesas entre espécies e<br />

tecidos vegetais é refleti<strong>da</strong>, ecologicamente e<br />

evolutivamente, na ação dos herbívoros. Várias<br />

características físicas, químicas e nutricionais <strong>da</strong> folha<br />

podem ser medi<strong>da</strong>s e correlacionados aos níveis de<br />

herbivoria e história de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> planta (Coley, 1983), porém,<br />

pouco se sabe como as folhas, através de estratégias<br />

a<strong>da</strong>ptativas, refletem algum tipo de defesa contra herbívoros.<br />

Na maior parte <strong>da</strong>s florestas tropicais, as árvores caí<strong>da</strong>s<br />

criam aberturas no dossel que alteram sensivelmente as<br />

condições microclimáticas e a fitofisionomia local. Assim,<br />

com os processos sucessionais subseqüentes, a<br />

heterogenei<strong>da</strong>de estabeleci<strong>da</strong> nas comuni<strong>da</strong>des vegetais<br />

levam à formação de amplos mosaicos vegetacionais<br />

(Schupp, 1988).<br />

Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002 115


Em uma análise descritiva torna-se possível encontrar<br />

similari<strong>da</strong>des entre as condições climáticas de áreas secas e<br />

as de uma clareira, independente de suas dimensões e forma,<br />

e a partir de então, inferir sobre as homologias existentes<br />

entre a cobertura vegetal <strong>da</strong>s duas paisagens. Excluindo<br />

qualquer interferência pedológica, as condições inóspitas<br />

cria<strong>da</strong>s com a abertura <strong>da</strong>s clareiras poderiam induzir<br />

respostas morfológicas nas folhas <strong>da</strong>s plantas presentes. Em<br />

relação a essas a<strong>da</strong>ptações, espera-se que ocorram diferenças<br />

morfológicas, principalmente na estrutura <strong>da</strong>s folhas.<br />

Partindo do pressuposto de que em diferentes ambientes,<br />

com diferentes pressões bióticas e abióticas, as espécies<br />

apresentarão estratégias a<strong>da</strong>ptativas específicas para ca<strong>da</strong><br />

ambiente, tenho como objetivo neste trabalho investigar e<br />

comparar os tipos de estratégias a<strong>da</strong>ptativas dominantes nas<br />

folhas de espécies vegetais em áreas de clareira e de floresta.<br />

Métodos<br />

Realizei este estudo na Reserva do Km 41 (2º 24‘S e 59º<br />

52‘O), do Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos<br />

<strong>Floresta</strong>is (INPA/Smithsonian Intitution), localiza<strong>da</strong> a cerca<br />

de 70 km NNE de Manaus, AM, na estra<strong>da</strong> vicinal ZF-3, <strong>da</strong><br />

rodovia BR-174 (Rittl, 1997). A reserva caracteriza-se por<br />

uma formação de <strong>Floresta</strong> de Terra Firme<br />

(Pires & Prance, 1985). O dossel é rico em espécies,<br />

sendo dominado por representantes <strong>da</strong>s famílias Sapotaceae,<br />

Lecythi<strong>da</strong>cae, Leguminosae e Burseraceae (Prance, 1990;<br />

Rankin-de-Merona et al. apud Jergolinski, 1997). Nos<br />

baixios, ocorre uma mata de composição diferencia<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

mata de platô, sendo o componente arbóreo representado<br />

por Leguminosae, Myristicaceae, Sapotaceae, Meliacae,<br />

Palmae e Euphorbiaceae (Porto et. al. 1976).<br />

Amostrei dez clareiras e dez áreas de floresta, colocando<br />

paralelamente em ca<strong>da</strong> área, um transecto de dez metros.<br />

Neste espaço, coletei, a ca<strong>da</strong> cinqüenta centímetros, uma<br />

folha do indivíduo que estivesse mais próximo deste ponto,<br />

com, no mínimo, um metro de altura, totalizando vinte folhas<br />

por transecto.<br />

Para medir a porcentagem de cobertura do dossel de ca<strong>da</strong><br />

área, utilizei um esferodensiômetro, fazendo medições nos<br />

pontos 0, 5 e 10 metros do transecto. Após isso, ca<strong>da</strong> valor<br />

foi multiplicado por 1.04, conforme instruções do<br />

equipamento para correção dos valores. Para as análises,<br />

utilizei a porcentagem média <strong>da</strong> cobertura do dossel para<br />

ca<strong>da</strong> área.<br />

De ca<strong>da</strong> folha coleta<strong>da</strong>, medi a largura específica, defini<strong>da</strong><br />

pelo diâmetro do maior circulo que pode ser projetado na<br />

área foliar, independente <strong>da</strong> sua forma (Fonseca et al. 2000),<br />

o comprimento <strong>da</strong> lâmina foliar, a espessura foliar e o<br />

comprimento do pecíolo. Além destas medi<strong>da</strong>s, classifiquei<br />

ca<strong>da</strong> folha em relação à presença ou ausência de pêlos, a<br />

margem (lisa ou recorta<strong>da</strong>) e a forma (simples ou composta).<br />

Para determinar o grau de herbivoria utilizei uma<br />

estimativa visual <strong>da</strong> Área Foliar Consumi<strong>da</strong> (AFC),<br />

utilizando as seguintes categorias propostas por Dirzo<br />

(1984):<br />

116 Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002<br />

Taxa de Herbivoria Área Foliar Consumi<strong>da</strong> (%)<br />

0 0<br />

1 1-6<br />

2 6-12<br />

3 12-25<br />

4 25-50<br />

5 > 50<br />

Com a AFC, calculei o índice de herbivoria (IH) , usando<br />

a seguinte fórmula: IH = S(ni x i) / nt, onde i é o número <strong>da</strong><br />

classe, ni é o número de folhas naquela classe e nt<br />

corresponde ao número total de folhas <strong>da</strong> espécie (Brilhante,<br />

1997).<br />

Para ca<strong>da</strong> uma <strong>da</strong>s áreas de clareira e de floresta, calculei<br />

o valor médio <strong>da</strong>s variáveis medi<strong>da</strong>s nas 20 folhas,<br />

possibilitando a comparação entre os dois ambientes. Para<br />

verificar como ca<strong>da</strong> uma <strong>da</strong>s variáveis se comporta e<br />

compará-las entre os dois ambientes, utilizei um teste t.<br />

Resultados<br />

A porcentagem média de cobertura vegetal nas áreas<br />

florestais foi de 90,73% enquanto que nas clareiras esta<br />

porcentagem foi de 63,80%, sendo significativamente<br />

diferentes entre si (t = 2,562, g.l.= 9, p = 0,03; Fig. 1). As<br />

áreas de clareira escolhi<strong>da</strong>s apresentaram uma variação na<br />

cobertura vegetal sete vezes maior entre si do que as áreas<br />

de floresta. Este resultado mostra que o grau de luminosi<strong>da</strong>de<br />

aumenta cerca de 30% na área em que uma clareira foi<br />

produzi<strong>da</strong>.<br />

Cobert. do dossel (%)<br />

120<br />

80<br />

40<br />

0<br />

clareira floresta<br />

Ambiente<br />

Figura 1. Porcentagem média de cobertura vegetal em<br />

áreas de clareira e de floresta amostra<strong>da</strong>s, na Reserva do<br />

Km 41, Amazônia Central. As colunas representam os<br />

valores médios e as barras o desvio padrão <strong>da</strong> média.<br />

A largura específica <strong>da</strong> folha foi a única variável foliar<br />

que se comportou de forma significativamente diferente nos<br />

dois ambientes (t = 2,563, g.l. = 13,251, p = 0,023; Fig. 2).<br />

Nas clareiras as folhas são duas vezes maios largars que nas<br />

áreas florestais.


Largura <strong>da</strong> folha (cm)<br />

8<br />

6<br />

4<br />

2<br />

0<br />

clareira floresta<br />

Ambientes<br />

Figura 2. Largura média <strong>da</strong>s folhas em áreas de clareira e<br />

de floresta, na Reserva do Km 41, Amazônia Central. As<br />

colunas representam os valores médios e as barras o<br />

desvio padrão <strong>da</strong> média.<br />

Em relação às demais variáveis, tamanho <strong>da</strong> lâmina foliar,<br />

espessura foliar, presença ou ausência de pêlos nas<br />

folhas, bor<strong>da</strong> <strong>da</strong> folha, comprimento do pecíolo e taxa de<br />

herbivoria, não encontrei diferenças significativas entre os<br />

dois ambientes (Tabela 1).<br />

Tabela 1. Resultados do teste t para as variáveis<br />

medi<strong>da</strong>s. X = média; DP = desvio padrão; g.l. = graus de<br />

liber<strong>da</strong>de; p = probabili<strong>da</strong>de<br />

Variável Clareira (X±DP) <strong>Floresta</strong> (X±DP) t g.l. p<br />

Tamanho <strong>da</strong> lâmina foliar 17,594 ± 2,809 18,709 ± 5,353 0,583 13 0,568<br />

Espessura foliar 0,346 ± 0,061 0,321 ± 0,035 1,117 14 0,282<br />

Presença de pêlos 0,892 ± 0,116 0,950 ± 0,041 1,486 11 0,164<br />

Bor<strong>da</strong> foliar 0,818 ± 0,135 0,805 ± 0,076 0,270 14 0,790<br />

Forma <strong>da</strong> folha 0,613 ± 0,147 0,595 ± 0,152 0,268 17 0,791<br />

Comprimento do pecíolo 2,02 ± 0,862 1,864 ± 1,326 0,876 15 0,394<br />

Taxa de herbivoria 1,185 ± 0,204 1,095 ± 0,283 0,815 16 0,426<br />

Discussão<br />

As diferenças na alocação de biomassa entre espécies<br />

vegetais são, também, o resultado de diferenças na (i)<br />

biomassa inicial, (iii) taxa intrínseca de crescimento relativo<br />

e (iii) na disponibili<strong>da</strong>de de recursos (Mooney et al. 1995),<br />

sendo este último considerado um dos fatores que mais<br />

influenciam a diversi<strong>da</strong>de de estratégias a<strong>da</strong>ptativas<br />

encontra<strong>da</strong>s em comuni<strong>da</strong>des vegetais (Crawley 1997). A<br />

disponibili<strong>da</strong>de de recursos, como luz e umi<strong>da</strong>de, varia de<br />

acordo com a paisagem, refletindo-se nas estratégias foliares<br />

adota<strong>da</strong>s pelas plantas (Fonseca et al. 2000). Alguns estudos<br />

têm indicado que em clareiras, a maioria <strong>da</strong>s espécies<br />

vegetais mostram um crescimento proporcional ao aumento<br />

dos recursos disponíveis na área (Steege et al. 2000).<br />

Mesmo esperando que folhas de áreas mais secas fossem<br />

menores e mais espessas do que folhas de áreas mais úmi<strong>da</strong>s,<br />

não foi esta a estratégia encontra<strong>da</strong> nos ambientes estu<strong>da</strong>dos.<br />

A largura específica <strong>da</strong> folha nas áreas de clareira foi maior<br />

que nas áreas florestais.<br />

Esta maior largura foliar <strong>da</strong>s áreas de clareiras, pode ser<br />

resultado <strong>da</strong> rápi<strong>da</strong> expansão e endurecimento precoce <strong>da</strong>s<br />

folhas, minimizando o período em que são mais vulneráveis<br />

a herbívoros (Coley 1996). Outra abor<strong>da</strong>gem possível,<br />

baseia-se no fato de que durante a que<strong>da</strong> de uma árvore<br />

emergente ou do dossel, outras do mesmo porte ou inferior,<br />

cedem à ação mecânica <strong>da</strong> árvore em que<strong>da</strong>. Com isso,<br />

árvores dos estratos inferiores, de ambientes sombreados,<br />

têm na abertura do dossel a oportuni<strong>da</strong>de de constituírem o<br />

estrato dominante. Assim, estas, plantas de folhas mais largas<br />

definiriam as características foliares <strong>da</strong> nova comuni<strong>da</strong>de<br />

ali instala<strong>da</strong>. Existem algumas evidências de que a rápi<strong>da</strong><br />

expansão reduz o <strong>da</strong>no total sofrido nas folhas jovens, e as<br />

taxas de expansão foliar entre as espécies são drasticamente<br />

diferentes (Coley 1996). Porém, para corroborar esta<br />

inferência, teria sido necessário que as espécies de<br />

crescimento rápido presentes nas áreas estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s, que<br />

expandiriam suas folhas a fim de realizar mais fotossíntese,<br />

fossem identifica<strong>da</strong>s.<br />

Outra possível explicação para o padrão encontrado, seria<br />

que as espécies presentes nas clareiras, já estavam<br />

estabeleci<strong>da</strong>s na área antes de ocorrer o evento que produziu<br />

a clareira. Por possuírem um maior grau de tolerância às<br />

mu<strong>da</strong>nças bióticas e abióticas do ambiente, simplesmente<br />

permaneceram na área e aumentaram largura específica de<br />

suas folhas para fotossintetizar mais.<br />

Eu esperava encontrar um maior número de plantas que<br />

possuíssem folhas compostas nas clareiras. Entretanto os<br />

resultados mostraram que, para esta variável, não há<br />

diferença entre clareiras e áreas de floresta. Isto está<br />

relacionado à composição florística, muito similar em ambas<br />

as formações, já que pertenceram a um mesmo contínuo e<br />

compartilham de uma mesma uni<strong>da</strong>de florística, que se<br />

manteve mesmo após um distúrbio.<br />

Estudos comparando áreas com diferentes fisionomias<br />

vegetacionais foram realizados e mostraram diferenças em<br />

relação à presença e quanti<strong>da</strong>de de determina<strong>da</strong>s estruturas<br />

acessórias, como tricomas, grau de lignificação foliar,<br />

distribuição de estômatos e espessura foliar. Estas estruturas<br />

são indispensáveis para que as plantas consigam se<br />

estabelecer e suportar as condições bióticas e abióticas<br />

extremas determina<strong>da</strong>s pelo ambiente.<br />

Contudo, ao comparar áreas florestais fecha<strong>da</strong>s e<br />

clareiras, mesmo com as diferenças na insolação, umi<strong>da</strong>de<br />

relativa do ar e do solo e seleção de herbívoros, entre outras<br />

variáveis, as diferenças não foram evidentes a ponto de<br />

extrapolar em modificações a<strong>da</strong>ptativas em comuns em áreas<br />

oligotróficas ou xeromórficas, para um formação de história<br />

tão recente como as clareiras.<br />

Agradecimentos<br />

Ao meu gorducho, Rodrigo “Diti”, e às minhas<br />

pimentinhas, Bruna e Nathália, pela paciência e orações<br />

durante todos estes dias de sau<strong>da</strong>de. Aos meus pais, Cesar e<br />

Glades, pelo incentivo e carinho de sempre. Ao chefinho,<br />

Carlos Fonseca, por todos os ensinamentos, amizade e por<br />

ter participado do curso durante alguns dias sempre com a<br />

constante alegria que o acompanha. A todos os<br />

pesquisadores com quem tive a oportuni<strong>da</strong>de de desenvolver<br />

projetos: Ana Albernaz, Carlos “Jedi” Rittl, Neusa Hama<strong>da</strong>,<br />

Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002 117


Leandro “boca larga” Ferreira, Jorge Nessimian, Geraldinho<br />

e Paulo De Marco. Ao Dadão e ao Jansen, pela oportuni<strong>da</strong>de<br />

de participar deste curso e dividir alegrias, conhecimentos<br />

e momentos inesquecíveis. Ao Juruna e ao Pinguela, pelo<br />

apoio, companhia e alegria constantes, mesmo às 5 <strong>da</strong><br />

manhã. Ao Flávio, pela aju<strong>da</strong> na re<strong>da</strong>ção deste relatório,<br />

suas dicas “fito-fito-fito-ecológicas” e a alegria de to<strong>da</strong>s as<br />

horas. À to<strong>da</strong> a <strong>Floresta</strong> Amazônia, por sua beleza, mistérios<br />

e rios maravilhosos para mergulhar. E, enfim, a todos os<br />

colegas de curso (Ana Maria, Ana Paula, André, Carolina,<br />

Daniela, Eduardo “gaúcho”, Eduardo “guma”, Flávio,<br />

Flaviana, Genimar, Geiorge, Josué, Luiz, Patricia, Paula,<br />

Sylvia, Vanina e Yumi), pelas inesquecíveis risa<strong>da</strong>s, disputas<br />

por computadores, festas, muito brega e, com certeza,<br />

grandes amizades.<br />

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Projeto individual


Relações entre morfologia externa e ectoparasitismo<br />

em morcegos (Chiroptera, Mammalia) na Amazônia<br />

Central<br />

Introdução<br />

Os morcegos formam o grupo de mamíferos com a<br />

segun<strong>da</strong> maior diversi<strong>da</strong>de de espécies encontra<strong>da</strong> nos<br />

neotrópicos (Findley 1993, Nowak 1994, Voss & Emmons<br />

1996, Tirira 1999) com quase mil espécies, perdendo apenas<br />

para os roedores. Esses animais ocupam os mais variados<br />

nichos ecológicos, que aliado ao fato de muitas espécies<br />

serem dispersoras de sementes e polinizadoras efetivas de<br />

várias plantas, confere ao grupo a maior valência ecológica<br />

dentre os mamíferos (Findley 1993). Portanto, constituem<br />

elementos fun<strong>da</strong>mentais no equilíbrio dinâmico dos<br />

ecossistemas naturais.<br />

Os processos que regulam as populações animais podem<br />

ser decorrentes de diversos fatores, como competição,<br />

pre<strong>da</strong>ção, parasitismo e condições abióticas. Entretanto,<br />

estabelecer qual deles é o mais importante na regulação<br />

populacional não é simples.<br />

O parasitismo pode ter um papel determinante na<br />

regulação de algumas populações. Hudson e colaboradores<br />

(1991) demonstraram que os parasitos são a causa <strong>da</strong>s<br />

flutuações cíclicas em populações do galo silvestre inglês<br />

Lagopus lagopus scotinus. Parasitismo também pode<br />

exercer forte pressão sobre a seleção sexual em aves (Møller<br />

1991, Johnson & Boyce 1991). Fêmeas preferem machos<br />

com carga parasitária menor (Johnson & Boyce 1991) e<br />

ornamentos sexuais secundários maiores (Møller 1991).<br />

Segundo a hipótese de Hamilton & Zuk (1982), os caracteres<br />

sexuais secundários (cau<strong>da</strong>s longas e cores) indicariam uma<br />

resistência de machos contra parasitos e/ou doenças.<br />

Ectoparasitos reduzem drasticamente a aptidão de aves<br />

quando ocorrem em grande número ou quando servem como<br />

hospedeiros intermediários para patógenos (Clayton 1991).<br />

Entretanto, na maioria dos casos os ectoparasitos ocorrem<br />

em pequenas populações, com pouco ou nenhum efeito sobre<br />

a saúde ou valor a<strong>da</strong>ptativo (fitness) dos hospedeiros. Essas<br />

populações em baixa abundância podem ser o resultado <strong>da</strong><br />

coevolução hospedeiro-parasito (Clayton 1991). As<br />

interações parasito-hospedeiro, que freqüentemente<br />

mostram uma evidência circunstancial de co-a<strong>da</strong>ptação, são<br />

ideais para testar coevolução, pois incluem uma <strong>da</strong>s mais<br />

íntimas associações conheci<strong>da</strong>s entre organismos (Price<br />

1980, Rollinson & Anderson 1985, Proctor & Owens 2000).<br />

Estudos sobre parasitismo em morcegos ain<strong>da</strong> são<br />

escassos e limitam-se a uma breve discussão <strong>da</strong> ocorrência<br />

e biologia <strong>da</strong>s espécies de parasitos (veja Coimbra Jr. et al.<br />

1984, Santos 1990, Autino et al. 1998, Graciolli et al. 1999,<br />

George Camargo<br />

Graciolli & Rui 2001). Ectoparasitos podem prejudicar<br />

seriamente a saúde dos morcegos (Overal 1980), mas o<br />

significado e a intensi<strong>da</strong>de desta relação ain<strong>da</strong> permanecem<br />

sem resposta. Quanto a relação entre parasitismo e seleção<br />

sexual em morcegos, espera-se que outro fator, p. ex.<br />

simetria, seja determinante, pois esses animais não são<br />

visualmente orientados sendo incapazes de selecionar<br />

diferentes cores e outros ornamentos sexuais como as aves<br />

em geral.<br />

Este trabalho tem o objetivo de descrever a riqueza e<br />

abundância de ectoparasitos em algumas espécies de<br />

morcegos <strong>da</strong> Amazônia Central. Além disso, as seguintes<br />

questões foram investiga<strong>da</strong>s: (1) a prevalência (sensu Bush<br />

et al. 1997 apud Graciolli & Rui 2001) de ectoparasitos nas<br />

espécies de morcegos captura<strong>da</strong>s; (2) a intensi<strong>da</strong>de de<br />

infestação entre indivíduos de uma mesma espécie de<br />

morcego e se há distinção sexual pelo ectoparasito. Também<br />

pretendeu-se testar se as medi<strong>da</strong>s de simetria, peso,<br />

comprimento do pêlo e área <strong>da</strong> asa dos morcegos estão<br />

relacionados com a riqueza e abundância de ectoparasitos<br />

presentes.<br />

A hipótese central é que morcegos com maior assimetria<br />

entre o lados do corpo (diferença entre o comprimento dos<br />

antebraços e área <strong>da</strong>s asas) apresentam maior carga<br />

parasitária, assumindo que animais voadores, mais<br />

simétricos seriam mais aptos, i.e., apresentariam maior valor<br />

a<strong>da</strong>ptativo (fitness) e portanto seriam mais hábeis em evitar<br />

ou retirar eventuais infestações por ectoparastitas.<br />

Métodos<br />

O estudo foi realizado na Reserva do Km 41 (02 o 24’S,<br />

59 o 52’O), pertencente ao Projeto Dinâmica Biológica de<br />

Fragmentos <strong>Floresta</strong>is (Instituto Nacional de Pesquisas <strong>da</strong><br />

Amazônia/Smithsonian Institution), localiza<strong>da</strong> na estra<strong>da</strong><br />

ZF3, uma via vicinal <strong>da</strong> BR174, ca. de 70 Km de Manaus,<br />

Amazonas.<br />

A vegetação <strong>da</strong> reserva é de floresta tropical úmi<strong>da</strong> com<br />

altura média de 35 m de altura e sub-bosque dominado por<br />

palmeiras acaules (Pires & Prance 1985). A mata está situa<strong>da</strong><br />

em terra firme (terreno não alagável) com altitudes variando<br />

de 50 a 125 m sobre nível do mar. O clima é quente e úmido<br />

com temperatura média anual de 26,7 o C (RADAMBRASIL<br />

1978). A precipitação média anual é de 2200 mm, com pico<br />

de chuvas entre os meses de março e abril e diminuição<br />

marca<strong>da</strong> entre julho e setembro (Lovejoy & Bierregaard<br />

1990). A reserva possui mil hectares, cuja área total está<br />

Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002 119


dividi<strong>da</strong> em um sistema de trilhas ortogonais formando<br />

quadrados de 1 ha.<br />

Os morcegos foram capturados com redes de neblina<br />

(‘mist-nets’) de 6,0 x 2,5 m e de 12,0 x 2,5 m, monta<strong>da</strong>s ao<br />

longo de trilhas, estra<strong>da</strong>s e igarapés, de 23 a 27 de novembro<br />

de 2002. Em ca<strong>da</strong> noite de coleta foram monta<strong>da</strong>s em média<br />

seis redes, que eram abertas ao anoitecer (1800h) e fecha<strong>da</strong>s<br />

por volta <strong>da</strong>s 2200 ou 2300h, dependendo do número de<br />

capturas.<br />

Para ca<strong>da</strong> morcego capturado foram tomados os seguintes<br />

<strong>da</strong>dos: espécie, peso (em gramas), sexo e estágio<br />

reprodutivo, comprimento do antebraço esquerdo e direito<br />

e do pêlo, área <strong>da</strong> asa esquer<strong>da</strong> e direita e vigor do animal.<br />

O peso foi obtido através de dinamômetro (PesolaÒ) com<br />

precisão de 0,5 g. Os comprimentos do antebraço e do pêlo<br />

foram tomados com paquímetro de 0,1 mm de precisão. A<br />

área <strong>da</strong> asa foi obti<strong>da</strong> esticando ca<strong>da</strong> uma delas sobre uma<br />

folha de papel milimetrado e contornando-a com um lápis<br />

e, posteriormente, estima<strong>da</strong> em centímetros cúbicos. O vigor<br />

do animal foi caracterizado em três categorias de aparência:<br />

(1) ruim, o animal se apresentava muito machucado; (2)<br />

normal, o animal apresentava aspecto geral bom, com<br />

algumas ou pequenas escoriações ou feri<strong>da</strong>s e (3) bom, animal<br />

com pelagem brilhante, densa e uniforme, sem<br />

escoriações de qualquer natureza.<br />

Os ectoparasitos foram retirados por catação manual, com<br />

auxílio de pinça. As amostras foram individualiza<strong>da</strong>s por<br />

hospedeiro e devi<strong>da</strong>mente etiqueta<strong>da</strong>s para posterior<br />

morfotipagem.<br />

As relações entre as variáveis independentes (peso,<br />

comprimento do pêlo, assimetria entre o comprimento dos<br />

antebraços e área <strong>da</strong>s asas) e a riqueza e abundância de<br />

ectoparasitos foram analisa<strong>da</strong>s por meio de regressões<br />

lineares simples.<br />

Resultados<br />

Foram capturados 29 morcegos pertencentes a 14<br />

espécies, de duas famílias, Phyllostomi<strong>da</strong>e (13 espécies) e<br />

Vespertilioni<strong>da</strong>e (uma espécie). Carollia brevicau<strong>da</strong> (12<br />

indivíduos) foi a espécie mais freqüente, segui<strong>da</strong> <strong>da</strong>s<br />

espécies congenéricas C. perspicillata e C. castanea, ambas<br />

com dois indivíduos capturados. Tonatia bidens e Artibeus<br />

lituratus também foram representa<strong>da</strong>s por dois indivíduos<br />

ca<strong>da</strong>. As outras nove espécies (Anoura caudifer, Artibeus<br />

jamaicensis, A. obscurus, Glossophaga soricina, Lasiurus<br />

cinereus, Mimon crenulatum, Phyllostomus elongatus,<br />

Rhinophylla pumilio e Tonatia silvicola) foram<br />

representa<strong>da</strong>s por apenas um indivíduo ca<strong>da</strong>.<br />

Foram encontra<strong>da</strong>s dez morfo-espécies de ectoparasitos<br />

nos exemplares capturados, sendo nove delas pertencentes<br />

à ordem Diptera (Strebli<strong>da</strong>e) e um ácaro (Tab. 1). Pouco<br />

mais de 30% dos morcegos não apresentaram infestação<br />

por nenhum ectoparasito. Dos 12 indivíduos capturados de<br />

C. brevicau<strong>da</strong>, cinco não apresentaram infestação. Os<br />

120 Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002<br />

indivíduos de Artibeus obscurus, M. crenulatum, G.<br />

soricina e um dos C. castanea também não estavam<br />

infestados por ectoparasitos.<br />

Tabela 1. Registro de ocorrência (em abundância) de<br />

ectoparasitos por espécie de morcegos capturados na<br />

Reserva do Km 41. Ectoparasitos estão definidos como<br />

morfo-espécies na primeira coluna. As espécies de<br />

morcegos estão representados nas demais colunas, como<br />

segue: Ac: Anoura caudifer; Aj: Artibeus jamaicensis; Al:<br />

Artibeus lituratus; Cb: Carollia brevicau<strong>da</strong>; Cc: Carollia<br />

castanea; Cp: Carollia perspicillata; Lc: Lasiurus cinereus;<br />

Pe: Phyllostomus elongatus; Rp: Rhinophylla pumilio; Tb:<br />

Tonatia bidens e Ts: Tonatia silvicola.<br />

Ectoparasitos Ac Aj Al Cb Cc Cp Lc Pe Rp Tb Ts<br />

Strebli<strong>da</strong>e<br />

Morfo-espécie 1 1 0 0 6 0 4 0 8 0 0 4<br />

Morfo-espécie 2 0 0 0 1 0 0 0 0 0 1 0<br />

Morfo-espécie 3 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0<br />

Morfo-espécie 4 0 0 0 0 0 0 0 0 0 8 0<br />

Morfo-espécie 5 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0<br />

Morfo-espécie 6 0 0 0 1 1 0 0 0 0 0 0<br />

Morfo-espécie 7 0 0 0 14 0 0 0 0 0 0 0<br />

Morfo-espécie 8 0 1 0 0 0 0 4 0 1 0 0<br />

Morfo-espécie 9 0 0 9 0 0 0 0 0 0 0 0<br />

Acari<br />

Morfo-espécie 10 0 0 0 2 0 0 0 0 1 0 0<br />

O díptero morfo-espécie 1 prevaleceu em cinco <strong>da</strong>s 11<br />

espécies de morcegos infesta<strong>da</strong>s (Tab. 1). A morfo-espécie<br />

8 foi encontra<strong>da</strong> em Artibeus jamaicensis, Rhinophylla<br />

pumilio (Phyllostomi<strong>da</strong>e) e em Lasiurus cinereus<br />

(Vespertilioni<strong>da</strong>e). As morfo-espécies 3 e 4 foram<br />

encontra<strong>da</strong>s apenas em Tonatia bidens, enquanto que a<br />

morfo-espécie 5 foi detecta<strong>da</strong> apenas em Carollia<br />

brevicau<strong>da</strong>, na qual também foi encontra<strong>da</strong> com<br />

exclusivi<strong>da</strong>de a morfo-espécie 7 em abundância (14<br />

indivíduos). A morfo-espécie 9 foi encontra<strong>da</strong> apenas em<br />

Artibeus lituratus. A morfo-espécie 7 foi a mais abun<strong>da</strong>nte<br />

(14 indivíduos), ocorrendo em um único indivíduo de C.<br />

brevicau<strong>da</strong>. A morfo-espécie 9, encontra<strong>da</strong> apenas em<br />

Artibeus lituratus, apresentou abundância relativamente alta,<br />

com nove indivíduos. As morfo-espécies 1 e 4, também<br />

apresentaram abundâncias relativamente altas (oito<br />

indivíduos) em Phyllostomus elongatus e Tonatia bidens,<br />

sendo a última exclusiva a este hospedeiro.<br />

A maior riqueza de ectoparasitos foi encontra<strong>da</strong> em<br />

Carollia brevicau<strong>da</strong>, na qual seis <strong>da</strong>s dez morfo-espécies<br />

de ectoparasitos foram coleta<strong>da</strong>s (Tab. 1). Em apenas um<br />

dos dois indivíduos capturados de Tonatia bidens foram<br />

encontra<strong>da</strong>s três morfo-espécies de ectoparasitos (Tab. 1),<br />

o outro estava isento de ectoparasitos.<br />

O peso (R 2 =0.000, t= -0.043, g.l.=16, p=0.996) e o<br />

comprimento do pêlo (R 2 =0.002, t=0.203, g.l.=17, p=0.841,<br />

Fig. 1) dos indivíduos não estiveram relacionados com uma<br />

maior riqueza de morfo-espécies de ectoparasitos. As<br />

medi<strong>da</strong>s de assimetria entre antebraços (R 2 =0.000, t= -0.011,<br />

g.l.=19, p=0.991, Fig. 2) e área <strong>da</strong>s asas (R 2 =0.011, t= -<br />

0.463, g.l.=19, p=0.648, Fig. 3) também não se relacionaram


Riqueza de ectoparasitos<br />

3.5<br />

3.0<br />

2.5<br />

2.0<br />

1.5<br />

1.0<br />

A<br />

0.5<br />

0 5 10 15<br />

Comprimento do pêlo (mm)<br />

Abundância de ectoparasitos<br />

20<br />

15<br />

10<br />

5<br />

0<br />

0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5<br />

Assimetria entre antebraços (mm)<br />

Figura 1. Relações entre as variáveis morfométricas: (a) comprimento do pêlo dos indivíduos (b) assimetria do<br />

antebraço (diferença entre o antebraço direito e esquerdo de ca<strong>da</strong> indivíduo); (c) assimetria <strong>da</strong> área <strong>da</strong> asa (diferença<br />

entre a área <strong>da</strong> asa direita e esquer<strong>da</strong>) e a riqueza de ectoparasitos. Relações entre (d) o peso (e) a assimetria dos<br />

antebraços e (f) a assimetria <strong>da</strong>s áreas <strong>da</strong>s asas de ca<strong>da</strong> indivíduo e a abundância de ectoparasitos encontra<strong>da</strong> em ca<strong>da</strong><br />

um deles.<br />

significativamente com a riqueza de ectoparasitos.<br />

O peso dos indivíduos (R 2 =0.001, t=0.111, g.l.=16,<br />

p=0.913, Fig. 4) e o comprimento do pêlo (R 2 =0.031, t= -<br />

0.738, g.l.=17, p=0.47) não têm relação com o número de<br />

ectoparasitos presentes. As medi<strong>da</strong>s de assimetria entre<br />

antebraços (R 2 =0.01, t= -0.447, g.l.=19, p=0.66, Fig. 5) e<br />

área <strong>da</strong>s asas (R 2 =0.04, t= -0.278, g.l.=19, p=0.784, Fig. 6)<br />

também não tiveram efeito sobre a abundância de<br />

ectoparasitos.<br />

Quanto ao vigor dos animais, dos 29 indivíduos<br />

capturados, sete apresentavam-se normais. Dois indivíduos<br />

de aparência normal não continham ectoparasitos. Os outros<br />

22 animais tinham aparência absolutamente saudável.<br />

C<br />

E<br />

Riqueza de ectoparasitos<br />

3.5<br />

3.0<br />

2.5<br />

2.0<br />

1.5<br />

1.0<br />

0.5<br />

0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5<br />

Assimetria entre antebraços (mm)<br />

Dos doze indivíduos de Carollia brevicau<strong>da</strong>, oito eram<br />

machos, dos quais três não estavam infectados. Das quatro<br />

fêmeas captura<strong>da</strong>s desta espécie, apenas uma não apresentou<br />

ectoparasitos.<br />

Discussão<br />

A especifici<strong>da</strong>de e a prevalência de algumas espécies de<br />

ectoparasitos em morcegos hospedeiros está bem relata<strong>da</strong><br />

em alguns trabalhos realizados em regiões tempera<strong>da</strong>s (e.g.<br />

Overal 1980, Deunff et al. 1990). Na Espanha, Estra<strong>da</strong>-Peña<br />

e colaboradores (1989) relataram a distribuição e a<br />

prevalência de ácaros em espécies de morcegos nativos.<br />

Nesses estudos, a maior parte <strong>da</strong>s capturas de morcegos<br />

B<br />

D<br />

F<br />

Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002 121


foram feitas em cavernas e habitações, onde co-habitavam<br />

várias espécies de morcegos. Assim, como os próprios<br />

autores advertem, as relações de especifici<strong>da</strong>de entre<br />

parasito-hospedeiro permanecem pouco conheci<strong>da</strong>s,<br />

principalmente no que se refere aos morcegos como<br />

hospedeiros e a influência do parasitismo em suas<br />

populações. No presente trabalho as relações de<br />

especifici<strong>da</strong>de entre parasito e hospedeiro não puderam ser<br />

verifica<strong>da</strong>s por causa do baixo número de indivíduos<br />

capturados de ca<strong>da</strong> espécie. Entretanto, vale mencionar a<br />

suposta especifici<strong>da</strong>de entre T. bidens e as morfo-espécies<br />

de Strebilídeos 3 e 4, entre C. brevicau<strong>da</strong> e as morfo-espécies<br />

5 e 7 e entre A. lituratus e a morfo-espécie 9.<br />

Relações de especifici<strong>da</strong>de entre parasitos e hospedeiros<br />

são estabeleci<strong>da</strong>s através de compatibili<strong>da</strong>des fisiológicas,<br />

ecológicas e comportametais (Overal 1980). A<br />

especifici<strong>da</strong>de de ectoparasitas em hospedeiros poucas vezes<br />

foi estu<strong>da</strong><strong>da</strong> no nível de comuni<strong>da</strong>des. Exceção é o trabalho<br />

de Gettinger & Ernest (1995) no qual se investigou a<br />

comuni<strong>da</strong>de de ecoparasitos em pequenos mamíferos nãovoadores<br />

no cerrado brasileiro. Entretanto, muitas destas<br />

relações não são específicas. Overal (1980) afirma que<br />

ectoparasitos dípteros são freqüentemente não-específicos,<br />

ocorrendo em diversas espécies de morcegos. A capaci<strong>da</strong>de<br />

de vôo desses ectoparasitos permite que eles explorem e<br />

mudem de hospedeiros, conforme suas necessi<strong>da</strong>des de<br />

alimentação e abrigo (Overal 1980).<br />

Não realizei testes com o vigor dos animais por estes<br />

apresentarem apenas duas categorias de aparência, sendo<br />

que dois deles, que continham algumas escoriações<br />

(aparência normal) não estavam infectados. A preferência<br />

por machos ou fêmeas dentro de uma mesma espécie e a<br />

prevalência dos diversos táxon de parasito também não foram<br />

testa<strong>da</strong>s devido ao baixo número de amostras<br />

(indivíduos) por espécie.<br />

A inexistência de relações entre variáveis morfológicas<br />

e a riqueza e abundância de ectoparasitos também poderiam<br />

ser explica<strong>da</strong>s pelo (a): (1) o número de amostras não foi<br />

suficiente para detectar um possível efeito, (2) baixa acuracia<br />

nas medi<strong>da</strong>s de área de asa, estima<strong>da</strong>s com um erro<br />

considerável devido ao fato de serem toma<strong>da</strong>s com o animal<br />

vivo e estes se moverem freqüentemente, expandindo e<br />

retraindo as asas, (3) certa dificul<strong>da</strong>de de coletar a totali<strong>da</strong>de<br />

de ectoparasitos presentes (veja Proctor & Owens 2000),<br />

considerando também que estes desenvolveram mecanismos<br />

para evitar a dizimação de suas populações que a autolimpeza<br />

(grooming) de seus hospedeiros provoca (Clayton<br />

1991) e (4) possibili<strong>da</strong>de de não haver relação alguma entre<br />

as variáveis estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s, como mostram os resultados aqui<br />

obtidos.<br />

As outras variáveis (peso, comprimento do pêlo e a<br />

diferença entre as medi<strong>da</strong>s dos antebraços esquerdo e<br />

direito) também foram pouco eluci<strong>da</strong>tivas. Assim, refutei<br />

minha hipótese de que a maior assimetria entre os lados do<br />

corpo dos hospedeiros promoveria maior carga parasitária.<br />

Teixeira e colaboradores (2001) também não encontraram<br />

122 Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002<br />

relações significativas entre caracteres morfométricos de<br />

morcegos hospedeiros e riqueza de ectoparasitas no Pantanal<br />

Sul-Matogrossense. Cabe ressaltar, que essas relações devem<br />

ser investiga<strong>da</strong>s dentro de um mesmo táxon de morcego, a<br />

priori, antes de estabelecer padrões de distribuição <strong>da</strong><br />

comuni<strong>da</strong>de de ectoparasitos dentre os morcegos<br />

hospedeiros.<br />

Assim, se fazem necessários estudos direcionados a responder<br />

questões sobre as comuni<strong>da</strong>des de ectoparasitos,<br />

utilizando-se <strong>da</strong>s características e comportamento de seus<br />

hospedeiros. Embora alguns parasitólogos discordem, ca<strong>da</strong><br />

morcego pode ser considerado uma uni<strong>da</strong>de amostral, pois<br />

representa um habitat completo para certos ectoparasitos<br />

(Bush et al. 1997 apud Graciolli & Rui 2001). Apesar dos<br />

resultados pouco conclusivos do presente estudo, o peso do<br />

hospedeiro, o comprimento do pêlo e área <strong>da</strong> asa <strong>da</strong>s<br />

espécies, além <strong>da</strong>s características morfológicas, ecofisiológicas<br />

e comportamentais <strong>da</strong>s espécies de morcegos<br />

merecem ser profun<strong>da</strong>mente investiga<strong>da</strong>s, pois podem<br />

determinar a presença (riqueza e abundância) ou ausência<br />

de espécies de ectoparasitas e estes, podem atuar como<br />

agentes importantes na regulação <strong>da</strong>s populações de<br />

morcegos hospedeiros.<br />

Agradecimentos<br />

Em primeiro lugar gostaria de agradecer e parabenizar à<br />

dupla genial, que veio diretamente <strong>da</strong> tela do Cartoon Network<br />

para a coordenação do curso de campo: <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>Floresta</strong> Amazônica (<strong>PDBFF</strong>): Dadão ‘Pink’ (Eduardo<br />

Venticinque) & Jansen ‘Cérebro’ Zuanon; agradeço à vocês<br />

dois desde a minha seleção para o curso até os dias<br />

descontraídos de muitas risa<strong>da</strong>s e também pelos dias de<br />

cobrança de relatórios, igualmente descontraídos. Ao grande<br />

e incansável Ocírio ‘Juruna’ Pereira e ao amigo André Faria<br />

Mendonça agradeço por me aju<strong>da</strong>rem na coleta de <strong>da</strong>dos e<br />

pela companhia valiosa em diversos momentos. Ao amigo<br />

Marcelo ‘Pinguela’ Moreira por estar sempre alerta quanto<br />

ao apoio logístico, pelas idéias e sugestões e pelas boas<br />

risa<strong>da</strong>s durante todo o curso. A todo pessoal de apoio, Srta.<br />

Maria do Carmo, Sr. José Jorge, Raimundo Nonato, Júnior,<br />

Sr. Ari e as demais pessoas do staff que sequer fiquei sabendo<br />

o nome. Aos revisores deste manuscrito Jansen Zuanon,<br />

Glauco Machado e Paulo De Marco, muito obrigado pelas<br />

dicas e sugestões. A amiga Paula Pedrosa pela disposição<br />

em me aju<strong>da</strong>r com os gráficos do Systat. Por fim, a todos os<br />

ilustríssimos professores que participaram do curso e a todos<br />

os novos amigos e amigas, pela proeza de convivermos em<br />

harmonia, mesmo que confinados, durante os trinta dias do<br />

curso.<br />

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Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002 123


Caracterização hierarquica <strong>da</strong> bacia de drenagem na<br />

Reserva Km 41, Manaus AM<br />

Introdução<br />

A Bacia Amazônica, com mais de dois bilhões de anos,<br />

é uma enorme depressão origina<strong>da</strong> a partir de uma bacia<br />

intercratônica <strong>da</strong> plantaforma brasiliana e por depósitos<br />

sedimentares e magmáticos posteriores ao pré-cambriano<br />

(Putzer 1984), que se estendem até o presente período. A<br />

paisagem predominante é de uma extensa planície onde a<br />

Bacia Amazônica alterna seus amplos depósitos<br />

sedimentares com afloramentos graníticos vestigiais <strong>da</strong><br />

rocha matriz. Desses afloramentos, os três arcos geológicos<br />

que delimitam os terços inferior, médio e superior do rio<br />

Amazonas (Purús, Gurupá e Iquitos) são responsáveis<br />

diretos por parte <strong>da</strong>s condições mesoclimáticas, topográficas<br />

e hidrológicas <strong>da</strong> região central <strong>da</strong> Amazônia (Putzer 1984).<br />

O clima, por sua vez, associado com as características<br />

de relevo e hidrografia, propiciam o estabelecimento de uma<br />

vegetação principalmente florestal úmi<strong>da</strong>, com padrões de<br />

distribuição definidos também pelas redes de drenagem<br />

forma<strong>da</strong>s por igarapés de pequenas dimensões.<br />

Salati & Marques (1984) relatam a importância <strong>da</strong>s<br />

árvores na interceptação de até 25% <strong>da</strong> precipitação. Esta<br />

água geralmente evapora antes de alcançar o solo, e,<br />

juntamente com o percentual de água que se perde por<br />

evapotranspiração, constituem uma per<strong>da</strong> representativa de<br />

água no sistema (Salati & Marques 1984).<br />

Obviamente, é de se esperar que ocorram variações nestes<br />

percentuais de interceptação e de evapotranspiração,<br />

mediante alterações na estrutura <strong>da</strong> cobertura vegetal, tais<br />

como, formação de clareiras, aberturas de estra<strong>da</strong>s ou mesmo<br />

em condições naturais como pontos de decidui<strong>da</strong>de no<br />

dossel ou em vegetação ciliar. Esta última situação pode<br />

propiciar às cabeceiras dos igarapés uma entra<strong>da</strong> maior de<br />

energia solar e sedimentos (Beaumont 1975).<br />

Um conceito que se baseia também neste sistema de fluxo<br />

de energia, “O Rio Contínuo”, abor<strong>da</strong> entre outros pontos,<br />

a relação de depósito primário de compostos orgânicos e o<br />

seu carreamento ao longo dos contínuos <strong>da</strong>s malhas de<br />

drenagem (Vanotte et al. 1980 apud Botero 1999). Nesta<br />

abor<strong>da</strong>gem, a hierarquia dos riachos ou igarapés,<br />

condiciona<strong>da</strong> por características exclusivamente<br />

arquiteturais (Horton 1945; Strahler 1954, 1957; apud Beaumont<br />

1975), tenderia a apresentar resíduos mais<br />

fragmentados a medi<strong>da</strong> que se subiria na escala hierarquica<br />

124 Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002<br />

Flávio José Soares Júnior<br />

dos igarapés, enquanto nas cabeceiras, onde o depósito<br />

primário deve ser maior, espera-se que a fragmentação e<br />

decomposição sejam relativamente menores.<br />

Além <strong>da</strong> distribuição e fragmentação do folhiço<br />

depositado nos leitos, também características físicas<br />

relaciona<strong>da</strong>s à ordem do igarapé devem ter relação com a<br />

entra<strong>da</strong> dos mesmos. Assim, os descritores que melhor<br />

definiriam a estrutura de um curso d‘água, (profundi<strong>da</strong>de, a<br />

largura e a vazão) deveriam atingir seus valores máximos<br />

nos corpos d‘água de ordens superiores. A veloci<strong>da</strong>de do<br />

fluxo de água, por sua vez, está condiciona<strong>da</strong> por numerosos<br />

fatores que independem <strong>da</strong> posição hierárquica do igarapé,<br />

mas que influenciam diretamente na vazão.<br />

O presente estudo objetivou caracterizar os igarapés <strong>da</strong><br />

Reserva <strong>Floresta</strong>l do Km 41 quanto a ordem e testar se os<br />

fatores profundi<strong>da</strong>de, largura, vazão e tipo de depósito do<br />

leito do igarapés, além <strong>da</strong> veloci<strong>da</strong>de <strong>da</strong> água, definiriam<br />

as diferenças entre os eles, sob a perspectiva <strong>da</strong> Teoria do<br />

Rio Contínuo”.<br />

Métodos<br />

Área de estudo<br />

A Reserva <strong>Floresta</strong>l do Km 41 está localiza<strong>da</strong> a<br />

aproxima<strong>da</strong>mente 90 km NNE de Manaus - AM, entre as<br />

coordena<strong>da</strong>s 2o24’26" – 2o25’31" S, 59o43’40" – 59o45’50" W e em altitudes variando de 50 a 125 m (Oliveira 1997).<br />

O clima local é classificado como Am (clima tropical<br />

úmido de monções com precipitação excessiva e ocorrência<br />

de 1-2 meses de baixa precipitação) no sistema de Köppen.<br />

A média de temperaturas para Manaus é de 26,7o C, com<br />

flutuações de 2o C (Anon. 1978, apud Lovejoy &<br />

Bierregaard 1990). A precipitação média é de 2.200 mm/<br />

ano, com uma estação chuvosa de dezembro a maio e uma<br />

estação seca de junho a novembro (Fisch et al. 1998).<br />

A vegetação dominante é a <strong>Floresta</strong> de Terra Firme, com<br />

ocorrência de Matas de Baixio onde correm os igarapés.<br />

Estas Matas de Baixio ocorrem sobre solos encharcados,<br />

arenosos, lixiviados e pobres em nutrientes (Oliveira 1997).<br />

Metodologia<br />

Foram aloca<strong>da</strong>s 43 uni<strong>da</strong>des amostrais em 25 igarapés,<br />

em uma área aproxima<strong>da</strong> de 220 hectares. O número e a<br />

localização <strong>da</strong>s uni<strong>da</strong>des amostrais em ca<strong>da</strong> igarapé foram


defini<strong>da</strong>s tomando por base a heterogenei<strong>da</strong>de arquitetônica<br />

do mesmo ao longo de seu curso. Em ca<strong>da</strong> ponto amostral<br />

foram feitas medi<strong>da</strong>s de largura e profundi<strong>da</strong>de do leito,<br />

veloci<strong>da</strong>de <strong>da</strong> água (para o cálculo de vazão - área do leito<br />

do igarapé em cm2 x veloci<strong>da</strong>de em cm/seg.) e número de<br />

interseções. Esta última, uma medi<strong>da</strong> do grau de<br />

fragmentação do folhiço acumulado no leito dos rios, foi<br />

feita colocando uma régua sobre uma amostra de folhiço e<br />

contabilizando os pontos em que ca<strong>da</strong> parte <strong>da</strong>s folhas tocam<br />

a régua. O depósito nos leitos foi também observado e<br />

classificado em dois tipos: areia ou folhiço.<br />

As medi<strong>da</strong>s de largura dos igarapés foram dividi<strong>da</strong>s em<br />

10 partes iguais, o que resultou em nove pontos onde foram<br />

toma<strong>da</strong>s medi<strong>da</strong>s de profundi<strong>da</strong>de, a partir <strong>da</strong>s quais se<br />

estabeleceu a área seccional dos igarapés.<br />

A classificação dos igarapés quanto à ordem foi realiza<strong>da</strong><br />

com auxílio de um mapa e conforme a proposta de Horton<br />

(1945), modificado por Strahler (1954, 1957) apud Beaumont<br />

1975). Assim, to<strong>da</strong>s as nascentes foram considera<strong>da</strong>s<br />

igarapés de primeira ordem, estes por sua vez ao se unirem<br />

formaram os de segun<strong>da</strong> ordem. Os de terceira ordem são<br />

formados pela união de dois de segun<strong>da</strong> ordem, e assim<br />

sucessivamente.<br />

A relação entre as variáveis mensura<strong>da</strong>s e a variável<br />

resposta (ordem dos igarapés) foi testa<strong>da</strong> por meio de uma<br />

Análise de Variância (ANOVA).<br />

Resultados<br />

A classificação dos igarapés dentro <strong>da</strong> Reserva <strong>Floresta</strong>l<br />

do Km 41 relaciona 14 riachos de primeira ordem, seis de<br />

segun<strong>da</strong> ordem (sendo três deles segmentos de um mesmo<br />

contínuo) e cinco de terceira ordem, sendo todos parte de<br />

uma mesma microbacia de drenagem.<br />

A largura média encontra<strong>da</strong> para os igarapés foi de 155<br />

cm, e a profundi<strong>da</strong>de foi de 17,3 cm. A veloci<strong>da</strong>de média<br />

do fluxo de água foi de 23,7 m3 /s11 .<br />

As observações de campo evidenciaram a presença de<br />

igarapés secos, enquanto que outros, com relativo fluxo de<br />

água, não estavam relacionados no mesmo mapa. A largura<br />

de alguns igarapés de primeira ordem tinham as suas margens<br />

muito afasta<strong>da</strong>s, formando amplos charcos, com poças e<br />

pequenos filetes de água corrente isolando porções de terra<br />

e de vegetação. O inverso ocorria com a profundi<strong>da</strong>de, que<br />

em certos trechos de igarapés de primeira ordem, atingiam<br />

mais de um metro.<br />

Entretanto, tomando por base os pontos mais<br />

característicos de ca<strong>da</strong> trecho, a variável que melhor<br />

explicou a “ordem” dos igarapés foi a largura (F =22,354,<br />

[2,36]<br />

p


mesmo não apresentando um alto valor de probabili<strong>da</strong>de,<br />

não responderam à caracterização por ordem dos braços <strong>da</strong><br />

bacia de drenagem desta malha hidrológica (F =2,127,<br />

[2,36]<br />

p=0,060, R2 =0,014). Uma condição similar foi encontra<strong>da</strong><br />

para a proporção de folhiço no substrato entre as três ordens<br />

de igarapés (Figura 2b) que também não apresentou<br />

diferenças significativas (F =1.531, p=0.188, R [2,36] 2 =0.014).<br />

areia total<br />

folhico<br />

8<br />

6<br />

4<br />

2<br />

0<br />

4<br />

3<br />

2<br />

1<br />

0<br />

1 2 3<br />

ordem<br />

1 2 3<br />

ordem<br />

126 Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002<br />

(A)<br />

(B)<br />

Figura 2. Proporção de a) areia e de b)folhiço acumulado<br />

no leito dos igarapés.<br />

Discussão<br />

Defini<strong>da</strong>s as características físicas e estruturais dos<br />

igarapés que compõem a microbacia de drenagem <strong>da</strong><br />

Reserva do Km 41, torna-se possível avaliar a importância<br />

relativa de ca<strong>da</strong> igarapé dentro conjunto do sistema<br />

hidrológico, ao invés de caracterizá-los de forma simplista<br />

como o fazem desde 1945, a partir <strong>da</strong> iniciativa de Horton<br />

(citado por Beaumont 1975). Esta crítica somente reforça a<br />

de Chorley (1969 apud Beaumont 1975), que acreditava na<br />

inadequação do método por este não seguir as regras básicas<br />

de adição e multiplicação algébrica, ignorando o fato que<br />

muitos igarapés de segun<strong>da</strong> ordem comportam volumes<br />

muito acima dos seus vizinhos de mesma ordem, bastando<br />

que esse receba como afluente, vários igarapés de primeira<br />

ordem.<br />

Conforme esperado, igarapés de maior magnitude<br />

(terceira ordem) estão propensos a receberem uma<br />

quanti<strong>da</strong>de maior de energia e biomassa, também pelo maior<br />

afastamento de suas margens, o que resulta em menor<br />

cobertura do dossel, deixando-o exposto à ação dos fatores<br />

físicos climáticos, gerando consequentemente uma maior<br />

produtivi<strong>da</strong>de primária no sistema aquático.<br />

A relação significativa entre a largura, profundi<strong>da</strong>de,<br />

vazão e a ordem dos igarapés (variáveis altamente<br />

correlaciona<strong>da</strong>s), corrobora o fato dos igarapés de terceira<br />

ordem serem estruturalmente adequados para comportarem<br />

um maior volume de água, já que estes canalizam o fluxo<br />

de águas dos igarapés a montante. O mesmo ocorre com os<br />

igarapés de segun<strong>da</strong> ordem quando comparados aos de<br />

primeira ordem.<br />

O grau de fragmentação do folhiço acumulado, não<br />

corresponde ao predito pela Teoria do Rio Contínuo, onde<br />

esperávamos materiais mais fragmentados nas porções finais<br />

dos igarapés e principalmente naqueles de maior ordem.<br />

Em oposição a essa hipótese, seria lógico imaginar que por<br />

drenarem áreas maiores e receber maiores quanti<strong>da</strong>des de<br />

material orgânico oriundo <strong>da</strong> floresta adjacente, as porções<br />

finais dos igarapés de 3 o ordem deveriam estar recebendo<br />

um adicional de folhiço a ser somado àquele carreado pelo<br />

fluxo dos rios desde as suas nascentes.<br />

Por fim, a veloci<strong>da</strong>de média <strong>da</strong> água, não pareceu<br />

corresponder com fideli<strong>da</strong>de à vazão, já que a mesma variava<br />

muito ao longo do próprio igarapé. Isso nos leva a acreditar<br />

que esta não é uma boa variável para predições sobre ordens<br />

de rios. Talvez, a utilização de equipamentos mais refinados<br />

de medi<strong>da</strong>, e de uma metodologia que preveja as variações<br />

de veloci<strong>da</strong>de nas porções mais turbulentas dos igarapés<br />

possa sanar este problema e levar a resultados mais<br />

confiáveis.<br />

Agradecimentos<br />

Agradeço a aju<strong>da</strong> dos professores Jansen e Paulo, na<br />

busca por uma hipótese a ser trabalha<strong>da</strong> junto aos igarapés,<br />

e a todos os professores envolvidos neste “super curso”; ao<br />

Marcelo e ao Juruna pelo constante apoio; ao Luiz, grande<br />

companheiro no sofrimento de campo e nas análises e<br />

discussões sobre estes 30 dias de curso; à Carina, por ter<br />

me orientado nas análise estatísticas dos <strong>da</strong>dos e em sua<br />

interpretação; aos CD’s <strong>da</strong> Paula e Sylvia que me salvaram<br />

<strong>da</strong> eminente loucura em ter de escutar “brega e forró” por<br />

tanto tempo e, a todos os meus novos amigos (André (Super<br />

Kid - Um amigo para o resto <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, eu espero), George,<br />

Josué, Mestre Eduardo, Guma, Ana Paula, Carolina, Patrícia,<br />

Vanina, Yumi, Daniela, Genimar, Ana Maria, Flaviana) que<br />

espero rever em breve.<br />

Por fim, agradeço a Deus por estar cui<strong>da</strong>ndo <strong>da</strong>queles<br />

que tanto amo (Mãe, Pai, Letícia, Lívia, Laurinha (minha<br />

flor de mel) e a Ana Paula) enquanto estou longe.<br />

Obrigado.<br />

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Fatores de mortali<strong>da</strong>de de galhas em ambientes de<br />

bor<strong>da</strong> e de interior <strong>da</strong> mata<br />

Introdução<br />

A destruição de hábitats é uma <strong>da</strong>s maiores ameaças à<br />

biodiversi<strong>da</strong>de e a principal causa <strong>da</strong> crise de extinção atual<br />

(Wilcox & Murphy 1985, Wilson 1997, Joly & Bicudo<br />

1999). Adicionalmente, a fragmentação de ecossistemas em<br />

paisagens intensivamente cultiva<strong>da</strong>s e com pouca cobertura<br />

florestal remanescente torna-se ameaça ain<strong>da</strong> maior às<br />

espécies que ocupam essas áreas (Morellato 1992,<br />

Rosenberg et al. 1997).<br />

Muitos estudos têm sido realizados com o intuito de<br />

verificar os efeitos <strong>da</strong> fragmentação e <strong>da</strong> destruição de habitats<br />

sobre a fauna. É consenso entre os pesquisadores que a<br />

principal conseqüência desses impactos é o declínio tanto<br />

no número como na diversi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s espécies mais sensíveis<br />

e/ou o aumento <strong>da</strong> riqueza <strong>da</strong>quelas mais oportunistas, além<br />

de profun<strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>nças na estrutura e funcionamento dos<br />

ecossistemas alterados (Goodman 1987, Murcia 1995, Hill<br />

et al. 1999).<br />

Um dos principais fatores que alteram o funcionamento<br />

dos ecossistemas florestais é o efeito de bor<strong>da</strong> (Bierregaard<br />

et al. 1992). Sob este efeito, o interior do sub-bosque é<br />

exposto a condições microclimáticas drasticamente<br />

diferentes, que incluem mu<strong>da</strong>nças na temperatura, aumento<br />

na insolação, menor umi<strong>da</strong>de relativa e maior exposição ao<br />

vento (Bierregaard et al. 1992, Laurance 1997). Essas<br />

mu<strong>da</strong>nças nos fatores abióticos <strong>da</strong> bor<strong>da</strong> para o interior <strong>da</strong><br />

mata (Laurance 1997) afetam a composição e a riqueza de<br />

vários organismos (Pavón et al. 1999, Santos et al. 1999),<br />

Eduardo Cardoso Teixeira<br />

como, por exemplo, as galhas (Resende et al. este volume).<br />

Galhas são tumores vegetais causados por diversos<br />

organismos como fungos, nematódeos, bactérias, vírus e,<br />

principalmente, insetos. As galhas têm recebido especial<br />

atenção por parte dos pesquisadores, devido às suas<br />

quali<strong>da</strong>des como potenciais indicadores de diversi<strong>da</strong>de e<br />

perturbação de habitats (Fernandes et al. 1995). Fernandes<br />

& Price (1988) ressaltam alguns atributos como riqueza,<br />

abundância, especialização, facili<strong>da</strong>de de amostragem e<br />

associação estreita com outras espécies, principalmente, com<br />

suas plantas hospedeiras, que contribuem para que estes<br />

organismos sejam considerados uma importante ferramenta<br />

em estudos de monitoramento e avaliação de impactos<br />

ambientais.<br />

Latitude, altitude, temperatura e umi<strong>da</strong>de são fatores que<br />

fortemente influenciam a diversi<strong>da</strong>de e a distribuição dos<br />

agentes galhadores (Fernandes & Price 1988). Vários<br />

estudos indicam uma maior riqueza de galhas em ambientes<br />

mais secos e expostos à luz solar do que em ambientes mais<br />

sombreados e úmidos (Fernandes et al. 1995, Fernandes et<br />

al. 2002, Gonçalves-Alvim & Fernandes 2001b, Price et<br />

al. 1998). A mortali<strong>da</strong>de diferencial de galhas registra<strong>da</strong><br />

nesses ambientes tem sido aponta<strong>da</strong> como o principal<br />

mecanismo ecológico responsável por este padrão de riqueza<br />

(Fernandes et al 1995, Fernandes et al. 2000, Gonçalves-<br />

Alvim & Fernandes 2001a). De uma forma geral, a<br />

mortali<strong>da</strong>de dos organismos galhadores é maior em<br />

ambientes úmidos do que em ambientes secos (Fernandes<br />

Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002 127


et al. 2002).<br />

Os principais fatores responsáveis pela mortali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s<br />

galhas são as doenças causa<strong>da</strong>s por fungos, o parasitismo, a<br />

pre<strong>da</strong>ção e a hipersensitivi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s plantas (Fernandes et<br />

al. 2000, Fernandes & Negreiros 2001, Fernandes et al.<br />

2002). A porcentagem de ocorrência destes fatores varia de<br />

acordo com o ambiente no qual as galhas estão presentes.<br />

Por exemplo, Fernandes & Price (1992) demonstraram em<br />

estudo anterior que em ambientes xéricos as porcentagens<br />

de parasitismo e de doenças provoca<strong>da</strong>s por fungos em<br />

galhas foram significativamente maiores do que em<br />

ambientes mésicos. Por outro lado, neste último as galhas<br />

foram mais pre<strong>da</strong><strong>da</strong>s do que no primeiro.<br />

Apesar de alguns trabalhos indicarem a existência de uma<br />

alta diversi<strong>da</strong>de de galhas na Amazônia (Mendes et al. este<br />

volume, Resende et al. este volume), poucos são os estudos<br />

realizados com esses organismos na região (vide, por<br />

exemplo, Mendes et al. este volume). Desta forma, é de<br />

fun<strong>da</strong>mental importância a realização de estudos que<br />

procurem eluci<strong>da</strong>r os processos e mecanismos que<br />

influenciam os padrões de riqueza de galhas na Amazônia,<br />

de forma a viabilizar futuros trabalhos de monitoramento e<br />

avaliação de impactos ambientais com base nesses<br />

organismos.<br />

Assim, o objetivo deste estudo foi comparar a riqueza e<br />

os principais fatores de mortali<strong>da</strong>de de galhas entre um<br />

ambiente de mata e um de bor<strong>da</strong> na Amazônia Central.<br />

Espera-se que a porcentagem de mortali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s galhas seja<br />

maior no interior <strong>da</strong> mata do que na bor<strong>da</strong>. Além disso,<br />

provavelmente, na bor<strong>da</strong> as galhas devem ser mais pre<strong>da</strong><strong>da</strong>s<br />

e parasita<strong>da</strong>s do que na mata, onde as doenças causa<strong>da</strong>s por<br />

fungos devem ocorrer com maior freqüência.<br />

Métodos<br />

Desenvolvi o trabalho na Reserva do Km 41 (2 o 24’S<br />

59 o 44’W), localiza<strong>da</strong> a 70 km ao norte de Manaus, AM,<br />

durante o mês de novembro de 2002. A reserva é constituí<strong>da</strong><br />

por uma área contínua de floresta de terra firme, pertencente<br />

ao Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos <strong>Floresta</strong>is<br />

(<strong>PDBFF</strong>, INPA/Smithsonian). A temperatura média anual é<br />

de 26,7 o C e a precipitação anual é de aproxima<strong>da</strong>mente<br />

2200 mm (Lovejoy & Bierregaard 1990). Os ambientesalvo<br />

deste estudo foram a bor<strong>da</strong> (BD) e o interior <strong>da</strong> mata<br />

(MT). Como ambiente de bor<strong>da</strong>, foi utiliza<strong>da</strong> a estra<strong>da</strong> de<br />

acesso à reserva.<br />

Para a coleta <strong>da</strong>s galhas, delimitei dois transectos de 1<br />

km em ca<strong>da</strong> ambiente de estudo. Ao longo de ca<strong>da</strong> transecto<br />

demarquei, aleatoriamente, cinco parcelas de 2 x 5 m. No<br />

total, amostrei 16 parcelas por ambiente. Coletei to<strong>da</strong>s as<br />

galhas avista<strong>da</strong>s nas plantas presentes no interior <strong>da</strong>s<br />

parcelas, até uma altura de 2 metros, as quais foram<br />

acondiciona<strong>da</strong>s em sacos plásticos para posterior<br />

identificação. Em laboratório, identifiquei as galhas em<br />

morfoespécies. Dado que a identificação <strong>da</strong>s espécies de<br />

insetos galhadores é difícil, muitos trabalhos utilizam a<br />

128 Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002<br />

morfologia <strong>da</strong> galha como um preditor <strong>da</strong> espécie (Fernandes<br />

& Price 1992, Fernandes et al. 2002). Os principais<br />

caracteres analisados são a presença/ausência de pêlos, a<br />

cor, a forma e a morfoespécie <strong>da</strong> planta hospedeira. Neste<br />

estudo optou-se em seguir tal método de identificação.<br />

Para análise dos fatores de mortali<strong>da</strong>de, dissequei to<strong>da</strong>s<br />

as galhas coleta<strong>da</strong>s. Os fatores analisados foram o<br />

parasitoidismo, a pre<strong>da</strong>ção dos tecidos <strong>da</strong> galha e/ou <strong>da</strong> larva<br />

do galhador, doenças causa<strong>da</strong>s por fungos e a reação de<br />

hipersensibili<strong>da</strong>de (HR) <strong>da</strong> planta em relação ao agente<br />

galhador (Fernandes et al. 2000, Fernandes & Negreiros<br />

2001). Utilizei a categoria “outros” nos casos em que não<br />

foi possível determinar o fator responsável pela morte <strong>da</strong><br />

galha.<br />

Para análise dos <strong>da</strong>dos utilizei as diferentes freqüências<br />

de ocorrência dos fatores de mortali<strong>da</strong>de de galhas<br />

registra<strong>da</strong>s nos dois ambientes estu<strong>da</strong>dos por meio do teste<br />

de Mann-Withiney (Zar 1999).<br />

Resultados<br />

Coletei 2087 galhas, sendo 867 indivíduos registrados<br />

no interior <strong>da</strong> mata (MT) e 1220 no ambiente de bor<strong>da</strong> (BD).<br />

Entre as parcelas amostrais, foi registra<strong>da</strong> uma grande<br />

variação do número de indivíduos de galhas observados nos<br />

dois ambientes (MT= 12 – 183; BD= 14 – 654 galhas).<br />

Identifiquei 45 morfoespécies de galhas, sendo 22 na mata<br />

e 28 na bor<strong>da</strong>. Apenas 2 morfoespécies de galhas foram<br />

registra<strong>da</strong>s em ambos ambientes.<br />

A freqüência de mortali<strong>da</strong>de total foi maior na mata (±<br />

55 %) do que na bor<strong>da</strong> (± 28 %) (Tab. 1, Fig. 1). Em relação<br />

aos fatores de mortali<strong>da</strong>de, tanto no MT como no BD, a<br />

hipersensitivi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s plantas contra o galhador foi a principal<br />

causa de morte <strong>da</strong>s galhas (Fig. 2). Não encontrei<br />

diferenças entre as freqüências de ocorrência dos fatores de<br />

mortali<strong>da</strong>de dos galhadores na bor<strong>da</strong> e no interior <strong>da</strong> mata<br />

(Tab. 1).<br />

A hipersensitivi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s plantas em relação aos<br />

galhadores foi o mais importante fator de mortali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s<br />

galhas tanto na bor<strong>da</strong> (± 50% <strong>da</strong> causa de morte) como no<br />

interior <strong>da</strong> mata (± 60%). As doenças fúngicas, a pre<strong>da</strong>ção<br />

e o parasitoidismo foram maiores no ambiente de bor<strong>da</strong> do<br />

que na bor<strong>da</strong>. Estes também foram responsáveis pela morte<br />

<strong>da</strong>s galhas, mas de forma menos intensa do que a reação de<br />

hipersensitivi<strong>da</strong>de (Fig. 2).<br />

Tabela 1. Média e desvio padrão <strong>da</strong>s porcentagens de<br />

ocorrência dos diferentes fatores <strong>da</strong>s galhas no interior e<br />

na bor<strong>da</strong> <strong>da</strong> mata. Valores do teste de Mann-Whitiney<br />

(U).<br />

Mata Bor<strong>da</strong> U P<br />

Fungo 8,1 ± 12,98 4,5 ± 14,37 2,83 0,09<br />

Parasitoidismo 3,4 ± 10,09 3,7 ± 10,94 0,47 0,49<br />

Pre<strong>da</strong>ção 8,6 ± 14,45 5,3 ± 9,84 0,57 0,45<br />

Hipersensibili<strong>da</strong>de 21,5 ± 34,08 13,4 ± 30,62 1,95 0,16<br />

Outros 0,0 ± 0,0 0,6 ± 2,64 1,41 0,23<br />

Mortali<strong>da</strong>de geral 41,6 ± 34,06 27,6 ± 34,73 3,85 0,05


(%)<br />

60<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

488<br />

330<br />

MT BD<br />

Mortali<strong>da</strong>de<br />

Figura 1. Mortali<strong>da</strong>de (%) <strong>da</strong>s galhas registra<strong>da</strong>s no<br />

interior <strong>da</strong> mata (MT) e na bor<strong>da</strong> (BD). Os números acima<br />

<strong>da</strong>s barras indicam os valores absolutos de mortali<strong>da</strong>de<br />

de galhas em ca<strong>da</strong> ambiente.<br />

(%)<br />

70<br />

60<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

285<br />

158<br />

113<br />

137<br />

42<br />

49<br />

24<br />

25<br />

HS FG PD PR OT<br />

Fatores de mortali<strong>da</strong>de<br />

Figura 2. Porcentagens dos fatores de mortali<strong>da</strong>de (%)<br />

<strong>da</strong>s galhas registra<strong>da</strong>s no interior (barra escura) e na<br />

bor<strong>da</strong> (barra clara) <strong>da</strong> mata: hipersensibili<strong>da</strong>de (HS),<br />

doenças causa<strong>da</strong>s por fungos (FG), pre<strong>da</strong>ção (PD),<br />

parasitoidismo (PR) e outros (OT). Números acima <strong>da</strong>s<br />

barras indicam os valores absolutos dos respectivos<br />

fatores nos dois ambientes (c 2 = 18,86; GL=3; P< 0,001).<br />

Discussão<br />

Este trabalho demonstrou que o mecanismo que produz<br />

a abundância diferencial (Fernandes et al. 1995, Gonçalves-<br />

Alvim & Fernandes 2001a, Fernandes et al. 2002) de insetos<br />

galhadores em ambientes de bor<strong>da</strong> e interior de floresta é a<br />

maior porcentagem de mortali<strong>da</strong>de destes organismos na<br />

mata (vide Fig. 1). Este resultado é corroborado por estudos<br />

realizados em outros locais, onde a abundância e a riqueza<br />

de galhas foram maiores em ambientes xéricos do que em<br />

ambientes mésicos (Fernandes et al. 1995, Gonçalves-Alvim<br />

& Fernandes 2001a, Fernandes et al. 2002, Price et al. 1998).<br />

A bor<strong>da</strong> <strong>da</strong> mata é um ambiente mais exposto à ação <strong>da</strong><br />

radiação solar e à dessecação do que o interior <strong>da</strong> mata.<br />

Modificações na disponibili<strong>da</strong>de de nutrientes e/ou água<br />

alteram os balanços hormonais e fisiológicos <strong>da</strong>s plantas, o<br />

que as torna mais suscetíveis ao ataque de herbívoros<br />

(Fernandes 1992) e à ação dos organismos galhadores<br />

(Fernandes & Price 1992).<br />

Pavón (1999) em seu estudo registrou uma maior<br />

incidência de fungos sobre as folhas de plantas presentes na<br />

bor<strong>da</strong> do que no interior <strong>da</strong> mata. Este resultado corrobora<br />

0<br />

15<br />

este estudo, pois os fungos mataram mais galhas na bor<strong>da</strong><br />

do que na mata. Além disso, a autora cita<strong>da</strong> levanta a<br />

possibili<strong>da</strong>de de que este fato seja uma conseqüência do<br />

maior número e riqueza de insetos presentes neste tipo de<br />

ambiente (Fowler et al. 1993, Didham 1997), pois os<br />

mesmos podem atuar como vetores de infecções permitindo<br />

a penetração e a ação de fungos através dos <strong>da</strong>nos que<br />

causam nas folhas. Esta maior abundância de insetos na<br />

bor<strong>da</strong> também poderia explicar porque, em relação ao interior<br />

<strong>da</strong> mata, neste ambiente ocorreu uma maior freqüência<br />

de galhas pre<strong>da</strong><strong>da</strong>s e parasita<strong>da</strong>s.<br />

A reação de hipersensitivi<strong>da</strong>de é um importante tipo de<br />

defesa induzi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s plantas em relação ao ataque de<br />

organismos galhadores (Fernandes 1990, 1998). Esta reação<br />

foi recentemente descrita como o mais importante<br />

mecanismo de resistência de plantas contra insetos<br />

herbívoros que possuem uma íntima associação com a sua<br />

planta hospedeira, como por exemplo, os galhadores<br />

(Fernandes 1992). Entretanto, esta reação têm sido<br />

negligencia<strong>da</strong> como importante fator de mortali<strong>da</strong>de em<br />

estudos populacionais de insetos herbívoros (veja Fernandes<br />

1990, Price et al. 1990).<br />

A riqueza semelhante de espécies registra<strong>da</strong> na mata e<br />

na bor<strong>da</strong> foi provavelmente um reflexo do método de<br />

amostragem aplicado neste estudo. Em trabalho realizado<br />

recentemente nos mesmos locais, no qual o esforço de<br />

amostragem foi padronizado em horas/ambiente, a riqueza<br />

de espécies na bor<strong>da</strong> foi maior do que aquela registra<strong>da</strong> no<br />

interior <strong>da</strong> mata (Resende et al. este volume).<br />

Organismos galhadores possuem uma forte associação<br />

com as suas plantas hospedeiras (Fernandes 1992). Desta<br />

forma, a distribuição <strong>da</strong>s espécies vegetais ao longo de um<br />

ambiente influencia a distribuição <strong>da</strong>s espécies de galhadores<br />

presentes no mesmo. No decorrer <strong>da</strong> realização deste<br />

trabalho, observei que, em grande parte, as galhas estavam<br />

distribuí<strong>da</strong>s em manchas de indivíduos, de acordo com as<br />

espécies de plantas nas quais as mesmas ocorriam.<br />

Por sua vez, a composição de espécies do MT e do BD<br />

diferiu muito, refletindo as particulari<strong>da</strong>des de ca<strong>da</strong> hábitat.<br />

Fernandes & Price (1988, 1991) propõem que, a longo<br />

prazo, as taxas diferenciais de mortali<strong>da</strong>de entre ambientes<br />

xéricos e úmidos têm levado a uma especiação e a uma maior<br />

irradiação dos insetos galhadores em ambientes mais secos<br />

e expostos à luz solar. Tais processos podem explicar esta<br />

composição particular de galhas registra<strong>da</strong> em ca<strong>da</strong><br />

ambiente estu<strong>da</strong>do, o que também é influenciado pela<br />

composição e pela riqueza florística desses ambientes<br />

(Fernandes 1992).<br />

Por fim, a distinção <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong>des de galhas de<br />

ambientes secos e úmidos assinala o potencial de utilização<br />

<strong>da</strong>s mesmas como organismos indicadores de diversi<strong>da</strong>de e<br />

quali<strong>da</strong>de do habitat (Fernandes et al. 1995, Resende et al.<br />

este volume). No entanto, são necessários mais estudos que<br />

busquem eluci<strong>da</strong>r a relação existente entre as espécies<br />

galhadoras e o ambiente.<br />

Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002 129


Agradecimentos<br />

Agradeço aos colegas Paula M. Pedrosa, Flávio J. Soares<br />

Júnior, Genimar B. Julião, Ana Paula Carmingnotto, Daniela<br />

C. Resende, Carina L. <strong>da</strong> Silveira, Luiz H. C. Júnior, George<br />

Camargo, Carolina L. Morales, Flaviana M. de Souza,<br />

Vanina Z. Antunes, Sylvia M. Mendel, Eduardo V. “Guma”,<br />

André F. Mendonça, pela amizade e pelo convívio;<br />

especialmente aos colegas Josué P. <strong>da</strong> Silva Nunes, Yumi<br />

Oki, Ana Maria Benavides, Patrícia G. Tello, pela amizade,<br />

pelos bate-papos e por to<strong>da</strong>s as lições aprendi<strong>da</strong>s; aos<br />

professores “Dadão”, Jansen, Glauco, Wilson, Paulo, Jorge,<br />

Arnaldo, Ana, “Boca Larga”, Neusa, Michel, Carlos, pela<br />

aju<strong>da</strong> e pela orientação dos trabalhos; ao professor<br />

“Geraldinho”, pelas idéias e pelo auxílio no projeto individual;<br />

ao Juruna e ao Marcelo “Pinguela” pelo apoio e pelos<br />

ensinamentos de ca<strong>da</strong> dia; ao “Jorjão”, “Jade”, ao pessoal<br />

do barco. Enfim, a todos agradeço a convivência, o<br />

coleguismo, a aprendizagem e os dias de novembro de 2002,<br />

que serão eternamente lembrados. A Deus por mais esta<br />

oportuni<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong>.<br />

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Caracterização de ninhos e estágios de<br />

desenvolvimento de vespas (Vespi<strong>da</strong>e: Polybiinae) de<br />

uma área de terra firme, Amazônia Central<br />

Introdução<br />

A eussociali<strong>da</strong>de em insetos pode ser defini<strong>da</strong> por três<br />

características comuns: as operárias de uma colônia<br />

cooperam no cui<strong>da</strong>do com a prole <strong>da</strong> casta reprodutiva; há<br />

divisão de tarefas entre as castas <strong>da</strong> colônia e ocorre<br />

sobreposição de pelo menos duas gerações (Wilson, 1971).<br />

As vespas constituem um grupo muito diverso em<br />

morfologia e comportamento (Morato, 1993), sendo a<br />

eussociali<strong>da</strong>de quase exclusiva <strong>da</strong> família Vespi<strong>da</strong>e. Dentre<br />

as sete subfamílias que representam os vespídeos, os<br />

Polybiinae constituem a maioria <strong>da</strong>s vespas eussociais <strong>da</strong><br />

América do Sul e <strong>da</strong> África (Borror & De Long, 1984).<br />

As vespas desenvolvem-se por metarmofose completa<br />

(desenvolvimento holometábulo), apresentando quatro<br />

estágios distintos: ovo, larva, pupa e adulto (Barnes, 1984).<br />

O polimorfismo é pouco desenvolvido em vespas, não há<br />

Sylvia Miscow Mendel<br />

uma casta de sol<strong>da</strong>dos e as operárias são ala<strong>da</strong>s (Barnes,<br />

1984).<br />

As espécies que constroem ninhos o fazem por<br />

enxameagem ou sociotomia, isto é, uma parte <strong>da</strong> população<br />

desloca-se para outro local, fun<strong>da</strong>ndo um novo ninho. A<br />

estrutura do ninho pode variar, com ninhos expostos ou<br />

encobertos, constituídos de favos verticais ou horizontais<br />

(Fig. 1a) (Borror & De Long, 1984).<br />

O crescimento populacional dos membros <strong>da</strong> colônia dos<br />

polybiíneos é exponencial, sendo que, sob condições ideais,<br />

a colônia pode crescer até 20 ou mais adultos, os quais<br />

ocupam um ninho que atinge até 200 células (Fig.1b). Mas<br />

somente uma minoria <strong>da</strong>s colônias atinge este estágio, e<br />

aquelas que o fazem logo entram em um período de declínio<br />

e dispersão dos indivíduos (Wilson, 1971). O motivo pelo<br />

qual as colônias entram em declínio ain<strong>da</strong> não é bem<br />

Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002 131


conhecido, mas deve haver um limite máximo de<br />

crescimento, relacionado a estágios avançados de<br />

desenvolvimento <strong>da</strong> colônia, que seja suportável pelo<br />

tamanho do ninho.<br />

O objetivo deste trabalho foi caracterizar os estágios de<br />

desenvolvimento dos ninhos de uma espécie de vespa<br />

(Polybiinae) <strong>da</strong> Amazônia Central e relacionar o grau de<br />

desenvolvimento do ninho ao seu tamanho.<br />

A<br />

B<br />

Figura 1(A).Vista geral do ninho de vespa (Vespi<strong>da</strong>e:<br />

Polybiinae) estu<strong>da</strong>do neste trabalho. (B) Corte transversal<br />

do ninho, mostrando células com ovos e larvas.<br />

Métodos<br />

Este trabalho foi realizado em uma área de terra firme na<br />

Reserva do Km 41 (59º43’40" O; 2º24’26" S) do Projeto<br />

Dinâmica Biológica de Fragmento <strong>Floresta</strong>is, localiza<strong>da</strong> a<br />

70 km ao norte de Manaus, AM. Durante um período de<br />

três dias, percorri áreas de baixio, <strong>da</strong> estra<strong>da</strong> e <strong>da</strong> trilha KK<br />

7 <strong>da</strong> reserva à procura de ninhos de vespa que pertencessem<br />

à uma mesma espécie. Os ninhos encontrados eram<br />

cui<strong>da</strong>dosamente envoltos em um saco plástico junto com a<br />

folha onde estavam fixados. No laboratório, os animais foram<br />

sacrificados no interior do saco plástico por meio de<br />

132 Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002<br />

uma injeção de éter. Os animais foram fixados em álcool<br />

70% e acondicionados em frascos separados de acordo com<br />

o ninho e estágio.<br />

Após abrir ca<strong>da</strong> ninho, fiz uma triagem separando os<br />

estágios de desenvolvimento de acordo com coloração,<br />

tamanho e morfologia <strong>da</strong>s partes do corpo como cabeça,<br />

tórax e abdome. Quando os ninhos apresentavam duas<br />

cama<strong>da</strong>s de células, uma sobre a outra, a contagem dos<br />

indivíduos e as medi<strong>da</strong>s eram feitas para o ninho como um<br />

todo.<br />

Medi, com o auxílio de ocular micrométrica monta<strong>da</strong><br />

em lupa estereoscópica, pelo menos quatro indivíduos de<br />

ca<strong>da</strong> estágio em ca<strong>da</strong> ninho. Tais medi<strong>da</strong>s foram agrupa<strong>da</strong>s<br />

entre os ninhos para uma melhor caracterização <strong>da</strong> variação<br />

de tamanho dos estágios de desenvolvimento <strong>da</strong> espécie.<br />

Num primeiro momento, fiz uma classificação com base<br />

em 10 estádios de desenvolvimento: ovo, três morfotipos<br />

de larva, cinco de pupa e adultos (machos e fêmeas). No<br />

entanto, para fins de cálculo os morfotipos <strong>da</strong>s larvas e pupas<br />

foram agrupados em um único estágio ca<strong>da</strong>.<br />

Assumindo que os ninhos têm uma forma elíptica, medi<br />

a altura, o maior e o menor comprimento de ca<strong>da</strong> um para<br />

calcular seus respectivos volumes, a partir <strong>da</strong> seguinte<br />

fórmula:<br />

volume = 4/3 p [(a + b + c)/ 3] 3 ,<br />

onde a = metade do comprimento do maior eixo <strong>da</strong> elipse<br />

(mm); b = metade <strong>da</strong> largura (mm) <strong>da</strong> elipse; c = metade <strong>da</strong><br />

altura <strong>da</strong> elipse (mm).<br />

Os ninhos foram comparados através <strong>da</strong> proporção de<br />

ocorrência do número de indivíduos observado em ca<strong>da</strong><br />

estágio. Para avaliar se o número total de indivíduos, assim<br />

como a proporção de ovos e de adultos comportados pela<br />

colônia estão relacionados ao volume do ninho, utilizei o<br />

método de regressão linear simples (Zar, 1984). Da mesma<br />

forma, unindo as classes de desenvolvimento anteriores à<br />

fase adulta, calculei a razão entre imaturos e adultos e<br />

verifiquei sua relação com o volume do ninho.<br />

Resultados<br />

Obtive um total de oito ninhos <strong>da</strong> mesma espécie de<br />

vespa, sendo a maioria encontra<strong>da</strong> na face abaxial de folhas<br />

de palmeiras (Arecaceae) tanto na área de baixio como em<br />

terra firme. Os ninhos foram enumerados de 1 a 8 de acordo<br />

com uma ordem crescente de volume (Tab.1). Os ninhos 7<br />

e 8 eram constituídos de duas cama<strong>da</strong>s de células<br />

sobrepostas, sendo a superior um pouco menor que a inferior,<br />

<strong>da</strong>ndo a aparência de uma estrutura em pirâmide.<br />

Os estágios de desenvolvimento foram caracterizados <strong>da</strong><br />

seguinte forma:<br />

1) Ovos: estrutura em forma de gota com, no máximo,<br />

1mm de comprimento, inseri<strong>da</strong> pelo ápice<br />

perpendicularmente à parede <strong>da</strong> célula do ninho. Havia<br />

sempre um único ovo por célula. A posição dos ovos no<br />

ninho variou de periférica nos ninhos maiores (5 - 8),<br />

ocupando apenas as faixas de células mais externas, a mais


central nos ninhos menores (2 - 4). O ninho 1 não apresentou<br />

ovos. É importante ressaltar que nos ninhos menores os ovos<br />

estavam distribuídos por um maior número de células, sendo<br />

observados também, embora em menor quanti<strong>da</strong>de, nas<br />

células localiza<strong>da</strong>s entre as centrais e as periféricas.<br />

2) Larvas: de uma forma geral, a localização <strong>da</strong>s larvas<br />

no ninho variou <strong>da</strong>s células intermediárias, em maior<br />

quanti<strong>da</strong>de, às mais centrais, por entre as pupas,<br />

independentemente do tamanho do ninho. As larvas 1 são<br />

ovais, com o intestino já aparente, envoltas por uma fina<br />

cutícula branca. O tamanho dessas larvas variou de 1,0 a<br />

5,5 mm (n = 32). As larvas 2 diferem do morfotipo anterior<br />

por apresentarem uma cutícula mais espessa, tornando o<br />

intestino menos evidente, e pelo tamanho, que varia de 3,0<br />

a 7,0 mm (n= 32). As larvas 3 são vermiformes e brancas,<br />

com o corpo dividido em 10 segmentos, mas sem<br />

diferenciação quanto às partes do corpo. Seu tamanho variou<br />

de 5,2 a 8,0 mm (n = 32).<br />

3) Pupas: em geral, as pupas ocupavam a parte mais central<br />

do ninho, estendendo-se<br />

às células localiza<strong>da</strong>s entre as centrais e as periféricas.<br />

Estavam to<strong>da</strong>s envoltas por um casulo. As pupas 1 são muito<br />

semelhantes às larvas 3, porém apresentam a cabeça já<br />

defini<strong>da</strong>, mas ain<strong>da</strong> sem olhos. O tamanho variou de 4,0 a<br />

9,0 mm (n = 32). As pupas 2 apresentam cabeça, tórax e<br />

abdome diferenciados. Também possuem olhos, botões <strong>da</strong>s<br />

asas e pernas desenvolvi<strong>da</strong>s. A variação total de tamanho<br />

deste estágio foi de 7,0 a 10,0 mm (n= 33). As pupas 3 são<br />

mais pigmenta<strong>da</strong>s que as anteriores, apresentando uma<br />

coloração mais escura e asas desenvolvi<strong>da</strong>s. São adultos<br />

pré-emersão, com o tamanho variando de 7,0 a 9,5 mm (n=<br />

34).<br />

4) Fêmeas adultas: a coloração geral é preta, apresentando<br />

manchas amarelas tanto na cabeça como no tórax e abdome.<br />

As antenas são ligeiramente clava<strong>da</strong>s. O tamanho variou de<br />

7,5 a 10 mm (n=37). Não há nenhuma diferenciação<br />

morfológica entre os indivíduos estu<strong>da</strong>dos, dificultando a<br />

identificação de uma possível rainha. Todos os indivíduos<br />

deste estágio abandonaram o ninho quando expostos ao éter.<br />

5) Machos Adultos: são marrons, com antenas filiformes,<br />

alados e não apresentam mandíbula. São bem menores que<br />

as fêmeas, com tamanho variando de 2,0 a 4,0 mm (n=33).<br />

Os indivíduos deste estágio encontravam-se no interior do<br />

ninho, mais precisamente dentro <strong>da</strong>s células, mesmo após a<br />

injeção de éter.<br />

Não houve um padrão na distribuição de ocorrência dos<br />

indivíduos nas classes de desenvolvimento entre ninhos (Fig.<br />

2). O ninho 8, de maior volume, foi o que apresentou o<br />

maior número de indivíduos, em oposição ao menor (1),<br />

que, por sua vez, não continha ovos (Tab. 1; Fig. 2). O ninho<br />

3 foi o único que abrigava machos e não tinha pupas (Tab.<br />

1; Fig. 2). Vale a pena salientar o fato de que as larvas deste<br />

ninho apresentaram tamanho máximo de 2mm.<br />

O número total de indivíduos total de ca<strong>da</strong> ninho está<br />

positivamente relacionado ao seu volume (F (1,6) =11,251;<br />

p=0,010; R 2 =0,651; Fig. 3). Contrariamente, não houve<br />

relação entre a proporção de ovos (F (1,6) =0,051; p=0,828;<br />

R 2 =0,08) e a proporção de adultos (F (1,6) =0,128; p=0,732;<br />

R 2 =0,021) e o volume do ninho, assim como para a razão<br />

entre imaturos e adultos e o volume do ninho (F (1,6) =0,242;<br />

P=0,640; R 2 =0,039).<br />

Tabela 1. Ninhos de vespa (Polybiinae) encontrados na<br />

área <strong>da</strong> Reserva do Km 41, em ordem crescente de<br />

volume (cm 3 ), com o número de indivíduos<br />

correspondente a ca<strong>da</strong> estágio de desenvolvimento.<br />

Ninhos Ovos Larvas Pupas Fêmeas Machos Total Volume<br />

1 0 1 5 11 0 17 63,28<br />

2 27 15 2 35 0 79 88,39<br />

3 32 47 0 60 45 184 91,26<br />

4 17 9 56 69 0 151 91,39<br />

5 13 60 150 50 0 273 103,19<br />

6 13 12 10 113 0 148 112,02<br />

7 12 59 255 143 0 469 114,22<br />

8 47 85 57 329 0 518 117,08<br />

1,0<br />

0,8<br />

0,6<br />

0,4<br />

0,2<br />

0,0<br />

1 2 3 4<br />

Ninhos<br />

5 6 7 8<br />

Figura 2. Proporção de ocorrência de indivíduos nos<br />

estágios de desenvolvimento de ca<strong>da</strong> ninho de vespa<br />

(Polybiinae) encontrado na área <strong>da</strong> Reserva do Km 41,<br />

Amazônia Central.<br />

600<br />

500<br />

400<br />

300<br />

200<br />

100<br />

Fêmeas<br />

Machos<br />

Pupas<br />

Larvas<br />

Ovos<br />

Volume dos ninhos (mm 3 0<br />

55 65 75 85 95 105 115 125<br />

)<br />

Figura 3. Regressão linear entre o número total de<br />

indivíduos e o volume dos ninhos (mm 3 ) encontrados na<br />

área <strong>da</strong> Reserva do Km 41, Amazônia Central.<br />

Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002 133


Discussão<br />

O maior número de indivíduos encontrado no ninho de<br />

maior volume sugere que a construção do ninho acompanha<br />

o crescimento <strong>da</strong> colônia de vespas, fazendo com que to<strong>da</strong>s<br />

as células do ninho estejam sempre ocupa<strong>da</strong>s. Realmente,<br />

nos ninhos que amostrei, não observei células vazias. Assim,<br />

é possível que o espaço seja fator determinante no<br />

crescimento <strong>da</strong> colônia. A relação positiva entre o número<br />

de indivíduos total e o volume dos ninhos oferece suporte a<br />

esta suposição. Ou ain<strong>da</strong>, existe a possibili<strong>da</strong>de de que o<br />

ninho cresça de acordo com a quanti<strong>da</strong>de de recursos<br />

disponíveis e não seja controlado por fenômenos densi<strong>da</strong>dedependentes.<br />

O tamanho reduzido <strong>da</strong>s larvas encontra<strong>da</strong>s no ninho 3,<br />

pode estar relacionado a um maior investimento atual em<br />

machos por parte <strong>da</strong> colônia. Isto pode estar refletindo uma<br />

fase reprodutiva particular desta colônia, visto que esta foi<br />

a única que continha machos. As colônias parecem investir<br />

independentemente na produção exclusiva de machos ou<br />

de fêmeas. A local disponibili<strong>da</strong>de de recursos local pode<br />

ter grande influência na determinação do sexo dos indivíduos<br />

produzidos. Em situações de abundância de recursos deve<br />

haver uma maior produção de fêmeas, já que o custo para<br />

alimentá-las é maior do que o dos machos. As fêmeas adultas<br />

encontra<strong>da</strong>s junto aos machos no ninho 3 certamente<br />

pertencem a outra coorte e, provavelmente, têm a função de<br />

alimentá-los.<br />

A ausência de um padrão na distribuição de ocorrência<br />

dos indivíduos nos estágios classes de desenvolvimento,<br />

assim como a falta de relação entre a proporção de ovos, de<br />

adultos e a razão entre imaturos e adultos com o volume<br />

dos ninhos indica um desenvolvimento assincrônico dos<br />

ninhos na população. O processo de sociotomia que<br />

caracteriza a reprodução dos polybiíneos pode explicar tal<br />

assincronia. A sociotomia ocorre quando um grupo de<br />

operárias e uma ou mais rainhas virgens voam a partir do<br />

ninho original, copulam, se estabelecem em um novo local<br />

e constroem um ninho. A partir <strong>da</strong>í, as subordina<strong>da</strong>s<br />

dedicam-se à construção do ninho e cui<strong>da</strong>m <strong>da</strong> prole (Wilson,<br />

1971). O momento <strong>da</strong> sociotomia talvez seja<br />

determinado por uma interação entre o tamanho <strong>da</strong> colônia<br />

e a abundância de recursos. Assim, se em um determinado<br />

momento uma colônia começa a estagnar numericamente<br />

por falta de recursos, a sociotomia ocorre uma forma de<br />

aliviar a deman<strong>da</strong> local pelo recurso e, ao mesmo tempo,<br />

garantir a sobrevivência <strong>da</strong> linhagem no ambiente.<br />

Além disso, a fase inicial <strong>da</strong> colônia também é de fun<strong>da</strong>mental<br />

importância no seu processo de estabelecimento, em<br />

134 Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002<br />

função de dois aspectos: 1) o baixo número de indivíduos<br />

aumenta as chances de extinção <strong>da</strong> colônia; 2) deve haver<br />

um número mínimo de indivíduos na colônia para que a<br />

sociotomia seja um mecanismo viável de replicação.<br />

O desenvolvimento assincrônico observado entre os<br />

ninhos <strong>da</strong> vespa estu<strong>da</strong><strong>da</strong> confere grande vantagem à<br />

população. Como as colônias parecem ser inicia<strong>da</strong>s em<br />

qualquer época do ano e em qualquer momento, uma<br />

população local pode conter colônias em todos estágios de<br />

desenvolvimento. Isto faz com que diante de um evento<br />

estocástico, como por exemplo, uma seca pronuncia<strong>da</strong>,<br />

somente alguns indivíduos de determinados estágios sejam<br />

exterminados por serem mais sensíveis ao evento, enquanto<br />

outros permanecem na população por suportarem melhor<br />

alterações nas condições iniciais. Tais características<br />

garantem a permanência e sucesso <strong>da</strong> população sob diversas<br />

condições ambientais.<br />

Agradecimentos<br />

Agradeço enormemente ao Juruna e ao ursinho Pinguela<br />

pela coragem e bravura na ativi<strong>da</strong>de árdua e perigosa de<br />

coletar os ninhos <strong>da</strong>s tão temi<strong>da</strong>s cabas. Agradeço também<br />

ao Thiago, Vanina e Aman<strong>da</strong> pela aju<strong>da</strong> na contagem dos<br />

inúmeros indivíduos encontrados no ninhos e aos profs.<br />

Glauco, Jansen e Paulo De Marco pelas discussões e análises<br />

dos <strong>da</strong>dos, que me permitiram conhecer alguma coisa sobre<br />

a tão fascinante organização social <strong>da</strong>s vespas.<br />

À parte, gostaria de agradecer ao Dadão pela pessoa<br />

simples e maravilhosa que é. Sem dúvi<strong>da</strong>, um exemplo a<br />

ser seguido.<br />

Este curso ficará para sempre na minha memória.<br />

Referências Bibliográficas<br />

Barnes, R. D. 1984. Zoologia dos Invertebrados. 4 o<br />

Edição. Ed. Roca. São Paulo, S.P.<br />

Borror, D.J. & D. M. De Long, 1988. Introdução ao<br />

Estudo dos Insetos. Editora Edgard Blucher LTDA.<br />

São Paulo, SP, Brasil.<br />

Morato, E. F. 1993. Efeitos <strong>da</strong> fragmentação florestal<br />

sobre vespas e abelhas solitárias em uma área <strong>da</strong><br />

Amazônia Central. Dissertação de Mestrado.<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal de Viçosa, MG, Brasil.<br />

Wilson, E. O. 1971. The Insect Societies. The Belknap<br />

Press of Harvard University Press Cambridge, Massachusetts,<br />

and London, England.<br />

Zar, J. H. 1984. Biostatistical Analysis. Second Edition.<br />

Prentice Hall, New Jersey.


Grupos funcionais de artrópodes de serapilheira<br />

diferem na campinarana e no platô?<br />

Introdução<br />

A floresta amazônica possui uma diversi<strong>da</strong>de de<br />

ambientes muito ampla e mesmo dentro <strong>da</strong> floresta de terra<br />

firme pode-se diferenciar várias fisionomias (Ribeiro et al.<br />

1999). O que caracteriza estas variações são os tipos de<br />

solo e o relevo, principalmente. As campinaranas são<br />

caracteriza<strong>da</strong>s por solos arenosos, grande acúmulo de<br />

serapilheira, poucas árvores de grande porte, dossel entre<br />

15 e 25 m, alta penetração de luz, sub-bosque denso de<br />

arvoretas e arbustos e menor biomassa e diversi<strong>da</strong>de de<br />

espécies (Ribeiro et al. 1999). As florestas de platô possuem<br />

solos mais argilosos e bem drenados, encontram-se em áreas<br />

mais altas, dossel de 35 a 40 m com árvores emergentes,<br />

sub-bosque com muitas palmeiras e maior biomassa (Ribeiro<br />

et al. 1999).<br />

Segundo Pianka (1983) quanto maior a diversi<strong>da</strong>de<br />

estrutural do ambiente, maior é a diversi<strong>da</strong>de de espécies.<br />

Os artrópodes constituem o componente mais diverso dos<br />

ecossistemas terrestres e correspondem a cerca de 50% <strong>da</strong>s<br />

espécies animais conheci<strong>da</strong>s, a maioria <strong>da</strong>s quais encontrase<br />

no solo (Wilson 1988). Os artrópodes terrestres são de<br />

importância básica nas cadeias tróficas e, por isso, são<br />

cruciais no funcionamento dos ecossistemas (Greenberg &<br />

McGrane 1996). Além disso, ocupam uma grande varie<strong>da</strong>de<br />

de nichos e microhabitats funcionais. Por isso esta fauna<br />

deveria ser importante na escolha, conservação e manejo<br />

de uni<strong>da</strong>des de conservação (Kremen. 1993).<br />

As comuni<strong>da</strong>des de artrópodes diferem de acordo com<br />

as características microclimáticas de ca<strong>da</strong> local, pois muitas<br />

espécies selecionam habitats (Borror & DeLong 1981).<br />

Neste trabalho testei a hipótese de que os artrópodes de<br />

serapilheira , divididos em grupos funcionais, diferem em<br />

abundância nos dois locais estu<strong>da</strong>dos, campinarana e platô,<br />

ambientes distintos em relação a algumas variáveis<br />

ambientais. As variáveis ambientais testa<strong>da</strong>s foram<br />

profundi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> serapilheira e luminosi<strong>da</strong>de. Esperava que<br />

os decompositores fossem mais abun<strong>da</strong>ntes no platô, onde<br />

a luminosi<strong>da</strong>de é menor e a cama<strong>da</strong> de serapilheira também,<br />

justamente por causa <strong>da</strong> ação dos decompositores. Esperava<br />

também que os pre<strong>da</strong>dores não apresentassem diferenças<br />

entre os ambientes com as variáveis que foram testa<strong>da</strong>s e<br />

que os fitófagos fossem mais abun<strong>da</strong>ntes <strong>da</strong> campinarana,<br />

onde há mais recursos alimentares (arbustos e arvoretas)<br />

no estrato inferior.<br />

Métodos<br />

O estudo foi realizado em uma floresta de terra firme na<br />

Paula Machado Pedrosa<br />

Reserva do Km 41, <strong>PDBFF</strong>, localiza<strong>da</strong> a aproxima<strong>da</strong>mente<br />

70 km a noroeste de Manaus, Amazônia Central. A altitude<br />

do local varia entre 50 e 150 m acima do nível do mar. A<br />

precipitação anual é cerca de 2.200 mm e a temperatura<br />

média é de 26ºC. O solo pode variar desde argiloso até<br />

arenoso, dependendo <strong>da</strong> formação do local.<br />

Duas áreas de terra firme com diferentes formações<br />

florestais foram amostra<strong>da</strong>s: uma de platô e outra de<br />

campinarana. As amostragens foram realiza<strong>da</strong>s com<br />

armadilhas de que<strong>da</strong> (pitfall traps) confecciona<strong>da</strong>s com<br />

copos plásticos descartáveis de 500 ml, preenchi<strong>da</strong>s com<br />

250 ml de uma mistura de água e detergente. Ambas as áreas<br />

possuíam 30 armadilhas distribuí<strong>da</strong>s em seis transectos<br />

espaçados 20 m entre si. Em ca<strong>da</strong> transecto foram coloca<strong>da</strong>s<br />

cinco armadilhas de 10 em 10 m. As armadilhas ficaram<br />

abertas durante 36 horas em ca<strong>da</strong> local.<br />

A profundi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> serapilheira e luminosi<strong>da</strong>de, foram<br />

medi<strong>da</strong>s nos 30 pontos de amostragem. Para medir a<br />

profundi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> serapilheira usou-se um espeto de madeira,<br />

que foi inserido no ponto mais próximo à armadilha que<br />

não tivesse sido remexido e foi anotado quantas folhas foram<br />

perfura<strong>da</strong>s pelo espeto. Para medir a luminosi<strong>da</strong>de foi<br />

utilizado um luxímetro. Em ca<strong>da</strong> um dos 30 pontos o<br />

medidor foi colocado no solo, o mais próximo possível de<br />

ca<strong>da</strong> armadilha, e esperou-se que o marcador estabilizasse<br />

para anotar o resultado. Deve-se considerar que as medições<br />

de luminosi<strong>da</strong>de foram feitas no mesmo horário nas duas<br />

áreas, em dias diferentes, mas com condições meteorológicas<br />

similares. As medições na área de platô foram feitas em<br />

dois horários diferentes do dia, porém acredito que isso não<br />

tenha afetado os resultados.<br />

A comuni<strong>da</strong>de de artrópodes de solo foi dividi<strong>da</strong>, em<br />

três grupos funcionais: decompositores, pre<strong>da</strong>dores e<br />

fitófagos. No grupo dos decompositores foram incluídos<br />

exemplares <strong>da</strong>s seguintes ordens: Orthoptera, Thysanura,<br />

Blattodea, Isoptera, Collembola e Diplopo<strong>da</strong>. No grupo dos<br />

pre<strong>da</strong>dores foram incluídos representantes <strong>da</strong>s ordens<br />

Chilopo<strong>da</strong>, Araneae e Hymenoptera (Formici<strong>da</strong>e). No grupo<br />

dos fitófagos foram incluídos somente os Homoptera.<br />

Exemplares <strong>da</strong>s ordens Diptera, Coleoptera, Mecoptera e<br />

Acari não foram incluídos nas análises por apresentarem<br />

hábitos alimentares muito variáveis ou por não se<br />

alimentarem na serapilheira.<br />

A análise <strong>da</strong> freqüência de ocorrência dos grupos<br />

funcionais de artrópodes de solo em ca<strong>da</strong> local foi realiza<strong>da</strong><br />

por meio de um teste t para os pre<strong>da</strong>dores e um teste não<br />

paramétrico de Kruskal-Wallis para os decompositores, pois<br />

estes últimos apresentavam variância muito heterogênea. O<br />

Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002 135


grupo dos fitófagos não foi analisado estatísticamente pois<br />

não havia indivíduos suficientes para análise. Um teste t<br />

também foi utilizado para comparar os fatores ambientais<br />

(profundi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> serapilheira e luminosi<strong>da</strong>de) entre os dois<br />

ambientes. Para testar a relação entre as variáveis ambientais<br />

e a abundância de decompositores e pre<strong>da</strong>dores foi utiliza<strong>da</strong><br />

uma regressão múltipla com o modelo: abundância de<br />

pre<strong>da</strong>dores (ou decompositores) = constante + profundi<strong>da</strong>de<br />

<strong>da</strong> serapilheira + luminosi<strong>da</strong>de.<br />

Resultados<br />

Foram registra<strong>da</strong>s no total 4 classes de artrópodes: Insecta<br />

(10 ordens), Chilopo<strong>da</strong> (uma ordem), Diplopo<strong>da</strong> (uma<br />

ordem) e Arachni<strong>da</strong> (2 ordens).(Tabela 1).<br />

Tabela 1. Grupos taxonômicos, grupo funcional e<br />

abundância relativa (%) de artrópodes de serapilheira<br />

amostrados nos ambientes de platô e campinarana na<br />

Reserva do Km 41, Amazônia Central<br />

Grupo taxonômico Grupo funcional Abundância relativa<br />

Platô Campinarana<br />

Insecta<br />

Blattodea Decompositores 5,1 3,4<br />

Coleoptera Não definido 2,2 2,1<br />

Collembola Decompositores 0 0,7<br />

Diptera Não definido 6,2 7,6<br />

Homoptera Fitófago 0,5 4,1<br />

Hymenoptera Pre<strong>da</strong>dores 46,6 56,25<br />

Ìsoptera Decompositores 2,2 0,7<br />

Mecoptera Não definido 0 0,7<br />

Orthoptera Decompositores 21,9 12,5<br />

Thysanura Decompositores 9,5 0,7<br />

Chilopo<strong>da</strong> Pre<strong>da</strong>dores 0 0,7<br />

Diplopo<strong>da</strong> Decompositores 0 0,7<br />

Arachni<strong>da</strong><br />

Araneae Pre<strong>da</strong>dores 5,1 8,33<br />

Acari Não definido 0,5 0,7<br />

As somas podem não totalizar 100%, pois alguns<br />

indivíduos coletados não puderam ser identificados em<br />

ordem. A grande abundância de Hymenoptera pode ser<br />

explica<strong>da</strong> pela alta captura de formigas e algumas vespas.<br />

A família Ponerinae foi a mais representativa, constituí<strong>da</strong><br />

principalmente por formigas errantes, talvez este seja o<br />

motivo por que elas foram bem coleta<strong>da</strong>s. A ordem Diptera<br />

foi representa<strong>da</strong> por moscas e carapanãs. Entre os Orthoptera,<br />

os grilos foram os mais capturados.<br />

Observei que a maior diferença entre os dois ambientes<br />

foi em relação a abundância de Homoptera e Thysanura. O<br />

primeiro grupo foi bem mais abun<strong>da</strong>nte na campinarana<br />

(aproxima<strong>da</strong>mente 90% dos indivíduos foram encontrados<br />

neste ambiente), enquanto que o segundo grupo foi mais<br />

abun<strong>da</strong>nte no platô (aproxima<strong>da</strong>mente 95% dos indivíduos<br />

coletados encontravam-se neste local).<br />

A luminosi<strong>da</strong>de (t=3,251; gl=58; p


A<br />

B<br />

Figura 1. Abundância de artrópodes pre<strong>da</strong>dores (A) e<br />

decompositores (B) em ambientes de campinarana (c) e<br />

ao platô (p).<br />

Figura 2. Resíduos parciais <strong>da</strong> regressão múltipla entre<br />

artrópodes pre<strong>da</strong>dores e a luminosi<strong>da</strong>de (A) e a<br />

profundi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> serapilheira (B). Ambientes: c =<br />

campinarana; p=platô.<br />

A<br />

B<br />

Figura 3. Resíduos parciais <strong>da</strong> regressão múltipla entre<br />

artrópodes decompositores e a luminosi<strong>da</strong>de (A) e a<br />

profundi<strong>da</strong>de do serapilheira (B). Ambientes: c =<br />

campinarana; p = platô.<br />

Discussão<br />

A composição de espécies e a estrutura <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de<br />

de artrópodes de serapilheira são dependentes de vários<br />

fatores, entre os quais o tipo de formação vegetal, o solo, o<br />

clima local e a diversi<strong>da</strong>de de microhabitats (Schowalter &<br />

Sabin.1991). Neste estudo o enfoque foi <strong>da</strong>do à<br />

profundi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> serapilheira e à luminosi<strong>da</strong>de, pois supus<br />

que estas eram duas variáveis importantes na estruturação<br />

<strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de e dos grupos funcionais.<br />

Das hipóteses testa<strong>da</strong>s, observou-se que o grupo dos<br />

pre<strong>da</strong>dores respondeu <strong>da</strong> forma prevista, ou seja, não houve<br />

diferença significativa na sua abundância entre os ambientes<br />

estu<strong>da</strong>dos. Isto era esperado porque a presença de<br />

artrópodes pre<strong>da</strong>dores não deve estar diretamente<br />

relaciona<strong>da</strong> à luminosi<strong>da</strong>de ou à profundi<strong>da</strong>de <strong>da</strong><br />

serapilheira, mas sim à disponibili<strong>da</strong>de de presas, a qual<br />

deve ser semelhante no platô e na campinarana. Os<br />

decompositores também comportaram-se <strong>da</strong> forma prevista<br />

pela hipótese. Este grupo apresentou diferença entre os dois<br />

ambientes. No ambiente com menor luminosi<strong>da</strong>de, os<br />

artrópodes decompositores foram mais abun<strong>da</strong>ntes. Isto era<br />

esperado pois a taxa de decomposição em ambientes de platô<br />

é maior que em campinaranas. No entanto a luminosi<strong>da</strong>de<br />

não está diretamente relaciona<strong>da</strong> a taxa de decomposição.<br />

Em relação aos fitófagos, era esperado que sua<br />

abundância fosse maior na área de campinarana, pois nessas<br />

A<br />

B<br />

Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002 137


o sub-bosque é mais denso, propiciando mais recursos para<br />

alimentação. Como o número de indivíduos fitófagos<br />

amostrados foi muito baixo não pude fazer uma análise<br />

estatística, porém observei que na campinarana estes foram<br />

mais capturados do que no platô.<br />

Nas análises feitas neste trabalho, algumas ordens de<br />

insetos tiveram que ser retira<strong>da</strong>s, pois não foi possível<br />

identificar seus hábitos alimentares (por exemplo dos Coleoptera).<br />

Se estes indivíduos tivessem sido incluídos, os<br />

resultados poderiam ter sido mais conclusivos. Também não<br />

poder ser feita uma análise <strong>da</strong> composição específica <strong>da</strong><br />

comuni<strong>da</strong>de, o que poderia ter fornecido resultados mais<br />

precisos sobre eventuais diferenças entre os dois ambientes.<br />

Agradecimentos<br />

Gostaria de agradecer ao Pinguela, Juruna, Glauco, Ana<br />

Paula, Yumi e Guma (que até se perdeu para me aju<strong>da</strong>r)<br />

pelo grande e necessário auxílio no campo. Ao Glauco<br />

novamente pelo troca de idéias e concepção do trabalho.<br />

Ao Dadão pela lapi<strong>da</strong>ção <strong>da</strong>s idéias, aju<strong>da</strong> estatística e<br />

salvação do meu arquivo final. Ao Paulo pela aju<strong>da</strong><br />

estatística e boas risa<strong>da</strong>s. Ao Jansen por várias coisas. Aos<br />

outros professores que estavam no curso, que não tiveram<br />

colaboração direta, mas que foram de grande importancia.<br />

A turma de apoio (Jorge, Raimundo e todos os outros que<br />

não lembro o nome). A to<strong>da</strong> turma que teve um astral muito<br />

bom no an<strong>da</strong>mento do curso. E à pessoa que esteve sempre<br />

comigo em pensamento. Se esqueci de alguém pode se<br />

considerar automáticamente agradeci<strong>da</strong>.<br />

138 Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002<br />

Referências Bibliográficas<br />

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Schowalter, T.D. & T.E. Sabin. 1991. Serapilheira<br />

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season and decomposition in serrapilheirabags in a<br />

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Wilson, E.O. 1988. The Current State of Biological<br />

Diversity. In Biodiversity (E.O. Wilson, ed) pp3-18.<br />

Washington DC: National Academy Press.<br />

Influência de parâmetros físicos na riqueza de peixes<br />

em igarapés de terra firme na Amazônia Central<br />

Introdução<br />

O conceito de rio contínuo (Vannote et al.1980), propõe<br />

que ao longo de um ecossistema lótico existem diferentes<br />

aspectos estruturais físicos e biológicos. Estas diferentes<br />

estruturas no ambiente podem determinar a presença ou<br />

ausência de algumas espécies de organismos a<strong>da</strong>ptados<br />

ecofisiologicamente a essas condições. Para invertebrados<br />

aquáticos, características físico-químicas e biológicas<br />

particulares determinam diferenças na diversi<strong>da</strong>de de fauna<br />

ao longo de um gradiente de um rio (Walker & Henderson<br />

1996).<br />

Os igarapés apresentam água pobre em nutrientes e sais<br />

minerais que fazem com que o pH seja baixo, por volta de<br />

4,5 (Fittkau 1967). A cobertura vegetal nos igarapés im-<br />

Luiz Henrique Claro Junior<br />

pede a entra<strong>da</strong> de luz e a produção primária por fitoplâncton,<br />

e suas águas são relativamente frias e sem muita variação<br />

diária e anual <strong>da</strong> temperatura (24 o ± 1 o C) (Fittkau 1967).<br />

Em igarapés de cabeceiras (de 1 a a 3 a ordem) a fauna de<br />

peixes pode ser determina<strong>da</strong> por condições ambientais<br />

locais. A diversi<strong>da</strong>de de microhabitats é provavelmente o<br />

fator que condiciona a ocorrência de conjuntos de espécies<br />

no espaço limitado proporcionado pelo curso dos pequenos<br />

igarapés.<br />

Estudos anteriores em três igarapés de terra firme<br />

registraram uma riqueza de 35 espécies de peixes e no<br />

igarapé do Km 41 foram encontrados 22 espécies<br />

pertencentes a quatro ordens: Characiformes, Siluriformes,<br />

Gymnotiformes e Perciformes. Characiformes foi o grupo


dominante tanto em espécies como em abundância<br />

(Bührheim & Cox-Fernandes 2001).<br />

Este estudo tem como objetivo identificar características<br />

físicas de igarapés de terra firme que influenciem na riqueza<br />

de espécies de peixes.<br />

Métodos<br />

O presente estudo realizei em uma microbacia<br />

hidrográfica completamente inseri<strong>da</strong>s em área de floresta<br />

de terra firme, localiza<strong>da</strong> na Reserva Km 41 (2 o 25’S e<br />

59 o 48’O) do Projeto Dinâmica Biológica de Fragmento<br />

<strong>Floresta</strong>l (INPA/Smithsonian) Manaus, Amazonas. A<br />

precipitação e temperatura médias anuais são de 2.127 mm<br />

e 27,2 o C, respectivamente.<br />

Entre os dias 24 e 28 de novembro de 2002, amostrei 14<br />

igarapés de 1 a ordem, 6 de 2 a ordem e 5 de 3 a ordem, os<br />

quais foram caracterizados quanto a aspectos físicos<br />

teoricamente relacionados com a fauna de peixes.<br />

Todos os igarapés <strong>da</strong> microbacia caracterizei tomando<br />

as seguintes medi<strong>da</strong>s: largura total (em um ponto aleatório),<br />

profundi<strong>da</strong>de máxima (no ponto de medi<strong>da</strong> <strong>da</strong> largura), tipo<br />

de margem (erosional ou deposicional), veloci<strong>da</strong>de <strong>da</strong><br />

correnteza (medi<strong>da</strong> pelo tempo que um flutuador gastar para<br />

percorrer uma distância de 1 m), vazão (área seccional do<br />

igarapé* veloci<strong>da</strong>de), tipo de substrato (areia, tronco,<br />

folhiço, raiz) e ordem (1 a , 2 a ou 3 a ).<br />

A riqueza de espécies de peixes estimei por meio de<br />

observação direta, tanto a partir <strong>da</strong>s margens quanto subaquática,<br />

em um trecho de 20 metros durante 15 minutos.<br />

Os peixes observados foram caracterizados em espécies e<br />

morfoespécies, com posterior verificação <strong>da</strong> identi<strong>da</strong>de<br />

taxonômica de ca<strong>da</strong> uma a partir de registros pré-existentes<br />

de ocorrência de espécies na área de estudo.<br />

A partir <strong>da</strong>s medi<strong>da</strong>s físicas dos igarapés realizei uma<br />

análise de correlação para identificar variáveis autocorrelaciona<strong>da</strong>s<br />

e então selecionar aquelas com significância<br />

ecológica mais evidente para a fauna de peixes. Em segui<strong>da</strong><br />

conduzi uma análise de regressão múltipla para identificar<br />

qual <strong>da</strong>s características ambientais influenciam mais<br />

fortemente a riqueza de espécies de peixes nos igarapés <strong>da</strong><br />

Reserva Km 41.<br />

Resultados<br />

Observei a presença de 12 espécies de peixes,<br />

pertencentes a quatro famílias e duas ordens, em 39 pontos<br />

de amostragem (Tab. 1). A menor e maior riqueza de<br />

espécies foram 0 e 7, respectivamente (Tab. 2). A largura,<br />

profundi<strong>da</strong>de e ordem dos igarapés foram correlaciona<strong>da</strong>s<br />

entre si, e a profundi<strong>da</strong>de foi o parâmetro selecionado para<br />

inclusão em nosso modelo de regressão múltipla, por ser a<br />

mais informativa do ponto de vista <strong>da</strong> fauna de peixes.<br />

Veloci<strong>da</strong>de <strong>da</strong> correnteza e vazão também foram<br />

correlaciona<strong>da</strong>s, e então, somente a veloci<strong>da</strong>de foi incluí<strong>da</strong><br />

no modelo final de regressão (Tab. 3).<br />

Tabela 1. Lista de espécies de peixes observa<strong>da</strong>s nos<br />

igarapés de terra firme <strong>da</strong> Reserva Km 41, Manaus AM.<br />

Ordem, Família e Espécie<br />

Characiformes<br />

Characi<strong>da</strong>e<br />

Hemigrammus aff. ocellifer<br />

Bryconops inpai<br />

Hyphessobrycon cf. melazonatus<br />

Hyphesobrycon cf. heterorhabdus<br />

Iguanodectes variatus<br />

Erythrini<strong>da</strong>e<br />

Erythrinus erythrinus<br />

Lebiasini<strong>da</strong>e<br />

Pyrrhulina brevis<br />

Nannostomus marginatus<br />

Copella nigrofasciata<br />

Perciformes<br />

Cichli<strong>da</strong>e<br />

Aequidens pallidus<br />

Apistogramma stein<strong>da</strong>chneri<br />

Crenicichla sp.<br />

Tabela 2. Parâmetros físicos e biológicos dos igarapés<br />

estu<strong>da</strong>dos na Reserva Km 41, Amazonas, Brasil<br />

Ordem Número Riqueza Largura Profundi<strong>da</strong>de Veloci<strong>da</strong>de Vazão<br />

(n. espécies) (cm) max. (cm) (cm/s)<br />

(cm3/s)<br />

1 14 0- 4 40- 200 2- 13,5 0- 294 0- 9.833<br />

2 6 1- 6 80- 280 6- 40 7,78- 39,31 5.117- 77.142<br />

3 5 3- 7 180- 320 14- 58 14,6- 24,8 23.712- 183.349<br />

Tabela 3. Valores de correlação de Pearson entre<br />

variáveis físicas medi<strong>da</strong>s em igarapés de terra firme do<br />

Km 41 (* - valor de significância a nível de 5%).<br />

Largura Profundi<strong>da</strong>de Veloci<strong>da</strong>de<br />

Profundi<strong>da</strong>de 0,797* -<br />

Veloci<strong>da</strong>de -0,171 -0,137 -<br />

Vazão 0,761* 0,894* 0,123*<br />

A profundi<strong>da</strong>de foi o único parâmetro físico que<br />

influenciou significativamente a riqueza de espécies de<br />

peixes nos igarapés <strong>da</strong> microbacia estu<strong>da</strong><strong>da</strong> (Fig. 1). O tipo<br />

de margem, composição do fundo e veloci<strong>da</strong>de <strong>da</strong> correnteza<br />

não foram significativamente relacionados com o número<br />

de espécies de peixes (Tab. 4).<br />

Tabela 4. Resultados de análise de regressão múltipla<br />

entre a riqueza de espécies e fatores físicos de igarapés<br />

de terra firme <strong>da</strong> Reserva km 41, Manaus, AM (N= 39; r 2 =<br />

0,454).<br />

Coeficiente Coeficiente<br />

padrão<br />

gl. F P<br />

Profundi<strong>da</strong>de 0,078 0,626 1 12,01 0,002<br />

Margem 0,000 0,000 2 1,00 0,379<br />

Veloci<strong>da</strong>de -0,003 -0,084 1 0,335 0,567<br />

Substrato 0,000 0,000 5 1,33 0,277<br />

Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002 139


Riqueza (n. espécies)<br />

8<br />

7<br />

6<br />

5<br />

4<br />

3<br />

2<br />

1<br />

0<br />

0 20 40 60 80<br />

Profundi<strong>da</strong>de (cm)<br />

Figura 1. Regressão linear entre riqueza de espécies e<br />

profundi<strong>da</strong>de de igarapés de terra firme na Reserva Km<br />

41, Amazonas, Brasil.<br />

Discussão<br />

Segundo a teoria do rio contínuo (Vanotte et al. 1980), à<br />

medi<strong>da</strong> que segue o ambiente lótico, ou riacho, o número<br />

de interações inter-específicas aumenta também. Algumas<br />

características se modificam ao longo de um gradiente longitudinal,<br />

por exemplo a quanti<strong>da</strong>de de luz que entra no<br />

sistema aumenta, proporcionando uma produção primária<br />

autóctone importante em rios maiores. A quali<strong>da</strong>de e a<br />

quanti<strong>da</strong>de de material em suspensão também difere ao<br />

longo do sistema onde nos rios maiores existe uma grande<br />

quanti<strong>da</strong>de de nutrientes e material particulado fino,<br />

enquanto nos rios menores ocorre o início do processo de<br />

fragmentação e decomposição de folhas e troncos. Estas<br />

mu<strong>da</strong>nças nas características do sistema proporcionam a<br />

adição e a substituição de muitas espécies de peixes<br />

resultando em comuni<strong>da</strong>des ícticas progressivamente mais<br />

complexas. Assim, os igarapés são sistemas heterotróficos<br />

que modificam-se até constituírem sistemas autotróficos nos<br />

corpos d’água maiores.<br />

Neste estudo, a profundi<strong>da</strong>de e a largura dos igarapés<br />

estiveram correlaciona<strong>da</strong>s e tiveram grande influência na<br />

riqueza de espécies de peixes. Ambientes mais profundos<br />

proporcionam a existência de diferentes meso-habitats em<br />

um mesmo trecho do rio, fazendo com que conjuntos de<br />

peixes que ocupam diferentes estratos de profundi<strong>da</strong>de<br />

possam se estabelecer, aumentando a riqueza local de<br />

espécies. A maior largura em igarapés pode funcionar de<br />

modo semelhante à profundi<strong>da</strong>de, pois em um mesmo trecho<br />

do riacho a maior amplitude na largura faz com que<br />

diferentes espécies possam partilhar o espaço do igarapé<br />

em seu plano horizontal. Assim, a distinção mais clara entre<br />

áreas de margem e de canal possibilita a ocorrência de<br />

guil<strong>da</strong>s tróficas diferencia<strong>da</strong>s, resultando em relações<br />

tróficas mais complexas. Porém se ambas espécies forem<br />

<strong>da</strong> mesma guil<strong>da</strong> trófica a competição por locais de forrageio<br />

pode ocorrer (Rincón, 1999).<br />

Igarapés maiores, como os de 3 a ordem, além de<br />

140 Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002<br />

apresentarem um maior volume de água, geralmente correm<br />

sob dossel mais aberto, fazendo com que nestes locais ocorra<br />

maior incidência de luz, proporcionando o estabelecimento<br />

de espécies algívoras (J. Zuanon, com. pess.). Como citado<br />

anteriormente, um maior número de espécies proporciona<br />

maiores interações ecológicas. Somente em igarapés de 2 a<br />

e 3 a ordem foram encontrados peixes carnívoros e<br />

piscívoros, corroborando a hipótese do rio contínuo, que<br />

prediz que quanto maior a dimensão do ambiente, maiores<br />

serão as interações ecológicas nestes locais.<br />

Peixes maiores e espécies de maior porte somente<br />

ocorreram em igarapés mais profundos e largos. Este tipo<br />

de estrutura de comuni<strong>da</strong>de não é nota<strong>da</strong> em igarapés de 1 a<br />

ordem, onde encontram-se como espécies dominantes<br />

pequenos characideos e lebiasinídeos.<br />

Era esperado que o tipo de substrato e de margem<br />

tivessem influência na riqueza de espécies de peixes em<br />

igarapés. Diferentes tipos de substrato e margem poderiam<br />

proporcionar maior quanti<strong>da</strong>de de abrigos e locais de<br />

forrageio. É possivel que espécies de habitos criptobióticos<br />

não tenham sido registra<strong>da</strong>s pelo método de observação<br />

direta e a partir <strong>da</strong>s margens, resultando em um subestimativa<br />

de riqueza de espécies locais e atrapalhando as análises. O<br />

folhiço, por exemplo, é um substrato rico em abrigos que<br />

são utilizados por pequenos peixes de difícil visualização.<br />

Nestes locais a melhor opção seria realizar coletas mais<br />

efetivas, com redes e peneiras, ou despender um tempo maior<br />

de observações subaquáticas (Rincón, 1999).<br />

A veloci<strong>da</strong>de <strong>da</strong> correnteza é reconheci<strong>da</strong> como um<br />

parâmetro-chave de habitats aquáticos (Rincón, 1999),<br />

porém não teve influência na riqueza de espécies de peixes<br />

nos igarapés estu<strong>da</strong>dos. Este parâmetro pode ser crucial para<br />

o estabelecimento de algumas espécies, pois o custo<br />

metabólico para natação aumenta exponencialmente com a<br />

veloci<strong>da</strong>de <strong>da</strong> água. Portanto, era esperado que em locais<br />

de maior correnteza fossem encontra<strong>da</strong>s espécies com<br />

características morfológicas e/ou comportamentais<br />

especializa<strong>da</strong>s, o que não ocorreu. É possível que a baixa<br />

freqüência e extensão desse tipo de habitat em riachos de<br />

cabeceiras não permita o estabelecimento de conjuntos de<br />

espécies estritamente reofílicas típicas de rios maior porte.<br />

As características que determinam a ocorrência de<br />

espécies dos grandes rios são completamente diferentes <strong>da</strong>s<br />

considera<strong>da</strong>s importantes nos igarapés de cabeceiras. Em<br />

rios, parâmetros físico-químicos <strong>da</strong> água e sazonali<strong>da</strong>de são<br />

mais importantes, ao passo que nos igarapés os parâmetros<br />

físicos ou morfológicos do local são mais marcantes para a<br />

ocorrência de determina<strong>da</strong>s espécies de peixes.<br />

Assim concluo que quanto maior a largura e a<br />

profundi<strong>da</strong>de do igarapé, maior é o número de espécies<br />

estabeleci<strong>da</strong>s e que o tipo de substrato, margem e correnteza<br />

apresentam influência relativamente reduzi<strong>da</strong> sobre a<br />

riqueza de peixes em igarapés de cabeceiras de áreas de<br />

terra firme na Amazônia Central. Interações bióticas<br />

possivelmente consistem fatores importantes na estruturação<br />

dos conjuntos de espécies de peixes de igarapés.


Agradecimentos<br />

Agradeço ao Flávio J. Soares Jr. pela grande aju<strong>da</strong> e<br />

coragem nas coletas de campo, Carina L. <strong>da</strong> Silveira e<br />

Glauco Machado pela aju<strong>da</strong> nas análises estatísticas, Paulo<br />

De Marco pelo auxílio nos cálculos e críticas, Eduardo<br />

Venticinque pelas críticas e comentários no manuscrito e<br />

finalmente agradeço ao Jansen Zuanon pela orientação na<br />

discussão dos resultados e críticas indispensáveis para a<br />

finalização deste trabalho.<br />

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and D.J. Ran<strong>da</strong>ll.<br />

História Natural de Heteroprhynus longicornis<br />

(Arachni<strong>da</strong>, Amblypygi)<br />

Introdução<br />

Estudos comportamentais e ecológicos são ca<strong>da</strong> vez mais<br />

utilizados como base de <strong>da</strong>dos na sugestão de hipóteses<br />

filogenéticas . Além disso características <strong>da</strong> história natural<br />

de qualquer grupo quando abor<strong>da</strong>dos dentro de uma ótica<br />

filogenética podem mostrar padrões importantes para se<br />

compreender melhor o processo evolutivo implícito na<br />

história do grupo. Dessa forma, estudos sobre história natural<br />

dos grupos têm um papel significativo nas pesquisas<br />

evolutivas.<br />

Os amblipígios são animais de hábitos noturnos que<br />

ocorrem em regiões tropicais e semi-tropicais (Barnes,<br />

1984). Os trabalhos que tratam de aspectos do<br />

comportamento do grupo se referem basicamente à sua<br />

biologia reprodutiva (Weygoldt, 1972). Relatos sobre outras<br />

características <strong>da</strong> história natural <strong>da</strong>s espécies do grupo são<br />

muito escassos.<br />

Heteroprhynus longicornis é uma espécie de grande porte<br />

muito comum na região amazônica. Assim como a maioria<br />

<strong>da</strong>s espécies <strong>da</strong> ordem pouco se sabe sobre aspectos de seu<br />

comportamento. As perguntas que guiaram este estudo foram:<br />

(1) H. longicornis é uma espécie com fideli<strong>da</strong>de por<br />

abrigos? (2) Qual o perímetro de ativi<strong>da</strong>de dos indivíduos?<br />

Eduardo G. Vasconcelos<br />

Métodos<br />

No período de 23 à 27 de novembro foram realiza<strong>da</strong>s<br />

observaçõesl em dois períodos, tarde (14:00-18:00) e noite<br />

(19:00-1:00). O estudo foi realizado na Reserva do Km 41<br />

(INPA), aproxima<strong>da</strong>mente 80 km de Manaus (2 o 30’., 59 o<br />

52’ O). As observações foram realiza<strong>da</strong>s em três sítios,<br />

escolhidos por apresentarem uma grande quanti<strong>da</strong>de de<br />

troncos de árvores caídos, que são usualmente utilizados<br />

como abrigos diurnos (obs. pess.).<br />

Todos os locais onde foram encontrados amblipígios foram<br />

marcados com uma fita colori<strong>da</strong>. Os indivíduos, quando<br />

possível, foram coletados, marcados com tinta para<br />

aeromodelismo, numa combinação de cores individual e,<br />

em segui<strong>da</strong>, soltos no mesmo local de captura. Foram<br />

toma<strong>da</strong>s duas medi<strong>da</strong>s dos indivíduos coletados: largura e<br />

comprimento do cefalotórax. As medi<strong>da</strong>s foram tira<strong>da</strong>s com<br />

paquímetro de precisão de 0,05 mm. Os exemplares foram<br />

agrupados em três categorias: macho, fêmea e juvenil. A<br />

freqüência de recaptura foi anota<strong>da</strong> a partir <strong>da</strong> primeira<br />

captura. O perímetro de ativi<strong>da</strong>de dos indivíduos foi<br />

estimado<br />

Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002 141


Tabela 1. Freqüência de recapturas para os indivíduos de<br />

H. longicornis marcados durante o período de estudo, na<br />

Reserva do Km 41, Amazônia Central. NE: não<br />

encontrado; NV: não visitado; N: noite; D: dia.<br />

Indivíduos Dias<br />

23 24 25 26 27<br />

1 1 a . captura NE NE NV NV<br />

2 1 a . captura N D/N NV NV<br />

3 1 a . captura ND D/N NV NV<br />

4 1 a . captura N D/N NE NE<br />

5 1 a captura NE NE NE NE<br />

6 1 a captura D NE NE<br />

7 1 a . captura NE NE NE<br />

8 1 a . captura N NE NE<br />

9 1 a . captura NE NE NE<br />

10 1 a . captura N NE NE<br />

11 1 a . captura N N NE<br />

12 1 a captura N NE NE<br />

13 1 a captura NE NE NE<br />

14 1 a . captura NE NE NE<br />

15 1 a . captura N NE NE<br />

16 1 a . captura NE<br />

17 1 a . captura NE<br />

18 1 a . captura NE<br />

19 1 a captura NE<br />

20 1 a captura *D/<br />

N<br />

Do total de 22 indivíduos foi encontra<strong>da</strong> uma proporção<br />

de 44,9% de machos, 13,6% de fêmeas e 36,4% de juvenis.<br />

Os tipos mais comuns de abrigos utilizados pelos indivíduos<br />

foram troncos ocos caídos no chão <strong>da</strong> floresta, os<br />

amblipígios ficam no interior do oco, sempre no teto do<br />

abrigo. Troncos grandes (maiores do que 2 m) abrigaram<br />

mais do que um indivíduo adulto, em dois destes troncos<br />

foram encontrados dois adultos. Buracos sob as raízes de<br />

árvores também foi um tipo de sítio muito comum utilizado<br />

por H. longicornis. Três indivíduos observados foram<br />

encontrados durante a noite no interior do abrigo.<br />

Alguns juvenis (n=2) foram marcados próximos às tocas<br />

de indivíduos adultos e muitos dos jovens, não capturados,<br />

também foram observados dentro de ocos de troncos onde<br />

se abrigavam espécimes adultos. No interior <strong>da</strong> mata é muito<br />

comum árvores grandes caírem, por perderem sustentação<br />

no chão, deixando sua raiz completamente exposta. Quatro<br />

juvenis foram marcados, a noite, numa destas raízes, du-<br />

142 Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002<br />

rante o dia, provavelmente, estes jovens se abrigavam no<br />

lado inferior <strong>da</strong> raiz. Apenas um dos exemplares jovens<br />

marcados foi encontrado em um oco de tronco, e um dos<br />

indivíduos foi achado sob tronco podre. Nove dos vinte<br />

indivíduos foram recapturados no mesmo local de marcação.<br />

O período de ativi<strong>da</strong>de se iniciou por volta <strong>da</strong>s 18:00 h.<br />

Neste período os amblipígios começaram a sair dos abrigos<br />

e migrar para a superfície dos troncos onde se situavam os<br />

abrigos. Foram encontrados indivíduos numa altura de até<br />

30 cm acima do nível do chão. O perímetro de ativi<strong>da</strong>de<br />

dos animais foi muito pequeno (cerca de 20 cm de raio).<br />

Durante o período de observação nenhum tipo de interação<br />

foi observa<strong>da</strong>.<br />

Discussão<br />

Os resultados mostram que adultos de Heterophrynus<br />

longicornis apresentam fideli<strong>da</strong>de por abrigo, visto a<br />

proporção de recaptura (n=9). Além disso em muitos casos<br />

o abrigo não representa apenas um esconderijo diurno, mas<br />

também o hábitat permanente desses indivíduos.<br />

Provavelmente esta permanência no abrigo somente é<br />

encontra<strong>da</strong> em abrigos grandes, onde os animais possam<br />

suprir sua necessi<strong>da</strong>de por presas.<br />

Aparentemente os indivíduos jovens apresentam<br />

estratégia diferente dos adultos. O fato dos juvenis não<br />

serem encontrados em abrigos tão característicos quanto os<br />

dos adultos, associado à baixa taxa de recaptura destes,<br />

parece apontar que eles têm uma maior movimentação no<br />

ambiente e que não necessariamente permanecem num<br />

mesmo local.<br />

O presente trabalho contemplou muito pouco dos<br />

aspectos <strong>da</strong> historia natural de H. longicornis, outros estudos<br />

que busquem revelar mais <strong>da</strong>do são necessários.<br />

Bibliografia<br />

Barnes, R. D. 1984. Zoologia dos Invertebrados. 4 a . ed.<br />

Rocca. São Paulo.<br />

Weygoldt, P. 1972. Geisselskorpiones und Geisselspinnen<br />

(Uropygi und Amblypygi). Z. des Kolner Zoo, 15(3):<br />

95-107.


Efeito <strong>da</strong> distribuição de aves na<br />

pre<strong>da</strong>ção de lagartas artificiais<br />

Introdução<br />

A pre<strong>da</strong>ção pode ser considera<strong>da</strong> um tipo interação que<br />

envolve a captura de um organismo vivo (presa) para o<br />

consumo de um outro (pre<strong>da</strong>dor).<br />

Em alguns grupos de herbívoros como larvas de<br />

lepidópteros, a pre<strong>da</strong>ção exerce uma forte pressão seletiva<br />

na regulação populacional (Stamp & Wilkens 1993). Podese<br />

afirmar que o comportamento e a abundância de seus<br />

principais pre<strong>da</strong>dores (pássaros, vespas, formigas, entre<br />

outros) podem interferir na abundância <strong>da</strong>s lagartas e estas<br />

nos <strong>da</strong>nos de plantas (Montlor & Bernays 1993). Alguns<br />

fatores como o clima, habitat do pre<strong>da</strong>dor, a complexi<strong>da</strong>de<br />

e heterogeni<strong>da</strong>de <strong>da</strong> vegetação podem alterar a eficiência<br />

<strong>da</strong> relação pre<strong>da</strong>dor-presa (Andrade 1995).<br />

As aves, por exemplo, apresentam na bor<strong>da</strong> dos ambientes<br />

florestais uma riqueza e abundância menor que no interior.<br />

Em mata de terra firme na Amazonia Central, algumas<br />

espécies como Trogon rufus, Cyanocompsa cyanoides,<br />

Galbula albirostris, ocorrem somente na bor<strong>da</strong> e outras<br />

como Pipra pipra, Schiffornis turdinus, Dendrocincla<br />

fuligunosas, somente no interior <strong>da</strong> floresta.<br />

O tamanho <strong>da</strong>s estra<strong>da</strong>s que cortam a <strong>Floresta</strong> Amazônica<br />

podem ser uma barreira para algumas espécies de aves, como<br />

as de correição. A presença de bor<strong>da</strong> em ca<strong>da</strong> lado <strong>da</strong> estra<strong>da</strong><br />

potencializa ain<strong>da</strong> mais este efeito de impedimento em aves<br />

insetívoras. Desta maneira, a estra<strong>da</strong> pode levar a uma<br />

alteração <strong>da</strong> distribuição <strong>da</strong>s aves entre os seus lados<br />

(Laurance 2001).<br />

Para testar esse efeito de bor<strong>da</strong>, este trabalho teve como<br />

objetivo verificar, utilizando modelos de lagartas artificiais<br />

(Andrade 1997; Andrade & Benson 1996; Vi<strong>da</strong>lenc 1999),<br />

se há diferenças nas taxas de pre<strong>da</strong>ção de lagartas em relação<br />

ao tipo de ambiente (bor<strong>da</strong>, interior, lado esquerdo e direito<br />

<strong>da</strong> estra<strong>da</strong>) em uma mata de terra firme na Amazônia Central.<br />

As hipóteses testa<strong>da</strong>s foram: 1) A pre<strong>da</strong>ção de lagartas<br />

artificiais é maior no interior que a área de bor<strong>da</strong>; 2) A<br />

diferença de composição de aves entre o interior e bor<strong>da</strong> e<br />

entre os lados <strong>da</strong> estra<strong>da</strong> afetam a pre<strong>da</strong>ção por lagartas.<br />

Métodos<br />

O trabalho foi realizado em novembro de 2002 na Reserva<br />

Yumi Oki<br />

1501 (Km 41) do Projeto Dinâmica Biológica de Fragmento<br />

florestais localiza<strong>da</strong>s a 70 km ao norte de Manaus,<br />

Amazonas (02º25 ‘S 59°50’ W), com altitudes, variando<br />

entre 50-125 m acima do nível do mar. A Reserva apresenta<br />

1000 ha cobertos por uma floresta densa contínua de terra<br />

firme (Oliveira 1997). A bor<strong>da</strong> nesse ambiente apresenta<br />

uma vegetação de dossel mais baixa, uma complexi<strong>da</strong>de<br />

menor e heterogenei<strong>da</strong>de maior que o interior (Laurance<br />

2001).<br />

Os modelos artificiais de lagartas foram feitos utilizando<br />

massa de modelar. O tamanho do modelo apresentava cerca<br />

de 0,4 cm de diâmetro e 4,0 cm de comprimento (n= 408<br />

lagartas).<br />

Utilizei quatro parcelas do lado esquerdo e quatro<br />

parcelas do lado direito <strong>da</strong> estra<strong>da</strong> ZF-3 (Figura 1),<br />

originalmente construídos para avaliar se a estra<strong>da</strong> servia<br />

como uma barreira entre as aves, e se a distância <strong>da</strong> margem<br />

<strong>da</strong> estra<strong>da</strong> ao interior alterava a distribuição delas (Laurance<br />

2001). As mesmas parcelas foram utiliza<strong>da</strong>s com a<br />

finali<strong>da</strong>de de comparar os resultados <strong>da</strong> pre<strong>da</strong>ção dos<br />

modelos de lagartas com a distribuição de aves nestes<br />

ambientes.<br />

Ca<strong>da</strong> parcela contém três transectos nas distâncias 10,<br />

70 e 170 metros <strong>da</strong> estra<strong>da</strong>. Em ca<strong>da</strong> transecto foram<br />

distribuídos 17 modelos artificiais de lagartas, uma em ca<strong>da</strong><br />

indivíduo de planta (n=16), independente <strong>da</strong> espécie,<br />

distanciados 4,5 metros entre si. As lagartas artificiais foram<br />

fixa<strong>da</strong>s nas folhas que estavam entre 1,20 a 1,40 metros<br />

de altura do solo, utilizando uma cola instantânea <strong>da</strong> marca<br />

“Super bonder”. Posteriormente, colocamos graxa nos<br />

ramos de nove dessas plantas com os modelo, sortea<strong>da</strong>s<br />

aleatoriamente.Examinei a presença ou ausência <strong>da</strong>s lagartas<br />

e categorizei as marcas de ataque por aves, formigas, vespas<br />

e outros (figura 2), 48 horas após a colocação dos modelos.<br />

Utilizei uma ANOVA de medi<strong>da</strong>s repeti<strong>da</strong>s para testar<br />

as variações na pre<strong>da</strong>ção entre os lados <strong>da</strong> estra<strong>da</strong>, entre a<br />

distância dos transectos e entre os tratamentos (com e sem<br />

graxa), e uma ANOVA de dois fatores para testar a diferença<br />

na pre<strong>da</strong>ção entre os grupos taxonômicos e distância <strong>da</strong><br />

estra<strong>da</strong>. A utilização dos testes estatísticos foram de acordo<br />

com Zar (1984).<br />

Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002 143


Norte (lado esquerdo) Sul (lado direito)<br />

Figura 1. Desenho esquemático <strong>da</strong> localização <strong>da</strong>s<br />

parcelas utilizados no experimento.<br />

Figura 2. Desenho esquemático <strong>da</strong>s principais marcas de<br />

pre<strong>da</strong>ção em modelos artificiais de lagartas.<br />

Resultados<br />

Encontrei 172 modelos de lagartas pre<strong>da</strong><strong>da</strong>s (42%) após<br />

48 horas. A pre<strong>da</strong>ção total encontra<strong>da</strong> não diferenciou entre<br />

os lados estra<strong>da</strong> (F=0,193, gl= 1, p=0,666, figura 3); a<br />

média de pre<strong>da</strong>ção do lado direito foi de 33,5% e do lado<br />

esquerdo foi de 32,5%. Da mesma forma, não encontrei<br />

diferença de pre<strong>da</strong>ção entre os transectos e os lados (F=0,02,<br />

gl=2, p=0,98) e entre os tratamentos (com graxa e sem graxa)<br />

e os lados (F=0,662, gl=1, p=0,426). O perfil de pre<strong>da</strong>ção<br />

dos tratamentos e transectos não apresentou diferença<br />

(F=0,228, gl= 2, p=0,798).<br />

144 Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002<br />

pre<strong>da</strong>ção (%)<br />

0,8<br />

0,7<br />

0,6<br />

0,5<br />

0,4<br />

0,3<br />

0,2<br />

0,1<br />

0,0<br />

0 50 100 150<br />

Distância <strong>da</strong> estra<strong>da</strong> (m)<br />

SYMBOL<br />

CD<br />

CE<br />

SD<br />

SE<br />

Figura 3. Porcentagem de pre<strong>da</strong>ção nos ramos com e sem<br />

graxa, nos transectos a 10m <strong>da</strong> estra<strong>da</strong>, 70 m <strong>da</strong> bor<strong>da</strong> e<br />

130 m <strong>da</strong> bor<strong>da</strong>, do lado esquerdo e direito <strong>da</strong> estra<strong>da</strong>.<br />

CD= ramo com graxa no lado direito, CE= ramo com graxa<br />

no lado esquerdo, SD= ramo sem graxa no lado direito,<br />

SD= ramo sem graxa no lado esquerdo.<br />

As aves foram o grupo que mais predou as lagartas<br />

artificiais, cerca de 32,4% (F=45,44, gl=2, p< 0,001, figura<br />

4). É importante ressaltar que o ataque por aves ocorreu na<br />

cabeça de todos modelos (figura 2). A porcentagem média<br />

de pre<strong>da</strong>ção em formiga foi de 4,7 % e <strong>da</strong>s vespas de 5,2 %.<br />

Não houve diferença de pre<strong>da</strong>ção dos grupos por transecto<br />

(F= 0,052, gl=4, p=0,995).<br />

pre<strong>da</strong>ção (%)<br />

0,7<br />

0,6<br />

0,5<br />

0,4<br />

0,3<br />

0,2<br />

0,1<br />

0,0<br />

GRUPO<br />

formigas<br />

aves<br />

vespas<br />

0 50 100 150<br />

Distância <strong>da</strong> estra<strong>da</strong> (m)<br />

Figura 4. Porcentagem de pre<strong>da</strong>ção por grupo (formigas,<br />

aves e vespas) entre os transectos a 10 m, 70 m e 130 m<br />

de distância <strong>da</strong> estra<strong>da</strong> ZF-3.<br />

Na pre<strong>da</strong>ção por aves não houve diferença entre o lado<br />

direito (sul) e esquerdo (norte) (F=0,1933, gl=1, p=0,666,<br />

figura 5), assim como em relação a interação entre transectos<br />

e lados (F=0,02, gl=2, p=0,980), entre tratamentos e lados<br />

(F=0,662, gl=1, p=0,426) e entre tratamento e transecto<br />

(F=0,228, gl= 2, p=0,798).


pre<strong>da</strong>ção (%)<br />

0,8<br />

0,7<br />

0,6<br />

0,5<br />

0,4<br />

0,3<br />

0,2<br />

0,1<br />

0,0<br />

0 50 100 150<br />

Distância <strong>da</strong> estra<strong>da</strong> (m)<br />

LADO<br />

Figura 5. Porcentagem de pre<strong>da</strong>ção por aves do lado<br />

direito (D) e esquerdo (E) em ramos com graxa (c) e sem<br />

graxa (s) nos transectos a 10 m <strong>da</strong> estra<strong>da</strong> (1), 70 m <strong>da</strong><br />

bor<strong>da</strong> (2) e 130 m <strong>da</strong> bor<strong>da</strong> (3).<br />

A pre<strong>da</strong>ção por formigas não foi diferente entre os lados<br />

e os transectos (F=0,598, gl=2, p=0,559). A pre<strong>da</strong>ção por<br />

vespas também não foi diferente entre os lados e os<br />

transectos (F=3,17, gl=2, p= 0,06).<br />

Discussão<br />

Os resultados deste estudo indicam que a pre<strong>da</strong>ção dos<br />

modelos de lagartas foi bastante alta, mesmo considerando<br />

um período curto de amostragem (48 horas), influenciando<br />

na abundância de lagartas <strong>da</strong> área no início <strong>da</strong> estação<br />

chuvosa; a maior parte <strong>da</strong>s marcas encontra<strong>da</strong>s foram de<br />

aves. Um estudo anterior, na estação seca, demonstrou 44%<br />

<strong>da</strong>s pre<strong>da</strong>ções por artrópodos e menos de 1% por aves<br />

(Andrade 1997). Andrade discute que a pre<strong>da</strong>ção seria<br />

maior na estação chuvosa, uma vez que nos estudos<br />

realizados na Mata Atlântica com o mesmo procedimento,<br />

a taxa de ataque durante a época <strong>da</strong>s chuvas foi de 50%. No<br />

entanto neste estudo, a pre<strong>da</strong>ção no início <strong>da</strong> estação chuvosa<br />

foi próxima <strong>da</strong> seca, porém por grupos diferentes de<br />

pre<strong>da</strong>dores. É provável que abundância diferencia<strong>da</strong> de<br />

grupos de organismos nas estações mantenha o equilíbrio<br />

populacional <strong>da</strong>s larvas de lepidópteros. No entanto, para<br />

uma melhor interpretação dessas respostas de pre<strong>da</strong>ção, seria<br />

importante avaliar a disponibili<strong>da</strong>de de lagartas na estação<br />

seca e na chuvosa.<br />

A pre<strong>da</strong>ção não foi diferente entre a bor<strong>da</strong> e o interior<br />

<strong>da</strong> mata, contrapondo com os resultados encontrados no<br />

trabalho de Andrade (1997). Alguns fatores, como a<br />

disponibili<strong>da</strong>de de recursos para os pre<strong>da</strong>dores e abundância<br />

de espécies de aves generalistas nesses ambientes nessa<br />

época do ano, provavelmente expliquem os resultados<br />

encontrados. Observações preliminares de ataque desses<br />

modelos de lagartas poderiam aju<strong>da</strong>r a definir os pre<strong>da</strong>dores<br />

mais abun<strong>da</strong>ntes.<br />

A comparação dos lados que separam a estra<strong>da</strong> não<br />

apresentaram pre<strong>da</strong>ção diferencia<strong>da</strong>, mesmo por aves. A<br />

diferença de riqueza e abundância de algumas espécies de<br />

aves, entre os lados <strong>da</strong> estra<strong>da</strong> e entre o interior e a bor<strong>da</strong>,<br />

encontra<strong>da</strong>s por Laurance (2001) não refletiram na taxas<br />

D<br />

E<br />

de pre<strong>da</strong>ção por esse grupo. É provável que alguns grupos<br />

de organismos apresentam uma distribuição heterogênea,<br />

se concentrando em algumas áreas que apresentam mais<br />

recursos, melhores condições de sobrevivência e<br />

reprodução. Como analisei a bor<strong>da</strong> e o interior, de forma<br />

uniforme, desconsiderando esses fatores, é provável que eles<br />

tenham influenciado nas respostas de pre<strong>da</strong>ção encontrados<br />

neste estudo. Outros estudos são necessários, levando em<br />

consideração a heterogenie<strong>da</strong>de dos fatores entre as bor<strong>da</strong>s<br />

e/ou interiores em um fragmento para confirmar ou refutar<br />

o resultado encontrado nesse trabalho.<br />

Considerando que as larvas artificiais podem subestimar<br />

as taxas de ataques reais, pode-se concluir que a pre<strong>da</strong>ção<br />

encontra<strong>da</strong> na Reserva Km 41 é alta, sendo similar entre a<br />

bor<strong>da</strong> e o interior, e os lados <strong>da</strong> estra<strong>da</strong>. A taxa de pre<strong>da</strong>ção<br />

de 21% por dia é representativa, principalmente quando é<br />

acumulativa. Portanto, as aves representam um grupo<br />

importante no controle <strong>da</strong> abundância de lagartas, grupo<br />

exclusivamente herbívoro, no início <strong>da</strong> estação chuvosa na<br />

área de estudo.<br />

Agradecimentos<br />

Agradeço ao Paulo, ao Carlos, ao Geraldo Fernandes,<br />

ao Glauco, ao Jansen, ao Dadão pelas altas discussões durante<br />

o processo de elaboração desse projeto, análises <strong>da</strong>s<br />

estatísticas, dos resultados ausentes e limitantes e pela<br />

companhia extroverti<strong>da</strong> e bem humora<strong>da</strong>. Agradeço ao<br />

Selvino, Pinguela, Juruna, Josué, Eduardo (gaúcho), a<br />

Patrícia (mexicana) e a Vanina pelo forte apoio braçal,<br />

pernal e é claro, motivador para a realização desse trabalho<br />

de forma descontraí<strong>da</strong> e muito amiga. Um obriga<strong>da</strong> a ca<strong>da</strong><br />

um dos participantes pela companhia harmoniosa e pela<br />

aju<strong>da</strong> em inúmeros momentos durante este curso de campo.<br />

Termino este último trabalho de campo, sorrindo e enviando<br />

beijos aos novos amigos que fiz aqui e certamente<br />

encontrarei na minha encruzilha<strong>da</strong>.<br />

Referências bibliográficas<br />

Andrade, I. 1997. Variações espaciais na ação de<br />

pre<strong>da</strong>dores de larvas de Lepidoptera: uma abor<strong>da</strong>gem<br />

experimental. In C. A. Lima (eds.). Curso de Campo -<br />

<strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica. INPA, Amazonas.<br />

Andrade, I. & W. W. Benson. 1996. Attacks on imitation<br />

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forest. Bulletin of the Ecological Society of America:<br />

Annual Meeting. Providence, Rhode Island, USA.<br />

Laurance, S. G. W. 2001. The effects of roads and their<br />

edges on the movement patterns and community<br />

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Amazonia, Brazil. Thesis of doctor of Philosophy of<br />

The University of New England, Australia.<br />

Montlor, C. B. & E. A. Bernays. 1993. Invertebrate<br />

pre<strong>da</strong>tors and caterpillar foraging. In N. E. Stamp & T.<br />

M. Casey (eds). Caterpillars: ecological and evolutionary<br />

constraints on foraging. Chapman & Hall, New<br />

Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002 145


York, USA.<br />

Oliveira, A. A. 1997. Diversi<strong>da</strong>de, estrutura e dinâmica<br />

do componente arbóreo de uma floresta de terra firme<br />

de Manaus, Amazonas. Tese de doutorado, USP, São<br />

Paulo.<br />

Vi<strong>da</strong>lenc, D. 1999. Pressão de pressão sobre larvas<br />

146 Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002<br />

artificias (de diferentes cores de Lepidoptera) em uma<br />

floresta Amazônica. In E. Venticinque & M. Hopkins.<br />

Curso de Campo - <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica.<br />

INPA, Amazonas.<br />

Zar, J. H. 1984. Biostatiscal Analysis. Prentice Hall, New<br />

Jersey, United States of America.<br />

Defensa biológica en la planta mirmecófita Maieta<br />

guianensis: respuesta inmediata al <strong>da</strong>ño foliar, y<br />

respuesta induci<strong>da</strong> a corto y largo plazo por parte de la<br />

hormiga Pheidole minutula<br />

Introducción<br />

La asociación entre plantas myrmecófitas y hormigas ha<br />

sido postula<strong>da</strong> como un mutualismo en el cual la planta<br />

ofrece alimento o refugio a las hormigas, recibiendo como<br />

recompensa protección frente a eventuales herbívoros<br />

(Hölldobler & Willson 1990). La eficiencia de las hormigas,<br />

como defensa “biológica” contra herbívoros ha sido<br />

comproba<strong>da</strong> en varias de estas asociaciones planta-hormiga<br />

(Schupp 1986, Vasconcelos 1991). Particularmente en<br />

Maieta guianensis Aubl. (Melastomataceae), las hormigas<br />

ofrecen una protección efectiva contra los herbívoros<br />

(Vasconcelos 1991).<br />

Un sistema de defensa tan efectivo permite especular que<br />

los mutualistas involucrados deben haber desarrollado<br />

mecanismos que permitan un rápido reconocimiento,<br />

detección y respuesta de defensa, ante un eventual ataque<br />

por un herbívoro. Si las hormigas mutualistas son un análogo<br />

“biológico”de los compuestos secun<strong>da</strong>rios de defensa, como<br />

propuso Janzen (1966), es de esperar que tengan,<br />

analogamente, la capaci<strong>da</strong>d de desarrollar una respuesta<br />

induci<strong>da</strong> frente al <strong>da</strong>ño foliar (Agrawal 1998). Esto es,<br />

plantas u hojas que hayan experimentado un ataque por un<br />

herbívoro, deberían tener una respuesta induci<strong>da</strong> más<br />

efectiva ante un nuevo ataque, que plantas sin “experiencia<br />

previa”. Un <strong>da</strong>ño foliar previo, por ejemplo, puede ser una<br />

señal importante para una respuesta eficaz por parte de las<br />

hormigas, ocasionando un reclutamiento más rápido o más<br />

numeroso al sitio que está siendo atacado (Agraval 1998).<br />

En este trabajo me propongo poner a prueba las siguientes<br />

hipótesis: 1) Las hormigas Pheidole minutula, mutualistas<br />

de Maieta guianensis son capaces de reconocer un <strong>da</strong>ño<br />

foliar, de otro tipo de disturbios y de responder en forma<br />

Carolina Laura Morales<br />

diferencial, “defendiendo” la hoja supuestamente ataca<strong>da</strong>;<br />

2) un <strong>da</strong>ño previo, es una señal reconoci<strong>da</strong> por las hormigas,<br />

que genera una respuesta más eficaz frente a un <strong>da</strong>ño foliar,<br />

en hojas previamente <strong>da</strong>ña<strong>da</strong>s.<br />

Métodos<br />

Area de estudio y organismos<br />

Este trabajo fue llevado a cabo en la reserva Km 41, del<br />

Proyecto de Dinámica Biológica de Fragmentos Forestales<br />

(<strong>PDBFF</strong>/INPA/Smithsonian Institution), situa<strong>da</strong><br />

aproxima<strong>da</strong>mente 70 km al norte de Manaus, Amazonia<br />

Central. La reserva comprende 1000 ha de selva tropical no<br />

altera<strong>da</strong>, con un dosel arboreo de entre 30 y 40 metros de<br />

altura. Esta area se caracteriza por una alta diversi<strong>da</strong>d floral<br />

(hasta 1000 especies arboreas de dosel) y un sotobosque<br />

dominado por palmeras. El clima es clasificado como tropical<br />

húmedo (Holdrige 1967), con uma estación lluviosa entre<br />

diciembre y junio (Junk & Furch 1985). Una descripción<br />

detalla<strong>da</strong> del area se encuentra en Lovejoy & Bierregaard<br />

(1990). Los muestreos fueron realizados en el mes de<br />

noviembre de 2002, al final de la estación seca.<br />

Maieta guianensis es un pequeño arbusto mirmecófito<br />

(es decir, presenta domacios, según Benson, 1985) de amplia<br />

distribución en la cuenca amazónica (Benson 1985) y muy<br />

abun<strong>da</strong>nte en el area de estudio (Vasconcelos 1993). Esta<br />

especie presenta asociaciones mutualistas con dos especies<br />

de hormigas, Pheidole minutula Mayr (Formici<strong>da</strong>e) y<br />

Crematogaster sp. (Vasconcelos 1993), estando la primera<br />

especie presente en el 95% de los individuos (Vasconcelos<br />

1991). Las hojas son muy dimórficas, y sólo la hoja mayor<br />

de ca<strong>da</strong> verticilo posee um domacio que alberga hormigas.<br />

Vasconcelos (1991) demostró que la remoción experimen-


tal de colonias de P. minutula en ejemplares adultos,<br />

aumentaba sus niveles de herbivoría y mortali<strong>da</strong>d. Las<br />

colonias de P. minutula están compuestas por diferentes<br />

castas, entre ellas las obreras y sol<strong>da</strong>dos parecen tener<br />

distintas funciones en el sistema de defensa de la colonia<br />

(Benson 1985).<br />

Respuesta inmediata al <strong>da</strong>ño foliar<br />

Experimento 1. A fin de evaluar la respuesta inmediata<br />

de las hormigas ante un eventual ataque por herbívoro,<br />

realicé el siguiente experimento: En 20 individuos de M.<br />

guianensis, escogí en ca<strong>da</strong> individuo dos hojas, similares<br />

en tamaño, e<strong>da</strong>d foliar y nivel de herbivoría (estimación<br />

visual), ubica<strong>da</strong>s en ramas distantes dentro de la planta. En<br />

una de las hojas, realicé un corte triangular de ca.1 cm 2 con<br />

una tijera, imitando el efecto de un ataque por herbívoro, en<br />

adelante “<strong>da</strong>ño foliar”. En la otra hoja, realicé una<br />

manipulación semejante, utilizando una pinza enlugar de<br />

una tijera, (y sin <strong>da</strong>nãr el tejido foliar), siguiendo la<br />

metodología propuesta por Christianini et al. (2001), a fin<br />

de controlar por el efecto de la manipulación (en adelante<br />

“manipulación”). Previamente, registré la especie, número<br />

y tipo (obrera o sol<strong>da</strong>do) de hormigas patrullando la lamina<br />

foliar. Inmediatamente después de realizar los tratamientos,<br />

realicé censos en intervalos de un minuto, y por lapso de 15<br />

minutos, considerando como número de hormigas en el<br />

tiempo cero, al número de hormigas presentes antes de<br />

aplicar el tratamiento. Los tratamientos fueron asignados<br />

en forma aleatoria a las hojas de una planta, en hojas<br />

escogi<strong>da</strong>s a priori (ver más arriba) y realizados<br />

simultaneamente en ambas hojas del mismo individuo. De<br />

un total de 20 individuos en los cuales realicé este<br />

experimento, 19 estaban colonizados por P. miutula, estando<br />

el individuo restante ocupado por Crematogaster sp. (este<br />

individuo fue eliminado de los analisis).<br />

Respuesta induci<strong>da</strong> a largo plazo<br />

Experimento 2. Con este experimento pretendi evaluar<br />

si existe algún tipo de respuesta diferencial en hojas que ya<br />

tuvieron una “experiencia de herbivoría” en relación con<br />

hojas que no sufrieron herbivoría previa. Luego de<br />

transcurri<strong>da</strong>s 27 horas desde la aplicación de los tratamientos<br />

“<strong>da</strong>ño foliar” y “manipulación” (experimento 1), realicé un<br />

nuevo corte en las hojas escogi<strong>da</strong>s, similar al descrito en el<br />

experimento 1, esta vez en las dos hojas, es decir, en la que<br />

habia sido previamente <strong>da</strong>ña<strong>da</strong> y en la que habia sido<br />

previamente manipula<strong>da</strong>. Adicionalmente, apliqué el mismo<br />

tratamiento en una tercera hoja, que no recibió ningun<br />

tratamiento el dia anterior, a fin de testar si la manipulación<br />

previa per se tiene algun efecto en la respuesta a un <strong>da</strong>ño<br />

foliar. El intervalo temporal entre el experimento 1 y 2 se<br />

extendió a 27 horas, debido a que una lluvia de ca. 3 horas<br />

durante el segundo día atrasó la ejecución del experimento.<br />

Respuesta induci<strong>da</strong> a corto plazo a nivel de la hoja<br />

Experimento 3. En 10 individuos de M. guianensis,<br />

seleccioné cuatro hojas de una misma rama, situa<strong>da</strong>s en<br />

verticilos adyacentes, comenzando desde el verticilo más<br />

apical. Luego de registrar el número inicial de hormigas<br />

patrullando la hoja, realicé un corte en la lámina foliar de<br />

ca<strong>da</strong> hoja, similar al descrito en el experimento 1.<br />

Posteriormente apliqué un segundo corte en ca<strong>da</strong> hoja, a<br />

distintos intervalos de tiempo desde el primer corte: 5, 10,<br />

15 y 30 minutos. Dentro de ca<strong>da</strong> planta asigné los distintos<br />

tratamientos a ca<strong>da</strong> hoja en forma aleatoria. Como variable<br />

respuesta, registré el tiempo transcurrido entre el<br />

segundo <strong>da</strong>ño foliar y la detección del <strong>da</strong>ño por parte de la<br />

primer hormiga (considerando detección como el contacto<br />

de la hormiga con la zona <strong>da</strong>ña<strong>da</strong>).<br />

Respuesta induci<strong>da</strong> a corto plazo a nivel de la planta<br />

Experimento 4. En este experimento, me propuse evaluar<br />

si al respuesta a corto plazo se manifiesta a nivel del<br />

individuo o a nivel de la hoja por comparación con el<br />

experimento 3. Para ello seguí el mismo procedimiento que<br />

en el experimento anterior, pero aplicando un solo<br />

tratamiento por planta, es decir en ca<strong>da</strong> individuo (n=40)<br />

escogí una sola hoja, en la cual se aplicó aleatoriamente<br />

uno de los tratamientos descritos en el experimento 3.<br />

Analisis estadísticos<br />

Comparé el efecto de los tratamientos en el número de<br />

hormigas y número de sol<strong>da</strong>dos reclutados (experimentos<br />

1 y 2) por medio de ANOVA de medi<strong>da</strong>s repeti<strong>da</strong>s,<br />

considerando los intervalos de un minuto, desde el tiempo<br />

cero hasta 15 minutos, como medi<strong>da</strong>s repeti<strong>da</strong>s. Dado que<br />

en un gran número de intervalos temporales, la frecuencia<br />

de sol<strong>da</strong>dos fué cero, para la variable “número de sol<strong>da</strong>dos”<br />

solo consideré el intervalo temporal entre 5 y 10 minutos,<br />

es decir 6 observaciones. Los números mínimos y máximos<br />

de hormigas por tratamiento, se compararon por medio de<br />

test t pareado. El tiempo de detección del <strong>da</strong>ño por las<br />

hormigas en relación al tiempo trasncurrido entre el primer<br />

y segundo <strong>da</strong>ño (experimentos 3 y 4) fue analizado por<br />

medio de ANOVA de dos factores, considerando el efecto<br />

de tiempo (5’, 10’, 15’ y 30’), la escala del experimento<br />

(planta vs. hoja) y la interacción entre ambos factores.<br />

Debido a la falta de homogenei<strong>da</strong>d de varianza entre las<br />

escalas de experimento, debi<strong>da</strong> a la inclusión de<br />

observaciones de hojas en las el <strong>da</strong>ño que no fue detectado,<br />

por las hormigas, la variable respuesta fué transforma<strong>da</strong><br />

(ranking), antes de realizar los analisis. A estas<br />

observaciones, les asigné un tiempo de detección de 300’,<br />

aproxima<strong>da</strong>mente 1,5 veces el tiempo máximo registrado.<br />

Todos los análisis siguieron procedimientos estan<strong>da</strong>rd en<br />

Zar (1984).<br />

Resultados<br />

Respuesta inmediata al <strong>da</strong>ño foliar<br />

En la mayoría de las plantas muestrea<strong>da</strong>s, habia hormigas<br />

obreras patrullando las hojas antes de iniciar el experimento<br />

(Figura 1), pero ningun sol<strong>da</strong>do se observó en esta situación.<br />

Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002 147


El número inicial de hormigas en las hojas en las que se<br />

aplicó el tratamiento “<strong>da</strong>ño foliar”, se corelacionó<br />

positivamente con el numero inicial de hormigas en la hoja<br />

“manipula<strong>da</strong>” de la misma planta (r = 0,82, P


Sin embargo, el efecto siginificativo de la interacción<br />

Día x Tiempo, en las hojas <strong>da</strong>ña<strong>da</strong>s (Tab. 2b) refleja que si<br />

bien en términos numéricos no hubo diferencia entre el<br />

primer y segundo día, la hormigas reclutaron más<br />

rapi<strong>da</strong>mente en el segundo día. En hojas con <strong>da</strong>ño previo,<br />

los mayores niveles de reclutamiento durante el primer día<br />

se registraron entre los 5 y 10 minutos (Fig. 1a), mientras<br />

que durante el segundo día, éstos ocurrieron entre los dos y<br />

cinco minutos (Fig. 1b).<br />

Tabla 2. Resultado del análisis de varianza de medi<strong>da</strong>s<br />

repeti<strong>da</strong>s para evaluar : a) el efecto del tratamiento<br />

previo (<strong>da</strong>ño foliar vs. manipulación) y tiempo (de cero a<br />

15 minutos) en el número de hormigas P. minutula<br />

recluta<strong>da</strong>s en hojas de M. guianensis; b) el efecto de día<br />

(día 1 vs. 2) y tiempo dentro de hojas que recibieron<br />

<strong>da</strong>ño foliar previo; y c) en hojas que recibieron<br />

manipulación previa .<br />

Fuente de variación F G.l. P<br />

a) Daño previo vs. Manipulación previa<br />

Tratamiento 0,87 2 0,429<br />

Tiempo 17,68 15


pueden estar involucrados en el reconocimiento de la<br />

herbivoría (Christianini 2001). Señales asociados a <strong>da</strong>ño<br />

foliar estuvieron asocia<strong>da</strong>s a un mayor reclutamiento de P.<br />

minutula en M. poepigii (Christianini 2001), y de Azteca<br />

sp. en Cecropia obtusifolia (Agrawal 1998), sugiriendo que<br />

este tipo de estímulo puede estar difundido en plantas<br />

mirmecófitas no emparenta<strong>da</strong>s filogeneticamente<br />

(Christianini 2001).<br />

La capaci<strong>da</strong>d de reconocer un ataque por un herbívoro<br />

de otro tipo de perturbaciones en la hoja o planta (por<br />

ejemplo, produci<strong>da</strong>s por el viento, o la caí<strong>da</strong> de una hoja o<br />

rama), podría tener consecuencias benéficas para ambos<br />

mutualistas. Para la planta, asegura una defensa más efectiva<br />

y un menor tiempo de exposición ante un herbívoro. Para<br />

las hormigas, esto permitiría “ahorrar” recursos asignados<br />

a la busque<strong>da</strong> de alimento (lo que desde el punto de vista de<br />

la planta equivaldría a defensa), haciendo despliegue de un<br />

mecansimo de forraje (y por lo tanto, de defensa) más<br />

sofisticado (a través de la intervención de sol<strong>da</strong>dos, por<br />

ejemplo), sólo en casos en que señales como un <strong>da</strong>ño foliar,<br />

indiquen presencia de un herbívoro. Según Benson (1985)<br />

los sol<strong>da</strong>dos solo salen de los domacios para ayu<strong>da</strong>r en el<br />

forrajeo de presas mayores, lo cual podría sugerir que esta<br />

señal de <strong>da</strong>ño foliar, podría ser reconoci<strong>da</strong> por las hormigas<br />

como presencia de una presa potencial.<br />

El “patrullaje preventivo” que realizan las obreras, parece<br />

tener un papel crucial en este sistema de defensa y detección<br />

de herbívoros. En todos los experimentos realizados, tanto<br />

el número máximo de hormigas reclutados, como el tiempo<br />

de detección del <strong>da</strong>ño, se relacionó con el número de<br />

hormigas patrullando la hoja antes de ocurrido el <strong>da</strong>ño. Esta<br />

relación entre activi<strong>da</strong>d de patrullaje y eficiencia en la<br />

respuesta anti-herbivoro, también fue observado en C.<br />

obtusifola (Agrawal 1998), sugiriendo que este tipo de<br />

estrategia puede estar generaliza<strong>da</strong> en asociaciones plantashormiga.<br />

Probablemente, las ventajas que este sistema de<br />

patrullaje acarrea tanto para la planta como para las<br />

hormigas, quizá explique la evolución y el mantenimiento<br />

de este comportamiento en distintos linajes, y justifique el<br />

costo energético que debe implicar para la colonia asignar<br />

en forma permanente un promedio de dos o tres hormigas<br />

por hoja, exclusivamente para activi<strong>da</strong>des de patrullaje. Este<br />

comportamiento permanente en casi to<strong>da</strong>s las hojas con<br />

domacios (obs. pers.) es llevado a cabo tanto de día como<br />

de noche, si bien en menor intensi<strong>da</strong>d durante la noche<br />

(Vasconcelos 1991, Christianini 2001) lo cual podría<br />

garantizar que los eventuales herbívoros pue<strong>da</strong>n ser<br />

detectados y repelidos antes de provocar <strong>da</strong>ños significativos<br />

(Christianini 2001). Dado que los principales herbívoros<br />

en hojas de M. guianensis son orugas (Benson 1985), parece<br />

razonable que las hormigas mantengan “guardias nocturnas”,<br />

ya que este es el momento en que las orugas forrajean más<br />

activamente, para evitar la pre<strong>da</strong>ción por aves (E. M.<br />

Venticinque, com. pers.).<br />

En relación a la respuesta induci<strong>da</strong> en hojas previamente<br />

<strong>da</strong>ña<strong>da</strong>s, este trabajo demostró que este tipo de respuesta<br />

150 Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002<br />

varía en función de la escala temporal (de minutos a horas).<br />

Los resultados de algunos experimentos demuestran que<br />

existe una respuesta induci<strong>da</strong> a corto plazo, siendo mayor<br />

el tiempo de detección de <strong>da</strong>ño 30 minutos después del<br />

primer <strong>da</strong>ño. Esto también esta relacionado con el número<br />

de hormigas patrullando en el momento de realización del<br />

segundo <strong>da</strong>ño (Fig.1a y 3). La ausencia de efecto de escala<br />

de experimentación demuestra que la respuesta induci<strong>da</strong> a<br />

corto plazo se produce a escala de la hoja, no estando esta<br />

respuesta sesga<strong>da</strong> por el diseño experimental. Por otra parte,<br />

se mostró que a largo plazo, la respuesta induci<strong>da</strong> no se<br />

manifiesta en un mayor número de hormigas recluta<strong>da</strong>s, sino<br />

en un menor tiempo para alcanzar el número máximo de<br />

reclutamiento (Tab. 2 b). No obstante, la ausencia de<br />

diferencias en la respuesta entre hojas que recibieron distinto<br />

tratamiento previo, no sustenta la hipotesis de que la<br />

respuesta induci<strong>da</strong> es a nivel de la hoja. La falta de un control<br />

externo (es decir, un tratamiento de <strong>da</strong>ño foliar sin <strong>da</strong>ño<br />

previo en individuos independientes, durante el segundo<br />

día) impide obtener conclusiones definitvas en relación a la<br />

escala de la respuesta. Por este motivo, los resultados de<br />

este experimento en particular deben interpretarse con cautela,<br />

ya que es posible que esta diferencia observa<strong>da</strong> entre<br />

los dos días, no sea atribuible al <strong>da</strong>ño o manipulación previa,<br />

y pue<strong>da</strong> ser explica<strong>da</strong> por las diferencias climáticas entre<br />

los dos días de experimentación, que pue<strong>da</strong>n afectar el<br />

comportamiento de las hormigas.<br />

Agradecimientos<br />

Al INPA (<strong>PDBFF</strong>/Smitshonian Institution) por financiar<br />

mi participación en el Curso de Campo Ecología de la<br />

<strong>Floresta</strong> Amazónica, Nov.2002. A Dadão, Paulo, Jansen,<br />

Carlos y Glauco por sugerencias y aportes durante el diseño<br />

del experimento y el analisis de <strong>da</strong>tos de este proyecto en<br />

particular. A todo el equipo de profesores y colaboradores<br />

del curso de campo, en particular a Jansen, Da<strong>da</strong>o, Carlos,<br />

Glauco, Paulo, Mike, Geraldinho, Juruna y Pinguela, por<br />

su paciencia, su entusiasmo y, sobre todo, por compartir<br />

con nosotros no solo sus conocimientos y experiencia, sino<br />

también su cali<strong>da</strong>d y calidez humana. A Jansen y Dadão,<br />

por el coraje de llevar adelante esta proeza, y por permitirme<br />

particpar de ella. Al maravilloso grupo de compañeros de<br />

curso, por este mes inolvi<strong>da</strong>ble en Amazonas. A la dosis<br />

diaria de brega y goiaba<strong>da</strong>, por la inspiración.<br />

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Comportamento de Gonatodes humeralis (Sauria,<br />

Gekkoni<strong>da</strong>e) em área perturba<strong>da</strong><br />

Introdução<br />

Na Amazônia os lagartos ocupam diversos ambientes<br />

naturais, tais como florestas de terra firme, matas de várzea<br />

e igapó, margens de grandes rios e de pequenos igarapés,<br />

bem como ambientes perturbados naturalmente ou pela ação<br />

antrópica como clareiras (O<strong>da</strong> 1998; Beebe 1994;<br />

Hoogmoed 1973; Vanzolini 1968; O’Shea 1989; Duellman<br />

1989, 1990; Martins 1991, Crump 1971, Dixon e Sioni 1975;<br />

Cunha et al. 1985; Vitt et al. 1997). Os microhabitats onde<br />

estes animais podem ser encontrados são: o solo, galerias<br />

no subsolo, em meio a serapilheira, troncos caídos e<br />

vegetação, desde a base até a copa (O<strong>da</strong> 1998).<br />

A família Gekkoni<strong>da</strong>e é composta por diversas espécies<br />

arborícolas em todo o mundo, porém na Amazônia, existem<br />

poucas espécies dessa família que ocupam o estrato vertical<br />

(Ávila-Pires 1995). Dentre essas estão as espécies do<br />

Josué Ribeiro <strong>da</strong> Silva Nunes<br />

gênero Gonatodes, distribuí<strong>da</strong>s ao longo de to<strong>da</strong> a bacia<br />

amazônica (Ávila-Pires 1995). Gonatodes humeralis é o<br />

geconídio amazonico com distribuição mais ampla, podendo<br />

ocorrer em simpatria com outras espécies do gênero (Ávila-<br />

Pires 1995).<br />

Gonatodes humeralis é um pequeno lagarto diurno e<br />

umbrófilo (41mm de comprimento rostro-cloacal). Nunes<br />

(1984) observou ativi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> espécie no período<br />

compreendido entre 7:00 e 17:00h. Possui coloração críptica<br />

e acentuado dimorfismo sexual: os machos são mais<br />

coloridos, apresentando coloração castanho- escuro com<br />

faixas amarelas bem defini<strong>da</strong>s, partindo do focinho até o<br />

pescoço, as fêmeas possuem coloração mais clara e menos<br />

vistosa que a dos machos, com manchas castanho-escuro<br />

(Vanzolini 1972; Ávila-Pires 1995) Fig. 1.<br />

Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002 151


A B<br />

Figura 1. a) macho e b) fêmea de Gonatodes humeralis,<br />

com marcas para identificação em campo.<br />

Vive geralmente sobre troncos de árvore que apresente<br />

DAP entre 20 e 40cm e a altura média de 70cm do solo,<br />

sendo raramente observado a alturas superiores a 1,5m<br />

(Nunes 1984; Vitt et al. 1997; O’Shea 1989; Vanzolini<br />

1986).<br />

Segundo O<strong>da</strong> (1998) Gonatodes humeralis ocupa troncos<br />

de diâmetros variados, o que pode definir está escolha é a<br />

disponibili<strong>da</strong>de de abrigo e área de forrageio. Seguindo essa<br />

premissa, busquei verificar se troncos maiores (DAP) são<br />

usados com mais freqüência por Gonatodes humeralis pois<br />

são potenciais áreas de forrageio e abrigo. Outros fatores<br />

de seleção de microhabitat citados por O<strong>da</strong> (1998) são aa<br />

quanti<strong>da</strong>de de serapilheira e rugosi<strong>da</strong>de do tronco, que<br />

podem servir de área de forrageio e refúgio contra<br />

pre<strong>da</strong>dores. Com base nestas informações resolvi verificar<br />

se a presença de serapilheira e rugosi<strong>da</strong>de, são importantes<br />

para a abundância <strong>da</strong> espécie. Este trabalho teve ain<strong>da</strong> como<br />

objetivo descrever o comportamento de cópula, alimentar e<br />

de territoriali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> espécie.<br />

Métodos<br />

Área de estudo<br />

Este estudo foi realizado na base <strong>da</strong> Reserva do Km 41<br />

do <strong>PDBFF</strong> (2 0 24’S; 59 0 44’O) que pode ser descrita como<br />

uma área de aproxima<strong>da</strong>mente 100m 2 , onde estão<br />

localizados o laboratório, os alojamentos, banheiros, cozinha<br />

e refeitório, a floresta em volta é uma área de mata contínua,<br />

situa<strong>da</strong> a 70 Km de Manaus, apresentando precipitação anual<br />

de 2100mm, com estação chuvosa de novembro a maio e<br />

seca entre junho e outubro (Lovejoy & Bierregard 1990)<br />

(Fig. 2). O trabalho de campo foi conduzido entre os dias<br />

25 a 28 de novembro de 2002 as observações<br />

comportamentais foram realiza<strong>da</strong>s <strong>da</strong>s 6:00 às 18:00h<br />

perfazendo um total de 48h de observações.<br />

152 Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002<br />

Os <strong>da</strong>dos foram obtidos através <strong>da</strong> procura ativa nos<br />

troncos, canos de PVC, vigas, calhas, serapilheira, estes<br />

locais foram vasculhados, minuciosamente a procura dos<br />

indivíduos, que quando localizados foram em alguns casos<br />

capturados para realizar biometria e marcação, o substrato<br />

também recebia uma marcação com fita colori<strong>da</strong> e número<br />

<strong>da</strong> área, para facilitar a observação posterior que ocorreu<br />

de hora em hora durante o período de ativi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> espécie.<br />

Sede <strong>da</strong> Reserva do Km 41<br />

<strong>PDBFF</strong><br />

2<br />

9<br />

<br />

1 <br />

Laboratório<br />

Trilha<br />

7 8<br />

<br />

3 <br />

Refeitório<br />

16 21<br />

<br />

<br />

10<br />

<br />

12 11<br />

<br />

<br />

25<br />

<br />

4<br />

<br />

26 24<br />

<br />

<br />

6<br />

<br />

5<br />

13<br />

<br />

14<br />

<br />

15<br />

<br />

18<br />

<br />

23<br />

<br />

Dormitórios<br />

Figura 2. Localização dos substratos utilizados por<br />

Gonatodes humeralis na área <strong>da</strong> Reserva do Km 41 do<br />

projeto <strong>PDBFF</strong>. Os números representam os substratos<br />

onde foram observados os indivíduos e os círculos as<br />

supostas áreas de vi<strong>da</strong> de grupos de indivíduos <strong>da</strong><br />

espécie.<br />

19<br />

<br />

22<br />

<br />

17<br />

<br />

Banheiro<br />

N<br />

S<br />

20<br />

<br />

Banheiro<br />

Variáveis ambientais<br />

Observei algumas características dos substratos utilizados<br />

por Gonatodes humeralis tais como, se o dossel <strong>da</strong>s árvores,<br />

contatavam com outras próximas, o DAP (Diâmetro a Altura<br />

do Peito) dos troncos que abrigavam os indivíduos, foi<br />

medido com uso de fita métrica de 20m, a altura <strong>da</strong><br />

serapilheira, em torno <strong>da</strong>s árvores, com o uso de régua de<br />

acrílico de 30cm que foi introduzi<strong>da</strong> na serapilheira até que<br />

não penetrasse mais.<br />

A incidência solar sobre o tronco foi medi<strong>da</strong> visualmente,<br />

no local onde o indivíduo se encontrava a rugosi<strong>da</strong>de do<br />

tronco, através do uso de papel sulfite e giz de cera, que era<br />

pintado sobre o tronco e depois dividido em classes (1 liso,<br />

2 médio e 3 rugoso), na classe 1 foram identificados<br />

substratos de superfície lisa tais como, canos de PVC e<br />

árvores de caule liso, na classe dois foram incluí<strong>da</strong>s árvores<br />

de casca com espessura média e na classe 3 as árvores com<br />

casca mais grossa, os substratos habitados pelos indivíduos<br />

estu<strong>da</strong>dos foram divididos em classes de altura, em metros,<br />

1 (0-0,5), 2 (0,5-1), 3 (1-1,5), 4 (1,5-2), 5 (2-2,5), 6 (2,5-3),<br />

7 (3-3,5), 8 (3,5-4), foi verifica<strong>da</strong> a presença de epífitas e<br />

liquens, e a temperatura ambiental, usando termômetro de<br />

mercúrio. Para verificar a área de deslocamento dos<br />

indivíduos, foram marcados com bandeiras, todos os pontos<br />

onde estes foram avistados, distante de sua área original,<br />

posteriormente estes pontos for medidos, com auxílio de


trena de 20m.<br />

Variáveis biológicas<br />

Foi realizado um senso através de contagem direta dos<br />

indivíduos nas árvores, identificando-se machos, fêmeas e<br />

jovens. Considerou-se como residentes aqueles que<br />

permaneceram no mesmo substrato, durante um ciclo diário<br />

de observação. Alguns indivíduos foram capturados,<br />

medidos com uso de paquímetro (comprimento rostrocloacaL<br />

CRC), pesados (pesola 10g) e marcados com tintas<br />

de aeromodelismo de diversas cores. Ca<strong>da</strong> indivíduo era<br />

marcado no pescoço ou no dorso, com uma única cor, apenas<br />

variando ao formato <strong>da</strong> marcação. Durante as observações<br />

foram registrados aspectos comportamentais dos indivíduos<br />

tais como: corte, acasalamento, forrageamento e encontros<br />

agonísticos. Os <strong>da</strong>dos de DAP, serapilheira e rugosi<strong>da</strong>de<br />

foram analisados por meio de correlação de Pearson.<br />

Resultados<br />

Utilização de microhabitats<br />

Foram registrados 52 indivíduos <strong>da</strong> espécie distribuídos<br />

entre estes, dos animais observados 7 eram jovens, 15 machos<br />

e 30 fêmeas, destes 11 fêmeas, 9 machos e 3 jovens,<br />

totalizando 23 indivíduos foram marcados para facilitar as<br />

observações comportamentais (Tab. 1).<br />

Ca<strong>da</strong> substrato apresentou em média uma ou duas fêmeas<br />

e às vezes jovens, os machos residiam em um ambiente e<br />

através <strong>da</strong> copa visitava outras árvores com as quais esta se<br />

conectava, para copular com as fêmeas. Foi observado que<br />

em alguns casos as mesmas fêmeas podiam ser visita<strong>da</strong>s<br />

por diferentes machos quando estas encontravam-se em<br />

substratos que não apresentavam machos residentes. Quando<br />

as copas não se conectavam, mas o substrato em que a fêmea<br />

se encontrava era próximo, o macho caminhava pelo solo<br />

até a mesma para copular. Embora os machos visitassem as<br />

fêmeas em diversos pontos próximos aos seus supostos<br />

territórios, algumas fêmeas também visitaram outros<br />

substratos. Nos 26 substratos monitorados, pareceu haver<br />

formação de agregados, podendo estes ser constituídos por<br />

mais de um macho, mas nunca num mesmo substrato (Figura<br />

2).<br />

Após as 18:00h os lagartos cessavam as ativi<strong>da</strong>des e se<br />

recolhiam em bromélias, na serapilheira ou em reentrâncias<br />

no tronco, para o pernoite. Durante todo o período de<br />

observação os indivíduos foram avistados quase que<br />

exclusivamente no lado do tronco que estava sombreado,<br />

tendo sido registra<strong>da</strong> maior movimentação no final <strong>da</strong> manhã<br />

e início <strong>da</strong> tarde.<br />

A altura em que os indivíduos foram avistados variou de<br />

0 a 4m, sendo esta a área de ativi<strong>da</strong>de vertical <strong>da</strong> espécie.<br />

Dentro <strong>da</strong> classe de rugosi<strong>da</strong>de, a mais usa<strong>da</strong> foi a mais<br />

rugosa (53%) a classe menos usa<strong>da</strong> como substrato foi a<br />

intermediária (19%) e a mais lisa apresentou 28% de uso.<br />

Machos apresentaram área média de vi<strong>da</strong> de 3,05m 2<br />

(N=9) com amplitude de 0,86 a 5,33m, fêmeas afastam-se<br />

em média 1,99m 2 (N=6) amplitude de 0,93 à 4,35m.<br />

O DAP dos substratos utilizados variou de 12 a 137cm<br />

apresentando uma amplitude acentua<strong>da</strong>.<br />

O DAP não apresentou correlação com o número de<br />

indivíduos (R=0,281; P>0,05, N=52), número de machos<br />

(R=0,052, P>0,05, N=15), número de fêmeas (R=0,135,<br />

P>0,05, N=30) e número de jovens (R=0,246, P>0,05, N=7).<br />

A quanti<strong>da</strong>de de serapilheira também não apresentou<br />

correlação com o número de indivíduos (R=-0,111, P>0,05,<br />

N=52), de machos (R=-0,080, P>0,05, N=15), de fêmeas<br />

(R=-0,098, P>0,05, N=30) ou de jovens (R=0,173, P>0,05,<br />

N=7). As classes de rugosi<strong>da</strong>de dos troncos também não<br />

apresentaram correlação com número de indivíduos (R=-<br />

0,181, P>0,05, N=52), de machos (R=-0,153, P>0,05,<br />

N=15) de fêmeas (R=-0,223, P>0,05, N=30) ou de jovens<br />

(R=0,067, P>0,05, N=7). O substrato mais utilizado foi<br />

árvore embora G. humeralis tenha sido observado vivendo<br />

em paredes, calhas e vigas, densi<strong>da</strong>de de dois indivíduos<br />

por substrato em média.<br />

Forrageamento<br />

Os indivíduos foram avistados forrageando em troncos,<br />

galhos, serapilheira, solo, paredes, em bromélias, nas árvores<br />

onde residiam ou noutras próximas à esta. A alimentação<br />

foi observa<strong>da</strong> uma vez quando uma <strong>da</strong>s fêmea encontrou<br />

cupins, rapi<strong>da</strong>mente aproximou-se e começou a alimentarse<br />

destes. A freqüência de alimentação foi de cerca de nove<br />

cupins por minutos, sendo que em nenhuma <strong>da</strong>s vezes<br />

engoliu sol<strong>da</strong>dos, apenas operárias Zuanon (com. pess.)<br />

registrou esta espécies alimentando-se de pequenos<br />

ortópteros.<br />

Comportamento territorial<br />

O comportamento mais comumente observado foi o de<br />

um macho permanecer num substrato e ser visitado pelas<br />

fêmeas. Machos de G. humeralis apresentaram<br />

comportamento territorialista, com relação ao substrato que<br />

ocupavam, tendo sido observado apenas uma vez a presença<br />

de dois machos ao mesmo tempo num mesmo substrato.<br />

Nesta observação, um macho menor (CRC 3,49cm) invadiu<br />

o território de outro macho (CRC 3,75cm) quando o macho<br />

residente identificou-o desceu pelo tronco rapi<strong>da</strong>mente e<br />

quando se aproximaram ambos começaram a balançar a<br />

cau<strong>da</strong> e an<strong>da</strong>r em círculos até que o macho residente atacou<br />

o intruso e começaram a morder-se. Após cinco minutos o<br />

macho residente subiu até a copa <strong>da</strong> árvore e passou para<br />

outra árvore, onde permaneceu até o final <strong>da</strong>s observações.<br />

O outro macho apoderou-se do território e começou a<br />

perseguir a fêmea que habitava a árvore. Durante as<br />

observações, no entanto, ain<strong>da</strong> não havia ocorrido a cópula,<br />

já que a fêmea não permitia que o novo macho a segurasse.<br />

Reprodução<br />

Foram registra<strong>da</strong>s duas cópulas envolvendo diferentes<br />

pares de indivíduos. Enquanto o par se aproximava (vindo<br />

de posições opostas) o macho ficava com o corpo enrijecido,<br />

Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002 153


inclusive a cau<strong>da</strong>, então balançava o corpo para cima e para<br />

baixo, com a região gular expandi<strong>da</strong> e exibindo a coloração<br />

ventral. A fêmea por sua vez, levantava a cau<strong>da</strong> e<br />

posicionava-se perpendicularmente ao macho e neste<br />

momento o macho subia sobre ela, segurando-a com as<br />

pernas anteriores, <strong>da</strong>ndo inicio à cópula que durou em média<br />

17min. Durante a cópula a fêmea passava a cau<strong>da</strong> pelo corpo<br />

do macho, e caminhava algumas vezes levando-o em suas<br />

costas. Depois de termina<strong>da</strong> a cópula, ambos separavam-se<br />

e ficavam alguns minutos juntos antes de afastar-se.<br />

Discussão<br />

G. humeralis foi mais freqüente em substratos mais<br />

rugosos, segundo O<strong>da</strong> (1998) isto pode ser devido ao fato<br />

de poderem locomover-se de forma mais rápi<strong>da</strong> neste<br />

substrato. Acredito que o principal motivo para este<br />

resultado foi a disponibili<strong>da</strong>de de substrato pois apesar de<br />

habitarem mais locais rugosos, vivem de um modo geral<br />

em to<strong>da</strong> a área.<br />

Segundo Nunes (1984) e Vitt et al. (1997), esta espécie<br />

vive sobre troncos com DAP variando de 20 a 40cm. Machos<br />

foram comumente avistados em altitudes superiores à<br />

<strong>da</strong>s fêmeas e estas à dos jovens, este mesmo padrão foi<br />

observado por O<strong>da</strong> (1998). Lagartos são animais que<br />

dependem <strong>da</strong> temperatura ambiental para aquecer-se,<br />

aumentando sua movimentação nos períodos mais quentes<br />

do dia o pico de ativi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> espécie esteve restrita ao final<br />

<strong>da</strong> manhã e início <strong>da</strong> tarde, períodos em que a temperatura<br />

era mais eleva<strong>da</strong>. O fato de os animais estarem sempre do<br />

lado sombreado do substrato pode estar ligado a defesa<br />

contra pre<strong>da</strong>ção, porque no lado iluminado ficaria em<br />

evidência.<br />

O<strong>da</strong> (1998) e Nunes (1984) observaram DAP de 33,08 e<br />

30 respectivamente em mata secundária, este autor cita ao<br />

fato de ser muito comum este tipo de média para o DAP em<br />

áreas altera<strong>da</strong>s, Vitt et al. (1997) observaram DAP médio<br />

de 60,6cm estu<strong>da</strong>ndo áreas de florestas primárias habita<strong>da</strong>s<br />

por esta espécie e este também parece ser um padrão,<br />

provavelmente devido à maior i<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s árvores em florestas<br />

primárias.<br />

As variáveis serapilheira e rugosi<strong>da</strong>de do substrato<br />

embora tenham tido grande amplitude não se mostraram<br />

boas preditoras do número de indivíduos em ca<strong>da</strong> tipo de<br />

substrato. O<strong>da</strong> (1998) observou que este lagarto prefere<br />

habitar árvores com serapilheira de baixa espessura, pois<br />

isso facilitaria o deslocamento, além de evitar serpentes,<br />

seus principais pre<strong>da</strong>dores (Dixon & Soini 1975; Martins<br />

1991; Ávila-Pires 1995). Neste estudo, os substratos<br />

utilizados apresentaram quanti<strong>da</strong>des variáveis de<br />

serapilheira.<br />

O<strong>da</strong> (1998) observou maior densi<strong>da</strong>de de Gonatodes<br />

humeralis em áreas perturba<strong>da</strong>s e este fato confirmou-se<br />

neste estudo, pois em observações adicionais realiza<strong>da</strong>s na<br />

floresta nos arredores <strong>da</strong> área de estudo a espécie não foi<br />

observa<strong>da</strong>.<br />

154 Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002<br />

O<strong>da</strong> (1998) e Vitt et al. (1997) observaram G humeralis<br />

quase que exclusivamente em troncos, mas neste estudo foi<br />

comum observar a espécie nos mais diferentes habitats.<br />

Os machos deslocam-se mais que as fêmeas, enquanto<br />

que as fêmeas parecem deslocar-se quase exclusivamente<br />

para forragear.<br />

O forrageamento <strong>da</strong> espécie não foi observado com<br />

freqüência e não foi encontrado na literatura informações<br />

sobre este comportamento. A espécie parece ser generalista<br />

quanto a artrópodes em geral, o que pode ser confirmado<br />

pela grande quanti<strong>da</strong>de de locais de forrageamento utilizados<br />

pela espécie.<br />

O comportamento territorialista de Gonatodes humeralis<br />

parece estar mais relacionado à defesa de uma área de<br />

forrageamento que <strong>da</strong> acesso exclusivo a fêmeas a pois<br />

algumas dessas foram observa<strong>da</strong>s visitando mais de um<br />

macho.<br />

Gonatodes humeralis demonstrou comportamento<br />

territorialista, não permitindo presença de outro macho no<br />

mesmo substrato. A área de forrageamento não foi restrita a<br />

um único substrato, mas ás vezes a vários locais próximos.<br />

Um macho pode visitar de uma a várias fêmeas por dia as<br />

fêmeas às vezes podem copular com mais de um macho.<br />

Tamanho parece não ser um fator importante para o acesso<br />

dos machos a um número maior de fêmeas.<br />

Aparentemente G. humeralis a<strong>da</strong>pta-se muito bem a áreas<br />

degre<strong>da</strong><strong>da</strong>s, sendo abun<strong>da</strong>nte nas mesmas. Os principais<br />

fatores que parecem influenciar a distribuição de G.<br />

humeralis são a presença de outro macho a distância dos<br />

agregados de indivíduos e a conectivi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> copa <strong>da</strong>s<br />

árvores utiliza<strong>da</strong>s como territórios.<br />

Agradecimentos<br />

Gostaria imensamente de agradecer em primeiro lugar a<br />

Deus, que nos abençoou em nossa esta<strong>da</strong> na <strong>Floresta</strong>,<br />

livrando-nos de qualquer mal grave que pudesse nos<br />

sobrevir, MUITO OBRIGADO! Aos nossos orientadores,<br />

Jansen, Dadão, Ana, Arnaldo, Mike, Carlos, Leandro,<br />

Neusa, Jorge, Tachi, Paulo, Geraldinho, Glauco, Wilson,<br />

Selvino, vocês são realmente muito bons. Ao Juruna e ao<br />

Pinguela pelos Helps em to<strong>da</strong>s as situações, até nas mais<br />

inusita<strong>da</strong>s. Ao Jorge e ao Raimundo, pelas deliciosas<br />

refeições, e a todos os outros que tão carinhosamente<br />

cui<strong>da</strong>ram de nossas refeições. A turma, Yumi, Ana Maria,<br />

Patrícia e Dudu gaúcho, vocês são especiais e eternos em<br />

minha vi<strong>da</strong>. A to<strong>da</strong> a galera, por todos os momentos, valeu<br />

mesmo. A caixa de primeiros socorros, porque sem ela não<br />

teria sido possível. E enfim a minha vi<strong>da</strong> Paula que<br />

concordou que eu viesse mesmo com tão pouco tempo juntos,<br />

você é tudo para mim e em mim.<br />

Referências bibliográficas<br />

Ávila-Pires, T.C.S. 1995 Lizards of brasilian Amazonia<br />

(Retilia: Squamata). Zoology. 299: 1-706.<br />

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Gonatodes humeralis in the Amazon Basin. Copeia<br />

1997 :32-43.<br />

Tabela I. Ocorrência de indivíduos de Gonatodes humeralis na área do acampamento <strong>da</strong> Reserva do Km 41 <strong>PDBFF</strong>, por<br />

tipo de substrato.<br />

Número de<br />

substrato<br />

Substrato DAP Epífitas nos<br />

substrato<br />

Liquens nos<br />

substrato<br />

Serapilheira na base<br />

dos substratos<br />

N o de ind. nos<br />

substratos<br />

01 Árvore 31 sim sim 3 2 2<br />

02 Árvore 35 sim não 7 3 2<br />

03 Árvore 47 sim não 0 2 3<br />

04 Árvore 45 sim não 0 2 3<br />

05 Árvore 23,5 sim não 13 1 3<br />

06 Árvore 46 sim sim 0 2 3<br />

07 Árvore 137 sim não 0 3 2<br />

08 Árvore 27 sim não 21 3 3<br />

09 Árvore 20 sim não 0 1 3<br />

10 Árvore 33 sim não 25 2 3<br />

11 Árvore 16 sim não 2 1 1<br />

12 Árvore 17 sim não 0 2 1<br />

13 Árvore 64 sim não 16 2 2<br />

14 Árvore 85 sim não 0 1 3<br />

15 Árvore 15 não não 29 2 3<br />

16 Árvore 28 sim sim 28 2 3<br />

17 Árvore 23 sim não 0 2 3<br />

18 Cano 29,8 não não 0 2 1<br />

19 Madeira 32 não não 0 3 1<br />

20 Madeira 21 não não 0 4 2<br />

21 Árvore 48 não não 5 2 3<br />

22 Árvore 21 não não 16 1 3<br />

23 Árvore 12 não não 0 1 1<br />

24 Árvore 24 sim não 8 1 3<br />

25 Madeira 28 não não 0 3 1<br />

26 Madeira 120 não não 0 2 1<br />

Rugosi<strong>da</strong>de dos<br />

substratos<br />

Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002 155


Riqueza de insetos galhadores e de suas plantas<br />

hospedeiras em clareiras e áreas de floresta primária <strong>da</strong><br />

Amazônia Central<br />

Introdução<br />

As florestas tropicais úmi<strong>da</strong>s podem ser vistas como uma<br />

comuni<strong>da</strong>de homogênea numa escala temporal e espacial<br />

ampla (Richards 1979). No entanto, numa escala menor,<br />

percebe-se que estas florestas encontram-se em um<br />

equilíbrio dinâmico. Estudos têm mostrado que o dossel <strong>da</strong><br />

floresta é regularmente aberto pela que<strong>da</strong> de árvores ou<br />

grandes galhos. Este processo gera clareiras e uma nova<br />

vegetação se desenvolve, podendo eventualmente cerrar a<br />

clareira. O dossel de uma floresta é, consequentemente,<br />

um mosaico de copas de árvores de diferentes alturas e<br />

estruturalmente heterogêneo. Assim, clareiras são<br />

responsáveis pelo contínuo processo de regeneração <strong>da</strong>s<br />

florestas tropicais úmi<strong>da</strong>s, tendo fun<strong>da</strong>mental importância<br />

nos mecanismos que regulam a dinâmica de populações,<br />

como o recrutamento, crescimento e sobrevivência (van der<br />

Meer 1995). Além disso, este tipo de distúrbio natural<br />

auxilia no estabelecimento e crescimento <strong>da</strong> maioria <strong>da</strong>s<br />

espécies de árvores, na produção de habitats para espécies<br />

que deman<strong>da</strong>m alta luminosi<strong>da</strong>de, na promoção de altas<br />

taxas de crescimento e na redução <strong>da</strong> dominância de espécies<br />

competitivamente superiores (Rose 2000).<br />

A dinâmica <strong>da</strong>s florestas tropicais permite distinguir dois<br />

tipos de história de vi<strong>da</strong> nas comuni<strong>da</strong>des vegetais. As áreas<br />

de clareira são geralmente coloniza<strong>da</strong>s por espécies<br />

pioneiras, dependendo do tamanho <strong>da</strong> abertura do dossel<br />

(Foster & Brokaw 1982). Tais espécies são caracteriza<strong>da</strong>s<br />

pelo crescimento rápido, distribuição agrupa<strong>da</strong> e maior<br />

investimento em crescimento em detrimento de defesas<br />

custosas e específicas contra herbívoros. Por outro lado,<br />

espécies persistentes que colonizam o sub-bosque<br />

sombreado, caracterizam-se pelo crescimento lento, alta<br />

concentração de compostos fenólicos e têm dispersão por<br />

todo o sub-bosque, sendo facilmente localiza<strong>da</strong>s por insetos<br />

herbívoros (Coley 1982).<br />

Essas diferentes características ocasionam taxas<br />

diferenciais de herbivoria em áreas de clareira e sub-bosque,<br />

e Coley (1982) observou que espécies presentes nas clareiras<br />

eram mais ataca<strong>da</strong>s por herbívoros, em comparação àquelas<br />

de sub-bosque. A diversi<strong>da</strong>de de insetos galhadores está<br />

geralmente associa<strong>da</strong> à esclerofilia <strong>da</strong> vegetação,<br />

disponibili<strong>da</strong>de de nutrientes, estabili<strong>da</strong>de e previsibili<strong>da</strong>de<br />

do recurso, e principalmente às condições abióticas do meio,<br />

como altas temperaturas e baixos níveis de umi<strong>da</strong>de<br />

(Fernandes & Price 1988, 1991, Price et al. 1998). Os insetos<br />

formadores de galhas têm baixas probabili<strong>da</strong>des de<br />

156 Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002<br />

Genimar Rebouças Julião<br />

sobrevivência em habitats úmidos, em comparação com<br />

habitats xéricos. Os fatores que determinam esses níveis de<br />

sobrevivência estão associados às altas taxas de parasitismo<br />

e pre<strong>da</strong>ção em ambientes úmidos. Além disso, ambientes<br />

xéricos proporcionariam um nicho relativamente livre de<br />

doenças e inimigos naturais (principalmente parasitóides e<br />

herbívoros que comeriam a galha; Fernandes & Price 1992).<br />

Baseado nessas informações, este estudo teve por objetivos<br />

testar a hipótese de que insetos galhadores são mais<br />

freqüentes em habitats que possuem maior incidência de<br />

luz, temperatura mais eleva<strong>da</strong> e menor umi<strong>da</strong>de. Além disso,<br />

testou-se o efeito do tamanho <strong>da</strong> clareira sobre o número de<br />

galhadores. Dessa forma, espera-se que clareiras acumulem<br />

uma maior riqueza de insetos galhadores em comparação<br />

às áreas de floresta adjacentes.<br />

Métodos<br />

Desenvolvi o estudo na Reserva do Km 41 do <strong>PDBFF</strong><br />

(Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos <strong>Floresta</strong>is –<br />

INPA/Smithsonian Institution), a cerca de 70 km ao norte<br />

de Manaus (02°26’S e 059°46’O).<br />

Realizei coletas de insetos galhadores em plantas de subbosque<br />

de 10 clareiras e 10 áreas de floresta primária<br />

adjacentes às clareiras. Em ca<strong>da</strong> área de clareira, amostrei<br />

nos pontos equivalentes ao centro e aos quatro pontos<br />

cardeais (cinco pontos ao todo), utilizando a orientação <strong>da</strong><br />

maior largura e comprimento <strong>da</strong> clareira. Na área de floresta,<br />

amostrei cinco pontos, sendo quatro deles paralelos aos<br />

pontos <strong>da</strong> clareira e um deles escolhido ao acaso. No ponto<br />

amostral, examinei as plantas por seis minutos e aquelas<br />

que apresentavam galhas de insetos eram coleta<strong>da</strong>s e<br />

acondiciona<strong>da</strong>s em sacos plásticos para posterior<br />

identificação.<br />

Comparei a riqueza de galhas entre clareiras e áreas de<br />

floresta adjacentes por meio do teste t Student e utilizei<br />

regressões simples para avaliar o efeito <strong>da</strong> área <strong>da</strong> clareira<br />

na riqueza de insetos galhadores e de plantas hospedeiras.<br />

Avaliei a similari<strong>da</strong>de entre as áreas de clareira e de floresta<br />

por meio de um agrupamento baseado em distância<br />

Euclidiana simples e com método de ligação por médias<br />

não pondera<strong>da</strong>s.<br />

Resultados<br />

Coletei 46 morfoespécies de galhas de insetos nas<br />

clareiras e 34 nas áreas de floresta, associa<strong>da</strong>s a 64 espécies<br />

de planta hospedeiras, distribuí<strong>da</strong>s em 28 famílias botânicas.


As famílias Burseraceae, Mimosoideae, Papilionoideae e<br />

Sapotaceae acumularam o maior número de morfoespécies<br />

de galhas (Tab. 1).<br />

Tabela 1. Número de espécies de plantas hospedeiras e<br />

morfoespécies de galhas amostra<strong>da</strong>s por famílias<br />

botânicas.<br />

Famílias de Plantas Espécies de Morfoespécies<br />

Hospedeiras<br />

planta de galhas<br />

Burseraceae 7 8<br />

Mimosoideae 7 8<br />

Papilionoideae 6 7<br />

Sapotaceae 5 6<br />

Sapin<strong>da</strong>ceae 3 3<br />

Rubiaceae 3 3<br />

Bignoniaceae 3 3<br />

Annonaceae 2 2<br />

Melastomataceae 2 2<br />

Lauraceae 2 2<br />

Hippocrateaceae 2 2<br />

Cecropiaceae 2 2<br />

Lecythi<strong>da</strong>ceae 2 2<br />

Violaceae 2 2<br />

Elaeocarpaceae 2 2<br />

Dilleniaceae 2 2<br />

Caesalpinioideae 1 1<br />

Ochnaceae 1 1<br />

Moraceae 1 1<br />

Celastraceae 1 1<br />

Myrsinaceae 1 1<br />

Connaraceae 1 1<br />

Apocynaceae 1 1<br />

Bombacaceae 1 1<br />

Monimiaceae 1 1<br />

Chrysobalanaceae 1 1<br />

Myristicaceae 1 1<br />

Myrtaceae 1 1<br />

O número médio de morfotipos de galhas na clareira foi<br />

4,3 (d.p.= 2,4) e na floresta 3,4 (d.p.= 1,4). Apesar <strong>da</strong> maior<br />

riqueza de insetos galhadores na clareira, estes valores não<br />

diferiram estatisticamente <strong>da</strong> área de floresta (t = 1,49; p =<br />

0.17, Tab. 2).<br />

Tabela 2. Número de morfoespécies de galhas e de<br />

espécies de plantas amostra<strong>da</strong>s em ambientes de clareira<br />

e de floresta. Área <strong>da</strong>s clareiras em metros quadrados.<br />

Ambiente Morfoespécies Espécies de Área<br />

de galhas plantas (m 2 Ambiente Morfoespécies Espécies de<br />

)<br />

de galhas plantas<br />

Clareira 1 9 9 356,1 <strong>Floresta</strong> 1 4 4<br />

Clareira 2 6 5 117,8 <strong>Floresta</strong> 2 3 3<br />

Clareira 3 3 3 151,7 <strong>Floresta</strong> 3 3 3<br />

Clareira 4 6 6 110,2 <strong>Floresta</strong> 4 4 4<br />

Clareira 5 6 6 84,9 <strong>Floresta</strong> 5 2 2<br />

Clareira 6 2 2 102,9 <strong>Floresta</strong> 6 3 3<br />

Clareira 7 7 7 74,6 <strong>Floresta</strong> 7 7 6<br />

Clareira 8 2 2 64,3 <strong>Floresta</strong> 8<br />

3<br />

2<br />

Clareira 9 2 2 44,2 <strong>Floresta</strong> 9 3 2<br />

Clareira 10 3 2 25,5 <strong>Floresta</strong> 10<br />

2<br />

2<br />

A área <strong>da</strong>s clareiras influenciou significativamente o<br />

número de morfoespécies de galhas hospedeiras (r 2 = 0,42;<br />

gl= 1-8; F= 5,70; p


(1990) enumere argumentos discor<strong>da</strong>ntes.<br />

Neste estudo observei que ambientes de clareira e subbosque<br />

não diferem quanto a riqueza de insetos galhadores.<br />

O mesmo fato foi observado com relação a riqueza de cupins,<br />

que provavelmente tiveram sua diversi<strong>da</strong>de associa<strong>da</strong> ao<br />

estágio sucessional de decomposição do substrato e não ao<br />

tamanho <strong>da</strong> clareira e quanti<strong>da</strong>de de biomassa disponível<br />

no solo (Fadini et al. 1996). Dessa forma, é possível que os<br />

estágios sucessionais <strong>da</strong>s clareiras constituam um fator<br />

preponderante na dificul<strong>da</strong>de de visualização de um padrão<br />

de diversi<strong>da</strong>de de galhadores, e que as clareiras sejam<br />

constituí<strong>da</strong>s por espécies vegetais do sub-bosque <strong>da</strong> floresta<br />

e não por pioneiras. Além disso, é importante ressaltar que<br />

as clareiras utiliza<strong>da</strong>s neste estudo podem ter dimensões<br />

que não permitem a entra<strong>da</strong> de luz em quanti<strong>da</strong>de e quali<strong>da</strong>de<br />

adequa<strong>da</strong> para o estabelecimento de uma fauna rica de<br />

galhadores. Faria (1994) inferiu, através de coletas de<br />

folhiço, que a maior diversi<strong>da</strong>de de insetos galhadores estaria<br />

concentra<strong>da</strong> no dossel <strong>da</strong> floresta, onde ocorrem as maiores<br />

taxas de insolação, menor umi<strong>da</strong>de e maior abundância de<br />

tecidos meristemáticos nas plantas.<br />

Clareiras são facilmente detecta<strong>da</strong>s numa floresta tropical<br />

por meio dos altos níveis de luminosi<strong>da</strong>de atingindo o<br />

solo <strong>da</strong> floresta. No entanto, é muito difícil determinar o<br />

limite físico de uma clareira, especialmente clareiras mais<br />

antigas. Em geral, a densi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> vegetação decresce<br />

gradualmente <strong>da</strong> floresta fecha<strong>da</strong> e sem distúrbios, em<br />

direção ao centro <strong>da</strong> clareira. A altura do dossel é<br />

freqüentemente utiliza<strong>da</strong> para determinar as bor<strong>da</strong>s <strong>da</strong><br />

clareira, sendo 2 metros a altura limítrofe <strong>da</strong> vegetação (van<br />

der Meer 1995). Neste estudo verifiquei que a área <strong>da</strong><br />

clareira explicou cerca de 42% <strong>da</strong> variação na riqueza de<br />

insetos galhadores, indicando que além do estágio<br />

sucessional, o tamanho <strong>da</strong> clareira pode afetar a riqueza e<br />

abundância de insetos herbívoros.<br />

Observei um grande número de famílias e espécies<br />

vegetais ataca<strong>da</strong>s por insetos galhadores, quando comparado<br />

a estudos realizados em outros tipos de vegetação, que foram<br />

mais intensamente amostrados. No Pantanal do<br />

Miran<strong>da</strong>-Abobral foram realiza<strong>da</strong>s cerca de 54 horas de<br />

coleta de insetos galhadores e suas plantas hospedeiras,<br />

sendo registra<strong>da</strong>s 133 morfoespécies de galhas em 75<br />

espécies de plantas (Julião 2002). Neste estudo observei 64<br />

morfoespécies de galhas com um esforço amostral de 10<br />

horas. Além disso, observei que cerca de 43% <strong>da</strong>s famílias<br />

de plantas hospedeiras foram ataca<strong>da</strong>s por uma determina<strong>da</strong><br />

morfoespécie de galha.<br />

Dessa forma, mostram-se necessários estudos mais<br />

aprofun<strong>da</strong>dos que avaliem a diversi<strong>da</strong>de de galhas com<br />

relação aos estágios sucessionais de uma clareira. Além<br />

disso, a investigação <strong>da</strong> fauna de insetos galhadores<br />

associados a copas de árvores podem proporcionar<br />

elementos esclarecedores a respeito dos padrões de<br />

distribuição destes organismos e de seus fatores causais.<br />

158 Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002<br />

Agradecimentos<br />

Agradeço imensamente ao Marcelo Moreira e Ocírio<br />

Pereira, pelo companheirismo, pela força, pelo alto astral<br />

constante. A Yumi Oki e Pin pela bon<strong>da</strong>de e beleza no<br />

coração. Ao Josué pelo auxílio na confecção deste trabalho.<br />

Ao Jansen e Dadão pelas sugestões e correções. Agradeço<br />

a todos colegas deste curso.<br />

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van der Meer, P.J. 1995. Canopy dynamics of a tropical<br />

rain forest in French Guiana. PhD thesis, Wageningen<br />

Agricultural University, The Netherlands, 149 pp.<br />

Distribución vertical del área foliar de tres especies de<br />

Philodendron (Araceae): una vision integra<strong>da</strong> a la<br />

comuni<strong>da</strong>d de araceas en un bosque de tierra firme en<br />

la Amazonia Brasilera<br />

Introducción<br />

Se reconoce como epífitas aquellas plantas autótrofas que<br />

germinan sobre otra planta y desarrolla la totali<strong>da</strong>d o parte<br />

de su ciclo de vi<strong>da</strong> sin tener contacto con el suelo (Krees<br />

1986). Esta definición permite considerar como epífitas a<br />

plantas con hábito de crecimiento holoepífito (epífitas<br />

ver<strong>da</strong>deras) y hemiepífito (con contacto con el suelo en<br />

alguna momento de su ciclo de vi<strong>da</strong>).<br />

La comuni<strong>da</strong>d epífita,, es un importante componente<br />

estructural de los bosques tropicales (Rosemberg &<br />

Kimberlyn 1999; Nieder et al. 1999; 2001) y contribuye<br />

significatívamente con su diversi<strong>da</strong>d (Gentry & Dodson<br />

1987a), alcanzando en muchos casos, a representar cerca<br />

del 25% de la flora de un país o una región (Moller-Jorgensen<br />

& León-Janez 1999; Nieder et al. 2001).<br />

La característica de las epífitas de habitar en un paisaje<br />

tridimensional discontinuo (Bennet 1986), las somete a<br />

gradientes complejos que reflejan cambios simultáneos de<br />

factores ambientales tales como temperatura, radiación,<br />

hume<strong>da</strong>d y precipitación (Wolf 1993). No obstante a esta<br />

compleji<strong>da</strong>d de factores que interactúan y que afectan el<br />

establecimiento de las epífitas sobre los hospederos se han<br />

revelado interesantes patrones de estratificación vertical por<br />

especies o grupos taxonómicos (Johansson 1974; ter Steege<br />

& Cornelissen 1989; Wolf 1993; Nieder et al. 2000; Rudolph<br />

et al. 1998). Muchas veces este arreglo espacial nos puede<br />

indicar mecanismos fisiológicos, reproductivos y mecánicos<br />

de a<strong>da</strong>ptación así como interacciones espaciales entre y<br />

dentro de las poblaciones de epífitas.<br />

Philodendron, perteneciente a la familia de las araceas,<br />

monocotiledóneas reconoci<strong>da</strong>s por su alta diversi<strong>da</strong>d de<br />

especies en los bosques tropicales (Gentry & Dodson 1987),<br />

presenta una marca<strong>da</strong> tendencia hacia las formas<br />

hemiepífitas (Croat 1988). Unos de los aspectos ecológicos<br />

más interesantes del género es su diversi<strong>da</strong>d de formas de<br />

vi<strong>da</strong> y la plastici<strong>da</strong>d morfológica dentro de los individuos y<br />

las especies. Un individuo puede comenzar su ciclo de vi<strong>da</strong><br />

como plántula terrestre y crecer en condiciones de oscuri<strong>da</strong>d<br />

Ana Maria Benavides Duque<br />

hasta conseguir trepar y desarrollarse verticalmente<br />

generalmente sobre un árbol. Estas son las denomina<strong>da</strong>s<br />

hemiepífitas primarias. Otras comienzan su vi<strong>da</strong> como<br />

epífitas ver<strong>da</strong>deras y se reconvierte a un hábíio hemiepífito<br />

por la producción de raíces largas y pendulares que entran<br />

en contacto con el suelo. Estas se reconocen como<br />

hemiepífitas secun<strong>da</strong>rias (Croat 1988).<br />

La plastici<strong>da</strong>d morfológica de algunas especies de Philodendron<br />

se refleja en la heteroblastia tanto de sus hojas como<br />

tallo. La heteroblastia se ha asociado generalmente a<br />

diferencias en las fases de crecimiento. No obstante, la<br />

disponibili<strong>da</strong>d de luz parece ser el factor más importante<br />

para la planta presentar este cambio morfológico (Ray 1987,<br />

citado por Croat 1988), de alli que algunas especies<br />

presenten la capaci<strong>da</strong>d de cambiar su morfológia foliar de<br />

acuerdo a las condiciones ambientales independiente de su<br />

e<strong>da</strong>d (Croat 1988).<br />

En la Amazonia, Philodendron se ha descrito como un<br />

elemento altamente abun<strong>da</strong>nte y conspícuo de en los<br />

primeros estratos del bosque (Croat 1988; Nieder et al. 2000;<br />

Leimbeck & Balslev 2001), donde las condiciones<br />

ambientales han sido descritas como más estables y<br />

homogeneas (Parker 1995). Esta condición de Philodendron<br />

de desarrollarse en los primeros estratos donde la<br />

competencia por espacio y luz entre individuos y entre<br />

especies se estaria llevando a cabo se podría estar reflejando<br />

en la amplitud de sus formas de vi<strong>da</strong> y en diferencias en su<br />

estrategias foliares en un gradiente vertical tanto dentro de<br />

individuos de una misma especie como entre diferentes<br />

especies.<br />

El objetivo de este estudio fue determinar si el área foliar,<br />

como un indicativo de estrategia foliar, de tres especies<br />

de Philodendron com variaciones en el habíto hemiepífito,<br />

presenta una distribución vertical diferencial en un bosque<br />

de tierra firme en la Amazonía Brasilera.<br />

Metodología<br />

Área de estudio<br />

Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002 159


El estudio se llevo a cabo en la Amazonia Central<br />

Brasilera en la estación científica Km 41 de INPA-PDBF (2<br />

°19’- 2° 26’S y 5° 48’- 60° 05’ O), con una altitud entre 50<br />

y 150m s.n.m. El clíma en la estación científica es clasificado<br />

según el sistema de Köppen (1936) como: clíma húmedo<br />

de monzón, con una temperatura media de 26 °C y una<br />

precipitación anual de 2220 mm (Nee 1995).<br />

La vegetación al rededor de la estación es floresta de<br />

tierra firme original con una heterogenei<strong>da</strong>d de paisajes<br />

como consecuencia de variaciones topográficas. La floresta<br />

de “platô”, úbica<strong>da</strong> en áreas altas, presenta dosel alto (35-<br />

40m), se caracteriza por una alta biomasa y subbosque<br />

dominado por palmeras acaules. La floresta de “vertente”,<br />

localizadoa en áreas colinosas y disecta<strong>da</strong>s, presenta un<br />

dosel medio (25-35m) y vegetación de transición. La floresta<br />

de “baixio”, localiza<strong>da</strong> en las planicies aluviales a lo largo<br />

de igarapés (quebra<strong>da</strong>s de aguas negras), presenta un dosel<br />

medio (20-30m) y se caracteriza por la abun<strong>da</strong>ncia de<br />

palmeras como Oenocarpus bataua y Mauritia flexuosa<br />

(Ribeiro et al.1999). Los bosques de la reserva, son<br />

considerados uno de las áreas con mayor riqueza arborea<br />

con cerca de 1300 especies en al menos 64 familias (Bruna<br />

2001). Cerca de 40 araceas epífitas ocurren en área cercana<br />

y de estas 23 pertenecen al género Philodendron (Ribeiro<br />

et al.1999).<br />

Muestreo de la vegetación<br />

Se realizaron dos transectos de 300 m los cuales fueron<br />

úbicados uno en floresta de “platô” y uno en “baixio”. En el<br />

transecto de “baixio” se muestrearon P. megalophyllum una<br />

hemiepífita secun<strong>da</strong>ria asocia<strong>da</strong> a jardines de hormigas y P.<br />

barrosoanum una hemipífita primaria. En el trasecto de<br />

“platô” se muestreó P. fragantissimum una hemipífita<br />

primaria con una marca<strong>da</strong> heteroblastia y frecuente en el<br />

área de estudio. Las especies fueron identifica<strong>da</strong>s con ayu<strong>da</strong><br />

de claves taxonómica y con la guia de campo Flora <strong>da</strong><br />

Reserva Ducke (Ribeiro et al.1999).<br />

Se estratificó verticalmente la altura así: de 0-2, 2-4, 4-6<br />

y 6-10m. Se muestrearon cinco indivíduos de ca<strong>da</strong> especie<br />

por estrato vertical. Los indivíduos fueron seleccionados<br />

de forma aleatoria y con una distancia mínima entre si de<br />

10m.<br />

Para ca<strong>da</strong> indivíduo se colectaron tres hojas, una en ca<strong>da</strong><br />

categoria por altura, baja, media y alta. Se registró la altura<br />

de ca<strong>da</strong> hoja con respecto al suelo y medi<strong>da</strong>s del largo y<br />

ancho de las hojas, asi como la longitud del peciolo fueron<br />

realiza<strong>da</strong>s. A partir del largo y ancho se estimo el área foliar<br />

aproxima<strong>da</strong>.<br />

Adicionalmente en el transecto del “baixio” fueron<br />

seleccionados 24 árboles (CAP>30cm), localizados<br />

aleatoriamente y con una distancia mínima entre si de 10 m,<br />

se muestreo to<strong>da</strong> la comuni<strong>da</strong>d de araceas epífitas con el<br />

fin de determinar su estratificación vertical. En ca<strong>da</strong> árbol<br />

to<strong>da</strong>s las araceas visibles desde el suelo fueron registra<strong>da</strong>s<br />

y la altura de la última hoja fue estima<strong>da</strong>. Plantas que no<br />

estaban conecta<strong>da</strong>s una con otra fueron trata<strong>da</strong>s como<br />

160 Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002<br />

individuos diferentes, partiendo del concepto de “ramets”<br />

como uni<strong>da</strong>d funcional independiente y efectiva (Harper<br />

1977).<br />

Análisis de los resultados<br />

Análisis de correlaciones de Pearson se realizaron para<br />

testar la relación entre el área foliar y la longitud del peciolo<br />

para ca<strong>da</strong> una de las especies. Analisis de varianza con<br />

medi<strong>da</strong>s repeti<strong>da</strong>s se efectuaron para determinar la<br />

interacción de la posicion de la hoja y las especies.<br />

Regresiones lineales se efectuaron entre la altura y el área<br />

foliar para ca<strong>da</strong> una de las especies.<br />

Resultados<br />

Distribución vertical de la comuni<strong>da</strong>d de araceas<br />

Un total de 52 indivíduos pertenecientes a 11 especies<br />

de araceas fueron registrados en 24 árboles en un área de<br />

“baixio”. Se encontraron tres géneros: Anthurium (una<br />

especie), Heteropsis (una especie) y Philodendron, (nueve<br />

especies). Las especies de Philodendron representaron el<br />

94% de los indivíduos encontrados y la especie más<br />

abun<strong>da</strong>nte fue P. fragantissimum con 21 indivíduos. El<br />

número máximo de epífitas por árbol fue de cuatro y en<br />

promedio se encontraron 1,3 indivíduos. El 72% de los<br />

indivíduos y ocho especies se localizaron bajo los 5m, tres<br />

especies (8% de los individuos) entre los 5 y los 10m, cinco<br />

especies (18% de los indivíduos) entre 10 a 15m y una<br />

especie se úbico sobre los 15 m (Grafica 1).<br />

Altura (m)<br />

20<br />

15<br />

10<br />

5<br />

0<br />

Anthurium<br />

Heteropsis<br />

P. barrosoa<br />

P. fraganti<br />

P. insigne<br />

P. linnaei<br />

P. megaloph<br />

P. platypod<br />

P. pulchurr<br />

P. verrucos<br />

Especie<br />

Figura 1. Distribución vertical de araceas epífitas que<br />

ocurrieron en 24 árboles en una floresta de “baxio”,<br />

Amazonia Brasilera.


Distribución foliar<br />

El área foliar y la longitud del peciolo presentó una<br />

correlación alta para las tres especies estudia<strong>da</strong>s, P.<br />

fragantiissimum (r=0,80, p=0,001), P. megalopyllum<br />

(r=0,72, p=0,001) y P. barrosoanum (r=0,801, p=0,001).<br />

Al comparar entre las especies el área foliar en ca<strong>da</strong> una<br />

de las categorias bajas, media y altas se encontraron<br />

diferencias (F=5,038 p=0,01). Asi tambien, ca<strong>da</strong> especie<br />

vario su área foliar en relacion a la posición que esta ocupaba<br />

con respecto a las otras (F=0,003 p=0,003) y no se encontro<br />

una interacción de la especie sobre el área foliar en las<br />

diferentes ubicación de las hojas (F=0,131 p=0,130) (figura<br />

2).<br />

El área foliar varió con relación a la altura a la que se<br />

encontraban las folias de P. fragantiissium (R 2 =0,13, F=7,97<br />

p=0,007) y P. megalopyllum (R 2 =0,14, F=8,14 p=0,005);<br />

no asi para P. barrosoanum (R 2 =0,04, F=2,38<br />

p=0,128)(figura 3).<br />

Area foliar<br />

(cm 2 )<br />

1400<br />

1200<br />

1000<br />

800<br />

600<br />

400<br />

200<br />

0<br />

0<br />

P. fragantissimum<br />

P. megalophyllum<br />

P. barrosoanum<br />

200 400 600<br />

Altura (m)<br />

800 1000<br />

Figura 2. Área foliar por las diferentes clases de altura de<br />

las hojas para tres especies de Philodendron.<br />

Area foliar ( cm2)<br />

650<br />

550<br />

450<br />

350<br />

250<br />

150<br />

50<br />

bajo medio alto<br />

Figura 3. Variación del área foliar en realción con la<br />

altura para indivíduos de P. fragantissimum (circulos<br />

negros), P. megalopyllum (circulos blancos) y P.<br />

barrosoanum (cuadrados).<br />

Discusión<br />

La distribución vertical de la comuni<strong>da</strong>d de araceas, en<br />

general y de Philodendron, en particular, se concentró en<br />

los primeros 5 m del sotobosque, com una excepción<br />

importante por parte de P. megalophyllum que fue mas<br />

frecuente en estratos superiores; confirmando el precepto<br />

de la distribución vertical reportado para araceas en la<br />

Amazonia (Leimbeck & Balslev 2001, Nieder et al. 2000).<br />

El área foliar varió tanto entre entre las especies y entre<br />

las diferentes clases de altura de las hojas en un gradiente<br />

vertical, apoyando la hipótesis inicial de la estratificación<br />

vertical de las estrategias foliares. La idea de la planta como<br />

una población de partes donde el efecto del estres puede ser<br />

localizado en una área y afectar diferencialmente los<br />

compartimientos moduares de esta es un concepto que<br />

emergió como respuesta considera<strong>da</strong> mas útil para entender<br />

la dinámica de poblaciones. De allí, que el crecimiento total<br />

de la planta es integrado por la activi<strong>da</strong>d de sus partes<br />

independientemente y variaciones en la intensi<strong>da</strong>d lumínica,<br />

duración, cali<strong>da</strong>d, dirección y angulo de incidencia sobre<br />

los indivíduos afectan diferencialmte los compartimeintos<br />

de la planta (Harper 1977). Por tanto ca<strong>da</strong> hoja de Philodendron<br />

existe en su regimen propio de variables<br />

ambientales.<br />

La tendencia similar de incrementar el área foliar en<br />

relacion a las hojas que se localizaban mas bajas en P.<br />

megalopylum, P. fragantissimum y P. barrosoanum. y el<br />

patrón encontrado para P. megalopyllum y P. fragantissimum<br />

de incrementar su área foliar con la altura revela estrategias<br />

foliares similares. Revelando por tanto que el patrón<br />

presentado puede estar permeado de forma directa por la<br />

ontogenia y filogenia de las plantas estudia<strong>da</strong>s y de forma<br />

indirecta por la heteroblastia caracteristica de algunas<br />

especies de Philodendron (Croat 1988). Por otro lado,<br />

evidencia que las especies estan someti<strong>da</strong>s a presiones<br />

ambientales similares, mas que a presiones por competencia<br />

entre individuos de otras especies y de la misma especie de<br />

araceas debido a la baja frecuencia de individuos<br />

encontrados por árbol en este estudio. No obstante, es<br />

importante subrayar que la altura solo explico un máximo<br />

del 14% de la variación que presentaban P. fragantissimum<br />

y un 12% para P. megalophylum, revelando por tanto que la<br />

mayor parte de la varición en la estratificación foliar no es<br />

explica<strong>da</strong> por la altura.<br />

De allí, que es importante considerar otros factores que<br />

estarian interactuando en la estratificación tanto de los<br />

individuos como en el área foliar. La alta sinuosi<strong>da</strong>d<br />

microambiental y estructural de los bosques de tierra firme<br />

de la Amazonia crea una compleji<strong>da</strong>d de gradientes<br />

ambientales que podria estar modulando de forma diferencial<br />

esta estratificación no solo de la comuni<strong>da</strong>d de araceas, sino<br />

tambien de la comuni<strong>da</strong>d de epífitas. Por tanto, es necesario<br />

desarrollar en el futuro estudios de estratificación vertical<br />

que abarquen esta alta sinuosi<strong>da</strong>d estructural de los bosques<br />

y estudios puntuales sobre aspectos morfológicos y de la<br />

Curso de Campo <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica - 2002 161


iología de las especies para comprender los procesos que<br />

subyacen a los patrones observados<br />

Agradecimientos<br />

Este estudio fue llevado a cabo gracias a el apoyo<br />

otorgado por el Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos<br />

<strong>Floresta</strong>is (<strong>PDBFF</strong>) y INPA/Smithsonian dentro del Curso<br />

de Campo de <strong>Ecologia</strong> <strong>da</strong> <strong>Floresta</strong> Amazônica.<br />

Agradecimiento en especial a Carlos Fonseca orientador en<br />

la idea original del proyecto libre, a Paulo De Marco en la<br />

orientacion del análisis númerico, a Glauco Machado por<br />

sus sugerencias y comentarios, a Patricia Tello, Josué Ribeiro<br />

<strong>da</strong> Silva Nunes y Marcelo “Pinguela” por la colaboración<br />

en la fase de campo. Muito obriga<strong>da</strong> por la valiosa<br />

orientacion de Dadão y Janzen a lo largo del curso. Además<br />

un abazo a todo el equipo que integro y acompaño durante<br />

todo el proceso en especial a Juruna y a Pinguela. Y los que<br />

no podian faltar, un abrazo de corazón para todos y ca<strong>da</strong><br />

uno de los compañeros que integraron el Curso de Campo<br />

2002.<br />

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