15.05.2013 Views

Aluizio Alfredo Carsten - XI Encontro Nacional de História Oral

Aluizio Alfredo Carsten - XI Encontro Nacional de História Oral

Aluizio Alfredo Carsten - XI Encontro Nacional de História Oral

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Os paulistas dão aos bugres vizinhos <strong>de</strong> Jaguariaíba o nome <strong>de</strong> Coroados<br />

porque, segundo dizem, esses selvagens costumam fazer no alto da cabeça<br />

uma pequena tonsura, que em português tem o nome <strong>de</strong> coroa. Segundo<br />

relatos unânimes dados pelas pessoas mais instruídas do lugar, esses índios<br />

constroem suas casas com paus cruzados, à maneira dos “Brasileiros –<br />

Portugueses”, e as cobrem <strong>de</strong> folhas <strong>de</strong> bambu ou <strong>de</strong> palmeiras; mas não<br />

rebocam as pare<strong>de</strong>s com barro, e fazem as casas extremamente compridas,<br />

<strong>de</strong> maneira que várias famílias po<strong>de</strong>m morar numa mesma moradia. Esses<br />

selvagens, como os Guanhanãs, cultivam o feijão e o milho, e parece que não<br />

são totalmente estranhos a alguns tipos <strong>de</strong> indústria. Um dos soldados da<br />

milícia que tinham vindo à fazenda <strong>de</strong> Jaguariaíba para atacá-los, mostroume<br />

uma saia <strong>de</strong> uma mulher coroada, feita <strong>de</strong> um tecido muito grosseiro, é<br />

bem verda<strong>de</strong>, mas extraordinariamente resistente. Uma índia coroada, que<br />

havia sido aprisionada e que o coronel conservava em sua casa, me disse<br />

que para fazer aquele tipo <strong>de</strong> tecido era empregada a casca <strong>de</strong> um certo<br />

cipó, que se colocava inicialmente na água e <strong>de</strong>pois se batia com pedaços <strong>de</strong><br />

pau até se transformar em estopa; com esta eles faziam uma espécie <strong>de</strong><br />

corda, enrolando-a sobre a coxa. Finalmente o tecido se fazia com os <strong>de</strong>dos,<br />

sem a ajuda <strong>de</strong> uma agulha ou <strong>de</strong> qualquer instrumento análogo. (SAINT-<br />

HILAIRE, 1995:46).<br />

Os Coroados presentes no relato do naturalista são os atuais Kaingang, que<br />

tradicionalmente usavam um corte <strong>de</strong> cabelo que lembrava uma coroa. Com a i<strong>de</strong>ntificação<br />

étnica feita, e mesmo não sendo o objetivo <strong>de</strong>ssa pesquisa, já é possível estabelecer algumas<br />

consi<strong>de</strong>rações sobre esse povo, comparando as informações produzidas por esse viajante com<br />

a <strong>de</strong> outros cronistas que tiveram contato com essa população. Conforme foi relatado, suas<br />

casas eram construídas com paus cruzados e cobertas com folhas <strong>de</strong> bambu ou <strong>de</strong> palmeiras.<br />

Mas o território ao norte <strong>de</strong> Jaguariaíba não foi habitado só pelos Kaingang. A índia<br />

aprisionada na fazenda do coronel Luciano Carneiro fica apavorada ao ver Firminiano (um<br />

índio que acompanha o naturalista). Seu medo tem uma razão: ela contou para Saint-Hilaire<br />

que, não muito longe <strong>de</strong> sua al<strong>de</strong>ia, existem outros índios, que seriam perversos e que<br />

12

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!