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dissertacao completa - FaJe

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tamanho impacto em seus contemporâneos, suscitando um conflito tão particular e radical?<br />

Para tentarmos responder a esta questão, compreendemos a necessidade de empreender<br />

um estudo de duplo caráter: histórico e analítico. A pesquisa histórica se impunha, pois ainda<br />

que nos restringíssemos a examinar apenas o Sócrates da ficção platônica, este seria,<br />

indubitavelmente, ao menos em certa medida, inspirado no Sócrates histórico, um homem que<br />

realmente viveu, foi julgado e condenado. Porém, mesmo esta pesquisa historiográfica não<br />

visava mais que a compreensão do processo e dos elementos da construção literária do<br />

personagem. Assim, nossas questões tentavam interrelacionar história e obra literária.<br />

Perguntávamo-nos: quais as motivações histórico-políticas que fomentaram e sustentaram a<br />

ficção platônica? Quais destas motivações são explicitadas na obra? Quais são omitidas ou<br />

apenas sugeridas? Por quê? Entretanto, porque nosso foco estava na obra e na personagem,<br />

impunha-se também o estudo analítico. Para interrelacionar história e ficção e responder<br />

nossos questionamentos, precisávamos, primeiramente, “ouvir” o que Platão tinha a nos dizer<br />

em defesa de seu Sócrates.<br />

Entramos, então, no dikastérion platônico e ouvimos uma apología que se constrói em<br />

três tempos; três tempos que nos apresentam três discursos; três discursos que têm como<br />

porta-voz, fundamentalmente, duas pessoas, egó e humeîs; duas pessoas que se desdobram<br />

ainda em outras: o eu de Sócrates, que é também o eu de Platão, e o vós que se refere a todos<br />

os então presentes, mas que se endereça também a nós, os leitores. Ali, ouvimos ainda as<br />

lacônicas respostas de um acusador acuado, as vozes de uma multidão de ouvintes indignados<br />

e, também, ecos de vozes passadas, como a de Aristófanes e de Homero. Tentamos reproduzir<br />

todas estas falas e a necessidade de fazer eloquente estas muitas vozes nos conduziu a uma<br />

outra necessidade: a de empreender a nossa própria tradução do texto grego. Em seguida, para<br />

compreendermos estas “vozes” do texto, estabelecemos o confronto entre a nossa própria<br />

tradução e aquelas de quatro estudiosos da língua e da filosofia grega: Trindade 15 , Brisson 16 ,<br />

Fowler 17 e Pievatolo 18 . Optamos por cotejar traduções em diferentes línguas para elucidar e<br />

enriquecer nossa análise de alguns termos-chave fundamentais para a compreensão deste<br />

Sócrates e do conflito que protagonizou. Valiosas contribuições para nossos ouvidos ainda<br />

15<br />

PLATÃO. Êutifron, Apologia de Sócrates, Críton. Tradução, introdução e notas de José Trindade dos Santos.<br />

4a edição. Imprensa Nacional, Casa da Moeda, 1993.<br />

16 PLATON. Apologie de Socrate, Criton. Introductions, traduction e notes de Luc Brisson. 3E edition. Paris: GF<br />

Flammarion, 2005.<br />

17 PLATO. Euthyphro, Apology, Crito, Phaedo, Phaedrus. Loeb Classical Library. Vol. 36. Translation by Harold<br />

North Fowler. London: Harvard University Press, 2005.<br />

18<br />

PLATONE. L'Apologia do Socrate. Nuova traduzione di Maria Chiara Pievatolo. Disponível em:<br />

http://www.swif.uniba.it/lei/personali/pievatolo/platone/apologia1.htm. Acesso em julho, 2008.<br />

14

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