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dissertacao completa - FaJe

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por meio de argumentos que, embelezados e bem ordenados, parecem verdadeiros, mas são<br />

falsos. Pois bem, nomeadas e caracterizadas estas retóricas, restam-nos ainda algumas<br />

questões. Como distinguir entre um discurso verdadeiro e um discurso mentiroso, mas<br />

aparentemente verdadeiro? Como não se deixar afetar e persuadir pela retórica das aparências?<br />

Sócrates pode falar como de costume, pode se comprometer a falar somente a verdade, pode<br />

não se deixar afetar pelo discurso de seus acusadores, mas como persuadir os juízes de que é<br />

ele que diz a verdade e não seus acusadores? E ainda: como persuadí-los de que diz a verdade,<br />

sem usar qualquer outro recurso que não seja o próprio discurso verdadeiro? Esta será a<br />

preocupação do Sócrates platônico não apenas no exórdio, mas ao longo de toda a Apologia.<br />

Todavia, se Sócrates pode sustentar que diz a verdade, é outro que julga se ele diz a<br />

verdade ou não. Neste caso, outros, muitos outros: quinhentos e um dikastaí 32 . O homem do<br />

élenkhos, do demorado exame um-a-um, como ainda analisaremos em detalhes, precisava<br />

agora persuadir, em um único dia 33 , uma multidão ruidosa. Por isso, primeiramente, pede a<br />

seus juízes que “não se admirem, nem façam ruído (17c: mh/te qauma/zein mh/te qorubei=n)”,<br />

isto é, que não tumultuem quando ele falar 34 . Logo em seguida, reforça a distinção entre os<br />

dois tipos de retóricas, pedindo-lhes que permitam que fale à sua maneira (18a: tro/pon th~j<br />

le/cewv), seja esta pior (18a: xei/rwn), seja melhor (18a: belti/wn). Por fim, pede que<br />

examinem (18a: skopei~n), mais, que dirijam sua mente (18a: to_n no~un prose/kei~n) para<br />

julgarem se o que ele diz é justo ou não (18a: ei0 di/kaia le/gw h2 mh/), “pois esta é a areté do<br />

dikastés (18a: dikastou~ me_n ga_r au3th a0reth/)”, conclui. Bem, compreenderemos melhor<br />

estes último pedido se dirigirmos, também nós, nossa atenção para o contexto de um<br />

julgamento na Atenas do século V.<br />

O processo contra Sócrates era um caso de agón atimetós, isto é, um julgamento sem<br />

pena fixada por lei, mas com uma pena proposta pelo acusador (tímesis) e uma contra-<br />

proposta de pena por parte do acusado (antitímesis). Além disso, não existia deliberação entre<br />

o júri, isto é, os juízes podiam se manifestar, mas não podiam consultar uns aos outros. Neste<br />

32 No século V, o número de dikastaí era de seis mil; cada uma das dez tribos fornecia 600 dikastaí que eram<br />

divididos por sorteio entre os diferentes tribunais e, consequentemente, entre os magistrados a quem cabia a<br />

presidência de tais tribunais. Com as ausências, o número de juízes chegava, em média, a 500, mas, para<br />

cumprir a regra geral que impede a divisão igual dos votos, acrescentava-se mais um. Este era, provavelmente,<br />

o número de ouvintes a que Sócrates a se dirigia: 501. GLOTZ, 1979, p.196,197.<br />

33 O julgamento iniciava-se logo cedo e deveria ser encerrado no mesmo dia, “salvo quando 'um sinal de Zeus',<br />

uma tempestade ou tremor de terra, obrigar o presidente a suspender a sessão.” GLOTZ, 1979, p.201.<br />

34 O pedido de não perturbar, não fazer ruídos, será uma tônica constante na Apologia. Talvez seja este não apenas<br />

um mero recurso retórico por parte de Sócrates, nem mesmo um mero recurso estilístico por parte de Platão;<br />

mas um desvelar dos momentos maiores de conflito entre a defesa de Sócrates e a audiência. O mé thorubeîn<br />

aparece sete vezes ao longo da Apologia (17d, 20e, 21a, 27b(2x), 30c(2x)), quase como, poderíamos dizer, uma<br />

marcação teatral, um sinal que define os movimentos, posições e atitudes dos atores durante a representação.<br />

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