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A medida do olhar: objetividade e autoria na ... - Monitorando

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1.3.3 A constituição <strong>do</strong> <strong>olhar</strong> no Jor<strong>na</strong>lismo<br />

Entre jor<strong>na</strong>listas, embora se comente muito sobre um possível faro para a<br />

notícia, é possível também ouvir coisas <strong>do</strong> tipo: “Jor<strong>na</strong>lismo não é pra qualquer um. É<br />

preciso ter olho pra coisa!”. Desconta<strong>do</strong>s os exageros e entendi<strong>do</strong> que a exclusividade<br />

se estende para outras tantas (senão todas as) profissões, não se pode ignorar a idéia que<br />

está por trás desse enuncia<strong>do</strong>: o Jor<strong>na</strong>lismo tem uma especialidade que exige, de quem o<br />

exerce, esforços com que outros profissio<strong>na</strong>is não se preocupam. Um breve inventário<br />

das falas de eminentes repórteres aponta justamente para uma confirmação desta idéia.<br />

Relatan<strong>do</strong> seus 35 anos de correspondente de guerra, Peter Arnett (1994) usa<br />

diversas vezes expressões <strong>do</strong> tipo “aprendi a escrever ape<strong>na</strong>s o que vi” ou que sua<br />

função é “dizer ape<strong>na</strong>s o que vê”. Estas declarações ganham maior contorno quan<strong>do</strong>, <strong>na</strong><br />

pági<strong>na</strong> 307, cita uma carta à sua base em Nova Iorque: “Preten<strong>do</strong> continuar a contar a<br />

guerra como ela é ...”.<br />

Na esteira <strong>do</strong>s casos profissio<strong>na</strong>is, seguem-se mais alguns. Certa vez, ao ser<br />

questio<strong>na</strong><strong>do</strong> sobre o que era necessário para ser jor<strong>na</strong>lista, Samuel Wainer respondeu<br />

que era preciso mergulhar realmente <strong>na</strong> vida para poder transmiti-la. Mas, além disso,<br />

um jor<strong>na</strong>lista precisa saber ver. “E saber ver é só viven<strong>do</strong>. Muitas vezes no mesmo lugar<br />

em que há três pessoas, acontece algo e só o jor<strong>na</strong>lista vê” 9 . O cronista Lourenço<br />

Diaféria reforça a idéia, descreven<strong>do</strong> o jor<strong>na</strong>lista como aquele que tem a capacidade “de<br />

ver as coisas como os outros não vêem” 10 . Esta capacidade ou esta necessidade<br />

profissio<strong>na</strong>l converge no senso comum que circula pela categoria de que é necessário<br />

estar alerta, atento aos si<strong>na</strong>is <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>.<br />

Clóvis Rossi ajuda a desenhar este <strong>olhar</strong> diferencia<strong>do</strong> <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lista ao relatar sua<br />

experiência como correspondente inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l em meio aos conflitos <strong>na</strong> Faixa de Gaza:<br />

9 Apud Medi<strong>na</strong> (1982:190).<br />

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