18.06.2013 Views

A medida do olhar: objetividade e autoria na ... - Monitorando

A medida do olhar: objetividade e autoria na ... - Monitorando

A medida do olhar: objetividade e autoria na ... - Monitorando

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

corpo. “O <strong>olhar</strong> não está isola<strong>do</strong>, o <strong>olhar</strong> está enraiza<strong>do</strong> <strong>na</strong> corporeidade, enquanto<br />

sensibilidade e enquanto motricidade” (66). Bosi adverte que gregos e romanos<br />

heleniza<strong>do</strong>s percebiam duas dimensões no <strong>olhar</strong>: a receptiva e a ativa. Ao mesmo tempo<br />

em que recebemos os estímulos visuais <strong>do</strong> exterior, direcio<strong>na</strong>mos nossos fachos de luz<br />

para as coisas, os fatos. Penso que o <strong>olhar</strong> é ativo, determi<strong>na</strong><strong>do</strong>, preciso, enquanto que a<br />

visão concerne o aspecto passivo que os antigos percebiam. Assim, o <strong>olhar</strong> requer<br />

vontade, desejo de saber, busca.<br />

É Sartre (1943) quem diz que o <strong>olhar</strong> não é só uma luz que conhece, mas uma<br />

força que penetra no ser olha<strong>do</strong>, tocan<strong>do</strong>-o, ferin<strong>do</strong>-o, tiran<strong>do</strong> a sua liberdade, jogan<strong>do</strong>-o<br />

para o <strong>na</strong>da. Assim, <strong>olhar</strong> e ser olha<strong>do</strong>, atividade e passividade – as duas dimensões <strong>do</strong><br />

ato de <strong>olhar</strong> - constituem um campo de forças onde saber e poder se misturam. O que<br />

nos leva a pensar também <strong>na</strong> perspectiva <strong>do</strong> objeto <strong>do</strong> <strong>olhar</strong>, no Outro que identificamos<br />

com nosso facho de luz, com nosso foco. Para Sartre, este <strong>olhar</strong> <strong>do</strong> outro sobre a minha<br />

pessoa não dá conta numa absorção da imagem total. Nem a minha visão consegue essa<br />

definição. A perspectiva <strong>do</strong> <strong>olhar</strong>-outro escorre <strong>na</strong> minha; e “a minha perspectiva<br />

desliza espontaneamente <strong>na</strong> <strong>do</strong> outro e, juntas, são recolhidas em um único mun<strong>do</strong> onde<br />

to<strong>do</strong>s participamos como sujeitos anônimos da percepção”.<br />

Destacan<strong>do</strong> alguns aspectos, temos que o <strong>olhar</strong> é uma relação, auxilian<strong>do</strong> <strong>na</strong><br />

interação e <strong>na</strong> cognição; o projetar de um <strong>olhar</strong> marca as figuras de sujeito e<br />

objeto, <strong>na</strong> <strong>medida</strong> em que se coloca entre elas; depois, até pode dissolvê-las,<br />

chaman<strong>do</strong> a atenção para o percurso que as liga; o <strong>olhar</strong> vai além da visão, pois é a<br />

visão que procura, que interroga; o <strong>olhar</strong> é um ponto de contato, conhecimento e<br />

reconhecimento da alteridade; o <strong>olhar</strong> reúne percepção sensorial e interpretação<br />

simbólica; é leitura e é apreensão; é assim um gesto que constrói, gesto de leitura..<br />

24

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!