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dissertacao completa - FaJe

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do princípio que o discurso de Sócrates na Apologia corresponda, em alguma medida, ao<br />

discurso de defesa do Sócrates histórico e que ele tenha, de fato, feito menção à comédia de<br />

Aristófanes. No entanto, esta hipótese desdobrar-se-ia em duas outras: (i) ou o Sócrates<br />

histórico jamais teria se ocupado de tal investigação e a passagem do Fédon seria uma<br />

invenção platônica, posterior à Apologia, (ii) ou Sócrates teria tido, de fato, um interesse ao<br />

menos inicial pelas ciências da natureza, mas não teria sustentado este interesse durante seu<br />

julgamento porque isto seria perigoso, à medida que induzia os ouvintes a crerem que ele não<br />

reconhecia os deuses da cidade, como ele mesmo concluíra anteriormente (18c).<br />

Mas esta última hipótese nos conduz ainda a uma outra questão no mínino curiosa: se<br />

esta imagem lhe era tão prejudicial no contexto de um julgamento baseado em uma acusação<br />

de impiedade, por que, então, o próprio Sócrates traria este assunto à tona? Ora, se a acusação<br />

representava um perigo, mais perigosa ainda seria esta sua estratégia de defesa, pois<br />

equivaleria a adicionar fatos a acusação recente de impiedade. Assim, remetendo-se a este<br />

pretenso conhecimento naturalista, ainda que para negá-lo, Sócrates estaria oferecendo provas<br />

contra si mesmo. É certo que simplesmente se omitir em relação às diabolaí não as dissiparia e<br />

os juízes poderiam julgá-lo tendo-as ainda em mente. Afinal, Platão não nos deixa esquecer<br />

como eram deinoí aqueles antigos acusadores de Sócrates; tinham persuadido, afetado os<br />

ouvintes com seus discursos, era preciso, então, dissipar as calúnias (19a).<br />

Ainda assim, parece-nos no mínimo temerário que Sócrates se remetesse, de livre e<br />

espontânea vontade, a uma imagem que contribuía para sua condenação. Talvez ele acreditasse<br />

em demasia em seu próprio poder de persuasão; ou talvez preferisse morrer a permitir que esta<br />

imagem continuasse a se propagar. Talvez. Mas, reiteramos: esta seria uma estratégia<br />

temerária. Seria equivalente a alguém que, tendo atropelado e matado um transeunte, fosse<br />

processado por homicídio culposo e ali, em seu próprio julgamento, declarasse, de livre e<br />

espontânea vontade, que já pesam sobre ele algumas multas por direção perigosa. Que réu, em<br />

sã consciência, agiria assim em seu próprio julgamento? Bem, por estas razões, mais uma vez<br />

sustentamos a hipótese de que esta parte do discurso de Sócrates na Apologia seja uma<br />

invenção platônica. Sócrates não teria, de fato, feito menção à comédia de Aristófanes em sua<br />

defesa e esta estratégia se prestaria ao objetivo de Platão de distinguir entre a falsa imagem do<br />

Sócrates aristofânico -falsa, apesar de parecer verdadeira- e a verdadeira imagem de Sócrates:<br />

a imagem que Platão confere ao mestre. E, nesta imagem não cabe nem a investigação da<br />

natureza, como já vimos, nem o ensino dos sofistas, como veremos a seguir.<br />

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