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dissertacao completa - FaJe

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Qualquer leitura da Apologia que queira se realizar com um mínimo de<br />

honestidade intelectual há de colocar como tarefa prioritária a de<br />

destruir a imagem diabólica, no sentido etimológico de diabolé, isto é,<br />

da falsa imagem que a beatice de certos socráticos foi destilando ao<br />

longo da história. (...) degradando a imagem da polis ateniense para<br />

realçar o socratismo, não apenas prestamos um fraco favor à verdade<br />

histórica, mas também, sobretudo, nos incapacitamos para entender<br />

minimamente o agon, isto é, o enfrentamento dramático que tem lugar<br />

entre Sócrates e Atenas. 38<br />

Concordamos plenamente com Medrano, porém devemos fazer uma pequena ressalva<br />

quanto à sua terminologia. Tanto nós, quanto Medrano nos referimos, neste momento, à<br />

mesma imagem diaboliké de Sócrates: aquela disseminada não mais pelos comediógrafos, mas<br />

pelos socráticos, isto é, pelos seguidores da filosofia socrática. No entanto, Medrano denomina<br />

esta imagem diaboliké, ao passo que nós a denominamos anti-diaboliké, não porque<br />

acreditamos que não seja também esta fundamentada em suas próprias diabolaí<br />

-acreditássemos assim teríamos de definí-la como a-diaboliké- mas porque entendemos a<br />

imagem diaboliké propagada pelos socráticos como uma reação contrária (anti) às primeiras<br />

diabolaí. Mas o fato, e isto é o que nos revela a Apologia, é que as primeiras diabolaí<br />

grassavam em Atenas, senão o Sócrates platônico não teria usado tanto tempo de sua defesa<br />

tentando se desvencilhar delas. Torna-se fundamental, portanto, apesar de repelidas pelo<br />

Sócrates platônico como calúnias ou falsas imagens, analisá-las com seriedade. Mais, é<br />

imperativo que compreendamos o conteúdo destas diabolaí para que possamos compreender<br />

também este agón ou enfrentamento dramático, em seus dois níveis: no nível poético, quiçá<br />

trágico, da Apologia como obra literária, e no nível histórico, da Apologia como relato que<br />

guarda alguma relação com o julgamento do Sócrates histórico ou com as questões da Atenas<br />

de seu tempo.<br />

Então, qual seria o conteúdo destas diabolaí? Diziam haver “um tal Sócrates, homem<br />

sábio, pensador 39 dos fenômenos celestes e investigador de todas as coisas abaixo da terra, e<br />

que faz forte o discurso fraco (18b: tiv Swkra/thv, sofo_v a0nh/r, ta/ te mete/wra<br />

frontisth_v kai_ ta_ u9po_ gh~v a0nezhthkw_v kai_ to_n h3ttw lo/gon krei/ttw poiw~n)”.<br />

Segundo ele, este seria o rumor espalhado (18c). No entanto, antes de analisarmos seu<br />

conteúdo e suas implicações, parece-nos importante observar aqui os vários indícios de uma<br />

conotação pejorativa que ficam evidentes pelo contexto e pela forma com que Platão cita estas<br />

38 MEDRANO, 1998, p.19.<br />

39 O adjetivo phrontistés é atribuído a Sócrates também por Xenofonte (Banquete, VI,6), o verbo prontizeîn é<br />

relacionado a Sócrates no Banquete de Platão (220) e encontramos nas uvens de Aristófanes (95), nada menos<br />

que um phrontistérion como escola e morada de Sócrates.<br />

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