A medida do olhar: objetividade e autoria na ... - Monitorando
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afirma que o Jor<strong>na</strong>lismo tem seis caracteres fundamentais: atualidade, variedade,<br />
interpretação, periodicidade, popularidade e promoção. O <strong>olhar</strong> jor<strong>na</strong>lístico é motiva<strong>do</strong><br />
por muitos destes aspectos e funcio<strong>na</strong> sob eles. O repórter sai para a cobertura em busca<br />
da novidade, tentan<strong>do</strong> atualizar conhecimentos que ele e o público já têm sobre o fato...<br />
Mas o <strong>olhar</strong> jor<strong>na</strong>lístico leva em conta também expectativas que o público<br />
consumi<strong>do</strong>r de informação manifesta. Por isso, este produto social também se alimenta<br />
de outras fontes exteriores ao seu campo específico de formação e atuação.<br />
Este <strong>olhar</strong> tem lá os seus critérios, suas regras de funcio<strong>na</strong>mento. Um <strong>olhar</strong><br />
rigoroso, seletivo, abrangente, aprofunda<strong>do</strong>, obceca<strong>do</strong>. Um <strong>olhar</strong> rechea<strong>do</strong> daquilo que<br />
Luiz Beltrão (op.cit.) chamou de curiosidade comunicativa:<br />
O primeiro atributo <strong>do</strong> autêntico jor<strong>na</strong>lista é a curiosidade<br />
comunicativa, que difere da curiosidade pura e simples porque se<br />
reveste de um insopitável desejo de passar adiante a informação<br />
obtida ou o fato testemunha<strong>do</strong>, ajuntan<strong>do</strong>-lhe da<strong>do</strong>s novos e<br />
comentários. Diante de uma ocorrência, o homem comum pára,<br />
informa-se e segue o seu caminho, indiferente, se tal fato não lhe diz<br />
respeito imediato; o intelectual e o cientista igualmente param,<br />
informam-se e prosseguem, quan<strong>do</strong> muito retiran<strong>do</strong> dela algumas<br />
inferências particulares ligadas à sua ordem cultural; o jor<strong>na</strong>lista age<br />
diferentemente. A sua parada é mais longa ou mais intensa; a<br />
informação que colhe é mais completa e tem aplicação imediata<br />
porque ele lhe dá forma, julga-a, pesa-a, não em função <strong>do</strong>s seus<br />
próprios interesses, mas da sociedade de que se sente receptor e<br />
transmissor. Neste senti<strong>do</strong> é que o jor<strong>na</strong>lista é aquele ‘órgão<br />
constante e vivo de informação’. Para ele, o fato tem um senti<strong>do</strong><br />
que é preciso captar, definir, situar, comparar com outros, classificálo<br />
pela sua maior ou menor importância e, fi<strong>na</strong>lmente, exprimi-lo,<br />
divulgá-lo, comunicá-lo. (148)<br />
Mas o <strong>olhar</strong> jor<strong>na</strong>lístico se preocupa em extrair <strong>do</strong> fato seus elementos<br />
essenciais, os aspectos que mais contribuem para a <strong>na</strong>rrativa <strong>do</strong> contemporâneo, caráter<br />
que Beltrão batizou de “fecundidade jor<strong>na</strong>lística”:<br />
A fecundidade jor<strong>na</strong>lística já foi conceituada por um escritor chileno,<br />
Andres Siegfried, com as seguintes palavras: ‘(o jor<strong>na</strong>lista) deve <strong>olhar</strong>,<br />
escrever, evocar... tem-se a impressão de que exami<strong>na</strong> o mun<strong>do</strong>...<br />
com um olho novo; é um memorialista mas é também um sociólogo,<br />
incli<strong>na</strong><strong>do</strong> ante a sociedade em que vive, acumulan<strong>do</strong> observações<br />
curiosas que serão aproveitadas pelos filósofos para deduzir leis’.<br />
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