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A medida do olhar: objetividade e autoria na ... - Monitorando

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uma maior visibilidade das moléstias, tor<strong>na</strong>n<strong>do</strong>-as mais verossímeis. A experiência<br />

clínica e a mudança <strong>na</strong> estrutura hospitalar possibilitam este novo <strong>olhar</strong>, dan<strong>do</strong> espaço<br />

para o aparecimento de uma outra medici<strong>na</strong>. O <strong>olhar</strong> <strong>do</strong> clínico vai se assemelhar à<br />

reflexão <strong>do</strong> filósofo <strong>na</strong> <strong>medida</strong> em que ambos buscarão alcançar uma estrutura de<br />

<strong>objetividade</strong>. As formas de visibilidade no ambiente médico vão mudar e aí, “o <strong>olhar</strong> se<br />

realizará em sua verdade própria e terá acesso à verdade das coisas”, permitin<strong>do</strong> uma<br />

“reorganização epistemológica da <strong>do</strong>ença, em que os limites <strong>do</strong> visível e <strong>do</strong> invisível<br />

seguem novo plano”.<br />

É bem verdade que o <strong>olhar</strong> não é o único senti<strong>do</strong> manifesto nesta operação. O<br />

tato e a audição ajudaram a compor uma triangulação sensorial indispensável para a<br />

percepção a<strong>na</strong>tômico-clínica. Entretanto, a tríade mantém-se sob o signo <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>nte <strong>do</strong><br />

visível 5 . Na leitura de Foucault, a instituição de um novo <strong>olhar</strong> é sintoma de uma nova<br />

medici<strong>na</strong>, aquela que contém a experiência clínica, que se sustenta em outras bases<br />

epistemológicas. Fazen<strong>do</strong> um paralelo com o Jor<strong>na</strong>lismo, também se pode refletir sobre<br />

o <strong>olhar</strong> que este campo lança sobre seus objetos. Tal como <strong>na</strong> medici<strong>na</strong>, existe um <strong>olhar</strong><br />

clínico para os fatos, para as ce<strong>na</strong>s, para o mun<strong>do</strong>. Enquanto o médico se preocupa com<br />

o diagnóstico da <strong>do</strong>ença, à procura das causas para o mal <strong>do</strong> paciente, o jor<strong>na</strong>lista<br />

observa a vida em busca de fatos noticiáveis, que precisem ser reconta<strong>do</strong>s, transmiti<strong>do</strong>s<br />

ao público. Como o <strong>olhar</strong> clínico, o <strong>olhar</strong> jor<strong>na</strong>lístico também procura, interroga, escava<br />

a superfície pretensamente homogênea <strong>do</strong> tempo. Assim como é pretensamente direto e<br />

transparente o seu facho. Entre o sujeito e os objetos, bem <strong>na</strong> <strong>medida</strong> <strong>do</strong> <strong>olhar</strong>,<br />

repousam a opacidade, a resistência e a incerteza.<br />

5 Giles Deleuze disse certa vez que Foucault tinha paixão pelo ato de ver. Entre os franceses, ele não é único.<br />

Há ainda Derrida, Barthes, Merleau-Ponty, Sartre, Baudelaire, Valéry, Appoli<strong>na</strong>ire, Robbe-Grillet, entre outros.<br />

Fraize-Pereira (1995) esclarece que, no caso de Foucault, o interesse pelo <strong>olhar</strong> vem da fenomenologia de<br />

Merleau-Ponty e da ontologia de Heidegger, além da psicanálise existencial de Binswanger.<br />

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