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dissertacao completa - FaJe

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na Apologia, tenham pensado que ele se encontrava ainda em estado embrionário, limitado ao<br />

plano ético-político, se é que se pode fazer alguma distinção entre estes níveis quando se fala<br />

do pensamento de Platão. Mas, por que, então, insistir neste horizonte? Porque, reiteramos, ele<br />

se impunha a cada passagem do texto, encontrava-se subjacente a cada novo par de opostos<br />

por nós examinados.<br />

A obra coloca em cena um discurso de defesa, mas este é um discurso filosófico; se<br />

tem algo de histórico, então, indubitavelmente, Sócrates filosofou no tribunal. O discurso do<br />

Sócrates da Apologia platônica é fundamentalmente diferente do discurso do Sócrates da<br />

Apologia de Xenofonte. Este, provavelmente baseado na Apologia platônica 19 , é quase um<br />

relato; aquele, uma palestra, na primeira pessoa, sobre a distinção entre ser e parecer nos<br />

diversos âmbitos do pensar, saber, crer, agir e falar.<br />

A apología que “ouvimos” é um discurso no qual o verbo ser “é usado de um modo<br />

filosoficamente carregado de valor veritativo”, para usar uma expressão de Kahn 20 .<br />

Encontramos em muitas passagens o que Kahn denomina “construção veritativa propriamente<br />

dita”, isto é, “uma comparação explícita entre uma oração com ei]nai e uma oração que<br />

contenha um verbo de dizer ou pensar” 21 -como fhmi/ ou oi]omai, por exemplo- para trazer à<br />

luz um contraste entre o que de fato é e o que apenas se diz ou se julga ser. Construções estas<br />

que, usualmente, vêm acompanhadas de expressões que reforçam a pretensão de verdade, tais<br />

como: tw}| o1nti, tau~t 0e1sti, w(v a0lhqw~v, o1ntwv e o# tugxa/nei o1n. Temos bons exemplos<br />

destas construções em 17d4, 20d8, 21c3, 23a5, 23d6, 24a5, 28a6, 28d5, 29a2, 29b9, 30c9,<br />

30d3, 31a7, 32a1, 33b8, 33c7, 41b5 e 41c7, dentre outros. Encontramos ainda em muitas<br />

outras passagens o que Kahn denomina “uso copulativo do verbo eînai com uma nuance<br />

veritativa”, isto é, “um contraste entre ser assim e parecer assim, entre ser realmente tal-e-tal e<br />

ser apenas chamado tal-e-tal ou apenas crido tal-e-tal” 22 , que aparece por meio do contraste,<br />

explícito ou implícito, entre o verbo ei]nai e os verbos doke~in ou fai~nesqai. Temos alguns<br />

exemplos desta nuance veritativa em 17b3, 19e1, 21c6, 21c9, 21d5, 21d7, 22a3, 22c5, 23b6,<br />

23c6, 28a4, 29a4, 29a7, 29b3, 29b5, 33c3, 34e3, 35b10, 35c4, 36d9, 36e1, 40e3, 41b7, 41e4 e<br />

41e9, dentre outros. Com efeito, em ambos os casos os exemplos são abundantes, mas em<br />

19 Segundo Magalhães-Vilhena, "Pode-se sem hesitar crer que o que Xenofonte relata em diferentes ocasiões não<br />

é mais do que a adaptação do que está escrito nos diálogos platônicos." MAGALHÃES-VILHENA, 1984,<br />

p.237.<br />

20 Esta expressão e as definições subsequentes são exploradas por Kahn em outras obras de Platão, não na<br />

Apologia. Obviamente, no entanto, as passagens que o estudioso apresenta servem apenas para ilustrar sua<br />

teoria e não para limitá-la. Nesta perspectiva, servem perfeitamente à Apologia ou à qualquer outra obra em que<br />

se possa verificar estes usos do verbo ser. KAHN, s/d. p.108.<br />

21 KAHN, s/d, p.108.<br />

22 KAHN, s/d, p.108.<br />

18

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