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A medida do olhar: objetividade e autoria na ... - Monitorando

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Aprender a observar visualmente, ver uma cultura em to<strong>do</strong>s os seus<br />

complexos detalhes, pode ser uma tarefa de muito empenho para o<br />

pesquisa<strong>do</strong>r. A <strong>na</strong>tureza fragmentada da vida moder<strong>na</strong> tor<strong>na</strong> difícil o<br />

ajustamento à visão global. A capacidade de visão de conjunto <strong>do</strong><br />

observa<strong>do</strong>r depende da proporção de envolvimento dele em<br />

relação ao seu meio ambiente. Nós, modernos, nos afastamos de um<br />

relacio<strong>na</strong>mento muito envolvente com o ambiente que nos<br />

circunda, pois comumente lidamos ape<strong>na</strong>s com partes desse<br />

esquema de grande amplitude.<br />

O autor explica que, em geral, o desenvolvimento cultural foi orienta<strong>do</strong> para<br />

<strong>do</strong>mi<strong>na</strong>r a <strong>na</strong>tureza pela tecnologia, o que provocou a organização de funções<br />

fragmentadas. Collier Jr. admite que em certas áreas específicas, o homem é um a<strong>na</strong>lista<br />

visual bastante perspicaz, principalmente no que tange ao campo de trabalho: o<br />

radiologista pode diagnosticar uma tuberculose através <strong>do</strong> raio X e o bacteriologista<br />

pode reconhecer os bacilos pelo microscópio. Mas são <strong>olhar</strong>es exclusivos,<br />

compartimenta<strong>do</strong>s, recorta<strong>do</strong>s. “Somente podemos considerar-nos os mais acura<strong>do</strong>s<br />

observa<strong>do</strong>res <strong>na</strong> história huma<strong>na</strong> se considerarmos a soma total de nossas<br />

especializações”.<br />

O isolamento desses <strong>olhar</strong>es – chama<strong>do</strong> pelo autor de cegueira pessoal - está<br />

diretamente liga<strong>do</strong> à orientação positivista, mecanicista das sociedades urba<strong>na</strong>s<br />

contemporâneas. “Aprendemos a ver ape<strong>na</strong>s o que praticamente precisamos ver.<br />

Atravessamos nossos dias com viseiras, observan<strong>do</strong> somente uma fração <strong>do</strong> que nos<br />

rodeia. E quan<strong>do</strong> observamos criticamente, é quase sempre com o auxílio de alguma<br />

tecnologia” (op.cit.: 3). Há uma <strong>do</strong>mesticação <strong>do</strong> <strong>olhar</strong> 3 .<br />

No caso específico <strong>do</strong> Jor<strong>na</strong>lismo, a mecânica <strong>do</strong> <strong>olhar</strong> não é mediatizada por<br />

instrumentos tecnológicos, já que recorre a uma série de comportamentos, de ações<br />

huma<strong>na</strong>s, que são comuns a to<strong>do</strong>s, mas levadas a um grau de especialização que motiva<br />

3 A <strong>do</strong>mesticação <strong>do</strong> <strong>olhar</strong> vai ao encontro ao que aponta o artista plástico inglês David Hockneyn (1937).<br />

Ícone da Pop Art, sua arte si<strong>na</strong>liza para um <strong>olhar</strong> atravessa<strong>do</strong> pela linguagem, pelo simbólico. Para além de<br />

suas já célebres pinturas de pisci<strong>na</strong>s, são os trabalhos fotográficos <strong>do</strong>s anos 80 que enfatizam essa hipótese:<br />

com sua lente, Hockney capta um objeto num enquadramento que privilegie a parte e não o to<strong>do</strong>. Em<br />

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